Arquivo para a ‘Física’ Categoria
Eclipse, sombra e penumbra
Vimos aspectos históricos e místicos do Eclipse anular, agora nos fixemos só no fenômeno.
O Eclipse é um fenômeno natural que ocorre quando um corpo está dentro de uma região de sombra provocada por outro corpo que possui luz suficiente para reduzir a luminosidade, no caso do eclipse solar, o Sol é o astro luminoso e a Lua se posiciona entre o Sol e a Terra, produzindo uma sombra sobre a Terra.
Para que a Lua projete uma sombra sobre a Terra ela deve estar na fase de Lua Nova, que é quando ela está entre o Sol e a Terra e possui um leve semi-arco em uma de suas bordas.
Para entender melhor como ocorrem os eclipses, precisamos conhecer os conceitos de sombra e de penumbra.
A sombra é quando a partir de uma fonte pontual de luz (ou seja, suas dimensões podem ser desprezadas como se fosse um único ponto) ela se projeta sobre um objeto intermediário menor que produzirá uma sombra sobre o objeto maior, esta sombra também pode ser chamada de umbra.
Já a penumbra existe uma fonte extensa de luz, que deve ser levada em conta quando a fonte de luz é muito grande ou está próxima do objeto, no caso do Sol ele é suficientemente grande para produzir, a partir da luz sobre a Lua, uma sombra e uma penumbra sobre a Terra (figura).
Assim os raios de luz não saem de um único ponto, devido as dimensões do Sol, mas de diversos pontos, assim haverá uma região em que produz uma sombra, mas outras com iluminações parciais que produzem alguns tons de penumbra.
Eclipse, a Teoria da Relatividade e Sobral
Além de fatores místicos e históricos, a eclipse auxiliou o desenvolvimento tanto da física como da astronomia, há uma relação curiosa entre um eclipse, a Teoria da Relatividade e a cidade brasileira do Estado do Ceará: Sobral.
No dia 29 de maio de 1919 o céu sobre a cidade de Sobral, cidade do interior do Ceará amanheceu nublado (foto feita pelo Observatório Nacional em 1919) e o esforço da comitiva de astrônomos que foi até lá para observar o eclipse e provar as ideias revolucionárias de Albert Einstein seriam em vão.
Felizmente as nove horas da manhã abriu-se um espaço entre as nuvens e foi possível fazer as observações desejadas.
As ideias de Einstein era que haveria uma distorção nas dimensões espaço-tempo e que esta estaria ligada a proximidade dos corpos massivos, assim enunciada:
“A trajetória da luz pode ser distorcida se tiver um corpo massivo distorcendo o espaço-tempo na trajetória dela, com isso parece que a fonte que emitiu aquela luz está numa posição diferente.”
Com equipamentos sensíveis, foi possível fazer esta comparação nas posições durante o eclipse e após ele, o que ocorreu em maio de 1919, já em dezembro depois de meses estudando as observações foi anunciado que a teoria de Einstein estava correta, e este é um fato que tornou ultrapassada a teoria de espaço e tempo absolutos.
A observação se deu graças a intensa colaboração entre o Brasil e a Inglaterra, nela estava o célebre astrônomo inglês Arthur Eddington, da Royal Astronomical Society e o brasileiro Henrique Morize, então diretor do observatório Nacional (ON) e Sobral foi escolhida por apresentar melhor visibilidade do eclipse.
Cem anos após o evento, no ano de 2019 foi comemorada a parceria Brasil-Reino Unido em Ciência e Inovação, a física brasileira Anelise Pacheco, diretora do MAST (Museu de Astronomia e Ciências Afins) declarou na época: “Sem cooperação, inexiste ciência”, isto também vale para os dias de hoje.
Eclipse anular: dados históricos e místicos
Dia 14 de outubro deverá acontecer um eclipse anular, aquele que a lua deixa um pequeno anel com luz do sul e se estabelece no centro do astro rei, e que tem dados históricos e místicos curiosos.
O primeiro eclipse narrado historicamente, por Heródoto, descreve a batalha dos Medos e Lídios (590-585 a.C.) que terminou com um acordo após terem percebido que o dia virou noite e na compreensão deles as trevas deviam cessar pela paz, Heródoto descreve-a assim:
“No sexto ano da guerra, travou-se uma batalha e, quando a luta tinha começado, de repente, o dia se transformou em noite. (…) Os Lídios e os Medos, quando viram que a noite substituíra o dia, cessaram sua luta, ansiosos de que a paz se estabelecesse entre eles.” Heródoto (1.74).
