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Arquivo para a ‘Museologia’ Categoria

Objetividade, subjetividade e belo

27 jun

O fato que o mundo contemporâneo não encontre espaço para o silêncio, para a escutaDuchamp e principalmente para a contemplação, o simples fato de admitir que existe o belo mesmo sem nenhuma crença, é o fato que nos apegamos as tensões entre sujeito e objeto, ora projetados no objeto, ora projetados no sujeito, mas sem o “mundo dos objetos” é um abstrato.

Entre as três mais belas frases sobre a arte encontro: “A arte diz o indizível; exprime o inexprimível, traduz o intraduzível” de Leonardo da Vinci, mas sobre o belo que é expressão da arte encontro as frases entre as que mais aprecio e quiçá as mais citadas, de Victor Hugo: “o belo é tão útil com o útil, as vezes até mais” e de Dostoievski: “a beleza salvará o mundo”.

O fato é que a arte é sempre expressar o que todos veem segundo a necessidade e a utilidade: o novo, o belo e o inaudito, seguindo a linha de da Vinci, e seguindo a linha de Victor Hugo o útil do aparentemente inútil, Marcel Duchamp ao colocar um mictório de ponta cabeça e chama-lo de “A fonte” (1917), revelou a dupla face da utilidade, ou talvez a inutilidade do que chamamos de útil, então pode-se dizer que a arte é paradoxal.

A filosofia moderna utilitarista vai dizer que o belo é o conceito relacionado à determinadas características visíveis nos objetos (ou seres), nada difere do conceito de propriedade e a estética seria única e exclusivamente a amplia a característica do objeto.

Schopenhauer critica Kant ao dizer que não estabelece corretamente o conteúdo da “fronteira comum” a priori do sujeito e objeto, pois em primeiro lugar, ele não reconhece a forma “primeira, principal e mais universal” da representação, a saber, a de ser objeto para um sujeito (das Objekt-für-ein-Subjekt-Sein), antes de falar sobre o belo.

Segundo ele quando predicamos algo de belo (schön), dizemos, em termos objetivos, que nele conhecemos “não a coisa particular, mas a Idea”.  Todavia, como qualquer coisa particular é a objetivação de uma ideia, a princípio, essa pode ser conhecida em qualquer coisa, logo, como conclui o filósofo: “Toda coisa é bela”, porém para ele tudo parte da Vontade e não do Ser.

O trabalho A origem da obra de arte, fruto de três palestras dadas por Heidegger em 1939, mas o livro só foi publicado em 1950, com traduções para o português da década de 70, vai desenvolver segundo três aspectos: a coisa, a verdade e a arte-poesia.

Para verdade retoma a poesia ou “alethéia”, fenômeno desde o qual o ser ( dos homens e das coisas) vêm à tona e ganha significado, já a coisa conceito caro a seu mestre Edmund Husserl, retornar as coisas em si e fará isto com a poesia, não como um gênero literário, mas Poesia é antes o movimento desde o qual às coisas surgem, é o movimento de produção desde onde acontece à desocultação do ente fazendo com que este ganhe corpo e significado, a arte é então desvelar, acontecer ou seja acontece um novo “aparecer” da coisa.

Exemplificando: Uma pedra antes de ser arte, será a coisa-pedra transformada em coisa-arte através do “artifícios” do artista e é alma deste que só ultrapassando os limites do seu corpo confere vida à pedra e a transforma em arte, o Ser nesta pedra é então ontológico .

A frase de Rodin: “eu escolho um bloco e retiro tudo que não preciso dele”, ou de Michelangelo para a estátua de Moisés: “porque não fala?”.

 

Elo perdido ou novo homo sapiens ?

12 jun

Em artigo publicado na Nature de 7 de junho, um novo esqueleto de um humanoide,HommoSapiens o fato de ser um homo sapiens é controverso, sugere que a uma raça de humanídeos viveu no Norte da África, região onde é o Marrocos, há mais de 315 mil anos atrás.

Isto muda a concepção anterior que afirmava o surgimento do homo sapiens cerca de 100 mil anos atrás, as medidas foram feitas por equipamentos de laser em diversos institutos da europa, incluindo a Alemanha, onde o estudo no Max Planck Institute se originou.

