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Arquivo para a ‘Física’ Categoria

O que são os buracos negros ?

10 nov

Buracos negros são regiões no espaço-tempo (nem o espaço nem o tempo são absolutos como pensam os idealistas), onde o campo gravitacional é tão intenso que nada do que conhecemos, nenhuma partícula ou radiação eletromagnética como a luz, pode escapar dele, a teoria da relatividade geral de Einstein previa isto como o cálculo de uma massa extremamente compacto que deformaria o espaço-tempo para formar um buraco negro.

Em 10 de abril de 2019, um gigantesco buraco negro foi “fotografado” (figura), alojado no coração da galáxia Messier 87 (M87) localizada a 55 milhões de anos luz de distância foi fotografado, sob o aspecto de um círculo escuro cercado por um anel flamejante.

Esta foto na verdade usou um algoritmo computacional, uma vez que os cientistas não podem observar diretamente com os telescópicos que usam para detectar outros corpos usando raio X, luz ou outras formas de radiação eletromagnética, mas podem inferir detectando a interferência em corpos ao lado de matérias próximas, assim se um buraco negro passar por uma nuvem de matéria interestelar, ele atrairá a matéria para dentro em um processo conhecido como acréscimo, ele primeiro aquece e depois é dilacerada na medida que vai em sua direção, tendo assim uma interferência dramática nos corpos na sua vizinhança disparando rajadas poderosas de raios gama.

A formação de buracos negros é até agora conhecida como resultado de colisões estelares, logo após o lançamento em dezembro de 2004, o telescópico Swift da NASA observou poderosos flashes de luz que eram rajadas de raios gama, e logo após o evento Chandra e o Telescópio Espacial Hubble da NASA coletaram dados do “pós-brilho” deste evento o que induziu os cientistas concluírem que poderosas explosões ocorrem quando um buraco negro e uma estrela de nêutrons colidem, produzindo outro buraco negro.

Mesmo sendo conhecido o processo básico de formação dos buracos negros, um mistério permanece que é que eles existem em escalas radicalmente diferentes, espalhados por todo o universo, por um lado existem muitos remanescentes de explosões de estrelas massivas, eles são geralmente 10 a 24 vezes maiores em “massa estelar” que o Sol, outros são pequenos e difíceis de detectar, mas cientistas estimam que existam de dez milhões a um bilhão destes buracos só na Via Láctea.

Noutro extremos estão os buracos negros “supermassivos” que são milhões até bilhões de vezes mais massivos que o Sol, os astrônomos acreditam que eles podem estar no centro de todas grandes galáxias, incluindo a nossa Via Láctea, a observação é possível a partir dos efeitos nas estrelas e nos gases próximos a ele.  

 

Planetas, Exoplanetas, Anãs Marrons e estrelas

09 nov

Os planetas como nós conhecemos são os corpos celestes que giram em torno de um campo gravitacional composto de pelo menos um sol (pode haver mais de um), já o exoplaneta orbita uma estrela que não é um sol, até 21 de setembro de 2021, eram conhecidos 4841 exoplanetas em 3578 sistemas, com 796 sistemas tendo mais de um planeta.

Uma estrela em geral tem mais de 80x a massa de Jupiter, entretanto existe estrelas menores e com menos brilho conforme mais velhas forem, elas tem uma massa de 13 a 80 vezes a de Jupiter, e os astrônomos já encontraram cerca de 2 mil em nossa galáxia, a Via láctea.

Em geral as anãs marrons são novas, entretanto recentemente foi descoberta, por acaso como a maioria das descobertas astronômicas, um corpo chamado de WISEA J153429.75-104303.3, com mais de 13 milhões de anos, como foi fortuita sua descoberta ficou apelidada de “O acidente”.

A idade é interessante porque pode nos falar algo da origem do universo, ou da origem deste universo no caso de haver um multiverso, porém pela sua idade dará muitas pistas.

Uma anã marron é um corpo maior que qualquer planeta, mas pequeno e frio demais para ser uma estrela, isto ocorre porque a anã não tem massa suficiente para fundir o hidrogênio em seu núcleo, e assim liberar energia estelar, com a idade vai esfriando.

