Arquivo para a ‘Neurociência’ Categoria
Noogêse e a mente
Neogênese como processo de formação e evolução da mente humana é um termo cunhado pelo filósofo e antropólogo Teilhard Chardin em seu livro “O fenômeno humano”, a terra já havia passado pela era pré-Cambriana da formação geológica da Geosfera e da Biosfera da formação da vida unicelular, multicelular até surgirem animais da era Mezozóico cujo último período é o Jurássico conhecido pelas fantasias cinematográficas dos dinossauros.
A esta terra juvenil, como a chama Teilhard Chardin, sucede o período Cenozóico, onde ocorreu um evento chamado K-T (Cretácio-Terciário), que fo uma extinção em massa e que alterou a biodiversidade da Terra, a aproximadamente 65,5 milhões de anos, e que alterou a biodiversidade da Terra com a extinção de grandes animais como os dinossauros e répteis gigantes.
Assim descreve Chardin: “a célula, grão natural da vida, assim como o átomo é o grão natural da Matéria inoganizada. É cegamente a célula que temos de tentar compreender se quisermos avaliar em que consiste especificamente o Passo da Vida.” (CHARDIN, p. 84).
Mesmo sem conhecer “os limites da física relativística”, Chardin explica nossa diversidade se fundamentando nela: “devo reconhecer que a consideração de um meio dimensional onde Espaço e Tempo se combinem organicamente é o único meio que até agora encontramos para explicar a distribuição das substâncias materiais e vivas ao nosso redor” (CHARDIN, p. 87).
Foi Alexei Eryomin, em sua monografia Neogênese e a Teoria da Inteligência que atualizou o conceito de noogênese: “é o processo de desenvolvimento de sistemas intelectuais e de implantação dos mesmos no espaço ao longo do tempo” (Enyomin, 2022), conceito que não é contraditório com Chardin, conforme a citação anterior.
Assim Enyomin vai traçar a velocidade através da membrana de um organismo unicelular (de 10 graus metros por segundo), do citoplasma (2-10 a -5 graus por segundo), do organismo multicelular (0,05 metros por segundo) até o impulso de células nervosas humanas (100 metros por segundo, ligações quântico-eletrônicas dentro de uma população, e chegamos ao mundo feito como artefato humano onde a velocidades das ondas, correntes elétricas, luzes, vídeo ou opto-eletrônicas chegam a 3×10 a 8 graus por segundo (figura acima).
Compreender a biogênese, como uma certa sequencia de transformações regulares, inter-relacionadas, em processos espaços espaços-temporais ajuda-nos a compreender a vida e também a origem humana sem abolir o aspecto espiritual-metafísico que ela envolve.
CHARDIN, T. O fenômeno humano. Trad. José Luiz Archanjo, São Pualo, editora Cultrix, s/d.
ENYOMIN, A. L. Biophysics of Evolution Intellectuais Systems, Biophysics, 2022, Vol. 67, n. 2, pp. 320-326.
Afastar o medo, sair do mal-estar civilizatório
Pode parecer adocicado ou até mesmo infantil, Freud diz o contrário, que adotemos atitudes mais reflexivas e tolerantes diante de dificuldades.
Os gregos sabiam que sem autodomínio os homens podiam se entregar a dois polos paralisantes: deimos e phobos (terror e medo), por outro lado é difícil refrear a reação imediata aguda, se não fomos educados para a decepção, a frustração e o diálogo.
Adam Smith, cujo pensamento influenciou a economia moderna incluindo Marx, também escreveu A Teoria dos Sentimentos Morais, que o autodomínio é fundamental diante de uma situação aterradora, e estabelece dois modos de autodomínio.
Teoriza que o “agir de acordo com os ditames da prudência, da justiça e da beneficência apropriada, parece não ter grande mérito se não existe a tentação de agir de outra forma”.
Deveríamos ser educados para a capacidade de empreendermos autodomínio diante dos pathós (afecções da alma) onde devemos pôr em relevo nossas maiores virtudes, ou sucumbiremos aos processos vexatórios e odiosos vícios, e por incrível que pareça, já domina a maioria das mídias sociais, chegando até as mais altas cortes do país.
