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Viver a Vida
O filme Ikiru (1952) do japonês Akira Kurosawa traduzido como Viver, também poderia ter a tradução Vivendo ou Viver a Vida, já que na escrita em idiogramas a conjugação de verbos é diferente, também na língua portuguesa de Portugal o gerúndio é pouco usado então ao invés de Vivendo seria Estar a viver.
Trabalhos esta semana a questão da morte, e a frase do filósofo Sócrates: “uma vida sem exame não é digna de ser vivida” pode parecer apenas apelo a erudição, porém os que assistiram o filme de Kurosawa percebem que não se trata disto, também ali o tema é o exame da vida de um “burocrata” diante do drama da morte, pelo personagem Kanji Watanabe (Takashi Shimura).
O idoso burocrata descobre que está com câncer no estomago e o primeiro impacto é o de depressão e depois de examinar a vida, a relação com o filho e o seu serviço, onde tinha o apelido de “Sutanpu” que significa carimbo, alusão ao fato que problemas eram arquivados.
Assim o filme opõe a vida burocrata, a simples rotina de vidas vazias ao drama da morte eminente do velho burocrata, que ao examinar a vida lembra de senhoras que vinham sempre reclamar em seu departamento de uma rua lamacenta e suja.
O velho resolve tomar o problema para si e até as senhoras que reclamavam ficam espantadas, resolve agir para tornar aquele lugar sujo num parque para crianças, e todos no departamento notam que ele começa a reviver, troca o chapéu, muda a feição e resolve viver a vida até o fim, como propõe também Paul Ricoeur em seu livro citado esta semana.
Os comentários em sua seção são maldosos, talvez seja uma jovem, alguma coisa deve ter acontecido na vida do velho que agora parecia outra pessoa.
As cenas finais o mostram já morto, ainda os comentários maldosos, e aparece um guarda de rua que diz que viu que estava muito frio e o velho no balanço (foto) do parque que ajudou a ser feito, mas que ele parecia tão feliz, cantava uma canção tão linda, que não quis incomodá-lo.
Quando assisti o filme em minha juventude, já fã de Kurosawa, fui ao filme com uma expectativa de que Kurosawa ia falhar ao tratar de um tema tão profundamente existencial, o filme é genial e emociona.
Entre a morte e a não morte
Recuperado o conceito de uma vida bem vivida, que é aquela que pode ser examinada e deve-se vive-la até o fim, há outra questão que são os hiatos da vida ou o que chamei de intermitentes da morte, em referência ao que Saramago descreveu em “As Intermitência da morte”, veja o post.
Se lá postamos sobre os intermitentes, aqui queremos falar da não morte, para abordar a não vida, o exercício de Saramago é pensar num país ou lugar fictício onde durante alguns dias não se fosse noticiada nenhuma morte, e vai mais além pensando em uma situação na qual as pessoas pudessem saber antecipadamente da morte, depois de algumas reflexões, pensa:
“Em teoria parecia uma boa ideia, mas a prática não tardaria a demonstrar que não o era tanto. Imagine-se uma pessoa, dessas que gozam de uma esplêndida saúde, dessas que nunca tiveram uma dor de cabeça, optimistas por princípio e por claras e objectivas razões, e que, uma manhã, saindo de casa para o trabalho, encontra na rua o prestimoso carteiro da sua área, que lhe diz, Ainda bem que o vejo, senhor fulano, trago aqui uma carta para si, e imediatamente vê aparecer nas mãos dele um sobrescrito de cor violeta a que talvez ainda não desse especial atenção …” (p.123) e recebe uma notícia antecipada de sua morte.
Pensa poderá evitar pisar numa casca de banana, não receber a carta, jogá-la fora, mas alguém a trará de volta educadamente julgando tê-la esquecido, enfim no ápice do conto encontra-a fatal.
Se no post anterior não ficou claro os “intermitentes” aqui a carta é esta personificação, a morte tornada Ser não apenas aponta para um discurso alegórico, mas pode-se vê-la como ela é.
