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Arquivo para a ‘Física’ Categoria

A identidade terrestre e o buraco negro

01 nov

O Capítulo 2 do livro de Edgar Morin é “A carteira de Identidade terrestre” ali ele desenvolve a partir das descobertas da astrofísica, da biologia, da paleontologia as ideias sobre a vida do universo, que a natureza da Terra e da própria vida do homem foram “subvertidas nos anos 1950-1970” e ainda não tínhamos o James Webb e a descoberta dos laços entre o homo sapiens e os neandertais.

“Depois, com Copérnico, Kepler, Galileu, a Terra deixou de ser o centro do universo e tornou-se um planeta redondo em torno do Sol, a exemplo dos outros planetas” (pag. 43) e parecia “testemunhava a perfeição de seu criador divino” pela ordem e regularidade, até que se descobriu um universo em expansão a partir das observações do afastamento das estrelas de  Hubble em 1923, o astrofísico daria depois o nome ao famoso telescópio já superador pelo James Web.

No começo do século XIX, “Laplace expulsou o Deus Criador de um universo auto-suficiente e que se tornara uma máquina perfeita para toda a eternidade” (pg. 44) e não citado ali, mas Também numa Conferência de matemática no início do séc. XX Hilbert propõe alguns últimos problemas não resolvidos pela matemática, para dizer que tudo ela lógico e matemático.

Em 1965, Arno Penzias e Harold Wilson dariam fatos para esta expansão do universo como uma “irradiação isótropa proveniente de todos os horizontes do universo” e esse “ruído de fundo cosmológico” uma espécie de “resíduo fóssil” da deflagração inicial da explosão inicial que confirmaria a famosa teoria do Big Bang, hoje os novos dados põe em dúvida isto, mas algo ficou deste período que é a concepção de anti-matéria e a investigação de buracos negros.

A década de 60, quando Penzias e Wilson ganham um prêmio Nobel, traria novos corpos celestes entre eles: “os quasares (1963), pulsares (1968) (pg. 44), depois buracos negros, e os cálculos dos astrofísicos fazem supor que conhecemos apenas 10% da matéria, 90% sendo ainda invisível a nossos instrumentos de detecção” e que só agora o James Web olha.

O centro de nossa galáxia não é mais o sol, mas um buraco negro, e nele se desdobra toda uma nova visão do universo como “em seu princípio o Desconhecido, o Insondável e o Inconcebível” (pg. 44), eis-nos agora numa galáxia de 8 bilhões de anos após “o nascimento do mundo, e que, com suas vizinhas parece atraída a uma enorme massa invisível chamada “grande Atrator” “ (idem), que é um buraco negro.

E nós um pequeno planeta, surgido a 4 bilhões de anos, descobre-se que tem uma história, “e adquire forma no século XIX” e no limiar do século XX, o alemão Alfred Wegener elabora a teoria da deriva dos continentes, apesar da resistência inicial, comprovada posteriormente.

Após os seus longos períodos iniciais de esfriamento, formação dos primeiros microrganismos, e finalmente o homem aparece “ramo último e desviante da árvore da vida, aparece no interior da biosfera, a qual, ligando ecossistemas a ecossistesmas, envolve já todo o planeta”, esta nascimento inicial, em descoberta recente também une Neandertais e homo sapiens.

Se “Bacon, Descartes, Buffon, Marx lhe dão por missão dominar a natureza e reinar sobre o universo” (pg. 54), a partir de “a partir de Rousseau, o romantismo irá ligar umbilicalmente o ser humano à Natureza-Mãe” e assim tendo uma mãe o homem pode nascer e habitar esta Mãe-Terra.

MORIN, E. e Kern, A.B. Terra-Pátria. Trad. por Paulo Azevedo Neves da Silva. Porto Alegre : Sulina, 2003.

 

Eclipses do processo civilizatório

13 out

A harmonia entre os povos, a aceitação e tolerância das diferenças, o diálogo e a diplomacia sobre questões em conflito parecem estar mais longe do que nunca, como um eclipse anular, obscurece a luz e deixa passar somente um anel de fogo, e como são diversos pontos de fontes de Luz, também existem regiões de penumbras que ficam confusas parecendo uma noite.

Diversas pesquisas apontam que isto acontecem com os pássaros diante de um eclipse, veem que está escurecendo e se comportam como no anoitecer, diminuem as atividades, se recolhem e chegam quase a dormir, como o eclipse é rápido depois voltam as atividades normais.