Segundo o autor o segundo grupo das paixões sobre as quais convém que exerçamos autodomínio, levam ao contexto do “o amor ao sossego, ao prazer, ao aplauso e a muitas outras satisfações egoístas”.
Assim se compararmos as do primeiro com as do segundo grupo, podia parecer mais fácil dominá-las, pois essas inclinações nos concedem algum tempo mínimo de reflexão; ao menos, mais do que quando somos assaltados pelo medo e pela cólera (primeiro grupo), entretanto vivemos o contexto de reações imediatas ou paralisia, sem perceber que estes extremos se tocam.
Se cedemos a todos impulsos, se damos pouco tempo ou espaço a reflexão, ao silêncio e até mesmo ao cultivo da interioridade, o que externamos é quase sempre pouco empático, e no extremo oposto sobram a cólera e a barbárie.
A Inteligência emocional, desenvolveu métodos que sugerem como controlar suas emoções e ajuda a reconhecer mais facilmente quando ela melhora suas relações e empatia.
SMITH, Adam. The Theory of Moral Semtiments, 1ª. Ed. 1759.
A arte, a consciência e o divino
A arte é uma expressão da alma humana, “diz indizível, exprime o inexprimível, traduz o intraduzível” é a frase atribuída a Leonardo da Vinci, sem ela não expressamos humanamente o belo e não nos opomos a visão destrutiva e redutiva do simples olhar só do que vemos.
A humanidade construiu aparelhos para ver e sentir cada vez mais longe, o telescópio James Webb está nos fazendo olhar e estudar o mais profundo do universo, mas um universo inteiro existe em cada alma humana e mesmo o aparato tecnológico mais avançado pode traduzi-la ou imitá-la.
Este sim é o grande delírio humano, o mito da inteligência maquínica que ultrapassaria a humana, chamado de ponto singular, o desejo de vida eterna transportando sentimentos humanos para as máquinas, o delírio humano construiu tecnologias avançadas o que é bom, mas imaginá-la como dotada de alma e emoções humanas é um delírio daqueles que não acreditam que no mistério do infinito universo há uma consciência de um Ser e não de rochas e compostos químicos.
O fato que nos confundimos no curso da história reduzindo-a ao subjetivismo idealista não é digno do percurso humano, nem mesmo da ciência que para Edgar Morin é preciso retornar ao ponto em que enxergamos e admitimos a incerteza, afinal é este um dos princípios quânticos.
Recentemente uma Teoria da Informação Integrada (ITT) termo criado por Giulio Tononi, criou a ideia que era possível calcular um número “phi” representando a conectividade das redes, seja o cérebro, um circuito ou o átomo, agora esta ideia avançou e cientistas afirmam que é possível calcular este “phi”,
A pesquisadora e cientista cognitiva Susan Schneider, afirmou a New Scientist: “eu acredito que a matemática pode nos ajudar a entender a base neural da consciência no cérebro, e talvez até de máquinas, mas inevitavelmente deixará algo de fora: a qualidade dessa experiência, sentida internamente”.
Para os cristãos, até mesmo os discípulos era difícil acreditar no que viam depois da ressurreição de Jesus, foram ao túmulo e viram “um jardineiro”, caminharam para Emaús e não perceberam que o acompanhavam e por fim Tomé queria “tocar suas chagas” para acreditar.
Na passagem João 20,27 Jesus diz a ele: “põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel”, aos que creem isto é um fato.
Cegueira, lucidez e serenidade
O que pode ser chamado de cegueira na literatura, quase sempre ultrapassa a simples dificuldade de funções visuais, ao menos uma deve ser considerada que é a das faculdades cognitivas que em última análise desenvolvem e adaptam o pensamento às percepções visuais.
Assim há uma cegueira civilizatória, aquela que não percebe os obstáculos e até abismos que podem se abrir no processo civilizatório contemporâneo, as forças e o domínio das forças da natureza, como pensava Heidegger sobre as técnicas, que impedem um pensamento reflexivo.
Olhar para a cegueira apenas como a dificuldade do campo visual, a realidade imediata é assim a pior das cegueiras, incapaz de contemplar a essência do Ser, aquilo que é designo de cada homem durante a sua vida pessoal e social.
