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Trolls não é trolagem
Fui assistir o desenho animado Trolls, com minha sobrinha para disfarçar, bem mais infantil do que Frozen, a mensagem é mais interessante, porque é mais coletiva e não maniqueísta.
O filme está em segundo lugar em bilheteria atrás apenas de “doutor Estranho”, e creio que vale por enquanto segundo dados da ComScore, a estreia de “A luz entre oceanos” pode mudar estas posições de lugar.
A estória de Trolls é de uma comunidade triste que tem como única esperança de viver a felicidade devorar os Trolls, havendo para isto um dia especial do trolicídio, as analogias com impérios econômicos e a visão de exploração de povos, que na verdade são felizes, e esta já é uma visão não maniqueísta, é muito interessante, assim como a proposta final.
O filme feito pela DreamWorks, tem direção de Mike Mitchell (diretor Alvin e os Esquilos 3 (2011) e Bob Esponja: Um Herói Fora d’Água (2015)) e Walt Dohrn, e roteiro de Glenn Berger e Jonathan Aib, os bonecos Trolls apareceram no comercio em 1958.
Stephen Strange (Benedict Cumberbatch) é um cirurgião arrogante que, que após perder o uso das mãos em um acidente de carro, parte em busca de uma cura e acaba encontrando a redenção como o maior mago do universo Marvel.
Doutor estranho tem a direção de Scott Derrickson, e o roteiro escrito por uma equipe: S. Robert Cargill, Jon Spaihts, Joshua Oppenheimer, Thomas Dean Donnelly e o próprio Scott Derrickson.
Exegese e Hermenêutica: dicotomias
Qualquer texto fora do contexto é crítico, mas o que é exatamente contexto, o que significa os termos na linguagem da época em que foi escrito e principalmente qual a exata interpretação que se pode dar dele é a hermenêutica, já a exegese depende apenas da interpretação.
A primeira grande falácia é que uma é de origem bíblica, neste caso a exegese e outra de origem gregas, falácia pois ambas são de origem grega, a Exegese (do grego ἐξήγησις de ἐξηγεῖσθαι “levar para fora”) é uma interpretação ou explicação crítica, ainda que tenha a particularidade para o texto religioso, enquanto a hermenêutica vem do grego “ermēneutikē” que significa “ciência” e “técnica”, mas refere-se ao deus Hermes, que deu origem a linguagem e a escrita.
Se considerarmos a antiguidade clássica, já a hermenêutica é mais completa, pois significa estudar a língua, literatura, cultura ou civilização sob uma visão Histórica, nos documentos escritos, embora não fale explicitamente de memória, fala de cultura e literatura.
Já apontamos aqui que foi Friedrich Schleiermacher (1768-1834), no início do século XIX, a hermenêutica recebe um dos objetivos era unificar a hermenêutica bíblica e do direito, por isto a chamou de hermenêutica universal, teve profundas influencias no pensamento de Dilthey e Heidegger.
Heidegger, afirma que a compreensão apresenta uma “estrutura circular”, de onde vem o círculo hermenêutico: “Toda interpretação, para produzir compreensão, deve já ter compreendido o que vai interpretar” (HEIDEGGER, Martin. Being and Time. New York: Harper & Row, 1972).
Wilhelm Dilthey, diz que a explicação (próprio das ciências naturais) e compreensão (próprio das ciências do espírito ou ciências humanas) estariam em oposição ou seja: “Esclarecemos por meio de processos intelectuais, mas compreendemos pela cooperação de todas as forças sentimentais na apreensão, pelo mergulhar das forças sentimentais no objeto.” (PALMER, Richard. Hermeneutics: Interpretation Theory in Schleiermacher, Dilthey, Heidgger, and Gadamer. Evanston: NUP, 1969).
Paul Ricoeur quer superar esta dicotomia, para ele compreender um texto é encadear um novo discurso no discurso do texto, pois por um lado não há reflexão sem meditação sobre os signos; do outro, não há explicação sem a compreensão do mundo e de si mesmo. (RICOEUR, Paul.Teoria da Interpretação. Lisboa: Ed. 7O, 1987).
O pessimista Bauman de novo
Em entrevista ao jornal El País, o pessimista Bauman volta a atacar, não sou eu quem digo mas está com todas está com todas letras no livro “Bauman é considerado pessimista. Seu diagnótico da realidade em seus últimos livros é sumamente Crítico.”, pode-se ler no periódico.
