Arquivo para a ‘Neurociência’ Categoria
Religião, fanatismo e política
O belo livro do filósofo Spinoza “Tratado Teológico-Político”, de 1670, trata já na sua época, da questão religiosa vendo-a como um pretexto, que os homens usavam, para ocultar suas ambições de poder e de domínio, pois “inclusive os teólogos estão preocupados em saber como extorquir dos Livros Sagrados as suas próprias fantasias e arbitrariedades, corroborando-as com a autoridade divina”, levei anos para entender isto.
Na argumentação de Spinoza, Deus sendo que ele era judeu e depois foi para o cristianismo sem ser aceito em ambos, Deus na verdade, não tinha nada a ver com aquilo, eram os homens que queriam emprestar suas “convicções” a Deus.
Todo o mundo é ortodoxo para si mesmo, isto é, se considera o portador da verdadeira fé, o que indispõe qualquer um para com a fé dos outros, disto nasceu na sua época a disputa entre luteranos e católicos, que levou ao tratado de Vestfália, mas ainda sem uma paz e uma tolerância até os dias de hoje.
Então, é preciso evitar que uma certeza como essa degenere em guerra civil, mas para o filósofo a verdadeira religião não estava presa ao poder ou a riqueza, nem ao domínio do clero, e outros poderes “laicais”, e nada tinha a ver com os massacres.
Locke pode ser considerado o primeiro teórico moderno da separação da Igreja do Estado, para ele devia se demarcar por lei, de maneira definitiva, as funções do mundo sacerdotal e as do mundo político, caso contrário a confusão existente entre o que diz respeito à Igreja e o que se refere à comunidade, até os dias de hoje ainda se mistura a salvação das almas com a segurança da comunidade e do Estado que a representa.
Luigino Bruni, um economista com certa dose de religiosidade, em seu artigo “Bem comum e economia: para uma economia baseada no ágape”, esclareceu a diferença entre bem comum, bem comunitário e público, esclarece: “oi substituído pelo de ‘bem publico’ e ‘comunitário’; uma observação mais atenta destes conceitos, porém, revela que o seu sentido é exatamente o oposto das tradições da (economia) clássica e da tradição cristã de ‘bem comum’, dado que, quer o ‘bem público’ quer o ‘comunitário’, são essencialmente individualistas, não existindo consequências para as relações com os outros no decorrer do processo de consumo.” Veja o artigo neste link.
Francis Bacon afirmou que a filosofia “rasa” leva ao ateísmo, e a profunda a religião, mas é preciso superar fanatismos e dogmatismos.
Vida interior, com outrem e coletiva
Se Locke foi um caminho para a separação do “externo” com o “interior” pela supressão deste último, mas aderindo a uma transcendência idealista, o caminho de Husserl é um retorno crítico ao cógito cartesiano (supressão do juízo sobre as coisas) (Ricoeur, 2007, p. 119).
Em Meditações Cartesianas reflete isto (download de Conferencias de Paris) mas faz uma passagem da egologia (cartesiana) para a intersubjetividade (com o outro) exige um pouco mais que o cogito.
Isto é feito numa relação com o tempo, que será tema de seu aluno Heidegger em o Ser e o Tempo, na obra de Husserl Lições para uma fenomenologia da consciência íntima do tempo, entretanto, fala da relação “ainda objetal com um objeto que se estende no tempo, que dura, para a constituição do fluxo temporal com a exclusão de toda intenção objetal” (Ricoeur, 2007, p. 119).
Então a relação com a memória, a fenomenologia da lembrança, ou de outro ponto de vista a relação à imagem, tema atual se fala até de cultura da imagem, a re-(a)presentação cede o “lugar a uma constituição, sem menor referência objetal, a do puro fluxo temporal” (Ricoeur, 2007, p. 120).
É notável, diz Ricoeur, a imanência criada entre consciência e tempo em Husserl, que dissocia o tempo físico do tempo da alma vinculados em Aristóteles e desvinculadas em Agostinho.
Isto é importante, porque nos permite entender melhor o problema da imagem, lembrança e de certa forma memória, há diversas descobertas nesta fenomenologia, mas Ricoeur se detém na questão da consciência, primeiro como consciência de algo, e depois como “O fluxo constitutivo do tempo como subjetividade absoluta”, citação do § 36, das Lições de 1905.
O fato que esquecemos, e em nossos dias é mais grave este fenômeno, é devido a um fenômeno íntimo da consciência, daí o nome do livro de Husserl, explicado de maneira acadêmica assim, no § 39: “O tempo imanente constitui-se como uno para todos os objetos e processos imanentes. Correlativamente, a consciência temporal das imanências é a unidade de um todo” (citação em Riceour, 2006, p. 122).
