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Arquivo para a ‘Economia’ Categoria

Politização da vacina e cuidados

19 out

Na quarta feira passada (14/10) o Ministério da Saúde do Brasil apresentou aos secretários de saúde dos estados um cronograma de vacinação contra a covid-19 que teria início em abril de 2021, a previsão é para a vacina AstraZeneca, desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford, que está na terceira fase de testes e deve ser produzida no Brasil pela FioCruz, em Manguinhos, no estado do Rio de Janeiro.

Alguns governadores, em especial o governo do estado de São Paulo tem interesses na empresa chinesa Sinovac, embora a China também aposte na vacina de Oxford, esta vacina está em teste feito pelo Instituto Butantan da Universidade de São Paulo, e o secretário da Saúde de São Paulo Jean Gorinchteyn afirmou a jornais paulistas que “as vacinas não estão sendo tratadas de forma republicana pelo Ministério da Saúde, pois a vacina chinesa pode ter disponível 46 milhões de doses em dezembro e mais 14 milhões até fevereiro de 2021 e 40 milhões até junho de 2021.

Mas a disputa não para aí, a gigante americana Pfizer anunciou na sexta feira (16/10) que pode solicitar uma autorização de “emergência” para sua vacina contra a covid-19 até o final de novembro, disse Albert Bourla, CEO do grupo em carta publicada nas redes sociais: “Permitam que seja claro, supondo que os dados sejam positivos, a Pfizer solicitará uma autorização de uso de emergência nos Estados Unidos pouco depois da etapa de segurança, na terceira semana de novembro, o que indica que também quer participar da disputa, embora inicie a vacinação nos EUA.

Por causa de um pedido da parceira alemã BioNTech, havia um pedido de espera de 2 meses para a segunda dose da vacina (esta vacina é em duas doses) , mas Albert Bourla mostra a politização ao afirmar que “poderíamos saber se nossa vacina é efetiva ou não no final de outubro”, lembro que as eleições americanas acontecem em 3 de novembro, e isto seria um trunfo de Donald Trumph.

Segundo a organização Mundial da Saúde, e o infectologista Claudio Stadnik da Santa Casa, apenas 10 vacinas estão na fase III, e a previsão se o cronograma for seguido, apenas as vacinas da AstraZeneca/Oxford, Sinopharm (China)/Wuhan Institute of Biological Products (China) e Sinopharm (China)/ Beijing Institute of Biological Products (China) estariam prontas em julho de 2021 enquanto a Moderna (EUA) e Sinovac/Biotech (China) em outubro de 2021.

Portanto política a parte, este seria o quadro real seguindo os preceitos sanitários e médicos, antecipar é dar possibilidade ao erro e vidas estão em jogo.

Veja o gráfico acima: Fonte: Organização Mundial da Saúde e Cláudio Stadnik, infectologista da Santa Casa.

 

Laços fracos e a pandemia

30 set

Os laços fracos são importantes na teoria das redes conforme já mostramos no post anterior porque são eles que podem dinamizar as redes e fazer com elas saiam de seus nichos e andem por outros, porém como é isto numa mídia social é o mais interessante.

O que Mark Gronovetter, professor de sociologia da Universidade de Stanford demonstrou com seu artigo intitulado The Strength of Weak Ties, é que não só a qualidade dos relacionamentos de amigos e familiares importa, também a quantidade tem sua importância, e isto vai se refletir num outro artigo curioso de Duncan Watts e Stevie Strogatz.

Eles começaram a trabalhar com o entomologista Tim Forrest para tentar entender porque os grilos em determinado momento cantavam em uníssono quando atingiam um certo número destes insetos na floresta, queriam também entender se isto tem relação com os chamados seis graus de separação das redes.