Então escreve: “Morte onde esteve a tua vitória, sabendo, no entanto, que não receberá resposta, porque a morte nunca responde. e não é porque não queira, é só porque não sabe o que há de dizer diante da maior dor humana” (pgs. 123-124).
O discurso pode parecer estranho, mas só quem o acompanha consegue entender que a sua pura personificação traz a compreensão de que existe algo além da vida e não apenas a finitude, isto é o que incomoda Saramago, porém não cede até chegar ao seu oposto que é aceita-la como fatal.
A carta personificação da morte e a narrativa se fundem, este é um elemento essencial para entender o conto de Saramago, embora não se refira a ela ao dizer no apartamento do violoncelista: “Então aconteceu algo nunca visto, algo não imaginável, a morte deixou-Se cair de joelhos, era toda ela, agora, um corpo refeito, por isso é que tinha joelhos, e pernas, e pés, e braços, e mãos, e uma cara que entre as mãos se escondia, e uns ombros que tremiam não se sabe porquê, chorai não será, não se pode pedir tanto a quem sempre deixa um rasto de lágrimas por onde passa, mas nenhuma delas que seja sua.” (p. 152).
Ainda que seja, ao meu modo de ver pelo avesso da vida, Saramago refaz o sensível e o finito.
SARAMAGO, José. As intermitências da morte. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
A filosofia e a questão da morte
Falar da morte é um tema tanto instigador quanto apavorante, ao menos para aqueles que acreditam que tudo se conclui no nosso ciclo de vida terreno, a filosofia sempre o abordou.
Desde Sócrates e Platão (428-347 a.C.) até Heidegger (1889-1976) passando por Arthur Schopenhauer (1788-1860), a filosofia não se furtou a abordar o tema, Schopenhauer chegou a afirmar que “a morte é musa da filosofia” e Sócrates já havia dito que a filosofia é como uma “preparação para a morte”.
No Fedón de Platão ele descreve a vida filosófica como um ”treinamento para a morte”, há nela um “ethos” da vida humana, para o qual se pode afirmar sem exagero que é um “treinamento” e isto nos faz refletir sobre os delírios contemporâneos de um “entretenimento até a morte chegar”.
Pode-se objetar que Platão considerava a alma imortal, porém Schopenhauer e Heidegger não, é verdade que este último teve uma breve incursão pelo cristianismo, mas depois abandonou, o amago de seu pensamento ontológico é o que é este Ser-aí, este Dasein, ex-sistencial e humano.
Contrariando a vida fugaz contemporânea, Sócrates dizia que não “há vida bem vivida que não possa ser examinada” enquanto Heidegger vai afirmar que a vida frente a morte (não podemos esquecer que existe a impossibilidade da existência) é que nos faz pensar fora do mundo do “eu”, da voz alienante da sociedade, dos meios massivos de comunicação, e de conceber o mundo de uma maneira utilitária e transitória.
Heidegger vai usar o termo “stimmung” que pode ser traduzido como “entoar”, para comparar uma instrumento de afinação, com o qual se refere a angústia ou a outros estados anímicos (das disposições afetivas), usando sua metáfora como instrumentos desafinados perante a vida.
Outros filósofos como Paul Ricoeur lembrarão da “finitude” humana, para lembra-lo que é falível, se Heidegger fala do Ser-para-a-morte como finitude, Ricoeur a caracteriza como um impulso à vida (ser contra a morte).
Seja quais forem as abordagens, a finitude humana, a vida “bem vivida é examinada” é vida plena.
RICOEUR, P. Vivo até a morte. Seguido de fragmentos. São Paulo: Martins Fontes, 2012.
Cegueira, lucidez e serenidade
O que pode ser chamado de cegueira na literatura, quase sempre ultrapassa a simples dificuldade de funções visuais, ao menos uma deve ser considerada que é a das faculdades cognitivas que em última análise desenvolvem e adaptam o pensamento às percepções visuais.
Assim há uma cegueira civilizatória, aquela que não percebe os obstáculos e até abismos que podem se abrir no processo civilizatório contemporâneo, as forças e o domínio das forças da natureza, como pensava Heidegger sobre as técnicas, que impedem um pensamento reflexivo.