Antes de cálculos da data do eclipse acreditava-se que a batalha teria sido travada em 30 de setembro de 610 a.C. (de acordo com o dicionário dos gregos e Romanos de William Smith), porém os cálculos astronômicos modernos estabeleceram a data de 28 de maio de 585 a.C.
O segundo dado foi estabelecido com ajuda da leitura bíblica das batalhas em Israel de Ajailon e Gibeão, que ajudaram, segundo a BBC, a revelar a data de um eclipse ainda mais antigo, no tempo da retomada de Israel pelos judeus que retornavam do exílio egípcio, a leitura que ajudou a revelar esta data, conhecida também como oração de Josué é esta (Josué 10:12-14): “Sol, detém-se sobre Gibeão, e tu, Lua, sobre o Vale de Aijalom”.
A reportagem da BBC o físico Colin Humphreys, diretor de pesquisas da Universidade de Cambridge na Inglaterra, e o astrofísico Graeme Waddington usando esta passagem calcularam a data do eclipse anular e encontraram o dia 30 de outubro de 1207 a.C.
A reportagem cita ainda que a primeira pessoa a sugerir tal data foi o linguista Robert Wilson (1918) e que sugere até uma releitura do texto bíblico:
‘Eclipse, ó Sol, em Gibeão,
E a Lua no Vale de Aijalom´.
Já que hoje sabemos que haverá uma faixa onde o eclipse é total (imagem) e faixas ao lado onde o eclipse dá uma sombra parcial.
Heródoto, Histórias, Livro I, Clio, 74.
Deus e o tempo não existem
Nem bem explicamos direitos a física quântica e a relatividade geral e a física parece estar em crise, filósofos e físicos parecem ter encontrado paradigmas e fenômenos estranhos em observações do universo e da física das partículas, qual a relação com Deus, mas há algo além do espaço-tempo e Deus é (existir é no espaço-tempo).
Não se trata da descoberta da partícula de Higgs ou partícula de Deus, comprovada sua existência, mas de uma especulação ontológica que agora se leva a sério, sempre afirmamos um princípio da dualidade, ou seja, A é falso ou Verdadeiro e não podendo ser os dois ao mesmo tempo e também se formos de A para B devemos passar por B intermediário, esta é a ontologia tradicional.
Assim desde os pré-socráticos até Kant o tempo era absoluto e esta física se comprovava, entretanto da descoberta física do terceiro incluído, este chamado “nível de realidade” traz o questionamento contemporâneo do questionamento do que é existência e Ser, uma nova abordagem científica, social e espiritual sob um método chamado de Transdisciplinaridade.
Não foram religiosos que o proclamaram, mas físico como Barsarab Nicolescu, educadores e filósofos como Edgar Morin e artistas como Lima de Freitas, um serigrafista e pintor português, que assinaram a Carta da Transdisciplinaridade de Arrábida.
Para teólogos e místicos que estão de acordo com este princípio, Deus existe uma vez que entrou na história através do “Deus Homo” Jesus, Deus é através do Ser divino eterno e Deus é comunicação através do Espírito Santo, a hipótese trinitária parece perfeita.
Se existiram manifestações divinas, Teofanias quase sempre sujeitas a contestação apesar de inúmeras contestações, tanto teoricamente quanto praticamente parece cada vez mais perto um momento de grande abertura da “clareira” de uma consciência geral.
Claro que há falsificadores, como sempre houveram na filosofia, nas ciências e nas religiões, onde a fantasia e o imaginário podem ter asas, porém há gente séria e que sabe que o fenômeno existe pelo menos na consciência de bilhões de crentes no mundo todo, em todas culturas e também cientistas, filósofos e psicólogos sérios tem suas crenças.
A realidade presente ao mesmo tempo que aumentaram falsificadores e falsos profetas, parece aproximar-se daquele momento em que o Homo Deus histórico Jesus afirmou (Jo 1,51): E Jesus continuou: “Em verdade, em verdade, eu vos digo: Vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem”, que era como Jesus curiosamente se referia a sua própria existência para dizer que se fez homem.
Os eventos em vários aspectos parecem convergir para isto e é grande esperança para uma humanidade confusa, uma civilização em crise e uma realidade dura.
Teofania existiu, existe ?
