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Veredas, onde pode-se encontrá-las
Tempos de diversas crises, também é um tempo de crise do pensamento, da cultura e até mesmo da fé.
“Onde mora o perigo é lá que também cresce o que salva”, escreveu o poeta alemão Hölderlin, já em um de seus últimos “A Via” o visionário Edgar Morin reuniu parte do pensamento disperso pelo reducionismo e sistematizou um sobre o futuro da humanidade religando saberes e defendendo a fraternidade.
Ele trata no livro da reconstrução coletiva do pensamento sobre a sociedade, através do conceito da metamorfose (processo simultâneo de autodestruição e autorreconstrução em uma organização em que a identidade é mantida e transformada em alteridade), que seria uma nova origem de modo mais amplo da solidariedade humana.
Escreveu o pensador francês: “Sinto-me conectado ao patrimônio planetário, animado pela religião do que religa, pela rejeição daquilo que rejeita, por uma solidariedade infinita…”, religar os saberes, admitir a complexidade, reencontrar a natureza e também o Amor, escreveu um belo livro “Amor Poesia Sabedoria” (Instituto Piaget, 1997) que também sobre a perda de sua mulher Edwige: a inseparável, dizendo “sou um eterno amoroso”.
Ao falar do desencanto do homem moderno, responde a pergunta de um repórter sobre a esperança: “Todas as crises – seja ela econômica, social, política, ética, cognitiva – são apenas reflexos da crise maior da humanidade, que não está conseguindo se tornar humana. Mas é preciso resistir à desilusão e à perda de fé em um novo mundo, porque um novo caminho, uma nova via, é sempre possível. Mas esperança não significa certeza. Não podemos escapar da incerteza.”
Podemos então buscar Veredas, encontrar atalhos para o novo tempo, um novo “advento”.
Veredas e a importância para a vida
As veredas na formação dos biomas brasileiros, são onde ocorrem nascentes de lençóis freáticos, que por menores que sejam vão formar os córregos e riachos que abastecem grande parte dos rios e permitem que se tenha uma água limpa e saudável.
Quanto as vegetações, as veredas são de matas mais rasteira, de solo úmido fazendo com que a terra geralmente mais escura se comportem como espojas e filtros retendo os sentimentos orgânicos e assim filtrando a água que chega ao córrego durante as chuvas, o problema grave das veredas é a possibilidade de desertificação.
A fauna tem lobos-guará, tamanduás, serpentes, peixes e anfíbios, as aves mais diversificadas, palmeiras e coqueiros oferecem frutos abundantes para aves maiores, enquanto os rios fornecem peixes para algumas aves grandes e também as que fazem migrações.
Assim uma vereda, além de ser um caminho escondido são fontes de vida, quem a atravessa não vai apenas encontrar uma grande estrada, um grande rio, mas o próprio caminhar por uma vereda oferece uma rica vida e também uma bela paisagem.
Buscar veredas durante o advento faz parte não só da religiosidade sincera e verdadeira, mas principalmente daqueles que buscam espaços humanizados de amigos e colegas de trabalho que são fontes de vida e da verdadeira liturgia que é feita na labuta diária no trabalho, em casa e com os amigos.
A consciencia planetária e vigiar
Olhando a consciência planetária num olhar da Europa, embora seja um olhar viciado, é o olhar que aponta caminhos para o Ocidente, o filósofo Petr Sloterdijk em seu livro “Se a Europa despertar” (2002), aponta o ano zero da consciência atual como a derrota da possibilidade de um “Império do Centro” com o nazismo, segundo sua análise, numa reflexão que já dura a duas gerações.
O capítulo 6 começa com um epígrafe significativo (Sloterdijk, p. 65): “A Europa precisa hoje inventar uma forma de unidade que não é a de um império” de Jacques Le Goff, isto é, criar uma nova forma de política que não seja mais o desenvolvimento fundamentado na exploração e opressão de outros povos.
É como afirma a Bíblia no evangelho de Marcos: “É como um homem que, ao partir para o estrangeiro, deixou sua casa sob a responsabilidade de seus empregados, distribuindo a cada um sua tarefa. E mandou o porteiro ficar vigiando.” (Mc 13, 34), e se no passado se disse que o preço da liberdade é a eterna vigilância, pode-se dizer hoje que o preço da superação da crise é vigiar para que não sejam desencadeados processos que impeçam o crescimento de uma consciência planetária sobre uma cidadania mundial.
