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Entre a Vertigem e Dois Papas
A democracia brasileira de fato ainda não tem profundidade e maturidade, tudo é polarizado entre dois pontos de vistas exclusivos e ambos autoritários, mas nem é o caso de Democracia em Vertigem com uma clara interpretação dos fatos da jovem diretora Petra Costa, nem Dois Papas sob a direção de Fernando Meirelles, são bons diretores e tem uma visão dos fatos.
Começo por Fernando Meirelles pois foi sua entrevista no Roda Viva que me incentivou a falar sobre as indicações brasileiras ao Oscar, que devia nos orgulhar a todos, ainda que possamos discordar, precisamos aprender este direito democrático, ambos têm fundamentos culturais.
Meirelles explicou sua visão de Francisco, que seria o roteiro original do filme, que aos poucos tornou-se o diálogo e a admissão de erros papais, ambos cometeram erros, como todos nós os cometemos na vida, mas ambos conseguem dialogar e olhar para o futuro da igreja e do homem.
Falta a democracia brasileira isto admitir os erros do passado, mas é claro antes de tudo conhece-lo bem senão isto jamais será possível e neste sentido valorizo e gostei do filme de Pedra Costa.
Aliás sobre ela mesmo é preciso conhecer sua história, Elena seu primeiro filme tem aquilo que a caracteriza e parece ser o fio condutor de seu estilo, coloca o seu “olhar”, o que está claro ao por no documentário ela faz uma dança em rodopios, lembrando a irmã falecida e fecha num close-up do seu olho, quero dizer, ela própria vê que está colocando sua visão nos fatos.
Vendo o debate, e lembrando dos filmes de Meirelles: O Fiel Jardineiro (2005) e Cidade de Deus (2002), vejo que os debatedores conhecem pouco a obra dele e se fixaram nas próprias opiniões polarizadas sobre o filme, destaco ainda o pouco badalado mas excelente filme “Ensaio sobre a cegueira” (2008) que caberia muito bem para o que acontece na cultura brasileira.
Ambos o documentário de Petra e o filme de Meirelles tem emoção, tem boas imagens e fotografia, enfim são bons, mas a maioria ficará com a polarização e não com o diálogo que a arte procura.
Ainda a identidade
A filosofia conceituou a questão da identidade usando apenas o princípio lógico, A deve ser A não podendo não ser não-A, mas a própria questão de “ser” tem fundamento metafísico e ontológico pois o que é ser A ou não ser, enquanto Ser esta identidade lógica é apenas auto-identidade.
Assim grupos culturais e religiosos que buscam a própria identidade só podem se definir como ser se estão em relação ao não-A, este segundo princípio é a diferença, mesmo Hegel afirma que é esta negatividade que pode permitir o que a reflexão ser A pode ter em si.
Heidegger após explicar este princípio da identidade lógica A = A, ao afirmar que “é cada A ele mesmo o mesmo; ela diz antes consigo mesmo é cada A ele mesmo o mesmo. Em cada identidade reside a relação ´com´, portanto, uma mediação uma ligação, uma síntese, a união numa unidade” (Heidegger, 2006, p. 39), expliquemos melhor usando o próprio Heidegger.
Ele expõe logo em seguida que na história ocidental, ao contrário do que se imagina e se diz, a identidade “aparece, através da história do pensamento ocidental com o caráter de unidade” (idem), e ela não é um “insípido vazio daquilo que, em si mesmo desprovido de relações, persiste na monótona uniformidade” (idem), ou seja, ela é diversa, existe e persiste a diferença.
Como então esta ideia de identidade do mesmo, do nós fechado em grupos, de falsa coletividade e diversidade persistiu, as razões são igualmente históricas, como afirma Heidegger: “somente a filosofia do idealismo especulativo, preparada por Leibniz e Kant, funda, através de Fichte, Schelling e Hegel, um lugar para a essência em si mesmo sintética de identidade” (ibidem, p. 39).
