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O bem e o poder
O bem é aquele que é um bem comum, é praticamente inconciliável com o poder temporal, aquele que submete o outro pela força, seja de que forma esta submissão, praticas coletivas de impor valores, modos sutis de fazer exclusão e principalmente o exercício da força bruta.
Vale uma definição de Max Weber: “como cada chance de impor, dentro de uma relação social, a vontade própria mesmo contra relutância, não importando em que essa chance se baseia” (Weber, 1922) está no primeiro capítulo do livro “Economia e Sociedade” cuja edição alemã é de 1922, outra definição interessante é a de Hanna Arendt: “Conceitualmente falando, isso significa: o Poder é, de fato, essencial a todos os estados, inclusive a todos os tipos de grupos organizados, ao passo que a violência não o é” no seu livro de 1960 que é sobre a “Vita Activa”, mas que na tradução para a língua portuguesa e inglesa tornou-se “A condição humana”.
Se é possível que o bem comum se estabeleça, aceitando a condição de Hanna Arendt, não será pela violência, e sim pelo poder não-violento, e um breve olhar pela história pode-se observar as consequências da violência como forma de poder, quase sempre novas formas de exclusão e de submissão de alguma parcelas da população, como a unanimidade é impossível, é preciso conviver com a diferença, eis a formula que precede a qualquer bem digno do nome e sustentável.
O ressurgimento do nacionalismo, da polarização ideológica, e principalmente o retorno a formas de violência que pareciam aos poucos banidas da sociedade, mostram a crise do humanismo, que não se iniciou hoje, mas no início do século passado e tendo como testemunha duas guerras.
Imaginar que algum bem comum possa se estabelecer pela força é portanto contraditório com o que legitima alguma forma de poder razoável e capaz de influenciar a parcela consciente da sociedade, toda outra forma é destrutiva e dificilmente poderá se sustentar, mas os limites da força são hoje assustadores: as possibilidades nucleares e o uso de máquina “inteligentes”.
Apostar no confronto e no conflito mostrou-se no passado de duas guerras e de várias guerras coloniais desastroso e insustentável, e num futuro mais próximo aquele que levou ao poder os líderes mais violentos e truculentos.
Em tempos de pandemia, e já com um futuro visível de uma vacina, poder-se-ia pensar um total desarmamento e quem sabe com os bilhões gastos em guerras teríamos fundos para reativar as economias e os perigos de um futuro sombrio poderiam ser afastados.
As lições sobre a não-violência e a solidariedade ainda não forma aprendidas, nem na luta comum contra a pandemia, embora sempre permaneça uma esperança por alertas tão claros e definitivos.
O mal e a crise do humanismo
O idealismo continua a defender seu ideário de Estado, de Ética (moral e virtudes são outras coisas, por exemplo, acabar com as corrupções), agora defender as nações, um Estado mais forte (esquerda e direita no fundo desejam isto) e por isto pode-se falar do zoon politikon, o animal político de Aristóteles, é preciso então entender o que é o animal político.
Há duas condições que pode não tornar-se político: ser degredado (diríamos hoje excluído) ou ser sobre-humano (ou divino, assim de ordem superior as leis e regras humanas).
Esta é a primeira premissa para entender “Regras para o Parque Humano – uma resposta à Carta de Heidegger sobre o Humanismo”, não se trata por tanto de ver o homem como “bicho” do zoológico, mas como animal “natural” porém que seu humanismo encontra-se em cheque.
A polêmica que seguiu-se a sua palestra no castelo de Elmau, na Baviera, significava que a tentativa (desde as escolas de Platão e Aristóteles) de programar a história e o humanismo por meio de uma engenharia social faliu, outro tema importante é a questão da “domesticação”.
A domesticação também não é nova, o filósofo recebeu de uma influência direta de Nietzsche, e Foucault também tratou o tema, sua proposta na Conferência que depois virou livro, era a de inverter a prioridade de Heidegger da dimensão ontológica sobre a ôntica (Sloterdijk, 1999,).
A polêmica causa é porque o filósofo se perguntou se não passaríamos da fatalidade “do nascimento ao nascimento escolhido e seleção pré-natal” (Sloterdijk, 2000) que foi o ponto principal da polêmica tentando mostrar isto as ideias nazistas e fascistas do período da guerra.