Husserl então dirá do fluxo dos objetos que ocorre no tempo e na consciência, assim tornar algo presente na presentificação da consciência (Husserl chama de consciência impressional) é fruto de tornar presente por um ato reflexivo, a “consciência originária”, a retenção no íntimo de fatos presenciais que podem ser lembrados como a consciência de algo.
Após percorrer o longo caminho de Husserl para não separar a consciência íntima da externa (de algo) pergunta-se se a extensão do idealismo transcendental `a intersubjetividade (a presença de outrem) pode abrir caminho para a “memória comum” coletiva.
Sua resposta é claro que é positiva: “o poder de encenar essas lembranças comuns por ocasião de festas, ritos, celebrações públicas” (Ricoeur, 2007, p. 129) … “isto basta para dar á história escrita um ponto de apoio dentro da existência fenomenológica dos grupos” (idem)
Sensor de tato artificial
Entre as várias tecnologias vestíveis (anunciada com uma das próximas ‘ondas’), está o interessante trabalho sobre um tato “artificial”, publicado na revista Science.
Segunda a pesquisadora Zhenan Bao, o sensor flexível produz um tipo de padrão de impulsos que é reconhecido imediatamente pelo sistema nervoso, embora colocada inicialmente da mão, esta característica possibilita ser usado em outras partes do corpo.
A pesquisadora afirmou: “Com materiais plásticos, nós e outros pesquisadores nessa área já tínhamos conseguido produzir sensores sensíveis ao toque – mas o sinal elétrico que saía desses sensores não tinha o formato certo para ser interpretado pelo cérebro”.
Outros modelos necessitavam do processamento do computador para produzir a sensação de “toque”, já este produz os impulsos diretamente.
O uso de plástico torna o material flexível, e os sensores podem ser úteis em outros equipamentos de tecnologia vestível, conforme afirmou:”Os sensores são muito finos e flexíveis, e também são elásticos. Então você poderia montar um sensor em sua pele e usá-lo para detectar sinais vitais como os batimentos cardíacos e pressão arterial”.
Logo abaixo desta camada de “pele” há um circuito eletrônico impresso, que funciona como um oscilador, que transforma a corrente variável em uma série de impulsos. Com mais pressão e mais corrente, a taxa dos impulsos sobe.
USP realiza Virada Científica
Com mais de 300 atividades gratuitas, nos dias de hoje e amanhã (17 e 18/10) a primeira edição da Virada Científica realizada neste ano de 2015.
O evento é uma parceria entre a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU) e o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação vai oferecer, num espaço de 24 horas.
De acordo com Eduardo Cooli, coordenador geral do evento uma grande novidade está na Praça do Relógio, localizada na Cidade Universitária, com ateliês e espetáculos circenses protagonizados pelo Circusp, com a intenção de criar um movimento maior nesta Praça que é bastante central.
Ali também estará o Palco Ciencidade, onde haverá algumas atrações como “Do skate às artes plásticas”, “Câncer: conhecer para controlar” e outros.
Todas as oito unidades de USP terão atividades: São Carlos, Bauru, Pirassununga e Lorena, na capital estão incluídas as unidades do EACH (Escola De Artes, Ciência e Humanidades) e a Casa de Dona Yayá.
Estarei dando a Palestra “Funcionamento e peculiaridades das Redes Sociais” às 17 horas no Instituto de Geociências, na USP do Butantã.
Agentes inteligentes estão acontecendo
Em recente reportagem na revista CIO da Austrália, muitas novas tarefas estão sendo proposta para incrementar os serviços onde possam ser utilizados agentes inteligentes, eles incluem: serviços para marcar fotos e verificar se estas marcações interessam aos usuários no Facebook, o Baidu está trabalhando em uma tecnologia para colocar uma capacidade adjacente de voz para seu motor de busca possibilitando os usuários conversar via smartphones ou outros dispositivos, o departamento de Defesa e Tecnologia de Organização da Austrália está tentando uma tecnologia com agentes inteligentes para controlar drones autônomos que operam em mar, terra e ar usando mapeamento por satélites e o que parece particularmente interessante a IBM está treinando seu supercomputador Watson para fazer perguntas a especialistas humanos e ajuda-los em tarefas como descobertas de medicamentos e classificação de documentos.
A reportagem não esclarece muito de cada uma destas pesquisas, mas em talk show do tipo perguntas e respostas, chamado Jeopardy nos EUA, o computador Watson ganhou de humanos.
