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Sensatez e causa pública
A saúde é causa pública, quase todos concordam, mas ao propor medidas protetivas muita gente, ao não ver os casos explodirem e o número de infectados crescer não entendem o porque e fazem delas uma piada ou desdém, foi assim em países que depois acordaram, é o caso da Itália cujo número de mortes explodiu ontem, Espanha e Portugal, onde o movimento nas ruas sumiu e muitos produtos no mercado também.
A Itália registrou 368 mortes, um crescimento de 25% apenas neste domingo, e o número de infectados passou para 3690 neste fim de semana, a Espanha e Portugal o número de pessoas que decidiu ficar em casa praticamente paralisou o país e para que isto seja possível, as famílias fizeram estoques, então supermercados diminuíram as ofertas, quem não se preveniu pode ficar sem alguns produtos.
Diversas autoridades se pronunciaram sobre os efeitos, há um vídeo verdadeiro de uma reunião que houve no Incor, e um falso atribuído a universidade de Stanford, também é falso que Cuba tenha enviado vacina a China, um fake falso e ridículo é que limão e vitamina C combate o vírus.
A politização do tema é também pouca preocupação com a população, todos devemos combater pois em breve a explosão do corona vírus vai acontecer no Brasil, o que muitos especialistas se preocupam é a capacidade do Sistema de Saúde responder, isto no mundo todo e também no Brasil, com a proteção a curva será menos acentuada e o sistema terá capacidade de resposta, o gráfico acima explora com e sem as medidas protetivas.
O Vídeo mais completo sobre o assunto, porque trata também do aspecto cultural e comportamento no combate a uma pandemia, é o da profa. Dra. Claudia Feitosa Santana, da USP:
Complexidade humana, finitude e psicologia
Nada mais débil que desejar prender o homem que torna-lo refém de ideias ou de métodos estáticos, assim não há tese e antítese, mas ser e não ser, Husserl afirmava que “pelo fato de conceber ideias, o homem se torna um homem novo, que, vivendo na finitude, se orienta para o polo do infinito”, mas ideia aqui aquele é o eidos da Grécia antiga.
Este conceito vem de uma raiz proto-indo-europeia “weid”, “ver”, origem das palavras, εἶδος (eidos) e ἰδέα (ideia), segundo o Dicionário “American Heritage Dictionary” , e sua origem pré-socrática está ligada a investigação sobre o que são as coisas em sua essência, e assim aparece a ideia de substância, como o que uma coisa é independente de suas mudanças de “forma”.
Edmund Husserl antevendo que resultaria a filosofia idealista que se fixou nas formas e que não enxergou mais a essência, afirmava “os filósofos, na atualidade, são muito aficionados a crítica em vez de estudar as coisas por dentro”, é devido a este fato que nos fixamos nas formas, e nos efeitos sem nunca nos remeter as coisas e as essenciais.
Assim se estabeleceu sua filosofia fenomenológica, é preciso retornar “às coisas mesmas”, em uma famosa expressão de Husserl, e sua fenomenologia é este caminho de volta as coisas, ao mundo da experiência vivida ou do “lebenswelt” (mundo-da-vida) que é o contrário do mundo das ideias, desde Parmênides, passando por Platão, até Kant e Hegel.
A fenomenologia nasceu da psicologia social de Franz Brentano recuperou a ideia de intencionalidade, vinda do conceito ontológico de consciência, sendo ela própria o que põe em relevo o ponto mais importante desta vivência, ou seja, a intenção elucida a estrutura do que é consciente.
O que se esconde então em toda vivência, é a intenção do que se é consciente, e se toda consciência só faz sentido como consciência de algo, a psicologia trata do que não é consciente ou não está acessível neste nível.
Inteligência humana além da artificial
Até muito recentemente acreditava-se que um determinado tipo de inteligência era preponderando a outros, o famoso teste de QI, por exemplo, determinava a inteligência de uma pessoa em números, o que caiu um pouco em descrédito, depois veio a fase da inteligência emocional, ela existe porque estamos em tempo de stress.