As questões de manipulação genética, que na Alemanha sofreram restrições rigorosas até 2002 e a liderança da Escola de Frankfurt por Haberrmas foram o pano de fundo desta polêmica, porém o fundamental que é o humanismo de Heidegger e Levinas, tema da conferência de Elmau é um aspecto principal, esquecido por muitos comentaristas, pois o humanismo está mesmo em crise.
Quanto a resposta de Sloterdijk, ele próprio retorna ao tema de em Esferas I de forma diferente ao falar de manifestação aórgica, o inorgânico sobre o orgânico, afinal o homem veio da Terra até mesmo pela metáfora bíblica, assim do inorgânico barro Deus “soprou” as narinas e introduziu o espírito, gostem ou não, o tema é metafísico e não religioso, e se algo aórgico acontecer.
Hora não será a primeira vez na história, o homem veio depois dos céus, da terra e das águas, novamente também nas diversas cosmogonias (mesmo não cristãs) e também a própria terra já teve outras manifestações, como a que eliminou os dinossauros, porque uma nova não pode ocorrer, e ela nos ajudar a enfrentar a crise de época (ou civilizatória) que enfrentamos.
O tempo é diferente do nosso, o cometa volta depois de 6.800 anos a nos visitar, nem registro dele tínhamos, e quando voltar depois de outros 6.800 anos o que encontra, só Deus sabe, afinal neowise significa “agora”.
SLOTERDIJK, P. Regras para o Parque Humano – resposta a Carta sobre o Humanismo de Heidegger, São Paulo: Estação Liberdade, 2000.
O mal civilizatório, além do simbólico
Já comentamos em um post o “Mal simbólico”, obra de Paul Ricoeur que deve ser lida em conjunto com “O mal: um desafio à filosofia e a teologia e“, o mal simbólico existe e pode se tornar estrutural, porém numa boa leitura da filosofia significa tornar-se um vício pessoal ou social, assim como a virtude também.
O filósofo Aristóteles diz que a virtude se adquire pelo hábito, se pratica de novo e de novo, até que ela torna-se atitude natural ou social se muitas pessoas a praticam, quando os valores sociais e humanos se confundem o mal se difunde, e assim uma sociedade ou civilização entra em ruina.
Voltar as virtudes é voltar as nossas raízes como seres humanos, por isto não se trata de maniqueísmo, uma luta perene entre bem e mal, porém se o mal simbólico se instala é preciso que retornemos a nossa raiz mais profunda como seres humanos, o fato que quase toda a filosofia contemporânea reconhece um mal estar civilizatório, na psicologia Freud (Freud, 1969) e de Jung (JUNG, 1988), até contemporâneos como Sloterdijk e Byung Chull Han, quase todos também nesta pandemia alertam para atitudes numa crise civilizatória.
Numa leitura rápida de Freud, com a possibilidade de ser um tanto superficial, o mal estar da civilização está igualado ao da cultura, afirma o autor que existe uma dicotomia entre os impulsos pulsionais e a civilização, ou seja, os indivíduos e a sociedade, assim o bem da civilização o indivíduo manifesta em pulsões e vive um mal-estar.
Já Jung aponta para a massificação do homem ocidental, esmagado pelo Estado, e sobre a defesa que cada um tem buscando através da própria personalidade ou da atitude religiosa.
A obra de Morin desde a década de 70 está toda vinculada a ideia de um novo humanismo, e este texto específico sobre o assunto, ele aprofunda o que considera uma ética necessária a este retorno ao humanismo, sua obra essencialmente aponta para os fundamentos perdidos, a instituição do método complexo e uma visão de uma cidadania planetária, nesta texto sobre a responsabilidade pessoal de cada um.
O que Morin, Freud e Jung apontam é a responsabilidade pessoal não pode e não deve depositar nas estruturas sociais, sejam boas ou más, as responsabilidades de cada um.
FREUD, S. O mal-Estar na civilização (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Vol. 21). Rio de Janeiro: Imago, 1996.
JUNG, C.G. Presente e futuro. Petrópolis, Vozes, 1988 (tradução Márcia Cavalcanti).
MORIN, E. “A ética do sujeito responsável”. In: Ética, solidariedade e complexidade. São Paulo, Palas Athena, 1998.
A pandemia mudou a consciência humanitária ?