A ideia que podemos classificar documentos e ajudar a organização justamente em um universo com bastante desordem é uma ideia muito simples porque todo caos tem uma ordem, e complexa porque exige o tratamento de bilhões de dados, e portanto de informação, a entropia que é um fato desde o início da história não trata senão de outra coisa que a própria ideia de que é possível organizar como também é possível de desenvolver um processo de auto-organização, não automático mas passível de ser sugestionável e controlável.
Tom Simonite, autor de um artigo no MIT Technology Review, descreveu um teste do novo recurso Watson, feito no Ambiente Cognitivo Lab da IBM em Yorktown Heights, Nova York, com um laboratório com uma sala de conferência equipada com microfones para ouvir e transmitir tudo o que dizem os participantes da reunião, o software ali usado aparentemente, leva todas as entradas de fala e transcreve-as em tempo real para alimentá-lo para o computador Watson e fizeram isto com diversos especialistas.
A área de agentes inteligentes promete ser a nova grande tecnologia disruptiva do década.
Inteligência múltipla: filosofia e virtual
A teoria das inteligências múltiplas foi desenvolvida pelo psicólogo norte-americano Howard Gardner, por volta da década de 1980.
Ele é uma alternativa a ideia de capacidade inata, nascida da filosofia idealista e que perpassa a maioria das correntes psicológicas de hoje, contesta a ideia de QI (Quociente de Inteligencia) e também aquelas ideias que focalizam tudo nas habilidades escolares.
Introduz o conceito que diferentes profissionais devem ter diversas culturas, um repertório de habilidades humanas para ajuda-los em soluções, culturalmente apropriadas, para resolver seus problemas pessoais, familiares e sociais.
Gardner trabalhou no sentido inverso a ideia de desenvolvimento, pensando mais em que habilidades deram origem a realizações humanas, e afirmou que:
“a) o desenvolvimento de diferentes habilidades em crianças normais e crianças superdotadas; (b) adultos com lesões cerebrais e como estas não perdem a intensidade de sua produção intelectual, mas sim uma ou algumas habilidades, sem que outras habilidades sejam sequer atingidas; (c ) populações ditas excepcionais, tais como idiot-savants e autistas, e como os primeiros podem dispor de apenas uma competência, sendo bastante incapazes nas demais funções cerebrais, enquanto as crianças autistas apresentam ausências nas suas habilidades intelectuais; (d) como se deu o desenvolvimento cognitivo através dos milênios” (Gardner, 1985).
Idiot-savants ou savantismo (do francês savant, “sábio”) é considerado um distúrbio psíquico no qual a pessoa possui uma grande habilidade intelectual aliada a um déficit de inteligência.
A Inteligência linguística são os componentes da sensibilidade para sons, ritmos e significados das palavras, já a inteligência musical embora associada a primeira manifesta a habilidade para apreciar, compor ou reproduzir uma peça musical, a lógico-matemática é a sensibilidade aos padrões, ordem e sistematização, a espacial a capacidade de perceber o mundo visual ou espacial, quebra-cabeças e jogos que necessitam de habilidades visuais, a cinestésica é a capacidade de criar produtos através do uso de parte ou de todo o corpo é como se pode produzir graça e expressões a partir de estímulos verbais ou musicais usando alguma músculo coordenado ou habilidade atlética, a interpessoal habilidade para entender e responder adequadamente a humores, temperamentos e motivações de outras pessoas e finalmente, e finalmente a intrapessoal é a inteligência que organiza os próprios sentimentos, sonhos e ideias e pode lançar mão deste recurso para solução de problemas pessoais ou sociais.
O mundo virtual está relacionado a todas elas e não apenas a intrapessoal como pode-se pensar e este estudo não vale apenas para autista e pessoas superdotadas, mas para todos.
Gardner, H. Frames of mind. New York, Basic Books Inc., 1985.
A interface que mudou a vida de Hawking
O físico Stephen Hawking, desenvolvedor da teoria do Big Bang, é tetraplégico e colaborou com o fundador da Intel Gordon Moore a desenvolver um a tecnologia mais eficiente para controlar a interface do computador para pessoas sem o controle tátil e agora o código da interface será disponibilizado em janeiro de 2015.
O ambiente é chamado de Context Aware Assistive Toolkit (ACAT) que tem três componentes básicos: um sensor de entrada do movimento da bochecha para acionar a seleção de item na tela, uma interface que escolhe as letras para compor palavras e um software para interação de comunicação com o navegador da Web que antecipa o que Hawking quer digitar quando está escolhendo as letras.
