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A verdadeira alegria
A palavra utilizada para “alegria”, no original grego, é χαρά (chara), que está relacionada com as palavras χάρις (charis), que é normalmente traduzida por “graça”, e χάρισμα (charisma), que significa tanto um presente de graça, sem custo, quanto proveniente da graça.
Assim há algo da “graça” na alegria que a diferencia da felicidade, devido a distância na compreensão deste termo com um aspecto pouco natural e objetivo, há os que preferem a felicidade como algo mais “sólido” em tempos de reducionismo líquido consagrado por um certo tipo de pensamento e que entrou até em ambientes religiosos e assim procurá-la e o que é objetivo, sólido e que é proveniente do idealismo e do pensamento eurocêntrico.
A alegria, a paz e verdadeira ascese só se encontra nos corações que encontraram a verdadeira e divina sabedoria.
O apelo aos bens terrenos, as conquistas humanas e a todo tipo de felicidade passageira, cada vez mais frequente na narrativa idealista nada tem a ver com alegria, e se há felicidade ela é passageira e terá um custo.
O Natal e as festas de final de ano podem fazer parte desta felicidade passageira ou dar espaço nos corações e almas que já encontraram a alegria perene e eterna: o divino em meio ao humano.
Humildade e poder
Crescem as polarizações e as afirmações de poder, isto não leva a simetria, ao respeito e vai na direção oposta da humildade, não aquela piegas de textos próprios do poder, mas a daquela sabedoria de quem sabe o que é e de onde vem, do pó ou de húmus, de ondem vem a palavra.
Humus é a palavra grega que significa terra e que atualizada no português tornou-se terra fértil, deste mesmo vocábulo se originam às palavras “homem” e “humanidade”, e se pode ser oposto a uma ideia de poder, por outro lado não é oposta a ideia de fortaleza e sabedoria.
Para Hannah Arendt o poder é inerente a qualquer comunidade política, porém verdadeiros líderes resultam da capacidade humana para agir conjuntamente, sob o consenso de todos, e Byung Chul Han, que é um leitor de Hannah Arendt, estabelece que só a simetria onde o respeito existe, que é o alicerce da esfera pública, e onde ele desaparece, ela desmorona, escreve no seu livro “O enxame” que examina a cultura nas novas mídias sociais.
Fundamentado nestas receitas de poder exercito a favor e com a esfera pública, é possível pensar numa relação de poder com humildade, um verdadeiro empoderamento não é o exercício da força ou até mesmo da violência, mas sua supressão e o restabelecimento do equilíbrio, do diálogo e se possível, do consenso, verdadeiros líderes buscam isto.
Sim é contrário a tudo que estamos vendo e assistindo na esfera pública, a imposição de pessoas, estruturas e formas de oprimir uma parcela da população em resposta a outra que alega ser dona dos verdadeiros privilégios em função da violência sofrida, porém, isto é, um circulo vicioso onde a violência se justifica e se perpetua.
Não por acaso crescem as guerras com armas ou sem elas, porém considerar que é possível por este meio submeter o grupo oposto é um delírio, uma vez que aquele que é submetido a algum tipo de privação, sem a humildade que resulta da sabedoria e da fortaleza, responderá na mesma moeda e o princípio de toda guerra é exatamente isto.
Falamos no post anterior do matris in grêmio, gerador de divina sabedoria e fortaleza, no texto bíblico diz que o poderoso olhou para “a humildade de sua serva”, mas até mesmo líderes e correntes religiosas compreender este “poder” como aquele mundano que oprime o Outro, é daí a origem de tantas apostasias e más doutrinas, não por acaso acabam em abuso de poder.
O anjo que anuncia a divindade da concepção de Maria (o nome Conceição vem daí), é Gabriel que significa fortaleza de Deus, numa sociedade que predomina o poder prepotente, arrogante e que se transforma em ditatorial é compreensível que o poder de uma virgem frágil e dócil a vontade divina seja incompreensível, nada mais contrário ao falso “poder” opressor.
Entre a imortalidade e a eternidade
Não é apenas um tema espiritual como parece, o Vita Activa de Hannah Arendt cita por Byung-Chul é uma correção de rota, de nos retirar da simples temporalidade mortal, para o “tempo que é próprio aos deuses, que não morrem e não envelhecem, e do cosmos imortal” (Han, 2023, p. 145), onde diferencia imortalidade de eternidade.