Assim, esclarece Heidegger: “permanece vedado ao pensamento representar a unidade da identidade como monótona uniformidade e abstrair da mediação que impera na Unidade” e conclui: “Onde tal acontece, a identidade é representada apenas abstratamente” (ibidem).
Isto é claro não fica sem uma negatividade ontológica, pois o ser vê-se obrigado a exigir a sua diferença, a sua negatividade e muitas vezes o faz de modo radicalmente contestador, porque há uma ausência de mediação, o que se faz em abstrato é falar do diverso, do diferente, mas no concreto ignora-o, expulsa-o assim que ele se manifesta como um Outro.
Heidegger, M. Que é isto – a filosofia – Identidade e diferença. RJ, Petropolis: Editora Vozes, 2006.
Estética, cultura e espiritualidade
A desordem que a sociedade contemporânea avança não é só a econômica, social e cultural, o reflexo estético é uma sociedade que pretende eliminar o imperfeito, a dor e a co-imunidade (busca-se a todo custo todo tipo de imunidade retirando a diversidade da natureza), é a tentativa da ausência da tragédia, no sentido cultural e estético, da mudança, mas a vida passa pela morte.
O resultado ao contrário da estética que admite a tragédia é justamente caminhar para aquilo que tenta eliminar, é a sociedade da morte, da obscuridade, enquanto se pretende a perfeição, a estética do liso do perfeito e retilíneo, mas eles são contrários a natureza, e ao homem que é parte dela.
A expansão do corona vírus, outros vírus já vieram como a gripe asiática a pouco tempo atrás, é uma mostra que devemos conviver com isto, recentes descobertas nas geleiras de vírus que não conhecíamos significam que eles sempre existiram e sempre tiveram mutações.
Mas as mutações transgênicas, de plantas e animais que não tem nenhum tipo de doença, tem o paradoxo de serem justamente elas que geram doenças potentes ao mesmo tempo que destroem a diversidade natural do complexo sistema natural, aliás, a simplificação também é isto.
No plano social e religioso significa abolir a divergência, caminhar para uma identidade que não é outra coisa que a negação do Outro, do diverso e a imposição de sistemas autoritários, assim ao mesmo tempo que faz um discurso contra o individualismo e o autoritarismo, favorece-os, veja-se a lei da Entropia (foto).
O contraditório, assim como o diverso caminha e continua evoluindo em meio as crises, porque sabe que a tragédia é parte da vida e pode ser superada se encarada com preocupação e com naturalidade de quem conduz a vida e a sociedade para o futuro.
A passagem bíblica na qual fala da vida natural de Jesus, o tempo de pregação dele foi de 3 anos, e durante 30 viveu uma vida normal, vejam a relação de 10 para 1, os fariseus e fundamentalistas de nosso tempo vivem o inverso, está assim narrado pelo evangelista Lucas (Lc 2,39-40):
“Depois de cumprirem tudo, conforme a Lei do Senhor, voltaram à Galileia, para Nazaré, sua cidade. O menino crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele”.
Aliás lei neste caso eram as leis do judaísmo, ou seja, sua relação com a tradição de sua época.
A tragédia e as artes
Não estou falando aqui da tragédia no sentido vulgar, mas enquanto categoria artística que não só é importante para compreender as artes e o belo grego, como é reivindicada como uma nova ideia de tragédia “como propuseram Hölderlin, Hegel ou Nietzsche.” (Ranciére, 2009, p. 25).
Assim como Byung Chul Han em “A salvação do belo” vai problematizar o dualismo entre contemplação e ação, típicos da filosofia moderna que separa sujeito de objeto, Rancière penetra mais fundo ao propor sua “revolução estética”, afirmando que o que há é a “abolição de um conjunto ordenado de relação entre o visível e o dizível, o saber e a ação, a atividade e a passividade” (Ranciére, 2009, p. 25).
