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Arquivo para a ‘Física’ Categoria

Um universo complexo e um além deste

01 abr

Quando a dimensão do espaço e tempo passou a ser estudada não como dimensões isoladas, mas com isto a força gravitacional não é mais consequência da atração dos corpos, sim uma consequência do deslocamento num espaço-tempo curvo e assim deveria haver alguma “partícula” que transmitisse a gravidade entre os corpos.
Porém os grávitons não eram fáceis de serem observados, uma teoria chamada de Kaluza-Klein levantou a hipótese que a gravidade parece fraca de onde existimos e a observamos, porque poderia passar por mais de três de dimensões ao nosso tempo, e portanto, se dilui.
Em 1960 um grupo de físicos com objetivo de unificar a Física, desenvolveu a ideia da teoria das cordas onde unidades constituintes da matéria existente e as partículas elementares da natureza são minúsculas cordas vibratória oscilantes feitas de energia, as quais, variando a oscilação cria os diversos tipos de matéria conhecida, as forças fraca, forte, eletromagnética e a gravidade.
O grande mérito das diversas características das cordas foi perceber padrões vibratórios nas partículas e indo indicava que poderia existir uma partícula mensageira da força gravitacional chamada gravitón, que recentemente foi comprovada e isto mudou a concepção de Universo.

Numa palestra apresentada por Edward Witten em 1995, se iniciou a chamada Segunda Revolução das Cordas, que descobriu padrões chamado Tipo I, Tipo II(A), Tipo II(B), Heterótica-O, Heterótica-E, tinham um padrão de comportamento chamado de constante de acoplamento. isto indicava que as partículas vinham em duplas, por exemplo a Heteritóca;O e a tipo II(A) era inversamente proporcional à heterótica-E e esta a Tipo II(B), e a teoria foi essencial para entender as cordas.
Um outro fator que a teoria-M ajudou a compreensão do Universo foi que ela incorporou uma teoria completamente nova das dimensões, criou a ideia da supergravidade com onze dimensões, porém uma antiga dúvida entre os astrofísicos ainda perdurava e mudaria tudo.
Haviam duas constantes da expansão do universo, que Hubble chamou de H0 e a medida a partir de supernovas distantes se afastando (veja o post), foi recentemente que Lucas Lombriser, afirmou que é como “Se estivéssemos em uma espécie de gigantesca “bolha”, assim as supernovas teriam influencias fora desta “bolha” que vivemos, por forças ainda mais enigmáticas vindas de “fora”.

 

Um modelo do Universo completo

31 mar

A vida agitada e os prédios das cidades grandes nos impedem de ver o céu estrelado das noites onde se pode contar mais de mil estrelas a olho nu, e será que o modelo deste universo já é conhecido.
O todo que pode ser conhecido esconde um Todo que é toda a criação e que teve um instante inicial seu Fiat ou seu Big Bang e é aos poucos desvendado pela pesquisa e pelos grandes telescópicos construídos e que podem agora vasculhar além da Via Láctea e muitos planetas podem ser vistos.
Mesmo com todos estudos o que conhecemos é apenas 5% da composição do universo, é o que apontam os números do Dark Energy Survey (DES), liderado pelo laboratório americano Fermilab, já que 25% do universo é matéria escura e os demais 70% são energia escura.
Desde o primeiro instante do Big Bang o universo acelerou o ritmo de sua expansão e o processo não diminuiu, através da observação de um tipo de supernovas, estrelas no fim da vida que entram em colapso e emitem uma quantidade de brilho comparável a do centro das galáxias, conclui-se que a energia escura era a que aumenta a velocidade desse processo de crescimento.
A matéria escura, por outro lado recebe esse nome porque não interage com os fótons (as partículas de luz, que são agora definitivamente partículas sem massa no modelo atual) e assim não se consegue a detecção direta pelos telescópicos onde a cor e a qualidade da luz torna-os possíveis de serem estudados.
Esta matéria escura é notada pelo seu efeito gravitacional, isto é, tem gravidade e os corpos visíveis interagem com ela, e apesar de sabermos que ela existe, os estudos sobre os fenômenos que acontecem com elas e sua interação com os demais corpos celestes apenas se iniciaram, estudando suas formas e as distorções que causam seus campos gravitacionais, que dá alguma informação.
O estudo que cobriu aproximadamente 300 milhões de galáxias, 100 mil aglomerados e 2 mil supernovas, além dos objetos de nossa Via Láctea e do Sistema Solar.
Em 2016 um mapa detalhado de 43.00 galáxias foi publicado alcançando a distância de 380 milhões de anos-luz a partir do sistema solar, chamado 2MASS Reshift Survey (2MRS) foi apresentada no 218º. encontro da Sociedade Americana de Astronomia em Boston, EUA.
O satélite Gaia lançado em 2013, da Agencia Especial Europeia (ESA) completou em 2018 a sua missão de cadastrar as estrelas e fazer uma mapa em 3D da Via Láctea (foto acima), mas o resultado segundo Leah Crane, uma especialista em astronomia foi “o universo simplesmente ficou ainda mais confuso”, escreveu na revista new Scientist.
A ViaLáctea numa versão animada 3D:

 

A ordem do Universo

30 mar

Na antiguidade clássica o modelo que predominou foi o Ptolomaico, que superou o modelo de Aristóteles (384-322 a.C.) que pensava que a Terra era o centro do universo, claro além de outros modelos que considerava a terra plana a Terra presa a uma “casca esférica” e outros.
Foram surgindo outras ideias, a sério porém o modelo de Claudio Ptolomeu (85-150) prevaleceu, até surgiu no final da idade média o modelo de Nicolau Copérnico (1473-1543), mas ainda era o Sol como centro do Universo, o importante aqui é a “ordem” matemática e geométrica que estabeleceu, que influenciou toda a ciência moderna.
O nosso limite como galáxia foi proposto na antiguidade por Demócrito de Abdera (450-370 a.C.), vendo a baixa brilhante no céu noturno, afirmou que ela consistia em estrelas distantes.
Foi só no século X, que o astrônomo persa conhecido como Azophi (Abd al-Rahman al—Sufi), que observou a Galáxia de Andrômeda, descrevendo-a como uma “pequena núvem” e foi redescoberta por Simon Marius em 1612, e em 1610 Galileu Galilei a confirmação que a Via Láctea era composta de várias estrelas.
O modelo da Via Láctea foi estabelecido por William Hershel em 1785 (desenho acima) e até a descoberta da expansão do universo, este era composto por galáxias e estas por estrelas e planetas.
Os modelos cosmológicos atuais vieram a partir da hipótese, hoje praticamente confirmada do clérigo Georges Lamaître (1854-1966), demonstrada por Edwin Hubble (1889-1953) e teorizada e completa pelo físico inglês Stephen Hawking (1942-2018) e seu aluno Roger Penrose (1931-).
Foi a partir do estudo de flutuações de densidade (ou irregularidades anisotrópicas da “matéria”(, que analisando as estruturas maiores começaram a se desenvolver, o resultado é o que chama-se de matéria bariônica que se condensam dentro de halos de matéria escura fria, e estas são as que formaram as galáxias como vemos hoje, porém a matéria e energia escura ainda são estudos.
O que queremos estabelecer aqui é como nossa visão de mundo e de matéria tem implicações também na visão dos estudos da vida, e no caso presente, das estruturas de viroses e pequenos organismos que podem ajudar a ciência a encontrar soluções para epidemias e pandemias.
Em estudo que estamos fazendo sobre publicações em Redes Sociais, o cientista como maior número de publicações na área de Redes é Carl A. Latkin, médico infectologista e que é membro do Centro para Medicina Global, o que não é mero acaso, nossa visão de mundo e de complexidade mudou e ela pode nos ajudar no combate a pandemia.