Jean-Jacques Hublin, autor do artigo da Nature e diretor diretor Instituto para Antropologia Evolucionária em Leipzig, explicou:” Até agora, o conhecimento comum era que nossa espécie surgiu provavelmente, bastante rapidamente, em algum lugar do ´Jardim do Éden´ que se localizava provavelmente na África subsaariana”, mas agora completou: “Eu diria que o Jardim do Éden na África é provavelmente a África – e é um grande e grande jardim”, indicando uma área mais extensa para o surgimento do homem.

Hublin visitou o sitio arqueológico de Jebel Irhoud pela primeira vez na década de 1990, mas não tinha tempo nem dinheiro para escavar até 2004, depois de ter se filiado a Sociedade Max Planck Society, alugou um trator para remover cerca de 200 metros cúbicos de rocha que bloqueavam o acesso a parte mais profunda do sitio.

Inicialmente, uma liderada pelo cientista arqueológico Daniel Richter e o arqueólogo Shannon McPherron, também no Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, dataram do site e todos os restos humanos encontraram entre 280.000 e 350.000 anos usando dois métodos diferentes, mas depois outros países também fizeram medidas usando métodos com uso de laser e a data aproximada é de 315 mil anos.

Hublin diz que sua equipe tentou e não conseguiu obter DNA dos ossos de Jebel Irhoud.

Esta análise genômica poderia ter estabelecido claramente se os restos moram na linhagem que leva a humanos modernos, mas tudo indica que pode ser um elo mais que humanóides claramente identificados com a raça humana, podendo ser o elo perdido entre nós e os primeiros primatas.

 

 

Vontade de Potência (ou poder)

25 mai

Se desejamos penetrar na lógica do poder, e o poder é tudo que nos convém VontadeDePodere não a felicidade apenas, Nietzsche é o mestre.

Vontade de Potência ou de Poder (“Der Wille zur Macht”) é um conceito da filosofia de Nietzsche que é usado como base na construção de todo seu pensamento, para ele ela esá em tudo na vida, não se limita somente na vida orgânica, indo desde reações químicas até a psique humana.

Teilhard Chardin dava outro nome que era a ideia de vitalização, ou seja, a vida cada vez mais complexa, e o homem é o máximo da complexificação da vida, ocorre por um processo de cerebralização, e assim significa que estamos em “evolução”, mas não necessariamente em potência ou poder.

Tomás de Aquino, falava em ato e potência, e potência e o que “virtualmente” está contido no ato, por exemplo, plantamos uma semente e virtualmente é uma árvore.

O nosso problema contemporânea, reflexo em toda civilização ocidental em particular, mas em todo planeta é se o nosso atual processo de empoderamento no sentido de desenvolvimento está correspondendo a uma felicidade geral, ou seja, somos felizes?

Certamente toda a humanidade diria que não, uma das doenças contemporâneas era o stress, tornou-se a sindrome do pânico, e a depressão dá sinais de crescimento tão assustadores quanto outras doenças físicas, como o câncer e a AIDS.

Mas a hipótese de Nietszche contrasta com a física quântica moderna, já que sua primeira suposição é que total da força que existe no universo é determinada, não infinita, enquanto a astrofísica se depara com um universo em expansão e com forças potências ainda não mensuradas devidas aos buracos negros.

Mas da teoria de Nietzsche reduz-se que o número de situações, e as combinações dessas forças são mensuráveis, ou seja, também determinada e finita, como se supõe no universo laplaciano, e não é o mesmo Universo de Einstein e Heisenberg.

Na terminologia de Nietzsche a Vontade de Poder é uma lei originária, sem exceção nem transgressão.

Assim no dizer do filósofo a Vontade de potência não é algo criado, ou que dependa de condições especiais, como na religião ou em teorias precedentes, mas ela advém da própria realidade das coisas, é preciso assim, como pressupõe a fenomenologia de Husserl voltar as coisas mesmas, para determinar o que de fato elas são.

NIETZSCHE, Friedrich. Vontade de Poder. RJ: Editora Contraponto, 2008.