Assim são processos civilizatórios, há períodos de obscuridade e parecem que poderão ser uma noite interminável, porém passado este momento vendo o equívoco do “sono” durante a penumbra, redescobrem a vida e voltam as atividades normais, no caso humano com uma nova perspectiva de paz e tolerância, claro deixa marcas sempre terríveis: mortes inocentes, destruição e miséria.

Podíamos ter preparado uma festa, o concerto e a harmonia entre os povos, não faltaram educadores, profetas e futuristas que tentaram desenhar este cenário, mas os homens têm sempre o livre arbítrio, no nosso caso, podemos escolher entre o eclipse e a penumbra e o dia.

Eclipse porque seja pelas forças naturais ou seja por intervenção divina, os que creem desejam e esperam este dia, ainda que pereça milhões de inocentes, o desejo de triunfo do bem, do bom senso e da paz entre os homens é sempre um caminho irreversível, ainda que sofram.

Há uma parábola bíblica que desenha bem este cenário, um homem preparava uma festa e como os convidados não vinham (escolheram outros caminhos), ele mandou buscar homens na rua, mas entre eles também havia um com trajes inadequados (atitudes anti festa) e pediu que fosse retirado, diz a leitura (Mateus 22, 10-12):

“então os empregados saíram pelos caminhos e reuniram todos os que encontraram, maus e bons. E a sala de festa ficou cheia de convidados.  Quando o rei entrou para veros convidados, observou aí um homem que não estava usando traje de festa e perguntou-lhe: ´Amigo, como entraste aqui sem o traje de festa?’ Mas o homem nada respondeu” e o rei pediu que o retirassem.

O processo civilizatório é assim, quem vencerá uma situação de conflito, todos perderão e ao final aqueles que estavam a margem do processo de conflito prepararão um novo caminho.

 

Walter, Jennifer. Lunar eclipses have one weird effect on birds. Inverse. 17 de março de 2022, Disponível em: https://www.inverse.com/science/lunar-eclipse-bird-flight

 

Eclipse, sombra e penumbra

12 out

Vimos aspectos históricos e místicos do Eclipse anular, agora nos fixemos só no fenômeno.

O Eclipse é um fenômeno natural que ocorre quando um corpo está dentro de uma região de sombra provocada por outro corpo que possui luz suficiente para reduzir a luminosidade, no caso do eclipse solar, o Sol é o astro luminoso e a Lua se posiciona entre o Sol e a Terra, produzindo uma sombra sobre a Terra.

Para que a Lua projete uma sombra sobre a Terra ela deve estar na fase de Lua Nova, que é quando ela está entre o Sol e a Terra e possui um leve semi-arco em uma de suas bordas.

Para entender melhor como ocorrem os eclipses, precisamos conhecer os conceitos de sombra e de penumbra.

A sombra é quando a partir de uma fonte pontual de luz (ou seja, suas dimensões podem ser desprezadas como se fosse um único ponto) ela se projeta sobre um objeto intermediário menor que produzirá uma sombra sobre o objeto maior, esta sombra também pode ser chamada de umbra.

Já a penumbra existe uma fonte extensa de luz, que deve ser levada em conta quando a fonte de luz é muito grande ou está próxima do objeto, no caso do Sol ele é suficientemente grande para produzir, a partir da luz sobre a Lua, uma sombra e uma penumbra sobre a Terra (figura).

Assim os raios de luz não saem de um único ponto, devido as dimensões do Sol, mas de diversos pontos, assim haverá uma região em que produz uma sombra, mas outras com iluminações parciais que produzem alguns tons de penumbra.

 

Eclipse, a Teoria da Relatividade e Sobral

11 out

Além de fatores místicos e históricos, a eclipse auxiliou o desenvolvimento tanto da física como da astronomia, há uma relação curiosa entre um eclipse, a Teoria da Relatividade e a cidade brasileira do Estado do Ceará: Sobral.

No dia 29 de maio de 1919 o céu sobre a cidade de Sobral, cidade do interior do Ceará amanheceu nublado (foto feita pelo Observatório Nacional em 1919) e o esforço da comitiva de astrônomos que foi até lá para observar o eclipse e provar as ideias revolucionárias de Albert Einstein seriam em vão.

Felizmente as nove horas da manhã abriu-se um espaço entre as nuvens e foi possível fazer as observações desejadas.