Em redes perfeitamente regulares, os vizinhos de cada nó tendem a estar conectados uns aos outros, e essa redundância local, ou “agrupamento”, atua como uma interrupção natural de propagação, por exemplo, de um vírus, claramente, se todos os vizinhos de um nó infectado já estiverem também infectados, a doença terá poucos lugares para ir se estiverem isolados, já numa rede aleatória, significa que todos os vizinhos são suscetíveis de serem infectados.

Pareciam óbvios os resultados, mas o que eles descobriram é que é menos óbvio que quando apenas uma fração de links em uma rede regular estão ligados aleatoriamente, as doenças podem se espalhar quase também quando em uma rede aleatória, assim pela teoria das redes somente o isolamento completo da rede pode evitar o contágio.

O artigo deles na revista Nature, em 1998, “Colletive dynamics of ´small-word´ networks” demostrou o efeito que elas tem em larga escala a partir dos mundos pequenos com seis graus de separação, e sua influencia para a pandemia atual é que o isolamento social é necessário, e mais necessário ainda seriam os focos iniciais da pandemia agora já disseminada em todo país, e em poucas partes do mundo houve medidas efetivas contra sua propagação.

Entretanto o modelo de Watts-Strogatz não é genérico,  pois existe a necessidade de um número fixo de nós, e assim não pode ser usado para uma rede em expansão, outro modelo foi feita mais tarde por Barabasi e Reka Albert, chamado free-scale, neste modelo também tem limitações pois não consegue trabalhar com níveis altos de nós em redes reais, assim também tem limites para analisar, por exemplo, uma pandemia que atinge milhões de pessoas no mundo todo.

O que estes trabalhos históricos de análise das redes sociais inferem sobre a pandemia é que em momento que a pandemia já se generalizou, ou seja, o free scale de Barabási/Albert, já não é possível o controle apenas de focos e uma medida de proteção em larga escala é necessária, enfim um isolamento social amplo.

É claro que a pressão econômica não deverá deixar isto, e assim o uso de vacina torna-se imprescindível, mas qual ?

 

Assim os últimos serão os primeiros

25 set

Não importa que você demonstre que faz bem as coisas, que mantenha as aparências, que esteja sempre num lugar de destaque, mesmo na política e nos cultos e festas religiosas, a verdadeira consciência é que liga-se a intenção, e a intencionalidade é a consciência dirigida a “algo”, diz a fenomenologia.

Assim é que a nova normalidade, não a da pós-pandemia, mas a da pós crise civilizatória e tudo indica que ela está a caminho, poderá inverter a lógica da perversidade dos poderosos, dos opressores e dos fariseus, somente a verdadeira solidariedade contará, somente ela poderá dar sustento ao novo rumo, que poderá advir não de uma nova normalidade, porque ela já era distante antes da pandemia, basta ler a literatura séria, que não é a dos midiáticos.

Os frágeis e os indefesos ficaram ainda mais frágeis na pandemia, mas a lógica do poder se inverterá por uma fenomenologia aórgica, aquela que vem do inorgânico sobre o orgânico, vem da natureza para o humano, e do cosmos para o planeta, assim como afirma Morin em sua “introdução a complexidade” o todo está na parte, o cosmos e a natureza em cada indivíduo, como a parte está no todo, somos responsáveis por tudo que acontece na Natureza.

Está na cosmologia e não na visão sistêmica, está no holismo aórgico e não no holismo cartesiano, está na mística e não no farisaísmo ou na ideologia atrelada a religião, que é outro tipo de religião sem ascese, a mudança vem de uma longa noite da humanidade, mas poderá concentrar numa noite visível.

O poeta Hörderling afirmava “onde há medo há salvação”, e o momento de apreensão da humanidade a espera de uma vacina deve pensar numa vacina que tire a venda dos olhos da cegueira do pensamento, Edgar Morin preconizou esta noite, e Peter Sloterdijk afirmou que não é um tempo propício ao exercício do pensamento, estamos petrificados em lógica sistêmica e doutrinais que não nos permite perceber um novo ao largo do horizonte.

