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O zoológico humano e a antropotécnica
Numa conferência realizada em 17 de julho de 1999, que era dedicada a Heidegger e Lévinas, no castelo de Elmau na Baviera, o filósofo Peter Sloterdijk tratou de temas polêmico como a manipulação genética e lançou a ideia de uma “antropotécnica”, provocando fortes reações na Alemanha e também no Brasil no caderno Mais+ da folha de São Paulo “O novo zoológico do homem” foi destaque de capa em 10 de outubro de 1999.
As ideias do filósofo já haviam sido apresentadas em uma cidade Suíça da Basiléia, mas agora a reação era a relação do humanismo com os meios de comunicação, uma interpretação mais midiática do humanismo, que provocou reação do filósofo Habermas e de um articulista da prestigiosa revista alemão Der Spiegel, onde uma polêmica se iniciou com o articulista Thomas Assheuer que o indicava que Sloterdijk “propagandeia a seleção pré-natal e o nascimento opcional: técnica genética como crítica social aplicada .. traços de retórica fascistas” foi publicada na prestigiosa revista.
Em 9 de setembro do mesmo ano Sloterdijk publicou na Die Zeit, duas cartas abertas uma dirigida a Assheuer e outra a Reinhard Mohr, que o atacou também, mas afirmando que o mentor destes ataques era Jürgen Habermas, e de modo ainda mais provocativo intitulou seu artigo de “Die Kritische Theorie ist tot”, traduzindo A teoria crítica está morta.
A polêmica cresceu e os artigos de Manfred Frank e Ernst Tungendhat publicados em 27 de setembro no Spiegel, fazia um dossiê do livro de Sloterdijk, as Regras para o Parque Humano já era um livro, trazendo na capa uma estátua no estilo de Arno Breker, escultor do III Reich, agrupando ícones de Hitler, Nietzsche e o Superman das histórias em quadrinhos, a ovelha Dolly e Lara Croft, uma heroína de jogos virtuais de computador, a polêmica se formou.
O ponto de partida de Sloterdijk não era esse, confesso que foi minha reação numa primeira leitura também, mas o seu ponto de partida era, e sua presença no colóquio dedicado a Heidegger e Lévinas provam isto, uma frase do poeta Jean-Paul no inicio do livro: “livros são cartas dirigidas a amigos, apenas mais longas”, um humanismo ligado a escrita.
Também a referência á humanitas de Cícero, uma oposição à selvageria e brutalidades que era os espetáculos no anfiteatro humano, mostra ao contrário de seus detratores, a preocupação com um pré-fascismo atual (ler o post de ontem), que vinha se desenhando e agora já é realidade em várias partes do planeta, e lembramos que o “humanismo nacional” do século XIX foi justamente onde se desenharam as duas guerras mundiais do século XX.
O que levou Heidegger a perguntar na sua Carta sobre o humanismo, e o livro de Sloterdijk é uma resposta, se uma manifestação cega de antropocentrismo levou a três concepções de confrontos trágicos do século XX: “o bolchevismo, o fascismo e o americanismo”, em sua resposta afirma Sloterdijk que o cristianismo, o marxismo e o existencialismo foram as três alternativas humanistas que “evitam a radicalidade última da questão sobre o ser humano” (Sloterdijk, 1999, p. 23).
A separação do homem em relação a natureza, e ao animal que na visão de Heidegger não +e a racionalidade, na imagem de Sloterdijk, Heidegger caminha entre eles como um anjo colérico em sua espada de fogo (idem, p. 25), marcando a clivagem ontológica entre o ser da biologia e o homem enquanto clareira do Ser, para quem o Ser se apresenta como Ser que escolhe para sua guarda, em sua busca para a “pacificação” que duas guerras mundiais sepultaram, e agora parecem esta no horizonte ao longe.
Porque é importante ler Sloterdijk
Informei no último post que além das esferas de Sloterdijk, li somente as Esferas I que foi publicada em português, que tenho minha própria esfera emprestada de Chardin: a noosfera, e as outras de Sloterdijk tenho comentários do próprio autor e de leitores e interpretes dele.
