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Arquivo para a ‘Etica da Informação’ Categoria

Infinito, paz e transformação

15 mar

A nossa de infinito, de até mesmo o paradoxo que representa a profunda mudança que ocorrem em fenômenos astronômicos como os buracos negros, onde até mesmo a física quântica é questionada, nos leva a uma nova cosmovisão de matéria e espiritualidade.

Edgar Morin fala em “resistência do espírito” em função do momento dramático que vivemos de crise civilizatória e ameaça de escalada nas guerras, sem um apelo realmente concreto pela paz o risco dos atuais conflitos escalarem e de surgirem novos é imenso.

Esta resistência requer tanto o posicionamento pessoal quanto o coletivo, defender de fato e viver a paz, praticá-la em nossos relacionamentos cotidianos, ao lado dos que passam por nossas vidas.

A paz depende de pessoas que plantem a paz, diz a leitura bíblica Jo 12,24: “em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas, se morre, então produz muito fruto”, assim é preciso que semeie a paz aqueles que de fato a desejam, porém não no discurso, mas nas atitudes do dia a dia.

Não significa que não desejamos as mudanças, e que elas não sejam necessárias, também neste aspecto o grão de trigo deve cair na terra e “morrer”, mas esta morte vista justamente com o que desejamos: transformação, não desaparecimento ou morte terminal.

O olhar para o infinito, para o divino e o eterno é ir além de nossa materialidade, de nossos impulsos cotidianos e humanos, reservar um tempo para leitura, contemplação, meditação e recarregar nossas energias, a atitude pacífica depende deste equilíbrio humano/divino.

Sem uma ascese verdadeira e humanamente correspondida, ficamos naquilo que Peter Sloterdijk chama de “vida de exercícios”, fazemos os exercícios para tal, mas não temos uma ascensão humana (uma verdadeira ascese).

Aumentar nossa vida interior, transmiti-la nos relacionamentos eis a verdadeira ascese.

 

Fim da história ou retorno das potências

11 mar

Quando Francis Fukuyama escreveu sobre o “O fim da História” estava sob o impacto da queda do Muro de Berlim em 1989, três décadas após Jim Sciutto disse na CNN que quando a guerra na Ucrânia começou, estávamos vivendo um “momento de 1939”, de fato, há uma ligação entre a primeira e a segunda guerra, o fim da segunda e a possibilidade de uma terceira.

O livro de Jim Sciutto “The Return of Great Powers”, fala sobre isto, “A invasão da Ucrânia pela Rússia faz parte disso, mas, na realidade, esta luta pelo poder tem impacto em todos os cantos do nosso mundo – de Helsinque a Pequim, da Austrália ao Pólo Norte. Esta é uma batalha com muitas frentes: no Ártico, nos oceanos e nos céus, nas ilhas artificiais e nos mapas redesenhados, e na tecnologia e no ciberespaço”.

Em primeiro lugar detectamos este fator secundário, mas fundamental ver a tecnologia não sob o prisma da dominação das mentes, do capital ou do socialismo, mas seu uso negativo em função das guerras e da luta pelo poder.

O Retorno das Grandes Potências analisa esta nova condição histórica, analisa esta nova realidade pós-guerra fria e pós queda do muro de Berlim, os governos russo e chinês cada vez mais alinhados e o ponto crítico de uma nova corrida armamentista nuclear global, e nos coloca uma questão: ao considerarmos resultados incertos, até mesmo aterrorizantes, será possível ao Ocidente, à Rússia e à China evitar uma nova Guerra Mundial?

Não é tão importante a análise feita por Jim Sciutto quanto os fatos e realidades que trás a tona para novos questionamentos e preocupações com resultados externos desta nova realidade mundial, um momento de forte turbulência no qual as possibilidades de paz vão se esgotando com o passar do tempo e o envolvimento cada vez maior de diversas nações.

O quadro da última semana aponta para isto, a Rússia não descartando um enfrentamento com o Ocidente e os Estados Unidos se preparando para um cenário de confronto nuclear, o retorno ao bom senso e ao desarme de espíritos exaltados passa por perdas e danos a algumas nações, não se trata de rendição, mas aceitação do quadro atual de “novo equilíbrio” para a paz.

