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Para retomar o conhecimento
Já citamos aqui o livro “Cabeça bem-feita” de Edgar Morin e agora detalhamos alguns aspectos que ajudarão a construir a educação para o futuro:
“O pensamento que une substituirá a causalidade linear e unidirecional por uma causalidade em círculo e multirreferencial; corrigirá a rigidez da lógica clássica pelo diálogo capaz de conceber noções ao mesmo tempo complementares e antagonistas, e completará o conhecimento da integração das partes em um todo, pelo reconhecimento da integração do todo no interior das partes.” (Morin, p.92-93)
Para uma educação que consiga focar em integrar pedaços de conhecimento em um conjunto de conhecimentos significativos para uma cabeça bem-feita deve ligar: “a explicação à compreensão, em todos os fenômenos humanos. Vamos repetir aqui a diferença entre explicação e compreensão.” (pag. 93)
Mas o que é explicar: “ é considerar o objeto de conhecimento apenas como um objeto e aplicar-lhe todos os meios objetivos de elucidação. De modo que lhe há um conhecimento explicativo que é objetivo, isto é, que considera os objetos dos quais é preciso determinar as formas, as qualidades, as quantidades,
e cujo comportamento conhecemos pela causalidade mecânica e determinista.” (idem)
Não significa abandonar a explicação objetiva, geralmente ligada a fenômenos da natureza: “A explicação, claro, é necessária à compreensão intelectual ou objetiva. Mas é insuficiente para a compreensão humana” (idem)
O conhecimento humano exige a troca de sentido entre sujeitos, rejeita a ideia de um único sentido: “de sentidos entre os sujeitos. “A partir daí, compreender comporta um processo de identificação e de projeção de sujeito a sujeito” (p. 93), a chamada intersubjetividade.
Mas isto requer dois esforços em direções opostas, primeiro é preciso para “a compreensão [ser] sempre intersubjetiva, necessita de abertura e generosidade” (pag. 93), enquanto por outro lado combater a superficialidade e ignorância, ou seja, “precisamos, pois, estar intelectualmente rearmados, começar a pensar a complexidade, enfrentar os desafios da agonia/ nascimento de nosso entre-milênios e tentar pensar os problemas da humanidade na era planetária“(p. 104), aqueles que pensam ter soluções prontas ou já saber de tudo estarão fora deste tempo e deste novo pensamento.
Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Tradução de Eloá Jacobina. 9. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004
Imaginário e mitologia
Fora do âmbito do cristianismo, e de certa forma do islamismo, renascem mitologias e uma nova e poderosa literatura que desperta, em especial nos jovens, algo de fantástico, por isto, é chamada de literatura fantástica.
A literatura fantástica é um gênero no qual narrativas ficcionais estão centradas em elementos não existentes ou não “reconhecidos” na realidade, no tempo em que a obra foi escrita.
Isto porque não se podem pensar em Macunaíma, sem pensar nos símbolos regionais brasileiros, em Naruto, sem pensar na sociedade japonesa, e nem pensar em Senhor dos Anéis sem pensar nos elfos, duendes e outras figuras da literatura celta e nórdica, eque foi escrito J. R. R. Tolkien, que embora seja visto como inglês era nascido na África do Sul.
Pensando em Macunaíma, de onde podemos extrair aspectos da cultura contemporânea recente do Brasil, penso nas definições ou incertezas dadas por Todorov:
“O fantástico ocupa o tempo desta incerteza. Assim que se escolhe uma das duas respostas, deixa-se o terreno do fantástico para entrar em um gênero vizinho: o estranho ou o maravilhoso. O fantástico é a vacilação experimentada por um ser que não conhece mais que as leis naturais, frente a um acontecimento aparentemente sobrenatural. (Todorov, 1980, p. 15-16).
Ou vamos para as categorias da ilusão ou o ser existe realmente, como indaga Todorov.