Assim ao desenvolver as funções cognitivas o homem pode ganhar lucidez, olhar com clareza para a própria vida e a de sua sociedade e cultura, pode leva-lo além desta clareza a uma vida de serenidade e de paz, ainda que esteja numa vida social em conflito.
Não é a paz cômoda ou individualizada, mas aquela que é capaz de lidar com contradições, oposições e incompreensões, comuns em um processo de crise civilizatória.
A realidade que vivemos pode levar mais rapidamente a uma ruptura de lucidez e serenidade e quanto mais longe delas, mais dificuldades para encontrar caminhos e veredas de retorno a paz.
Uma das passagens mais elucidativa da leitura bíblica cristã sobre a cegueira, é a cura de um cego de nascença, que, portanto, não desenvolveu o aparato cognitivo para enxergar e assim teria dificuldade de perceber os objetos, cores e seres a sua volta, mais do que ter a função da visão, ele compreende cognitivamente o que está vendo.
Diz a passagem os fariseus questionavam a cura do cego (Jo 9,10-12): “Então lhe perguntaram: ‘Como é que se abriram os teus olhos?’ Ele respondeu: ‘Aquele homem chamado Jesus fez lama, colocou-a nos meus olhos e disse-me: ‘Vai a Siloé e lava-te’. Então fui, lavei-me e comecei a ver.’ Perguntaram-lhe: ‘Onde está ele?’ Respondeu: ‘Não sei.’”
E os contemporâneos de Jesus continuaram na cegueira sem entender a cura do cego.
A consciência social e a individual
Não há consciência social, sem passar pela individual, ela está vinculada a visão de mundo (cosmovisão), aqui que na filosofia idealista é vista como dois seres separados: o ser-em-si e o ser´para-si, se olharmos do ponto de vista ontológico, isto significa como as coisas se apresentam para nós na nossa consciência, há então o fenômeno (aparição) ou não daquilo que existe aí no mundo (Dasein).
A consciência social, vista pelo idealismo como para-si, elaborada primeiro por Hegel, mas depois fundida com a ontologia existencial de Jean Paul Sartre, é vista assim: “é a consciência que ao se defrontar com o mundo torna-se um processo dinâmico (contrastando com a inércia do em-si) e faz com que o em-si se desvele” (CABRAL, 2023).
Porém na cosmovisão heideggeriana a questão do ser-no-mundo, como fundamento do ser-aí, deixa de ter significado de um juízo estético e passa a ser uma indicação ontológico-hermeneutica, dado que aponta à pergunta pelo sentido de ser do ser-aí, como toda boa filosofia é uma questão.
Que visão temos do mundo individualmente, é claro que sobre a influência de nossa cultura e de nossa adesão a filosofias, ideologias e religiões, não está descolada de nosso Ser, enquanto um estatuto ontológico, e assim precede a visão do ser para-si no sentido idealista, podendo ter um sentido transcendente que vimos no post anterior.
Um para-si além do humano é aquele que encontra o Outro, que não é nosso espelho, porém com ele travamos uma fusão de horizontes (no sentido do círculo hermenêutico) onde podemos realizar uma dialogia, nisto se fundamenta qualquer sentido religioso ou cultural verdadeiro.
É possível por algum tipo de isolamento pessoal, não se trata do autismo é bom que se diga, não ter consciência social, porém ela passa necessariamente pela consciência do Outro, assim cabe a pergunta sociológica e também ontológica: quem é o Outro na consciência individual.
O resultado de uma consciência individual que passa pela percepção do Outro é uma consciência social límpida, sem distorções de culturas, filosofias e religiões, estas vistas aqui como negativas, isto é, ausência de culturas, filosofias ou religiões dignamente compreendidas e elaboradas.
CABRAL, João Francisco Pereira. “Consciência e suas relações com o outro e o ser-em-si, segundo Sartre” em texto para o Brasil Escola. 2023. http: Brasil Escola,
A narrativa eletrônica
A rápida evolução da Inteligência Artificial, depois de uma séria crise até o final do milênio, trás no cenário da divulgação científica e às vezes até mesmo na própria investigação científica, tanto um aspecto mistificador que a vê além das possibilidades reais ou aquém do que é capaz.