 

Imaginário e mitologia

19 abr

Fora do âmbito do cristianismo, e de certa forma do islamismo, renascem mitologiasFantastic e uma nova e poderosa literatura que desperta, em especial nos jovens, algo de fantástico, por isto, é chamada de literatura fantástica.

A literatura fantástica é um gênero no qual narrativas ficcionais estão centradas em elementos não existentes ou não “reconhecidos” na realidade, no tempo em que a obra foi escrita.

Isto porque não se podem pensar em Macunaíma, sem pensar nos símbolos regionais brasileiros, em Naruto, sem pensar na sociedade japonesa, e nem pensar em Senhor dos Anéis sem pensar nos elfos, duendes e outras figuras da literatura celta e nórdica, eque foi escrito J. R. R. Tolkien, que embora seja visto como inglês era nascido na África do Sul.

Pensando em Macunaíma, de onde podemos extrair aspectos da cultura contemporânea recente do Brasil, penso nas definições ou incertezas dadas por Todorov:

“O fantástico ocupa o tempo desta incerteza. Assim que se escolhe uma das duas respostas, deixa-se o terreno do fantástico para entrar em um gênero vizinho: o estranho ou o maravilhoso. O fantástico é a vacilação experimentada por um ser que não conhece mais que as leis naturais, frente a um acontecimento aparentemente sobrenatural. (Todorov, 1980, p. 15-16).

Ou vamos para as categorias da ilusão ou o ser existe realmente, como indaga Todorov.

Todorov afirmando que só dará uma definição no final e o faz depois de analisar algumas obras de envergadura como O diabo apaixonado de Cazotte, Manuscrito de Saragoça de Jan Potocki e o exemplo singular de Aurelia de Nerval, mas ao mesmo tempo antecipa uma primeira definição:  “O conceito de fantástico se define pois com relação ao real e imaginário, e estes últimos merecem algo mais que uma simples menção.” (Todorov, 1980, p. 16).

O que não se pode confundir é esta literatura com as fábulas cristãs das “Cronicas de Nárnia”, que foi escrita pelo autor irlandês C. S. Lewis, escritos na década de 50, e no caso da literatura nacional poderíamos citar O auto da compadecia de Ariano Suassuna, cuja primeira edição é de 1956.

Os limites entre a mitologia e o imaginário são claros, é possível no segundo caso estabelecer uma análise sociológica no qual se encontram elementos sociais reais aos qual os personagens imaginários.

TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica, Espanha: PREMIA  (v. Brasileira digital) 1980.

 

O homem não tão natural

29 mar

A filosofia moderna, de Hobbes a Hegel, depois a crise se instala, não conseguiu definir Leviathan_by_Thomas_Hobbeso que de fato seria natural, e perguntamos o natural é o homem em guerra ? ou em paz ? se é que podemos deixar de lado o que seja de fato natural e natureza.

Comecemos por Hobbes, afirmou o autor: Se não houvesse a corrupção e o vício de homens degenerados, não seria preciso outras leis, nem a necessidade de formar, no lugar de grande e natural comunidade, sociedades separadas, fundadas sobre contratos positivos.” (Locke, 1978, p. 5), parece atual e é porque o Estado idealizado por Hobbes e divinizado por Hegel é o que foi implantado, mas isto será o post seguinte.

Para Hobbes o Estado de Natureza é o próprio Estado de Guerra de todos contra todos, na verdade do estado contra o cidadão, mas isto não é tá claro, enfatiza ele que diante da ameaça de morte violenta, a vida se caracteriza como: “sórdida, pobre, embrutecida e curta”, nos termos por ele expostos no capítulo XIII do Leviatã, a sua principal obra.

A guerra é então uma sensação permanente de medo que implica na preocupação constante com a autoproteção, muito atual, e é de 1651 (na foto a capa original).

John Locke vem a seguir, para estabelecer como um dos grandes precursores do liberalismo que os homens são iguais e livres, e que dentro dos limites da lei da natureza pode decidir, em contrato estabelecido com os demais, quais ações podem ser praticadas na relação com os demais, pode-se dizer que não está em um estado de guerra, mas deve estabelecer regras para que os limites “naturais” sejam respeitados.