Todorov afirmando que só dará uma definição no final e o faz depois de analisar algumas obras de envergadura como O diabo apaixonado de Cazotte, Manuscrito de Saragoça de Jan Potocki e o exemplo singular de Aurelia de Nerval, mas ao mesmo tempo antecipa uma primeira definição: “O conceito de fantástico se define pois com relação ao real e imaginário, e estes últimos merecem algo mais que uma simples menção.” (Todorov, 1980, p. 16).
O que não se pode confundir é esta literatura com as fábulas cristãs das “Cronicas de Nárnia”, que foi escrita pelo autor irlandês C. S. Lewis, escritos na década de 50, e no caso da literatura nacional poderíamos citar O auto da compadecia de Ariano Suassuna, cuja primeira edição é de 1956.
Os limites entre a mitologia e o imaginário são claros, é possível no segundo caso estabelecer uma análise sociológica no qual se encontram elementos sociais reais aos qual os personagens imaginários.
TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica, Espanha: PREMIA (v. Brasileira digital) 1980.
Porque o pragmatismo é idealista
Postamos ontem sobre o pragmatismo como política e suas consequências, agora queremos analisar suas origens e demonstrar sua fidelidade ao idealismo e portanto a modernidade.
Um dos expoentes do pragmatismo foi John Dewey, que viveu quase um século e faleceu em 1952, exercendo enorme influência assim até os dias de hoje, sua tese de doutorado foi sobre a “psicologia” de Kant, e isto já bastaria para comprovar seu idealismo e não a praticidade.
Sua carreira universitária tem um impulso quando em 1884 vai lecionar Filosofia na Universidade de Michigan, e três anos depois publica seu “sistema filosófico” em Psychology.
Este sistema filosófico que conjugava o estudo científico da psicologia com a filosofia clássica alemã, profundamente influenciada pelo idealismo, mas foi William James quem popularizou a concepção pragmatista e a desenvolveu após uma grande influencia da filosofia francesa da época articulando-a com o pensamento de Stuart Mill, é, portanto, utilitarista, embora Dewey preferia o termo “instrumentalista”.
Na base, Dewey nunca negou isto, a influência fortemente neo-hegeliana, mas também, como no caso dos outros dois pais fundadores sendo um Pierce, de influência empirista e utilitarista.
Separamos aqui Charles Sanders Peirce pois este re-significou o termo, após um re-leitura da antropologia prática de Immanuel Kant, aquilo que Dewey chamava de psicologia, afinal sabe- se que a semiótica é muito mais uma filosofia da linguagem do que da psicologia, embora elas possam ser colocadas em relação, mas não direta.
O pragmatismo ganhou impulso na década de 70, com pensadores como Richard Rorty, Richard Bernstein e Hans Jonas, tendo influencia também em Putnam e Habermas.
O pragmatismo político e a democracia
A conjuntura complexa tanto nacional quanto internacional tem conduzido a um caminho de facilidade que é o pragmatismo político, e como esclarecem muitos estudiosos, não cabe quanto a este termo uma separação ideológica.
O reducionismo neste campo leva a um significado semelhante aos termos “objetividade” e “praticidade”, mas deve-se incluir pela emergência de um novo termo também a palavra “sustentabilidade”, quanto a combinação dos termos de desenvolvimento econômico e preservação de recursos naturais, mas não é só isto, em essência é o ativismo político hoje.
A ausência de uma reflexão mais ampla, e aqui não me refiro ao pessimismo baumaniano e nem ao pragmatismo filosófico aliás combina bem com o político, já que em todos setores da vida humana, a diversidade natural das coisas, e regras mínimas de convivência social, obrigam todos, até individualistas, a se integrarem à coletividade.
Mas o que está em jogo, no caso brasileiro é a saída de uma profunda crise à qual todos rejeitam a paternidade, mas cada um a seu modo tem sua culpa maior ou menor, uma vez que os que não pecaram por ação corruptiva e irresponsável, pecaram por omissão.
O que pode nos salvar é uma boa dose de democracia plena, longe do pragmatismo político também expresso nas ruas, mas perto do questionamento das estruturas e a sua consequente modificação, redução do poder (não necessariamente do tamanho) do estado, e liberação das forças econômicas, junto ao necessário socorro ao problema social.