A busca da imortalidade é, novamente Han citando Arendt, “a fonte e o centro da vita activa”. Segundo o autor, o “ser humano conquista sua imortalidade no palco do político. Em contrapartida, o objetivo da vita contemplativa não é, segundo Arendt, o persistir e durar no tempo, mas a experiência do eterno, que transcende tanto o tempo como também o mundo circundante” (Han, 2023, p. 145), em outras palavras, imortalidade é a busca insensata do palco político, enquanto eternidade é a busca da experiência de eternidade já aqui e agora.
Mas alerta o autor que o ser humano não consegue demorar-se na experiência do eterno, “ele precisa retornar ao seu mundo circundante” (idem), ao compará-la com o pensador, ele logo que começa a escrever abandona a experiência do eterno, assim se entrega a vida activa, e é nela que espera alcançar a imortalidade, Arendt admira Sócrates que não escreve, embora a própria Arendt pensou e registrou seus pensamentos com a intenção da imortalidade (Han, 2023, p. 146), mas a escrita pode ser uma contemplação diz o autor.
Na visão de Byung-Chul a maneira que Arendt vê o mito da caverna de Platão, na verdade é uma história completamente diferente, ela é de um filósofo que liberta da corrente os seus companheiros às sombras que oscilam diante deles, as quais eles consideram a única realidade (pag. 147-8), Platão pede a Glauco imaginar: o que aconteceria com os filósofos se depois de ter visto a verdade voltasse a ela e tentasse libertar os preços das ilusões? (pag. 148).
A “parrehesia” (abertura da verdade) é uma situação de risco, “o filósofo age, quando apesar do perigo de morte, retorna a caverna” a fim de convencê-los da verdade, assim a ação antecede o conhecimento da verdade, enquanto a contemplação é o caminho do conhecimento para a verdade, que precede a ação (pag. 149).
Afinal a própria polis grega e o pensamento de Platão tiveram origem nos diálogos de Sócrates escritos pelo próprio Platão, este sim uma verdade contemplativa e discursiva (diria dialogal, mas o termo pode ter interpretações dúbias), assim a ação precede o pensamento em Platão.
Segundo a crítica de Hans, a ideia de que a perda da capacidade contemplativa levou a vitória do “animal laborans” que submete tudo ao trabalho com a consequente perda da capacidade contemplativa e sua reintegração a natureza e ao planeta.
Han cita Santo Gregório, um mestre da Vita Contemplativa: “quando um bom programa de vida exige que se passe da vida ativa à contemplativa, é frequentemente útil que a alma retorne da vida contemplativa à ativa, de tal modo que a chama da contemplação desperta no coração entregue toda sua plenitude de atividade” (pag. 151), assim se vive a eternidade terrena.
HAN, Byung-Chul. Vita Contemplativa. Trad. Lucas Machado, Brasil, RJ: Petropolis, 2023.
Palestina, General de Inverno e Essequibo
A trégua infelizmente acabou porque o Hamas cometeu um atentando no último dia de trégua, matando um rabino e duas mulheres, segundo a imprensa israelense, e a milícia Al-Qassan, braço armado do Hamas, reivindicou o atentado.
Segundo o FDI (Forças de Defesa de Israel) 200 alvos do Hamas já foram atingidos, um deles um suntuoso prédio que funcionava a Suprema Corte do Hamas, a escala da guerra retorna.
General de Inverno é o nome dado ao inverno russo durante as guerras porque tanto na invasão napoleônica (1812) quando o exército de um conjunto de alianças (é importante lembrar que algumas nações europeias apoiavam) perde a guerra devido o inverno, também na segunda guerra mundial o inverno foi decisivo para a Alemanha perder a guerra.
O que pensar agora do inverno na Ucrânia, onde a Rússia teve avanços em vários fronts, no entanto ela tem problemas na Criméia onde há grande parte da munição russa, o inverno lá prolonga até março e a Ucrânia dá sinais de fraquezas e perde parte dos apoios, agora países como a Finlândia e a Polônia já se mobilizam em defesa própria sobre uma possível invasão.
Por último, um front pode aparecer na fronteira do Brasil, o exército já enviou tropas para a região devido a possibilidade de invasão do território brasileiro que seria estratégico para uma invasão da Venezuela contra a frágil força militar da Guyana (antiga Guiana Inglesa).