Embora com diagnóstico correto, seu remédio é mortífero, em A riqueza de poucos beneficia todos nós?, afirmou que o alto preço que se paga hoje em dia pelo neoliberalismo triunfal dos anos 80 e a “trintena opulenta” que veio em seguida, levou a uma “grande mentira” (o que é verdade), mas não ve novidade nos novos partidos, sonha com o que ? a volta do Politburo ?
Ataca as redes por desconhecimento, diz que ela seria oposta a “comunidade”, afirmou na entrevista:” A questão da identidade foi transformada de algo preestabelecido em uma tarefa: você tem que criar a sua própria comunidade. Mas não se cria uma comunidade, você tem uma ou não; o que as redes sociais podem gerar é um substituto. A diferença entre a comunidade e a rede é que você pertence à comunidade, mas a rede pertence a você.”, criando uma dualidade fictícia.
Fica claro que nunca participou de uma comunidade virtual, que não é irreal, esperamos que ele apesar da idade algum dia faça a experiência, e vai verificar que não só estará numa comunidade como será bem mais aberto, e a transparência (por que fica registrado) é mais clara, e também mais fácil de ser provada e observada.
O pessimismo de Bauman vai ao extremo ao negar o “progresso” chegando a chama-lo de mito, diz por exemplo: “As políticas de austeridade vão continuar, não podiam pará-las, mas podem ser relativamente efetivos em introduzir novas formas de fazer as coisas.”
A entrevista deixa claro que ele sabe que novas formas de manifestação e de propostas existem, mas ele próprio se confessa: “Não sou capaz de profetizar. Estamos experimentando novas formas de fazer coisas.” Afirmou ao periódico, sim não consegue nem jamais conseguirá, porque não propõe nada, apenas dá o seu diagóstico negativo, os problemas estão ai para resolvermos e propormos.
O resultado do “liquidismo” baumaniano é a inércia, criticar a rede e os novas formas de manifestações e a metodologia de seu pessimismo, o que propõe ?
A hermeneutica em Paul Ricoeur
Depois de tentar entender a hermenêutica numa linha: F. Scheleimacher (1768-1834), Martin Heidegger (1889-1976) e Hans-Georg Gadamer (1900-2002), me perguntei qual era a visão de Paul Ricoeur (1913-2005) ?
Encontrei-a em um único livro, que alívio, O conflito das Interpretações, em uma excelente publicação portuguesa da Rés-Editora, embora outras obras de Ricoeur façam referencia ao tema: Teoria da Interpretação e um ensaio sobre Freud.
Começa apresentando o problema de modo claro: “Se um texto pode ter vários sentidos […] é preciso recorrer a uma noção de significação muito mais complexa do que a dos signos ditos unívocos que uma lógica da argumentação requer […]. Por consequência, a hermenêutica não poderia permanecer uma técnica de especialistas […], ela põe em jogo o problema geral da compreensão.” ( RICOEUR, s/a, p. 6) lembro a “interpretação de texto” na escola primária.
Ao contrário de Dilthey que via a interpretação como “o transporte entre duas vidas psíquicas” Ricoeur vai além da vida vivida aos “modos de compreensão disponíveis numa época: mito, alegoria, metáfora” (RICOEUR, s/a, p.) permitindo uma hermenêutica mais “completa”.
Vai além também da “via curta” adotada por Heidegger em Ser e Tempo, para formular uma ontologia da compreensão que “não se chega a ela gradualmente, aprofundando as exigências metodológicas da exegese (sic), da história ou da psicanálise: transportamo-nos até ela através de uma súbita inversão da problemática.” (RICOEUR, s/a, p.8)
Faço a observação da exegese, porque mesmo que se faça a análise minuciosa de uma palavra, sua etimologia e até mesmo sua contextualização histórica, faltará a experiência vivida, eis a única e verdadeira hermenêutica universal e filosófica, a que brota da vida, mas “vivida”.
Na visão de Ricoeur, Heidegger nunca teve a pretensão de analisar um ente particular, “ele quis reeducar o nosso olho e reorientar o nosso olhar; ele quis que subordinássemos o conhecimento histórico à compreensão ontológica, como uma forma derivada de uma forma originária” (RICOEUR, s/a, p.12), fazendo uma metáfora como gosta Ricoeur, trocar os óculos.