A anã marron tem características diferentes das outras, não tem sequer o brilho tênue (veja abaixo uma imagem da detecção), e isto intrigou os cientistas, disse Davy Kirkpatrick: “este objeto desafiou todas as nossas expectativas”, um dos coautores da descoberta Publicada no Astrophysical Journal Letters.

Outros dois fatos surpreendentes do “Acidente” é que ele está a cerca de 53 anos luz de distância do Sol, quase vizinho ao Sistema Solar, e percorre a galáxia de modo muito rápido, a cerca de 207,4 k/s, ou seja, 25% mais rápido que qualquer outra anã marrom.

O misterioso universo nos faz não apenas pensar sobre a origem e o destino de tudo que existe, mas também sua originalidade e beleza que emanam de algo superior a nós.

 

O meio divino e o fenômeno humano

28 out

A cosmovisão de Chardin sobre o fenômeno humano vai desde a cosmogênese, a origem o universo e da vida até complexificação da natureza e o lugar do homem nela, o que a pandemia demonstra que esta complexificação cresce e mesmo a ciência tem limites para lidar com ela, porém esta pandemia pode trazer novos horizontes, quando o pensar e o clarificar precisa da ciência.
Entre suas várias obras, Teilhard Chardin faz um percurso singular entre O meio divino, escrito entre novembro de 1926 e março de 1927 e o Fenômeno Humano, escrito entre julho de 1938 e junho de 1940, que formam um “todo inseparável” diz também a edição que tenho do Editorial Presença de Lisboa, Portugal.
Singular porque transita do divino ao humano, como atestam os próprios nomes das obras, sem deslizes ou arroubos, mostra-nos a “necessidade da compenetração entre a ciência e religião igualmente afirmada por Einstein”, expressão de Helmut de Terra, amigo e admirador de Chardin.
Chardin inicia o meio divino percebendo “a confusão do pensamento religioso no nosso tempo” (pag. 41) e atesta que o homem de nosso tempo “vive com a consciência explícita de ser um átomo ou um cidadão do Universo” (idem).
A atualidade do texto é porque afirma o autor afirma no início de seu livro algo que tem muito a ver com nossos dias, um despertar coletivo que um belo dia “faz tomar cada indivíduo consciência das verdadeiras dimensões da vida, provoca necessariamente na massa humana um profundo choque religioso, quer para abater quer para exaltar” (ibidem).
Isto acontece porque o mundo é demasiado “belo: é a ele e só a ele que devem adorar” (pag. 42).
O que é então o “meio divino”, o mundo (no nosso caso exploramos as cosmovisões do universo) não será cada vez mais fascinante e não estaria e seria ele a “eclipsar o nosso Deus” (idem), e existe uma conexão, na visão de parte do cristianismo, entre a Deus e a matéria, a eucaristia, ela e só ela pode criar um verdadeiro sentido de nos religar ao divino, “eis o meu corpo e meu sangue” disse Jesus, e quem comer terá acesso a vida eterna.
Afirma Chardin “a tensão lentamente acumulada entre a Humanidade e Deus atingirá os limites fixados pelas possibilidades do Mundo, e então será o fim” (pag. 177) “… que devemos esperar não como uma catástrofe mas como uma ´saída´ para o mundo para a qual devemos colaborar com todas as nossas forças cristãs sem receio do mundo, porque os seus encantamentos já não poderiam prejudicar aqueles para quem ele se tornou, para além dele mesmo, o Corpo d´Aquele que é e d´Aquele que vem”.

CHARDIN, Teilhard. O meio divino: ensio sobre a vida interior. Lisboa: Editorial Presença, s/d.

 

O lugar do homem na natureza

27 out

A natureza mantém uma relação como um todo com o planeta e este tem íntima interdependência com os seres vivos e que por sua vez são interdependentes entre si, assim todos os ecossistemas da Terra são apenas simplificações dos estudos de Biologia e estão separados da totalidade que é o planeta, esta é uma das teses do livro A natureza da NATUREZA, de Edgar Morin que nós já fizemos algumas postagens aqui.

Porém queremos dialogar com o conceito antropocêntrico que domina muitos estudos e cada vez mais vemos que é uma limitação já que a natureza tem seu próprio curso, e a interferência brutal do homem pode modificar e prejudicar este curso.