 

Além do universo

19 mar

Ainda vivemos a crença de espaço e tempo absolutos, as grandes descobertas da física de nosso tempo já provaram a existência da dimensão espaço-temporal e uma quarta dimensão aonde muitos fenômenos físicos se explicam, a física padrão elaborou isto, mas agora pode-se ir além.
Havia uma discrepância entre as medidas de expansão do universo feita com base no fundo de micro-ondas cósmico, o ruído que restou do primeiro Big Bang e a expansão de estrelas vermelhas como a medida recente feita pela em 2001 tinha o número de 72 quilômetros por segundo por MegaParsec (km/seg/Mpc), sendo um parsec equivalente a 3,26 anos-luz de distância.
As estrelas vermelhas são um estágio de evolução dos sóis quando ocorre um evento chamado de glash de hélio, no qual a temperatura sobe cerca de 100 milhões de graus e sua estrutura é rearranjada, o que acaba diminuindo sua luminosidade, mas fiquemos tranquilos levam milhões de anos para acontecer.
As medições iniciais no tempo de Planck eram de 67.4 km/seg/Mpc e recentemente uma equipe da Nasa liderada por Wendy Freedman acertou para 70 km/seg/Mpc o que aparentemente fazia uma média e conciliava entre as duas medidas, mas na prática pareciam dois fenômenos diferentes.
A hipótese de Lucas Lombriser, físico da UNIGE de Genebra, publicada no próximo número da Physics Letters B, mostra o universo não apenas em expansão mas uma bolha dentro de um outro universo de densidade menor, e com certeza revolucionária a Física e mudará nossa cosmovisão.
A ideia assustadora e ao mesmo tempo fascinante que estamos numa bolha dentro de um espaço maior só que om menor densidade “de matéria” (como nós a conhecemos que é chamada bariônica) pode apontar para enigmar novos como os buracos negros e a matéria escura.
Não há cegueira somente na terra plana, no universo copernicano e na cosmovisão de um planeta ainda se rearranjando com suas forças sociais internas, o universo em expansão é muito maior e ponde estar dentro de um “caldo cósmico” que até então era impensado, Lombriser o pensou.
A ideia de multiuniversos foi lançada por Stephen Hawking e agora parece quase real, veja o vídeo:

 

O Big Bang pode ser outra coisa

17 mar

E a Teoria da física padrão, cuja descoberta da partícula de Higgs recentemente no colisor de Hádrions fez os físicos vibrarem, agora tudo parece ter outro sentido e uma nova visão desta.
Haviam duas fortes evidencias sobre o Big Bang e a expansão do universo desde a primeira bolinha da qual saiu tudo (a constante de Hubble H0 e a medida de supernovas distantes), e agora que agora que o universo estaria numa bolha de 250 milhões de anos luz.

Nesta “bolha” onde a densidade da matéria é metade de todo o resto do universo concilia as medidas anteriores, a hipótese é de Lucas Lombriser, físico teórico da universidade de Genebra (UNIGE) e responde em qual velocidade o universo se expande.
A abordagem publica na revista “Physics Letter B”, resolve a divergência entre dois métodos de cálculos independentes que chegavam a valores diferentes em cerca de 10%, um desvio estatístico que é irreconciliável, e não precisa de nenhum novo modelo físico.
Pela teoria do Big Bang ocorreu a 13,8 bilhões de anos atrás, a proposta foi feita pela primeira vez pelo físico e presbítero belga Georges Lemaître (1894-1966) e demonstrada pela primeira vez pelo astrônomo americano Edwin Hubble (1889-1953) , observando que galáxias distantes estavam se afastando e recolocando-as junto podia-se calcular o tempo da primeira explosão.
A constante de expansão chamada de H0 foi medita num valor de 67,4 segundo dados fornecidos pela missão espacial Planck, que tem como hipótese que o universo é homogêneo e isotrópico, mas agora pode-se pensá-lo com uma bolha com densidade de matéria metade de todo o universo, ou seja, a 13,8 bilhões de luz ela explodiu dentro de um “outro” universo menos denso.
Afirmou Lombriser: “Se estivéssemos em uma espécie de gigantesca “bolha”, onde a densidade da matéria fosse significativamente menor que a densidade conhecida para todo o universo, isso teria consequências nas distâncias das supernovas e, finalmente, na determinação o H0”.
Assim a constante de 250 milhões de anos para a bolha concilia os valores da constante H0 para o Big Bang com a constante com o cálculo do afastamento das supernovas que tem influência de todo o universo incluindo a parte fora da bolha com metade de densidade, conciliando as medidas.