É por isto que os últimos serão os primeiros, as pessoas simples tem a intuição desta possível mudança, os verdadeiros sábios a desejam, não como o querem os poderosos, mas como sonham os flagelados da pandemia social, do doutrinismo irracional e fechado em suas bolhas.

Os que blasfemam contra as religiões afirmam como dizia o profeta Ezequiel no antigo testamento (Ez. 18,25): “Vós andais dizendo: a conduta do Senhor não é correta. Ouvi, vós da casa de Israel. É a minha conduta que não é correta, ou antes é a vossa conduta que não é correta?“, os humildes entendem.

É assim que os últimos serão os primeiros, e que serão os operários da última hora, como diz a parábola bíblica aqueles que chamados ao fim do dia foram ao trabalho e receberam o mesmo pagamento dos que chegaram no início do dia, e não haviam ido apenas porque não haviam sido chamados (Mt 21,28-32).

 

O inesperado e a ação

23 set

Entre muitos pensamentos que me causaram impacto no quase centenário Edgar Morin, a sua relação com o inesperado é a mais interessante e sábia, disse esta relação “torna-nos prudentes”, e disse isto referindo-se a ciência.

O vírus nos pegou de surpresa, mas a arrogância de muitos senhores midiáticos não deixou de analisar a pré pandemia, a própria pandemia e o pós-pandemia, não há mistérios na vida para eles, porém o que vemos ainda é muito mistério.

Diz Morin, “por mais que se saiba que tudo o que se passou e importante na história mundial ou em nossa vida era totalmente inesperado, continua  agir-se como se nada de inesperado tivesse doravante a acontecer”,  e é muito provável que mais coisas inesperadas aconteçam se conhecemos algumas leis da teoria da complexidade ou do caos.

É verdade indica o pensador, “a complexidade necessita de alguma estratégia”, gostaríamos de ter “segmentos programados para sequencias onde não intervém o aleatório”, mas esta é uma situação que  pilotagem automática não é recomendada, diz o pensador: “o pensamento simples resolve os problemas simples sem pensamento”, não é o caso.

Já o pensamento complexo é “dar a cada um, um memorando, uma marca, que lembre: não esqueça que o novo pode surgir e, de qualquer modo vai surgir”, encontrei o que queria porque minha intuição diz isto, algo novo vai acontecer.

É neste ponto de partida que Morin aponta para “uma ação mais rica, menos mutiladora”, o que seria, diz “quanto menos um pensamento for mutilador, menos mutilará os humanos”, mas muitos não pensam, ignoram o futuro.

Anormal e simplificador seria se depois de um ano absolutamente anormal na história da humanidade, tudo voltasse ao cotidiano ou a “trivialidade” que alguns pensamentos mutiladores insistem em dizer, e o próprio termo “nova normalidade” é também mutilador, pois a questão é se haverá normalidade depois deste ano.

A ação possível e que deve ser pensada por cada um em particular, mas por todos como sociedade é como minimizar as perdas, como reorganizar a vida, como superar as dores ou ao menos suportá-la, e ajudar aqueles que não as suportam.

Será preciso de uma anormal fraternidade, aquela que ainda poucos viveram, e os que as pregam as vivam de verdade.

MORIN, Edgar. Preparar-se para o inesperado. In: MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. Tradução de Dulce Matos. Lisboa: Instituto  Piaget, 2008. p.120-122.

 

Acordo para agilizar a vacina

21 set

O acordo de vários países para agilizar a vacina (Covax), entre eles o Brasil que assinou na última hora na sexta feira, prevê um mínimo de vacinação de 10% da população (a opção do Brasil) até um máximo de 50% da população, que uma vez assinado não poderia desistir dos valores comprometidos, assim o Brasil assinou no mínimo, mas isto dá 42 milhões de doses, não é pouco e o risco é evidente pelo não cumprimento de todo o protocolo de testagem.

