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Os passos de caranguejo e a guerra
O livro de Umberto Eco: “A passo de Caraguejo: guerras quentes e populismo mediático” (edição portuguesa de 2012) é de mais de uma década atrás, mas atualíssimo, Eco faleceu em 19 de fevereiro de 2016, mas estivesse vivo teria muito a dizer, porque sua visão é profética.
Falava do retrocesso global, este é o passo do caranguejo, o ressurgimento do criacionismo, o rádio pelo iPod (agora em desuso), via no renascimento das nações não um período afirmativo de identidades culturais e sim “depois da queda do Muro de Berlim, a geografia política da Europa e da Ásia mudou radicalmente, tornando-se claro que estávamos a andar para trás. Os editores de atlas viram forças a … inspirar-se nos velhos modelos anteriores a 1914, como a sua Sérvia, o seu Montenegro, os seus Estados Bálticos e assim por diante” (ECO, 2022).
Via também o renascimento do criacionismo e tantas outras cosmovisões absurdas num processo de andar para trás como “os passos do caranguejo”, e quando menos esperamos a guerra e os novos modelos de expansionismo e colonização, e já alertava para o populismo midiático, hoje mais evidente.
Porém numa visão mais profunda Max Weber apontava já no início do século passado “o desencantamento do mundo”, forçado a uma visão excessivamente racional, onde via o modelo social: “não aquilo que pesa sobre os indivíduos, mas o que se veicula entre eles”, assim o que parece fora do mundo objetivo, o mundo das ideias é aquele que se veicula entre os homens.
Pierre Bourdieu volta ao “desencantamento” (Bourdieu, 1979) para analisar os pressupostos do iluminismo e de Kant como ponto de partida destas ideias, a ideia que é no saber científico, consolidado pela Revolução Francesa e seus modelos de estado que conjugado com a técnica, proporcionaria uma mudança drástica no estilo de vida humano, trazendo uma paz duradoura.
Porém além das ignoradas guerras coloniais, também duas guerras mundiais foram deflagradas, e os maus acordos no final de cada uma delas levou a outras, o que de delineia agora é uma repetição de erros, onde a razão de cada estado quer prevalecer sobre o outro, e o racionalismo sem alma (e desencantado) nos mostra um mundo de horror, ódio e intolerância.
Bourdieu alertava para o mecanismo da democracia direta não se tornar elemento da opressão simbólica, e que a maior parte das palavras que dispomos para o social estão entre o eufemismo e a injuria, é como querer perpetuar o estado de segregação e opressão vigente.
BOURDIEU, P. O desencantamento do mundo: as estruturas econômicas e estruturas temporais. Trad. Silvia Mazza, São Paulo: Editora perspectiva, 1979.
ECO, U. O passo do caranguejo: guerras quentes e populismo midiático. Trad. Sérgio Mauro. São Paulo: Record, 2022.
WEBER, M. A ética protestante e o “espírito” do capitalismo. Trad. José Marcos M. de Macedo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
Média móvel de Covid cai, mas variante já aparece
Segundo dados da FioCruz no mês de março os genomas de casos de Covid avaliados em pacientes infectados pela mutação BA.2 (segunda linhagem da ômicron) cresceu de 1,1% em fevereiro para 3,4% em março, ela é 63% mais transmissível e na Europa e Oriente ela já é dominante.
A média móvel tanto das infecções como de mortes vem caindo (veja o quadro ao lado) porém não há no Brasil nada além de monitoramento, a política de testagem inexiste e os protocolos já estão relaxados, para complicar chegou o frio e o carnaval fora de época que favorece aglomerações.
O frio favorece doenças pulmonares e consequentemente a Covid que causa infecções deste tipo é favorecida, além de outras doenças respiratórias típicas desta época, a campanha de vacinação da gripe ainda está em marcha lenta.
O governo federal diz que faz monitoramento, os estaduais nem isto, a discussão sobre a liberação ou não agora é irrelevante, uma vez que a população por sua conta e risco já relaxou as medidas preventivas e as festas de carnaval, completamente fora de época, vão acontecer, privadas ou públicas.