Desenvolve ao longo do livro o que chama de política de “visões”, compatível com sua origem ontológico-hermenêutica (é herdeiro e crítico do pensamento de Heidegger e conviveu com Safranski que é o melhor biógrafo deste), o que significa promover o diálogo cultural entre povos, permitindo a cultura e a ‘visão” de cada um.
Assim se a Europa despertar terá “alcançado a façanha de produzir, sob sua própria direção e em debate público, a visão pela qual deve ser conduzida e impulsionada – e então agir sobre essa visão, como se esse novo motivo autoconstituído tivesse tanto poder de liberar forças aceleradoras quanto uma velha missão muito encarnada.” (SLOTERDIK, 2002, p. 72)
A edição brasileira, não sei as outras também, termina com uma entrevista do filósofo alemão a Michael Klonovski, jornalista da revista alemã Focus, em que revela (bem antes da era Trump e também da era Obama) que a única coisa que 11 de setembro fez os americanos a “abrirem mais fogo”, e agora “eles assumem seu unilateralismo sem reservas.” (SLOTERDIJK, 2002, p. 84)
Neste sentido é preciso também vigiar e reagir ao belicismo que pode fazer a consciência planetária retroceder, mas não a diversidade que implica no surgimento de nações e afirmação de etnias, isto não é oposto a consciência planetária, uma vez que permite a cada povo viver e cultivar suas tradições culturais sem reservas.
A crise e a consciência planetária
Se o quadro parece complexo para o homem do despertar do século XXI, não se podem fatores que aguçam a consciência planetária, Morin (2003) indica 6 processos nas páginas 36 e 37 do seu livro Terra-Pátria:
“A persistência de uma ameaça nuclear global A ameaça atómica foi e continua sendo um fator de consciência planetária. O grande temor virulento de 1945-1962, anestesiado sob o equilíbrio do terror, redesperta.”, por coincidência infeliz a Coréia do Norte acaba de lançar um míssil balístico no mar do Japão, a provocação permanece.
“A formação de uma consciência ecológica planetária O objeto da ciência ecológica é cada vez mais a biosfera em seu conjunto, e isso em função da multiplicação das degradações e poluições em todos os continentes e da detecção, desde os anos 1980, de uma ameaça global à vida do planeta”, dentre as muitas contestações do governo de Trump, a mais eficaz e contundente tem sido a questão ecológica porque ameaça até mesmo acordos com a Zona do Euro e também internamente, o governador da Califórnia Jerry Brown anunciou em vídeo que um grande encontro sobre mudança climática será realizado em San Francisco em 2018, numa clara contestação ao governo americano.
“A entrada no mundo do terceiro mundo A descolonização dos anos 1950-1960 fez surgir no proscénio do Globo 1,5 bilhão de seres humanos, até então refugados pelo Ocidente nos baixios da história”, note-se bem que Morin escreveu isto antes da crise humanitária provocada pela guerra na Síria, e a imigração africana e árabe é crescente na Europa.
“O desenvolvimento da mundialização civilizacional Esta se desenvolve, para o pior e para o melhor: para o pior, acarreta destruições culturais irremediáveis; homogeneíza e padroniza os costumes, os hábitos, o consumo, a alimentação (fastfood), a viagem, o turismo; mas essa mundialização opera também para o melhor porque produz hábitos, costumes, géneros de vida comuns através das fronteiras nacionais, étnicas, religiosas, rompendo um certo número de barreiras de incompreensões entre indivíduos ou povos”, a Europa vai mudando de feição e de costumes, enquanto os países do terceiro mundo adotam cada vez mais costumes mundializados.