Em seu livro Ciência com consciência, Edgar Morin lançou a pergunta: “A aventura científica nos conduz à catástrofe ou a um mundo melhor?”, substituímos saberes espirituais e populares e, entretanto, não conseguimos evitar guerra, combatemos uma pandemia, mas e nossa relação humanitária irá melhorar? Quis acreditar que sim, mas parece que não.
Chegamos no Brasil ao prolongamento do Platô, que anunciamos desde o início de maio (post), mas só agora as grandes mídias e as organizações mundiais a reconhecem, e não deve cair até que o platô se estenda por todo território nacional, o que já está acontecendo, vai até o final de julho.
Muitas reflexões surgiram sobre melhorar as relações em família, e muitas melhoraram, diminuir o ritmo acelerado da vida moderna, até diminuiu, mas poucas pessoas parecem dispostas a um novo estilo de vida, a um “novo normal”, a maioria quer voltar a vida anterior: festas, consumo e vícios.
É claro a pandemia apenas acelerou o que já estava em curso, famílias com dificuldades, com a forçada convivência diária pioraram, mas aquelas que não encontravam tempo, agora tem tempo, ajudar as tarefas diárias, mudar a lógica dos relacionamentos polarizados e encontrar o Outro.
Fizemos várias postagens na semana que passou sobre o bem, indicando que sua fragilidade (a filósofa Martha Nussbaum escreveu um livro sobre isto no pensamento na filosofia clássica), mas a fragilidade do bem é diferente da frivolidade, não é nem fútil nem superficial.
Tanto ainda é possível mudar a tendência da pandemia por uma maior consciência e cuidados com a pandemia, como também é possível (antes que seja tarde) a consciência dos problemas sociais e que são de fundo humanitários, respeito aos direitos, a diversidade de opiniões, raças e credos, etc.
Imaginamos que poderia ser mais curto o ciclo da pandemia, e também que o vírus se atenuaria ou outras falsas visões sobre uma pandemia, antes mesmo há quem acredite que ela não exista, no entanto o problema humanitário de fundo é o mais grave e para ele a consciência deve atentar.
Vale a máxima da fenomenologia não existe consciência num sentido abstrato, embora o “mal simbólico” possa criar bolhas nas quais alguns grupos sobrevivem, este é o perigo de uma consciência abstrata não fenomênica, a consciência a pandemia pode nos ajudar a melhorar a nossa percepção e sensibilidade do problema humanitário, que já é epocal (transição de épocas) e poderá tornar-se civilizatório, como riscos de uma desumanização ainda mais grave.
É possível uma mudança que comece a partir de cada atitude, de cada ação pessoal sobre os grandes problemas e cada um deles exige uma consciência fenomenológica, isto é, a dirigindo a interação a aquele problema com seus contornos, limitações e fragilidades.
Podemos inverter a curva humanitária, mas o tempo urge e a pandemia o acelerou.
A luta do bem contra o mal, fragilidades do bem
O mal em Agostinho de Hipona no livro VII das Confissões, é ausência de bem, assim como todo o universo é ordenado, ainda que agora descobrimos um universo com energia e massa escura, buracos negros, seminovas e galáxias sumindo e aparecendo, e muitas leis novas na astrofísica, ainda assim, há uma hierarquia, onde algumas coisas sobressaem as outras, e é para isto que Agostinho chamou a atenção, e já havia em Agostinho a questão do livre-arbítrio.
Mas uma lição dura mesmo para religiosos como Agostinho, que abandonou a filosofia de maniqueu, é a luta do bem contra o mal, e isto ainda domina parte do dualismo filosófico, onde ser inferior não é ser do mal, há coisas boas inferiores e coisas más superiores, assim o importante é a perda de sentido do que é bom ou mal, aquilo que Hanna Arendt chamou de “A banalidade do mal” (Companhia das Letras, 1999), assim alguém pode fazer algo “inferior” sem ser “mal”.
Assim há dicotomia entre a “luta” pelo bem e a “guerra”, trabalhar e lutar pela vida, ou eliminar o adversário.
Aqueles que querem dar a vida o puro deleite, ou que afirmam que há sentido numa vida bem vivida é o de sermos “produtivos” e “ativos”, inspirados no mitos como um QI superior ou herança fortuita (fortuna no sentido grego é diferente, é destino), mesmo que isto seja feito por meios opressores, indo até o argumento racial, que é o mais repugnante de todos, mas de onde vem estes mitos da “guerra”, do “vencedor” que se confunde com o opressor?