O engenheiro da Intel Lama Nachman da Intel explica que Hawking queria algo “que ao olhar e sentir a interface fazia opções, mas algo mais eficaz e rápido para operar”.
Em artigo da revista Tech Republic, Hawking afirma que o software, que agora será open source, modificou sua vida e permitiu continuar seu trabalho no desenvolvimento da física.
Hawking afirmou para a revista que “como a tecnologia tem mais especializada que abre possibilidades que eu nem sequer conseguiria prever. A tecnologia que está sendo desenvolvida para apoiar as pessoas com deficiência está liderando o caminho para quebrar as barreiras de comunicação que estiveram uma vez no caminho “, disse ele.
“Este novo sistema é uma mudança de vida para mim e eu espero que isso vai me servir bem para os próximos 20 anos.”, e esperamos que com código aberto hajam mais desenvolvedores apoiando portadores de deficiências.
Saiba como sucesso ou fracasso ocorrem
TEDs (Technology, Entertainment, Design) são palestras de no máximo 18 minutos que se tornaram sucesso no meio acadêmico, sendo hoje uma fundação sem fins lucrativos, sendo a própria definição da organização como “ideias que merecem ser disseminadas” e são divulgadas pela internet com ferramentas de edição em diversas línguas.
Divulgaremos alguns destes TEDs que se tornaram “insanamente” populares pela novidade e criatividade das ideias expostas.
O primeiro deles é o da psicóloga Dra. Angela Lee Duckworth da Universidade de Pennsylvania, que estuda conceitos de auto-controle e as chaves para determinação do sucesso, tentando prever tanto sucesso acadêmico como profissional.
O TED da Dra. Duckworth está com mais de 5 milhões de acessos, e seus resultados não são apenas surpreendentes, mas atestam a sua capacidade e determinação de busca de resultados, que é justamente o método que procura aplicar em suas pesquisas.
Ela havia deixado uma consultoria para tornar-se professora de matemática de alunos do 7º período em escolas públicas em Nova Yorque e descobriu que não era o Q.I que determinava o sucesso dos alunos, mas uma força que ela chama de “determinação”.
Realidade aumentada permite ver a própria mente
Olhar no espelho e ver as próprias atividades é uma forma de controle dos movimentos de bailarinos e atletas, porém será que isto seria possível com o próprio cérebro ?
Parece que sim, é o que sugere o novo equipamento de realidade aumentada para o cérebro, o “Mind Mirror” (Espelho da Mente), cujo protótipo capta a atividade elétrica do cérebro, e com um capacete com dezenas de eletrodos, parecido ao de um EEG (eletroencefalograma) médico, pode recriar os impulsos cerebrais na forma de imagens.
A realidade aumentada é uma técnica de através de imagens mostrarem funcionalidades ou detalhes escondidos de uma cena real, em imagens dinâmicas, e isto virou realidade num laboratório de pesquisadores franceses, ao combinar um eletroencefalograma (EEG) clássico com técnicas de realidade aumentada.
Segundo o diretor científico do Instituto Nacional de Pesquisas em Informática e Automática da França (INRIA), Anatole Lécuyer capturados o sinal do cérebro “é, em seguida, projetada numa tela, em superposição com o rosto do indivíduo”, cuja invenção foi apresentada a imprensa nesta terça-feira (13/05).
O pesquisador resumiu assim o invento “A ideia inicial foi muito simples, porque as tecnologias já existem, mas desenvolver a técnica, sobretudo para a visualização, exigiu tempo”, concluiu.
Pontapé inicial da Copa do Mundo
Será feito por um paraplégico usando a tecnologia mais avançada existente para movimentos de pernas , trata-se de uma estrutura criada pelo Projeto Walk Again, dirigido por uma equipe internacional dirigida por um neurocientista, que é Miguel Nicolelis, brasileiro e professor na Universidade de Duke, na Carolina do Norte, EUA.
Este projeto tem seu desenvolvimento mais recente no Brasil, onde se encontra o professor, e os avanços mais recentes do exoesqueleto robótico, permite andar com uso desta tecnologia.
Um paraplégico usará este exoesqueleto na abertura do Mundial, dia 12 de Junho, no Estádio Arena Corinthians, em São Paulo, na qual entre as milhares de pessoas que vão participar da abertura estará um dos oito jovens doo país, que foram selecionados para participar na fase final do projeto e um deles irá andar e com uso da tecnologia dára o pontapé inicial.
Nicolelis tem-se desdobrado em entrevistas e em posts na sua página do Facebook onde vai publicando os mais recentes avanços no exoesqueleto, que será mostrado oficialmente ao público em Junho.