Por isso apontamos no post anterior a evolução real e sofisticação dos algoritmos de Machine Learning e o crescimento da tecnologia de Deep Learning, esta é a evolução rápida atual, a evolução dos assistentes eletrônicos (já estão no mercado vários deles como o Siri e a Alexa) é ainda limitada e comentamos num post sobre a máquina LaMBDA que teria capacidade “senciente”.
Senciente é diferente de consciência, porque é a capacidade dos seres de perceberem sensações e sentimentos através dos sentidos, isto significaria no caso das máquinas terem algo “subjetivo” (já falamos da limitação do termo e sua diferença da alma), embora elas sejam capazes de narrativas.
Esta narrativa or mais complexa que seja é uma narrativa eletrônica, um algorítmica, com a interação de homem e máquina através de um “deep learning” é possível que ela confunda e até mesmo surpreenda o ser humano com narrativas e elaborações de falas, porem dependerá sempre das narrativas humanas das quais são alimentadas e criam uma narrativa eletrônica.
Cito um exemplo do chatGPT que empolga o discurso mistificador e cria um alarme no discurso tecnófobo e cria especulações até mesmo sobre os limites transumanos da máquina.
Uma lista de filmes considerados extraordinários, exemplifica o limite da narrativa eletrônica, devido a sua alimentação humana, a lista dava os seguintes filmes: “Cidadão Kane” (1941), “O Poderoso Chefão” (1972), “De Volta para o Futuro” (1985), “Casablanca” (1942), “2001: Uma Odisseia no Espaço” (1968), “O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel” (2001), “Um Sonho de Liberdade” (1994), “Psicose” (1960), “Star Wars: Episódio V – O Império Contra-Ataca” (1980) e “Pulp Fiction” (1994).
Nenhuma menção do japonês Akira Kurosawa, do alemão Werner Herzog ou do italiano Frederico Felini, só para citar alguns, sobre ficção não deixaria fora da lista Blade Runner – o caçador de androides, bem conectado as tecnologias do “open AI” ou o histórico Metrópolis (de 1927 do austríaco Fritz Lang).
A narrativa eletrônica tem a limitação daquilo que a alimenta que é a narrativa humana, mesmo sendo feita pelo mais sábio humano, terá limitações contextuais e históricas.
A questão da consciência
A grande questão para a Inteligência artificial foi até pouco tempo a autonomia, robôs, máquinas autônomas e agora automóveis autônomos, com toda polêmica o projeto evolui, a Alemanha, por exemplo, já prevê uma linha de carros autônomos para a próxima década que se iniciará.
A nova questão é a questão da consciência, ela já ocupa a cabeça dos filósofos a mais de um século, e pode conceituar de modo geral como a capacidade de assumir ações e consequências destas ações, o que tem a ver com autonomia, pois a autonomia é analisar as consequências dos atos praticados por máquinas, pelos limites de periculosidade e privacidade.
No âmbito da consciência social, ou histórica, este foi o grande debate de Gadamer com Dilthey, ao qual atribui uma concepção de consciência romântica pela ausência de uma “mediação histórica” a partir da facticidade, e pergunta “como se irá determinar a tarefa da hermenêutica” e encontra um ponto comum entre Schleiermacher e Hegel ” (Gadamer, 2002, Verdade e Método, p. 256), com os conceitos de reconstrução e integração, e segundo ele, Dilthey faz o caminho intermediário entre eles.
Explica Gadamer: “Schleiermacher e Hegel poderia apresentar as duas possibilidades extremas de resposta a esta pergunta. As suas respostas poderiam ser designadas com os conceitos de reconstrução e integração. Tanto para Schleiermacher como para Hegel, no começo se encontra a consciência de uma perda e [de uma] alienação frente à tradição, que é a que move a reflexão hermenêutica” (idem).
Entretanto dirá, cada um deles vai determinar a tarefa da hermenêutica de maneira diferente, e o que Gadamer chama de reconstrução e integração, significa a separação dos pré-conceitos e alienação em relação à tradição, e por isto reconstruir e integrar.
A célebre tese de Schleiermacher é “o que importa é compreender um autor melhor do que ele próprio se teria compreendido”, fez Gadamer pensar sobre a obra de arte, mas Schleiermacher fica preso a sua concepção de “história do espírito” que é seu conceito.