Outramente (outro livro de Ricoeur), sua ontologia é uma ontologia militante que, partindo do conhecimento histórico, chegará por meio da interpretação, ao plano ontológico, e não só do ser, mas do Outro Ser.
Podemos chamar a via de Ricoeur de via longa, parte da compreensão pela linguagem, ou seja, pretende compreender os signos que compõe a cultura antes de compreender o seu próprio estatuto ontológico, mas deve-se ter o cuidado da reflexão como intermediário entre estes dois estágios, “a reflexão é uma intuição cega se não é mediatizada por aquilo a que Dilthey chamava as expressões nas quais a vida se objetiva” (RICOEUR, s/a, p.19), dito assim:
“O sujeito que se interpreta ao interpretar os sinais já não é o Cogito: é um existente que descobre, pela exegese da sua vida, que está posto no ser mesmo antes de se pôr e de se possuir. Assim, a hermenêutica descobriria uma maneira de existir que permaneceria de ponta a ponta ser–interpretado.” (RICOEUR, s/a, p. 13)
RICOEUR, P. O Conflito das Interpretações: Ensaios de Hermenêutica. trad. port. Artur Morão. Porto: Rés-Editora, s/a.
A Web pode mudar mais?
As novas mudanças em torno de instituições paralelas, vamos comentar uma delas hoje, a JQuery, parece apontar para mudanças mais profundas na Web que as Web 3.0 (linked data) e Web 4.0 (agentes inteligentes).
A JQuery passou a se transformar em Fundação JS, para dar apoio e governança aos projetos que são desenvolvidos a partir do JavaScript, a fundação é uma iniciativa Linux mas que conta com empresas como IBM, Samsung e Sauce Labs e muitas outras.
O diretor executivo da JS, Kris Borchers, afirmou que “por um longo tempo, temos oferecido suporte à comunidade JQuery, e a nova marca tem o objetivo de refletir essa realidade”, mas agora segundo suas palavras “o centro de gravidade” é o padrão aberto JavaScript.
As mudanças virão porque os projetos (ao total de 23), entre eles os frameworks de teste Appium e Mocha, o Dojo Toolkit, o utilitário de linting (verificação de código para identificação de erros e problemas) ESLint, o JerryScript.
Esta nova instituição irá promover a ampla adoção e desenvolvimento permanente de soluções JavaScript, e em tecnologias relacionadas, facilitando a colaboração com a comunidade.
Os membros fundadores da JS, como antigos membros da JQuery, foram IBM, Samsung, Sauce Labs, Bocoup, Ripple, Sense Tecnic Systems, SitePen, StackPath, a Universidade de Westminster e o WebsiteSetup.
O Brasil tem uma comunidade JS bastante ativa e seus projetos podem ser vistos no seu site.
É possível uma hermenêutica hoje ?
Difundem-se teorias e semi-teorias, estas últimas em maior parte, chamo de semi-teoria não aquela que é incapaz da hermenêutica para não cair no erro tautológico, aquela que é capaz de interpretar uma teoria o mais próximo do que o autor quis dizer.
Semi-teoria é simplesmente a leitura de parte de uma teoria fazendo um recorte por aspectos periféricos e desconsiderando centrais, por exemplo, uma leitura de Hegel a partir apenas da Fenomenologia do Espírito sem os Elementos (ou Princípios) de Filosofia do Direito, como se não formassem um todo, ou ainda desconsiderando uma parte importante de seu trabalho em Ciência e Lógica (1812-1816) e Enciclopédia das Ciências Filosóficas (1817-1830).
A hermenêutica referia-se classicamente na interpretação da Bíblia, pode parecer que foi por isto que a hermenêutica filosófica, iniciado em Heidegger e fundamentada em Gadamer, tenha buscado em Scheliermacher, hermenêutica bíblico, que afirmava que: “O sentimento da imortalidade e da fé na imortalidade fundam-se na “imortalidade da união da essência de Deus com a natureza humana na pessoa de Cristo”.
Isto pareceria um vínculo oportunista entre religião e filosofia, mas não é exatamente isto, embora o vínculo exista, mas o fato que para Scheleiermacher a religião é a relação do homem com a Totalidade (com o Todo), e se o Todo se relacionam também com a metafísica e a moral, a interpretação de textos não bíblicos também podem ser feitas nesta relação com o Todo.