Com os avanços da inteligência artificial, apressadamente se discute nem sempre com critérios razoáveis, os avanços da inteligência artificial e o ponto de singularidade, ponto no qual as máquinas ultrapassarão em Inteligência o homem, mas o que é essa tal inteligência, pouco se responde, os especialistas dão respostas prontas, mas …
Devido a fatores conjunturais, sociais e culturais desenvolve-se um tipo de inteligência que é a lógica, capacidade de memória e grande talento para lidar com a matemática e lógica em geral, pode-se encontrar solução de problemas complexos, dizem os neurocientistas que ela está fortemente ligada ao lado direito do cérebro.
O segundo tipo é a inteligência motora, artistas e esportivas desenvolvem grandes talentos com uma expressão corporal e noção de espaço, distância e profundidade muito aguçadas, podem realizar movimentos complexos, graciosos e aguçados, como o nome diz está relacionada a capacidade motora.
Pessoas com boa capacidade de expressão escrita e oral tem um tipo de inteligência chamada de linguística, além da expressão tem um grau de atenção e sensibilidade para atender aos pontos de vistas alheios, é visível sua utilidade no mundo atual.
Pessoas com grande capacidade de imaginar e desenhar tanto no 2D como no 3D possuem um enorme talento para a arte gráfica, é a inteligência espacial, assim como a inteligência linguística tem grande sensibilidade e criatividade, porem seu universo é próprio e a interação com os demais se faz justamente por sua visão espacial.
A inteligência musical é aquela que nos faz enxergar pelos “sons”, são pessoas com uma grande facilidade para escutar músicas ou sons em geral e identificar diferentes padrões e notas musicais.
Dois tipos pouco comuns são as inteligências intra e interpessoal, sendo as estatísticas elas são as mais raras entre as pessoas e no entanto as mais próximos de nosso “ser”, a inteligência intrapessoal tem uma enorme facilidade para entender o que as pessoas pensam, sentem e desejam, enquanto a intra tem uma forte componente de “liderança” pois são pessoas capazes de causar grande admiração nos outros, e com inteligência especial ativa mobilizam e consegue se colocar em ação e colocar os outros para acompanha-la.
Claro isto é tão esquemático quanto outras classificações, mas é justamente pelo esquema que se pensa que a inteligência artificial poderia estar relacionada a isto, na verdade a inteligência humana é bem complexa enquanto a artificial é bem esquemática, mesmo sendo um esquema complexo.
O TED de Daniel Levitin já ultrapassou 14 milhões de vistas, e tem um ponto de vista interessante de um neurocientista:
Cosmovisão: alma, sentimentos e sabedoria
Pode-se pensar em alma como mente, como consciência (ela é apenas um reflexo), ou identidade, conforme post sobre Giddens isto leva a interioridade num sentido restrito.
Por isso chamamos de Noosfera, a esfera da mente ou do exterior, num sentido de visão, sentimentos e sabedoria, sendo esta limitada a uma visão de mundo, que está evoluindo.
Não é possível ter uma cosmovisão ampla, sem uma alma ampla, mais do que uma alma-mundo, uma alma universal no sentido não apenas antropológico, mas cosmológico.
Os sentimentos têm um grande apelo no mundo contemporâneo, como as lógicas funcionais se tornaram grande parte do engessamento do pensamento, é possível e fácil manipular as opiniões e pessoas através destes recursos, mas são perigosos sem alma e sabedoria.
A sabedoria é o mais crítico elemento da noosfera, há aqueles que acreditam que através do sentimento e da alma podem caminhar tranquilos, há terapias e até cursos online para produzir felicidade, bem estar e outras promessas sem nenhuma dose de sabedoria, o resultado em curto prazo é louvável, mas a longo prazo se mostrará ineficaz faltará a tal da sustentabilidade.
Sabedoria é crítico também porque muitas correntes do pensamento e diversas formas de cultura podem levar a um reducionismo, e isto trará no mundo contemporâneo uma falta de ver o Outro, as vezes existe até a intenção, só que o resultado é fruto do mundo-restrito.
Os mestres da Lei eram no tempo de Jesus, os Fariseus que conheciam a escritura, mas cuja prática era distorcida, um deles se dirige a Jesus para perguntar como ter a herança eterna.