Quando temos uma clarificação ou um insight, podemos dizer que há uma re-velação, algo novo desponta, mas não temos ainda uma ideia finalista ou total sobre determinado mistério, então é velado de novo.
Não se pode confundir com sentimentalismo ou mesmo uma fortíssima emoção, ela pode ser re-veladora (no sentido de velar de novo) porém as consequências e o fim último daquela emoção vão depender de outras novas re-velações, pois são só afetos e emoções temporais.
Desvelar é algo bem mais profundo, significa tirar o véu, a própria ciência tem uma evolução ao longo da história, as chamadas “estruturas da revolução científica” do físico e filósofo da ciência Thomas Kuhn, noutra linha, Karl Popper desenvolveu a ideia do método científico da falseabilidade, que é sempre estar atento as limitações das teorias científicas.
Desvelar significa não se restringir aos aspectos materiais, empíricos e quantitativos da realidade, almeja entender racionalmente o ente real como um todo a partir de suas causas últimas, assim as causas e afetos temporais não estão em jogo, ou seja, não é re-velação.
É possível desvelar mistérios por caminhos científicos, as ideias quânticas desde Werner Heisenberg (A parte e o todo. 2008), passando por Einstein (Teoria da Relatividade) e Neils Bohr que escreveu sobre a teoria de correspondência (átomos e radiação): “parece ser possível lançar uma luz nas imensas dificuldades, pela tentativa de traçar uma analogia entre a teoria quântica e a teoria ordinária da radiação, da maneira mais próxima possível”, depois o modelo avançou.
No desvelar da narrativa bíblica ocorre uma Teofania, uma manifestação divina onde nenhuma explicação humana é razoável e há nelas alguma verdade “eterna” que a confirma.
No caminho bíblico-histórico que percorremos do êxodo, há uma passagem da Teofania (Ex 40:34-35): “Então a nuvem cobriu a Tenda da Reunião e a glória do Senhor encheu o santuário. Moisés não podia entrar na Tenda da Reunião, porque a nuvem permanecia sobre ela, e a glória do Senhor tomava todo o santuário”.
Isto ocorre também hoje, há manifestações e Teofanias? Sim e até mesmo instituições religiosas duvidam, e elas não tem a ver com as falsas profecias com interesses particulares.
Li um livro na juventude de um iogue e guru indiano Paramahansa Yogananda, em que ele descrevia uma pessoa que conheceu na Alemanha que comia apenas uma “hóstia” consagrada e não tinha uma aparência débil ou doentia, também um herói da unificação da Suíça, Nicolau de Flüe (1417- 1487) viveu o final de vida assim, com permissão da família e da esposa.
O fotografo judeu Judah Ruah do noticiário “O século”, de uma família tradicional judaico-portuguesa, publicou uma foto para o jornal Illustração Portugueza, em 29-09-1917, fotos do chamado milagre de Fatima prometido aos 3 pastorinhos videntes, ocorrido em 13 de outubro de 1917 e que foi anunciado anteriormente por eles como prova de que os sinais místicos que recebiam eram verdadeiros, foram para lá quase 100 mil pessoas (foto), as pessoas todas viram o Sol dançar no céu.
Claro que depois houveram várias explicações científicas para o fenômeno, porém é interessante os 3 pastorinhos anteciparem o dia exato em que o fenômeno ocorreu e por isto a multidão presente, numa aldeia que ainda hoje é pequena e distante de grandes centros.
No caso da Teofania portuguesa é importante notar que antecede a 1ª. Guerra mundial e pede orações pelo futuro da humanidade, com o perigo de guerra poderia acontecer hoje também?
BOHR, Neils. O Postulado Quântico e o Recente Desenvolvimento da Teoria Atômica. Trad. Osvaldo Pessoa Jr. In: Fundamentos de Física I – Simpósio David Bohm. Org. O. Pessoa Jr. São Paulo: Livraria da Física, 2000. p. 135-159, 1928.
HEISENBERG, Werner. A Parte e o Todo: Encontros e Conversas sobre Física, Filosofia, Religião e Política. 4. reimpr. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto, 2008.
Enxergando longe e cegando perto
Recentemente observatório especial James Webb enxergou a galáxia mais distante que o homem já pode observar, a galáxia chamada JADES-GS-Z13-0 (foto) está aproximadamente a 320 milhões de anos de anos do Big Bang, o que para nós é uma medida grande, para um universo de 13,5 bilhões de anos significa relativamente alguns segundo após o Big Bang (uma das teorias da formação do universo).