Um dos grandes mitos que surgem desde a antiguidade é Ulisses de Odisséia e Ilíada (cantos VIII da Odisseia e IX de Ilíada), que significam um símbolo da capacidade do homem de superar as adversidades, embora exista o personagem Odisseu (o nome em grego de Ulisses), seria nascido em Ítaca, filho do rei Laerte, que reinou em Anticléia.
Embora Ulisses de James Joyce escrito de 1914 a 1921, fala de um personagem Leopold Blum, considerado pelo autor um homem moderno que é ao mesmo tempo forte e fraco, cauteloso e precipitado, herói e covarde, numa tentativa de criar um ser humano representante da humanidade, no entanto, é na verdade o herói solitário moderno, um dom Quixote requintado.
A contextualização do herói épico grego e o “herói” moderno são, entretanto, diferentes, assim para ler Ulisses de Joyce é necessário quase um roteiro, que inclusive foram feitos alguns.
Foi o psicólogo Carl Jung que chamou a atenção para o aspecto de “monólogo” do Ulisses de Joyce, embora pareça um homem “comum”, é um homem só e sua “luta”, alertou Jung: “O que é tão assustador em Ulisses é o fato de, atrás de mil véus, nada ficar escondido; de não estar virado nem para a mente nem para o mundo, mas, tão frio quanto a lua vista do espaço cósmico, permite que o drama do crescimento, do ser e da decadência siga o seu curso”, eis um mito moderno.
Os heróis que apareceram na pandemia, não são heróis de “guerra” nem mitos imortais, eles próprios não estão imunes da pandemia e convivem com o medo, e até o isolamento familiar, o que deveriam pensar é a vida que vale a pena ser vivida por todos, pelo planeta e pela saúde.
JUNG, Carl Gustav. Ulysses: A Monologue, UK: Haskel House, 1977.
A questão do Mal na História
Um filósofo hermeneuta Jan Patocka, é citado por Ricoeur, ainda que não seja diretamente ligada ao mal, pode dar origem socrática da questão da questão do mal: “A perda de ´sentido´não é a queda no ´não-sentido´, mas o acesso à qualidade do sentido implicada na própria busca. Jan Patocka reencontra, assim o tema socrático do ´cuidado da alma’ e da ‘vida examinada’ “ (Ricoeur, 1999, p. 16), está no prefácio do livro de Jan Patocka “Ensaio heréticos sobre história da filosofia”, sem tradução para o português.
Platão elaborou o Sumo bem, que na verdade é a elaboração de uma ética, o Bom e Belo devem ser buscados pelo sujeito moral para harmonizar-se interiormente, e ter consciência do Bem, neste sentido que que pode ser pensado o cuidado da alma e a vida examinada de Sócrates.
Aristotéles elabora sua famosa Ética a Nicômaco, onde explora a ideia de busca da virtude, assim o homem natural não é bom, é pela pratica das virtudes que ele torna-se bom, mas tanto em Platão como em Aristóteles esta virtude tem o sentido social, embora se confunda com o moral, não o é.
O sentido de Mal moral, no sentido de vícios da alma, está elaborado em Agostinho de Hipona, no livro VII intitulado “A ideia de Deus e a Origem do mal”, o mal é a ágape desordenada (diferente da filosofia do eros e da filia), assim é na ausência da escolha de coisas superiores para escolha das inferiores (este é o sentido mais profundo do ágape), que aderimos aos vícios, e desarmonizamos.
Embora o tema possa ser encontrado em vários autores medievais, como Tomás de Aquino e Duns Scotto, o sentido de mal é aprofundado no sentido teísta e o filosófico fica ligado a Ética de Platão, permanecendo a ideia da virtude, trabalhada em torno da Ética de Aristóteles, escreveu Tomás de Aquino: “A virtude designa certa perfeição da potência“, (Suma Teológica, Iª seção, IIª parte, q. 55 a.1).
Na modernidade é Paul Ricoeur que retoma a questão no seu livro “A simbólica do mal”, porém é na delicada passagem do Renascimento a Modernidade que é aprofundada e confundida a distância entre o mal moral e o ético, como se fossem o mesmo, deixando a virtude de ser pensada.