Conforme afirma Edgar Morin é preciso neste tempo um espírito de resistência para um retorno ao caminho da fraternidade universal e a paz.

 

Serenidade e luz

08 mar

Somente há luz quando há serenidade, embora o texto de Heidegger não esteja diretamente ligado ao seu conceito de “clareira”, ele está indiretamente ligado, pois pede a reflexão, o puro pensamento, aquele que “medita” e não apenas age.

Heidegger esclarece que: “o enraizamento (die Bodentändigkeit) do Homem actual está ameaçado na sua mais íntima essência. Mais: a perda do enraizamento não é provocada somente por circunstâncias externas e fatalidades do destino, nem é o efeito da negligência e do modo superficial dos Homens. A perda do enraizamento provém do espírito da época no qual todos nós nascemos” (p. 17), é assim portanto a ausência desta clareira.

A dominação por modelos ideais e que “calculam” levam a um compromisso maior com as engrenagens da razão, do que as engrenagens do ser e da dignidade humana, vão além da ética que é profundamente ligada ao “ethos” do modo de ser e do caráter.

Não se trata de um maniqueísmo puro, porque este também levou e leva ao dualismo social e político, mas aquele que exclui o outro, o diferente e esquece de sua dignidade humana, lembramos o discurso de Eduardo Galeano sobre a guerra e o mal que ela encerra (post).

O puro raciocínio da engrenagem calculista leva a cálculos precisos de negócios, gestões de empresas e até mesmo certa lógica educacional, mas esquecem os fundamentos da ética humana: o respeito a vida, a sociabilidade entre todos e o cuidado com o planeta.

O mal é assim visto como ausência de luz, impossibilidade de uma clareira que dignifique e mostre a verdade aos homens, e isto independe de qualquer lógica racional porque está na difusa lógica humana que une desiguais e iguala os diferentes.

Para os cristãos é fundamental lembra o princípio da luz que apaga toda escuridão, como uma pequena vela acesa num breu, a clareira cristã, assim afasta-se do erro e da discórdia (Jo 3,21): “Mas, quem age conforme a verdade, aproxima-se da luz, para que se manifeste que suas ações são realizadas em Deus” e não há nada mais divino que a verdade.

Se o enraizamento de Heidegger refere-se a sua perda no “espírito da época”, o enraizamento mais profundo é aquele que vem da origem humana, seja ela antropológica ou ontológica.

 

O não-pensamento na atualidade

07 mar

O texto de Heidegger sobre a Serenidade, feito em 1949 em cerimônia de comemoração do centenário de morte de Conradin Kreutzer, em sua cidade natal   Meßkirch,, que por ser também a cidade Natal de Martin Heidegger, este foi chamado a falar no evento, livro é parte desta seu discurso.

O texto da serenidade revela o quanto nós somos induzimos a um pensamento calcula que corre de oportunidade em oportunidade, é fundamental para se entender que isto que é atribuído ao mundo digital, já ocorria muito antes deste, e não está restrito ao universo digital: “este pensamento continua a ser um cálculo, mesmo que não opere com números, nem recorra á máquina de calcular, nem a um dispositivos para grandes cálculos” (pg. 13), mesmo muito anterior ao universo digital, fala dele e diz que não é dele que está falando.

A dinâmica, que muitos atribuem ao universo digital já era a muito presente no homem moderno: “o pensamento que calcula (rechnend Denken) nunca para, nunca chega a meditar. O pensamento que calcula não é um pensamento que medita (ein besinnliches Denken), não é um pensamento que reflecte (nachdenkt), não é o sentido que reina em tudo o que existe” (idem, pg. 13), isto é, do final da década de 40 e anterior aos computadores modernos.

Convém traduzir as palavras alemãs: ein besinnliches Denken (um pensamento contemplativo) e nachdenkt (pensar sobre) e das rechnend Denken (pensamento calculista).

Assim para o filósofo existem duas formas de pensamento: o que calcula e o que medita, e pode-se pensar que o segundo não se apercebe da realidade, “não contribui em nada para levar a cabo a práxis” (pg. 14), pode levar a pura reflexão, a meditação persistente ser “demasiada “elevada” para o entendimento comum” (idem).