O grande argumento espiritual de Amar a Deus, é um recurso de certo tipo de ignorância, porém basta uma boa leitura bíblica para perceber que ele é falso, está em Lc 10, 26:27, e Jesus lhe disse: “O que está escrito na Lei? Como lês?” Ele respondeu: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência; e ao teu próximo como a ti mesmo!”.
Jesus liga imediatamente o coração “sentimentos” a alma, porque conhece e respeita a interioridade, de onde a alma bebe, e termina pedindo amor ao próximo, ao Outro.
A gratitude, a questão da ciência e do senso comum
Uma pessoa pode ser grata, sem entender os objetivos de sua gratidão, mas não entenderá os objetivos se não conhecer as verdadeiras motivações da gratidão, isto quer dizer, permanecer na gratidão pode ser livre de conhecimento, mas ter gratitude (torná-la um hábito saudável) exige ir além do simples ato gratuito, conhece-lo e cultivá-lo para co-laborar em sociedade.
Assim é preciso separar o senso comum, que é apreciável, do conhecimento objetivo que é dissecar o objeto de conhecimento que pode ser feito tanto de forma indutiva quanto intuitiva, ambos caminhos são válidos, assim não é preciso ciência convencional, mas intencional.
Falar de ciência é preciso falar de Karl Popper, também ele especulou sobre estar coisas, afirmava sobre o senso comum é válido, mas sustentar as verdades deste é algo maior.
Mas o conhecimento objetivo dizia ele, era uma eterna busca de sua vida, em suas palavras: “Os ensaios deste livro rompem com uma tradição que pode ser rastreada até Aristóteles – a tradição dessa teoria do conhecimento, de senso comum. Sou grande admirador do senso comum, que, afirmo, é essencialmente autocrítico”, ou seja, não se trata de negá-lo.
Porém para sustenta-lo como verdade é preciso mais: “… se estou disposto a sustentar até o fim a verdade essencial do realismo do senso comum, considero a teoria do senso comum do conhecimento como uma asneira subjetivista. Essa asneira tem dominado a filosofia ocidental”, entenda-se por sentimentos, paixões e mesmo sustentar questões não objetivas.
E avança: “Tenho tentado erradicá-la e substituí-la por uma teoria objetiva do conhecimento, essencialmente conjectural. Isto pode ser uma pretensão audaciosa, mas não peço desculpas por ela” (Popper, 1975, p. 07).
A divisão em três mundos feitas por Popper mostra uma fragilidade em sua teoria, ao separar o conhecimento em três mundos: P1 o mundo da natureza (ou físico, no sentido da physis), o mundo das mentes (Mundo 2) e o mundo das ideias (Mundo 3), prioriza este último.
Numa solução para um problema, a pessoas podem atacar ou acatar a solução encontrada, mas não a pessoa que a apresentou, assim dá um valor maior que o mundo das ideias (Mundo 3) têm para Popper, ao invés do Mundo das mentes (Mundo 2) que as desenvolveram.
A gratitude é justamente o oposto, pois é mais importante as mentes que desenvolvem as soluções ao problema (Mundo 2), do que as ideias que as impulsionam (Mundo 3), ainda que o subjetivismo, ou seja o que é próprio do sujeito, possa também ter fragilidades.
O que abraça estes três aspectos que são distintos: Natureza, Conhecimento e Ideias, são aspectos ontológicos, pois os três são próprios do Ser, a gratitude é um destes aspectos.
Em tempos de pandemia é bom lembrar de Popper porque ele dizia que é científico o que pode ser refutável, e o que temos hoje é um “afirmacionismo” ou “negacionismo” ambos anti-científicos.
POPPER, K. Conhecimento objetivo. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1975.
A cura do cego de nascença
Em seu Ensaio sobre a cegueira (Companhia das Letras, 2002), José Saramago dá uma lição muito simples sobre ontologia: “Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos”, o convívio social, a cultura e a política revela-nos aos poucos aos outros.
De certa forma todos vemos um pouco e todos temos “pontos cegos” e precisamos do Outro para ver melhor.
Entre todos os milagres bíblicos, certamente muitos consideram a ressurreição de Lázaro algo extraordinário, mas lembro muitos casos de pessoas que ficaram em coma até durante anos e voltaram a vida, considero o caso do cego de nascença a mais fantástica (João 9:6-7), porque?