O governo não desistiu do acordo já assinado com a AstraZeneca com a chamada vacina de “Oxford” que tem a participação do prestigioso instituto da FioCruz, enquanto o governo do Estado de São Paulo promete acelerar o processo da vacina que é desenvolvida na China com participação do Instituto Butantã.

O acordo brasileiro entretanto prevê que se a vacina de Oxford chegar primeiro ao mercado ele pode optar por manter o acordo bilateral de comprar de vacinas, abrindo mão do fornecimento pela aliança, mas é provável que na pressa a vacina da aliança Covax chegue primeiro, então teremos que aceitar a vacinação, o que é temeroso.

O diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse em 13 de agosto que “COVAX já conta em sua carteira com nove vacinas candidatas, que se encontram na fase 2 ou 3 dos ensaios”, mas curiosamente as vacinas Janssen Pharmaceutics e BioNtech/Pfizer não estão na lista.

Para funcionar a aliança precisa de U$ 38 bilhões, mas conta com menos de U$ 3 bilhões, então pode ser que isto recaia sobre o ombro de países que entram na aliança apenas para cumprir acordos internacionais, isto também no aspecto social e econômico, o acordo é preocupante.

A priori o acordo é para que os países mais pobres tenham o mesmo acesso que países ricos às vacinas que tenham maior possibilidade de êxito, menos de 10 encontram-se na fase de testes, e o volume financeiro pode tornar o jogo de interesse mais sério, assim como deixar que o uso em países mais pobres não tenha a preocupação dos países ricos, seriam estes uma espécie de cobaia, a OMS alega o contrário diz que “é para garantir o acesso dos países pobres”.

O Brasil receberá 42 milhões de vacina, se houver algum problema quem se responsabilizará por isto, é claro que dirão que é o próprio país por ao assinar o acordo torna-se “consciente” dos “riscos”, embora eles não sejam mencionados.

Mesmo muito camuflado é um jogo de interesses que parece muito claro, é provável que os países menos ricos recebam primeiro doses da vacina, e se verificadas seguras é que serão usadas em países ricos, não é uma tese fácil de ser provada, porém a pressão nos países menos ricos foi enorme e o Brasil assinou na última hora sem dizer o real motivo.

Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Venezuela estão entre os países que assinaram o acordo, e o acordo Covax é apenas uma parte do “Acelerador de Acesso a ferramentas Covid-19”, ou simplesmente Acelerador ACT, que é o mecanismo de resposta que a OMS criou para a pandemia,  apesar do termo “acelerador” ser evitado em entrevistas.

Espero estar errado, mas o jogo econômico continua a prevalecer sobre a saúde da população, em especial, dos pobres.

 

 

Justiça e desemprego na pandemia

18 set

O número de processos trabalhistas, e de injustiças que nem chegam aos tribunais deve crescer durante a pandemia, segundo dados de especialistas (alguns jornais citam as empresas Datalawyer e FintedLab), indicam que estes dados devem crescer, entre as reclamações estão o pagamento de verbas rescisórias, por exemplo o saldo do salário e a multa de 40% sobre o FGTS, Fundo de Garantia do Tempo de Serviço no Brasil), e as condições de trabalho na pandemia.

Já salientamos em posts anteriores a importância de buscar modelos de empregabilidade que combatam a mudança de cenário acentuada no desemprego durante a epidemia, este que já era alto no Brasil, agora segundo o Ministério da Economia, de março a abril, cerca de 8 milhões de pessoas perderam o emprego ou tiveram corte salarial, sendo que 1.1 milhão de empregos com carteira tiveram seus contratos rescindidos, e os informais tem dados ainda mais volumosos.

É justo socorrer e pagar salário justos a estas pessoas, é claro que sim, a lógica de reduzir os salários e de abolir empregos não se justifica pois a pandemia não diminui a demanda em setores essenciais, além de criar demandas novas como serviços online, serviços home office, auxílio em áreas como a saúde, a educação e a segurança est]ao ai.