Um referendo feito na Venezuela nestes dias, é bom lembrar que Maduro controla todo o aparato do Estado, deu parecer favorável a 5 questões sobre uma possível invasão da Guiana de Essequibo como é chamada a região que hoje pertence a Guyana, uma das questões desafia o Corte Internacional de Justiça que proibia a Venezuela de qualquer invasão.
Enfim um cenário desastroso de crise civilizatória vai se agravando, mas acreditamos na paz.
Guerra intensa e reféns libertados
A Rússia afirmou neste domingo (26/11) que derrubou drones nas quatro regiões em guerra, incluindo alguns próximos a Moscou e também dois mísseis foram interceptados, já a ucrânia afirma ter eliminado mais de mil soldados e 30 tanques russos nas regiões de guerra.
No sábado havia um forte ataque de drones contra Kiev, segundo Moscou o maior desde 2022.
As tratativas de guerra continuam, porém as sanções impostas pela Moldávia criou uma nova zona de conflito entre Moscou e o Ocidente, a Moldávia teme ser o próximo alvo da Rússia.
O mais grave do conflito Israel e Hamas é o uso de civis como reféns (foto).
Na faixa de Gaza segue a trégua entre o Hamas e Israel, a troca de reféns por soldados do Hamas continua, ontem foi o terceiro dia, no total o |Hamas libertou 58 reféns enquanto Israel libertou 117 palestinos, por ordem estes foram os números de reféns solto.
Primeiro dia de trégua 24 reféns, segundo dia (sábado) 17 reféns e terceiro dia (domingo) 17 reféns, embora o acordo seja apenas de 4 dias, e se encerraria hoje, a expectativa é que possa progredir até 4ª. feira.
O papa Francisco sempre otimista, falou em sua última referência a guerra que a humanidade (claro os que tomam as decisões políticas) optaram pela guerra em vez da paz.
Os conflitos já são uma grande tragédia humanitária e poderão se tornar uma grave crise tanto humanitária quanto civilizatória.
O exame de consciência final
Podemos estar (ilusoriamente) construindo a felicidade (boa-vida na filosofia) pessoal sem se importar com o Outro, a sociedade vive hoje a negação do Outro e da dor, porém este é o caminho para as disputas, as rivalidades e em último estágio as guerras.
O mundo contemporâneo vive com a descrença, a falta de consciência individual e coletiva, o que importa é resolver o próprio problema, não faltam literatura para isto ou para o sucesso fácil ou para o consolo individual com os livros de autoajuda, não escapam as receitas tidas como “espirituais”, mas na sociedade de exercícios, trata-se de uma ascese desespiritualizada.
Como tratamos a dor significa como vemos a pobreza, o descaso com a saúde (nem os planos médicos resolvem mais), a falta de saneamento básico, os abusos púbicos da imoralidade, isso sem falar dos sistemas prisionais, a destruição das drogas e as diversas marginalizações sociais.
O exame de consciência, como diz a boa literatura é aquela consciência de algo, não a do conforto dos condomínios fechados, do isolamento social em refúgios, mas aquela consciência de si e do Outro, que outra para o conjunto social e suas enfermidades, não esquecendo as morais, a qual parece que se perdeu todas as referenciais.
Não falta literatura e pensamento sobre estas questões, mas a pergunta final é como se reverte estas questões, como evitamos o ódio crescente, as polarizações fanáticas e no final de tudo as tendências de guerras cada vez mais cruéis e envolvendo diversos povos?
O exame de consciência é este sim de que lado estamos, não da irracionalidade pública e até mesmo política, mas ao lado dos que sofrem, daqueles que perderam as esperanças, daqueles que por determinado motivo justificável ou não, olham para a vida como um fardo.
O Exame de Consciência final é aquele, que também é bíblico (Mt 25,34-35): “ ‘Vinde, benditos de meu Pai! Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! Pois eu estava com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; 36 eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar’ “.
Portanto se trata de fazer este exame de consciência pessoal e socialmente, de que lado se está?
Contemplar e o Ser
Byung-Chul Han em seu ensaio sobre a contemplação, dá uma sentença cruel ao saber ocidental eurocêntrico: “o saber não consegue retratar inteiramente a vida. A vida inteiramente consciente é uma vida morta” (Han, 2023, p. 29) e se apoia em nada mais que Nietzsche no âmbito de um “novo esclarecimento”, aquele que para Heidegger abre uma clareira do Ser, embora em uma perspectiva diferente.