Um resposta que li recentemente de uma entrevista dele, me deu uma síntese importante de minha proximidade do pensamento dele, ao ser perguntado sobre o que esperava do mundo acadêmico, afirmou em tom cerimonial: “A partir do século 19 (pensemos em Kierkegaard, Schopenhauer ou Nietzsche), o mundo dos filósofos se divide entre aqueles que, como eu, buscam uma aliança com os meios de comunicação de seu tempo (naquela época, a literatura; hoje, a imprensa, o rádio e a televisão), e aqueles que não o fazem, apostando no clássico vínculo entre a universidade e as editoras de livros como seu único biótopo cognitivo”, entre muitas coisas que li, esta é a mais genial.
Não aposto nas Mídias de redes sociais, blogs como este que escrevo a dez anos, por modismo ou afirmação do meu pensamento, mas porque penso que é importante dialogar com o que é hoje mediático, me recusei a algum tempo, por exemplo, ao Twitter que é impulsivo e colérico.
Outro ponto de contato é sua visão da zona de conforto, na mesma entrevista veiculada no caderno Mais+ da Folha de São Paulo de 2003, mas que fortuitamente encontrei num site para reler o que havia me influenciado na época, que me fez logo comprar o livro: Regras para o Parque Humano, publicado pela estação Liberdade na virada do milênio, mas logo parei de ler.
Só retomei anos mais tarde alertado por um aluno para a importância de seu pensamento.
Esse ponto de segurança, portanto não é zona de conforto, explica: “Estamos pensando como o ser humano arquiteta a segurança de sua existência. Como ele vive? Como previne futuras eventualidades e catástrofes? Como se defende? Como se integra em suas culturas, entendidas como comunidades de luta? É uma mudança de paradigma: da filosofia para uma imunologia geral”, isto é, procuramos um “lugar” para estar seguro, há ai uma analítica do lugar, diria na minha análise, em frontal oposição ao pragmatismo niilista e kantiano.
Uma antevisão de Sloterdijk não pode deixar de ser percebida nesta entrevista, ao prever o fascismo nos EUA: “Do ponto de vista da teoria dos meios de comunicação, o fascismo é o monotematismo no poder. Se uma opinião pública se estrutura de tal maneira que a uniformização aumenta demais, temos um sintoma pré-fascista”, há vários pontos do planeta com este sintoma, e é claro, podemos mergulhar numa nova era fascistóide da pré-guerra.
Não há como deixar de ver isto em posições na America Latina, e no Brasil em particular.
A imunologia de Sloterdijk
O conceito imunológico de Sloterdijk, bem anterior ao processo de retorno ao nacionalismo que mergulhamos em diversos países, e até mesmo na America Latina, não é apenas uma explicação de forma individualizadas de viver, mas agora também da sociedade como um todo.
Mas Sloterdijk partiu da vida individualizada (ou biós, do grego) que era caracterizada como uma fase de sucesso de sistemas imunológicos, ou seja, a fase em que a relação com o homem com a natureza era de aprendizado, a definição da biologia sistêmica, para explicar que não pode existir uma forma de vida que não se preocupe com a conservação de suas estruturas imunitárias.
Assim afirmou o autor: “Se citarmos a afirmação metabiológica segundo a qual sistemas imunológicos seriam incorporações de expectativas de lesões ou expectativas de algum dano, fica claro que as culturas humanas, na medida em que essas representam a totalidade de procedimentos preventivos – ou, podemos dizer, as tradições –, são elaboradas com maior sensibilidade contra imunidade do que as espécies animais e vegetais. E nem todo mundo sabe que o conceito da imunidade originalmente não foi um conceito biológico, mas sim jurista, que foi utilizado como metáfora na biologia” (Critica da razão cínica, 1983).