O quadro torna-se ainda mais grave com o aumento de preços, isto significa que alguns setores estão se beneficiando com a crise, além da espantosa corrupção na área da saúde, com hospitais que não foram usados, desvios de verbas e até de remédios e equipamentos é simplesmente criminosa, onera os estados e municípios, e desfavorece política públicas de auxílio e socorros emergenciais.

Há uma passagem bíblica onde é contada a parábola do vinhateiro que precisando de operários para sua vinha, ele sai as 9 da manhã para buscar mais operários e depois as 3 da tarde para buscar mais operários, combina com todos uma moeda de prata, parece injusto, mas quem paga e combina o salário é ele, e na verdade corrige a injustiça do desemprego.

Diz aos operários que contrata as 3 da tarde (Mt 20, 6-7): “ ´Por que estais aí o dia inteiro desocupados eles responderam: ´Porque ninguém nos contratou´.  O patrão lhes disse: ´Ide vós também para a minha vinha’ “.

E todos receberam o mesmo salário, nada mais justo, esta deveria ser a lógica do combate ao desemprego na pandemia.

 

 

A lei do mais fraco

17 set

Toda a lógica, inclusive parte da lógica científica, está em defesa da lei do mais forte, a pandemia mostra que também os mais fracos devem ser pensados, pessoas que tenham comorbidades, idosos, diabéticos, obesos enfim os que estão fragilizados por alguma doença ou condição de vida (a idade por exemplo, e também a vida nas periferias).

Foi nome de um filme de Hector Babenco, Pixote: a lei do mais fraco, que é baseado numa história real, e que foi protagonizado pelo ator Fernando Ramos da Silva, o verdadeiro Pixote da vida real, que o diretor do filme conheceu, veio a falecer pouco tempo depois do filme, morto por policiais em Diadema, na grande São Paulo.

O filme conta a história de um garoto que sem ter conhecido os pais, vai morar na rua, e após um roubo de uma carteira de um desembargador vai para uma instituição de recuperação de menores, a FEBEM, que deveria ser uma casa de reeducação, mas na verdade é onde sofrem abusos, violências, humilhações podendo até mesmo perder a vida.

Pensar nos mais fracos significa olhar para uma sociedade e desejar maior equilíbrio, além da distribuição de renda, o tratamento de dignidade a todos, o respeito e a proteção daqueles que por alguma razão tornam-se frágeis num contexto social de concorrência, consumo e desumanidade, onde fatalmente sofrerão ainda mais se não há proteção.

A situação da pandemia, além de expor a fragilidade médica de muitas pessoas, agrava a situação de distribuição de renda, que coloca milhões de pessoas em situação de desespero e angústia, somente uma grande virada de amor e de fraternidade poderá evitar um caos social e até mesmo uma crise civilizatória já em processo.

Claro cada um pode fazer sua pequena parte, porém as políticas desenvolvidas por governos nos diversos níveis da administração pública deve ser pensada pensando naqueles que trabalham na informalidade, além da taxa de desemprego que já era alta antes da pandemia, os que precisam de socorro imediato e a saída da crise.

Se pensar apenas nos motores centrais da economia o resultado demora a chegar ao emprego formal, então outras soluções emergenciais podem ser pensadas, tais como: frentes de trabalho, micro empreendimentos e auxílio aos pequenos negócios que podem a curto prazo empregar muita gente.

É hora de solidariedade, infelizmente não é o que se vê em parte alguma, nem mesmo nos que se dizem realmente preocupados e que procuram mais a denúncia do que a iniciativa e o apoio a boas iniciativas, é hora de solidariedade.

 

A pobreza e a ajuda externa

16 set

Não é apenas pelos fatores de desigualdades, o fluxo de riqueza que corre sempre numa única direção, depende do desequilíbrio de áreas como educação, infraestruturas não apenas sanitárias, mas também de transportes e fontes de riqueza regional e nacional, e para isto a ajuda externa é imprescindível.