Disse isto ao analisar o Édipo da “revolução psicanalítica” que invalide “aqueles de Corneille e de Voltaire e que pretenda reatar – para além da tragédia à francesa, bem como da racionalização aristotélica da ação trágica – como o pensamento trágico de Sófocles” (idem, p. 25), na figura acima uma interpretação da pintora Marie Spartali Stillman (1844–1927) de Antígona.
Ranciére vai discorrer nas páginas seguintes de seu capítulo sobre a “revolução estética” sobre a psicanálise dizendo que ela é “inventada nesse ponto em que a filosofia e medicina se colocam reciprocamente em causa para fazer do pensamento uma questão de doença e da doença uma questão do pensamento” (Ranciére, 2009, p. 25).
Grande parte das neo-terapias modernas (chamo de psicanálise exotérica) vai por aí, como se o problema do pensamento idealista fosse “doença” e grande parte do sofrimento humano pudesse ser resolvido como “pensamento” transformando-o em doença.
Isso acontece por má relação com o pensamento da tradição, a modernidade tardia não é senão a má leitura do racionalismo e do idealismo, ou a leitura atrasada do empirismo, o pensamento da ação o “activo” de Hanna Arendt, expresso em Byung Chul Han, é também parte do pensamento da tradição que Ranciére vai identificar no “regime representativo uma potência absoluta do fazer” (Ranciére, 2009, p. 27).
Identifica claramente este regime no discurso de Baumgarten sobre “claridade confusa” (ver post anterior): “no regime estético, essa identidade de um saber e um não-saber, de um agir e de um padecer, que … constitui-se no próprio modo de ser da arte” (idem, p. 27), claro esta é a arte da tradição.
E assim afirma, que a revolução estética já havia se iniciado com Vico, em sua Ciência Nova, que contra Aristóteles e a tradição representativa, embora Rancière saiba que o problema dele não era a teoria da arte, mas o problema teológico-poético da “sabedoria dos egípcios” nos hieróglifos.
Que lugar ocupa a estética em nosso tempo
Imaginava que seria difícil até mesmo impossível abordar o tema, já que dele se ocupam críticos da arte de diversos tipos, psicanalistas freudianos e muito raramente alguém com nosso de estética de fato, no sentido do belo grego, ou da contemplação de que fala Byung Chull Han (que critica a cultura idealista do “liso”).
Encontrei num pequeno texto de Jacques Rancière, cada vez me encontro mais com este autor que conheci sua obra quase por acaso (A emancipação do espectador), ao referir-se ao tema como o inconsciente estético, mas ele próprio explica logo no início fora do aspecto psicológico do tema.
Encontro logo no início do livro: “estética não se ocupa da ciência ou da disciplina que se ocupa da arte. Estética designa um modo de pensamento que se ocupa das coisas da arte” (Rancière, 2009, p. 11) e isto já bastaria, mas complementa seu pensamento e que elas procuram: “dizer em que elas consistem enquanto coisas do pensamento.” (Rancière, 2009, p. 12)
É um achado, mas não poderia ser de modo diferente em dialogar com a “tradição” kantiana, segue logo o complemento que se segue dizendo que arte enquanto pensamento é uma referência recente e refere-se tanto a obra Genealogia da arte de Baumgarten de 1790 quanto a crítica da Faculdade de Julgar de Kant.
De Baumgarten bastaria a simples referência em sua obra onde refere-se a união dos objetos que “devem ser pensados de modo belo com as causas e efeitos, à medida que esta união deve ser conhecida sensitivamente através do análogo da Razão” (Baumgarten, 1933, p. 127) e assim tanto ele quanto Kant estabelecerão um “pensamento confuso” sobre a definição da estética.
Dirá Rancière que ambos ao chamarem de pensamento confuso ou de sensível heterogêneo de Kant, ambos farão da arte “não mais que um conhecimento menor, mas um conhecimento daquilo que não se pensa” (Rancière, 2009, p. 13) e a nota do autor vai uni-la ao iluminismo e liberalismo.