RICOEUR, P. Prefácio a PATOCKA, J. – Essais hérétiques sur la philosophie de l’histoire. Trad. Erika Abrams, Lagrasse: Verdier, 1999.
Uma pandemia com muitos focos
Embora os grandes centros, São Paulo e Rio de Janeiro em especial, registrem quedas de número de infectados e de mortes, a pandemia se interiorizou e chega agora ao mais interior do país, que inclui pequenas cidades pobres, aldeias indígenas e regiões de pouco acesso sanitário.
O gráfico geral mostra uma estabilização em torno das 1200 mortes diárias, mas nem significa o controle da doença, nem qualquer indicativo de queda, já que a expansão para o interior e áreas carentes podem causar novas explosões, isto aliada a uma política de abre e fecha sem critério.
Apresentamos o gráfico geral acima apenas para indicar um gráfico geral, pois a política sob a responsabilidade dos governos regionais e prefeitos (foi determinada pelo STF) não permite dizer que haja uma política nacional de combate, embora as secretarias regionais de saúde se comuniquem e os governos façam leis estaduais, como a que obriga o uso de máscaras, havendo algum controle regional.
Um outro assunto polêmico é o uso de medicamentos, a hidroxicloquina, a polêmica inicial, e agora azitromicina, ivermectina e nitazoxanida não são recomendadas por critérios médicos, os medicamentos no fundo são ministrados caso a caso, por exemplo, para quadros infecciosos, sintomas depressivos ou os problemas respiratórios que são agudos, mas cada paciente pode ter ou não quadro que impeçam o uso de determinado medicamento.
No plano internacional algumas medidas sobre a debilidade econômica começam a ser pensadas, como socorrer os desempregados, como articular planos de ação conjunta entre países, que o grande bom exemplo é o da zona do euro.
As medidas preventivas devem continuar por longo tempo, que prefiro chamar de distanciamento social, porque a flexibilização já é crescente e pouco controlável, usar máscaras, manter uma certa distância em transportes, caminhadas mesmo considerando que são feitas em áreas arejadas são necessárias e fazem parte da chamada nova normalidade, basta ver os países saíram do pico.
No plano social medidas devem ser pensadas não apenas nacionalmente, mas mundialmente porque também as tensões de mercados podem se agravar e este enfrentamentos podem piorar as crises internas de cada país.
Saberes necessários para o futuro
Foi Edgar Morin quem levantou de modo magistral o véu sobre o conhecimento, seus erros e ilusões, para em seguida afirmar o conhecimento em seus princípios, que é ampliado em outro livro que fala dos “saberes globais e saberes locais: o olhar transdisciplinar” (2008).
“Os sete saberes necessários à educação do futuro” (Morin, 2000) afirma este paradoxo que em busca do conhecimento embarcamos em ilusões e erros, afirma no primeiro capítulo, enquanto no segundo apresenta a lacuna que o conhecimento ensina é “não pertinente” ao aluno, isto é, o fato que ele mostra dentro de um recorte disciplinar aquilo que deveria ser apresentado como o todo.
O terceiro saber é indicar a identidade humana, comentário a parte é curioso que se fale tanto da identidade sem falar do complexo social em que vivemos como uma “espécie” que deve se identificar como tal (daí a identidade), talvez o grande paradigma do humanismo, hoje em questão.
Isto irá desembocar no capítulo 4 que é a Identidade terrena, que reside na importância de compreender que as disciplinas (áreas das especialidades) devem convergir para a condição humana, e ela leva a compreensão humana, uma vez que na escola se deve ensinar como “compreender uns aos outros”.
O quinto saber é refere-se a como lidar com as incertezas, os conhecimentos podem parecer um grande paradoxo quando lidamos com mistérios, uma vez que a instituição escolar se dedica somente a lidar com “certezas” conceituais e científicas, e a vida é sempre uma surpresa.
O sexto capítulo (ou 6º. saber) envolve a compreensão, que vem da condição terrena, o processo de globalização começou a partir da colonização da américa no século XVI e teve consequências complexas (ideológicas, econômicas, sociais, etc.) e isto deve nos levar a condição planetária.
O sétimo capítulo envolve a ética do gênero humano, ele nomeia como uma antropo-ética (Sloterdijk vai além e diz necessária uma antropotécnica, mas foge neste escopo), a importância da cidadania em sociedade (em Terra-pátria vai além e propõe uma cidadania planetária) onde uma consciência social se faz necessária.