Segundo Ways (1970) citado em Chisholm (1974) existe uma tendência na epistemologia ocidental de objetivar a natureza para vê-la “do lado de fora”, e está é a responsável pela forma arrogante e insensível de lidar com o mundo natural, segundo o autor mesma atitude de separação do homem da natureza constitui a base do crescente conhecimento humano da mesma, sendo, portanto, uma interpretação antropocêntrica da evolução do mundo natural.

Por outro lado, é inegável a complexificação da natureza no homem, como uma animal que tem consciência, ou dito de outra forma tem consciência da própria consciência, o que pode levar a outro extremo que é a “interiorização” onde cultura e natureza se confundem, onde o subjetivismo pode ser uma tendência responsável por esta vertente.

Já o paleontólogo Teilhard de Chardin em sua obra “O fenômeno Humano”, observa que não há nenhum traço anatômico ou fisiológica que distingue o homem dos outros animais superiores, por outro lado tem a característica zoológica que o faz um ser à parte no mundo animal, é o único que habita todo o planeta, outra característica que vem de sua forma de consciência é a sua organização enquanto consciência e estrutura de pensamento, que Teilhard de Chardin chama de “noosfera”, uma esfera do pensamento também mundial.

Quanto ao home resta saber, e nem a ciência sabe, se é um mero acidente superficial que aconteceu ou se há nele uma intencionalidade desde que o Universo foi criado, seja Big Bang ou não, reflete Teilhard Chardin: “que a devíamos considerar – prestes a brotar da mínima fissura seja onde for no Cosmos – e, uma vez surgida, incapaz de desperdiçar toda a oportunidade e todos os meios para chegar ao extremo de tudo o que ela pode atingir, exteriormente de Complexidade, e interiormente de Consciência” (CHARDIN, 1997).

 

CHARDIN, T. O lugar do homem na natureza, trad. Armando Pereira da Silva, Ed. Instituto Piaget, Lisboa: 1997.

CHISHOLM, A. Ecologia: uma estratégia para a sobrevivência. Rio de Janeiro: Zahar, 1974.

 

Vulcões, entre a ciência e as superstições

28 set

O vulcão nas ilhas Canárias que arde a mais de uma semana, e por enquanto apenas aumento o volume e a quantidade de lavas incandescentes despertaram perguntas e medos, nem tudo é realmente certo, os vulcanólogos e geólogos não tem previsão para o esfriamento do vulcão e nem todas as superstições vieram apenas de profecias e apocalípticos.

A possibilidade de um megatsunami, partindo do meio do Oceano Atlântico, o Oceano pacífico tem mais vulcões e terremotos no chamado círculo de fogo (foto) que o Atlântico foi estudado após o maremoto da Indonésia que ganhou notoriedade, porém foi o do Japão, que afetou a Usina de Fukushima o mais assombroso.

O alerta não partiu de supersticiosos, mas de pesquisadores britânicos em artigo de 2001 (Ward & Day, 2002), o artigo ganhou notoriedade por citar diretamente as Ilhas Canárias (veja foto acima), e foi publicado na revista científica Yearbook of Science and Technology, fez outros estudos em casos já acontecidos, como o de 1º. de abril 1946 nas ilhas Aleutas onde houve um deslizamento de terra semelhante ao da costa de Papua Nova Guiné.

Cita que o maior deslocamento de terra, que provocou megatsunami, foi o deslizamento de terra em 1929 devido a um terremoto, no parque Nacional de Terra Nova, Canadá, na península de Burin, que chegou até a costa da Escócia e Holanda, mas só foi percebido por causa de fragmentos que foram depositados nas costas destes países.

O artigo fez experimentos por simulação em computador, que mostra que a eficiência de geração de tsunami aumenta com a velocidade e o volume do deslizamento de terra, e fez uma simulação justamente com o vulcão Cumbre Vieja (fig. 3 acima), na ilha de La Palma (uma das ilhas da Gran Canarias), e escreveram textualmente: “movimentos contínuo e recentes dos flancos de uma série de vulcões de ilhas oceânicas incluindo o Kilauea no Havaí e o Cumbre Vieja em La Palma, nas Ilhas Canárias, são possibilidades que estes podem romper [os flancos] durante uma erupção num futuro não muito distante” (Ward & Day, 2001).