Não há referência explícita ao pensamento de Nietzsche sobre a arte, mas ao discorrer sobre Édipo, a tragédia grega mais típica e Nietzsche defende o papel desta na arte, diz sobre o uso freudiano desta tragédia como “universal”, que ela ao mesmo tempo engloba três aspectos: “uma tendência geral do psiquismo humano, um material ficcional determinado e um esquema dramático considerado exemplar.” (Rancière, 2009, p. 15).
Claro isto é apenas introdutório, o que Ranciére quer explicar é que não se trata de subjetivo ou de “conhecimento confuso”, mas de “união paradoxal de doença e de medicina que se trata, de união paradoxal das duas” (p. 26) em uma referência a “O nascimento da tragédia” de Nietzsche, aquilo que o idealismo como pensamento e o romantismo como “estética” quiserem negar.
Rancière, J. O inconsciente estético. trad. Monica Costa Netto. São Paulo: ed. 34, 2009.
Tradição e inovação tem alguma relação ?
No âmbito cultural imagina-se muitas vezes que não, ou estabelece inovação apenas no âmbito estrito da cultura, enquanto ela tem relação com as crenças, valores, e principalmente com as formas de relações sociais que envolvem a produção de riquezas, o uso de técnicas, por exemplo, a passagem da cultura oral para a escrita, significou uma mudança profunda.
Inovação está ligada a alguma mudança cultural significativa, em geral, com influência de novas técnicas e modos de produção para consumo, mas o termo é mais amplo.
A mudança hoje é das mídias para as transmídias, isto é, as mídias se complementam pode-se fazer um vídeo a partir de um texto ou de uma exposição oral de determinada cultura, assim pode-se falar de narrativa de transmidia, ou de “storytelling”, ou seja, contar estórias.
O termo foi utilizado pela primeira vez pelo professor Marsha Kinder, da Universidade de Sourthern California (EUA), em 1991, mas em 2003 o professor Henry Jenkins criou uma definição que ficou consagrada em seu livro “Cultura da Convergência”, onde definiu-a como: “[…] uma nova estética que surgiu em resposta à convergência das mídias”.
Ao remeter a estética o termo, este ultrapassa a pura produção de produtos de consumo para atingir a arte, a cultura e de certa forma o sistema de crenças como um todo, mesmo que a rejeição em diversos âmbitos seja comum, o processo de “inovação” avança.
Também há uma redefinição de storytelling, a tradição da cultura oral de contar estórias, onde a tradição se perpetua muda para uma nova forma, agora torna-se o uso de recursos audiovisuais para transmitir uma história, que pode ser contada de improviso (como na tradição oral), mas pode também ser trabalhada e enriquecida com recursos visuais.
JENKINS, Henry. Convergence Culture: Where Old and New Media Collide. NY: New York University Press, 2006.
A crise cultural e espiritual
A modernidade dividiu em objetivismo e subjetivismo questões que no homem são inseparáveis, a primeira porque devemos ter relações concretas com os objetos mesmo aqueles que são intangíveis, o objeto de uma forma de pensamento é também subjetivo, assim como o que pensamos sobre um objeto concreto, sendo pensamento é subjetivo.
O problema fundamental é que toda forma de pensamento deve estabelecer claramente o que se pensa sobre aquele objeto e é aceito como um conhecimento estabelecido, uma episteme e não uma mera opinião (a doxa dos gegos) e o que é possível pensar de novo, eis o epicentro da crise atual.
Não se sabe ao certo o que é o pensamento estabelecido sobre determinado objeto, ou seja a tradição epistêmica sobre ele, e nem se sabe qual é de fato as novas possibilidades de pensar sobre ele, eis a crise de um modo geral, assim qualquer tentativa de dar um tom espiritual ou meditativo sobre um assunto, surge apenas como mera fuga da realidade e não tem nada de novo.