Já o que Hegel afirma, segundo Gadamer, é a criação de uma categoria ao afirmar que a essência do espírito histórico não consiste na restituição do passado, mas na mediação do pensamento com a vida atual, que é a prevalência e o idealismo do ideal sobre as questões factuais.
E a origem da consciência, como ela se deu, será que tem razão Terence Deacon ao afirmar que a mente veio da matéria, e com ela veio a consciência, se for verdade é possível pensar que de algum modo a máquina, nos níveis da Inteligência artificial, poderá ter “consciência” e então saberá que é máquina e que nós humanos não.
O que relacionamos nos vídeos de Gadamer e Peter Sloterdijk foi para introduzir esta questão, e se propõe a questão da verdade como gênese da consciência histórica (Gadamer, 2002, p. 265), assim a consciência de máquina não poderá ter este nível.
GADAMER H. G., Verdade e método, 4ª ed., tr. Flávio P. Meurer. Petrópolis: Vozes, 2002.
Consciência humana e senciência maquínica
Consciência envolve aspectos espirituais humanos (na filosofia idealista chamada de subjetividade) e aquela que faz o homem ter uma verdadeira ascese que eleva seu caráter, suas atitudes e sua moral numa escala progressiva de aprendizagem, onde é admitido o erro, mas corrigido de forma humana.
Senciência é o fato que temos percepção consciente de nossos sentimentos, é a capacidade dos seres (humanos, pois não acreditamos que uma máquina mesmo sofisticada possa ter esta ascese), e nos seres ela passa a sentir as sensações e sentimentos de forma consciente.
Na figura uma representação do século XVII, um dos primeiros estudos foi o matemático inglês Robert Fludd (1574–1637).
Quanto menos conseguimos ter consciência de nossos sentimentos, menos temos senciência e menos capacidade de entender nossos sentimentos, a tentativa de traduzir as sensações (os tipos de risos, alegrias, tristezas, etc. para a máquina), sempre estarão subjeitas a algoritmos, mesmo que muito sofisticados, e por isso chamo de senciência maquínica, já que a consciência maquínica está descrita de diversas formas, por diversos autores.
A verdadeira consciência humana é assim aquela que nos permite alcançar níveis de ascese de diversas formas: altruísmo, colocar-se no lugar do outro, viver uma vida justa e apreciar a justiça, enfim uma verdadeira espiritualidade que nos eleve como humanos, e também é aquela que está ao alcance dos que sofrem com injustiças e barbáries humanas.
Para os cristãos aquilo que nos faz alcançar uma verdadeira ascese está descrito nas chamadas bem-aventuranças (Mt 5,1-12) que fala dos pobres, dos aflitos, dos mansos, dos que tem forme e sede de justiça, dos que tem capacidade de perdoar e falaz com clareza do desejo da paz: “bem aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados de filhos de Deus”, assim em todos circunstâncias que se vive em dias sombrios é preciso promover a paz.
Os contornos de intolerância e violência, não só na guerra da Ucrânia, mas em quase todo o planeta deve preocupar os que defendem a paz.
O que é inteligência artificial e qual ética é necessária
Normalmente IA tem sido caracterizada como “fazer o tipo de coisas que a mente é capaz de fazer” (Boden, 2020, p. 13), porém esta dimensão não tem uma dimensão única e podemos abordar “um espaço estruturado com diferentes habilidades de processar informação” (idem).
O desenvolvimento atual acrescenta “avatares de realidade virtual e os promissores padrões emocionais desenvolvimento para os robôs ‘para o acompanhamento pessoal” (Boden, pg. 14), o que tem sido chamado de assistentes pessoais, como o Siri, o Cortana e modelo de diálogo ChatGTP que é em código aberto e já exige regulamentação especial, por exemplo, a prefeitura de Nova York proibiu o uso nos níveis iniciais de escolarização.
Os chatbots já são conhecidos a algum tempo, porém são bem mais simples, o ChatGPT (Generative pre-Trained Transformer) é uma ferramenta simples e intuitiva, que o usuário usa e treina a partir dos conceitos de IA de Learning Machine, aprendizagem de máquina e portanto cresce em complexidade e capacidade de interação com o usuário na medida que é usado.