A relação entre ajuda externa e combate a pobreza global é positiva e eficaz, dizem os relatórios de muitos fóruns.

Talvez alguns dos exemplos mais fortes da eficácia da ajuda externa sejam os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio desenvolvido pela ONU, porém as metas não foram alcançadas, corrupção interna e ajuda externa ineficiente.

Essas metas, propostas pelas Nações Unidas e ratificadas por todos os países do mundo, visavam: reduzir a pobreza, a fome e a mortalidade infantil, mas os planos de desenvolvimento local e regional foram timidamente atacados.

O chamado Borgen Project foi na verdade direcionado a ações de capitalistas locais e interesses externos,

Os objetivos propostos e ratificados por todos eram:

– reduzir a pobreza, a fome e a mortalidade infantil;

– alcançar educação primária universal, igualdade de gênero e sustentabilidade ambiental;

– melhorar a saúde geral, lutando contra doenças tratáveis; e

– atuar como uma parceria global para o desenvolvimento.

Parecem louváveis e dificilmente alguém deixaria de apoiar a estes planos, mas a aplicação local foi para reduzir a natalidade, sustentabilidade ambiente sem desenvolvimento, e as doenças tratáveis não são de fato atacadas, ainda doenças infantis subsistem, a malária é comum em muitas regiões da África e há o risco agora da pandemia.

Restou o problema fundamental da parceria global para o desenvolvimento, onde deve-se olhar os interesses, a cultura e aquilo que é socialmente valorizado localmente, e infelizmente a mentalidade colonialista ainda impera, a chamada decolonização vem no enfrentamento desta questão.

Um processo que contemple este novo processo deve ser pensado, observando autores e as culturas locais.

 

Auxilio efetivo a pobreza

15 set

Se por um lado é necessário o auxílio emergencial, principalmente porque a pandemia impede o exercício de trabalho informal e muitas famílias economizaram com empregados domésticos, é necessário um plano de recuperação a médio e longo prazo para evitar uma degradação e uma distribuição de renda ainda pior do que a que já existe.

O economista Muhammad Yunus é conhecido no mundo inteiro como “o banqueiro dos pobres”, mas na verdade não é um banqueiro no sentido convencional, pois ele auxilia pessoas que nunca tiveram acesso a nenhum sistema bancário, o que fomenta é um empreendedorismo, principalmente entre mulheres, e seus resultados são surpreendentes.

É verdade, entretanto que fundou um banco, o Grameen Bank em 1983 em Bangladesh, porém hoje o que mais faz são palestras, é um dos oradores mais solicitados do planeta, e recebeu entre outros prêmios, o Nobel da Paz em 2006.

Em suas palestras censura e critica banqueiros que visam apenas o lucro fácil, os juros escorchantes e pouco ou nada olham para a realidade social em que vivem, uma de suas frases muito conhecidas diz: “Lidar com teorias econômicas diante de pessoas morrendo [de fome], para mim era uma piada”, isto é ainda mais verdade numa pandemia.

O produtivismo utilitarista, a produção é necessária principalmente em bens essenciais, é aquele que visa apenas os setores mais atrativos onde o lucro é alto e o impacto social nem sempre tão alto, no que se refere aos pobres, e no caso da educação e da saúde, é necessário até mesmo que não seja considerado o lucro, pois se trata de investimento.

A ideia que invadiu diversos setores, e infelizmente também na educação e na saúde pública, que é necessário que estes setores sejam produtivos não é senão uma reprodução de um capitalismo selvagem incapaz de gerir a crise atual, e só está em alta por causa da desinformação da população, em tempos sombrios teorias autoritárias ganham voz.