As ideias de Einstein era que haveria uma distorção nas dimensões espaço-tempo e que esta estaria ligada a proximidade dos corpos massivos, assim enunciada:

“A trajetória da luz pode ser distorcida se tiver um corpo massivo distorcendo o espaço-tempo na trajetória dela, com isso parece que a fonte que emitiu aquela luz está numa posição diferente.”

Com equipamentos sensíveis, foi possível fazer esta comparação nas posições durante o eclipse e após ele, o que ocorreu em maio de 1919, já em dezembro depois de meses estudando as observações foi anunciado que a teoria de Einstein estava correta, e este é um fato que tornou ultrapassada a teoria de espaço e tempo absolutos.

A observação se deu graças a intensa colaboração entre o Brasil e a Inglaterra, nela estava o célebre astrônomo inglês Arthur Eddington, da Royal Astronomical Society e o brasileiro Henrique Morize, então diretor do observatório Nacional (ON) e Sobral foi escolhida por apresentar melhor visibilidade do eclipse.

Cem anos após o evento, no ano de 2019 foi comemorada a parceria Brasil-Reino Unido em Ciência e Inovação, a física brasileira Anelise Pacheco, diretora do MAST (Museu de Astronomia e Ciências Afins) declarou na época: “Sem cooperação, inexiste ciência”, isto também vale para os dias de hoje.

 

Eclipse anular: dados históricos e místicos

10 out

Dia 14 de outubro deverá acontecer um eclipse anular, aquele que a lua deixa um pequeno anel com luz do sul e se estabelece no centro do astro rei, e que tem dados históricos e místicos curiosos.

O primeiro eclipse narrado historicamente, por Heródoto, descreve a batalha dos Medos e Lídios (590-585 a.C.) que terminou com um acordo após terem percebido que o dia virou noite e na compreensão deles as trevas deviam cessar pela paz, Heródoto descreve-a assim:

No sexto ano da guerra, travou-se uma batalha e, quando a luta tinha começado, de repente, o dia se transformou em noite. (…) Os Lídios e os Medos, quando viram que a noite substituíra o dia, cessaram sua luta, ansiosos de que a paz se estabelecesse entre eles.” Heródoto (1.74).

Antes de cálculos da data do eclipse acreditava-se que a batalha teria sido travada em 30 de setembro de 610 a.C. (de acordo com o dicionário dos gregos e Romanos de William Smith), porém os cálculos astronômicos modernos estabeleceram a data de 28 de maio de 585 a.C.

O segundo dado foi estabelecido com ajuda da leitura bíblica das batalhas em Israel de Ajailon e Gibeão, que ajudaram, segundo a BBC, a revelar a data de um eclipse ainda mais antigo, no tempo da retomada de Israel pelos judeus que retornavam do exílio egípcio, a leitura que ajudou a revelar esta data, conhecida também como oração de Josué é esta (Josué 10:12-14): “Sol, detém-se sobre Gibeão, e tu, Lua, sobre o Vale de Aijalom”.

A reportagem da BBC o físico Colin Humphreys, diretor de pesquisas da Universidade de Cambridge na Inglaterra, e o astrofísico Graeme Waddington usando esta passagem calcularam a data do eclipse anular e encontraram o dia 30 de outubro de 1207 a.C.

A reportagem cita ainda que a primeira pessoa a sugerir tal data foi o linguista Robert Wilson (1918) e que sugere até uma releitura do texto bíblico:

‘Eclipse, ó Sol, em Gibeão,

E a Lua no Vale de Aijalom´.

Já que hoje sabemos que haverá uma faixa onde o eclipse é total (imagem) e faixas ao lado onde o eclipse dá uma sombra parcial.

HeródotoHistórias, Livro I, Clio, 74.

 

Deus e o tempo não existem

24 ago

Nem bem explicamos direitos a física quântica e a relatividade geral e a física parece estar em crise, filósofos e físicos parecem ter encontrado paradigmas e fenômenos estranhos em observações do universo e da física das partículas, qual a relação com Deus, mas há algo além do espaço-tempo e Deus é (existir é no espaço-tempo).

Não se trata da descoberta da partícula de Higgs ou partícula de Deus, comprovada sua existência, mas de uma especulação ontológica que agora se leva a sério, sempre afirmamos um princípio da dualidade, ou seja, A é falso ou Verdadeiro e não podendo ser os dois ao mesmo tempo e também se formos de A para B devemos passar por B intermediário, esta é a ontologia tradicional.

Assim desde os pré-socráticos até Kant o tempo era absoluto e esta física se comprovava, entretanto da descoberta física do terceiro incluído, este chamado “nível de realidade” traz o questionamento contemporâneo do questionamento do que é existência e Ser, uma nova abordagem científica, social e espiritual sob um método chamado de Transdisciplinaridade.