“O desenvolvimento de uma mundialização cultural Enquanto a noção de civilização recobre essencialmente tudo o que é universalizável: técnicas, objetos utilitários, habilidades, modos e géneros de vida baseados no uso e consumo dessas técnicas e objetos, a noção de cultura recobre tudo o que é singular, original, próprio a uma etnia, a uma nação”, mas ao contrário do que se imaginava reapareceram nações como a Armênia e a Macedônia, diversas “antigas repúblicas soviéticas” e outras lutam para emergir: o Curdistão e a Chechênia,
Emerge um folclore planetário, como “o jazz que se ramificou em diversos estilos a partir de Nova Orleans, o tango nascido no bairro portuário de Buenos Aires, o mambo cubano, a valsa de Viena, o rock americano que por sua vez produziu variedades diferenciadas no mundo inteiro … a cítara indiana de Ravi Shankar, o flamengo andaluz, a melopeia árabe de Oum Kalsoum, o huayno dos Andes; suscitou os sincretismos da salsa, do rai, do flamengo-rock.” (Morin, 2003, pag. 39)
É inegável que a diversidade se afirmou, mas em sentido contrário a mundialização aconteceu, não só nos processos perversos econômicos, mas nos adversos da cultura.
MORIN,E. e KERN, A.B.Terra-Pátria. Traduzido do francês por Paulo Azevedo Neves da Silva. Porto Alegre : Sulina, 2003.
Governança, talentos e religião
O conceito de governança é, portanto aquele que se estende a um grupo maior que uma burocracia ou tecnocracia de Estado, não se trata apenas de saber investir, olhar os interesses e fazer “o desenvolvimento”, mas principalmente render o muito ou o pouco que se tem.
Já se vai um bom tempo em que o desenvolvimento não significa necessariamente uma melhoria das condições de vida e da distribuição de renda da maioria da população, mas isto agora deve ser pensado em escala mundial, pois não há mais crise ou desenvolvimento isolado, porém é preciso dizer uma lição básica de economia: não se distribui o que não se tem, e ao mesmo tempo aumentar a fatia do bolo que se distribui.
Já se colocou nos posts anteriores a questão do assistencialismo, ressalva feita a regiões de vulnerabilidade e que não são poucas no planeta, no entanto é preciso produzir para que se poder distribuir e não o contrário se distribui que assim se produz, basta ver as regiões pobres do planeta onde a economia não anda.
Embora o raciocínio que uns tem mais e por isso outros tem menos tenha um fundamento de política econômica, não se pode pensar que seja possível distribuir o que não se tem, seria o mesmo que vender ilusões como fazem jogos de azar e os populismos de diversos tipos, volto a dizer, há a questão da vulnerabilidade e isto é sério.
A equação que deve ser feita, isto mostram os países com boa distribuição de renda é como colocar a economia e o que se produz nos lugares corretos, e conforme já indicamos anteriormente também não há um “manual de boas práticas” ou de “boa gestão”, é preciso gerenciar o que se tem de modo a torna-lo produtivo.
Uma parábola bíblica explica bem isto (Mt 25, 20-27), quando um patrão distribui talentos entre seus empregados dando 1 a um, 2 a outro e 5 a um terceiro, ao voltar se depara com a seguinte situação: “O empregado que havia recebido cinco talentos entregou-lhe mais cinco, dizendo: ‘Senhor, tu me entregaste cinco talentos. Aqui estão mais cinco, que lucrei’. O patrão lhe disse: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Como foste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da minha alegria!’
Chegou também o que havia recebido dois talentos, e disse: ‘Senhor, tu me entregaste dois talentos. Aqui estão mais dois que lucrei’. O patrão lhe disse: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Como foste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da minha alegria!’
Por fim, chegou àquele que havia recebido um talento, e disse: ‘Senhor, sei que és um homem severo, pois colhes onde não plantaste e ceifas onde não semeaste. Por isso, fiquei com medo e escondi o teu talento no chão. Aqui tens o que te pertence’.
O patrão lhe respondeu: ‘Servo mau e preguiçoso! Tu sabias que eu colho onde não plantei e ceifo onde não semeei? Então, “devias ter depositado meu dinheiro no banco, para que, ao voltar, eu recebesse com juros o que me pertence’”.
Parece uma lógica perversa, até mesmo financeira, mas não é, para não se enterrar talentos é preciso fazer “render” o que se tem, aplicá-lo para haver uma economia de multiplicação dos pães e de superação da miséria, é claro todos sabemos, há gente que interpreta esta parábola para o enriquecimento de alguns poucos, não é o que está dito.