Mudar as bases do pensamento nem é atitude voluntária, vamos mudar porque não está bom, nem é atitude orto-doxa, criando uma palavra para o diálogo epistêmico devia ser uma orto-episteme, isto é uma relação com a tradição, mas que possibilite mudança, enfim o novo.
No aspecto espiritual isto significa conhecer o que se fez até hoje como religação e relação com aquilo que é além do natural, o sobre-natural e aquilo que a realidade contemporânea existe, uma relação concreta (erroneamente chamada de subjetiva, pois é espiritual) com as necessidades e o próprio pensamento contemporâneo com exigências de mudanças.
Não há nada de novo nem no pragmatismo realista nem na “fuga” espiritual, não produz nem ação nem contemplação verdadeiras.
Verdades e falácias sobre humildade
É pensamento corrente que a humildade seria um tipo de sabedoria revelada só aos humildes no sentido strictu da palavra, assim ela fica vinculada a uma falta de conhecimento, de instrução e, portanto, de verdade, isto não é humildade, mas apenas e tão somente ignorância.
Há ainda um tipo de pensamento medieval: “a atitude de abjeção voluntária diante da natureza miserável e pecaminosa do homem”, parece religiosa mas sequer é isto, o apostolo Paulo diz com maior clareza, segundo o mostra o Dicionário de Filosofia de Nicola Abbagnano, ela é “a falta de espírito de competição e de vanglória”, que é presente em vários domínios, até no religioso.
André Comte-Sponville, em seu Dicionário filosófico ajuda a discernir: “não se deve confundir, portanto, humildade com o ódio a si (acrescento autopiedade), ainda menos com servilismo ou baixeza. O homem humilde não se crê inferior aos outros: ele deixou de se crer superior. Não ignora o que vale.. ou pode valer … “, assim muitos arrogantes criticam a falta se humildade, que eles próprios são portadores.
Por último quero acrescentar um argumento filosófico mais forte, o desacordo de Nietzsche com a filosofia socrática (tipo, só sei que nada sei), Nietzsche argumentava que a consideração socrática sobre a arte trágica (ele defendia a tragédia e criticava sua ocultação), nunca diz a verdade, já que ao construir um conjunto de valores conceituais sobre a vida, a empobrece e inferioriza.
Assim curiosamente o filósofo da “morte de Deus” afirma que a vida não pode ser avaliada pelos viventes, pois fazendo parte dela não podem julgá-la, sendo ilusão da realidade.
Quem quer saber um pouco sobre o pensamento de Nietzsche (isto é para iniciantes), veja o vídeo, do Professor Anderson, com a ressalva que nem todo cristianismo é maniqueísta (santo Agostinho não o era, só o foi quando ateu, sua conversão foi justamente abandonar o maniqueismo):
https://www.youtube.com/watch?time_continue=159&v=RVcastuX0c4&feature=emb_logo
V
Uma releitura dos reis magos
Em tempos de fundamentalismo e intolerância religiosa, uma releitura dos reis magos que foram adotar e também “contemplar” o nascimento de Jesus é essencial para o diálogo entre religiões.
A primeira necessária é que Deus se comunicou com os “magos” do oriente, ela pode reabrir corações fechados para re-ligações (religião do verbo em latim religare que é religar), pois eles não eram sequer religiosos no sentido convencional, mas magos e Deus os religou.
A segunda é que a comunicação divina foi através de astros, que significa que eles podiam entender esta linguagem e que Deus falou na língua humana deles, ou seja, há formas além das dogmáticas de comunicação entre Deus e os homens, mesmo não crentes.
A cosmologia é uma parte antiga e fundamental da filosofia, sua evolução e composição estuda o universo, e vem desde a antiguidade, os pré-socráticos a estudavam, buscam também a explicação da origem e da transformação da natureza e do universo e constroem mitos e divindades, criando uma relação entre seres mortais e imortais.
