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Mudar de via, para qual via?

23 Apr

Quase no final do livro “É hora de mudarmos de via: as lições do coronavírus” de Edgar Morin escreve: “Evidentemente, a política não pode criar a felicidade individual.  É preciso parar de acreditar que o objetivo da política seja a felicidade.  Ela pode e deve eliminar as causas públicas da infelicidade (guerra, fome, perseguições). Não pode criar felicidade, mas pode favorecer e facilitar a possibilidade de cada um viver poeticamente” (pags. 73,74).

Parece um sonho em meio a uma pandemia e uma política cada vez mais desastrada, porém o autor ainda continua: “… ou seja na autorrealização e na comunhão” (p. 74).

Logo em seguida dá o diagnóstico do que chama de “mal difuso”, “a poluição urbana, a baixa qualidade da alimentação industrializada e a alienação consumista provocam a degradação de nossa civilização”, e a qualidade de vida “se traduz por bem-estar no sentido existencial, e não apenas material. Implica a qualidade das relações com o próximo e a poesia dos envolvimentos afetivos e afetuosos.”

Assim há uma aspiração cada vez mais profunda à “verdadeira vida” diz o autor (pg. 76) ela “é provocada e alimentada pelo caráter individualista de nossa civilização; ao mesmo tempo, é inibida por suas coerções e desviada para o imaginário e o lazer de tal modo que uma economia de fuga se põe a serviço da vida da `verdadeira vida´” (pg. 76).

Ao explicar sua missão aos apóstolos, o Mestre vai diferenciar esta relação do verdadeiro líder (pastor no imaginário da sociedade agrária judaica) e diz  (Jo 10,12-14) “o mercenário, que não é pastor e não é dono das ovelhas, vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as ataca e dispersa. Pois ele é apenas um mercenário que não se importa com as ovelhas”, há lideres assim.

Caminhar para uma sociedade com uma “política civilizacional” exige líderes solidários capazes de viver e ser solidários com seus concidadãos e eles são facilmente detectáveis da linguagem e do zelo com seu povo.

MORIN, E. “É hora de mudarmos de vida: as lições do coronavírus”, trad. Ivone Castilho Benedetti, RJ: Bertrand do Brasil, 2020.

 

Existe uma quinta força da natureza

22 Apr

Há uma chance em 40 mil que seja apenas uma coincidência estatística, o que dá uma alta probabilidade que exista uma força desconhecida ainda, e que seria a 5ª. força da natureza, provocada pela interação de múons, partículas subatômicas comparadas aos elétrons e que são mais pesadas que estes.

As quatro forças fundamentais da natureza são a gravitacional, a magnética, a força nuclear forte e a força nuclear fraca, e estas forças foram unificadas num momento físico chamado de Física formaram o Modelo da Física Padrão, entretanto, que esta nova força da natureza parece romper.

A descoberta do bóson de Higgs parecia ter estabilizado o modelo da Física Padrão.

A força fraca é a desenvolvida entre as subpartículas atômicas leptos e hádrons, enquanto a força nuclear forte é a que mantém a coesão nuclear e a união dos quarks (outra partícula subatômica fundamental, que são compostos por 6 tipos de hádrons), mas a interação de múons é nova.

Foi em meados da década de 1960 que os quarks foram descobertos, então além de prótons e nêutrons, formadores do núcleo dos átomos que tem elétrons em sua volta, havia pequenas partículas que foram chamadas de quarks, ela foi o ponto de partida para partículas subatômicas.

Assim foram descobertas as partículas glúon, que agem como partículas de troca da força forte dos quarks, os bósons, que possuem mais de 86 vezes o peso de um próton, e é provável que estejam na origem do universo, os fótons como partículas e recentemente os grávitons que são os responsáveis pela interação das forças de gravidade.

Os múons são partículas subatômicas instáveis, parecidas aos elétrons, porém 207 vezes mais pesados, os cientistas do Fermilab, o laboratório de estudos de partículas de Illionois, EUA, usam estas partículas para estudar as forças fundamentais da natureza e se depararam com esta interação de múons, ainda não se sabe exatamente o que elas fazem.

A existência dessa força é quase certa, como disse Ben Allanach, professor da Universidade de Cambridge: “Meu sentido Aranha (o superpoder intuitivo do Homem-Aranha) está formigando e me dizendo que isso vai ser comprovado”.

Allanach deu possíveis nomes para esta força: “força do sabor”, “hiperforça da terceira família” e o estranho “B menos L2”, eu sugiro algo mais simples: “força muônica” já que estão na sua origem.