Platão tinha um sistema parecido, mas fez uso de imagens e analogias na esfera “pastoral” para falar sobre a formação do individuo, para Sloterdijk esta associação s+olida entre o professor e o pastor, alunos e rebanho, só se dissolveu com pedagogias reformadas do século XX: “Na época, isso aconteceu após a Segunda Guerra Mundial, em instituições como Summer Hill, onde o aluno passou a ser pensado como um rebanho que se autoeduca” (SLOTERDIJK, 1983)
Sloterdijk acrescenta que a questão pedagógica de como educar o ser humano é sobreposta por um drama biológico evolucionário: “A segunda descoberta da necessidade de formar o ser humano como ser humano propriamente dito – ou seja, imunizá-lo com a domesticação contra a sua própria associabilidade – ocorreu no século XIX, quando Charles Darwin colocou o ser humano no final da série de evolução, em sua teoria sobre as espécies” (Sloterdijk, 1983), afirmou em sua obra.
Nosso ponto de vista é que há também uma esfera espiritual na qual o homem evolui, seu espírito evolui, a Noosfera, conforme descrevera este Teilhard Chardin.
Uso de Inteligência Artificial na educação
Segundo o relatório do grupo editorial britânico Pearson a Inteligência Artificial vai impactar positivamente o ensino nos próximos anos, diz o texto: “Imagine companheiros de aprendizagem ao longo da vida alimentados por Inteligência Artificial que possam acompanhar e apoiar estudantes ao longo de seus estudos – – dentro e fora da escola – ou novas formas de avaliação que medem a aprendizagem enquanto ela está a decorrer, moldando a experiência de aprendizagem em tempo real”.
Os que tem reticências e até mesmo oposição ao ensino com auxílio de IA argumenta que automatiza e individualiza o processo de aprendizagem, e a educação não seria assim, porém há muitas razões para defender esta nova ferramenta de apoio nas aulas.
A favor, a utilização destas ferramentas permitirá aos professores a avaliação do desempenho e a supervisão da aprendizagem de cada estudante, de forma individualizada, mas isto significa que dará mais atenção as fragilidades, e usando métodos estatísticos, agir e corrigir de forma mais rápida estas fragilidades.
Já quanto ao dispositivo, além do treinamento que assistentes pessoais tipo Alexa despertam, a aprendizagem de cada estudante permite pela acumulação de dados dar ao docente uma visão mais precisa do aluno no espaço virtual que ajude à evolução intelectual do aluno.
O questionamento e as discussões deverão se alargar até que a machine learning já esteja tão evoluída que sua presença no processo educacional seja irreversível.
Pintura sonora holográfica
Já é possível uma pintura musical, a ideia é usar micro LEDs (díodos sensíveis a luz) e com a pintura colocar cargas elétricas que ao contato com a mão ou algum outro material produz uma corrente elétrica e ela pode estar associada a um som.
Bare Conductive é um pequeno estúdio em Londres que faz tinta preta condutiva e viscosa, o material básico é o carbono, o que torna bastante acessível para experimentar, além de ser um material condutivo.
O estudo viu como crescer uma comunidade de aristas ao seu redor, sem instrumentos musicais e sem se importar quem é o melhor.
A mente e corpo, a relação com o mentalismo
Já postamos aqui sobre o estruturalismo, e aquilo que consideramos efeitos tardios da modernidade naquilo que chamou de estruturalismo ou desconstrução, que antes de Derridá já estão presentes no pensamento de Alun Munslow, e este por sua vez tem uma perspectiva “desconstrucionista” ligada ao pensamento de Hayden White e Keith Jenkins, que pode ser lido na revista Rethinking History.
Porém o objetivo aqui é fazer uma leitura, ainda que seja quase impossível, do angulo de visão da mente, há uma afasia chamada de Wernicke, que é justamente a alteração na linguagem oral e escrita, o que torna a comunicação sem precisão, por causa de alguma lesão neurológica.
Isto é particularmente interessante porque significa que é possível, sob circunstâncias restritas, ligar a mente a um processo antropológico de seu desenvolvimento, e tornar o processo “mentalista” ligado de certa forma ao histórico.
