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Simplicidade e profundidade: problemas modernos
Aprendi na infância com a simplicidade de meu pai que pode haver sabedoria e pensamento profundo onde não há cultura erudita, a razão é muito simples, algumas pessoas ficaram imunes a contaminação dos argumentos racionalistas, iluministas e idealistas.
Isto porque muita coisa no senso comum tem presente estes raciocínios, por exemplo, a visão mecanicista da relação causa e efeito, não vale mais com a física quântica, os argumentos muito usados como autoajuda contemporânea é contestado pelo poeta Fernando Pessoa: “querer não é poder”, pelo simples fato que existe o Outro, mas no argumento do poeta: “Quem pôde, quis antes de poder [para] só depois de poder”, mas conclui: “quem quer nunca há-de poder, porque se perde em querer”, poderia acrescentar à mansidão do post anterior.
Quanto a profundidade, não é pensador ou filósofo quem lê pensadores ou filosofia, mas quem aprendeu com treino de audição e leitura também, a meditar, pensar em contemplação, quase impossíveis em tempos ruidosos e ansiosos.
Pode pensar quando se tem tempo para isto, quando consegue sentir o Aroma do Tempo, diz no livro com este nome Byung-Chul Han: “o aroma não é de uma eternidade atemporal”, mas de estratégia de duração, diríamos de dilatação do tempo pela contemplação e aquietação do Ser, tão necessários a vida moderna.
Isto pode parecer por demais dispendioso, usar o tempo para em não “gastá-lo” em não “utilizá-lo”, é sim usar também o tempo de modo não consumista ou utilitarismo, como tempo do Ser.
E as pessoas simples, porque aprenderam na sua simplicidade a apreciar uma paisagem, uma flor ou mesmo uma boa música ou um belo quadro, na realidade estão educados a “ser”.
Lembro de meu pai na infância dizendo: “é melhor acender uma vela que amaldiçoar a escuridão”, parecia então provinciano e demasiado simplista, mas era pura sabedoria: a clareira.
Em termos bíblicos é minha interpretação hermenêutica dos “pobres de espírito”, num sentido que deixam passar fatos claramente e sem sentido e mergulham nos essenciais.
Disse o multifacetado artista Leonardo da Vinci: “A simplicidade é o último grau de sofisticação.”
Versos incompletos e o poder
Toda incompletude é humana, mas é também a causa de nossa cegueira, podíamos completá-la com o diálogo, com a escuta atenta ao Outro, ou com a pós-moderna filosofia que nada tem de liquido, mas é muita sólida: viver no Outro, um pós-indivíduo.
Vejo versos libertários, literários e bíblicos, todos incompletos, pela ausência do Outro, ou pela simples divisão idealista entre sujeitos e objetos, aqui tornados plural, para dar sentido a um verso de Fernando Pessoa:
“Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha. Cada vez mais assim penso”, também incompleto, mas final pois no início é só que muitos sabem “Navegar é preciso, viver não é preciso”, que não era dele e sim o lema de muitos navegadores portugueses.
Também este poema precisa de completude: “Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade. É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça”, como isto é bem-vindo em tempos de eterno retorno.
Queria fazer um pensamento sobre o poder, mas não posso senão já seria poder, diz o nosso poeta português: “Tudo quanto penso, Tudo quanto sou É um deserto imenso Onde nem eu estou”, são versos de “Tudo quanto penso” sendo também incompleto.
Completo com minha vida de estudante, lutando pela democracia num país autoritário, disse os versos finais deste poema de tudo quanto penso: “Extensão parada Sem nada a estar ali, Areia peneirada Vou dar-lhe a ferroada Da vida que vivi.”
Disse Fausto no seu Goethe (foi o personagem a dizer): “embora no arrojo embora meu ser se resolva em nada”, poder de quem ? que podes sobre meu Ser ?
Diálogo Ausente
Faltaram diálogos, sobraram abismos, e nem sempre fomos bem esclarecidos, não há clareiras, mas abismos, poucas pontes seguras e muito desamor e descrédito.
A escritora brasileira Elisa Lucinda diz: “minha literatura é cheia desse assunto de injustiça do mundo, o amor como grande antídoto é um dos meus temas preferidos” (entrevista Diálogos Ausentes, Itaú Cultural, 2017).
Escreveu sobre Fernando Pessoa: “O cavaleiro de Nada”, junto com Rubem Alves: “A Poesia do Encontro”, sobre sua plenitude em “Vozes guardadas”, são os que conheço, mas há outros na minha pilha para quando os afazeres obrigatórios me deixarem espaço para os prazeirosos.
Elisa Lucinda é atriz, cantora, jornalista, professora, cantora e poeta, pouco conhecida pela grande mídia, até por gente engajada e consciente, mas é uma “farra de inéditos”, como gosta de se referir aos seus livros, os livros que ela ama e venera.
Faz a defesa mais bela, des-preconceituosa e autêntica dos livros: “As crianças vão à escola e saem sem saber que livro é arte, que o escritor é um artista, sem saber que quando elas amam Harry Potter, Branca de Neve e Dom Quixote no cinema, tudo isso foi livro”.
Em tempo de diálogo ausente é bom lembrar esta brilhante escritora, que escreveu no livro última moda:
“Nos mares doces e nas difíceis águas da vida crua, minha alegria prossegue, continua.
Despida de armas e de medos, sou mais bonita nua” escreveu Elisa.
Se muitos tem medo, se a notícia é dura e crua, não nos calaremos nem temeremos porque arrancaremos do peito o medo e combateremos com os loucos pelas ruas.
Faltam pontes, erguem muros, fecham portas e falam de escuro, quanto a nós continuamos buscando clareiras.
Da lógica ao Ser
O conceito de antropotécnica, inicialmente polêmico que chegou a sacudir a cultura alemã e gerou uma polêmica entre Junger Haberrmas e Peter Sloterdijk, chegando a ser comparado a forças conservadoras, na verdade pode estar relacionado tanto a “melhora do mundo” (em alemão Weltverbesserung) e “melhora de nós mesmos” (Selbstverbesserung).
Ultrapassa e ao mesmo tempo dialoga com o conceito foucaultiano da biopolítica, mostra ainda uma dificuldade na relação entre sujeito e poder, apesar de sua Microfísica do Poder, vê assim a relação com a técnica:
“Procurei, antes, produzir uma história dos diferentes modos de subjetivação do ser humano em nossa cultura: tratei, nessa ótica, dos três modos de objetivação que transformam os seres humanos em sujeitos. […]. Não é, pois, o poder, mas o sujeito que constitui o tema geral de minhas pesquisas.” (FOUCAULT, 2014, p. 118-119).
Embora a biopolítica pareça uma superação da “tecnologia do eu” (a estética da existência), ela não se desvinculou da polaridade objeto x sujeito, cuja essência é a lógica idealista.
Se a biopolítica é em última análise o governo da vida, a vida está além da relação com o poder, pois uma mudança radical aconteceu na Modernidade: a técnica.
A obra de 2009 de Sloterdijk “Voce deve mudar a sua vida” (Du musst dein Leven ändern) ele estabelece duas formas de produção artificial (não é virtual) do comportamento humano nas chamadas “grandes culturas” sob impacto da Idade Moderna.
A primeira é a produção do homem pelo homem, o que ele chama de técnicas de “deixar operar” (Sich-operieren-Lassen) e a segunda é a produção de homens, mas de si mesmos, que passaria então a técnicas de “auto-emprego” (Sloterdik, 2009, p. 589).
O que Sloterdijk quer nos apontar é que há uma forma nova de relação com o estado em andamento que ultrapassa a biopolítica, esclarece em sua obra fundante “Regras para o parque humano” que desde Platão, criador do estado-ideal e da ideia de cidadania politica, onde o filósofo-político era superior, vejamos:
“O que Platão pronuncia pela boca de seu estrangeiro é o programa de uma sociedade humanista incorporada na figura do único humanista completo: o dono da ciência do pastoreio real. A tarefa desse super-humanista [o filósofo político treinado para isto] não seria outra senão o planejamento de propriedades em uma elite [de políticos] que teria que ser levantada expressamente para o bem de todos.” (Sloterdijk 2001, p. 82-83).
Esta lógica foge do dualismo esquerda-direita, libertadores e opressores (eles estão dos dois lados), para uma lógica de redefinir o papel de estado e da política, é uma lógica paraconsistente, no sentido que exige nova linguagem, de diálogo amplo.
O filósofo peruano Francisco Miró Quesada, que cunhou a palavra Paraconsistente, diz que o pensamento latino americano nasce: “diante de todos, desnudado e fraco, como um órfão desvalido”, em meio a possibilidades ditatoriais um pensamento novo pode abrir-nos ao Ser.
SLOTERDIJK, P. Regras para o Parque Humano. São Paulo: Estação Liberdade, 2001.
FOUCAULT, M. O sujeito e o poder. In: FOUCAULT, M. Ditos e Escritos – IX. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2014.
Sobre a verdade, mas qual é o método ?
A verdade positiva, estabelecida pela ciência e pelo iluminismo tiveram dois alicerces: a ideia (idealismo) ligada a experiência (empirismo), cuja tentativa inglória foi criar uma enciclopédia universal do conhecimento, o “sapere audi” (ousar saber) de Kant, com grandes feitos da modernidade foram insuficientes para abolir a guerra, criou uma crise de valores, uma concentração de riquezas e uma visão de mundo com sinais de fragilidade.
O que a transdisciplinaridade e os educadores sóbrios estão exigindo, uma volta as ciências que deem sentido a vida, ao humanísticos perenes, a Carta sobre o Humanismo de Heidegger, em que bradava: “mas nisto não se deve esquecer que “sujeito e objeto” são expressões inadequadas da Metafísica que se apoderou, muito cedo, da interpretação da linguagem, na forma da “Lógica” e “Gramática” ocidentais.” (Heidegger, 2005, p. 8).
O que chamamos de interpretação, afirma Heidegger no parágrafo 32 de “Ser e Tempo” (é mencionado em “Verdade e Método”), é na verdade desenvolver “as possibilidades projetadas da compreensão”, significa um processo dialógico onde seja possível reaver os pré-conceitos e uma nova “fusão de horizontes”, neste sentido o hermético é contraposto ao hermenêutico.
O pré-conceito, visto como antecipação da experiência humana, atesta o nosso vínculo a tradição na qual estamos mergulhados, mas é preciso o que Gadamer chama de “consciência-da- história dos efeitos” (tradução possível de “Wirkungsgeschichtliches Bewusstsein”), conforme explicação em seu texto “determinada por um devir histórico real, de tal forma que ela não possui a liberdade de situar-se em face ao passado”, dai sua critica a Dilthey.
O nosso distanciamento da verdade, Gadamer começa pela estética, uma cultura das aparências- pela qual começa seu livro, recapitula nos idealistas as ideias de gosto e de vivência (“Erlebnis”), esta última posta sempre com mais enfase, ainda que de modos distintos em Dilthey e Husserl , se desenvolverá de modo a falsear as “ciências do espírito” (ver em sua obra “A Extensão da Questão da Verdade à Compreensão nas Ciências do Espírito”), num esforço analítico de concretizar a chamada consciência histórica, nisto fundamenta-se toda sua crítica à hermenêutica romântica de Schleiermacher, à “Aufklärung” (Ilustração) e ao historicismo de Droysen, Ranke, Dilthey e Hegel.
Sua crítica vai ao fundo da noção de estética de uma obra de arte, quando um pintor, com certa técnica ou estilo, vai a pintura com uma certa técnica, o que se lê no quadro não é a alma do pintor, mas uma técnica própria da época, claro salvo raras exceções, em geral, é isto.
Sua análise é também a partir da analítica hermenêutica, ao criticar Schleiermacher dá-lhe também razão ao dizer que na obra de um artista, de um poeta, um escritor seria fundação perceber a intenção autoral, assim o exegeta a conheceria mais de perto do que o seu próprio autor e não apenas sua letra ou pintura, conhecer o Evangelho de São João seria, antes de nada, conhecer São João, nisto Gadamer rejeita o postulado da escola romântica.
Mas aceitará a escola romântica no “Vamos aos fatos” da “Aufklärung”: “este lê o texto joanino como protestante, aquele como católico, um terceiro como historiador da Palestina. Se varrêssemos todas essas pressuposições, talvez nas linhas escritas pudesse assomar um sentido prístino”, ora o Aufklärung” desejava o encontro de uma interpretação não preconceituosa, que afastasse tanto a tradição da autoridade, como a autoridade da tradição (isto é idealismo!), nisto os românticos estavam certos.
Restam dois senões, a resposta de Sloterdijk a Heidegger (Regras para o Parque Humano) e a pergunta de Ricoeur (O conflito das interpretações): seria então Verdade ou Método (ou, e não e), isto é, verdadeiramente ontológica?
Heidegger, M. Carta sobre o humanismo 2 ed. rev. Tradução de Rubens Eduardo Frias. São Paulo: Centauro , 2005
O Palácio de Cristal e a era digital
Byung Chull Han descreve em suas que os conceitos de telecomunicações, ela foi anterior e fundamental para a internet, deve ser refletida com grande seriedade ontológica, pois é ela que designa a forma processual de densificação em números de interações e valores monetários, calcula-se que há dez milhões de e-mails por minuto e um trilhão de dólares ao dia (VÁSQUEZ ROCCA, 2012).
Esta alta densidade ocorre tanto na possibilidade maior e mais fácil de encontro entre agentes, quer na forma de transações (relacionais?), quer na forma de colisões, e isto descreve de certa forma o que lembra o chamado de Palácio de Cristal (idem).
O Crystal Palace de Londres, em 1850, já abrigava Exposições Universais e também centros de recreações que eram dedicados a “educação do povo”, esta sofisticada arquitetura, uma das mais imponentes do século XIX, antecipava um capitalismo globalizado e pretendia a absorção total do mundo que era produzido, muito antes da era digital.
Cita-o Dostoiévski e Walter Benjamin ainda mais frequentemente, e Sloterdijk (2005) usa-as em um artigo onde usa a ideia de Dostoiévski que encontro ali o culto a Baal como símbolo consumista e hedonista, onde uma doutrina das “finalidades” como um dogma do consumo.
Sloterdijk faz uma conexão com Benjamin: “O poder da metáfora do palácio de cristal de Dostoiévski para a filosofia da história é melhor medido quando justaposto à interpretação de Walter Benjamin das arcadas parisienses. A comparação é sugestiva porque num caso como no outro uma forma arquitetônica foi proclamada como a chave para o capitalismo. condição do mundo” (SLOTERDIJK, 2005, P. 279).
Será Byung Chull-Han que resolve esta dualidade ao estabelecer que há sempre um “mistério” que é desvelado e que isto é parte do belo e da verdade, que aos poucos se desvela.
É preciso pensar que apenas 4% do universo é conhecida, aquele da chamada da matéria bariônica, aquela composta de protóns, eletróns e neutrons, além de algumas subpartículas, a matéria escura que em parte é também bariônica e a chamada energia escura, uma força de ação repulsiva que permeia todo o espaço, são praticamente desconhecidas.
SLOTERDIJK, P. Crystal Palace. Chapter 33 of in Globalen Inneren Raum des Kapitals: Für eine philosophische Theorie der Globalisierung (In the Global Inner Space of Capital: For a Philosophical Theory of Globalization). Frankfurt am Main: Suhrkamp, 2005, pg. 265-276.
VÁSQUEZ ROCCA, Adolfo, “Sloterdijk: Modelos de comunicación ocultoarcaicos y moderno-ilustrados. Para una época de ángeles vacíos. Nómadas. Revista Crítica de Ciencias Sociales y Jurídicas, 2010 Disp.: http://www.ucm.es/info/nomadas/26/avrocca.pdf, Acesso em: setembro de 2018.
A metáfora, o imaginário e o velamento
Já postamos que o velamento é parte essencial da verdade e do belo, em Paul Ricoeur isto está mais claro em sua “Metáfora Viva” (1975), porque parte de sua hermenêutica fenomenológica está em relação essencial com a obra de arte, em que faz a passagem do momento arqueológico da hermenêutica para o teleológico, isto é, a lógica dos fins, além da lógica proposicional.
Já na mímesis grega, a produção artística e o novo tinham significado como instrumentos que dão sentido a realidade, porém a ultrapassa e pode-se dizer havia também algo teleológico.
Isto é inteiramente valido, pois ao ler a Metáfora Viva percebe-se que é uma releitura da Poética de Aristóteles, mas ele próprio esclarece a diferença ao expor que a metáfora vai além (meta) e transpõe (pher) para uma coisa que designa outro objeto, enquanto mimesis é a ideia de imitar.
Mas além da metáfora a questão importante em Ricoeur é a da imaginação, deve-se separá-la do virtual, as palestras inéditas de Paul Ricoeur nos Estados Unidos, foram documentadas e comentadas, isto já uma tradução, por George H. Taylor, onde aparece o conceito de “imaginação produtora” em 4 categorias: utópica, epistemológica, poética e sacro simbólica (Taylor, 2006), que me parecem mais ligadas ao virtual.
O próprio Aristóteles afirma que esta figura de linguagem (metonímia – substituição da palavra, sinédoque – substituem a parte pelo todo, etc.) é tangente a quem deseja expressas questões na oralidade e deve fazê-la na escrita.
Façamos uma passagem, usando recursos do virtual, da sintaxe (a estrutura da frase) ao sentido (sua semântica) chegando a lógica do discurso (a hermenêutica), isto sai de uma teoria da substituição do sentido (a falsa semântica em muitos discursos) para uma teoria do sentido, uma lógica subjacente ao hermenêutico, não mais como verdade dogmática, mas dialógica.
A questão da classificação cara ao enciclopedismo e iluminismo, resultará na questão de Gadamer se em toda ela não há uma metáfora subjacente, enquanto Derridá pergunta se não está nela toda a capacidade racionalista de classificar conceitualmente todos objetos.
Byung-Chul Han responde de maneira não dualista, a verdade e o belo estão “velados” e só que é capaz de ver através deste véu chega a “clareira” desejada, então a metáfora é um recurso e a hermenêutica dialógica um caminho, este caminho oscila entre o real e o virtual.
O virtual é assim o visível além do véu, e o real é o desvelado no atual, o represente, cuja memória no momento seguinte só poderá ser re-presentada ou atualizada.
Chul Han também fala do recurso da metáfora na Bíblia, como um recurso proposital para “para as tornar objeto de desejo”, penso que é mais que isto, é que alcançar a verdade se faz em passos e que grande parte da vida ainda é mistério.
RICOEUR, P. La Métaphore Vive, Paris, Éditions du Seuil, 1975.
TAYLOR, G. H., Ricœur’s Philosophy of Imagination. Journal of French Philosophy, Vol. 16, p. 93, 2006; U. of Pittsburgh Legal Studies Research.
Verdades, tautologias e crenças
Li atônito que Noam Chomsky afirmou: “as pessoas não acreditam mais nem em fatos”, as crises (não é única, pois há crises políticas, ideológicas e até humanitárias) embora todas com contorno econômico, a raiz profunda delas é para uma rejeição a própria cultura.
Alguns dirão identidade, embora não deva ser deixado de lado, os discursos que vejo nesta linha beiram o psicologismo, o conceito filosófico correto deve ser visto com a questão de relação, enquanto a psicologia vê como problemas de personalidade, comportamentos e funções mentais, então para mim é outra coisa.
No caso sociológico tem na ideia de auto-concepção, aspectos de representação social como uma pessoa única, ou em termos quantitativos o que a difere das outras em aspectos culturais, de gênero, de nacionalidade, agora identidade online ou algo que seja formativo da própria identidade.
Embora cultura entre como um aspecto sociológico, ela é redutiva porque cultura é mais abrangente que aspectos de identidade e nacionalidades, Alfred Kroeber e Clyde Kluckhohn encontraram, pelo menos, 167 definições diferentes para o termo “cultura”, o que mostra a abrangência do termo.
Ficamos com uma definição reduzida, porém que incorpora elementos essenciais: todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade” de Edward B. Tylor, para nosso tema pois envolve conhecimento, crenças e verdade.
Sistemas que ignoram as crenças não são verdadeiros, mas tautológicos, mesmo admitindo uma intersecção entre crenças e conhecimento, pois ignoram que há conhecimento ligado ás crenças (figura inferior).
Sistemas que admitem que em toda cultura há crenças, podem diferenciar o conhecimento presentes em culturas diferentes e que possuem um núcleo de conhecimento distinto, mas em ambos podem haver verdade, é um conhecimento dialógico e relacional.
A arte, a moral e os costumes que estão dentro destas culturas podem não ter relação com a verdade, mas cada uma tem um núcleo diferente de conhecimento (x e y na figura) que tem relação com a verdade, os fatos e atitudes ajudam a manter esta verdade relacional.
Schlemmer e o Virtual
Muitas são as possibilidades biográficas para Oskar Schlemmer (1888—1943), para entender o humanismo de Schelemmer, começo pela sua disciplina “O homem” que ele ministrou na Bauhaus em “Matéria de ensino: o homem”, tendo como objetivo “familiarizar o aprendiz com o homem todo, fazendo-o a partir de dois tipos distintos de consideração: o aparamento visível e a sua apresentação”, como aparece no site: www.tipografos.net/bauhaus/.
A ideia do bale triádrico parte de três participantes (dois do sexo masculino e um feminino), 12 danças e 18 figurinos, há forte influência do teatro de marionetes, a ideia de movimentos maquínicos, síntese de sua visão da modernidade dividida em dois movimentos principais: a mecanizada, que torno o homem como uma máquina e o corpo um mecanismo, e, a dos impulsos primordiais, as profundezas de nossos impulsos criativos.
Ele via na geometria coreográfica da dança uma síntese, as origens dionisíacas e emocionais da dança, que torna rígida e apolínea em sua forma final, mas queria estar livre da bagagem histórica da ópera e do teatro, e assim, ver o homem transformado pelo traje e pela dança.
Ele viu nos fantoches e marionetes movimentos superiores os seres humanos, fazendo uma leitura a partir do virtual diria que tem uma “gramática”, e usando um raciocínio de Schelemmer pode se dizer que “o meio de toda arte é artificial”, sendo, portanto, um artefacto virtual.
Ao analisar o corpo como geometria: viu a cabeça e os olhos como círculos, assim o corpo torna-se uma estatueta de onde deriva o traje, e finalmente, os movimentos da dança e a musica surgem dai, formando o “todo” do homem por onde iniciamos a análise de seu trabalho.
Nascido em 04 de setembro de 1888, completaria 130 anos hoje, razão que está no Google.
Julia 1.0: uma nova linguagem de computação
Quando o cenário das lijguagens de computação não parecia mais apresentar novidades, surge um projeto audacioso do MIT que pode mudar esta lógica, trata-se da linguagem Julia, desnecessário dizer que é open source.
Em um evento de Londres em 2018, o JuliaCon os desenvolvedores: o professor Alan Edelman, Jeff Bezanson, Stefan Karpinski e Viral Shah liberaram o Julia 1.0, declaron Edelman na época: “Julia vem revolucionando a computação científica e técnica desde 2009”, trabalharam desde este ano em uma nova linguagem que combinavam Ruby, MatLab, C, Python, R e outras além de ter recursos paralelos, de inteligência artificial e fácil conexão com bancos de dados semiestruturados.
Os comandos são parecidos aos já populares C, C++ e Java, por exemplo, o programa de calculo das raízes da equação do 2º. Grau:
function quadratic2(a::Float64, b::Float64, c::Float64)
sqr_term = sqrt(b^2-4a*c)
r1 = quadratic(a, sqr_term, b)
r2 = quadratic(a, -sqr_term, b)
# pode retornar múltiplos valores sem uso da palavra return
r1, r2
end
A versão lançada no dia 7 de agosto de 2018, e sua versão estável no dia seguinte chamada de Julia 1.0 coloca-a definitivamente no universo das linguagens de programação da atualidade.
O release par oa Julia 1.0 (Julia 1.0.0-rc1) foi lançado em 7 de agosto de 2018 e a versão final um dia depois. A equipe escreveu que o código que é executado sem avisos no Julia 0.7 será executado de forma idêntica no Julia 1.0.
Julia usa JIT (MCJIT [50] do LLVM) que gera código de máquina nativo diretamente, antes de uma função ser executada pela primeira vez, não são bytecodes executados em uma máquina virtual (VM) ou traduzidos como o bytecode em execução, como copor exemplo, Java, a JVM ou Dalvik no Android, é código nativo mesmo.
Julia também é usada para impulsionar carros autônomos e impressoras 3-D, bem como aplicações em medicina de precisão, realidade aumentada, estruturas genômicas, aprendizado de máquina e gerenciamento de risco.
Conforme afirmou o professor Edelman: “O lançamento da Julia 1.0 indica que Julia está pronta para mudar o mundo técnico combinando a produtividade de alto nível e a facilidade de uso do Python e do R com a velocidade veloz do C ++”, mudanças vem ai.