DAS, A., SIDARTH, B.G. The fifth force? Physics, Disponível em: [1911.01360] The fifth force? (arxiv.org)

 

Curiosidades de Redes Sociais

21 Apr

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Stanley Milgram (1933-1984), foi um psicólogo novaiorquino que estudou o compartamento humano com ênfase no social, sua alma mater é a Universidade de Stanford, e embora tenha ficado famoso por seu experimento de Redes Sociais (mundos pequenos), o experimento que leva seu nome é outro bem mais bizarro. O experimento, que não é de redes sociais mas de obediência a autoridade, reuniu 40 voluntários homens que faziam o papel de “professor” e fazia perguntas a “alunos” (na verdade eram atores) e quando ele errasse a resposta devia aplicar um choque, os atores simulavam dores e pediam para parar, mas 65% dos professores foram até 450 Volts.

O experimento foi repetido para mulheres e em outros países e a taxa de 65% se manteve. Experimento mundos pequenos (MIlgram, 1966). Fonte: Wikipedia.

O experimento, que não é o que leva seu nome, mas importante para as redes sociais, eram enviar cartas de Omaha (Nebraska) e Wichita (Kansas), que são estados vizinhos centrais, para um endereço final chamado de “Mr. Jacobs” em Boston, na Costa Leste americanos.

A carta devia ir para um conhecido o mais próximo de Boston e este indicar outro sempre mais próximo até chegar ao destino final, das 296 cartas só 64 chegaram ao destino, o número dos intermediários até o ponto final foi de 5,5 e isto é um fenômeno hoje chamado de “grau de separação”, que Milgram nunca usou, mas usou “mundos pequenos” como é chamado hoje os nós com pouca separação.

Duas curiosidades, uma é o uso de cartas em correio (mail post em inglês) para este primeiro experimento, e o segundo é o pouco estudado o grande número de desistências, ainda hoje não há estudos sobre pessoas que interrompem os chamados mails ou posts “virais”, e se este número agora por meio eletrônico é superior ou também elevado como Milgram encontrou.

Judith Kleinfeld (2002) fez um trabalho perguntando se isto não é uma lenda urbana (mito nos EUA), e explica que as pessoas que estão na cadeia como intermediários não foram consultadas que concordavam com o experimento, que Milgram consultou para os seus 296 voluntários, e, o outro é se assumirmos um grau de desgaste na medida que a carta vai de uma mão para outra, as cadeias mais longas correm o risco de terem sub-representação, assim reduz o grau de separação.

KLEINFELD, Judith (March 2002). “Six Degrees: Urban Myth?” . Psychology Today. Sussex Publishers, LLC. Retrieved June 15, 2011.

MILGRAM, S. The small world problem. Psychology Today, v.1, n.1, p. 61-67 May 1967.

 

Castells, as redes e a pandemia

20 Apr

Castells anteviu o futuro, quando publicou A Sociedade em Rede (no Brasil em 1999, a edição inglesa é de 1996) a Web ainda estava nascendo, parecia um delírio tecnológico, porém com o avanço das mídias, a evolução exponencial da World Wide Web (a internet já existe a 20 anos), a análise sociológica entrou no contexto fundamental para entender um novo cenário.

Ainda passaram muitos anos com alguns intelectuais, religiosos e analistas de diversos tipos não entendendo esta nova realidade, mas a sentença de Castells aos poucos foi se verificando verdadeira: o avanço disruptivo das novas tecnologias de comunicação não apenas muda o modo de ter acesso e comunicar a informação, mas também o modelo de produção e de economia.

Com a trilogia A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura (1996-2003), Castells se transformou na referência internacional da nova sociedade da informação, Castells ocupa a sexta posição na lista de pesquisadores mais citados entre 2000 e 2017 no Social Science Citation Index.

Castells analisou e acompanhou as discussões do Fórum Social de Porto Alegre, o movimento dos indignados de 2011 na Espanha (conhecido como 15-M) e todas as revoltas dos indignados ao redor do mundo nos últimos anos, das primaveras árabes aos protestos do Occupy Wall Street.

Sua análise ficou concentrada num livro mais recente: Redes de Indignação e Esperança: Movimentos Sociais na Era da Internet, mas boa parte da intelligentsia ainda torce o nariz, seus livros mais atuais abordam a perda da legitimidade da pandemia: La Crisis de Europa (“a crise da Europa”) e Ruptura: A Crise da Democracia Liberal.

Castells mostrou que países como Noruega, Nova Zelândia, China, Coreia do Sul, Uruguai, Vietnã – são os exemplos de países foram bem sucedidos em controlar a pandemia, são regimes completa- mente diferentes e o importante foram as políticas de isolamento e a adesão social ao protocolo.