O volume tem aumentado desde o domingo passado (19/09) e um dos flancos se abriu, mas não desmoronou e as lavas ainda não tinham chegado ao mar até a presente o dia de ontem.

Tivemos no ano outros vulcões em erupção, na Itália o Etna, na Rússia o vulcão Ebeko nas ilhas Curilas e na Islândia o Fagradalsfjall, mas estes não oferecem perigo, no caso da Islândia houve um período de interrupção do tráfego aéreo na região.

Outros vulcões no mundo se manifestaram este ano, na África o Nyiragongo no início de junho, na Indonésia o Sinabung no início de março, na Guatemala o Vulcão de Fogo, mas que já cessou a erupção, há outros pelo mundo, os vulcões ativos (mas não em erupção) são ao todo mais de mil, o Brasil está longe das placas tectônicas que além de vulcões provocam terremotos.

Por algumas horas o Vulcão Cumbre Vieja cessou de jorrar lava, mas voltou, se a duração e volume de material será suficiente para um tsunami, depende da intensidade e duração, nem vulcanólogos e nem os geólogos que acompanham o vulcão sabem dizer com certeza.

Ward, N. and Day, Simon. Suboceanic Landslides. Steven Yearbook of Science and Technology, McGraw-Hill, 2001. Disponível em: ward&day.pdf (ucsc.edu)

 

A finalidade humana e sua finitude

24 set

Diferente da máquina que tem como finalidade omeio (ver post anterior), a finalidade humana é reafirmar a existência pela perpetuação da vida, e também tudo que é vivo pode e deve defender esta existência, conforme explica Edgar Morin:
“As imposições que inibem enzimas, genes, e até células, não diminuem uma liberdade inexistente a este nível, pois a liberdade só emerge a um nível de complexidade individual onde há possibilidades de escolha; inibem qualidades, possibilidades de acção ou de expressão” (MORIN, 1977, 110), as máquinas não deixam de ter finalidade, mas sejam quais forem são meios.

Mas esta liberdade quando está no nível humano, e é “só ao nível de indivíduos que dispõem de possibilidades de escolha, de decisão e de desenvolvimento complexo que as imposições podem ser destrutivas de liberdade, isto é, tornar-se opressivas” (idem).

É o desenvolvimento da cultura humana que pode desenvolver estas potencialidades, assim diz Morin: “É certamente a cultura que permite o desenvolvimento das potencialidades do espírito humano” (ibidem), depende, portanto, do desenvolvimento de uma cultura de paz, de solidariedade e de preservação da vida dentro do espírito humano.

Dirá Morin no capítulo de sua conclusão sobre a “complexidade da Natureza”, que no universo dito “animista”, ou mitológico no caso dos gregos, “os seres humanos eram concebidos de modo cosmomórfico, isto é, feitos do mesmo tecido que o universo.” (MORIN, 1977, p. 333).

Esta presença do que Morin chama de “generatividade”, os seres animados e animadores, todos existentes no seio do universo, implicava numa comunicação entre as esferas: da physis, da vida e a antropossocial, se ampliarmos estes conceitos para a esferologia de Sloterdijk: antropotécnico.

Mas conforme raciocinamos alguns posts atrás, a separação da physis em natureza (animada) e física (inanimada) não só “desencantou o universo, mas também o desolou”.

Completa seu raciocínio com uma frase que mostra nossas múltiplas crises e noites: “Já não há génios, nem espíritos, nem almas, nem alma; já não há deuses; há um Deus, em rigor, mas noutro sitio (o destaque é do autor); já não há seres existentes, com excepção dos seres vivos, que certamente habitam no universo físico, mas procedem duma outra” (idem).

Assim conclui que a natureza foi devolvida aos poetas e a physis aos gregos, e assim o universo das técnicas (que são meios) dominou a vida (que é finalidade) e então “a ciência e a técnica geram e gerem, como deuses, um mundo de objectos” (MORIN, 1977, p. 334).

Não deixa que o finalismo (ou fatalismo) seja a última palavra: “é da crise desta ciência que saem os novos dados e noções que nos permitem reconstruir um novo universo” (idem), a física quântica, do terceiro incluído (o quantum entre dois quanta) e a entropia/neguentropia se renovam.