Quanto ao pragmatismo filosófico, é uma doutrina metafísica que defende que a ideia do sentido da vida corresponde aos desdobramentos práticos, ou seja, boa dose de voluntarismo aliada a um neo-empirismo, nada mais idealista
O mestre e o jumentinho
A palavra grega Paidagogos é formada pela palavra paidós (criança) e agogos (condutor).
Geralmente era o trabalho do escravo que levava a criança ou o jovem até a formação, que derivava na mesma raiz palavra, significando dar formação (Paidéia) intelectual e cultural.
Então pedagogia está ligada ao ato de conduzir do saber, conduzir a sabedoria e ao mestre.
Deveria ser também hoje a condução a formas de levar o indivíduo ao conhecimento, mas não é porque o condutor já se acha dono do conhecimento e não o conduz aos mestres, àqueles que construíram o conhecimento, em geral ignorados ou vistos como “teóricos”.
Também a Bíblia traz um exemplo didático, Jesus ao entrar em Jerusalém, manda buscar um jumentinho para montar, não tinha portando cavalarias e pompas em sua entrada embora o povo o tenha ovacionado com ramos de árvores, eis a origem do domingo de Ramos.
Muita gente religiosa de hoje, ao invés de se considerar um “jumentinho” que conduz o mestre, se põe no lugar e quer reduzir a sabedoria do mestre ao seu limitado conhecimento.
A redução do saber, o chamado reducionismo, a especialização do saber, sabendo uma só área queremos ser “sábios” em várias outras, e principalmente a vulgarização do conhecimento que a humanidade já produziu faz do jumentinho um pseudo-sábio, arrogante e vaidoso.
O Renascimento na ideia média foi uma retomada da antiguidade, qual será a retomada da modernidade perdida em preconceitos e reducionismos ?
Criatianismo e Idealismo
Se a essência do idealismo é a separação de objeto e sujeito, faço uma inversão proposital, a essência do cristianismo para Ludwig Feuerbach é separa do sujeito e os objetos sensíveis, e para Feuerbach a consciência do objeto pode ser, embora distinguida da consciência de si, uma consciência que coincide logo em seguida ao se tratar do objeto religioso, devido sua “transcendência” é exatamente o que o faz retornar-se a consciência de Si, explico.
Para Feuerbach, e o objeto sensível está fora do ser (embora a ontologia aqui seja só um apelo), o objeto religioso está nele, é um objeto intrínseco, e tão pouco o abandona, a sua consciência moral o abandona, é um objeto íntimo, e mesmo o mais íntimo, é o mais próximo de todos.
A sua crítica a Teologia, usando o idealismo pressupõe essencialmente um juízo crítico, a “diferença entre o divino· e o não-divino, entre o que é e o que não é digno de adoração”, assim com este dualismo é possível jogar todo a essência do divino na vala comum do Ideal.
A consciência de Deus é a consciência em si do homem, eis o idealismo Hegeliano tornado religião: o conhecimento de Deus é o conhecimento de si do homem.
A negação do sujeito é considerada como irreligiosidade, e sua relação com objetos sensíveis, uma negação do sujeito, eis a religião ateia de Feuerbach, a qual Marx de voltará chamando-a de Velhos Hegelianos, e procura fazer sua inversão, agora do objeto ao sujeito, eis a nova versão “religiosa” dos Jovens Hegelianos, como Marx.
“Não se trata mais do Céu para Terra” disse Marx, mas agora “da terra para o céu”, ou seja, do objeto para o sujeito, da força de trabalho e da produção, para sua divinização.
Se para Marx, a fetichização era a separação do trabalho de seu instrumento de trabalho e da mercadoria, fetichização pode ser a reificação (rex – coisa) ou a objetivação, onde vê a separação do sujeito e o objeto, no fetichismo religioso é a separação do consumo (pecaminoso) e indivíduo (visto sem autonomia) ao qual o religioso deve “assistir”.
A relação justa com o dinheiro, com o trabalho, com a saúde e educação, não é senão uma superação da visão idealista religiosa, sua consumação num homem em relação harmônica com o mundo, e neste caso, também a beleza, a poesia e vida saudável tem perspectiva.