Empoderamento, Autonomia e Estado
Magdalena Sepúlveda Carmona (2013) aponta claramente a relação entre emponderamento e pobreza: “A falta de poder é uma característica universal e básica da pobreza. A pobreza não é apenas uma falta de renda, mas sim caracteriza-se por um ciclo vicioso de impotência, estigmatização, discriminação, exclusão e privação material, que se reforçam mutuamente. ”
Emponderamento é algo sobre o desenvolvimento complexo chamado de “fuzzword” (Cornwall, 2007), parecido ao conceito de buzzword que surgiu em torno de novas tecnologias e campos de negócios como o e-commerce, assim como este o “fuzz” permite complexidade de múltiplas interpretações e definições, muitas vezes refletindo a uma predisposição teórica ou ideológica de seus expoentes, mas a ideia é um “fuzzie” de negócios para o mundo civil.
Ibrahim e Alkire (2007) enumeraram 32 definições diferentes, mas sobrepostas deste novo conceito,
Usaremos aqui uma definição baseada em Eyben (2011) que é aceita em muitos documentos internacionais de forças tarefas da ONU, por exemplo, onde:
“O empoderamento acontece quando indivíduos e grupos organizados podem imaginar seu mundo de forma diferente e realizar essa visão mudando as relações de poder que as mantiveram na pobreza, restringiu sua voz e privou-as de sua autonomia”.
A palavra auntomia aqui é importante, porque difere do assistencialismo que dá “esmolas” mas não empondera, pois significa capacitar populações de modo sustentável e irreversível, não basta assistir é preciso que no futuro os indíviduos e pessoas sejam autonomos, isto é e fato “boa gestão” de recursos.
Uma abordagem de capacitação é tanto um fim em si mesmo quanto um meio de erradicar a pobreza e a exclusão em seu sentido mais amplo (multidimensional), isto afirmam desde humanistas profundos até economistas que não veem de modo preconceituoso populações pobres.
As experiências efetivas de empoderamento tendem a envolver num “triângulo mágico”, nome dado em alguns relatórios, onde o ambiente da sociedade civil ativa, funcionários públicos ou líderes políticos comprometidos e mecanismos de aplicação que garantem que estas iniciativas “tenham coragem”.
Isso significa que a organização da sociedade civil no seu conjunto é um ativo e sua fraqueza ou ausência é um problema. Os governos precisam nutrir organizações independentes e ativas da sociedade civil e proteger o espaço em que podem operar.
A boa notícia é que a história parece estar firmemente do lado do empoderamento, como o alargamento e o aprofundamento globais dos direitos humanos, ainda que tenhamos retrocessos conservadores, a criação dos sistemas que superem áreas de vulnerabilidade e os programas sólidos de economias mais criativas é o futuro.
CARMONA, M. S. 2013. Report to the UN Human Rights Council of the Special Rapporteur on extreme poverty and human rights. United Nations General Assembly.
CORNWALL, A. 2007. Buzzwords and Fuzzwords: Deconstructing Development Discourse. Development in Practice, 17, 471-484.
EYBEN, R. 2011. Supporting Pathways of Women’s Empowerment: A Brief Guide for International Development Organisations. Pathways Policy Paper. Brighton: Pathways of Women’s Empowerment RPC.
IBRAHIM, S. & ALKIRE, S. 2007. Agency and Empowerment: A proposal for internationally comparable indicators. OPHI Working Paper Series.
Emponderamento civil e Estado
Hoje é dia da República no Brasil, que perspectivas podemos ter em termos de um Estado moderno ?
Um dos raros autores a tratar o empoderamento da sociedade é David John Framer que pensa a distribuição do poder governamental em favor da cidadania, não se trata de uma concessão do governante ou uma benesse que é dada a sociedade, é a força de reconhecer a incapacidade do Estado para sociedade promover soluções em ambientes de alta complexidade, que é característica da sociedade moderna.
A abertura à democratização das funções administrativas não é uma novidade absoluta do direito brasileiro, a experiência mais notória de deu a partir da Constituição de 88 com Conselhos em vários sistemas administrativos relacionado ao desenvolvimento dos serviços sociais, mas chamo a atenção a Constituição da Islândia feita por crowdsourcing e promoveu uma limpeza no país, no falimento de 2008.