Os propósitos de Scheleiermacher são universais, e por isto ele pode falar de uma hermenêutica universal que se supôs acima das hermenêuticas particulares: a bíblica, do direito e das ciências sociais; assim: “pressupõe que o mal entendido é um resultado costumeiro (SCHELEIERMACHER, 2005, p. 22), tem como objetivo: “compreender o enunciado no começo tão bem quanto seu ator, e depois melhor que ele” (Scheliermacher, 2005, p. 23) e ela “depende do talento para a linguagem e do talento para o conhecimento de pessoas individuais (Scheleiermacher, 2005, p. 11).
Compreender melhor que o autor ao explicitarmos o que está inconsciente no processo de criação do autor, sendo preciso colocar tanto a posição objetiva quanto a subjetiva em sua fala ou escrita, objetivamente aprendendo a linguagem como o autor a possuía, e, subjetivamente aprendendo sobre a vida e as condições contextuais de vida do autor.
Scheleiermacher saliente que há dois tipos de talentos que raramente se encontram em uma única pessoa: a precisão gramatical e suas possibilidades de expressão, por exemplo, no uso de analogias e metáforas.
Podemos perguntar agora se é possível a um interprete reconstruir o processo criativo do autor, ele precisará primeiro descobrir o processo que motivou o autor e que com o processo criativo constitui uma unidade, e, ao discutir a interpretação identificar o processo divinatório e comparativo que levaram o autor a determinado texto.
Entendamos o processo divinatório como aquele que “em nós, por assim dizer, nos transformamos na outra pessoa e tentamos compreender o elemento individual diretamente (Schileimacher, 2005, p. 92).
Scheleimacher, F. Hermeneutica e crítica. Vol 1. Ijuí: Unijuí, 205.
Que é hermenêutica
Se tivesse que a definir de modo simples, diria que é uma interpretação verdade, a palavra interpretação é mais comum no português que hermenêutica, sendo ligada a correção interpretação bíblica feita por Schleiermacher (1768-1834), pois ele pretendeu ser o primeiro a unificar as várias teorias hermenêuticas de disciplinas específica numa hermenêutica universal.
Para Schleiermacher, a hermenêutica é a arte de compreender a linguagem falada e escrita, e ela pressupõe que erros de interpretação constantemente ocorrem, e uma vez que a escrita fica ligada a língua do autor, ele fez uma divisão em duas partes: a interpretação gramatical que trata a compreensão semântica e sintática da linguagem, e a interpretação técnica ou psicológica que trata do pensar do autor, como ele desenvolveu seus pensamentos.
Foi uma influencia decisiva no pensamento de Georg-Hans Gadamer, sendo o segundo também ligado a hermenêutica Wilhelm Dilthey (1833-1911) estudioso de Schleiermacher, mas cujo projeto central era criar uma metodologia única para as ciências humanas, visto que o método das assim chamadas “ciências naturais” não é apropriado pelas ciências humanas.
Martin Heidegger (1889-1976) combina o método de pesquisa fenomenológica de Husserl com aspectos da teoria da compreensão da vida de Dilthey, além das influencias citadas em posts anteriores (Platão, Aristóteles, Mestre Eckhard e Leibniz) queremos também salientar agora, uma vez visto a importância de Hegel, fora do âmbito da razão, Sφren Kierkegaard e Friedrich Nietzsche, já afirmamos Heidegger dirá que é preciso conhecer o significado do Ser, e particularmente do ser dos seres humanos antes de discutir nossos conhecimentos sobre as entidades.
A descrição cuidadosa do que são os seres humanos na vida real, não admite um projeto idealista ou num recorte materialista ou mesmo consumista, é saber o que temos como auto compreensão interpretativa de que temos de nossa ida.
O projeto da hermenêutica é abandonado em o Ser e o Tempo, mas o circulo hermenêutico do qual Hans-Georg Gadamer (1900-2002), que diz de modo provocativo que a hermenêutica de Heidegger tem estruturas prévias de compreensão, que são “preconceitos”, mas podemos pensar então que há também preconceitos positivos que levam a interpretação correta.