Então Deus não é tão indiferente a isto, uma proposta universal não deve desconsiderar a cosmologia, e se deseja construir uma cosmogonia, isto é princípio e fim de toda a vida, então uma escatologia é também construída, e a escatologia cristã pode estar relacionada a esta, não é afinal Deus princípio e fim de tudo ?
Esta segunda releitura, a questão dos astros, de fato ainda hoje se buscam evidencias cosmológicas da estrela que os Reis Magos seguiam, um astro, um cometa, isto poderia ajudar a datar o natal de uma data mais precisa.
Teólogos como Teilhard Chardin não deixaram de considerar a hipótese cosmológica, a noção de um universo cristocêntrico ajuda a uma interpretação não fundamentalista de uma escatologia mais complexa, e por isso recorremos (no post de 3/4/2019) a São Gregório de Nazianzeno (a igreja católica o comemora dia 2 de janeiro).
A terceira é que os reis magos foram “contemplar” o menino-Deus, além da vita activa, Hannah Arendt também falou dela em A condição Humana (publicado em 1956, com edição brasileira de 2009), que vem da conferencia Trabalho, Obra e Ação (publicação brasileira de 2006), mas já falavam desta questão Aristóteles no bios politikos e a vita negotiosa ou actuosa em Agostinho, e, recentemente Byung Chull Han em A sociedade do cansaço.
Mas não vieram adorar apenas, onde o elemento oferecido incenso é essencialmente isto, mas também trouxeram ouro no sentido de riqueza e mirra no sentido de sacrifícios oferecidos.
Os reis magos deveriam significar a abertura do cristianismo a outras linguagens e outras culturas que também são uma expressão do infinito, do universo e da vida construída de modo sagrado em todos e em tudo.
Primeira publicação: janeiro 2019
A maioria e o identitário
Poucos conhecem este nome, o contrário de transsexual é cis, também o cristianismo e o fato de ser branco pode ser uma dificuldade de diálogo com outros grupos, entretanto a democracia e os direitos exigem que estes diálogos também sejam feitos.
Não se trata apenas de uma posição ideológica ou partidária, porém é assim que se vê a maioria, no caso religioso há ainda uma coisa única no Brasil que poderia ser positiva e não o é, o chamado sincretismo religioso.
Diria mais no caso brasileiro, os negros se contados pardos e mulatos são maioria, o que seria então a guerra ideológica que boa parte da direita pensa, nada além da recusa do diálogo.
A dicotomia que se estabeleceu na sociedade brasileira é prejudicial ao conjunto dos brasileiros, e a chamada “guerra cultural” pode levar o país a extremos nunca pensados antes.
O identitário que no caso americano levou determinada direita ao poder, a oposição não é bem uma esquerda, no caso brasileiro pode abrir fendas profundas na nação, pensando em povo e não em símbolos pátrios apenas, sem que isto leve a uma perspectiva a curto prazo.
A longo prazo somente uma retomada do diálogo tornará possível novos avanços e novas formas de democratizar direitos e deveres aos seus cidadãos, construir uma nova cidadania identitária requer que vejamos o conjunto da sociedade como ela: uma miscigenação de povos, raças e religiões.
Os estudos feitos por Mario de Andrade para Macunaíma pode ser um bom início para este diálogo, embora é claro haverá quem o torne demoníaco também.
O processo de “estranhamento” da sociedade brasileira com sua própria identidade, que é sem dúvida uma miscigenação, pode ter dois caminhos negar uma metade da população com efeitos catastróficos, ou incluir as duas metades e levar o país a um exemplo de tolerância.
Eu torço e luto pelo segundo caso, embora neste momento pareça quase impossível.
Entre as várias resenhas que encontrei na internet, a de Luana Werb é boa introdução a leitura de Macunaíma, caso tenha interesse acesse o link abaixo: