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Quase La La Land ganha
Quase porque a atrizes Warren Beatty e Faye Dunaway anunciaram erroneamente que La La Land: Cantando Estações mas o vencedor com méritos foi Moonlight: Sob a Luz do Luar., os queridinhos da crítica tiveram a melhor atriz Emma Stone – La La Land: Cantando Estações e o melhor ator Melhor Ator Casey Affleck – Manchester à Beira-Mar
Os prêmios de melhor atriz coadjuvante foi para Viola Davis – Um Limite Entre Nós e o melhor ator para Mahershala Ali – Moonlight: Sob a Luz do Luar, o filme ganhou também melhor roteiro adaptado com Barry Jenkins e Tarell Alvin McCraney – .
Melhor diretor, o agora premiadíssimo (ganhou dois Globos de Ouro), o diretor Damien Chazelle – La La Land: Cantando Estações, que ganhou também melhor fotografia com Linus Sandgren .
Melhor filme de animação foi para Zootopia: Essa Cidade é o Bicho e melhor filme estrangeiro para O apartamento, do Irã.
Sem muitas novidades, com melhor trilha sonora de Justin Hurwitz – La La Land: Cantando Estações ficou com as horas da noite, mas Moonlight, desculpem o trocadilho roubou um pouco o brilho.
Barbearias, cafés e redes
Segundo Peter Burke, o locus das discussões religiosas e políticas em 1620 eram as barbearias, cita o escritor italiano Ludovico Zuccolo, que as evocava cheias de gente comum discutindo os problemas religiosos e as atitudes dos governantes.
A primeira grande onda sobre leitura era para interpretação a Bíblia, o mesmo que reivindicara Galileo e que ainda hoje é ignorado, o mesmo Ludovico dizia que a medida que o número de analfabetos caia, eram comuns no século XVI, na Itália por exemplo, sapateiros, tintureiros, pedreiros e donas-de-casa, reivindicarem o direito de interpretar as sagradas escrituras.
Na década de 1620 às preocupações religiosas somaram-se preocupações políticas. Ludovico Zuccolo, um escritor italiano, evocava a imagem das barbearias cheias de gente comum discutindo as medidas dos governantes.
Quem pensa que hoje há um excesso de informação, assim que os livros começaram a ser impressos em preços mais razoáveis, já se reclamava do número de livros existentes e como se faria para lê-los em uma só vida, em 1975 por exemplo, 1745 a biblioteca do Vaticano, abrigava apenas 2.500 volumes, no século XVII a Bodleian Library de Oxford tinha 8.700 títulos, e a biblioteca imperial de Viena, 10 mil.
Das barbearias foram para os cafés, o Café de La Paix é o cenário de muitos romances, pinturas e poemas, Guy de Maupassant e Emile Zola o frequentaram, a proximidade com a Opera Gamier (ao lado) tornou-o uma espécie de Museu, em 1975 foi considerado um local histórico pelo governo francês.
Os cybercafés seriam seus descendentes ? eles conviveram com bibliotecas e outros locais de diálogo e de cultura, eles foram importantes na “primavera árabe”, principalmente na Líbia e no Egito, houveram eventos de violência com heróis que postavam denúncias nestes cybercafés.
Tanto a revolta no Egito quanto a Líbia foram registradas em inúmeras mídias sociais, um bom exemplo, é o vídeo com 2 mil mortes (vídeo do OneDayOnEarth), revelam o gosto dos ditadores pelo culto a pessoa e às mídias verticais.
Muito antes de estourar a guerra na Síria, olhando os comentários nas redes, sabíamos que lá era um barril de pólvora (vejam nosso post de 2012), lá já havia sido presa uma blogueira Tal al-Molouhi, presa em 2009, uma jovem que pedia a democracia.
Os governos e donos de mídias verticais não aceitam a influência das redes, porque é a falência deles, mas agora até mesmo o autoritário Trump não dá bola para eles, faz sua própria mídia, claro que não fica sem respostas, nas mídias de redes sociais está perdendo feio.
Me perdoe Todorov !
Descubro só hoje, que faleceu dia 7 de fevereiro deste ano em Paris, Tzvetan Todorov, filósofo e crítico literário bulgáro, pouco conhecido , mas não menos importante para nosso século.
Tenho como sua frase mais contundente, uma que o fez profeta da invasão de islâmicos na Europa, afirmou ele muito antes da crise da emigração: ““Pode-se medir nosso grau de barbárie ou civilização por como percebemos e acolhemos os outros, os diferentes.”
Uma entrevista que deu na França (rádio France Culture, em 2009), ajuda a ver este profetismo de Todorov: ““Escrevi meu primeiro livro de História das Ideias, que se chama ‘Nós e os Outros’. Era uma obra sobre a pluralidade das culturas analisada sob o ponto de vista da tradição francesa. Estudei autores desde Montaigne (…) até Lévi-Strauss. Tentei ver como esses autores trataram esta questão difícil para nós ainda hoje: a unidade da humanidade e a pluralidade das culturas. Nessa série de autores, descobri que aqueles de quem me sentia mais próximo eram os humanistas”.
No Brasil, concedeu uma entrevista ao Fronteiras do Pensamento, em 2012, no qual afirmou: “Percebi que, tanto como historiador como ensaísta, aproveitei mais a literatura em si que os estudos sobre literatura, e que lia com mais prazer romances, poesias e histórias diversas do que análises literárias ou teses escritas sobre a literatura, que me parecem hoje em dia se dirigir quase exclusivamente aos outros especialistas de literatura. Enquanto que o romance interessa a todo mundo, e me sinto mais próximo de todo mundo que dos especialistas”.
Seus livros mais famosos são: A conquista da America: a questão do Outro, São Paulo, SP: Martins Fontes, 1982 (pdf), O Homem Desenraizado. São Paulo: Editora Record, 1999, O Medo dos Bárbaros: para além do choque das civilizações. Petrópolis: Editora Vozes, 2010, Os Inimigos Íntimos da Democracia. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, A vida em comum: ensaio de Antropologia geral. São Paulo: Editora Unesp, 2014.
Livros menos conhecidos, mas não menos importantes: considero um clássico o livro Teorias do símbolo. São Paulo: Editora Unesp, 2014, Simbolismo e interpretação. São Paulo: Editora Unesp, 2014 e Teoria da literatura: textos dos formalistas russos. São Paulo: Editora Unesp, 2013.
Morreu aos 77 anos, na cidade de Paris, era búlgaro nascido em 1 de março de 1939, embora considerado dentro da corrente estruturalista, sem pensamento transcendeu a ela e é um de nossos contemporâneos importantes de serem lidos.
Comungo com ela a ideia que tanto o fascismo quanto o estalinismo foram decorrentes da ideia que temos de estado dando-lhe poderes acima dos cidadãos, que tem dificuldade de controla-lo.
Recebeu em 2008 o Premio Príncipe de Asturias de Ciencias Sociales, segundo o documento por representar «el espíritu de la unidad de Europa, del Este y del Oeste, y el compromiso con los ideales de libertad, igualdad, integración y justicia».
A Ceia das cinzas
O nome original da obra de Giordano Bruno é La cena de las cenizas (em italiano: La cena de le ceneri), o que ele propõe nesta obra é uma concepção de mundo , se hoje vemos o planeta e todo universo como “nossa casa”, Giordano Bruno foi um dos primeiros a ver também isto.
As teorias de Giordano Bruno superaram em muito as de Copérnico, propôs que o sol é simplesmente uma estrela, que o universo pode conter um número infinito de mundos habitados com seres e animais inteligentes, membro da Ordem Dominicana, estudou são Tomás de Aquino e desenvolveu uma teoria cósmica diferente do pensamento da igreja na época, e foi acusado de panteísmo e condenada a fogueira pela Inquisição.
Porém do ponto de vista estritamente religioso suas controvérsias foram quanto a transubstanciação na eucaristia, a trindade, a encarnação de Cristo e a virgindade de Maria.
Influenciou pensadores como Spinoza e morreu na fogueira tendo o respeito de muitos.
Em seu livro A ceia das cinzas declarou: “A Terra e os astros (…), como eles dispensam vida e alimento às coisas, restituindo toda matéria que emprestam, são eles próprios dotados de vida, em uma medida bem maior ainda; e sendo vivos, é de maneira voluntária, ordenada e natural, segundo um princípio intrínseco, que eles se movem em direção às coisas e aos espaços que lhes convêm”, uma vez que já houve reparação quanto a Galileu, não seria mal também uma reparação ainda maior em relação a Giordano Bruno.
É quarta-feira de cinzas, e nada mal se pudessemos alémda hipocresia e do proselitismo realmente falar em diálogo, de modo abrangente tanto no campo religioso quanto no campo ideológico, mas os inquisidores sobrevivem apesar de Deus não ter nada a ver com isto.
Stonehenge e a antropotécnica
Antropotécnica é o nome dado a ideia que é possível ligar a antropologia e seus desenvolvimentos humanos ao desenvolvimento de técnicas que influenciaram mudança civilizatórias e até mesmo estruturais na forma de organização humana, o termo é devido a Peter Sloterdijk que tenta explicar os processos atuais de tecnologia na modernidade.
Stonehenge é um monumento do período neolítico, que se acredita ter surgido num período chamado por arqueólogos de mesolítico, entre 8500 a 7000 a.C. (Vatcher e Vatcher, 1973) e descobriu-se recentemente que faz parte de círculos maiores (figura 1)
Não se sabe como os primeiros monumentos de pedras (post-holes) apareceram ali, mas uma hipótese razoável é que alguns já existiam e depois outros foram sendo trazidos por um longo período de cerca de mil anos, alguns vindos de muito longe de regiões como o País de Gales.
Uma possibilidade estudada é que a paisagem da região de Stonehenge no passado pode ter sido especialmente aberta, que aperta de exigir alguma tecnologia para transportar as enormes pedras, haveria uma espécie de terraplanagens retangulares (a Maior chamada de Stonehenge e a menor de Cursus) que permitiu a movimentação das pedras em troncos de árvores ou mesmo em geleiras glaciares que possibilitaram o movimento das pedras (French, 2012), conforme a figura 2.
Duas pedras conhecidas como Heel Stone (calcanhar) e North Barrow foram as componentes iniciais de Stonehenge, mas a vala circular com bancos internos e externos foram construídas em 3000 a.C. e foram trazidas de fora para lá (figura 3)
É possível que características como a Pedra do Calcanhar eo montículo baixo conhecido como o Barrow Norte fossem componentes iniciais de Stonehenge, mas o evento principal mais antigo conhecido foi a construção de uma vala circular com um banco interno e externo, construído sobre 3000 aC (Field e Pearson, 2010). Esta área fechada cerca de 100 metros de diâmetro, e tinha duas entradas. Era uma forma adiantada do monumento do henge (LAST, 2011)
Dentro dos bancos e de cerca de 60 valas foram encontrados vários instrumentos de madeira, de pedras e alguns deles que chamaram a atenção por serem de cobre, como aquele que foram chamados de valas de Aubrey, as pessoas enterradas ali eram cerca de 150 individuos, sendo o maior cemitério neolítico (PEARSON, 2012).
Uma pedra (gneiss) e pinos de osso encontrados associados com restos humanos cremados nos furos de Aubrey em Stonehenge, dizem que lá foi um cemitério.
VATCHER, G e VATCHER, M., ‘Excavation of three post-holes in Stonehenge car park’, Wiltshire Archaeological and History Magazine, 68 (1973), 57–63.
FRENCH, C. et al, ‘Durrington Walls to West Amesbury by way of Stonehenge: a major transformation of the Holocene landscape’, Antiquaries Journal, 92 (2012), 1–36.
FIELD, D. and PEARSON, T. World Heritage Site Landscape Project: Stonehenge, Amesbury, Wiltshire Archaeological Survey Report, English Heritage Research Department Report 109-2010 (Swindon, 2010).
LAST, J., Introduction to Heritage Assets: Prehistoric Henges and Circles (English Heritage, 2011).
PARKER, M.; CHAMBERLAIN, A., MARSHALL, M. J., POLLARD, RICHARDS, C. THOMAS, J., TILLEY, C. e WELHAM, K., ‘Who was buried at Stonehenge?’ Antiquity, 83, 2009, 23–39.
PEARSON, M Parker, Stonehenge: Exploring the Greatest Stone Age Mystery (London, 2012), 193.
Globo de Ouro 2017
Saímos um pouco das Esferas I de Sloterdijk para falar do Globo de Ouro, prêmios da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood (HFPA) para o cinema, que acontecerá dia 8 de janeiro.
O Globo de Ouro antecede ao Oscar e muitas vezes evita surpresas, uma grande premiação deste ano, segundo o site do Globo, é o musical elogiado pela crítica “La la land: Cantando Estações“, que resgata o gênero que fêz história em Hollywood, aliás acabam de morrer além da princesa Leia (Carrie Fisher), sua mãe Debbie Reynolds, um dia após, que fez o histórico Sing in the Rain.