Lombriser, Lucas. Consistency of the local Hubble constant with the cosmic microwave background. Physics Letters B. Volume 803, 10 April 2020, Disponível em:
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0370269320301076?via%3Dihub

 

Estética, cultura e espiritualidade

31 jan

A desordem que a sociedade contemporânea avança não é só a econômica, social e cultural, o reflexo estético é uma sociedade que pretende eliminar o imperfeito, a dor e a co-imunidade (busca-se a todo custo todo tipo de imunidade retirando a diversidade da natureza), é a tentativa da ausência da tragédia, no sentido cultural e estético, da mudança, mas a vida passa pela morte.
O resultado ao contrário da estética que admite a tragédia é justamente caminhar para aquilo que tenta eliminar, é a sociedade da morte, da obscuridade, enquanto se pretende a perfeição, a estética do liso do perfeito e retilíneo, mas eles são contrários a natureza, e ao homem que é parte dela.
A expansão do corona vírus, outros vírus já vieram como a gripe asiática a pouco tempo atrás, é uma mostra que devemos conviver com isto, recentes descobertas nas geleiras de vírus que não conhecíamos significam que eles sempre existiram e sempre tiveram mutações.
Mas as mutações transgênicas, de plantas e animais que não tem nenhum tipo de doença, tem o paradoxo de serem justamente elas que geram doenças potentes ao mesmo tempo que destroem a diversidade natural do complexo sistema natural, aliás, a simplificação também é isto.
No plano social e religioso significa abolir a divergência, caminhar para uma identidade que não é outra coisa que a negação do Outro, do diverso e a imposição de sistemas autoritários, assim ao mesmo tempo que faz um discurso contra o individualismo e o autoritarismo, favorece-os, veja-se a lei da Entropia (foto).
O contraditório, assim como o diverso caminha e continua evoluindo em meio as crises, porque sabe que a tragédia é parte da vida e pode ser superada se encarada com preocupação e com naturalidade de quem conduz a vida e a sociedade para o futuro.
A passagem bíblica na qual fala da vida natural de Jesus, o tempo de pregação dele foi de 3 anos, e durante 30 viveu uma vida normal, vejam a relação de 10 para 1, os fariseus e fundamentalistas de nosso tempo vivem o inverso, está assim narrado pelo evangelista Lucas (Lc 2,39-40):
“Depois de cumprirem tudo, conforme a Lei do Senhor, voltaram à Galileia, para Nazaré, sua cidade. O menino crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele”.
Aliás lei neste caso eram as leis do judaísmo, ou seja, sua relação com a tradição de sua época.

 

A complexidade, o infinito e Deus

17 jan

Exceto áreas como a arte e setores da astrofísica o restante da pesquisa científica é prisioneiro de suas próprias metodologias, destina “a manter o equilíbrio do discurso pelo banimento da contradição e da errância; controlava ou guiava todos os desenvolvimentos do pensamento, mas ela própria se colocava à evidencia como impossível de resolver.” (Morin, 2008, pgs. 80-81).

Não significa é evidente destruir o equilíbrio e a racionalidade do pensamento humano, mas deixá-lo penetrar: num sentido do que há de mais simples, de mais elementar, de mais ´infantil’: mudar as bases de partida do raciocínio, as relações associativas, e repulsivas entre alguns conceitos iniciais, mas de que dependem toda a estrutura do raciocínio e todos os desenvolvimentos discursivos possíveis. E isto é, bem entendido o mais difícil.” (Morin, 2008, p. 82).

Assim partimos da ideia “infantil” do infinito, mas que é a grande complexidade também científica do pensamento moderno, a imensidão do universo que é 96% massa e energia escura é ainda misteriosa, mas pode nos ajudar e por fim a ideia que neste infinito há mais do que uma energia, há um Ser vivo que precede o próprio universo pode ser outra “ideia infantil” e generosa: Deus.