Não podendo o homem destruir as dádivas da natureza ele deve, em prol de sua liberdade “ilimitada”, justificar sua atitude para preservar a humanidade, dito em sua pobra Dois tratados sobre o governo (II, § 6). 

Cada um está obrigado a preservar-se, e não abandonar a sua posição por vontade própria; logo, pela mesma razão, quando sua própria preservação não estiver em jogo, cada um deve, tanto quanto puder, preservar o resto da humanidade, e não pode, a não ser que seja para fazer justiça a um infrator, tirar ou prejudicar a vida ou o que favorece a preservação da vida, liberdade, integridade ou bens de outrem (LOCKE, 1998, p. 385). 

Finalmente vem Jean Jacques Rousseau que defende o “bom selvagem”, ou seja, o homem é bom por natureza a sociedade o corrompe, dito desta forma:

os homens nesse estado [de natureza], não tendo entre si nenhuma espécie de relação moral, nem deveres conhecidos, não poderiam ser bons nem maus, e não tinham vícios nem virtudes (…). Não vamos, sobretudo, concluir com Hobbes que, por não ter a menor ideia da bondade, o homem seja naturalmente mau; …” (ROUSSEAU, 1978, p. 158).

Depois isto se tornará idolatria moderna do estado em Hegel, mas é preciso retomar este estado “ideal” desde Kant para fazer um percurso do pensamento.

 

HOBBES, T. Leviatã, Coleção Os pensadores, São Paulo: Abril Cultural, 1978.

LOCKE, John. Dois tratados sobre o governo. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

ROUSEAU, J.J. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, Coleção Os pensadores, São Paulo: Abril Cultural, 1978.

 

A arte que reeduca o olhar

22 mar

Sempre que olhamos determinadas cenas e lugares públicos vemos algo além do real,CowParade

são nossas imaginações que remetem a memória e a nossa fantasia sobre aquele local, era mais fácil fazer isto antigamente porque havia um pouco de poesia e arte no ar, e agora ?

Bem o mundo digital, demonizado por alguns e mal-entendido ainda por muitos analistas, tudo leva um tempo de maturação, já tem diversas instalações e novidades.OlharNovo

É o caso do artista e fotógrafo Gerson Turelly, cuja concepção e manipulação digital foram feitos em Israel, mas a maioria dos pontos turísticos com imaginação virtual é do Brasil.

Seu projeto tem o nome de “Olha de Novo” e conforme ele própria afirma o objetivo é  “criar uma conexão lúdica com a bagagem de memórias de cada indivíduo em relação aos espaços e pontos turísticos de sua cidade“.

Você pode acompanhar o trabalho criativo no site do artista, onde vai ter mais informaçõesGordinhas sobre este projeto, como qual o processo que usa na composição de suas criações.

É na minha opinião uma reinvenção de obras que já conhecemos como as “gordinhas” de Salvador, trabalha da artista plástica Eliana Kértsz, onde as variações são braços, pernas, bochechas cheios de curvas e volume.

Também a chamada “Cow Parade“, ou “parada das vacas”, que rodou o mundo, mas em cada cidade permitia a sua comunicação visual com o o espaço, por exemplo em diversos pontos turísticos de Belém as vacas feitas de fibra de vidro que foram customizadas por artistas regionais selecionados, e tiveram como madrinha Fafá de Belém.

O interativo e o participativo entram no imaginário da arte contemporânea, e é Arte.

 

 

Quase La La Land ganha

27 fev

Quase porque a atrizes Warren Beatty e Faye Dunaway  anunciaram erroneamente queMoonlight La La Land: Cantando Estações  mas o vencedor com méritos foi Moonlight: Sob a Luz do Luar., os queridinhos da crítica tiveram a melhor atriz Emma Stone – La La Land: Cantando Estações e o melhor ator Melhor Ator Casey Affleck – Manchester à Beira-Mar

 

Os prêmios de melhor atriz coadjuvante foi para  Viola Davis – Um Limite Entre Nós e o melhor ator para Mahershala Ali – Moonlight: Sob a Luz do Luar, o filme ganhou também melhor roteiro adaptado com Barry Jenkins e Tarell Alvin McCraney – .