Mas o que é consciência ? amanhã voltamos nisto.
O Ser, os gregos e o céu
O nosso tempo carece de uma cosmologia, de um olhar para o infinito, todas as civilizações tiveram suas cosmologias, e a nossa ocidental as perdeu.
Os pré-socráticos, que em sua visão, viam uma manifestação quando se falava na questão do Ser e/ou a “possibilidade” do desvelamento (aletheia) ou da “ocultação” natural, isto é, o que somos se oculta.
Heidegger propõe uma releitura dos pré-socráticos de maneira diferente das que foram feitas pela tradição, isto é, Platão e Aristóteles entre outros posteriormente, porque passaram a olhar somente o EU e em alguns casos o NÓS, mas sempre numa dinâmica finita (O Sumo Bem de Platão) ou estática (O motor imóvel de Aristóteles).
O que eles entendiam por Céu, não ampliava os sentidos para além de uma epifania (epiphaneia), para ver o Céu como nossa origem cósmica, fato distorcido no transcorrer do tempo, e que parte da exegese cristã não deixou de ser vítima, uma vez que o teocentrismo tem como catarse no final da idade média exatamente o problema do movimento dos planetas e da centralidade do sol, mas a questão posta era outra: a Bíblia pode ser interpretada, pode haver uma questão hermenêutica na leitura bíblica ?
A Filosofia contemporânea é quase toda racionalista, é possível através de uma nova cosmologia, uma possibilidade de “reviravolta” que poderia reativar o nosso pensamento à filosofia originária, aquela que remete aos nossos ancestrais e ao que verdadeiramente somos, e não ao que fazemos, que é ideológico.
Chamamos de experiência e de fenômeno apenas o mundo sensível, sem este olhar para o inifinito, tanto o infinitamente grande (não necessariamente o absoluto) como o infinitamente pequeno, conforme comenta Blackburn sobre a Fenomenologia de Husserl:
“(…) Husserl percebeu que a intencionalidade era a marca da consciência, e viu nela um conceito suscetível de ultrapassar o dualismo tradicional da mente-corpo. (…) Apesar da rejeição do dualismo por Husserl, sua crença na existência de algo que permanece depois da epochê, ou suspensão dos conteúdos da experiência, o associa à prioridade às experiências elementares da doutrina do fenomenismo, e a fenomenologia acabou por sofrer, em parte, com a superação dessa abordagem aos problemas da experiência e da realidade. Contudo, fenomenólogos mais recentes, como Merleau-Ponty, fazem plena justiça à natureza mundo-envolvente da experiência.”
Não há nada mais difícil para a filosofia contemporânea do que o epochê, suspensão de juízo sobre os conteúdos, e o desvelamento aletheia, porque ela está viciada tanto ideológica como filosoficamente.
Minha homenagem a defesa de dissertação de meu aluno Ramon Ordonhez, sobre o tema.
Blackburn, Simon. Contributions to Philosophy: From Enowning, Indiana University Press, 1997.
Bancos de dados gratuitos
Quando mais os bancos de dados open-source crescem, mais as empresas cobiçam este mercado, três concorrente tem ótimos produtos: MySQL, Firebird, PostgreSQL.
Alguns obstáculos sempre presentes é ganhar a confiança entre desenvolvedores destes produtos em produtores independentes de software, onde funciona uma falsa ideia que: aquilo que pagamos é o melhor produtos.
Por outro lado desenvolvedores produtos pagos, chamados de software proprietário, é usar as vantagens deste mercado “free” a seu favor, por exemplo, o SQL Server Express, da Microsoft, permite facilidades para migração para sua versão paga, o SQL Server Express, também a geração e um banco de dados em uma Planilha Excel da Microsoft, que é fácil de ser feito pode ser convertida facilmente para o banco Access, que vem junto com seu pacote Windows.