Uma pessoa que nunca enxergou não tem a parte funcional cognitiva preparada para discernir os mundos, até os 2 anos são as sensações de distância e obstáculos que são estimuladas ligadas aos movimentos, até a criança andar, até chegar a idade das construções simbólicas onde cada objeto do universo complexo das coisas é identificado.
Portanto curar a cegueira, é em última instância reconfigurar o sistema simbólico de um cego, numa democracia significa ir tateando a partir do universo “infantil” até chegar a um universo simbólico dos valores que devem estar presentes numa democracia madura: respeito, tolerância e discussões essenciais sobre o universo simbólico.
Diríamos que a democracia em amadurecimento no Brasil, ela teve pouco espaço na história para se desenvolver, está no final da idade crítica da adolescência, pais enérgicos parecem resolver os problemas, mas ao mesmo tempo afastam os jovens do diálogo.
Mas há outra passagem que é a do cego Timeu, que quer ardentemente ser curado da cegueira, é o caso de alguns na democracia brasileira, e pede a Jesus: “Jesus filho de Davi, tem piedade de mim!” Mc (10,49) e Jesus o cura e diz: “tua fé te salvou”.
O voto daqueles que tem fé verdadeira, e que querem a cura da cegueira verdadeira, pode decidir uma eleição, se desejamos a paz, a justiça e um país que nos orgulhe a todos, podemos refletir sobre nossa própria cegueira, a dificuldade de ver tudo claramente e pedir a cura.
Há uma grande noite sobre o pensamento ocidental por isto somos todos um pouco cegos.
Heidegger e o Poder
Embora possa se fazer uma especulação sobre a questão do poder no conceito de pre-sença que é uma resposta de Heidegger ao racionalismo, o ser-para-o-fim “não se origina primeiro de uma postura que, às vezes, acontece, mas pertence, de modo essencial, ao estar-lançado da presença, que na disposição (do humor) se desvela dessa ou daquela maneira.” (Heidegger, 2015, p. 327).
É a ideia que este ser-lançado, a presença “existe para seu fim” (idem), o para está destacado por que está na relação com o conceito para-si de Hegel, e através disto seria possível fazer a especulação do que é de fato a relação que Heidegger vê com o poder, a partir da presença.
O caminho que faremos é mais direto, porque Heidegger analisou diretamente esta questão, estudando a vontade de Poder em Nietzsche, e o eterno retorno que de modo indireto, já fizemos (post) a análise no eterno do estado e queremos aprofundar o conceito.
A afirmação que em nossos instintos estão sempre presentes as ideias de vontade de poder, eterno retorno (em alemão Ewige Wiederkehr) e super-homem (em alemão übermensch), e os dois últimos são conduzido pela vontade de poder, portanto sua categoria principal.
O ente para Nietzsche não é pensado como ser, mas como querer inerente à vontade, assim o ente que quer sempre a si mesmo de modo instável e insaciável é o que o torna, um ente metafísico do querer e não necessariamente do Ser.
Em Nietzsche é um “torna quem tu és” que vale e não o princípio socrático “conhece-te a ti mesmo” que é mais próximo do ser ontológico, e Heidegger vai propor o “confronto” que é a revisão da fundamentação originária do pensamento ocidental, em torno da essência e em sua necessidade, descrita assim: “se uma consideração mais originária sobre o ser deve se tornar necessária a partir de uma urgência histórica do homem ocidental, então esse pensamento s+o pode acontecer na confrontação com o primeiro começo do pensamento ocidental.
Essa confrontação se dá plenamente, “ela mesma permanece fechada em sua essência e necessidade, enquanto a grandeza, quer dizer, a simplicidade e a pureza da tonalidade afetiva fundamental do pensamento e a força do dizer adequado se recusarem para nós.” (Heidegger, 2015, p. 479).