       

Melhor diretor, o agora premiadíssimo (ganhou dois Globos de Ouro), o diretor Damien Chazelle – La La Land: Cantando Estações, que ganhou também melhor fotografia com Linus Sandgren .

 

Melhor filme de animação foi para  Zootopia: Essa Cidade é o Bicho e melhor filme estrangeiro para  O apartamento, do Irã.

Sem muitas novidades, com melhor trilha sonora de Justin Hurwitz – La La Land: Cantando Estações ficou com as horas da noite, mas Moonlight, desculpem o trocadilho roubou um pouco o brilho.

 
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Barbearias, cafés e redes

14 fev

Segundo Peter Burke, o locus das discussões religiosas e políticas em 1620 eram CafeParisas barbearias, cita o escritor italiano Ludovico Zuccolo, que as evocava cheias de gente comum discutindo os problemas religiosos e as atitudes dos governantes.

A primeira grande onda sobre leitura era para interpretação a Bíblia, o mesmo que reivindicara Galileo e que ainda hoje é ignorado, o mesmo Ludovico dizia que a medida que o número de analfabetos caia, eram comuns no século XVI, na Itália por exemplo, sapateiros, tintureiros, pedreiros e donas-de-casa, reivindicarem o direito de interpretar as sagradas escrituras.

Na década de 1620 às preocupações religiosas somaram-se preocupações políticas. Ludovico Zuccolo, um escritor italiano, evocava a imagem das barbearias cheias de gente comum discutindo as medidas dos governantes.

Quem pensa que hoje há um excesso de informação, assim que os livros começaram a ser impressos em preços mais razoáveis, já se reclamava do número de livros existentes e como se faria para lê-los em uma só vida, em 1975 por exemplo, 1745 a biblioteca do Vaticano, abrigava apenas 2.500 volumes, no século XVII a Bodleian Library de Oxford tinha 8.700 títulos, e a biblioteca imperial de Viena, 10 mil.

Das barbearias foram para os cafés, o Café de La Paix é o cenário de muitos romances, pinturas e poemas, Guy de Maupassant e Emile Zola o frequentaram, a proximidade com a Opera Gamier (ao lado) tornou-o uma espécie de Museu, em 1975 foi considerado um local histórico pelo governo francês.

Os cybercafés seriam seus descendentes ? eles conviveram com bibliotecas e outros locais de diálogo e de cultura, eles foram importantes na “primavera árabe”, principalmente na Líbia e no Egito, houveram eventos de violência com heróis que postavam denúncias nestes cybercafés.

Tanto a revolta no Egito quanto a Líbia foram registradas em inúmeras mídias sociais, um bom exemplo, é o vídeo com 2 mil mortes (vídeo do OneDayOnEarth), revelam o gosto dos ditadores pelo culto a pessoa e às mídias verticais.

Muito antes de estourar a guerra na Síria, olhando os comentários nas redes, sabíamos que lá era um barril de pólvora (vejam nosso post de 2012), lá já havia sido presa uma blogueira Tal al-Molouhi, presa em 2009, uma jovem que pedia a democracia.

Os governos e donos de mídias verticais não aceitam a influência das redes, porque é a falência deles, mas agora até mesmo o autoritário Trump não dá bola para eles, faz sua própria mídia, claro que não fica sem respostas, nas mídias de redes sociais está perdendo feio.

 

Me perdoe Todorov !

10 fev

Descubro só hoje, que faleceu dia 7 de fevereiro deste ano em Paris, Tzvetan Todorov,AConquistaDaAmericaOutro filósofo e crítico literário bulgáro, pouco conhecido , mas não menos importante para nosso século.

Tenho como sua frase mais contundente, uma que o fez profeta da invasão de islâmicos na Europa, afirmou ele muito antes da crise da emigração: ““Pode-se medir nosso grau de barbárie ou civilização por como percebemos e acolhemos os outros, os diferentes.”

Uma entrevista que deu na França (rádio France Culture, em 2009), ajuda a ver este profetismo de Todorov: ““Escrevi meu primeiro livro de História das Ideias, que se chama ‘Nós e os Outros’. Era uma obra sobre a pluralidade das culturas analisada sob o ponto de vista da tradição francesa. Estudei autores desde Montaigne (…) até Lévi-Strauss. Tentei ver como esses autores trataram esta questão difícil para nós ainda hoje: a unidade da humanidade e a pluralidade das culturas. Nessa série de autores, descobri que aqueles de quem me sentia mais próximo eram os humanistas”.