Já o conceito de Bigdata, que exige bancos de dados NoSQL, são aqueles onde uma coleção de bases de dados se tornam tão complexas e volumosas que é muito difícil (em muitos casos impossível) fazer operações simples como remoção, ordenação e sumarização, usando Sistemas Gerenciadores de Bases de Dados tradicionais.
BigData também se referem a dados não estruturados encontrados nas mídias de redes sociais, é uma consequência direta da Web 2.0 que inseriu milhões de usuários como produtores de informação, usam os aplicativos NoSQL (Not only SQL). NoSQL promovendo diversas soluções inovadoras de armazenamento e informações em grande volume.
Essas diversas soluções vêm sendo utilizadas com muita frequência em inúmeras empresas, como por exemplo, IBM, Twitter, Facebook, Google e Yahoo! para o processamento analítico de dados de logs Web, transações convencionais, entre inúmeras outras tarefas.
O SGBD tem um modelo de consistência fortemente baseado no controle transacional ACID (Atomicity, Consistency, Isolation e Durability), mas este modelo é inviável quando estão distribuídos em vários nós, caso típico das redes (importante aqui são redes e não mídias).
O modelo desenvolvido então deve ser outro: CAP (Consistency, Availability e Partition tolerance) onde geralmente somente duas dessas 3 propriedades podem ser garantidas simultaneamente, o que dificulta ainda mais o processamento, mas não se a base de dados for “semiestruturada”, isto é, trabalhar com o princípio que os dados não são estruturados nos formatos convencionais dos bancos SQL.
Dentre os vários produtos NoSQL existentes, podemos considerar que o mais representativo é o Apache Handoop, hoje já existe uma versão adaptada para a Web, chamada Handoop 2.0.
Há outros produtos, entre eles HBase que é um banco de dados distribuídos, orientado a coluna, usa o modelo Google BigTable e é escrito em Java, e outro é o software open-source como Apache Cassandra (originalmente desenvolvido para o Facebook).
HBase é um banco de dados distribuido open-source orientado a coluna, modelado a partir do Google BigTable e escrito em Java.
Há interfaces simples para SQL como arrays associativos ou pares chave-valor (Key-Value pairs), e também padrões para bancos de dados XML nativos com o apoio do padrão XQuery.
Uma linguagem foi desenvolvida para a Web Semântica é o SPARQL (Protocol and RDF Query Language) que tem auxiliado o crescimento de agrupamentos linked data.
Barbearias, cafés e redes
Segundo Peter Burke, o locus das discussões religiosas e políticas em 1620 eram as barbearias, cita o escritor italiano Ludovico Zuccolo, que as evocava cheias de gente comum discutindo os problemas religiosos e as atitudes dos governantes.
A primeira grande onda sobre leitura era para interpretação a Bíblia, o mesmo que reivindicara Galileo e que ainda hoje é ignorado, o mesmo Ludovico dizia que a medida que o número de analfabetos caia, eram comuns no século XVI, na Itália por exemplo, sapateiros, tintureiros, pedreiros e donas-de-casa, reivindicarem o direito de interpretar as sagradas escrituras.
Na década de 1620 às preocupações religiosas somaram-se preocupações políticas. Ludovico Zuccolo, um escritor italiano, evocava a imagem das barbearias cheias de gente comum discutindo as medidas dos governantes.
Quem pensa que hoje há um excesso de informação, assim que os livros começaram a ser impressos em preços mais razoáveis, já se reclamava do número de livros existentes e como se faria para lê-los em uma só vida, em 1975 por exemplo, 1745 a biblioteca do Vaticano, abrigava apenas 2.500 volumes, no século XVII a Bodleian Library de Oxford tinha 8.700 títulos, e a biblioteca imperial de Viena, 10 mil.
Das barbearias foram para os cafés, o Café de La Paix é o cenário de muitos romances, pinturas e poemas, Guy de Maupassant e Emile Zola o frequentaram, a proximidade com a Opera Gamier (ao lado) tornou-o uma espécie de Museu, em 1975 foi considerado um local histórico pelo governo francês.
Os cybercafés seriam seus descendentes ? eles conviveram com bibliotecas e outros locais de diálogo e de cultura, eles foram importantes na “primavera árabe”, principalmente na Líbia e no Egito, houveram eventos de violência com heróis que postavam denúncias nestes cybercafés.
Tanto a revolta no Egito quanto a Líbia foram registradas em inúmeras mídias sociais, um bom exemplo, é o vídeo com 2 mil mortes (vídeo do OneDayOnEarth), revelam o gosto dos ditadores pelo culto a pessoa e às mídias verticais.
Muito antes de estourar a guerra na Síria, olhando os comentários nas redes, sabíamos que lá era um barril de pólvora (vejam nosso post de 2012), lá já havia sido presa uma blogueira Tal al-Molouhi, presa em 2009, uma jovem que pedia a democracia.
Os governos e donos de mídias verticais não aceitam a influência das redes, porque é a falência deles, mas agora até mesmo o autoritário Trump não dá bola para eles, faz sua própria mídia, claro que não fica sem respostas, nas mídias de redes sociais está perdendo feio.
Me perdoe Todorov !
Descubro só hoje, que faleceu dia 7 de fevereiro deste ano em Paris, Tzvetan Todorov, filósofo e crítico literário bulgáro, pouco conhecido , mas não menos importante para nosso século.
Tenho como sua frase mais contundente, uma que o fez profeta da invasão de islâmicos na Europa, afirmou ele muito antes da crise da emigração: ““Pode-se medir nosso grau de barbárie ou civilização por como percebemos e acolhemos os outros, os diferentes.”
Uma entrevista que deu na França (rádio France Culture, em 2009), ajuda a ver este profetismo de Todorov: ““Escrevi meu primeiro livro de História das Ideias, que se chama ‘Nós e os Outros’. Era uma obra sobre a pluralidade das culturas analisada sob o ponto de vista da tradição francesa. Estudei autores desde Montaigne (…) até Lévi-Strauss. Tentei ver como esses autores trataram esta questão difícil para nós ainda hoje: a unidade da humanidade e a pluralidade das culturas. Nessa série de autores, descobri que aqueles de quem me sentia mais próximo eram os humanistas”.
No Brasil, concedeu uma entrevista ao Fronteiras do Pensamento, em 2012, no qual afirmou: “Percebi que, tanto como historiador como ensaísta, aproveitei mais a literatura em si que os estudos sobre literatura, e que lia com mais prazer romances, poesias e histórias diversas do que análises literárias ou teses escritas sobre a literatura, que me parecem hoje em dia se dirigir quase exclusivamente aos outros especialistas de literatura. Enquanto que o romance interessa a todo mundo, e me sinto mais próximo de todo mundo que dos especialistas”.
Seus livros mais famosos são: A conquista da America: a questão do Outro, São Paulo, SP: Martins Fontes, 1982 (pdf), O Homem Desenraizado. São Paulo: Editora Record, 1999, O Medo dos Bárbaros: para além do choque das civilizações. Petrópolis: Editora Vozes, 2010, Os Inimigos Íntimos da Democracia. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, A vida em comum: ensaio de Antropologia geral. São Paulo: Editora Unesp, 2014.
Livros menos conhecidos, mas não menos importantes: considero um clássico o livro Teorias do símbolo. São Paulo: Editora Unesp, 2014, Simbolismo e interpretação. São Paulo: Editora Unesp, 2014 e Teoria da literatura: textos dos formalistas russos. São Paulo: Editora Unesp, 2013.
Morreu aos 77 anos, na cidade de Paris, era búlgaro nascido em 1 de março de 1939, embora considerado dentro da corrente estruturalista, sem pensamento transcendeu a ela e é um de nossos contemporâneos importantes de serem lidos.
Comungo com ela a ideia que tanto o fascismo quanto o estalinismo foram decorrentes da ideia que temos de estado dando-lhe poderes acima dos cidadãos, que tem dificuldade de controla-lo.
Recebeu em 2008 o Premio Príncipe de Asturias de Ciencias Sociales, segundo o documento por representar «el espíritu de la unidad de Europa, del Este y del Oeste, y el compromiso con los ideales de libertad, igualdad, integración y justicia».