Amanhã ele completará 99 anos e pensamos num post especial, a este lúcido educador e pensador.
Os sete saberes necessários à educação do futuro / Edgar Morin ; tradução de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya ; revisão técnica de Edgard de Assis Carvalho. – 2. ed. – São Paulo : Cortez ; Brasília, DF : UNESCO, 2000. (Disponível em pdf)
O platô da pandemia se mantém
Os dados observados na última semana de mortes pelo corona vírus, que são os dados confiáveis, já que a curva de infectados depende da testagem, que é feita por empresas e ainda é baixa, indicam que o platô se mantém e a pandemia se interioriza no Brasil (veja gráfico), já salientamos a importância de fazer o logaritmo para visualizar melhor a inclinação da curva que é exponencial.
Qual seria a política para este momento é continuar mantendo o isolamento social, higiene e hábitos de distanciamento social, além das precauções em relação as políticas municipais.
Qualquer perspectiva de um pico, aos menos os dados indicam, parece sem sentido, o número de infecções se mantém em torno de mil mortes diárias, e um #lockdown não é mais viável, pois o vírus já se espalhou e um isolamento regional não significa o controle da pandemia.
Vamos navegar por incertezas, já cansados de um longo período de isolamento e com uma política de abre e fecha que não tem muito resultado efetivo, a não ser o de conter um contágio maior, sem significar qualquer resultado efetivo de controle da pandemia no plano nacional.
Os custos econômicos que seriam grandes no caso de um período de #lockdown, agora serão maiores porque tanto o comércio como os serviços que precisam efetivamente de contato presencial não se justificaria mantê-los desativados, e poucos serviços são não essenciais.
O plano é continuar por prazo indeterminado o chamado “isolamento social”, cujo nome mais certo no caso brasileiro já dissemos, é “distanciamento social” que é compatível com alguns serviços abertos.
O essencial é, portanto, manter os cuidados pessoais e torcer para que a curva caia “naturalmente”.
Inocência, ingenuidade e ignorância
Em muitas situações tropeçamos nestes três conceitos como sinônimos ou próximos, não são, uma criança é inocência e desconhece muitos assuntos, mas não é ignorante, por sua ingenuidade deve ser protegida tanto pelos pais quanto por qualquer pessoa de bom caráter.
Também um adulto pode ser inocente em determinada situação porque não fazia parte ou não conhecia determinada situação grave, não é ignorante, mas inocente ainda que algum mal possa ter ocorrido por sua ingenuidade em não perceber a gravidade ou as consequências de um ato.
A ignorância é militante, isto é, mesmo vendo e compreendendo a gravidade de determinada situação, por uma ação voluntária consciente comete ou permite que ato grave seja levado a frente, e algumas ou muitas pessoas ou mesmo situações graves podem ocorrer.
A pandemia expôs estas três realidades e não se pode deixar de perceber uma doença com a gravidade de ceifar vidas e cuja defesa é complexa pelo desconhecimento da ação e do controle do coronavírus implica em tomar decisões em defesa da vida que atenuem o número de mortes.
Assim como se expõe a ingenuidade de muitas pessoas que não tomam cuidados de higiene e prevenção para minimizar o contágio, expondo pessoas inocentes, porém é a ignorância que mais preocupa e pode causar situações ainda mais graves se não for possível interromper o descaso.
A ignorância foi utilizada na história para manipular populações inocentes e muitas vezes conseguiu levar muitas pessoas ingênuas a situações de catástrofes, atingindo inocentes e muitas vezes levando a morte e ao desespero, isto aconteceu em guerras e em pandemias, a gripe espanhola nos anos 1918 e 1919 matou 50 milhões de pessoas, um número absurdo para a população da época.
A revelação bíblica na qual o apóstolo Mateus (Mt 11,25) afirma que foi do agrado do pai revelar-se aos pequenino e esconder as verdades divinas dos “sábios e entendidos”, deve ser entendida no contexto da crença em Deus.
Conhecimento de Deus e não sobre o conhecimento e as verdades temporais, pois o texto seguinte é muito claro (Mt 11,26-27): “Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar.
Usar este trecho para justificar ou defender a ignorância é má fé, nos dois sentidos, no religioso e no moral.
Se é certo que Deus se manifesta aos humildades, usar da ignorância para manipular a consciência é má fé.