Não foram religiosos que o proclamaram, mas físico como Barsarab Nicolescu, educadores e filósofos como Edgar Morin e artistas como Lima de Freitas, um serigrafista e pintor português, que assinaram a Carta da Transdisciplinaridade de Arrábida.

Para teólogos e místicos que estão de acordo com este princípio, Deus existe uma vez que entrou na história através do “Deus Homo” Jesus, Deus é através do Ser divino eterno e Deus é comunicação através do Espírito Santo, a hipótese trinitária parece perfeita.

Se existiram manifestações divinas, Teofanias quase sempre sujeitas a contestação apesar de inúmeras contestações, tanto teoricamente quanto praticamente parece cada vez mais perto um momento de grande abertura da “clareira” de uma consciência geral.

Claro que há falsificadores, como sempre houveram na filosofia, nas ciências e nas religiões, onde a fantasia e o imaginário podem ter asas, porém há gente séria e que sabe que o fenômeno existe pelo menos na consciência de bilhões de crentes no mundo todo, em todas culturas e também cientistas, filósofos e psicólogos sérios tem suas crenças.

A realidade presente ao mesmo tempo que aumentaram falsificadores e falsos profetas, parece aproximar-se daquele momento em que o Homo Deus histórico Jesus afirmou (Jo 1,51): E Jesus continuou: “Em verdade, em verdade, eu vos digo: Vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem”, que era como Jesus curiosamente se referia a sua própria existência para dizer que se fez homem.

Os eventos em vários aspectos parecem convergir para isto e é grande esperança para uma humanidade confusa, uma civilização em crise e uma realidade dura.

 

Teofania existiu, existe ?

03 ago

Quando temos uma clarificação ou um insight, podemos dizer que há uma re-velação, algo novo desponta, mas não temos ainda uma ideia finalista ou total sobre determinado mistério, então é velado de novo.

Não se pode confundir com sentimentalismo ou mesmo uma fortíssima emoção, ela pode ser re-veladora (no sentido de velar de novo) porém as consequências e o fim último daquela emoção vão depender de outras novas re-velações, pois são só afetos e emoções temporais.

Desvelar é algo bem mais profundo, significa tirar o véu, a própria ciência tem uma evolução ao longo da história, as chamadas “estruturas da revolução científica” do físico e filósofo da ciência Thomas Kuhn, noutra linha, Karl Popper desenvolveu a ideia do método científico da falseabilidade, que é sempre estar atento as limitações das teorias científicas.

Desvelar significa não se restringir aos aspectos materiais, empíricos e quantitativos da realidade, almeja entender racionalmente o ente real como um todo a partir de suas causas últimas, assim as causas e afetos temporais não estão em jogo, ou seja, não é re-velação.

É possível desvelar mistérios por caminhos científicos, as ideias quânticas desde Werner Heisenberg (A parte e o todo. 2008), passando por Einstein (Teoria da Relatividade) e Neils Bohr que escreveu sobre a teoria de correspondência (átomos e radiação): “parece ser possível lançar uma luz nas imensas dificuldades, pela tentativa de traçar uma analogia entre a teoria quântica e a teoria ordinária da radiação, da maneira mais próxima possível”, depois o modelo avançou.

No desvelar da narrativa bíblica ocorre uma Teofania, uma manifestação divina onde nenhuma explicação humana é razoável e há nelas alguma verdade “eterna” que a confirma.

No caminho bíblico-histórico que percorremos do êxodo, há uma passagem da Teofania (Ex 40:34-35):  “Então a nuvem cobriu a Tenda da Reunião e a glória do Senhor encheu o santuário. Moisés não podia entrar na Tenda da Reunião, porque a nuvem permanecia sobre ela, e a glória do Senhor tomava todo o santuário”.

Isto ocorre também hoje, há manifestações e Teofanias? Sim e até mesmo instituições religiosas duvidam, e elas não tem a ver com as falsas profecias com interesses particulares.

Li um livro na juventude de um iogue e guru indiano Paramahansa Yogananda, em que ele descrevia uma pessoa que conheceu na Alemanha que comia apenas uma “hóstia” consagrada e não tinha uma aparência débil ou doentia, também um herói da unificação da Suíça, Nicolau de Flüe (1417- 1487) viveu o final de vida assim, com permissão da família e da esposa.