Todo universo é “anima”, também o teológo Teilhard Chardin concorda com esta tese, e também que a vida é a complexificação do universo, no qual o fenômeno humano é seu ápice.

Além da interpretação animista ou mitológica para estas finalidades da vida, que é morte e vida em vida em morte, um princípio heraclitiano também citado por Morin, a reflexão cristão sobre as passagens já citadas anteriores sobre quem é Jesus (Mc 8,27 e Mc 9,31), e Ele devia sofrer muito.

Ela se complementa na questão sobre abandonar aquilo que é finalidade transitória da vida (portanto só meios) e se não for útil para a finalidade última (e, portanto, são apenas meios e devem ser relativizados) se tua mão, teu pé ou teu olho te leva a pecar (esquecer o fim último da vida humana que é a eternidade da vida) é melhor perdê-los para ter a finalidade viva.

Mas sua última palavra é a de aceitação aos que veem esta realidade de modo diferente, se não são contra nós é a nosso favor (Mc 8, 40) e (Mc 8,41) e “quem vos der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa”, assim muitos podem cooperar com o crescimento da anima humana, com a vida e a Natureza viva da qual todos dependemos.

MORIN, E. A natureza da NATUREZA. Lisboa PUBLICAÇÕES EUROPA-AMÉRICA, LDA., 1977.

 

A complexidade e sua gênese

21 set

Ao penetrarmos na relação cada vez mais estudada homem-máquina, é preciso entender o que se teorizou até hoje sobre a natureza, o que significa formar um modelo para a natureza, e por sua vez, tornar coletivas e indivíduos humanos e não-humanos, compostos em uma cultura, ou em uma tradição, ou num âmbito mais geral o que está articulado e o que está só configurado.

Ou seja, o modelo pode estar sujeito ao erro ou fracasso conforme as áreas implantadas e podem ser determinados por eles, mas ao rearticulá-lo dentro de sua própria história de criação, não se fazendo a naturalização e sim a culturalização dos conceitos entendemos o modelo que temos a priri, e que nem sempre é a própria natureza.

Quem penetrou mais fundo nesta ideia, foi Edgar Morin e a partir daí concebeu o seu método e desenvolveu a complexidade, conceber a natureza se requer preservar, em última análise, a rede da qual ele emergiu conceitualmente e corrigir onde os conceitos estiveram separados, identificando uma rede.

Então trata-se de identificar a cultura que se desenvolveu em torno da natureza, Morin a coloca em minúscula para diferenciá-la da própria Natureza em maiúscula que é tudo aqui que foi dito e assim desenvolve-se o complexo, que significa aquilo que foi “tecido junto”.

O que então dizemos sobre a natureza é a cultura que foi se desenvolvendo em torno da ideia que poderíamos dominá-la, mas uma das máximas de Francis Bacon é que “não podemos dominá-la se não entendemos”, a moderna física quântica, a astrofísica moderna, mostraram o quão ingênuos eram os modelos de Newton, Galileu e Copérnico, mas eles foram tecidos juntos para chegar aos novos modelos hoje propostos.

Edgar Morin explica a “desordem da ordem” iniciando com duas citações para dizer que a ordem: “leis simplificadas inventadas pelos sábios” (Brillouin, 1959, p. 190), abstrações tomadas pelo concreto (Whitehead, 1926)” (MORIN, 1977, p. 76).

Ela agora segundo Morin está comprimida “entre o caos microfísico e a diáspora”, e importa saber como ela nasceu: “Como se desenvolveu a partir do zero? Como concebê-la apesar da, com a e na desordem? Como pode parecer-nos como única soberana do universo se agora é tão dificil de justificar a sua existência ? (idem).

Qual a gênese? “o conceito de ordem, na física clássica, era ptolemaico. Tal como no sistema de Ptolomeu, onde sóis e planetas giravam em torno da Terra, tudo girava em torno de uma ordem”. (MORIN, 1977, p. 82).