Com Pekka Himanen, publicou Sociedade da informação e Estado-Providência – O Modelo Finlandês, no qual sustentam que, como demonstra o caso da Finlândia, mostrando que é possível avançar com as tecnologias sem aumentar as desigualdades sociais.

 

Abre-fecha e vacinação

19 Apr

A política de isolamento social e de contenção da pandemia segue uma oscilação que mostra a ausência de uma direção clara, as escolas abririam e não abriram, os feriados antecipados não mostraram eficácia, a evolução tanto da infecção como das mortes continua havendo uma pequena queda nestes últimos dias, espera-se que se mantenha, mas o número é muito alto.

A campanha de vacinação alcançará esta semana o patamar de 50 milhões de doses distribuídas, mais de 32 já foram aplicadas, como envio de 6,3 milhões de doses para todos estados e Distrito Federal, a remessa deve-se a chegada de 3,8 milhões de doses da Astrazenaca/Oxford do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz) e 2,5 milhões da Coronavac do Instituto Butantan.

Em meio cenário a crise política se agrava, as responsabilidades do governo serão apuradas, e o Covidão dos estados também, no Pará foi descoberto um lote de 19 respiradores escondidos atrás de uma parede falsa, apesar de constar da aquisição do hospital, os equipamentos eram considerados extraviados, o Hospital Abelardo Santos, em Belém, fica no distrito de Itacoari, descoberto em 22 de março o governo reconheceu o fato somente no sábado (19/04).

O caso do governo federal é bem conhecido, a política negacionista e possíveis omissões.

No ano passado foram feitas várias apurações e até hoje poucos processos terminaram, alguns como o do Rio de Janeiro, Pará e Amazonas envolviam diretamente os governos.

Espera-se que isto não interrompa o processo de combate ao vírus, as campanhas de vacinação e que as medidas de isolamento sejam tomadas de modo sério, sem contornos políticos e populistas, a morte de milhares de pessoas por dia não poderá nunca ser vista como normal.

Junte-se a isto a necessidade de solidariedade com a população carente que além do desemprego e da carência, tem perdido também parte das redes solidárias que ajudam o socorro emergencial, muitas entidades que trabalham para arrecadar alimentos tem sentido a fuga dos “doadores”.

 

O crise civilizatória e mudar de via

16 Apr

Há um espectro de tristeza e morte sobre a humanidade, foi só a pandemia causou isto?, penso que não, há sempre uma esperança viva e uma dose até de otimismo que não devemos abandonar, por mais ingênua que ela pareça significa que caminhamos cuidadosos, mas com passos seguros.

Assim está escrito no livro de Edgar Morin É hora de mudarmos de via: as lições do coronavírus: “corremos o risco de entrar numa era ciclônica do que ocorreu em Sarajevo em 1914 ou em Danzig em 1939 (atual Gdansk): a bomba e a reivindicação de um iluminado provocaram nas duas vezes, por reações em cadeia totalmente imprevistas, a deflagração de duas hecatombes bélicas mundiais” (p. 52, 53).

Para quem desconhece estes fatos históricos, o porto de Dantzig (Gdansk) como cidade-estado, foi criado pelo Tratado de Versailles de 1919 depois do fim da Primeira Guerra Mundial, como uma cidade estado independente, era ligada a Polônia pela importância portuária, mas tendo uma maioria Alemã se ressentia da separação da Alemanha, até que em 1933 o Partido Nazista foi eleito como governo local e a minoria polonesa passou a sofrer inúmeras perseguições.

Com a invasão da Polônia em 1939 os nazistas consideram a cidade como parte da “Prússia ocidental” e os cidadãos como propriedade do estado, subtendo-os a trabalhos forçados e humilhações.

O que ocorreu em Sarajevo que foi estopim da Primeira Guerra Mundial é mais conhecido, o assassinato do arquiduque Franz Ferdinand da Áustria, virando uma rede de intrigas e acusações (Há um filme na Netflix para quem gosta de História), a Sérvia e Áustria-Hungria disputavam a posse da Bósnia, e o objetivo sérvio era forma a “Grande Sérvia” e tinham apoio da Rússia.

O arquiduque era austríaco e foi assassinado por um nacionalista bósnio Gaurilo Princip, o pangermanismo nascia ali e ele iria alimentar não só a primeira, mas também a segunda guerra.

Como indaga Morin no referido livro, não sabemos se estes “processos retrocessivos” provocará a barbárie ou favorecerá a Constituição de Estados neoautoritários, podendo chegar a guerra.

Não devemos alimentar o ódio e o confronto planetário, ele só porá tudo a perder, e devemos ter um olhar sobre o sobre-humano, o sobre-natural de onde vem alimentos para a alma e o corpo também.

Morin lembra o Oráculo de Delfos, citado por Heráclito de Éfeso: “o deus cujo oráculo está em Delfos não explica nem oculta sua predição, mas dá uma indicação para compreendê-la” (p. 53) que é sua explicação para a necessidade de mudar de via, e escolher a paz e não a guerra.

A presença deste sobre a passagem bíblica em que os discípulos encontraram Jesus pelo caminho, inicialmente sem percebê-lo como o “mestre” e depois compreendendo quem era, inicialmente tomam um susto, imaginando que é um fantasma, mas Ele diz: “a paz esteja convosco” (Lc 24,36).

Após isto ele pede um peixe para comer, assim se alimentará de algo físico, e depois explica que tudo o que ocorreu era para se cumprir a lei de Moisés, dos profetas e nos salmos, como o oráculo de Delfos não diz o que vai acontecer, mas explica o que pode acontecer com o alimento da alma.

MORIN, E. É hora de mudarmos de via: as lições do coronavirus, Trad. Ivone Castilho Benedetti, Rio de Janeiro: Bertrad do Brasil, 2020.

 

Site e blog atualizados

15 Apr

Após um esforço que envolveu a empresa que hospeda o site (combr) e um amigo que me auxilia na manutenção do blog a versão do WordPress 5.7.1. foi atualizada, em breve algumas mudanças no design e ferramentas também serão modificados.

Como dissemos no início da manutenção, algumas mensagens estranhas iriam aparecer, mas decidimos manter o blog no ar provendo alguns conteúdos porque percebemos que o processo podia demorar um pouco.

Voltamos a postagem diária, exceto sábados e domingos, e agradecemos aqueles que nos leem e acompanham.

 

O fracasso civilizatório e a saída

15 Apr

Estamos comentando o livro “Como viver em tempos de crise ?“,  de Edgar Morin e Patrick Viveret e como já foi dito é anterior a pandemia, mas traz luz para a crise que vivemos que tem raízes anteriores a este processo e que a pandemia apenas acelerou.

O esvaziamento do ser (ou na visão de Heidegger o “velamento”) tomou formas de “coisificação, seja em relação aos seres vivos em geral ou à própria humanidade, cuja mercantilização desenfreada se apresenta aqui apenas como um aspecto, expressam essa incapacidade de salvação pela economia” (p. 44), como já dissemos que é a proposta central da modernidade.

Dizem os autores: “o fim desse formidável período histórico que foi chamado de modernidade ocidental e que é bem caracterizado por Max Weber, em A ética protestante e o espírito do capitalismo, como a passagem da economia da salvação para a salvação pela economia” (p. 43).

No entanto perguntam os autores “como sair desse ciclo, preservando o melhor?” (p. 44) seria preciso (porque a pandemia parece ter exposto o lado mais cruel desta possibilidade) “entender, escutar, reencontrar o melhor das sociedades e civilizações tradicionais, ao mesmo tempo mantendo a lucidez de que nelas existe o pior?” (p. 44) a resposta parecia afirmativa. e não foi ou ainda não é o que está acontecendo em plena pandemia.

Esclarece um ponto importante ao criticar o individualismo de nossos tempos, “a individuação, que não se reduz em absoluto ao individualismo; os direitos dos homens e, nesses direitos, os direitos das mulheres? Em compensação, como romper com todas as formas de dominação, imperialismo, colonialismo, coisificação, nas relações com os seres vivos, nas relações com a natureza, nas próprias relações inter-humanas?” (p. 45), que se mantém na forma de dependência esclarecem, e a saída será um encontro da humanidade consigo mesmo.

Será necessário um diálogo “exigente entre civilizações e erigir um universal possível, não imposto de cima pelo modelo advindo da modernidade ocidental, mas como um mosaico inter-humano” (p. 46), e esclarece que num diálogo deste tipo que participou em Nova Delhi, a expressão “mosaico” ajudou a baixar a guarda e enfrentarem o pior de cada civilização e cita o caso da mutilação feminina na África.

O diálogo é necessário, mas quais seriam os pontos importantes neste diálogo?

MORIN, E., VIVERET, P. Como sobreviver na crise ? . Tradução: Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 2013.

 

O que faremos com a nossa vida?

14 Apr

A clareza era que já havia um movimento no qual “tanto as causas antrópicas, humanas, e a desregulagem climática, quanto aos ataques a biodiversidade” (Morin, Viveret, 2013, p. 35) algum descompasso civilizatório já era notado, e o que eles chamam de excesso: “já está presente, tanto na crise ecológica, quanto na face social, financeira ou geopolítica da crise”, e é ela que gera a muito tempo um mal estar, já dizia Freud um “mal estar na civilização”.