O fotografo judeu Judah Ruah do noticiário “O século”, de uma família tradicional judaico-portuguesa, publicou uma foto para o jornal Illustração Portugueza, em 29-09-1917, fotos do chamado milagre de Fatima prometido aos 3 pastorinhos videntes, ocorrido em 13 de outubro de 1917 e que foi anunciado anteriormente por eles como prova de que os sinais místicos que recebiam eram verdadeiros, foram para lá quase 100 mil pessoas (foto), as pessoas todas viram o Sol dançar no céu.

Claro que depois houveram várias explicações científicas para o fenômeno, porém é interessante os 3 pastorinhos anteciparem o dia exato em que o fenômeno ocorreu e por isto a multidão presente, numa aldeia que ainda hoje é pequena e distante de grandes centros.

No caso da Teofania portuguesa é importante notar que antecede a 1ª. Guerra mundial e pede orações pelo futuro da humanidade, com o perigo de guerra poderia acontecer hoje também?

BOHR, Neils. O Postulado Quântico e o Recente Desenvolvimento da Teoria Atômica. Trad. Osvaldo Pessoa Jr. In: Fundamentos de Física I – Simpósio David Bohm. Org. O. Pessoa Jr. São Paulo: Livraria da Física, 2000. p. 135-159, 1928.

HEISENBERG, Werner. A Parte e o Todo: Encontros e Conversas sobre Física, Filosofia, Religião e Política. 4. reimpr. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto, 2008.

 

Enxergando longe e cegando perto

11 jul

Recentemente observatório especial James Webb enxergou a galáxia mais distante que o homem já pode observar, a galáxia chamada JADES-GS-Z13-0 (foto) está aproximadamente a 320 milhões de anos de anos do Big Bang, o que para nós é uma medida grande, para um universo de 13,5 bilhões de anos significa relativamente alguns segundo após o Big Bang (uma das teorias da formação do universo).

Por outro lado, assistimos a um mundo cada vez mais instável, mais injusto, impiedoso e perigoso, e com um perigo nuclear catastrófico próximo, parece que boa parte da humanidade trata como se tudo fosse uma normalidade, pouco se importando com o destino do planeta e do processo civilizatório que não está estagnado, mas regredindo em passos assustadores.

A estranheza desta descoberta do universo está ao mesmo tempo em que encontramos quantidades de Carbono e Oxigênio nestes corpos, o mesmo James Web descobriu um pouco depois que mais seis galáxias (Jades foi descoberta com outras três “perto”), que eram muito massivas onde se esperava no início do Universo corpos menores do que foram encontrados lá.

A descoberta mostrou que eles têm massas de aproximadamente 100 milhões de massas solares, enquanto o normal seria para galáxias mais jovens massas menores, a nossa Via Láctea por exemplo mais “velha” tem uma massa de 1,5 trilhão de massas solares.

Além disso é um berçário de estrelas, cerca de três sóis nascem lá todos anos, e suas massas são pobres em metais de substâncias químicas mais pesadas que o hélio e hidrogênio (lembremos que eles estão no topo da tabela periódica química a direita e a esquerda).

Se isto devolve a humildade ao conhecimento que temos do universo, o mesmo não acontece com cientistas sociais, antropólogos e paleontólogos, que quanto mais descobrem sobre a nossa origem no planeta, por exemplo que neandertais e o homo sapiens conviveram e até se cruzaram criando uma humanidade diversa, pouco tolerantes estamos com raças e culturas.

E a intolerância significa menos paz, mais perigos e agora não temos pedras, machados e arcos, temos armas nucleares e perigosas usinas atômicas que estão sujeitas não só aos limites humanos, mas também aos naturais e geológicos.

A geosfera e biosfera dependem hoje como nunca antes na história da noosfera e daquilo que cultivamos como cultura civilizatória e como visão das outras culturas e raças.

 

Cosmogonia, cosmológica e escatologia

04 jul

Já desenvolvemos aqui a ideia de Kosmos na filosofia grega, que é um tempo que designa todo universo em seu conjunto, mas é também “ordem”, “beleza” e “harmonia” para os gregos, agora com potentes telescópios como o Hubble e o James Webb sabemos que há também um caos e uma desarmonia no universo, mas fica a pergunta mais profunda: como tudo começou?

Cosmogonias são um corpo de doutrinas, desde princípios religiosos e míticos até os científicos que procuram explicar a ordem e o princípio do universo em sua cosmogênese.