La La land além de melhor filme de comédia ou musical, concorre também a melhor diretor (Damien Chazelle), melhor ator de comédia ou musical (Ryan Gosling) e melhor atriz de comédia ou musical (Emma Stone), e também direção e roteiro original (Damien Chazelle), canção e trilha sonora
Concorrerá com o filme “tradicional”, o filme das redes sociais “Deadpool”, com outras indicações também de melhor ator em comédia ou musical com Ryan Reynolds.
Com muitas indicações aparecem também os dramas “Moonlight”, com seis indicações, e “Manchester à beira-mar”, com cinco.
Melhor diretor concorrem, além deDamien Chazelle (“la ala Land”), Tom Ford (“Animais noturnos”), Mel Gibson (“Até o último homem”), Barry Jenkins (“Moonlight”) e Kenneth Lonergan (“Manchester à beira-mar”).
Melhores filmes: “Até o último homem”, “A qualquer custo”, “Lion”, “Manchester à beira-mar” e “Moonlight”.
Meryl Streep que concorre a melhor atriz em comédia ou musical por sua participação em “Florence: Quem é essa mulher?”, receberá um prêmio pelo conjunto da obra.
Entre as melhores animações: “Moana”, “Ma vie de courgette”, “Kubo e as cordas mágicas”, “Sing” e “Zootopia”, para mim faltou o “Trolls” espero que apareça na lista do oscar.
Há muitas outras indicações, com o pouco lembrado, mas interessante (só vi o trailer, mas a história me parece genial) “Fences”, que aparece na lista de melhor atriz coadjuvante Viola Davis e melhor ator em drama Denzel Washington (que é também o diretor), deveria aparecer ao menos em melhor diretor e melhor filme.
Não aparece nenhuma indicação para Star Wars e algumas indicações para (“The people v. O.J. Simpson: American crime story”), como melhor ator para John Travolta, meio forçado.
O homem insuflado
Sloterdijk a partir da página 29 até a 51 fará uma exposição detalhada sobre sua interpretação do Genesis bíblico até o sexto dia da criação, começando com uma situação de Santo Agostinho, que curiosamente lhe dá a definição de imunologia:
Não são vasos que de vós estão cheios que vos fazem
Firme e estável; porque, se eles se quebrarem, nem por
Isso vos derramareis, e mesmo quando vos derramais
Sobre nós não permaneceis caído no chão, antes nos reunis a vós.
Op. Cit. Santo Agostinho, Confissões, I, iii
Passará na página 31 pela passagem igualmente importante que é “um acontecimento que, no relato do Gênesis, aparece em duas versões: uma no ato final do trabalho dos seis dias, que não menciona, entretanto, a cena da insuflação, e outra vez como primeiro ato de toda a criação posterior, só que agora com expresso destaque para a criação através do sopro e com a característica distinção entre a modelagem da argila, numa primeira etapa, e o sopro, na segunda.” (Sloterdijk, 2016, pag. 32)
E após citar novamente o texto bíblico do genesis: “… insuflou em suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um vivente” (pag. 33) dá a sua visão adâmica: “Adão permaneceria um curioso artefato de argila; não passaria de uma instalaão arbitrária sobre a terra desguarnecida” (idem).
Após longas passagens com interpretações bíblicas curiosas, como a que fala na página 50 de vocação, com uma inspiração, termo que igualmente é importante no texto, a qual afirma que: “animadas ou sorvidas por lembranças e regressões misgteriosas, elas mantém sob sua guarda imagens submersas de uma comunidade inspiracional proto-histórica, a da alma dupla ao sexto dia da Criação.”
Inaugura em seguida novo trecho da introdução que vai delimitar sua “esferologia”: “toda história é a história das relações de animações”.
Uma das imagens mais inspiradores deste trecho são as figuras de argila em tamanho natural, no jazigo do primeiro imperador da China Quin (259-210 a.C.), mas tomei outra imagem.
Os aliados e a comunidade insuflada
Continuamos a comentar o livro Esferas I de Sloterdijk em sua introdução.
Explicada a insuflação das bolhas, Sloterdijk começa a desenvolver sua análise da modernidade a partir da gênese, explorando o modelo copernicano que está na sua origem, para afirmar que não por acaso “principiou uma série de rupturas exploratórias voltadas para um exterior desprovido de seres humanos …” (Sloterdijk, 2016, p. 22), mas que não deixaram de “produzir desconforto quanto a infinitude do universo” (idem) reflexão do astrofísico Kepler, protestando o modelo de Giordano Bruno “há um não-sei-o-que de aterrorizador e oculto”.