A revolução copernicana no entanto não foi a palavra final: “Hubble retirou-lhe todo o centro astral ou galáctico. E aqui está a grande revolução meta-copernicana e metanewtoniana, que caminhava subterraneamente de Carnot e Boltzmann a Planck, Bohr, Einstein e Hubble. Já não existe um centro do mundo, quer seja a Terra, o sol, a galáxia ou um grupo de galáxias” (idem)

E continua: .”Já não existe mais um eixo não equívoco do tempo, mas um duplo processo antagónico saído do mesmo e único processo. O universo é, portanto, simultaneamente policêntrico, acentrado, descentrado, disseminado, diasporizantes …” (ibidem).

MORIN, E. A natureza da NATUREZA. Lisboa PUBLICAÇÕES EUROPA-AMÉRICA, LDA., 1977.

 

O que é natural e a possibilidade de conhecermos

15 set

O problema de conhecermos o mundo (natural e não o cultural, este é o que temos) deve partir de uma premissa de desobstrução de nossa mente de convicções culturais, a maioria idealistas, que nos cegam sobre a possibilidade de entender que não dominamos a natureza como propôs o iluminismo, e pior, corremos o risco de destruí-la e colocar a civilização em cheque.

Citar Edgar Morin na epígrafe da sua Introdução Geral do livro “A natureza da NATUREZA”,  a segunda em maiúsculas mesmo no original, no sentido que ela é ainda mistério para nós, e contém mistérios que nos afetam, como provou a atual Pandemia que ainda nos interpela.

Edgar Morin na abertura do primeiro capítulo: “O espírito do vale”, cita Karl Popper: “Pessoalmente julgo que existe pelo menos um problema… que interessa a todos os homens que pensam: o problema de compreender o mundo, nós mesmos e o nosso conhecimento enquanto parte do mundo”, assim este conhecimento não é definitivo e nem é eterno, na medida que tudo evolui e é perecível.

Para introduzir estas convicções faz uma segunda citação de Jacob Bronowski: “O conceito de ciência não é nem absoluto nem eterno”, e fará uma terceira que fica para o próximo post.

Faz um início de 5 convicções que o fez começar este livro e onde está seu “cogito” sua suspensão de juízo de tudo o que pensava antes, eu sua primeira convicção destes problemas afirma que ela: “nos prende à actualidade exigem que nos desprendamos dela para os considerar a fundo” (Morin, 1977, pg. 13), e professa sua segunda convicção: “os princípios de conhecimento ocultam aquilo que, doravante, é vital conhecer” (idem) assim desprende-se de suas ideias anteriores.

Sua terceira convicção é a mais forte cada vez mais convencido de que a relação ciência Ʌ política Ʌ ideologia [Ʌ  no texto como uma triangulo] quando não é invisível, continua a ser tratada de modo indigente, através da reabsorção de dois dos seus termos num deles tornado dominante” (idem), dá o que pensar.

Sua quarta convicção é que “de que os conceitos de que nos servimos para conceber a nossa sociedade — toda a sociedade — estão mutilados e conduzem a ações inevitavelmente mutiladoras” (idem).

Por fim sua quinta convicção é: “de que a ciência antropossocial tem de articular-se na ciência da natureza, e de que esta articulação requer uma reorganização da própria estrutura do saber” (Idem), assim o conhecimento que temos precisa ser modificado a partir de suas bases.

Sabia que sua tarefa era mesmo enciclopédica e vastíssima, por isso até isolou-se num castelo (não tenho os dados precisos) pois sua tarefa: “Eu próprio precisei de circunstâncias e de condições excepcionais’ para passar da convicção à acção, isto é, ao trabalho” (idem).

E é a partir daí que escreveu seu método complexo com três questão iniciais: “Que significa o radical auto de auto-organização? • Que é a organização? • Que é a complexidade?” (pag. 14).

MORIN, E. A natureza da NATUREZA. Lisboa PUBLICAÇÕES EUROPA-AMÉRICA, LDA., 1977.

 

É inefável que existe e a metáfora.

22 jul

Muitos fenômenos da natureza e de modo mais amplo do universo embora possam ter explicações, são inefáveis, ou seja, porque mesmo que descrito tem limitações por sua complexidade e não obviedade.

Um destes fenômenos é o tunelamento quântico da mecânica quântica (figura ao lado) no qual as partículas transpõe estados de energia que “logicamente” seriam proibidos, elas escapam de regiões cercadas por barreiras potenciais mesmo tendo energia cinética menor que a barreira.