A compreensão hermenêutica ocorre quando o horizonte passado do texto com o horizonte presente daquele que o interpreta e compreende se fundem, trata-se do horizonte do interprete agora expandido, está em germe em Heidegger e em método em Gadamer.
O que é ser em Heidegger
A questão que Gadamer põe ao final de sua interpretação de Heidegger é se é possível ir além do “acirramento dialético-especulativo de Hegel das contradições do entendimento, dirigindo- se até mesmo para uma superação da lógica e da linguagem da metafísica ?” (Gadamer, p. 309), e a questão do nada, tal como formulada em Parmênides, de modo parecido a determinação do divino por meio da energia (do ato) sem potência como em Aristóteles, apareça como a total destituição do nada (idem).
No entanto, agora entrará em cena, estendendo o nada até Hegel e Husserl, que já formula- mos “porque há antes o ente e não antes nada?”, como me sugeriu uma adolescente: “o que fez Deus antes de criar o mundo”, “e porque não criou antes” ou ainda “poderia não ter criado e nos salvaria de muitos problemas”, claro para quem crê é que a questão é parecida.
O Ser que se desvela em Heidegger está ligado a consciência histórica, digo assim por Gadamer “ … o ponto de partida transcendental em Heidegger é o ente cujo ser está em jogo e que a doutrina dos existenciais em o Ser e tempo carregam consigo a ilusão transcendental, como se o pensamento de Heidegger não fosse outra coisa senão, para falar com Oskar Becker, a elaboração de outros horizontes, até aqui não estabelecidos, da fenomenologia transcendental, horizontes esses que dizem respeito à historicidade do ser-aí” (Gadamer, p. 311).
Mas o ser completamente elabora em Heidegger é novo: “a verdade do ser é a não verdade, isto é, o encobrimento do ser na ‘errância´, não há mais como desconsiderar a mudança decisiva no conceito da ´essência´, que se segue da destruição da tradição grega da metafísica, na medida em que ele deixa para trás o conceito tradicional da essência do mesmo modo que o conceito tradicional do fundamento essencial” (Gadamer, p. 311)
Assim nesse novo conceito de essência “a partir do ser do utensílio, que não tem sua essência em sua impertinência objetiva, mas em seu estar à mão que alguém já sempre deixa ser para além dele em meio ao trabalho, a partir do ser da obra de arte, que abriga de tal modo sua verdade em si, que essa verdade não se torna manifesta de qualquer maneira senão na obra …” (Gadamer, p. 311).’
Ele distingue a essência por sua “insubstancialidade do conceito de objeto de consumo, tal como esse objeto pertence à produção industrial.” (Gadamer, p. 312).
Mas não há mais o dualismo nominalista, “a partir da palavra: também a palavra não possui a sua ´essência´ em ter sido totalmente expressa, mas naquilo que ela deixa sem ser dito, tal como é demonstrado no caso do emudecimento e do silêncio” (Gadamer, p. 312).
Agora “um segundo grande complexo de problemas, que entra em cena agora sob uma nova luz, é o tu e o nós” (Gadamer, 313) que anunciou seus re-leitores Ricoeur, Levinas e o próprio Gadamer.
GADAMER, H.G. Hegel, Husserl, Heidegger. Petrópolis, RJ: Vozes, 201
Metafísica e filosofia da história
O aprofundamento de Heidegger na antiguidade clássica,
Platão e Aristóteles, na escolástica de Agostinho de Santo Tomás, e a releitura de Kant, Hegel e até seu idolatrado mestre Husserl, fazia a academia alemã dos anos 1950, no final da 2ª. Guerra mundial, “começar de maneira totalmente e não reter nada daquilo que até então se mostrava como válido” (Gadamer, p. 306), e isto aconteceu “na medida em que Heidegger acolher a crítica aristotélica à ideia do bem e a transformara de maneira frutífera, sublinhando particularmente o conceito aristotélico de analogia” (Gadamer, p. 307).
Não se deve fazer isto sem a necessária atualização histórica sobre a questão da consciência histórica introduzida por Hegel, onde: “a concepção hegeliana de uma história da filosofia já se mostrava completamente como filosofia, como uma parte isolada no interior da filosofia da história, que procurava demonstrar por sua vez a presença da razão também na História (Gadamer, 399).