Para se identificar a matriz teórica que esta iniciativas de governanças começaram a surgir, é fundamental para retificar os vícios identificados nos já quase 30 anos desta constituição, seja pelos bloqueios que se fizeram dentro destes novos modelos, do tipo “bloquear a pauta” e impedir avanços quando o determinado partido está no poder, quer por incompreensão da sociedade do modelo proposto.
Se tratam de iniciativas que devem partir da sociedade, não apenas a participação consentida ou de determinado matiz ideológico, mas o conjunto da sociedade devem sentir a governança, o deferimento ao que seja a compreensão do que é a democracia, da qual trata Bobbio (2000, p. 386) naquilo que chama de “poder em público”, a sociedade deve ser a promotora de um modo de decidir coletivo, isto que poderia ser chamada de uma abertura dentro da abertura democrática, ou amadurecimento democrático da sociedade brasileira.
Não é Estado mínimo, com menos poder, incapaz de alterar processos administrativos e judiciais que levem a sociedade a um ponto mais justo e transparente.
FRAMER, D. J. The languagem of public administration, Bureaucracy, modernity and posmodernity. USA: The Universidade of Alabama Press, 1995.
BOBBIO, Norberto. Teoria geral da política. A filosofia política e as lições dos clássicos. Trad. Daniela Beccaccia Versiana, 9ª. Imp. RJ: Elsevier, 2000.
O Significado das Culturas Computacionais
Resumo da Palestra do prof. Dr. Teixeira Coelho do IEA – USP no evento EBICC.
As máquinas estão se humanizando ou são osseres humanos que estão perdendo a humanidade e se transformando em produtos imediatistas, tão valiosos quanto excessivos e totalmente subtuíveis, dos quais o mundo está lotado?
A palestra apresentou como resultados do grupo de estudos Humanidades Computacionais do Instituto de Estudos
Avançados da USP uma lista de conceitos, a maioria com visão crítica da tecnologia, termos como: digitalização, mobilidade, automação, realidade aumentada, efeito-proxy, duplicabilidade, anonimato, perfectibilidade, racionalidade, coordenação, unificabilidade e completibilidade, entre outros, como resultado de uma e-culture (cultura eletrônica digital).
Discutiu a realidade contemporânea das culturas computacionais e digitais e sua relação com a produção cultural, mediada ou autoproduzida, em um contexto em que o trabalho de robôs substitui o trabalho manual dos humanos e caminha para substituir, por meio da inteligência artificial, o trabalho intelectual.
Em seguida Gregory Chaitin proferiu a sua palestra, já comentada no post anterior.
A complexidade mundial e o deocolonialismo
A Complexidade do pensamento chamado de “espírito colonial” feita por Karl Polanyi, Marcel Mauss e Michel Foucault, mas com traços em muitos outros autores ajuda a construir de modo mais apropriado o que é o capitalismo hoje e o que ajuda a desvendá-lo sem dogmatismo.
O que ajuda a demonstrar o que é uma produção filosófica, estética, histórica e cultural de determinado tempo, assim como o fizeram Karl Polanyi, em A Grande Transformação; como também o fez, Marcel Mauss, no Ensaio, revelam que a sociedade é composta de uma série de prestações totais envolvendo o conjunto das instituições sociais, sejam elas jurídicas, econômicas, religiosas ou estéticas (Mauss, 1999, p. 274).
Embora o estudo de estudo das obras clássicas nos leva a reconhecer a importância delas no contexto complexo já apontado, é preciso partir para uma crítica teórica, das práticas e experiências nascidas em sociedades não europeias, algumas provenientes de tradições milenares para entender a complexidade do mundo contemporâneo.
Neste particular é importante a obra de Mauss para a crítica decolonial leva a pensar a relação entre o capitalismo e a colonização nos séculos anteriores, mas com raízes ainda nos dias de hoje, tendo em conta dois aspectos do processo de colonização: de dentro para fora, tanto eurocentrismo sempre citado e no americanismo não citado, como de fora para dentro, negado e visto como “colonial” algumas vezes, mas fundamental para entender o pensamento que Mauss chamada de decolonial.
Reconhecer isto significa que parte da descrição da modernização é realizada numa perspectiva europeia, mas também há nas bordas partes deste pensamento oriundo do “centro” e que não podem ser vistos só como o das “periferias” .