A escatologia que decorre destes dois fundamentais um universo misterioso e um Ser que precede a tudo (na escatologia cristão é um Deus trinitário, que é também o ‘homem divino’ Jesus), podem nos dar um diálogo novo no qual o que pensamos sobre matéria, espírito e ciência pode mudar.

A relação essencial de Deus, através de Jesus com o mundo tem como ponto crucial a substituição da metáfora do cordeiro que Abraão matou em lugar do filho (a origem de cordeiro de Deus vem daí), e está manifesta pelo evangelista João sobre João Batista (Jo, 1,29) que viu Jesus se aproximar e disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”, disse muito antes da morte de Jesus.

O quadro de Josefa d´Obidos que já postamos aqui em virtude da construção de uma instalação com um holograma, está representado acima.

 

Totalidade e Infinito

16 jan

O complexo é fundamental para se entender a totalidade, escreveu Edgard Morin: “apenas o pensamento complexo poderá civilizar nosso pensamento” (Morin, 2008, pg. 23), na ausência de um discurso totalizador e abrangente é ele próprio o pensamento complexo.

Giordano Bruno foi o primeiro a intuir que o infinito era fundamental para o nascente pensamento moderno, mas este se refugiou no dualismo racional (objetivismo x subjetivismo) e na finito humana que não admite o mistério e o infinito presente na totalidade cósmica.

O pensamento atual, graças a complexidade física que veio dos quanta e da teoria da relatividade, é lançado para as profundezas do universo para pensar a matéria e a energia escura e seus novos e excêntricos fenômenos que desafiam os modelos atuais de física, de ciência, e quiçá de religião.

Edgar Morin antes de refletir sobre a virada paradigmática, diz que o Ocidente “filho fecundo da esquizofrênica dicotomia cartesiana e do puritanismo clerical, comanda também o duplo aspecto da práxis ocidental, por um lado antropocêntrica, etnocêntrica, egocêntrica desde que se trata do sujeito (porque baseada na auto-adoração do sujeito: homem, nação ou etnia, indivíduo) por outro e correlativamente manipuladora, gelada “objetiva” desde que se trata do objeto” (Morin, 2008, p. 81).

Sem considerarem-se dogmáticos, arrogantes e autorreferenciadores, este pensamento mesmo quando projeta para o Infinito, mesmo apelando a Deus e mesmo invocando o diálogo são eles próprios arrogantes, basta a mínima dose de questionamento para notar-se a prepotência.

Ora, mesmo para o religioso admitir o mistério é imprescindível para admitir a ideia de Deus e de infinito, enquanto para o pensamento “racional” (não o racionalismo dogmático) admitir a complexidade dos fenômenos não é senão fazer ciência séria e investigar de fato a natureza por um lado e admitir o lugar do homem dentro dela a única possibilidade de superar a arrogância objetivista e egocêntrica do pensamento moderno.

O infinito que é também reivindicado por pensadores atuais como Ricoeur, Lévinas que explicou o sentido de alteridade diante do Infinito: “A idéia do infinito não parte, pois, de Mim, nem de uma necessidade do Eu que avalie exatamente os seus vazios. Nela, o movimento parte do pensado, e não do pensador.” (Levinas, 1988, p. 49).

LEVINAS, Emmanuel. Totalidade e infinito. Tradução José Pinto Ribeiro, Lisboa- Portugal, Edições 70, 1988.

 

 

 

Giordano Bruno, além do herege

15 jan

Li em minha juventude “La cena de las cenizas” de Giordano Bruno, um dos seis diálogos escritos em italiano, escritos durante sua estadia de dois anos em Londres (1583-1585).

O sacerdote dominicano, discutiu neste livro a revolução copernicana, e embora tenha tido a acusação de herege, sua discussão não era outra que a escatologia cristã em sua cosmovisão além de seu tempo que vislumbrava os caminhos do s infinitos mundo e sua visão de Deus.

Pagou com a própria vida, sendo queimado vivo em 17 de fevereiro de 1600 em Roma, mas todos os seus comentaristas afirmam que o seu diálogo abriu caminho para uma nova ligação entre os caminhos da cosmologia e da filosofia, porém contrário a cosmovisão cristã medieval.

