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Mistérios do universo e forças universais
Quando Einstein formulou a Teoria da Relatividade Geral, dois grandes “buracos” ficaram na sua teoria, um que ele reconhecia que eram os buracos de minhoca, caminhos numa dimensão espaço-tempo em que poderia haver espaços, do ponto de vista da matemática, de imensa gravidade em que tudo “sumia” e outro não reconhecido que era a formulação dos quanta como uma dimensão entre no tempo e no espaço onde há uma terceira hipótese entre a matéria e a não-matéria, os “quanta”.
Segundo o físico Jim Al-Khalili “Ele concebeu uma nova teoria sobre todo o Universo, na qual também dizia que quando as estrelas entram em colapso elas formam buracos negros”, e que nessa época acredita que eles eram apenas hipóteses matemáticas, necessárias para fechar a conta, mas “que não existiam, que eles eram só produtos da matemática”, mas era algo que o incomodava disse Al-Khalili na entrevista a BBC.
A questão quântica era um estado chamado emaranhado, hoje chamado de entrelaçamento quântico, um estado da partícula onde havia um colapso da função de onda, e assim, a existência real da partícula ficava numa realidade “adjacente” que é justamente o entrelaçamento, Einstein, Poldoski e Rosen escreveram um artículo que por seus nomes ficou chamado de EPR no qual diziam que a partícula sempre estava presente e rechaçavam a hipótese de um “terceiro estado”, que mais tarde ficou provado.
Os buracos negros não só existem, como já foram feitas fotos (uma famosa foi publicada em abril de 2019), que na verdade são feitas por algoritmos que mapeiam os efeitos magnéticos em torno dele, e assim constroem uma imagem, agora sabe-se que são numerosos e existe até alguns dentro de nossa galáxia, a Via Láctea.
As forças universais cada vez despertam mais curiosidade e também medo, um grande cometa foi descoberto recentemente e teve seu nome batizado com o nome do brasileiro Bernardinelli que faziam doutorado em cosmologia nos EUA, chamado de Bernardinelli-Bernstein (C/2014-UN271) possui 150 quilômetro de diâmetro e poderá ser visto em 2031, porém são os meteoros que povoam a imaginação de apocalíticos de plantão, eles são numerosos e imprevisíveis, alguns são descobertos momentos antes de passarem próximos ao nosso planeta.
A Nasa iniciou uma missão de teste na tentativa de redirecionar asteroides, o projeto chamado Dart (Double Asteroid Redirect Test) vai tentar enviar uma pequena espaçonave para colidor contra Dimorphos, “lua” do asteroide Didymos, numa tentativa de alterar sua rota, não representa perigo ao planeta, por isto é apenas um teste.
O universo é misterioso, pouco ainda conhecemos dele, 68% é feito de energia escura (foto), e essa energia não se dilui na medida que o universo expande (o princípio da entropia), e se esta expansão é cada vez mais rápida, como supunha Einstein, isto pode levar a algumas conclusões curiosas, como como o fato que esta “energia” estranha surge nesta expansão.
Olha para o Universo e seus mistérios deveria nos devolver a humildade do quão pouco sabemos, o quão admirável é o mistério da vida e nosso destino como pessoa e como planeta.
Distancias em anos luz eventos em milhões de anos
Se numa escala da vida humana falamos no máximo em centenas de anos, numa escala planetária devemos falar em milhões e até bilhões de anos, se em termos de distância podemos falar em milhares de quilômetros na escala planetária, em termos astronômicos esta escala são milhões de anos-luz, o tempo que a luz percorre por ano.
Isto nem quer dizer que eventos extraordinários não aconteçam, porque em termos de vida planetária e universal já se passaram bilhões de anos, portanto em algum ponto do tempo isto poderá acontecer, como o fim dos dinossauros, a era glacial e mudanças na geologia do planeta que já ocorreram, e nem que isto ocorrerá amanhã ou nos próximos anos, porém em algum ponto do tempo eles podem ocorrer.
O vulcão da ilha de La Palma dá sinais de que pode estar encerrando sua erupção, assim as catástrofes que eram sugeridas (em hipótese e com rara possibilidade de ocorrer) não irão acontecer, porém também não quer dizer que outras em algum outro ponto do planeta não possa acontecer, terremotos e eventos climáticos tem ocorrido e causado tragédias, como a de Fukushima no Japão em março de 2011.