Não por acaso, o brasileiro nietzschiano Oswaldo Giacóia Jr escreveu “Heidegger urgente: introdução a um novo pensar” (Três estrelas, 2013) que é um guia para leitura de Heidegger muito precisa, esclarece que Heidegger pretende reatar um pensamento ainda mais “radical e originário do que aquele que foi vivenciado na Grécia … “ (Giacóia Jr, 2013, p. 46), para corresponde à verdade do Ser como desvelamento (alétheia) diria ainda mais um retorno a sua essência.
Neste contexto o Ser, numa nova poiésis (a maneira criativa e infinita de pensar o Ser), deve antes de tudo a vontade de poder que está presente no messianismo e na mitologia de todo pensamento contemporâneo, fonte das bases autoritárias de fazer política e de sociedade.
O eterno retorno é o conceito mais frágil, não há a questão da consciência histórica nem do tempo, o que diferencia profundamente do circulo hermenêutico de Heidegger.
GIACÓIA JÚNIOR. Oswaldo. Heidegger urgente – Introdução a um novo pensar. S.P. Três Estrelas, 2013.
HEIDEGGER, M. Ser e tempo, 10a. edição, Trad. Revisada de Marcia Sá Cavalcante, Bragança Paulista, SP: Editora Universitária São Francisco, 2015.
Verdades, tautologias e crenças
Li atônito que Noam Chomsky afirmou: “as pessoas não acreditam mais nem em fatos”, as crises (não é única, pois há crises políticas, ideológicas e até humanitárias) embora todas com contorno econômico, a raiz profunda delas é para uma rejeição a própria cultura.
Alguns dirão identidade, embora não deva ser deixado de lado, os discursos que vejo nesta linha beiram o psicologismo, o conceito filosófico correto deve ser visto com a questão de relação, enquanto a psicologia vê como problemas de personalidade, comportamentos e funções mentais, então para mim é outra coisa.
No caso sociológico tem na ideia de auto-concepção, aspectos de representação social como uma pessoa única, ou em termos quantitativos o que a difere das outras em aspectos culturais, de gênero, de nacionalidade, agora identidade online ou algo que seja formativo da própria identidade.
Embora cultura entre como um aspecto sociológico, ela é redutiva porque cultura é mais abrangente que aspectos de identidade e nacionalidades, Alfred Kroeber e Clyde Kluckhohn encontraram, pelo menos, 167 definições diferentes para o termo “cultura”, o que mostra a abrangência do termo.
Ficamos com uma definição reduzida, porém que incorpora elementos essenciais: todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade” de Edward B. Tylor, para nosso tema pois envolve conhecimento, crenças e verdade.
Sistemas que ignoram as crenças não são verdadeiros, mas tautológicos, mesmo admitindo uma intersecção entre crenças e conhecimento, pois ignoram que há conhecimento ligado ás crenças (figura inferior).
Sistemas que admitem que em toda cultura há crenças, podem diferenciar o conhecimento presentes em culturas diferentes e que possuem um núcleo de conhecimento distinto, mas em ambos podem haver verdade, é um conhecimento dialógico e relacional.
A arte, a moral e os costumes que estão dentro destas culturas podem não ter relação com a verdade, mas cada uma tem um núcleo diferente de conhecimento (x e y na figura) que tem relação com a verdade, os fatos e atitudes ajudam a manter esta verdade relacional.
Física quântica: origem, paradoxo e espiritualidade
Werner Heisenberg (1901-1976) foi o pioneiro físico responsável pela criação de um modelo quântico para o átomo, seus estudos foram essenciais para a evolução da área da mecânica quântica com teorias relacionadas com os átomos, raios cósmicos e partículas subatômicas.
Em 1927 Heisenberg propôs o “Princípio da Incerteza”, também chamado de “Princípio de Heisenberg”, com isto dizia que era impossível mensurar a velocidade e precisão da posição de uma partícula.
Em 1932 Heisenberg recebeu o Prêmio Nobel de Física pela criação da mecânica quântica.
Erwin Schrodinger (1887-1961) foi um físico austríaco que criou uma equação que ficou conhecida como equação de Schrödinger, a partir dela pode perceber as mudanças dos estados quânticos num sistema físico, tornou-a mais ampla que apenas subpartículas.
É famoso seu experimento imaginário chamado Gato de Schrodinger, um gato é colocado numa caixa com um pote de veneno junto. Pela física quântica, ele estaria vivo e morto ao mesmo tempo.