O que Yunus diz sobre empregos é muito interessante: “Uma questão essencial está na ideia de emprego. Quem disse que nascemos para procurar emprego? A escola? Os professores? Os livros? Sua religião? Seus pais? Alguém colocou isso na cabeça das pessoas. O sistema educacional repete: ‘você tem que trabalhar duro’. Seres humanos não nasceram pra isso. O ser humano é cheio de poder criativo, mas o sistema o reduz a mero trabalhador, capaz de fazer trabalhos repetitivos. Isso é vergonhoso, está errado”, aqui precisamos vencer também o economicismo assistencialista. 

O mundo digital no qual qualquer pessoa pode ter um sistema online e trabalhar nele, onde empregos “informais” podem tornar pessoas de qualquer localização, inclusive da periferia empreendedores, vão de encontro a proposta de Yunus, tornar os “serviços” mais próximos da população de periferia é possível graças a onipresença do digital.

Empreendedores existem em todas camadas sociais, arrisco até a dizer que eles se concentram na periferia, o problema é quem se arrisca a colocar capital ali, quem poderia financiar estes “microempreendedores” de periferia, aí há solução, o número de empregos pode crescer rapidamente e haver circulação de bens e renda em ambientes frágeis.

 

Número de casos cresce e as vacinas

14 set

O número de dados voltou a crescer, se olhamos o vale do dia 7 de setembro, feriado nacional no Brasil, vemos o vale de decréscimo com 10 mil casos, nesta avaliação de curto prazo é melhor o número de infectados, porque o número de mortes só será afetado de 7 a 14 dias, que neste período também voltou a crescer.

Foi um escândalo e comentado em todo país a descida dos paulistas para as praias litorâneas, coincidência ou não, é um dado real e científico, o número de casos voltou a crescer e o número de mortes voltou a aproximar das mil diárias.

Enquanto a vacina não vem, teremos que conviver com esta realidade, o período de um possível lockdown passou o vírus está em todo país e o único isolamento que funciona é o social para evitar a infecção entre pessoas próximas, partindo justamente da ideia que todos podem ser portadores do vírus agora e todo cuidado é necessário.

Agora estamos a espera da vacina, e o caso de um efeito colateral de uma mulher em Londres da vacina de Oxford, a que usa o princípio vetor viral, o efeito foi uma mielite transversa que causa um problema neurológico e pressão alta, sendo possível que a causa foi um fator externo a fórmula, a mulher passa bem, há avaliação do caso por um comitê que é independente (vejam o quão complexo e sério devem ser os testes), e a retomada dos testes já foi autorizada, há outras 6 na fase dos testes.

É importante notar que o problema foi o efeito colateral e não a infecção, a vacina da Oxford e do Laboratório Astrazeneca, que tem participação do laboratório da Fiocruz brasileira, não tem possibilidade de infecção, ela não replica o vírus, por isto é considerada segura, mas efeito colateral existem em quaisquer remédios e vacinas e deve-se prescrever os casos, como aqueles que encontramos nas bulas, do tipo, crianças ou adultos não podem tomar, etc.

O caso foi importante para que todos tenhamos consciência da seriedade e da lentidão dos testes, que são necessários.

Outras vacinas sobem na “cotação”, a vacina da Pfizer. que segue o princípio ácido nucleico (RNA), e com boa cotação na área médica, porém esta também está sujeita aos testes e sem a avaliação das “contraindicações” não se deve apressar seu uso, por isto, a demora, é necessária e não se pode dispensar esta fase.

Socialmente o que esperamos, passado um período de ajuda (deve ir até o final do ano, mas que já está ai), é preciso já começar a pensar nas consequências econômicas, sociais e educacionais, elas serão fortes e exigirão o esforço de todos e deve-se pensar não como um peso, mas como uma necessidade social que determinados grupos tenham proteção.

É o caso de idosos, crianças e grupos socialmente marginalizados, se a sociedade e as políticas públicas não abraçarem estas pessoas, as consequências sociais que já são graves, poderão ir para o campo do descontrole e seria uma tragédia.