Também esta pandemia parece estar no final de seu ciclo, embora a Europa esteja alerta, porém lá mais que aqui o número de pessoas que resistiram a vacina é muito grande.
Devemos estar sempre alerta, a vida no planeta corre risco sim, o problema do equilíbrio ambiental, o problema social decorrente da crise pandêmica, porém que já era enorme antes dela, o eterno perigo das guerras pelas disputas de mercado e pela intolerância religiosa está sempre a nos rondar.
Um grande acordo internacional que unisse os povos e que estabelecesse tréguas em conflitos, que realizasse a solidariedade entre os povos e resolvesse o equilíbrio ecológico, poderia ser um grande alento para uma civilização em crise.
Em termos espirituais significa que a humanidade deve evoluir também neste ponto, e os sinais não são os melhores, então não se trata de apocalipse ou ameaça, quando o espirito humano libera toda energia contrária ao seu bem estar e progresso caminha para um abismo e para tragédias, o dia em que uma grande noite cairá sobre os homens parece então estar próximo, assim diz a leitura bíblica (Mc 13,24-15): “Naqueles dias, depois da grande tribulação, o sol vai se escurecer, e a luz não brilhará mais, as estrelas começarão a cair do céu e as forças do céus serão abaladas”, porém a leitura logo em seguida também indica (Mc 13,32): “quanto àquele dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai”.
Portanto vivamos a vida e vamos favorecer o que seja bom para toda a humanidade, não apenas para grupos ou ideologias, a vida precisa continuar e é preciso lutar por ela.
A evolução das estrelas e as anãs brancas
A evolução de uma estrela como o Sol, passa da fase gigante para a supergigante e ejeta uma nebulosa planetária e depois transforma-se em uma anã branca quando está perdendo sua energia e seu brilho.
A base dos cálculos da evolução estelar é chamada de Equilíbrio Hidrostático pelo qual a pressão do gás contrabalança a gravidade, na maior parte da vida das estrelas, já que se não houver este equilíbrio ou tempo dinâmico ela entra em colapso, assim estrelas têm reações nucleares em alguma etapa da sua evolução, as que não tem são as anãs marrons.
Usando o rádio-observatório ALMA, no Chile, que estudam uma dúzia de gigantes vermelhas, o estágio evolutivo em que as estrelas se aproximam da morte, elas liberam uma enorme quantidade de energia, produzindo um vento estelar constante, ou seja, ejetando um fluxo de partículas que lança a massa da própria estrela para todas as direções, e estas são as bases de suas imagens espetaculares.
Se fossem nebulosas solitárias elas teriam só formatos concêntricos, porém a presença de outras estrelas companheiras e até planetas que orbitam as gigantes vermelhas, a influência de seus campos acaba formando outras imagens, influenciadas pelo objetos ao redor, dando configurações e cores específicas.
Um dos cientistas do projeto Carl Gottlieb, co-autor do estudo “(Sub)stellar companions shape the winds of evolved stars” afirmou: “Agora temos uma visão sem precedentes de como as estrelas como o nosso Sol, irão evoluir durantes os últimos estágios de sua evolução”, é claro isto numa escala de milhões e até bilhões de anos.
O paleontólogo e teólogo Teilhard Chardin disse que na escala do Cosmos: “só o fantástico tem a condição de ser verdadeiro, as nebulosas planetárias formam incríveis imagens cósmicas que mais parecem pinturas divinas e se formam ao redor de uma estrela que atingiu o estágio de gigante vermelha, e recentemente cientistas descobriram porque suas formas são únicas.
O que são os buracos negros ?
Buracos negros são regiões no espaço-tempo (nem o espaço nem o tempo são absolutos como pensam os idealistas), onde o campo gravitacional é tão intenso que nada do que conhecemos, nenhuma partícula ou radiação eletromagnética como a luz, pode escapar dele, a teoria da relatividade geral de Einstein previa isto como o cálculo de uma massa extremamente compacto que deformaria o espaço-tempo para formar um buraco negro.