No Brasil, concedeu uma entrevista ao Fronteiras do Pensamento, em 2012, no qual afirmou: “Percebi que, tanto como historiador como ensaísta, aproveitei mais a literatura em si que os estudos sobre literatura, e que lia com mais prazer romances, poesias e histórias diversas do que análises literárias ou teses escritas sobre a literatura, que me parecem hoje em dia se dirigir quase exclusivamente aos outros especialistas de literatura. Enquanto que o romance interessa a todo mundo, e me sinto mais próximo de todo mundo que dos  especialistas”.

Seus livros mais famosos são: A conquista da America: a questão do Outro, São Paulo, SP: Martins Fontes, 1982 (pdf), O Homem Desenraizado. São Paulo: Editora Record, 1999, O Medo dos Bárbaros: para além do choque das civilizações. Petrópolis: Editora Vozes, 2010, Os Inimigos Íntimos da Democracia. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, A vida em comum: ensaio de Antropologia geral. São Paulo: Editora Unesp, 2014.

Livros menos conhecidos, mas não menos importantes: considero um clássico o livro Teorias do símbolo. São Paulo: Editora Unesp, 2014, Simbolismo e interpretação. São Paulo: Editora Unesp, 2014 e Teoria da literatura: textos dos formalistas russos. São Paulo: Editora Unesp, 2013.

Morreu aos 77 anos, na cidade de Paris, era búlgaro nascido em 1 de março de 1939, embora considerado dentro da corrente estruturalista, sem pensamento transcendeu a ela e é um de nossos contemporâneos importantes de serem lidos.

Comungo com ela a ideia que tanto o fascismo quanto o estalinismo foram decorrentes da ideia que temos de estado dando-lhe poderes acima dos cidadãos, que tem dificuldade de controla-lo.

Recebeu em 2008 o Premio Príncipe de Asturias de Ciencias Sociales, segundo o documento por representar «el espíritu de la unidad de Europa, del Este y del Oeste, y el compromiso con los ideales de libertad, igualdad, integración y justicia».

 

 

A Ceia das cinzas

01 fev

O nome original da obra de Giordano Bruno é La cena de las cenizas (em italiano: GiordanoBrunoLa cena de le ceneri), o que ele propõe nesta obra é uma concepção de mundo , se hoje vemos o planeta e todo universo como “nossa casa”, Giordano Bruno foi um dos primeiros a ver também isto.

As teorias de Giordano Bruno superaram em muito as de Copérnico, propôs que o sol é simplesmente uma estrela, que o universo pode conter um número infinito de mundos habitados com seres e animais inteligentes, membro da Ordem Dominicana, estudou são Tomás de Aquino e desenvolveu uma teoria cósmica diferente do pensamento da igreja na época, e foi acusado de panteísmo e condenada a fogueira pela Inquisição.

Porém do ponto de vista estritamente religioso suas controvérsias foram quanto a transubstanciação na eucaristia, a trindade, a encarnação de Cristo e a virgindade de Maria.

Influenciou pensadores como Spinoza e morreu na fogueira tendo o respeito de muitos.

Em seu livro A ceia das cinzas declarou: “A Terra e os astros (…), como eles dispensam vida e alimento às coisas, restituindo toda matéria que emprestam, são eles próprios dotados de vida, em uma medida bem maior ainda; e sendo vivos, é de maneira voluntária, ordenada e natural, segundo um princípio intrínseco, que eles se movem em direção às coisas e aos espaços que lhes convêm”, uma vez que já houve reparação quanto a Galileu, não seria mal também uma reparação ainda maior em relação a Giordano Bruno.

É quarta-feira de cinzas, e nada mal se pudessemos alémda hipocresia e do proselitismo realmente falar em diálogo, de modo abrangente tanto no campo religioso quanto no campo ideológico, mas os inquisidores sobrevivem apesar de Deus não ter nada a ver com isto.