A retomada ontológica de Heidegger, devia retomar a linguagem da metafísica como questão, e de certa forma se confunde com Hegel, pergunta assim Gadamer: “será que a nova radicalidade com a qual Heidegger despertou as mais antigas questões da filosofia para uma nova atualidade a figura conclusiva da metafísica ocidental … ? ou serão que foi o círculo da filosofia da reflexão que paralisou toda esperança de liberdade e de liberação e obrigou o pensamento heideggeriano a retomar a sua vida ?” (Gadamer, p. 307).
Deve-se conforme responde Gadamer, por um lado compartilhar com Hegel o acolhimento da história no próprio ponto de partida filosófico, e por outro “a dialética secreta e não desvendada, que está entranhada em todos os enunciados essenciais de Heidegger” (Gadamer, p. 308).
No pensamento de Heidegger temporal do homem, ele “parece pretender para si uma genuína autoconsciência histórica, sim, mesmo uma autoconsciência escotologicamente* marcada” (Gadamer, p. 308).
O segundo tema crítico, apontado por Gadamer na obra de Heidegger, é o que denomina como “o ser” e busca interpretar a tautologia do ser que é mediação do imediato, que segundo Gadamer seria uma “segunda imediatidade escamoteada” (Gadamer, p. 309)
Mas a questão central que remete ao tema da linguagem da metafísica, é retomar a questão aristotélica de Leibniz e Schelling: “o que é o ser do ente?” refazendo-a como “porque há antes o ente e não antes nada?” questão fundamental para o existencialismo ontológico atual.
GADAMER, H.G. Hegel, Husserl, Heidegger. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
Escatológico – aquilo que o é fim último da humanidade, ou o que se tem como fim último na autoconsciência como pretendeu Heidegger.
O neologicismo e a linguagem
Fala de linguagem é falar de Wittgenstein, embora como afirma Gadamer: “não se encontra mais nenhum vestígio dessas coisas qu soam obsoleta na obra tardia de Wittgenstein” (Gadamer, p. 195), isto devido ao Tractatus sua principal e obra referencial.
Embora de deva diferenciar o neopositivismo do Circulo de Viena com Wittgenstein, os contatos foram esporádicos, Heidegger fará uma crítica a lógica da linguagem, ao afirmar que “verdade não é verdade proposicional”, novamente usando Gadamer: “se estabeleceu num solo totalmente diverso do solo da lógica e da ciência objetiva o ´elemento existencial´da compreensão (e seus objetos), as Investigações lógica de Wittgenstein, um livro que o filósofo tinha preparada para publicação pouco antes de sua morte (1956)” (Gadamer, p. 195).
O filósofo da linguagem foi confundido com o neologicismo vienense, pois na medida que procura desenvolver uma lógica simbólica consequente (Tractatus, 5.475), acabou por transformá-la em uma “lógica que a tudo abrangia e que refletia o erro lógico” (5.473), e conforme observa Gadamer, por mais que ele não fosse um positivista, no sentido que era sensível aos “nossos problemas vitais”, “esse era apenas o reverso de seu nominalismo extremo” (Gadamer, 194).
Essa crítica ao nominalismo retoma a crise entre realistas e nominalistas do final da idade média, quase no mesmo ponto, pois agora podemos falar de uma ontologia existencial e de um nominalismo travestido em “lógica proposicional”, Wittgenstein pergunta: “o que a linguagem é? (p.338) e foi isto que introduziu o conceito de “jogo de linguagem”.
Gadamer oberva que desde Aristóteles já se tinha reconhecido os equívocos filosóficos surgirem de uma falta transposição de determinados campos para outros, isto é “a convicção falsa que é deduzida previamente de um jogo de linguagem e inserida em um outro, por exemplo, do jogo de linguagem da física para o jogo de linguagem da psicologia” (Gadamer, p. 196).
A confusão com a fenomenologia se estabelece porque parece haver certa “concordância” com a crítica fenomenológica e “pensar que a herança de Franz Brentano também pode ter chegado a Wittgenstein em Viena” (Gadamer, p. 196)
Na linguagem da metafísica Gadamer, mostra que para descer ao “cerne da linguagem” Heidegger fará um aprofundamento em “Aristóteles e Platão, em Agostinho e Santo Tomás, em Leibniz e Kant, em Hegel e Husserl” (Gadamer, p. 306).
GADAMER, H.G. Hegel, Husserl, Heidegger. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.