Em 10 de abril de 2019, um gigantesco buraco negro foi “fotografado” (figura), alojado no coração da galáxia Messier 87 (M87) localizada a 55 milhões de anos luz de distância foi fotografado, sob o aspecto de um círculo escuro cercado por um anel flamejante.
Esta foto na verdade usou um algoritmo computacional, uma vez que os cientistas não podem observar diretamente com os telescópicos que usam para detectar outros corpos usando raio X, luz ou outras formas de radiação eletromagnética, mas podem inferir detectando a interferência em corpos ao lado de matérias próximas, assim se um buraco negro passar por uma nuvem de matéria interestelar, ele atrairá a matéria para dentro em um processo conhecido como acréscimo, ele primeiro aquece e depois é dilacerada na medida que vai em sua direção, tendo assim uma interferência dramática nos corpos na sua vizinhança disparando rajadas poderosas de raios gama.
A formação de buracos negros é até agora conhecida como resultado de colisões estelares, logo após o lançamento em dezembro de 2004, o telescópico Swift da NASA observou poderosos flashes de luz que eram rajadas de raios gama, e logo após o evento Chandra e o Telescópio Espacial Hubble da NASA coletaram dados do “pós-brilho” deste evento o que induziu os cientistas concluírem que poderosas explosões ocorrem quando um buraco negro e uma estrela de nêutrons colidem, produzindo outro buraco negro.
Mesmo sendo conhecido o processo básico de formação dos buracos negros, um mistério permanece que é que eles existem em escalas radicalmente diferentes, espalhados por todo o universo, por um lado existem muitos remanescentes de explosões de estrelas massivas, eles são geralmente 10 a 24 vezes maiores em “massa estelar” que o Sol, outros são pequenos e difíceis de detectar, mas cientistas estimam que existam de dez milhões a um bilhão destes buracos só na Via Láctea.
Noutro extremos estão os buracos negros “supermassivos” que são milhões até bilhões de vezes mais massivos que o Sol, os astrônomos acreditam que eles podem estar no centro de todas grandes galáxias, incluindo a nossa Via Láctea, a observação é possível a partir dos efeitos nas estrelas e nos gases próximos a ele.
Planetas, Exoplanetas, Anãs Marrons e estrelas
Os planetas como nós conhecemos são os corpos celestes que giram em torno de um campo gravitacional composto de pelo menos um sol (pode haver mais de um), já o exoplaneta orbita uma estrela que não é um sol, até 21 de setembro de 2021, eram conhecidos 4841 exoplanetas em 3578 sistemas, com 796 sistemas tendo mais de um planeta.
Uma estrela em geral tem mais de 80x a massa de Jupiter, entretanto existe estrelas menores e com menos brilho conforme mais velhas forem, elas tem uma massa de 13 a 80 vezes a de Jupiter, e os astrônomos já encontraram cerca de 2 mil em nossa galáxia, a Via láctea.
Em geral as anãs marrons são novas, entretanto recentemente foi descoberta, por acaso como a maioria das descobertas astronômicas, um corpo chamado de WISEA J153429.75-104303.3, com mais de 13 milhões de anos, como foi fortuita sua descoberta ficou apelidada de “O acidente”.
A idade é interessante porque pode nos falar algo da origem do universo, ou da origem deste universo no caso de haver um multiverso, porém pela sua idade dará muitas pistas.
Uma anã marron é um corpo maior que qualquer planeta, mas pequeno e frio demais para ser uma estrela, isto ocorre porque a anã não tem massa suficiente para fundir o hidrogênio em seu núcleo, e assim liberar energia estelar, com a idade vai esfriando.
A anã marron tem características diferentes das outras, não tem sequer o brilho tênue (veja abaixo uma imagem da detecção), e isto intrigou os cientistas, disse Davy Kirkpatrick: “este objeto desafiou todas as nossas expectativas”, um dos coautores da descoberta Publicada no Astrophysical Journal Letters.
Outros dois fatos surpreendentes do “Acidente” é que ele está a cerca de 53 anos luz de distância do Sol, quase vizinho ao Sistema Solar, e percorre a galáxia de modo muito rápido, a cerca de 207,4 k/s, ou seja, 25% mais rápido que qualquer outra anã marrom.
O misterioso universo nos faz não apenas pensar sobre a origem e o destino de tudo que existe, mas também sua originalidade e beleza que emanam de algo superior a nós.
O meio divino e o fenômeno humano
A cosmovisão de Chardin sobre o fenômeno humano vai desde a cosmogênese, a origem o universo e da vida até complexificação da natureza e o lugar do homem nela, o que a pandemia demonstra que esta complexificação cresce e mesmo a ciência tem limites para lidar com ela, porém esta pandemia pode trazer novos horizontes, quando o pensar e o clarificar precisa da ciência.
Entre suas várias obras, Teilhard Chardin faz um percurso singular entre O meio divino, escrito entre novembro de 1926 e março de 1927 e o Fenômeno Humano, escrito entre julho de 1938 e junho de 1940, que formam um “todo inseparável” diz também a edição que tenho do Editorial Presença de Lisboa, Portugal.
Singular porque transita do divino ao humano, como atestam os próprios nomes das obras, sem deslizes ou arroubos, mostra-nos a “necessidade da compenetração entre a ciência e religião igualmente afirmada por Einstein”, expressão de Helmut de Terra, amigo e admirador de Chardin.
Chardin inicia o meio divino percebendo “a confusão do pensamento religioso no nosso tempo” (pag. 41) e atesta que o homem de nosso tempo “vive com a consciência explícita de ser um átomo ou um cidadão do Universo” (idem).
A atualidade do texto é porque afirma o autor afirma no início de seu livro algo que tem muito a ver com nossos dias, um despertar coletivo que um belo dia “faz tomar cada indivíduo consciência das verdadeiras dimensões da vida, provoca necessariamente na massa humana um profundo choque religioso, quer para abater quer para exaltar” (ibidem).
Isto acontece porque o mundo é demasiado “belo: é a ele e só a ele que devem adorar” (pag. 42).
O que é então o “meio divino”, o mundo (no nosso caso exploramos as cosmovisões do universo) não será cada vez mais fascinante e não estaria e seria ele a “eclipsar o nosso Deus” (idem), e existe uma conexão, na visão de parte do cristianismo, entre a Deus e a matéria, a eucaristia, ela e só ela pode criar um verdadeiro sentido de nos religar ao divino, “eis o meu corpo e meu sangue” disse Jesus, e quem comer terá acesso a vida eterna.
Afirma Chardin “a tensão lentamente acumulada entre a Humanidade e Deus atingirá os limites fixados pelas possibilidades do Mundo, e então será o fim” (pag. 177) “… que devemos esperar não como uma catástrofe mas como uma ´saída´ para o mundo para a qual devemos colaborar com todas as nossas forças cristãs sem receio do mundo, porque os seus encantamentos já não poderiam prejudicar aqueles para quem ele se tornou, para além dele mesmo, o Corpo d´Aquele que é e d´Aquele que vem”.
CHARDIN, Teilhard. O meio divino: ensio sobre a vida interior. Lisboa: Editorial Presença, s/d.
O lugar do homem na natureza
A natureza mantém uma relação como um todo com o planeta e este tem íntima interdependência com os seres vivos e que por sua vez são interdependentes entre si, assim todos os ecossistemas da Terra são apenas simplificações dos estudos de Biologia e estão separados da totalidade que é o planeta, esta é uma das teses do livro A natureza da NATUREZA, de Edgar Morin que nós já fizemos algumas postagens aqui.
Porém queremos dialogar com o conceito antropocêntrico que domina muitos estudos e cada vez mais vemos que é uma limitação já que a natureza tem seu próprio curso, e a interferência brutal do homem pode modificar e prejudicar este curso.
Segundo Ways (1970) citado em Chisholm (1974) existe uma tendência na epistemologia ocidental de objetivar a natureza para vê-la “do lado de fora”, e está é a responsável pela forma arrogante e insensível de lidar com o mundo natural, segundo o autor mesma atitude de separação do homem da natureza constitui a base do crescente conhecimento humano da mesma, sendo, portanto, uma interpretação antropocêntrica da evolução do mundo natural.
Por outro lado, é inegável a complexificação da natureza no homem, como uma animal que tem consciência, ou dito de outra forma tem consciência da própria consciência, o que pode levar a outro extremo que é a “interiorização” onde cultura e natureza se confundem, onde o subjetivismo pode ser uma tendência responsável por esta vertente.
Já o paleontólogo Teilhard de Chardin em sua obra “O fenômeno Humano”, observa que não há nenhum traço anatômico ou fisiológica que distingue o homem dos outros animais superiores, por outro lado tem a característica zoológica que o faz um ser à parte no mundo animal, é o único que habita todo o planeta, outra característica que vem de sua forma de consciência é a sua organização enquanto consciência e estrutura de pensamento, que Teilhard de Chardin chama de “noosfera”, uma esfera do pensamento também mundial.
Quanto ao home resta saber, e nem a ciência sabe, se é um mero acidente superficial que aconteceu ou se há nele uma intencionalidade desde que o Universo foi criado, seja Big Bang ou não, reflete Teilhard Chardin: “que a devíamos considerar – prestes a brotar da mínima fissura seja onde for no Cosmos – e, uma vez surgida, incapaz de desperdiçar toda a oportunidade e todos os meios para chegar ao extremo de tudo o que ela pode atingir, exteriormente de Complexidade, e interiormente de Consciência” (CHARDIN, 1997).
CHARDIN, T. O lugar do homem na natureza, trad. Armando Pereira da Silva, Ed. Instituto Piaget, Lisboa: 1997.
CHISHOLM, A. Ecologia: uma estratégia para a sobrevivência. Rio de Janeiro: Zahar, 1974.
Vulcões, entre a ciência e as superstições
O vulcão nas ilhas Canárias que arde a mais de uma semana, e por enquanto apenas aumento o volume e a quantidade de lavas incandescentes despertaram perguntas e medos, nem tudo é realmente certo, os vulcanólogos e geólogos não tem previsão para o esfriamento do vulcão e nem todas as superstições vieram apenas de profecias e apocalípticos.
A possibilidade de um megatsunami, partindo do meio do Oceano Atlântico, o Oceano pacífico tem mais vulcões e terremotos no chamado círculo de fogo (foto) que o Atlântico foi estudado após o maremoto da Indonésia que ganhou notoriedade, porém foi o do Japão, que afetou a Usina de Fukushima o mais assombroso.
O alerta não partiu de supersticiosos, mas de pesquisadores britânicos em artigo de 2001 (Ward & Day, 2002), o artigo ganhou notoriedade por citar diretamente as Ilhas Canárias (veja foto acima), e foi publicado na revista científica Yearbook of Science and Technology, fez outros estudos em casos já acontecidos, como o de 1º. de abril 1946 nas ilhas Aleutas onde houve um deslizamento de terra semelhante ao da costa de Papua Nova Guiné.
Cita que o maior deslocamento de terra, que provocou megatsunami, foi o deslizamento de terra em 1929 devido a um terremoto, no parque Nacional de Terra Nova, Canadá, na península de Burin, que chegou até a costa da Escócia e Holanda, mas só foi percebido por causa de fragmentos que foram depositados nas costas destes países.
O artigo fez experimentos por simulação em computador, que mostra que a eficiência de geração de tsunami aumenta com a velocidade e o volume do deslizamento de terra, e fez uma simulação justamente com o vulcão Cumbre Vieja (fig. 3 acima), na ilha de La Palma (uma das ilhas da Gran Canarias), e escreveram textualmente: “movimentos contínuo e recentes dos flancos de uma série de vulcões de ilhas oceânicas incluindo o Kilauea no Havaí e o Cumbre Vieja em La Palma, nas Ilhas Canárias, são possibilidades que estes podem romper [os flancos] durante uma erupção num futuro não muito distante” (Ward & Day, 2001).
O volume tem aumentado desde o domingo passado (19/09) e um dos flancos se abriu, mas não desmoronou e as lavas ainda não tinham chegado ao mar até a presente o dia de ontem.
Tivemos no ano outros vulcões em erupção, na Itália o Etna, na Rússia o vulcão Ebeko nas ilhas Curilas e na Islândia o Fagradalsfjall, mas estes não oferecem perigo, no caso da Islândia houve um período de interrupção do tráfego aéreo na região.
Outros vulcões no mundo se manifestaram este ano, na África o Nyiragongo no início de junho, na Indonésia o Sinabung no início de março, na Guatemala o Vulcão de Fogo, mas que já cessou a erupção, há outros pelo mundo, os vulcões ativos (mas não em erupção) são ao todo mais de mil, o Brasil está longe das placas tectônicas que além de vulcões provocam terremotos.
Por algumas horas o Vulcão Cumbre Vieja cessou de jorrar lava, mas voltou, se a duração e volume de material será suficiente para um tsunami, depende da intensidade e duração, nem vulcanólogos e nem os geólogos que acompanham o vulcão sabem dizer com certeza.
Ward, N. and Day, Simon. Suboceanic Landslides. Steven Yearbook of Science and Technology, McGraw-Hill, 2001. Disponível em: ward&day.pdf (ucsc.edu)
A finalidade humana e sua finitude
Diferente da máquina que tem como finalidade omeio (ver post anterior), a finalidade humana é reafirmar a existência pela perpetuação da vida, e também tudo que é vivo pode e deve defender esta existência, conforme explica Edgar Morin:
“As imposições que inibem enzimas, genes, e até células, não diminuem uma liberdade inexistente a este nível, pois a liberdade só emerge a um nível de complexidade individual onde há possibilidades de escolha; inibem qualidades, possibilidades de acção ou de expressão” (MORIN, 1977, 110), as máquinas não deixam de ter finalidade, mas sejam quais forem são meios.
Mas esta liberdade quando está no nível humano, e é “só ao nível de indivíduos que dispõem de possibilidades de escolha, de decisão e de desenvolvimento complexo que as imposições podem ser destrutivas de liberdade, isto é, tornar-se opressivas” (idem).
É o desenvolvimento da cultura humana que pode desenvolver estas potencialidades, assim diz Morin: “É certamente a cultura que permite o desenvolvimento das potencialidades do espírito humano” (ibidem), depende, portanto, do desenvolvimento de uma cultura de paz, de solidariedade e de preservação da vida dentro do espírito humano.
Dirá Morin no capítulo de sua conclusão sobre a “complexidade da Natureza”, que no universo dito “animista”, ou mitológico no caso dos gregos, “os seres humanos eram concebidos de modo cosmomórfico, isto é, feitos do mesmo tecido que o universo.” (MORIN, 1977, p. 333).
Esta presença do que Morin chama de “generatividade”, os seres animados e animadores, todos existentes no seio do universo, implicava numa comunicação entre as esferas: da physis, da vida e a antropossocial, se ampliarmos estes conceitos para a esferologia de Sloterdijk: antropotécnico.
Mas conforme raciocinamos alguns posts atrás, a separação da physis em natureza (animada) e física (inanimada) não só “desencantou o universo, mas também o desolou”.
Completa seu raciocínio com uma frase que mostra nossas múltiplas crises e noites: “Já não há génios, nem espíritos, nem almas, nem alma; já não há deuses; há um Deus, em rigor, mas noutro sitio (o destaque é do autor); já não há seres existentes, com excepção dos seres vivos, que certamente habitam no universo físico, mas procedem duma outra” (idem).
Assim conclui que a natureza foi devolvida aos poetas e a physis aos gregos, e assim o universo das técnicas (que são meios) dominou a vida (que é finalidade) e então “a ciência e a técnica geram e gerem, como deuses, um mundo de objectos” (MORIN, 1977, p. 334).
Não deixa que o finalismo (ou fatalismo) seja a última palavra: “é da crise desta ciência que saem os novos dados e noções que nos permitem reconstruir um novo universo” (idem), a física quântica, do terceiro incluído (o quantum entre dois quanta) e a entropia/neguentropia se renovam.
Todo universo é “anima”, também o teológo Teilhard Chardin concorda com esta tese, e também que a vida é a complexificação do universo, no qual o fenômeno humano é seu ápice.
Além da interpretação animista ou mitológica para estas finalidades da vida, que é morte e vida em vida em morte, um princípio heraclitiano também citado por Morin, a reflexão cristão sobre as passagens já citadas anteriores sobre quem é Jesus (Mc 8,27 e Mc 9,31), e Ele devia sofrer muito.