Resta-nos o cuidado especial privado e a esperança que a taxa de vacinação no país que é bastante alta freie definitivamente o avanço da Covid 19, em meio a outras crises de abastecimento e de preços que surgem no horizonte já bastante preocupantes.
Assim fica na consciência de cada um, uma vez que não é só o problema individual, a pandemia nos ensinou que é um problema de todos, alguém que não se cuida infecta alguém próximo.
Agora os horrores da guerra
A retirada de Kiev longe de ser pacífica e encaminhar para uma cessar-fogo parece ter colocado mais gasolina numa guerra que aos poucos retoma os horrores e a barbárie da 2ª. guerra mundial.
As fotos e os fatos de Butcha, um dos distritos em torno de Kiev revela cenas de mortes de civis com crueldade e genocídio, dirigentes de toda Europa já se pronunciaram, e o próprio presidente da Ucrania Zelensky foi verificar em loco as valas comuns e civis mortos com as mãos amarradas, além de casos de estupros delatados.
Enquanto agências internacionais falam em 280 corpos, a Ucrânia afirma ter encontrado 410 corpos de civis, em valas comuns ou abandonados nas ruas, muitos com as mãos amarradas, enquanto a Rússia nega estas atrocidades, o porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov disse que houve “falsificação de vídeo”, no entanto não apresentou nenhuma evidência para comprovar.
Seguem acusações dos biolaboratórios na Ucrânia, também sem provas, se verdadeiro também são condenáveis, mas não servem para justificar a morte brutal de civis que deixa a guerra em outro patamar, onde os acordos ficam mais difíceis e distantes.
Há uma nova ordem mundial, ou pelo menos uma tentativa de implantá-la, os polos econômicos e políticos se deslocaram e uma grave crise econômica e alimentar se aproxima, como enfrentá-la?
Será preciso rever valores, se a barbárie não nos despertar as esperanças ficam mais difíceis, a própria pandemia já deveria ter nos alertado para uma nova onda de solidariedade e de preocupação, não se trata apenas de um vírus, mas de atitudes que seriam esperadas das lideranças e da população, quantas pequenas guerras ainda subsistem sem abertura ao diálogo.
Se em si já é horrorosa esta guerra e a pandemia, mais horrorosas são as atitudes de indiferença e descaso, até mesmo torcidas que se organizam ou que desprezam a desgraça que ocorre ao lado.
Que os horrores da guerra sirvam ao menos para despertar um humanismo sincero, a preocupação e a responsabilidade pelo Outro, o respeito mútuo e o diálogo, ou caminhamos para uma realidade ainda pior a qual não fizemos nada para tentar evitar, ou fizemos pouco.
Paz, paz e esperança, é o grito de quem olha com amor pela humanidade e para o Outro.
A pandemia não acabou
Além do Estado de São Paulo, outros sete estados já estão abolindo o uso de máscaras: Rio de Janeiro, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Mato Grosso, Goiás e agora Minas Gerais, alguns estados já preparam as escolas de Samba para o Carnaval, em plena quaresma cristã.
Embora o ritmo de propagação do coronavírus no Brasil não seja mais tão intenso, os índices não são tão baixos e especialistas consideram que a medida pode trazer impactos indesejáveis no controle da doença no Brasil, mas a máscara deve subir da boca para os olhos para ter carnaval.
Além das autoridades mundiais da OMS, como a líder técnica Maria van Kerkhove, também a pneumologista Margareth Dalcolmo, um nome de destaque da FioCruz no enfrentamento da covid-19 consideram a medida um tanto precipitada e alerta para os perigos.
Autoridades monitoram a variante Deltacron na Europa, que é uma variante entre a Delta e a Omicron, países como Dinamarca, França e Holanda e a OMS já monitora a variante.
Uma região da China de 9 milhões de habitantes, onde está a cidade de Changchun autoridades ordenaram nesta sexta-feira (11) o confinamento rigoroso, com o surgimento de um surto de variante da ômicron (foto), lá há disciplina e controle da Pandemia.
Changchun, é a capital da província de Jilin, que faz fronteira da Coreia do Norte, estando, portanto, também próxima da Coréia do Sul e de países fora da China.
Como as autoridades políticas estão menos cautelosas que em períodos anteriores, depende-se agora de atitudes locais e gestores públicos e privados para que o sinal passado ao público em geral não prospere, a ideia que a Pandemia já acabou passa uma mensagem errada.
Até mesmo os números que havia controles pelas secretarias municipais de saúde parecem já ter relaxado e em muitos locais tornaram-se pouco confiáveis, sem dados não há política certa.
Além de passar uma mensagem errada ao público, é preciso ter claro que a circulação de qualquer variante pode levar a outras e não há garantia que as variantes serão menos letais.
Obs: Até o final da noite de ontem também a região da cidade Industrial Shenzhen (como previsto mais ao sul) também havia sido infectada e o lockdown chegou a 40 milhões de pessoas.
Covid: ligeira queda de mortes e protocolos
Depois de várias altas e estabilidade no número de mortes, neste final de semana registra-se a primeira queda de “casos conhecidos” como dizem os fornecedores de dados, pois não há uma política de testagem, assim os números de infecções também vêm caindo, mas por falta de dados são menos confiáveis.
A vacinação de crianças e o número total no país também avançam ultrapassando a 80%, já com um número significativo de doses de reforço (30%), porém os protocolos continuam mal administrados: distanciamento, aglomerações e uso correto de máscaras não podem ser abandonados e a próxima medida anunciada será a liberação de máscaras em ambientes ao “ar livre”.
O número de 722 mortes diárias é alto ainda, afinal são mortes e não casos complicados ou apenas pessoas não vacinadas, uma fase de protocolos bem administrados seriam razoáveis para fazer este número cair rapidamente e basta ir a qualquer evento e ver que não há mais uma verdadeira preocupação, e em ano político isto não é uma medida aceita, por exemplo, no comércio.
Não é compreendida ainda clinicamente a Covid de longa duração e a recomendação médica é a de testar sempre, ela atinge de modo especial as crianças (o site viva bem da uol cita vários casos) e ela não está presente na preocupações de ambientes públicos, apenas as máscaras e álcool gel é o básico, deveria haver testagem, além dos protocolos que deveriam ser observados e não são (distanciamento por exemplo, não se observa mais em qualquer ambiente público e nem há fiscalização).
Espera-se que mantenham os protocolos e que a média móvel de mortes possa cair mais rapidamente do que tem sido até agora, reduzir para endemia é precipitado dizem especialistas.
Amanhã postaremos de um segundo flagelo da guerra, conforme dissemos no início do mês as pestes, seguem-se ou precedem de guerras e depois virá a fome e o caos social, é incrível que alguém torça ou deseja por uma situação de tamanha desumanidade, amanhã retornemos ao tema com esperança que o diálogo Rússia e Ucrânia anunciado dê frutos.
Forças cotidianas para a paz
Assim como podemos cultivar, a partir de nosso pensamento, em palavras e atos diversas atitudes que levamos ao dia-a-dia para a paz ou para sua ausência, podemos entender que não apenas a meditação, oração ou invocação da presença de alguém superior possa levar o mundo mais próximo ou distante da paz, são atitudes que brotam no coração.
Tomás de Aquino estabeleceu que a fé é um suplemento da razão, acreditar e ter esperança significam uma atitude de fé num futuro melhor, em tempos de pandemia e as suas consequências podem ser mais difíceis as atitudes positivas se pensamos apenas individualmente, mas se entendemos que é um problema social e que cabe a todos colaborar e aprofundar laços de solidariedade e ajuda mútua pode-se caminhar e evoluir para a paz.
A dificuldade de entender estes valores é porque nos fixamos em nosso pequeno mundo ao redor, ao invés de ouvir vozes mais amplas que clamam por Paz e solidariedade em todo o mundo, é preciso dar voz também aos que estão próximos e pedem por maior colaboração, conforme alerta a Bíblia Lc 4,24: “em verdade eu vos digo que nenhum profeta é bem recebido em sua pátria”, todos pensam por ser uma pessoa comum que suas palavras valem pouco ou que não deveria ser levada muito a sério, conforme esta passagem, logo após a leitura do trecho de Isaias em que Jesus confirma sua missão (libertar os cativos, dar visão aos cegos e anunciar a Boa Nova aos pobres) as pessoas de sua cidade Nazaré diziam: “Não é este o filho de José ?“, assim não poderiam as pessoas comuns expandir e propagar a boa nova e anunciar a paz.
É das ambições de poder e influência que os poderosos ampliam os conflitos e estendem suas redes, elas não trazem maior solidariedade ou sabedoria, trazem uma confusão de ideias e a profusão da divisão no seio social em situações de conflito e incompreensão.
A paz precisa de uma pausa de solidariedade, o reconhecimento que mesmo estando em menor condição de força, tem também seu direito a vida saudável e a paz social.
A guerra é sempre um contrassenso do que é justo e bom para todos, é assim uma visão unilateral da verdade que em geral desconhece o anseio e pensamento da pessoa simples.
Covid: Sistema de saúde pressionado e aumento de casos
O aumento registrado nas primeiras semanas de janeiro no Brasil dos casos de Covid, com predominância da variante ômicron é muito alto e não há tendência de estabilização, o sistema de saúde está pressionado pelo aumento das internações e pela presença da gripe H3N2 que também já apareceu, em geral é esperando só no começo do inverno por volta de abril e maio, mas este ano chegou mais cedo.
Os números são incertos porém há um significativo aumento (veja o gráfico), há pouca testagem e uma pane nos dados do Ministério da Saúde que se arrasta por mais de um mês, isto prejudica a adoção de política e o controle efetivo da pandemia, conforme explicou aos órgãos de imprensa o infectologista e pesquisador da Fiocruz: “A gente não consegue planejar a abertura de novos serviços hospitalares, de centros de testagem, abertura de novos leitos e entender as regiões onde o impacto da nova variante é maior” e os números deverão crescer no mês de fevereiro.
É um fato que a infecção desta variante é menos grave, porém não é certo que esta seria um indicativo de final pandêmico e os cuidados deveriam se manter, as festas de final de ano e a liberação de eventos públicos, já há algum retrocesso nestas medidas, foram vetores de propagação da variante que é mais infecciosa que as anteriores.
O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis negou que a variante ômicron possa ser o final da pandemia salientando que probabilisticamente as mutações são caóticas e não é possível prever a próxima variante ou algum ponto de enfraquecimento linear do vírus, o provável é que tenhamos que conviver com ele ainda por um bom tempo, e o neurocientista alerta o que já está acontecendo na Inglaterra e Estados Unidos onde o sistema de Saúde pode colapsar a qualquer momento, uma vez que está pressionado. e alerta que é possível chegarmos a um ponto de Covid crônica, isto é um estado que o sistema hospitalar não pode mais dar conta do volume de casos que acontecem e com tratamentos paliativos apenas sem conseguir tratar efetivamente a doença.
Com os números deste final de semana no Brasil, chegou-se a próximo de 50 mil casos diários, a expectativa é devem crescer até o final de fevereiro e o sistema de saúde já pressionado poderá entrar em colapso, enquanto as autoridades monitoram sem dados realmente válidos e confiáveis da pandemia.
A vacinação de crianças começou no Brasil, na idade de 5 a 11 anos, com a vacina Comirnaty ( Pfizer/BioNTech) porém o número de doses disponíveis é incerto, as secretarias de saúde tem aberto inscrições para agendamento que além de evitar aglomerações poderá fazer uma previsão na medida que tiverem doses disponíveis.
O que esperar de 2022
Não há nenhum salto quântico de um ano para outro, é um dia de um ano que sucesso ao primeiro dia do ano seguinte, embora para efeito fiscal, político o último dia do ano seja de balanços econômicos e fiscais, e de início de um novo orçamento para o ano que se inicia.