Assim a relação do cerebelo está ligado as funções musculares e de coordenação, enquanto o tronco cerebral regula as funções corporais (batida do coração, temperatura do corpo, etc.) e o Lóbulo temporal: a compreensão, a linguagem, a escuta, a memória a aprendizagem, mas curiosamente é ali que está ligada a área da linguagem oral e escrita, chamada de Wernicke.
Nas áreas superioridades estão as áreas de desenvolvimento humano historicamente posterior, especialmente no Lóbulo Frontal: moralidade, raciocínio, personalidade e outras.
Nagel toca o dilema corpo e mente, já falamos da mente do outro, partindo da premissa que admite que o outro é consciente, e se não concorda-se com o ceticismo, sabe-se que a relação de consciência com a mente só poderá ser aquilo que “depende do corpo”, ou da realidade.
Para explicar seu pensamento faz a experiência de comer um chocolate e pergunta se com instrumentos que pudessem medir as sensações dentro do cérebro: “Mas poderia encontrar o sabor do chocolate?” (pag. 31).
“Mas as pessoas pensam que acreditar numa alma é algo antiquado e pouco científico. Tudo o mais no mundo é feito de matéria física – combinações dos diferentes elementos químicos?” (pag. 32), “os cientistas descobriram o que é a luz, como crescem as plantas, como se movem os músculos – é só uma questão de tempo até descobrirem a natureza biológica da mente. É assim que pensam os fisicalistas.” (pag. 33), no domínio da mente chamou-se aqui mentalistas.
O autor explica que uma teoria “avançada do fisicalismo [mentalismo] é a de que a natureza mental dos seus estados mentais consistem nas relações com as coisas que os causam e coisas por eles causadas” (pag. 36), um retorno a casualidade, que a própria física contemporânea tratou de negar, Heisenberg enunciou e a física das partículas e a astrofísica comprovaram.
O assunto é complexo, mas o livro de Nagel é uma boa introdução ao problema corpo-mente.
NAGEL, T. Que quer dizer tudo isto? Uma iniciação a filosofia. 5a. ed., Lisboa: Gradiva, 2018.
É possível simplificar a filosofia ?
Sim e não, conforme postamos a semana passada, há complexidade na simplificação e nem tudo que é simples pode ser correto, na maioria das vezes é um reducionismo, onde a simplificação alterou a análise do fenômeno tornando outra coisa do que é.
Mas alguém que conseguiu isto, ao menos em parte, foi Thomas Nagel, propôs-se a abordar temas como: o mundo além das mentes, para além de outras mentes, o velho paradoxo corpo e mente, como é possível a linguagem, existe o livre arbítrio, quais desigualdades são injustas, a natureza da morte e o sentido da vida.
Sem dizer autores e nomes está abordando problemas centrais da filosofia, vai se utilizar também de exemplos práticos, didáticos e começa por uma pergunta sobre as coisas que é no fundo a pergunta de boa parte da filosofia: “será que as coisas pareceriam diferentes se de fato existissem apenas em sua mente … e se fosse apenas um sonho gigante? … (NAGEL, 2018, p. 13).
“É mesmo possível que não tenhas um corpo nem um cérebro – uma vez que as tuas crenças acerca disso vêm unicamente dos dados dos teus sentidos.” (NAGEL, 2018, p. 14).
Começa então a dividir as correntes da filosofia, “a conclusão mais radical a retirar daqui seria a de que a tua mente é a única coisa que existe” (p. 15), esta é a corrente solipsista.
A segunda posição é “pode existir ou não um mundo exterior, e, se existe, pode ser ou não completamente diferente da maneira como te parece – não há maneira de o saberes ?” (p. 15), esta é a posição do ceticismo.
“Se não podes ter a certeza de que o mundo fora da tua mente existe agora, tu próprio, como podes ter a certeza de que tu próprio existisse antes? (p. 16), e isto remete ao problema do tempo, da memória, da informação, da linguagem e do ser.