Contam os autores, fazendo uma ironia que o Wall Street Journal em breve momento de lucidez escreveu: “Wall Street conhece apenas dois sentimentos, a euforia e o pânico”. (p. 37), dito de outra forma por aqueles que não aplicam em jogos de bolsas de valores, “o caráter sistêmico da crise que atravessamos é, portanto, formado por essa dupla excesso/mal- estar” (p. 40), e a pandemia o que fez foi colocar esta dupla numa espiral descendente.

Não é uma pergunta feita depois da pandemia, mas antes no livro que estamos analisando “Como viver em tempo de crise?” de Edgar Morin e Patrick Viveret, ao reler vejo a clareza que tinham do futuro, embora a pandemia não tenha sido imaginada por ninguém, mesmo aqueles que previam uma guerra biológica ou uma humanidade paralisada, refiro me aqui ao Ensaio sobre a Cegueira de Saramago, e o “O Evento cobra” de Richard Preston.

Este ciclo, mais ainda agora na pandemia, “vai nos obrigar a levantar as questões da sobriedade feliz ou, pelo menos, da articulação entre simplicidade e desenvolvimento na ordem do ser, e não de crescimento da ordem do ter, tratando a questão das causas e não apenas dos sintomas.” (p. 42).

O fim de um ciclo que vivemos tem como ápice “o fim do ciclo histórico da salvação pela economia. Porque as promessas de salvação pela economia não foram cumpridas.” (p. 43), sem a economia estaria onde? os que creem num processo escatológico entendem para onde vamos (a maioria dos religiosos nem sempre observam este ciclo), mas se tratando apenas da vida presente em meio a este turbilhão, “a questão da salvação volta a se apresentar para a humanidade, à medida que se configura a possibilidade de pôr fim prematuramente a sua breve história.” (p. 44).

 

 

Como viver em tempo de Crise?

13 Apr

Quando Edgar Morin e Patrick Viveret organizaram este livro não imaginavam que poderiam estar falando de um futuro mais próximo do que imaginavam, imaginavam uma civilização em crise, não que um vírus poderia ser um catalizador que aprofundaria esta crise.

Logo de início mostra que um dos pontos importantes é entender que vivemos em uma ambivalência: “As crises agravam as incertezas, favorecem os questionamentos; podem estimular a busca de novas soluções e também provocar reações patológicas, como a escolha de um bode expiatório. São, portanto, profundamente ambivalentes.” (Morin, Viveret, p. 9).

Mas o que é a ambiguidade? “Ela se traduz pelo fato de que uma realidade, pessoa ou sociedade se apresenta sob o aspecto de duas verdades diferentes ou contrárias, ou então apresenta duas faces, não se sabendo qual é a verdadeira.” (idem), em outras palavras fake-news.

A análise da ambiguidade é bem mais complexa, mas pode ser sintetizada como: “É preciso ter sensibilidade para as contradições: quando chegamos, pelo estudo e pela análise, a duas verdades contraditórias, nosso hábito lógico consiste em mudar de raciocínio para eliminar a contradição. O que ocorre não apenas nos problemas políticos e sociais, mas também na física. É preciso assumir e transcender as contradições.” (pg. 12), e isto significa um ir-além de outros autores também.

Entender a ambiguidade exige um esforço de reconhecer a complexidade dos fenômenos, e na atual pandemia isto também se revelou, diz o livro de Morin e outros: “Ora, uma das tragédias do pensamento atual é que nossas universidades e escolas superiores produzem eminentes especialistas cujo pensamento é muito compartimentado. O economista enxerga apenas a dimensão econômica das coisas, assim como o religioso e o demógrafo nas suas respectivas áreas, e todos encontram dificuldade para entender as relações entre duas dimensões.” (pg. 13).

O livro penetrará em muitos âmbitos das ambivalências de uma crise, mas é preciso antes de uma condição prévio: “se não houver essas múltiplas sensibilidades para a ambiguidade, para a ambivalência (ou a contradição), para a complexidade, será muito pequena a capacidade de entender o sentido dos acontecimentos” (pg. 14).

Antes de entender como viver na crise é preciso uma condição prévia: “se não houver essas múltiplas sensibilidades para a ambiguidade, para a ambivalência (ou a contradição), para a complexidade, será muito pequena a capacidade de entender o sentido dos acontecimentos.” (pg. 14).

MORIN, E., VIVERET, P. Como sobreviver na crise ? . Tradução: Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 2013.