O autor diz que a única coisa correta é que a verdade de um pensamento que medita surge tão pouco espontaneamente quanto o pensamento que calcula, ambos requerem esforços.

O fato que o homem contemporâneo está vinculado a uma forma de pensar é porque é esta a forma atual em que o pensamento foi elaborado e treinado, ligado a logos racional e ideal.

Porém pondera que cada um pode seguir os caminhos da reflexão dentro de seus limites e a sua maneira: “Não precisamos, portanto, de modo algum, de nos elevarmos às “regiões superiores” quando refletimos. Basta demorarmo-nos (verweilen) junto do que está perto e meditarmos sobre o que está mais próximo: aquilo que diz respeito a cada um de nós, aqui e agora; aqui, neste pedaço de terra natal; agora, na presente hora universal” (pg. 14).

Claro Heidegger refletia sobre a comemoração em sua cidade Natal, mas isto vale para todos os eventos que vivemos em nossas vidas.

Heidegger, M. Serenidade. Trad. de Maria Madalena Andrade e Olga Santos. Lisboa: Instituto Piaget, s/d.

 

Vozes solitárias pela paz

06 mar

O escritor uruguaio Eduardo Galeano se posicionou contra a guerra, famoso por ter escrito “As veias abertas da América Latina”, que foi autor de mais de 40 livros, destaco entre eles O livro dos Abraços, tem uma gravação que voltou a ser divulgado no youtube pelo impacto que tem.

Começa sua fala dizendo: “Nenhuma guerra tem a honestidade de confessar: eu mato para roubar” e depois vai desmascarar os vários falsos motivos pelos quais tentam justificar suas atitudes, “as guerras sempre invocam nobres motivos, matam em nome da Paz, em nome de Deus, em nome do progresso” e outros, mas se não conseguem tem as mídias para ajudar, e não se tratam apenas das novas mídias, falava em seu tempo da grande imprensa.

A cultura tóxica de que alguém tem a solução para os grandes problemas do mundo, que há algum grupo “iluminado” evita a abertura ao diálogo, a encontrar os caminhos da paz.

Os antigos modelos propostos: a pax romana que submete os povos, a paz eterna que é o modelo idealista, a paz que resolve os problemas de justiça social, todas elas invocam a guerra em última instância.

Houve um tempo que era possível os povos saírem as ruas e reivindicarem a paz, e chamarem as autoridades para a insanidade de suas posições provocativas e insufladoras da guerra, ainda que disfarçadas em promessas de paz como dizia Galeano, e todas elas escondem o roubo, a ganância por riqueza e a pilhéria dos povos e dos pobres.

Também de pouco vale os espíritos “elevados” que fazem belas frases românticas e ideais, que nada tem de realidade ou de serenidade, são apenas alienação consciente ou inconsciente, são vozes que fogem dos problemas reais que a humanidade enfrenta: uma crise civilizatória.

O papa é uma destas vozes, também não deixam de haver vozes solitárias na ONU, pequenos países que apesar de estarem em esferas de influência, tem a sabedoria e discernimento que também sofrerão se a guerra prospera.

Eduardo Galeano chama a atenção em seu vídeo, que os países que compõe o Conselho de Segurança da ONU são justamente aqueles que mais armas tem, e a indústria armamentista é também uma fonte econômica para quem a detém, mas gera riqueza de grupos isolados.

Faltam vozes inequívocas para a paz, vozes que não ignorem a conjuntura e as posições reais.

No youtube: Eduardo Galeano: “Todos que fazem guerra mentem, só destroem e matam. Até quando farão guerra?” (youtube.com)

 

Rússia acuada e Israel questionado

04 mar

O panorama das duas principais guerras que preocupam as lideranças mundiais continua tendo lances e episódios tristes no seu desenrolar, na Rússia a morte de um ativista em prisão da Sibéria e em Gaza as dificuldades de ajuda humanitária.

Enquanto vencem no campo de batalha, estas duas superpotências perdem no campo diplomático já que para muitas autoridades a situação é de desumanidade e ameaça a civis.