Ela se complementa na questão sobre abandonar aquilo que é finalidade transitória da vida (portanto só meios) e se não for útil para a finalidade última (e, portanto, são apenas meios e devem ser relativizados) se tua mão, teu pé ou teu olho te leva a pecar (esquecer o fim último da vida humana que é a eternidade da vida) é melhor perdê-los para ter a finalidade viva.
Mas sua última palavra é a de aceitação aos que veem esta realidade de modo diferente, se não são contra nós é a nosso favor (Mc 8, 40) e (Mc 8,41) e “quem vos der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa”, assim muitos podem cooperar com o crescimento da anima humana, com a vida e a Natureza viva da qual todos dependemos.
MORIN, E. A natureza da NATUREZA. Lisboa PUBLICAÇÕES EUROPA-AMÉRICA, LDA., 1977.
A complexidade e sua gênese
Ao penetrarmos na relação cada vez mais estudada homem-máquina, é preciso entender o que se teorizou até hoje sobre a natureza, o que significa formar um modelo para a natureza, e por sua vez, tornar coletivas e indivíduos humanos e não-humanos, compostos em uma cultura, ou em uma tradição, ou num âmbito mais geral o que está articulado e o que está só configurado.
Ou seja, o modelo pode estar sujeito ao erro ou fracasso conforme as áreas implantadas e podem ser determinados por eles, mas ao rearticulá-lo dentro de sua própria história de criação, não se fazendo a naturalização e sim a culturalização dos conceitos entendemos o modelo que temos a priri, e que nem sempre é a própria natureza.
Quem penetrou mais fundo nesta ideia, foi Edgar Morin e a partir daí concebeu o seu método e desenvolveu a complexidade, conceber a natureza se requer preservar, em última análise, a rede da qual ele emergiu conceitualmente e corrigir onde os conceitos estiveram separados, identificando uma rede.
Então trata-se de identificar a cultura que se desenvolveu em torno da natureza, Morin a coloca em minúscula para diferenciá-la da própria Natureza em maiúscula que é tudo aqui que foi dito e assim desenvolve-se o complexo, que significa aquilo que foi “tecido junto”.
O que então dizemos sobre a natureza é a cultura que foi se desenvolvendo em torno da ideia que poderíamos dominá-la, mas uma das máximas de Francis Bacon é que “não podemos dominá-la se não entendemos”, a moderna física quântica, a astrofísica moderna, mostraram o quão ingênuos eram os modelos de Newton, Galileu e Copérnico, mas eles foram tecidos juntos para chegar aos novos modelos hoje propostos.
Edgar Morin explica a “desordem da ordem” iniciando com duas citações para dizer que a ordem: “leis simplificadas inventadas pelos sábios” (Brillouin, 1959, p. 190), abstrações tomadas pelo concreto (Whitehead, 1926)” (MORIN, 1977, p. 76).
Ela agora segundo Morin está comprimida “entre o caos microfísico e a diáspora”, e importa saber como ela nasceu: “Como se desenvolveu a partir do zero? Como concebê-la apesar da, com a e na desordem? Como pode parecer-nos como única soberana do universo se agora é tão dificil de justificar a sua existência ? (idem).
Qual a gênese? “o conceito de ordem, na física clássica, era ptolemaico. Tal como no sistema de Ptolomeu, onde sóis e planetas giravam em torno da Terra, tudo girava em torno de uma ordem”. (MORIN, 1977, p. 82).
A revolução copernicana no entanto não foi a palavra final: “Hubble retirou-lhe todo o centro astral ou galáctico. E aqui está a grande revolução meta-copernicana e metanewtoniana, que caminhava subterraneamente de Carnot e Boltzmann a Planck, Bohr, Einstein e Hubble. Já não existe um centro do mundo, quer seja a Terra, o sol, a galáxia ou um grupo de galáxias” (idem)
E continua: .”Já não existe mais um eixo não equívoco do tempo, mas um duplo processo antagónico saído do mesmo e único processo. O universo é, portanto, simultaneamente policêntrico, acentrado, descentrado, disseminado, diasporizantes …” (ibidem).
MORIN, E. A natureza da NATUREZA. Lisboa PUBLICAÇÕES EUROPA-AMÉRICA, LDA., 1977.