Sua filosofia foi além das limitações da razão (matemáticas e logicas) utilizando para sua ousada visão uma amalgama de fatos básicos e da realidade cósmica, mas sem deixar de lado uma reflexão que conduzia a uma ação humanística.

Também fugiu do empirismo e usou experimentos mentais dos quais deduzia as ramificações de sua cosmovisão, alguns interpretes afirmam que se utilizou de raciocínio parecido aos que Einstein e utilizou para suas intuições acerca do universo.

Ao referir-se ao cosmos como realidade infinita, Bruno foi além das esferas de Aristóteles e Ptolomeu, para ele assim como para Kepler, Paracelso e Nicolas de Cusa o universo é um ser vivente que guarda uma unidade essencial que reúne todos os seres particulares, que não são mais que emanações do /todo, esta visão cosmologia influenciou todo o Renascimento.

Sua cosmovisão que não triunfou no Renascimento, pereceu e interrompeu perante o surgimento da razão cartesiana, do idealismo e o empirismo de Hume, mas merece ser relida e estudada como uma forte influência no pensamento renascentista.

Veja o que foi dito sobre Giordano Bruno na famosa série cosmos:

https://www.youtube.com/watch?time_continue=6&v=XzTREw3AKEQ&feature=emb_logo

 

Uma releitura dos reis magos

03 jan

Em tempos de fundamentalismo e intolerância religiosa, uma releitura dos reis magos que foram adotar e também “contemplar” o nascimento de Jesus é essencial para o diálogo entre religiões.

A primeira necessária é que Deus se comunicou com os “magos” do oriente, ela pode reabrir corações fechados para re-ligações (religião do verbo em latim religare que é religar), pois eles não eram sequer religiosos no sentido convencional, mas magos e Deus os religou.

A segunda é que a comunicação divina foi através de astros, que significa que eles podiam entender esta linguagem e que Deus falou na língua humana deles, ou seja, há formas além das dogmáticas de comunicação entre Deus e os homens, mesmo não crentes.

A cosmologia é uma parte antiga e fundamental da filosofia, sua evolução e composição estuda o universo, e vem desde a antiguidade, os pré-socráticos a estudavam, buscam também a explicação da origem e da transformação da natureza e do universo e constroem mitos e divindades, criando uma relação entre seres mortais e imortais.

Então Deus não é tão indiferente a isto, uma proposta universal não deve desconsiderar a cosmologia, e se deseja construir uma cosmogonia, isto é princípio e fim de toda a vida, então uma escatologia é também construída, e a escatologia cristã pode estar relacionada a esta, não é afinal Deus princípio e fim de tudo ?

Esta segunda releitura, a questão dos astros, de fato ainda hoje se buscam evidencias cosmológicas da estrela que os Reis Magos seguiam, um astro, um cometa, isto poderia ajudar a datar o natal de uma data mais precisa.

Teólogos como Teilhard Chardin não deixaram de considerar a hipótese cosmológica, a noção de um universo cristocêntrico ajuda a uma interpretação não fundamentalista de uma escatologia mais complexa, e por isso recorremos (no post de 3/4/2019) a São Gregório de Nazianzeno (a igreja católica o comemora dia 2 de janeiro).

A terceira é que os reis magos foram “contemplar” o menino-Deus, além da vita activa, Hannah Arendt também falou dela em A condição Humana (publicado em 1956, com edição brasileira de 2009), que vem da conferencia Trabalho, Obra e Ação (publicação brasileira de 2006), mas já falavam desta questão Aristóteles no bios politikos e a vita negotiosa ou actuosa em Agostinho, e, recentemente Byung Chull Han em A sociedade do cansaço.

Mas não vieram adorar apenas, onde o elemento oferecido incenso é essencialmente isto, mas também trouxeram ouro no sentido de riqueza e mirra no sentido de sacrifícios oferecidos.

Os reis magos deveriam significar a abertura do cristianismo a outras linguagens e outras culturas que também são uma expressão do infinito, do universo e da vida construída de modo sagrado em todos e em tudo.

Primeira publicação: janeiro 2019