Na Rússia a morte de Alexei Navalny na prisão levou milhares de pessoas ao seu enterro (foto), o advogado, ativista e blogueiro tinha uma atividade intensa e era respeitado por grande parte da população, segundo fontes russas 67 pessoas foram presas no enterro, e também a entrada da Suécia para a OTAN expõe o enfrentamento a guerra.

Putin ameaça retaliação a Suécia enquanto aumenta o tom com o Ocidente afirmando que uma entrada de tropas ocidentais na guerra da Ucrânia levaria a um caos nuclear, em resposta ao presidente Macron da França que disse que não hesitaria enviar tropas, porém outros países refutaram esta ameaça afirmando que não o fariam.

O envio de apoio humanitário a faixa de Gaza cria polêmica com Israel que diz facilitar, porém a reação internacional pedindo o fim das hostilidades, sem deixar de exigir a liberação de reféns que ainda estão em controle do Hamas, aparece em destaque na imprensa mundial.

Quem subiu o tom com Israel foi o presidente da Turquia, Erdogan que afirmou que Israel comete uma “tentativa de genocídio” com a operação militar na faixa de Gaza.

Inúmeros países já se manifestaram pelo fim da guerra, também o papa já se pronunciou recentemente afirmando “carrego no meu coração todos os dias, com dor, o sofrimento da população na Palestina e em Israel, e pedindo acesso seguro para a ajuda humanitária.

A escalada perigosa destas duas guerras pode levar a uma tragédia civilizatória e é preciso sabedoria e serenidade das lideranças mundiais.

 

O próximo e o negócio

01 mar

A policrise que envolve a humanidade, na palavra de Edgar Morin que foi também adotada (em outra perspectiva) por Adam Tooze, professor de História da Universidade de Yale.

No livro Terra Pátria o autor já desenhou um quadro de um nacionalismo renascendo, está escrito no prefácio da edição brasileira feito por Juremir Machado da Silva:

“Terra-Pátria, no qual colaborou Anne-Brigitte Kern, é o livro fundamental para o exame do fenómeno nacionalista na atualidade. Tudo está nele: pátria, nação, universalismo, identidade, ecologia, política, comunidade, etc. Os mecanismos para a compreensão da complexa rede social contemporânea são fornecidos com a limpidez costumeira ao texto de Morin” (MORIN, 2003, 14).

Entretanto a história caminhou no sentido contrário, incapaz de dar um passo a frente, agora guerras, utopias antigas e modelos espirituais fundamentalistas (não confundir com a ortodoxia porque é ela o verdadeiro fundamento das religiões e culturas).

A relação social se deteriora, a culpa seria das técnicas, do individualismo ou mesmo de uma onda de possessões demoníacas, entretanto o que acontece é simplesmente uma falta de um modelo autentico de solidariedade e aqui as utopias e culturas religiosas devem ser analisadas.

As utopias porque retroagiram aos modelos do início do século XX, o nacionalismo de Adam Smith e o bolchevismo de Lenin, as culturas religiosas porque se refugiam no fundamentalismo.

Há pouca coisa fora destas perspectivas, mas elas existem, há esperança onde cada pessoa é tratada com dignidade, a empatia é modelo de convivência e a vida como um todo trata o homem como um todo e é possível reintegrá-lo nos padrões de solidariedade e respeito.

A relação com um próximo não é um negócio, nem pode dissolver-se numa “amizade social” que é apenas uma superfície daquilo que é realmente humano, a relação com o Outro.

Não poucos autores escreveram sobre isto, até mesmo Jürgen Habermas abordou o tema, porém se trata da relação efetiva entre duas pessoas e não a relação social genérica ou cultural, que em geral envolvem interesses e relações com as bolhas de pensamento.

A cantora paraense cristã Aymeê viralizou ao cantar a música “Evangelho dos fariseus” que fala da exploração infantil na ilha de Marajó, das queimadas e do fato que o dízimo importa mais que os corações em muitas igrejas que transformaram a mensagem de amor em negócio.

Houve quem a contestasse, porém, a mensagem é bíblica, a mensagem bíblica (Jo 2, 16) em que Jesus diz: “16 E disse aos que vendiam pombas: “Tirai isso daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!” e isto dá muito o que pensar, “de graça recebestes, de graça dareis” (Mt 10,8).