Por outro lado, assistimos a um mundo cada vez mais instável, mais injusto, impiedoso e perigoso, e com um perigo nuclear catastrófico próximo, parece que boa parte da humanidade trata como se tudo fosse uma normalidade, pouco se importando com o destino do planeta e do processo civilizatório que não está estagnado, mas regredindo em passos assustadores.
A estranheza desta descoberta do universo está ao mesmo tempo em que encontramos quantidades de Carbono e Oxigênio nestes corpos, o mesmo James Web descobriu um pouco depois que mais seis galáxias (Jades foi descoberta com outras três “perto”), que eram muito massivas onde se esperava no início do Universo corpos menores do que foram encontrados lá.
A descoberta mostrou que eles têm massas de aproximadamente 100 milhões de massas solares, enquanto o normal seria para galáxias mais jovens massas menores, a nossa Via Láctea por exemplo mais “velha” tem uma massa de 1,5 trilhão de massas solares.
Além disso é um berçário de estrelas, cerca de três sóis nascem lá todos anos, e suas massas são pobres em metais de substâncias químicas mais pesadas que o hélio e hidrogênio (lembremos que eles estão no topo da tabela periódica química a direita e a esquerda).
Se isto devolve a humildade ao conhecimento que temos do universo, o mesmo não acontece com cientistas sociais, antropólogos e paleontólogos, que quanto mais descobrem sobre a nossa origem no planeta, por exemplo que neandertais e o homo sapiens conviveram e até se cruzaram criando uma humanidade diversa, pouco tolerantes estamos com raças e culturas.
E a intolerância significa menos paz, mais perigos e agora não temos pedras, machados e arcos, temos armas nucleares e perigosas usinas atômicas que estão sujeitas não só aos limites humanos, mas também aos naturais e geológicos.
A geosfera e biosfera dependem hoje como nunca antes na história da noosfera e daquilo que cultivamos como cultura civilizatória e como visão das outras culturas e raças.
Cosmogonia, cosmológica e escatologia
Já desenvolvemos aqui a ideia de Kosmos na filosofia grega, que é um tempo que designa todo universo em seu conjunto, mas é também “ordem”, “beleza” e “harmonia” para os gregos, agora com potentes telescópios como o Hubble e o James Webb sabemos que há também um caos e uma desarmonia no universo, mas fica a pergunta mais profunda: como tudo começou?
Cosmogonias são um corpo de doutrinas, desde princípios religiosos e míticos até os científicos que procuram explicar a ordem e o princípio do universo em sua cosmogênese.
Na medida que o homem tornou-se mais sedentário procurou adaptar-se melhor a natureza para satisfazer as necessidades dos animais e plantas, precisando por isto olhar para o céu e entender as estações do ano para controlar melhor as plantações e pastagens para os animais.
Praticamente todas as civilizações (ou era civilizatórias) elaboraram suas cosmogonias, por exemplo, na civilização ocidental o modelo geocêntrico de Ptolomeu (a terra é o centro), passou para o modelo copernicano (o modelo heliocêntrico), agora com a potência do James Webb estamos olhando para as primeiras galáxias e isto é possível por que a luz que chega até nós já viajou vários anos luz, então estamos vendo uma imagem do passado.
Assim nossa visão da cosmogênese vai aos poucos se modificando, no momento por exemplo, o telescópio que trabalha com um espectro diferente da luz, o infravermelho, conseguiu avistar uma galáxia de 400 milhões de anos depois do big bang (se esta teoria estiver certa), o que significa 13,5 bilhões de anos atrás (foto), ou seja, estamos vendo quase nossa cosmogênese.
A cosmologia então se encontra cada vez mais próxima da cosmogênese e isto significaria uma visão das duas, mas ainda faltam as questões essenciais: de onde viemos e para onde vamos?
Falta assim uma visão escatológica, principio e fim, e uma questão já é certa, embora o planeta possa entrar em colapso e com ele nossa civilização, por ação de um cataclismo externo ou uma destruição de artefatos humanos: uma guerra, o próprio perigo de tantas usinas nucleares no planeta, lembremos o incidente de Fukushima em 2011 e Chernobyl, o planeta tem hoje 440 ativas e 23 em construção, além do arsenal militar em diversos países.
Em meio ao vento tempestuoso de nosso tempo, a cosmogonia cristã se ampara e espera na presença divina daquela leitura que diz (Mt 8,27): “Quem é este homem, que até os ventos e o mar lhe obedecem?” quando os apóstolos o acordam na barca por causa do tempo e oceano bravio.
Verdade e Noosfera
O conceito de Noosfera vem de Volodymyr Vernadsky (1863-1945) depois adotada e desenvolvida por Teilhard de Chardin (1881-1955), é a ideia de uma terceira camada além da Geosfera (camada inanimada) e da Biosfera (vida biológica) que desenvolve o pensamento humano, não apenas do ponto de vista do conhecimento, mas de tudo aquilo que motiva o Ser, as paixões, culturas e decisões que são tomadas e desenvolvem a maneira como nos relacionamos e convivemos em sociedade.
Porém desde que nos organizamos em sociedade o desenvolvimento cultural onde as camadas de estruturas e formas de repasse das culturas acontecem e se desenvolvem já formam uma camada de “pensamento” da sociedade.
Teilhard de Chardin, que além de paleontólogo era um padre jesuíta, elaborou que todo o universo está envolto com esta camada de “pensamento” e que ela está em constante evolução, o que valeu durante muito tempo algumas objeções por parte de religiosos.
Com o olhar no Google e também atentos a “inteligência” de mecanismos como o ChatGPT, o Bard da Google, o Bing da Microsoft e outros, leva necessariamente a uma discussão do que é Inteligência Artificial.
Já indicamos o livro de Jean-Gabriel Ganascia “O mito da singularidade” sobre a falsidade de algumas tecnoprofecias sobre a máquina ultrapassar a inteligência humana, pode-se ver também a recente entrevista de Miguel Nicolelis, um renomado cientista brasileiro, conhecido por suas pesquisas em neurociência.
Assim esta esfera do pensamento vive em constante evolução e as ferramentas e tecnologias são partes subjacentes a esta evolução, entretanto é preciso entender o que de fato elas são e como podem contribuir com a vida no planeta, é a colaboração da noosfera com a biosfera.
A verdade é aquela que se estabelece como realidade diante dos desafios humanos, muitas coisas estão fora do pensamento humano, como cataclismos e eventos em corpos celestes, porém é importante o desenvolvimento saudável desta esfera do pensamento humano.
Para Teilhard de Chardin, também a parte espiritual colabora e participa deste desenvolvimento, para ele todo universo é divino e cristocêntrico, ou seja, uma revelação de amor ao homem e a vida.
Sobre falsas profecias é bom lembrar a passagem de Mt 7,15: “Cuidado com os falsos profetas: Eles vêm até vós vestidos com peles de ovelha, mas por dentro são lobos ferozes”, mas é fácil de reconhece-los alerta a leitura: árvores más dão maus frutos.
A questão da consciência do Ser
Graças a novo e surpreendente avanço das máquinas de inteligência profunda (deep learning) a questão da consciência, que já era pensada na filosofia, agora espalha-se por todas áreas do pensamento, e o que tratamos nos posts anteriores tratam disto também.
Agora trata-se de decidir se é possível pensar a consciência apenas como algo lógico e instrumental, então a máquina através de algoritmos profundos e elaborados em diálogo com humanos poderia alcançar este patamar, se algo além, que reformulamos na categoria para-si, então temos que pensar numa consciência do universo e ela não pode ser uma coisa, mas um Ser.
Porque há algo e não o nada é uma questão levantada desde Leibniz, que a resolve através da mônada, e Deus é (seria) a “Mônada das mônadas” (a frase é de Hegel, sic!), depois o universo foi colocando em movimento, depois num espaço-tempo quântico, o Big Bang, e agora o telescópio James Webb capta uma imagem que seria de uma possível origem do universo, com muitas galáxias, algo está errado.
Em artigo publicado na revista Nature em 22 de fevereiro, “A population of red candidate massiva galaxies 600 Myr after Big Bang”(Labbé at all, 2023) (Myr, milhões de anos luz) indica que próximo ao big bang já haveriam galáxias massivas e não as primeiras formações das nebulosas, por exemplo (ver nosso post), então será que já havia um universo em formação deste o início ?
Independente disto permanece a questão: quem o que ou que mistério envio o início de tudo.
Assim como não se pode falar da ética sem a metafísica, ela não é algo substancial e sim espiritual, também não se pode falar da consciência apenas como algo natural, baseada na experiência.
Partindo da fenomenologia husserliana, o seu discípulo Heidegger elaborou a consciência assim: fenomenologia (experiência) da consciência não é um caminho que se encontra ante a consciência natural e que a conduz em direção do absoluto, como um itinerarium mentis in deum (HEIDEGGER, 2007, p. 169), antes é o curso que segue o próprio absoluto no caminho à verdade do seu aparecer completo. (HEIDEGGER, 2007, p. 169)
Mas Heidegger segue como em todo o edifício moderno, tem a questão do saber como pilar da consciência natural, não admite uma consciência revelada transcendente (para-si), sendo assim um saber que ainda não realizou em si toda a verdade (HEIDEGGER, 2007, p. 169).
Assim trata-se de negar a verdade revelada como verdade, embora sua consciência permaneça ligada ao Ser (é ontológica como seu pensamento), não há possibilidade um puro Ser primordial, um Ser-para-si, onisciente e onipotente, então ficamos olhando para a imagem do telescópio.
Há uma para-si transcendente que envolve esta questão, e assim uma consciência que se projeta além até mesmo do início do universo, e que ao mesmo tempo é presente em cada ser-em-si.
HEIDEGGER, Martin. Hegel. Traducción de Dina V. Picotti C. Buenos Aires: Prometeo Libros, 2007.
Mudanças na terra e no céu
Pouco se analisa as grandes mudanças sociais na história da terra e na vida humana, a terra veio muito antes da vida humana, também representaram a visão do homem sobre o universo e seus mistérios, e assim há uma correspondência entre mudanças terrenas e sua correspondente cosmogonia, se isto é só uma coincidência ou uma providência divina depende da própria cosmovisão, mas ela se alterou é certo.
Assim a visão d cosmos no início da Antiguidade Clássica é tão evidente quanto o nascimento da polis grega e suas consequenciais para o mundo moderno, Aristarco de Samos (310 a.C. — 230 a.C.) chegou a calcular o raio da Terra muito antes da circo navegação (Fernão de Magalhães 1512), e também no final da Idade média a Ideia do Geocentrismo ptolomaico cedeu ao heliocentrismo copernicano e a mudança do feudalismo para o liberalismo moderno pode ser vinculada a esta mudança de visão astronômica.
Em tempos atuais inicialmente o Hubble e agora o James Webb tem feito o homem olhar para os confins do universo e já se inicia até mesmo uma mudança na modernidade teoria da relatividade, os buracos negros e os caminhos de minhoca (hormholes) mostram um universo em maior mutação do que esperávamos, nascem e morrem milhares de galáxias por todo universo e nosso sistema é apenas um grão de areia.
Talvez a grande revolução seja a mudança da concepção de tempo, podemos olhar para o nascimento do Universo (veja nosso post sobre o locus divino) que pode não ser chamado de eternidade, porém é mais do que simples dimensão absoluta de tempo e espaço, e talvez seja mais do que a dimensão espaço-temporal de Einstein.
No caminho bíblico Adão e Eva surgem num momento em que o homem já é sedentário e não mais nômade, já que Caim era lavrador da terra e Abel pastor de ovelhas, quem sabe a morte de Caim foi o primeiro conflito de terra da humanidade, o certo é que este fato está vinculado a uma visão de mundo nova sedentária, assim como Noé corresponderá a um dilúvio, ou quem sabe uma simples inundação ocorrida na península arábica, já que ela fica abaixo do Negro, onde observamos o estreito bósforo, caminho de mar entre o Mar Negro e o Mar Mediterrâneo.
Assim o tempo de Noé pode ter significado uma mudança geográfica pelo menos naquela região do planeta que implicou na transformação ocorrida mais abaixo entre os rios Tigre e Eufrates, berço da civilização árabe, e se não há registro histórico de Noé, há de sua descendência: os semitas, de seu filho Sem, que povoara a região.
Assim ao falar das transformações que passariam céus e terras, a leitura bíblica de Lucas (Lc 24,37-39): “A vinda do Filho do Homem será como no tempo de Noé. Pois nos dias, antes do dilúvio, todos corriam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. E eles nada perceberam, até que veio o dilúvio e arrastou a todos. Assim acontecerá na vida do Filho do Homem”, a segunda vinda chamada de Parusia.
A grande crise civilizatória não deverá ser assim apenas uma mudança de estrutura social, mas ela certamente acompanhará uma mudança física no planeta, já que suas forças ambientais estão se esgotando.