A imagem de uma explosão na superfície do Sol, maior que a Terra ilustra este trecho.
O autor também cita o físico e cosmógrafo inglês Thomas Digges, que nos anos 1570 já havia provado que a teoria das camadas celestes era infundada e “também a calculadora imagem de que a Terra achava-se envolta por abóbadas esféricas” (pag. 23) estava errada, mas conforme disse usando a frase de Pascal: “o silêncio eternos dos espaços infinitos me amedronta”, e o mundo maquínico e racionalmente explicado era vantajoso ao iluminismo.
Desenvolve então o deliberado efeito estufa, onde sua “falta de invólucros espaciais por meio de um mundo artificial civilizado … este o derradeiro horizonte do titanismo técnico euro-americano” (pag. 25).
Após criticar as políticas de progresso e destruição ecológica, escreve: “ Para abrir espaço à esfera artificial substituta, faz-se explodir, em todas as regiões do velho mundo, os restos de uma fé no mundo interior e na ficção de uma segurança, em nome de um radical iluminismo de mercado que promete uma vida melhor, mas que, num primeiro momento, só põe abaixo, de forma devastadora, as normas imunitárias do proletariado e das populações periféricas.” (pag. 27).
Ressalta a importância da retomada ontológica e que esta é a preocupação de filósofos mais contemporâneos: “O plano popular de esquecer-se de si mesmo e do Ser opera por meio de um zombeteiro descaso pela situação ontológica” (pag. 28).
Antes de entrar na critica ao idealismo e uma releitura do cristianismo, ele aponta na página 29 aquilo que é o centro do livro: “como habitar significa sempre constituir esferas, menores ou maiores, os homens são as criaturas que estabelecem mundos circulares e olham em direção ao exterior ao horizonte.”
SLOTERDIJK, Peter. Esferas I: bolhas. São Paulo: Estação Liberdade, 2016
Premio Nobel da Fisica 2016
O Prêmio Nobel de Física de 2016 foi concedido, ex aequo, para David J. Thouless, de um lado, e F. Duncan M. Haldane e J. Michael Kosterliz, de outro, por revelarem os “segredos exóticos da matéria”.
Ex aequo, quer dizer “com igual mérito”, por que a descoberta de 1972 não foi tão valorizada, entretanto, Kosterlitz e Thouless identificaram um tipo de transição de fase curioso em sistemas bidimensionais que hoje pode dar sequencia ao uso quântico de materiais, para os quais estes “defeitos” são fundamentais.
Anos depois, em 1980, F. Duncan M. Haldane estudou métodos teóricos para descrever fases da matéria que não podem ser identificadas por uma certa ruptura de simetria, mas explicava o de alguns gases eletrônicos quando estudados seu comportamento bidimensional.
Estas aplicações são alguns tipos de ímãs e de fluidos supercondutores e superfluidos, e também entender o funcionamento quântico de sistemas unidimensionais a temperaturas muito baixas.
Estes comportamentos estudados poderão ser muito úteis com uso de matéria em condições extremas, e depois foram confirmados por experimentos e poderão ter aplicações na ciência dos materiais e na eletrônica do futuro.
Dora Ferreira da Silva: poeta-filósofa
Heidegger havia dito que a linguagem tinha um uso diferente do uso que fazemos no dia a dia, a poética, entretanto pouca ou nenhuma poesia fez, porém uma brasileira pode-se dizer é uma poeta heideggeriana: Dora Ferreira da Silva (1918-2006).
Escreveu Andanças, Talhamar, Retratos de Origem, Poemas da estrangeira e Hídrias, flutuou entre a filosofia e a religião, foi tradutora de San Juan de la Cruz, mas também do poeta Hörderlin e Rilke, dos quais sofreu influências.
Também foi editora fundando a revista Diálogos, ela era casada com o filósofo Vicente Ferreira da Silva de onde trouxe as suas influências filosóficas, incluindo a de Heidegger.
Foi três vezes ganhadora do Prêmio Jabuti e também recebeu o prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, no ano 2000.
Em Poemas Póstumos (foto) escreveu a poesia Cantos:
O pássaro cantou
e os ramos vergaram
sob o peso do fruto
e o fruto cantou
sob o peso do pássaro
e o canto pousou
sobre o fruto
e os ramos cantaram.
Em Andanças ela encontra em Rainer Maria Rilke uma estética voltada para o mundo dos objetos, para um universo concreto onde o sagrado desvelando-se-enquanto epifania.