MORIN, E. E KERN, A..B. Terra-Pátria. Trad. Paulo Azevedo Neves da Silva. Porto Alegre : Sulina, 2003.

 

O próximo e a amizade social

28 fev

O texto de Paul Ricoeur “Le socius et le prochain” (o sócio e o próximo) já foi explorado neste blog, salientando a diferença entre uma relação temporal limitada de sócio e uma relação de filia e amizade que pode se estender por toda vida: o próximo.

Queremos agora reler o comentário feito por Henri Bergson sobre este texto, no qual ele articula que o “eu” parte de um “nós” que construímos como um “eu”, mas que não é addeste, então cabe a pergunta que “nós” é esse?

Designa essas outras pessoas que encontramos todos os dias nos nossos ambientes familiares e profissionais, ou esta presença difusa dos outros, de “todos” que, por exemplo, alegamos quando tentamos fazer alguém compreender?

Significa que agimos de modo compatível ou incompatível com a vida em sociedade: “o que aconteceria se todos gostassem de você?” na verdade, existe, para dizer o mínimo, duas relações muito distintas com os outros: outros como estrutura e outros como práxis.

Pelo primeiro termo, entende-se esta base como eficiência das leis, das instituições, e mais ainda, a consciência que temos da nossa incessante visibilidade aos olhos da sociedade: o que se faz é feito com base na possível existência de outros, mesmo quando ninguém está fisicamente “lá”, pela noção de outro como práxis, devemos entender as ações através das quais outro de alguém, no entanto, esta distinção corresponde exatamente àquela que Paul Ricoeur escreveu em seu livro “História e Verdade”, escrito para diferenciar entre “sócio e o próximo”, porque não só no mundo dos negócios, mas também na política e nos grupos sociais o que é verdade pode estar relacionado a alguma narrativa da “sociedade” pertencente.

Podemos falar da presença o Outro como estrutura no sentido de que o socius designa este lugar, esta ponderação simultaneamente implícita e legal de um outro invisível, anônimo, quase abstrato, mas ao mesmo tempo omnipresente, um pouco como condicional, que nunca deixaria de se manifestar para nós no Presente, de se tornar presente, mas nunca fisicamente (e sim mentalmente, constitucionalmente).

Por “próximo”, Paul Ricoeur designa a presença física imediata, pontual, de outra pessoa que conheço, temos boas experiências de estar próximos nas grandes cidades, pois ali vivenciamos muitas situações promíscuas (metrô, filas, etc.), mas, ao mesmo tempo, essa multidão com a qual sou obrigado a compor não é composta de “próximos”, já que não os conhecemos.

Se ativamos a práxis com o próximo sempre passando pela estrutura do “socius”, a relação supõe uma margem de escolha, de eleição, de desejo de aproximação ou rejeição, como se o nosso salário bruto e o nosso salário líquido, aquilo que é retirado do nosso salário pago, através de uma supervisão de uma autoridade administrativa, a “organização”, o Estado, a segurança social, etc.

Assim o sócio está vinculado a uma “práxis” social, enquanto o próximo depende só de uma escolha de relação humana independente da relação estrutural a qual está sujeito.

RICOEUR, Paul “O socius e o próximo”, in História e Verdade, trand. F. A. Ribeiro. Companhia Editora Forense: Rio de Janeiro.

 

Procrastinar e fazer bem bem-feito

27 fev

A procrastinação significa o adiamento de tarefas que são normais do dia a dia e outras excepcionais que são inadiáveis, a mesma Sociedade do cansaço (Byung Chul-Han escreveu um livro) é também a sociedade da procrastinação.

Adiar tarefas é contraprodutivo, quando se quer otimizar o tempo e ter tempo para descansar, fazer o lazer ou meditar é preciso não procrastinar e fazer as tarefas necessárias para que haja o tempo disponíveis para sentir o Aroma do Tempo (outro livro de Byung Chul-Han).

Entretanto podemos estar em atividades desnecessárias, em pequenos e grandes vícios, que além de nos roubar o tempo, roubam também o nosso tempo de parar, descansar e Ser.