No final o autor afirma que é “impossível acreditar seriamente que toda as coisas no mundo à tua volta podem não existir na realidade” (p. 20), isto pode ser tão evidente que não necessitamos de fundamentar, mas ainda assim haveriam três questões sérias:
1) Faz sentido a possibilidade de o mundo interior ser tudo que existe, mas existindo o exterior quem garanta que não seja diferente do que pensa?
2) Se qualquer destas hipóteses sejam possíveis, existe alguma maneira de provar a ti mesmo que essa hipótese não é de fato verdadeira ?
3) Se não podes provar que existe seja o que for fora da sua própria mente, será correto continuar a acreditar na existência de um mundo exterior?
Existindo o mundo exterior, o problema é saber se tudo se move como um relógio ou seja é pré-determinado, o assim chamado determinismo, ou se há o livre-arbítrio e as coisas podem ser escolhidas, o autor fala da escolha de pessoas entre comer um belo pedaço de bolo ou uma fruta, e o fato que o sol não pode escolher de não levantar-se no início do dia, porém mesmo na natureza a física das partículas demonstra que há um indeterminismo na natureza.
Aborda isto no capítulo 6 daí virá a questão da lógica no capítulo 7.
Se pensar que existem as duas coisas deve pensar que existem também outras mentes, e estas mentes terão experiências e visão das coisas diferentes da sua, há um modo de ver que as duas estariam corretas ou as duas erradas, o que é certo ou errado ? Abordará isto no capítulo 7, e o certo e errado diante da justiça, abordará isto no capítulo 8, e a morte o que é, capítulo 9 e o sentido da vida, capítulo 10.
NAGEL, T. Que quer dizer tudo isto? Uma iniciação a filosofia. 5a. ed., Lisboa: Gradiva, 2018.
Porque é preciso pensar?
Sonhava em escrever um livro de filosofia, não o escreverei mais, talvez faça considerações, como as que farei aqui, mas ao encontrar inesperadamente o autor Thomas Nagel em: “Que quer dizer tudo isto? Uma introdução à filosofia” em sua 5ª. edição (Gradiva, 2018) penso que ele fez o trivial: apresentar questões fundamentais em palavras do cotidiano.
Assim, farei apenas comentários, não é um resumo, são apenas apontamentos, e talvez seja interessante dizer como o encontrei, foi até de outra obra: Como é ser um morcego? (The Philosophical Review LXXXIII, pp. 435-50, 1974), onde diz que esta pergunta pode fazer sentido, mas não faz sentido perguntar como é ser um tostadeira, atualizando para os dias de hoje como é ser a Robô Sophia, embora hajam pessoas fazendo esta pergunta.
Não é esta questão que responde diretamente, mas questões atuais que estão no pensamento cotidiano, ou seja: Como sabemos seja o que for, o que são as outras mentes, o significado das palavras, a liberdade (o livre arbítrio), a morte e o sentido da vida.
A filosofia parece não tratar disto, mas trata só que em diálogo com outros pensadores, esclarece o autor logo no início do livro: “a filosofia é diferente da ciência e da matemática … não se assenta em experimentações nem na observação, mas apenas no pensamento.” (p. 8).
Todos nós pensamos, é equivocado pensar que só filósofos e cientistas pensam, a questão da filosofia é; “questionarmos e compreendermos ideias muito comuns que usamos todos os dias sem pensar nelas” (p. 8), e ao fazermos isto somos levados “na onda” para onde ela queira nos levar, em tempos de crise e profundas mudanças isto pode ser fatal.
Explica o autor, entre outras coisas duas perguntas que considero essenciais: “Um físico perguntará de que são constituídos os átomos ou o que explica a gravidade, mas um filósofo irá perguntar como podemos saber que existe qualquer coisa fora das nossas mentes” (p. 9),
Isto é essencial porque esta é a pergunta idealista contemporânea, e o idealismo é a grande filosofia de nosso tempo, ele é a base do que convencionou-se chamar de modernidade.
NAGEL, T. Que quer dizer tudo isto? Uma iniciação a filosofia. 5a. ed., Lisboa: Gradiva, 2018.