Em 1933, Erwin Schrodinger recebeu o Prêmio Nobel de Física por conta de suas descobertas sobre a teoria atômica.
Deepack Chopra é um medico indiano que, professor de ayurveda, que faz uma medicina alternativa relacionando corpo e mente, Amit Goswami, físico indiano, estudioso de parapsicologia, tem uma linha de pensamento chamada de “misticismo quântico”, e, o físico austríaco Tritjof Capra é conhecido pela sua obra “O Tao da Física“.
Mas acrescentaria três pensadores que tem seu pensamento relacionado a física quântica e que julgo mais sólidos na relação física quântica e espiritualidade: Basarab Nicolescu (1942-), físico teórico que tem um livro Transdisciplinaridade: teoria e prática (2008) ,Thomas Francis Banchoff (1938-) que manteve um longo diálogo com Salvador Dali sobre suas intuições místicas, em especial sobre o seu quadro Christus Hypercubus, e, de maneira distante a ideia do Cristo Cósmico de Teilhard Chardin, que une teologia, antropologia, física e a comunicação.
A mente e corpo, a relação com o mentalismo
Já postamos aqui sobre o estruturalismo, e aquilo que consideramos efeitos tardios da modernidade naquilo que chamou de estruturalismo ou desconstrução, que antes de Derridá já estão presentes no pensamento de Alun Munslow, e este por sua vez tem uma perspectiva “desconstrucionista” ligada ao pensamento de Hayden White e Keith Jenkins, que pode ser lido na revista Rethinking History.
Porém o objetivo aqui é fazer uma leitura, ainda que seja quase impossível, do angulo de visão da mente, há uma afasia chamada de Wernicke, que é justamente a alteração na linguagem oral e escrita, o que torna a comunicação sem precisão, por causa de alguma lesão neurológica.
Isto é particularmente interessante porque significa que é possível, sob circunstâncias restritas, ligar a mente a um processo antropológico de seu desenvolvimento, e tornar o processo “mentalista” ligado de certa forma ao histórico.
Assim a relação do cerebelo está ligado as funções musculares e de coordenação, enquanto o tronco cerebral regula as funções corporais (batida do coração, temperatura do corpo, etc.) e o Lóbulo temporal: a compreensão, a linguagem, a escuta, a memória a aprendizagem, mas curiosamente é ali que está ligada a área da linguagem oral e escrita, chamada de Wernicke.
Nas áreas superioridades estão as áreas de desenvolvimento humano historicamente posterior, especialmente no Lóbulo Frontal: moralidade, raciocínio, personalidade e outras.
Nagel toca o dilema corpo e mente, já falamos da mente do outro, partindo da premissa que admite que o outro é consciente, e se não concorda-se com o ceticismo, sabe-se que a relação de consciência com a mente só poderá ser aquilo que “depende do corpo”, ou da realidade.
Para explicar seu pensamento faz a experiência de comer um chocolate e pergunta se com instrumentos que pudessem medir as sensações dentro do cérebro: “Mas poderia encontrar o sabor do chocolate?” (pag. 31).
“Mas as pessoas pensam que acreditar numa alma é algo antiquado e pouco científico. Tudo o mais no mundo é feito de matéria física – combinações dos diferentes elementos químicos?” (pag. 32), “os cientistas descobriram o que é a luz, como crescem as plantas, como se movem os músculos – é só uma questão de tempo até descobrirem a natureza biológica da mente. É assim que pensam os fisicalistas.” (pag. 33), no domínio da mente chamou-se aqui mentalistas.
O autor explica que uma teoria “avançada do fisicalismo [mentalismo] é a de que a natureza mental dos seus estados mentais consistem nas relações com as coisas que os causam e coisas por eles causadas” (pag. 36), um retorno a casualidade, que a própria física contemporânea tratou de negar, Heisenberg enunciou e a física das partículas e a astrofísica comprovaram.
O assunto é complexo, mas o livro de Nagel é uma boa introdução ao problema corpo-mente.
NAGEL, T. Que quer dizer tudo isto? Uma iniciação a filosofia. 5a. ed., Lisboa: Gradiva, 2018.