É um problema humano de todos os tempos, para aqueles que acreditam que isto acontece por causa das novas mídias e celulares, que podem ser vícios também como outros, já o poeta da antiguidade Hesíodo (800 a.C.) escreveu: “deixar seu trabalho até amanhã e no dia seguinte” é um problema humano.

A pesquisadora de Harvard Caroline Webb em artigo na revista da universidade escreveu: “isso porque é mais fácil para nossos cérebros processarem coisas concretas em vez de abstratas, e o incômodo imediato é muito tangível em comparação com aqueles irreconhecíveis e incertos dos benefícios futuros”, por isto atividades que nos tiram da rotina e nos colocam em uma dimensão social, isto é, com o Outro, movimentam nosso cérebro para regiões “incomodas”.

Acreditar que você deve esperar estar com bom humor para fazer algo é uma armadilha que pode levar à procrastinação. Joseph Ferrari, um professor de psicologia na Universidade DePaul, nos Estados Unidos, descobriu que o pensamento “não estou com humor para cumprir X tarefa” pode levar a um ciclo vicioso.

Realizar pequenas tarefas, aquilo que o professor e pesquisador Tim Pychyl testou e confirmou a eficácia: “uma que os alunos começaram, eles avaliaram as tarefas como menos difíceis e menos estressantes, e ainda mais agradáveis do que pensavam”, assim isto devolve a rotina.

Tarefas como arrumar a cama, preparar o café da manhã, retirar as louças e lavá-las, e outras podem também trazer uma recompensa, tiram do stress e devolvem harmonia ao seu redor.

Se feita para fazer um bem, e sendo bem-feitas trazem também uma recompensa espiritual e não raro sentem um alívio “inexplicável” que é resultado de fazer um bem de modo bem feito.

Referência:

Webb, Caroline. How to beat procrastinantion, Harvard Business Review, 2016  Acesso em: fevereiro 2024, Disponível em: https://hbr.org/2016/07/how-to-beat-procrastination

 

2 anos de Guerra e a diplomacia

26 fev

Dia 24 de fevereiro completou 2 anos da guerra  da Rússia com a Ucrânia, que o governo russo chama de “operação especial”, que já matou milhares de civis na Ucrânia, que provocou uma ruptura com o Ocidente e que não tem perspectivas de trégua e pode escalar para a Europa.

Apesar do enfraquecimento o discurso de Zelensky foi de promessa de vitória, embora tenha sofrido revezes neste início de ano em vários fronts, o discurso de Putin é cada vez mais feroz e eloquente e não é impossível um enfrentamento direto com as forças da Otan, o que seria uma tragédia para todo o planeta pelo potencial bélico e nuclear que estaria envolvido.

Na Palestina Israel continua com bombardeios já chegando a cidade fronteiriça com o Egito de Rafah, no subúrbio de Shaboura, segundo o ministério da Saúde de Gaza, 97 pessoas foram mortas e também em algumas aldeias vizinhas houve ataques.

O Catar sediará uma reunião entre o Hamas e Israel com objetivo de finalizar um acordo de trégua esta semana, segundo fontes egípcias, os Estados Unidos consideram sempre possível o acordo definitivo de paz, porém continuam dando apoio a Israel e seguem conflitos com os Houthis do Iêmen que impede a passagem de navios cargueiros de bandeira americana.

Uma nova estratégia no Iemen tem sido forças táticas, lideradas pelo Reino Unido (foto) que auxiliam tanto o mapeamento como o bombardeiro das bases terrestres dos Houthis, já que eles não têm embarcações, fazendo ataques aos navios a partir de bases terrestres.

O presidente brasileiro Lula causou uma grave crise com Israel comparando a atual guerra de Israel com o período nazista, justamente o maior genocídio e a mais cruel guerra contra o povo judeu e provocou reações do governo de Netanyaho, de seus aliados e de brasileiros judeus que reclamam um tratamento igualitário ao dado aos palestinos refugiados.

O conjunto das guerras e retaliações endurecem os corações e põe em combate as forças que polarizam o poder ao redor do mundo, poucos são os países que não se alinham embora a esperança de paz resista de maneira heroica.

Como diz o centenário educador e filósofo Edgar Morin, é preciso uma resistência do espírito.