Tradicionalmente o primeiro ano é também o dia da Paz, e na cosmogonia cristã a visita dos reis magos (não cristãos) que visitam o menino-Deus que nasceu e fogem das ameaças de Nero, é também uma referência ao diálogo entre os povos.
O dia de ontem foi marcado por uma conversa bilateral entre Joe Biden e Vladimir Putin, solicitada por este segundo a CNN, na pauta embora tenha sido falado que são as “relações diplomáticas bilaterais”, está a tensão na Ucrânia devido a concentração de tropas na fronteira e a chamada Bucareste Nine, nove nações da OTAN (Romênia, Polônia, República Tcheca, Eslováquia, Hungria, Bulgária, Estônia, Letônia e Lituânia).
Qualquer avanço sobre a Ucrânia significaria uma resposta da OTAN através da Bucareste Nine, porém o envolvimento global no conflito não é impossível, assim este diálogo tem uma importância fundamental para se manter a paz.
A nossa maior esperança é o fim da pandemia, mas temos a ameaça da nova cepa e ainda da gripe H2N3 cuja vacina já está pronta e funciona, assim é fundamental uma boa campanha de vacinação que abranja toda a população, agora numa perspectiva de co-imunidade, isto é, que todos os países tenham vacina disponível, com ajuda da OMS.
A variante ômicron avança, porém, as medidas preventivas não estão sendo tomadas, quer seja pelo esgotamento das forças de contenção (a população está cansada das restrições) quer seja pela fragilidade política dos governos, quer seja por um negacionismo, agora estrutural, que avança, uma vez que “as vacinas não funcionam”, em parte é verdade, mas elas restringem a gravidade das infecções.
Não se pode esquecer o equilíbrio ecológico, é preciso um avanço significativo nesta direção, não basta a mudança política, é preciso que elas promovam mudanças estruturais.
Com tudo isto é preciso ter esperança, é preciso lutar e ter sempre em frente alguma coisa boa para pensar, agir e solidarizar com os que sofrem.
Catástrofes naturais e sociedade
Embora a ciência ainda tenha dificuldades de prever catástrofes naturais, a imprevisibilidade é um grande tema atual para diversos campos de estudo, a ação humana sobre que podem ampliar a problemática destas catástrofes devem ser repensadas.
Não se trata apenas de interferir em terremotos, rotas de asteroides, problemas climáticos e as mudanças no campo magnético do planeta, o problema é a dimensão social que cada catástrofe pode tomar, assim o vulcão Cumbre Vieja em La Palma, que não vítimas fatais, mas o problema da qualidade do ar, do desalojamento de famílias, da perda de renda familiar entre outros, o que preocupa é a possibilidade de uma catástrofe social, no momento, o governo de lá declara que o vulcão pode adormecer.
A catástrofe de Semeru na Indonésia, que contabilizou 34 mortos até o dia de ontem, e cuja previsibilidade não foi possível é uma fatalidade, porém o tsunami em Fukushima em 2011 que afetou uma usina atômica e tornou toda uma região inabitável tem a imprudência humana de construir usinas em áreas sujeitas a catástrofes, alerta para um grave e antigo problema: as usinas nucleares, os milhões de litros de água usada para resfriar a usina agora inativa, mas radioativa, foi despejado no mar.
Países europeus são os que mais usam usinas nucleares, e uma crise de abastecimento de combustível fóssil, em sua maioria vindo da Rússia, é um problema correlato, que agrava ainda mais o perigoso social, olhando o mapa (figura) percebemos também que muitas usinas estão na beira-mar e o risco de tsunamis é ainda mais grave, Fukushima ensinou.
No mundo 17% da energia utilizada é nuclear, 40% ainda é de carvão, o combustível mais antigo típico da primeira revolução industrial, o fóssil (petróleo) é 40%, hidráulico e eólica é apenas 2% com previsão de 3% para 2024, um crescimento muito pequeno para ser considerado um esforço que possa revelar uma mudança de cenário, claro que há interesses econômicos associados.