Einstein, Podolski e Rosen escreveram um artigo (EPR) na década de 20 chamando este efeito de “fantasmagórico” porém na década de 70 ele ficou provado e rompe também com o pensamento clássico que existe A e não-A, não podendo haver terceira hipótese, ela existe e está provada, ao menos na física.

O inefável na vida cotidiana são fenômenos humanos que transpõe a barreira do imaginário e se realizam fisicamente, são mistérios e eles existem não apenas para demonstrar truques que sejam convincentes para divinizar este ou aquele grupo, ou para fazer uma “mágica”, isto é o campo dos charlatães, mas para uma consciência fenomenológica clara de algo além do humano.

Uma das funções da metáfora é poder descrever este fenômeno sem recorrer a uma lógica muito complexa para o senso comum, e permitir que muitas pessoas possam entender estes mistérios.

A figura da parábola entre neste aspecto, com uma pequena diferença da metáfora por usar exemplos do cotidiano e do senso comum, ela é pedagógica ao explicar como o mistério da vida (e também da morte) pode ser visto de modo a entender o destino da humanidade e o que é a vida.

Longe de explicar sua origem no sentido físico, o Gênesis por exemplo, recorre a Adão e Eva, o fato que o homem veio de algum aspecto complexo da natureza é explicado como sendo feito do barro, a metáfora é que o homem veio de compostos orgânicos da natureza, e claro, depois Deus soprou-lhe as narinas e deu “vida” no sentido espiritual, não é difícil entender que esta vida existe.

 

Amor, dor e lógica divina

26 mar

Somente aqueles que são capazes de ultrapassar os limites da dor, do ódio e do desprezo podem se aproximar de um amor divino, é preciso ultrapassar a lógica dualista da luta do bem contra o mal, a deo-lógica é aquela que sempre vai de encontro ao bem, o que os gregos chamavam de agathosyne, que vem de Agathon bondade num sentido de espírito elevado, e que é busca.

Há um terceiro incluído que caminha conosco. 

A dor é muitas vezes aquilo que mais fere a alma, mas pode ser também a que a alarga, nestes momentos de evolução da crise pandêmica no país enfrentamos a mais séria necessidade de buscar uma força além das medidas sanitárias, débeis é verdade, mas a defesa da vida deve continuar naqueles que se solidarizam com os que estão sendo afetados pelo vírus.

Só entendendo este sentido mais profundo da dor seremos capaz de abraça-la, de ter esperança e de olhar para um futuro onde não mais teremos que correr atrás do tempo perdido, mas nos preparemos e nos antecipemos para evitar crises humanitárias ainda piores, que poderão advir.

Há sempre uma terceira possibilidade e assim como a dor é uma passagem de um estado para outro, também o que pode surgir depois de muito sofrimento é uma novidade ainda maior, um salto de qualidade naquilo que somos como homens e como natureza, e superar o estágio atual.

Edgar Morin escreveu em seu livro recente É preciso mudar de via: lições do coronavírus, neste sentido também: “A utopia do melhor dos mundos deve dar lugar à esperança de um mundo melhor. Como toda grande crise, como toda grande infelicidade coletiva, nossa crise planetária desperta esperança.”

Pode-se assim entender melhor, tanto no sentido teológico quanto filosófico, numa passagem central da paixão de Jesus quando na cruz ele grita (Marcos 1,34): “Pelas três da tarde, Jesus gritou com voz forte:— “Eloi, Eloi, lamá sabactâni?”, que quer dizer: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?”, porque é nesta dor que o humano e o divino se fundem, emergindo uma nova realidade de morte e ressurreição, sim Deus morreu dizem os filósofos, porém há um terceiro incluído: depois ressuscitou, assim pode-se entender a passagem da morte para a vida.

Toda esta dor, esta “grande infelicidade coletiva” diz Morin desperta esperança, porque ela é de fato uma passagem, talvez a mais dolorosa que a humanidade passou, ainda que tivemos guerras odiosas, ainda que tenhamos conflitos de natureza social, étnico e religioso, há um sentimento de dor.

Só fará sentido toda esta dor se encontrarmos logo ali na frente uma outra forma de olhar para ela.