Citando Nietzsche escreve Han: “não é o bastante que compreendas em que tipo de ignorância seres humanos e animais vivem; precisas também ter vontade de não saber e aprendê-la. É-te necessário compreender que em esse tipo de ignorância a vida mesma seria impossível, sob a qual o vivente se conserva e floresce: um grande e sólido sino de ignorância deve estar ao seu redor” (citando Nietzsche, pag. 29-30).
Esclarece que o objetivo último de um “mestre” é “alcançar um estado no qual a vontade se resigna. O mestre se exercita de modo a eliminar a vontade.” (pag. 31)
Afirma na página seguinte cita uma parábola feita por Walter Benjamin “Não esqueça o melhor” no qual ele esboça a ideia de uma vida feliz, trata de um homem de negócios que sempre realizou sua vida com precisão e zelo, porém em certo momento joga seu relógio fora.
Então começa a chegar tarde e as coisas começam a se realizar sem sua intervenção, e o alegram, revela-se agora um “caminho para o céu”, as coisas acontecem agora quando menos esperava, “amigos o visitam quando menos eles pensavam nele” e lembra da lenda de um rapazinho pastor que é permitido em “um domingo” entrar na montanha com seus tesouros, com uma instrução enigmática: “não te esqueças do melhor” (pag. 33).
A parábola da inatividade de Benjamin termina com estas palavras: “Nessa época ele estava bastante bem. Concluía poucas coisas começadas, e não dava nada por concluído” (pag. 33).
A época da hiperinformação, do cansaço não é um tempo de busca da verdade do ser, daquilo que realmente somos cultural, social e espiritualmente; é um tempo da busca do nada, em tempos assim, surgiram profetas, oráculos, monges e sábios que fugiam deste vazio temporal, para se encontrarem numa totalidade infinita, aquela que contempla todo o ser.
Escreveu Byung-Chul Han: “quem é realmente inativo não se afirma. Ele descarta seu nome e se torna ninguém”, não é niilismo, é um reencontro com a verdade que todos procuram nas coisas e não as encontram se não olharem para si, para o seu vazio interior e sua inatividade.
Haverá um tempo em que todos estarão procurando a verdade, dirão está aqui ou ali e não mais a encontrarão, não será um fim, mas sim um “novo esclarecimento”.
HAN, Byung-Chul. Vita Contemplativa ou sobre a inatividade. Trad. Lucas Machado. Petrópolis: Vozes, 2023.
In-formar, vincular e o simbólico
O que faltou no texto da Crise da Narração, também tem algo equivocado na “Infocracia: digitalização e a crise da democracia na filosofia” (Vozes, 2022), a ideia que a informação é em si incompleta, está presente em outro livro intitulado de Byung-Chul Han “Vita Contemplativa” (Vozes, 2023), porque ali retornando ao ser pode- se encontrar como a forma se torna narração no interior do ser, e se in-forma.
Diz um trecho deste livro: “A perda do sentimento compartilhado acentua a falta do ser. A comunidade é uma totalidade mediada simbolicamente. O vazio simbólico narrativo leva à fragmentação e à erosão da sociedade.” (HAN, 2023, p. 91-92). (grifo nosso)
Assim reconhecendo esse aspecto da necessidade do ser enquanto um vazio simbólico, que a narrativa contemporânea em geral não contempla por seus vícios informacionais, ao mesmo tempo afirma o autor: “O ser humano, como symbolon, anseia por uma totalidade sagrada e restauradora” (pag. 92).
O termo symbolon aparece em destaque porque o autor usa-o a partir de uma leitura de O Banquete de Platão, onde Aristófanes lembra que este pedaço partido do ser, que para ele inicialmente era esférico e foi partido, tem este pedaço partido com um “symbolon”.
Ora se símbolo é uma parte, unido a outra parte formamos uma totalidade, não apenas numa comunidade, mas em toda “totalidade sagrada e restauradora”, ali onde há homens unidos por uma causa boa e justa.
A narrativa e a informação neste contexto, onde a parte está unida, com dizia um princípio importante defendido por Edgar Morin: “É preciso substituir um pensamento que isola e separa por um pensamento que une e distingue”, assim união de “símbolos” distintos e que fazem parte das culturas e povos contemporâneos.