O grave problema das usinas nucleares, que podem ter elas próprias, acidentes como o de Chernobyl, não pode ser menosprezado o problema grave de alguma catástrofe natural que possa afetar os problemas das usinas, com enormes perdas sociais (em geral só se pensam as econômicas, que estão associadas é claro) que um desastre poderá causar.
No mundo são 440 usinas em funcionamento e 23 sendo construídas, a Europa tem 207 usinas e 7 em construção, pelo mapa se observa o enorme número a beira mar, em regiões habitadas e sujeitas a terremotos (as falhas tectônicas por exemplo), depois da Europa segue a América do Norte com 123 usinas, Japão, China e Coréia com 82 e 7 em construção.
Catástrofes naturais ocorrem, a Alemanha decidiu que não vai instalar novos reatores e que os atuais serão desativados após sua vida útil (32 anos no seu caso), a Turquia também abandonou a ideia de construir sua primeira Usina, no sentido oposto o Brasil após a inauguração de Angra-2 (situada a beira-mar) já discute Angra-3.
Uma completa consciência social deve antever também problemas graves que uma catástrofe nuclear poderia causar, e as consequências seriam duras para a humanidade.
Tempo de mudar e repensar
A Pandemia não provocou mudanças em nosso comportamento, a maioria quer voltar ao velho normal: correria, um dia a dia nervoso e complexo, ambições que se confundem com objetivos sadios e possíveis, enfim aquilo que o filósofo Sloterdijk chamou de “frivolidades”, entretanto a crise não passou e já se admite uma 4ª. onda.
A cada 100 novas infecções relatadas no mundo, 62 estão na Europa informa a agência de notícia Reuters, a região registra 1 milhão de infecções a cada dois dias.
A sabedoria que envolve todo um universo da vida humana, da saúde a política, o bem estar verdadeiro que inclui justiça e empatia, mesmo com um beliscão da natureza não foi suficiente, o resultado é uma crise que se aproxima e se avoluma, olhar para o infinito do universo e de seus mistérios deveria tornar-se humildades, mas a arrogância está em toda parte dos incrédulos aos céticos, da baixa cultura a cult livresco e enciclopedista, uma verdadeira mudança do pensamento, como quer Morin, não aconteceu.
Tudo isto que deveria ter nos inspirados maiores sentimentos de amor, solidariedade e paz não aconteceu, a Pandemia não deu uma trégua de hostilidades e radicalizações, o resultado não poderá ser outro que não uma catástrofe, independente de governos e tendências eleitas, já que a polarização leva sempre a dois extremos e não dá trégua.
Há algo pairando no ar, o espírito humano sabe quando as coisas estão fora de lugar, nem sempre sabem exatamente onde estão por falta de harmonia e evolução espiritual, não basta o desenvolvimento humano material, ele é importante se for sustentável, é preciso que a alma humana acompanhe esta evolução e não é o que se vê, se vê “frivolidades”.
Vários países da Europa pensam em lockdown, também uma crise de energia está na mira de muitos países europeus, dependentes de fornecedores externos, segundo dados da Eurostat, a agência de estatística da EU, o aumento do gás tem feito a inflação subir em 19 países da zona do euro, e impacta tudo, mas principalmente a energia já que 90% do gás vem da Rússia, e um quinto da energia elétrica é produzida com uso do gás.
Lembremos que estamos no inverno na Europa e este consumo tende a crescer para ambientes aquecidos e maior permanência nos lares.
Na liturgia cristã começa no final de semana o Advento, não é apenas a comemoração do Natal, na primeira semana é a espera de uma nova vinda de Jesus, chamada Parusia, e não se trata apenas do fim do mundo, mas também nas grandes crises Deus não é indiferente, claro aos que creem, é sempre possível sua intervenção de modo inesperado.
A esperança é assim um motor de nossas vidas, mas precisamos estar atentos como diz a liturgia deste período (Lc 21,34): “Tomai cuidado para que os vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriagues e das preocupações da vida, e esse dia não caia de repente sobre vós, pois esse dia cairá como uma armadilha sobre todos os habitantes de nossa terra”.