O pensamento deocolonial conceituado por Mauss é então as noções tanto do centro como da periferia que podem finalmente agora, com uma visão mundial, ser desconstruído e que tem nas suas origens tanto o centro como as margens do sistema mundial, uma vez que foram os mecanismos do centro que ajudaram o mundo moderno a “colonizar a vida do Centro” e não apenas o pensamento da periferia do sistema mundial,
Parte da crítica antiutilitarista se enriquece com a crítica decolonial, na medida em que esta última também procura associar ao seu pensamento, com base sociológica, os diversos fenômenos culturais, tradicionais, religiosos, políticos, linguísticos e rituais.
Assim a crítica pós-colonial, que denuncia as relações desiguais entre centro e periferia, na verdade permitiu a expansão da crítica teórica aos campos de conhecimento e práticas situados na periferia nem sempre de fato libertadores, e quase sempre de uma auto-afirmação negativa da identidade cultural, pois podem desvalorizar os conceitos da identidade moral e estética da vida social, as quais são decisivas para o pensamento simbólico em muitos povos.
MAUSS, M. Sociologie et anthropologie. Paris: PUF, 1999 (1924).
Além da sociedade disciplinar e do controle
A análise da Sociedade do Cansaço de Chyul Han aponta a mudança “de paradigma da sociedade disciplinar para a sociedade do desempenho aponta para a continuidade de um nível. Já habita, naturalmente (eu poria entre aspas), o inconsciente social, o desejo de maximizar a produção.” (HAN, 2015, p. 25).
Entenda-se a sociedade disciplinar como sociedade da negatividade, que é não-ter-o-direito, “A sociedade do desempenho vai se desvinculando cada vez mais da negatividade. Justamente a desregulamentação crescente vai abolindo-a”.. no estilo do “plural coletivo da afirmação Yes, we can expressa precisamente o caráter de positividade da sociedade do desempenho.” (HAN, 2015, p. 24)
O conceito de Foucault (e outros como Deleuze), da “sociedade do controle”, explica o autor, não dá mais conta de explicar esta mudança, muito menos o uso de tecnologias digitais, pois este fato é muito anterior a elas, o que se dá agora é o uso na “vida activa” com as tecnologias.
Enquanto a sociedade disciplinar do não tinha esta sua negatividade “gera loucos e delinquentes”, a sociedade do desempenho produz “depressivos e fracassados” (pag. 25)
O computador aceita o desafio do desempenho e faz cálculos “de maneira mais rápida que o cérebro humano, e sem repulsa acolhe uma imensidão de dados, porque está livre de toda e qualquer alteridade.” (HAN, 2015, p. 56)
É data nacional, para não inventar uma narrativa, cito os três últimos fatos gravados no país e faço perguntas.
Foram encontradas malas com dinheiro no valor de R$ 51 milhões, num apartamento na Bahia, que já ficou provado que era de uso do ex-ministro Geddel Vieira Lima, primeira pergunta: Este dinheiro era só dele?, a segunda notícia são gravações de Joesley Batista que se apressa em dizer na gravação: Vamos fazer tudo, mas nós não vai ser preso”, e sobre o padrinho de suas delações e do acordo que dava exílio ao Joesley diz: “O Janot sabe de tudo … a turma já falou pro Janot”, pergunta: Qual turma?
Um terceiro episódio, sim é uma série que pelo visto será bem longa, é relativo ao empresário do Rio de Janeiro chamado Arthur Soares, apelidado de Rei Arthur pelos contratos milionários com o governador Sérgio Cabral agora preso, ele tinha uma conta chamada Matlock no Caribe que foi onde a França começou no início do ano a investigar, porém esta compra teria envolvido o Comitê Olímpico, será que o governo e o Ministério dos Esportes não sabiam de nada ? São só perguntas. Há ainda o caso do Palocci, será que disse tudo pressionado pelos juízes ?
Não foram máquinas que fizeram tudo isto, mesmo o gravador do Joesley era de péssima qualidade, ou agora pensamos talvez apagasse trechos importantes por encobrir alguém.
HAN, B.C. A Sociedade do cansaço. Petrópolis: Vozes, 2015.