Assim o in-formar ontológico (próprio do ser) ligado ao contexto da narração em seu tempo e objeto de pensamentos dentro de uma diversidade, não são razão para fragmentação e sim para um universo que nos une e faz mais “inteiros” dentro de nossas comunidades.
A hiperatividade contemporânea, que não só, mas também o mundo digital pode nos levar é ela própria um mundo que rejeita a interiorização, a meditação e assim, a própria narração.
Escreve o autor sobre esta interioridade: “A vida activa, com seu pathos da ação, bloqueia o acesso a religião” (pag. 154), a ação faz parte da vida religiosa tanto quanto da vida leiga, o que diferencia é que além da prudência, nossas reflexões da semana passada, podem levar a uma ação diferencia, justa e que leva a uma felicidade e plenitude diferente da pura “ação”.
Pathos, esclarecendo, faz parte da tríade grega “ethos, pathos e logos”, enquanto o ethos nos persuade pelo caráter, ou por quem narra, se este é digno de fé, o logos nos persuade pela razão lógica (ampla) e o pathos pelos sentimentos causados de tristeza ou alegria, amor ou ódio, e assim muitas vezes sem passar pela razão e pela ética.
HAN, Byung-Chul. Vita Contemplativa ou sobre a inatividade. Trad. Lucas Machado. Petrópolis: Vozes, 2023.
Recortes iniciais da crise da narração
Boa parte da crítica ao excesso de informação de Byung Chul Han é situada no desenvolvimento do universo digital, este ensaio recente que vê a informação como fragmentada e oposta a narração, é visto tanto na histórica como naquilo que pode ser chamado de “crise da narrativa”, lê-se no texto.
Diferentemente de outras críticas à informação, situadas no período da informação digital, Byung-Chul Han busca na história o início da crise da narrativa (traduzida como narração):
Segue na mesma página, falando da perda de aspectos históricos:
Ela cede lugar a informação, deve-se esclarecer aqui que este conceito é para ele aquela atual sem contexto e fragmentária:
Assim para a ensaísta coreano-alemão “A arte de narrar está definhando porque a sabedoria – o lado épico da verdade – está em extinção”, e isto se inicia com o jornalismo contemporâneo e não com a informação digital.
HAN, Byung-Chul, A crise da narração, Vozes, 2023.
As guerras e as narrativas
O livro recém lançado, em português, “A crise da narração” (ed. Vozes), de Byung Chul Han, mais que uma discussão da crise da estética literária com Walter Benjamin e filosófica com Hegel, que são contornos do livro, o autor se depara com a república de Weimar e seus aspectos políticos.
Oficialmente conhecida como Reich Alemão, está datada do período de 9 de novembro de 1918 a 23 de março de 1933, uma república federal constitucional na Alemanha, porém que teve aspectos nacionalistas e bélicos que levaram a Alemanha a duas guerras.
O livro de Chul Han é oportuno devido ao clima bélico que aos poucos se instaura e com diferentes narrativas e interpretações que levam a uma escalada bélica, falando de paz, as mesmas forças que reforçam os orçamentos bélicos, pedem imediatos cessar-fogo.
É evidente para um bom leitor, que fica subentendido em cada discurso uma narrativa que tente justificar a guerra e a morte de inocentes, quer seja em Gaza, quer seja na Ucrânia.
As narrativas disfarçam suas comemorações bélicas, ao mesmo tempo que justificam os genocídios e os mais horrorosos crimes de guerra, ao serem indagados respondem com o cinismo: “é a guerra”, e assim se acham justificados.
O mais provável é que tudo isso estava preparado em meio a pandemia, um momento oportuno para aqueles que imaginam que medir forças criará “um mundo novo” e que a pax virá como no império romano, pela submissão ou escravidão de um povo.
Os detalhes da guerra são, para os oportunistas, detalhes que podem ser revistos articulando esta ou aquela narrativa, a morte de civis inocentes, a destruição de meios básicos de subsistência (água, energia e alimentos) deve ser condenada sempre e não deve ser admitida.
São importantes corredores humanitários (foto), mas eles não devem entrar só em Gaza, devem entrar onde há guerra e nos discursos na ONU.
É preciso defender a paz onde quer que haja guerra, assim a narrativa poderá ser verdadeira.