A influência em filosofia também é sensível, especialmente nas áreas cognitivas onde são feitas tentativas de explicar a mente humana, neste campo uma recente polêmica foi o fato de um engenheiro da Google afirmar que a plataforma de IA LAMBDA (Language Model for Dialogue Applications), era senciente (que é diferente de consciente), já publicamos um post e não desenvolvemos aqui devido a complexidade do tema.
O tema já teve inicio de discussão na Câmara Federal do Brasil e está para entrar em pauta no Senado Federal, através do projeto de lei PL 20/21, entre outras coisas estabelece um marco legal no desenvolvimento e uso de inteligência Artificial (IA) pelo poder público, empresas, entidades diversas e pessoas físicas, estão sendo ouvidos juristas renomados e especialistas da área.
Outra área preocupante que deve-se ter cuidado é o uso de IA na criação de “vida artificial”, “que desenvolve modelos computacionais das diferentes características de organismos vivos”, nesta área se destacam o desenvolvimento de algoritmos genéticos (AG). (Boden, 2020, p. 15).
BODEN, Margaret A. Inteligência Artificial: uma brevíssima introdução. SP: Ed. UNESP, 2020.
A Inteligência artificial e seus limites éticos
Numa sociedade em que todos os limites éticos já foram ultrapassados, até mesmo o de não presar mais pela vida nosso bem mais fundamental, a evolução da Inteligência Artificial, mesmo com inúmeros acordos éticos dos quais participaram as grandes empresas (Amazon, HP, IBM, Google, etc.), por exemplo, para não produzir armas inteligentes, assistimos o uso indiscriminado em drones na guerra Ucrânia e Rússia, na qual estão envolvidas as potências e suas empresas.
A evolução da IA deu um salto com a internet, a facilidade de informações que correm pelas veias das redes eletrônicas (estas sim são redes) e incentivam as mídias eletrônicas (que são apenas meios disponíveis aos homens) é tão abundante quanto impactante, da noite para o dia, ilustres desconhecidos se transformam em “influencers” e ganham notoriedade, entre eles adivinhos, profetas, políticos e artistas nem sempre com muita moral e ética.
Isto deveria ser tão ou mais preocupante que o desenvolvimento da IA (inteligência artificial), porém o uso das “mídias” por estes influenciadores são sim muito preocupantes, e não se tratam apenas de fake-news, mas todo tipo de barbárie que vai desde o vocabulário até o impacto político, nisto se insere nossas leituras das semanas anteriores de Dalrymple e Zizek, mais ligados aos aspectos cultural e político, que sem dúvida são mais delicados.
Como o tema também é delicado, agora no sentido intelectual de conhecer suas potencialidades e perigos ainda não claramente analisados, como por exemplo, uso de algoritmos genéticos (AG) apontado por Margaret A. Boden, em seu livro “inteligência artificial: uma brevisissima introdução” (Editora Unesp, 2020).
Ela explora, entre várias outras coisas, com clareza de quem é especialista na área, o problema dos ciborgues e trans-humanos, como sugeria Kurzweil que preparava seu próprio corpo para tornar-se um trans-humano.
A diferença entre ciborgues, os implantes médicos de diversas próteses já são claramente possíveis, para o trans-humano, “em vez de considerar as próteses como acessórios úteis para o corpo humano, elas serão consideradas como partes do corpo (trans-)humano” (Boden, 2020, p. 206), onde a força e a beleza humana poderão ultrapassar os limites genéticos e isto de tornariam características “naturais”.
Assim como Jean Gabriel Ganascia (francês que escreveu O mito da singularidade), Margaret Boden também não acredita na ultrapassagem da máquina acima da inteligência humana, este é o ponto da singularidade, e assim também a consciência humana “transcendente” como discutimos, não está submetida a uma “implausibilidade intuitiva” da pós-singularidade (pg. 207).
Sem dúvida a máquina poderá realizar tarefas incríveis e numa rapidez jamais sonhada pelo homem, aliás já o faz, porém “transcendência” não é isto.
BODEN, Margaret A. Inteligência Artificial: uma brevíssima introdução. SP: ed. Unesp, 2020.