Unidade, complexidade e simplicidade
Aparentemente irreconciliáveis, há quem diga que o paradigma do mundo contemporâneo, a complexidade se opõe ao da simplicidade, mas analisemos bem melhor esta interpretação do pensamento de Edgar Morin, ao afirmar “… parte dos fenômenos, ao mesmo tempo, complementares, concorrentes e antagonistas, respeita as coerências diversas que se unem em dialógicas e polilógicas e, com isso enfrenta a contradição por várias vias. Assim sendo, utiliza o conceito básico de ´sistema auto-organizado complexo” (Morin, 2000, p. 387) que remete a ideia de unidade como uma noção chave.
Esta complexidade necessidade de novas estratégias e modos coerente de dialogar para penetrar nos mistérios, observa Morin: “ (…) a necessidade, na sua coerência e no seu antagonismo as nações de ordem, de desordem e de organização obriga-nos a respeitar a complexidade física, biológica, humana” (Morin 2000, p. 180-181).
Compreendendo a complexidade da cultura que para ele envolve: juvenilização, cerebralização, Culturalização, o que está explicado em um de seus livros básicos O paradigma perdido e a natureza humana, cuja edição portuguesa é de 1973.
Embora hajam outras ideias de complexidade, Morin afirma que a palavra complexidade: “nos empurra para que exploremos tudo e o pensamento complexo é o pensamento que, armado dos princípios de ordem, leis, algoritmos, certezas, ideias claras, patrulha no nevoeiro o incerto, o confuso, o Indizível” (MORIN, 2000, p. 180-181).
A ideia que complexidade não pode conviver com a simplicidade é a incompreensão não só da dialógica, mas da polilógica, que consubstancia e une os dois conceitos: “distinguir e fazer comunicar, em vez de isolar e de disjuntar, a reconhecer os traços singulares, originais, históricos do fenômeno em vez de liga-los pura e simplesmente a determinações ou leis gerais, a conceber a unidade-multiplicidade …” (MORIN, 2000, p. 354).
Esta alternativa de unidade na diversidade, é explicada pelo autor recorrendo a exemplos no campo biológico, que é na prática o exercício da simplicidade, onde a diversidade da natureza compõe a vida.
MORIN, E. Ciência com consciência. Rio de Janeiro: Bertrand, 2000.
Novidades no Google News
Após vários anúncios, finalmente na segunda quinzena de maio o Google lançou seu novo aplicativo, somente agora consegui dar uma olhada no aplicativo que substitui o Google Play Newsstand, agora com uso de Inteligência Artificial.
O aplicativo trabalho em usar aprendizado de máquina para treinar algoritmos que vasculham notícias de modo complexo e recentes e divide-as num formato de fácil compreensão, com cronogramas cronológicos, notícias locais e histórias apresentadas numa sequencia de acordo com a evolução dos fatos, por exemplo, o início de uma partida de futebol, seus lances mais importantes, o resultado e as consequências.
Esta seção que são notícias que os algoritmos julgam importantes para você tem o nome For You (Para você no Brasil, e Para si em Portugal), seguem mais 3 seções assim divididas:
A segunda seção é chamada Manchete, onde as últimas notícias e temas específicos são apresentadas. Aqui, existe uma subseção onde o usuário pode escolher ler a notícia pela Cobertura Completa do Google, em que o Google divide-a em itens, numa variedade de fontes em Mídias sociais, permitindo saber onde e quando aquilo aconteceu.
A terceira seção mostra os favoritos, como os principais tópicos que o usuário costuma acessar, a IA tem grande trabalho ai, vai nas fontes favoritas do proprietário, salva histórias para leituras mais tarde e guarda pesquisas de acordo com a localização dos textos.
E por fim o White Play (Play Branco) que é a adição do novo Google news, que permite que o usuário acesse e assine serviços com conteúdos premium em Sites voltadas à notícias.
Enquanto uma parte da crítica continua a duelar com os velhos esquemas de notícias dirigidas ou enlatadas, vinculadas a grupos editoriais, o mundo das notícias personalizadas evolui.