Olhar para a cegueira apenas como a dificuldade do campo visual, a realidade imediata é assim a pior das cegueiras, incapaz de contemplar a essência do Ser, aquilo que é designo de cada homem durante a sua vida pessoal e social.
Assim ao desenvolver as funções cognitivas o homem pode ganhar lucidez, olhar com clareza para a própria vida e a de sua sociedade e cultura, pode leva-lo além desta clareza a uma vida de serenidade e de paz, ainda que esteja numa vida social em conflito.
Não é a paz cômoda ou individualizada, mas aquela que é capaz de lidar com contradições, oposições e incompreensões, comuns em um processo de crise civilizatória.
A realidade que vivemos pode levar mais rapidamente a uma ruptura de lucidez e serenidade e quanto mais longe delas, mais dificuldades para encontrar caminhos e veredas de retorno a paz.
Uma das passagens mais elucidativa da leitura bíblica cristã sobre a cegueira, é a cura de um cego de nascença, que, portanto, não desenvolveu o aparato cognitivo para enxergar e assim teria dificuldade de perceber os objetos, cores e seres a sua volta, mais do que ter a função da visão, ele compreende cognitivamente o que está vendo.
Diz a passagem os fariseus questionavam a cura do cego (Jo 9,10-12): “Então lhe perguntaram: ‘Como é que se abriram os teus olhos?’ Ele respondeu: ‘Aquele homem chamado Jesus fez lama, colocou-a nos meus olhos e disse-me: ‘Vai a Siloé e lava-te’. Então fui, lavei-me e comecei a ver.’ Perguntaram-lhe: ‘Onde está ele?’ Respondeu: ‘Não sei.’”
E os contemporâneos de Jesus continuaram na cegueira sem entender a cura do cego.
Serenidade e o pensamento que calcula
O livro “A Serenidade” de Heidegger vai dividir o pensamento contemporâneo entre o que calcula e o que medita, sobre o que calcula afirma:
“O pensamento que calcula (das rechnende Denken) faz cálculos. Faz cálculos com possibilidades continuamente novas, sempre com maiores perspectivas e simultaneamente mais econômicas. O pensamento que calcula vai de oportunidade em oportunidade. O pensamento que calcula nunca para, nunca chega a meditar.” (p. 13).
Ele argumenta que não se trata de uma meditação “elevada”, todo homem pensa e o pensamento pode levar a meditação, basta meditar sobre o aqui e agora que está a nossa volta.
Heidegger lembra que todos devemos pensar sobre nossas raízes, dito de modo mais contemporâneo não negar nossas origens e suas influências em nossa visão de mundo, mesmo que limitada, afirma: “o enraizamento (die Bodentändigkeit) do Homem actual está ameaçado na sua mais íntima essência. Mais: a perda do enraizamento não é provocada somente por circunstâncias externas e fatalidades do destino, nem é o efeito da negligência e do modo superficial dos Homens. A perda do enraizamento provém do espírito da época no qual todos nós nascemos” (p. 17).
É isto que faz Heidegger e outros filósofos atuais analisar os fundamentos do pensamento atual, Edgar Morin também fala desta necessidade de superar este pensamento alertando para a visão contemporânea da educação.
A mais atual e surpreendente visão de Heidegger, publicada em 1955, é a característica de nossa época onde “a mais atormentadora é a bomba atômica”, ele percebe que o pensamento que calcula vê apenas as possibilidades industriais e liberação das energias da natureza, porém o filósofo medita sobre o que significa este domínio.
“O poder oculto na técnica contemporânea determina a relação do Homem com aquilo que existe. Domina a Terra inteira. O Homem começa já a sair da Terra em direção ao espaço cósmico …” (p. 19), que além de ser incrivelmente atual tinha também um presságio sobre o futuro.
Mas não deixou de ver o perigo destas “grandes energias atómicas”, e assim: “assegura à humanidade que tais energias colossais, subitamente, em qualquer parte – mesmo sem ações bélicas -, não fogem ao nosso controle, e “tomam o freio nos dentes” e aniquilam tudo ?” (p.20).
Vimos os acidentes de Chernobyl e Fukushima (foto) esta perda de controle, agora vemos a uma guerra que aponta para o uso bélico destas forças, Heidegger tem razão ao pedir serenidade e meditação.
HEIDEGGER, M. Serenidade. trad. Tradução de Maria Madalena Andrade e Olga Santos. Lisboa: Instituto Piaget, s/d.
Da lucidez à serenidade
Se a clareza (ou claridade) é propriedade da lucidez, a lucidez precede a serenidade, ou seja, pode-se ter lucidez sem que se atinja a serenidade, este estado de espírito é algo muito atual, é uma busca do homem na modernidade.
A obra “Serenidade” de Heidegger, publicada em 1955, mas como meditação foi feita em 1949, por ocasião do centenário de morte de Conradin Kreutzer, compositor conterrâneo de Heidegger, ambos nascidos na cidade de Messkirch, porém em épocas diferentes.
Heidegger neste opúsculo vai diferenciar o pensamento reflexivo (ou meditativo) do pensamento calculador (ou maquínico) próprio de nosso tempo, assim vai comparar o pensamento de nosso tempo com a música, “limitamo-nos a ser entretidos por um discurso. Não é necessário pensar enquanto ouvimos a narração, isto é, meditar (besinnen) sobre algo que, na sua essência sobre algo que, na sua essência diz respeito a cada um de nós direta e continuamento” (p. 11)
Assim “A crescente ausência-de-pensamentos assenta, por isso, num processo que corrói o âmago mais profundo do homem atual: “o Homem atual ´está em fuga´ do pensamento” (p. 12)
Por outro lado, o pensamento maquínico assenta-se na técnica (veja que o texto é de 1955), onde “o pensamento que calcula não é um pensamento que medita, não é um pensamento que reflete sobre o sentido que reina em tudo que existe” (p. 13)
Heidegger sabe que um dos argumentos sobre a reflexão é que “a pura reflexão, a meditação persistente, é demasiado ´elevada´ para o entendimento comum” (p. 14), diz ao homenagear seu conterrâneo músico, que bastaria pensar no que significava naquele momento a sua terra natal, onde surgiu a música extraordinária de Kreutzer, lembro de um conto de conto de Leon Tostoi que falava desta dinâmica dos sentimentos justamente num conto chamado “Sonata a Kreutzer”.
Propõe assim aos presentes “o que nos sugere esta celebração, se estivermos dispostos a meditar? neste caso, atentamos que, do solo da terra natal medrou (gedieben) uma obra de arte. (p. 15)
Assim não é preciso um pensar elevado, mas apenas uma pequena pausa, um silêncio na alma.
HEIDEGGER, M. Serenidade. trad. Tradução de Maria Madalena Andrade e Olga Santos. Lisboa: Instituto Piaget, s/d.
A consciência social e a individual
Não há consciência social, sem passar pela individual, ela está vinculada a visão de mundo (cosmovisão), aqui que na filosofia idealista é vista como dois seres separados: o ser-em-si e o ser´para-si, se olharmos do ponto de vista ontológico, isto significa como as coisas se apresentam para nós na nossa consciência, há então o fenômeno (aparição) ou não daquilo que existe aí no mundo (Dasein).
A consciência social, vista pelo idealismo como para-si, elaborada primeiro por Hegel, mas depois fundida com a ontologia existencial de Jean Paul Sartre, é vista assim: “é a consciência que ao se defrontar com o mundo torna-se um processo dinâmico (contrastando com a inércia do em-si) e faz com que o em-si se desvele” (CABRAL, 2023).
Porém na cosmovisão heideggeriana a questão do ser-no-mundo, como fundamento do ser-aí, deixa de ter significado de um juízo estético e passa a ser uma indicação ontológico-hermeneutica, dado que aponta à pergunta pelo sentido de ser do ser-aí, como toda boa filosofia é uma questão.
Que visão temos do mundo individualmente, é claro que sobre a influência de nossa cultura e de nossa adesão a filosofias, ideologias e religiões, não está descolada de nosso Ser, enquanto um estatuto ontológico, e assim precede a visão do ser para-si no sentido idealista, podendo ter um sentido transcendente que vimos no post anterior.
Um para-si além do humano é aquele que encontra o Outro, que não é nosso espelho, porém com ele travamos uma fusão de horizontes (no sentido do círculo hermenêutico) onde podemos realizar uma dialogia, nisto se fundamenta qualquer sentido religioso ou cultural verdadeiro.
É possível por algum tipo de isolamento pessoal, não se trata do autismo é bom que se diga, não ter consciência social, porém ela passa necessariamente pela consciência do Outro, assim cabe a pergunta sociológica e também ontológica: quem é o Outro na consciência individual.
O resultado de uma consciência individual que passa pela percepção do Outro é uma consciência social límpida, sem distorções de culturas, filosofias e religiões, estas vistas aqui como negativas, isto é, ausência de culturas, filosofias ou religiões dignamente compreendidas e elaboradas.
CABRAL, João Francisco Pereira. “Consciência e suas relações com o outro e o ser-em-si, segundo Sartre” em texto para o Brasil Escola. 2023. http: Brasil Escola,
O que há além do humano
Certamente existente a natureza, os planetas e todo o universo, quando mais visto pelos engenhos humanos: as viagens interplanetárias e o megatelescópio James Webb, mais complexas e desafiando a inteligência humana.
Mas há algo no homem no além humano que está na sua consciência e nos seus sentimentos e afecções, há uma complexa centelha divina, diz o poeta que o faz procurar fora o que está dentro.
Imaginar que isto poderá estar numa máquina é apenas um dos aspectos do controle e da vontade de poder humano, cujo tema desenvolvemos na semana passada, o transumano cria uma ficção e uma fantasia humana de que o próprio homem criaria algo para ultrapassá-lo, a grande fantasia do desenvolvimento dos recursos da Inteligência Artificial atual, tudo que estiver lá o homem que pôs.
É o desejo humano de ser seu próprio criador e quem sabe atingir uma divindade terrena, porém ao contrário do que busca, a tecnologia não tem só a finalidade de destruir e também de auxiliar, pode por devaneio impelir forças extra-humanas de destruição.
Fomos criados pois o homem não existiu sempre na terra, e mesmo a hipótese de termos vindos de outros astros celestes, a fantasia dos alienígenas, que até podem existir, serão criados por algo que tem uma consciência infinita e maior que a nossa, teve que existir um princípio criador celeste e ontológico, com lógica do ser (onto).
Esta fantasia mística faz sentido, por que qualquer ciência, filosofia ou teologia que se preze vai especular sobre a criação humana, e qualquer escatologia vai pensar sobre o nosso destino.
Há um momento na vida terrena de Jesus, a figura histórica é incontestável, em que Ele se revela como divino aos seus discípulos, que ficam tão maravilhados que querem construir três tendas e ficarem ali, o evento chamado de “Monte Tabor” (foto), onde estavam com Jesus apenas três discípulos.
(Mt 17,1-3): “Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. E foi transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas como a luz. Nisto apareceram-lhe
A narrativa eletrônica
A rápida evolução da Inteligência Artificial, depois de uma séria crise até o final do milênio, trás no cenário da divulgação científica e às vezes até mesmo na própria investigação científica, tanto um aspecto mistificador que a vê além das possibilidades reais ou aquém do que é capaz.
Por isso apontamos no post anterior a evolução real e sofisticação dos algoritmos de Machine Learning e o crescimento da tecnologia de Deep Learning, esta é a evolução rápida atual, a evolução dos assistentes eletrônicos (já estão no mercado vários deles como o Siri e a Alexa) é ainda limitada e comentamos num post sobre a máquina LaMBDA que teria capacidade “senciente”.
Senciente é diferente de consciência, porque é a capacidade dos seres de perceberem sensações e sentimentos através dos sentidos, isto significaria no caso das máquinas terem algo “subjetivo” (já falamos da limitação do termo e sua diferença da alma), embora elas sejam capazes de narrativas.
Esta narrativa or mais complexa que seja é uma narrativa eletrônica, um algorítmica, com a interação de homem e máquina através de um “deep learning” é possível que ela confunda e até mesmo surpreenda o ser humano com narrativas e elaborações de falas, porem dependerá sempre das narrativas humanas das quais são alimentadas e criam uma narrativa eletrônica.
Cito um exemplo do chatGPT que empolga o discurso mistificador e cria um alarme no discurso tecnófobo e cria especulações até mesmo sobre os limites transumanos da máquina.
Uma lista de filmes considerados extraordinários, exemplifica o limite da narrativa eletrônica, devido a sua alimentação humana, a lista dava os seguintes filmes: “Cidadão Kane” (1941), “O Poderoso Chefão” (1972), “De Volta para o Futuro” (1985), “Casablanca” (1942), “2001: Uma Odisseia no Espaço” (1968), “O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel” (2001), “Um Sonho de Liberdade” (1994), “Psicose” (1960), “Star Wars: Episódio V – O Império Contra-Ataca” (1980) e “Pulp Fiction” (1994).
Nenhuma menção do japonês Akira Kurosawa, do alemão Werner Herzog ou do italiano Frederico Felini, só para citar alguns, sobre ficção não deixaria fora da lista Blade Runner – o caçador de androides, bem conectado as tecnologias do “open AI” ou o histórico Metrópolis (de 1927 do austríaco Fritz Lang).
A narrativa eletrônica tem a limitação daquilo que a alimenta que é a narrativa humana, mesmo sendo feita pelo mais sábio humano, terá limitações contextuais e históricas.
Pestes, ira e guerras
Porque estes fenômenos são cíclicos e parecem estar relacionados, uma análise mais profunda do contexto do livro de Steinbeck as vinhas da Ira pode ajudar esta análise.
Além da grande depressão de 29, também as consequências da I guerra mundial e da peste negra influenciaram indiretamente a questão da exploração da mão de obra no Oeste os EUA, porém além destas questões sociais mundiais, um fenômeno natural aconteceu na região central americana, uma espécie de tempestades de poeira duradoura chamada “Dust bowls” que atingiu a região (foto).
Assim lembremos que a destruição da I guerra mundial e a gripe espanhola destruiu a economia europeia e os americanos foram os grandes financiadores da recuperação, isto gerou um boom de produção, consumo de matéria prima e riqueza nos EUA, porem a especulação financeira (pois eles financiavam a reconstrução da Europa) seguiu-se a uma enorme bolha que depois explodiu.
Assim os agricultores endividados em bancos dos estados centrais americanos, justamente onde o fenômeno Dust bolws ocorreu, se viram obrigados a deixar suas terras e bens penhorados e ir se oferecer como mão de obra barata e temporária no oeste americano, os boias frias americanos.
Este é o cenário de denuncia e ira de Steinbeck, e a desolação que o ex-presidiário Tom Joad encontra ao procurar sua casa e parentes, porém o pano de fundo é maior que o explorado por muitos críticos e comentaristas.
É de se perguntar o que faz um fenômeno tão estranho em meio a este cenário, teriam as causas naturais ligação com a maldade humana e também ela traria este tipo de consequências, é difícil analisar sem uma nenhuma crença em forças divinas superiores às humanas, porém sempre dependentes delas, por exemplo, sabe-se que as perfurações de minas, de petróleo influenciam as placas tectônicas, as agressões a natureza influenciam os climas, etc.
O importante é que não nos fixemos numa análise simplista por parâmetros exclusivos e alarguemos às análises para encontrar as verdadeiras raízes e causas de nossos problemas que a ira, as guerras e o ódio geralmente ignoram.
Assim a ira, a guerra e a análises simplistas e unilaterais não são apenas um erro políticos, mas fogem da racionalidade e das verdadeiras causas dos problemas onde se encontram as soluções.
STEINBECK, J. As vinhas da ira. Trad. Herbert Caro e Ernesto Vanhaes. 10ª. Ed. SP: Record, 2012.