Na medida que o homem tornou-se mais sedentário procurou adaptar-se melhor a natureza para satisfazer as necessidades dos animais e plantas, precisando por isto olhar para o céu e entender as estações do ano para controlar melhor as plantações e pastagens para os animais.

Praticamente todas as civilizações (ou era civilizatórias) elaboraram suas cosmogonias, por exemplo, na civilização ocidental o modelo geocêntrico de Ptolomeu (a terra é o centro), passou para o modelo copernicano (o modelo heliocêntrico), agora com a potência do James Webb estamos olhando para as primeiras galáxias e isto é possível por que a luz que chega até nós já viajou vários anos luz, então estamos vendo uma imagem do passado.

Assim nossa visão da cosmogênese vai aos poucos se modificando, no momento por exemplo, o telescópio que trabalha com um espectro diferente da luz, o infravermelho, conseguiu avistar uma galáxia de 400 milhões de anos depois do big bang (se esta teoria estiver certa), o que significa 13,5 bilhões de anos atrás (foto), ou seja, estamos vendo quase nossa cosmogênese.

A cosmologia então se encontra cada vez mais próxima da cosmogênese e isto significaria uma visão das duas, mas ainda faltam as questões essenciais: de onde viemos e para onde vamos?

Falta assim uma visão escatológica, principio e fim, e uma questão já é certa, embora o planeta possa entrar em colapso e com ele nossa civilização, por ação de um cataclismo externo ou uma destruição de artefatos humanos: uma guerra, o próprio perigo de tantas usinas nucleares no planeta, lembremos o incidente de Fukushima em 2011 e Chernobyl, o planeta tem hoje 440 ativas e 23 em construção, além do arsenal militar em diversos países.

Em meio ao vento tempestuoso de nosso tempo, a cosmogonia cristã se ampara e espera na presença divina daquela leitura que diz (Mt 8,27): “Quem é este homem, que até os ventos e o mar lhe obedecem?” quando os apóstolos o acordam na barca por causa do tempo e oceano bravio.

 

Verdade e Noosfera

28 jun

O conceito de Noosfera vem de Volodymyr Vernadsky (1863-1945) depois adotada e desenvolvida por Teilhard de Chardin (1881-1955), é a ideia de uma terceira camada além da Geosfera (camada inanimada) e da Biosfera (vida biológica) que desenvolve o pensamento humano, não apenas do ponto de vista do conhecimento, mas de tudo aquilo que motiva o Ser, as paixões, culturas e decisões que são tomadas e desenvolvem a maneira como nos relacionamos e convivemos em sociedade.  

Porém desde que nos organizamos em sociedade o desenvolvimento cultural onde as camadas de estruturas e formas de repasse das culturas acontecem e se desenvolvem já formam uma camada de “pensamento” da sociedade.

Teilhard de Chardin, que além de paleontólogo era um padre jesuíta, elaborou que todo o universo está envolto com esta camada de “pensamento” e que ela está em constante evolução, o que valeu durante muito tempo algumas objeções por parte de religiosos.

Com o olhar no Google e também atentos a “inteligência” de mecanismos como o ChatGPT, o Bard da Google, o Bing da Microsoft e outros, leva necessariamente a uma discussão do que é Inteligência Artificial.

Já indicamos o livro de Jean-Gabriel Ganascia “O mito da singularidade” sobre a falsidade de algumas tecnoprofecias sobre a máquina ultrapassar a inteligência humana,  pode-se ver também a recente entrevista de Miguel Nicolelis, um renomado cientista brasileiro, conhecido por suas pesquisas em neurociência.

Assim esta esfera do pensamento vive em constante evolução e as ferramentas e tecnologias são partes subjacentes a esta evolução, entretanto é preciso entender o que de fato elas são e como podem contribuir com a vida no planeta, é a colaboração da noosfera com a biosfera.

A verdade é aquela que se estabelece como realidade diante dos desafios humanos, muitas coisas estão fora do pensamento humano, como cataclismos e eventos em corpos celestes, porém é importante o desenvolvimento saudável desta esfera do pensamento humano.

Para Teilhard de Chardin, também a parte espiritual colabora e participa deste desenvolvimento, para ele todo universo é divino e cristocêntrico, ou seja, uma revelação de amor ao homem e a vida.

Sobre falsas profecias é bom lembrar a passagem de Mt 7,15: “Cuidado com os falsos profetas: Eles vêm até vós vestidos com peles de ovelha, mas por dentro são lobos ferozes”, mas é fácil de reconhece-los alerta a leitura: árvores más dão maus frutos.