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Ética mínima: corrigir o erro
É muito comum o discurso, até eu as vezes digo, que o maior erro é não dizer não, mas educar significa explicar o não e ajudar as pessoas a corrigirem seus erros e ouvir o contra-argumento.
Isto implica em manter a ética, mesmo diante do erro, quando é comum apelar e sair pelo erro, mas o que significa errar?
Diz Aristóteles em sua “Ética a Nicômaco” que é possível, do ponto de vista moral, errar de muitas maneiras, mas só há uma forma de acerta: “Erramos quando temos medo de tudo e não enfrentamos nada; erramos quando nos entregamos sem medida a todo tio de prazer; erramos quando não restituímos o que é do outro por direito. Por outro lado, acertamos quando evitamos os excessos”.
O excesso pode dizer respeito até mesmo aquilo que consideramos virtuoso, que é o que diz respeito ás nossas disposições: o estudo, o lazer, o trabalho enfim tudo que é importante, mas exige equilíbrio e temperança.
Os hábitos e os vícios dependem dos hábitos, e hábitos dependem de contínuas ações, mas como corrigir os vícios e erros? a prática de ir direto ao ponto pode ser um equívoco, todo erro deve ser contextualizado para evitar o julgamento precipitado e ás vezes equivocado
Corrigir é sobretudo dar espaço a que o erro seja compreendido e a repreensão exige já uma ação social, em muitos casos legal, assim exige os fatos comprovados, testemunha e a forma correta de corrigir, a justa medida é sempre aquela que permite o erro ser corrigido.
A correção fraterna é indicada em (MT 18, 15) diz para tomar seu irmão em particular, se ele te ouvir terá um irmão, se não te ouvir toma uma testemunha se ainda não te ouvir é um pecador público.
O que mudou, não há mais correção, mas apenas punição e nem sempre ela é de direito.
Limites e importância do testemunho
Os homens que deram grande virada na história e que fizeram a diferença em seu tempo foram aqueles cujo testemunho influenciou e muitas vezes mudou o rumo da história, o que parecia inevitável foi evitado, o que parecia perdido foi esclarecido.
Não significa que não pensaram e raciocinaram, mas que testemunharam e viveram primeiro.
Mahatma Gandhi desencadeou uma desobediência civil em seu país a Índia, para incentivar a luta pela independência do país da Inglaterra, em 15 de agosto de 1947 foi conquistada com a violência sendo praticada apenas pelos colonizadores ingleses.
Todos conhecem a luta pacífica de Martin Luther King, porém foi o gesto de uma mulher negra que desencadeou sua luta, a mulher chamada Rosa Parks, que no Alabama, em 1º. De dezembro de 1955 se recuou a ceder o lugar no acento de um ônibus a um homem branco, foi presa e obrigada a pagar uma fiança de U$ 14,00.
Nelson Mandela depois de sair da prisão, e liderar o fim do regime racista do “apartheid”, em 1994 torna-se o primeiro presidente negro da África do Sul, ao invés de se “vingar” dos brancos propõe uma nova atitude, contrária a dos dominadores e recria a África do Sul com tolerância racial e os presidentes que o seguiram foram todos negros, numa demonstração que venceu a luta e desarmou seus perseguidores.
Se fala do milagre dos pães, mas o mais importante segue depois na narrativa bíblica em Mateus 14, 22-24, havia despedido a multidão que comera os pães, os discípulos subiram na barca e Jesus retirou para orar sozinho, depois foi caminhando até os discípulos sobre o mar.
Os discípulos assustam com esta imagem, dizem “é um fantasma”, mas Ele diz: “sou Eu”, Pedro também quer andar sobre as águas, Jesus o chama, mas ele afunda, fraco na fé, o testemunho não só requer verdade e vivência, mas também uma crença no sentido religioso e não pode ser distante dela.
Mais do que o milagre dos pães que sacia o corpo, Jesus quer o milagre da fé, que sacia a alma.
Filosofia do testemunho
A filosofia do testemunho (também, epistemologia do testemunho) considera a natureza da linguagem e a confluência do conhecimento, que ocorre quando as crenças são transferidas entre falantes e ouvintes por meio do testemunho. O testemunho constitui palavras, gestos ou declarações que transmitem crenças.
Conforme Nick (2023) o que sabemos do mundo: história, ciência, política, uns dos outros, etc. vem do testemunho de outras pessoas, embora seja indispensável para o conhecimento, especificar exatamente como somos capazes de aprender com a opinião de um falante é uma tarefa muito difícil, o que aponto pessoalmente é nossa capacidade de abrir e ouvir (ou ler).
Ainda sobre o autor o testemunho é a fonte básica da justificação, porém ela pode ser pode ser reduzida a uma combinação de outras fontes epistêmicas, como percepção memória e interferência?
Outra questão é: o testemunho pode gerar conhecimento ou apenas transmiti-lo?
Ela pode ser entendida como algo apenas individual (no sentido que a justificação testemunhal de alguém depende inteiramente de fatores relacionados a si mesmo), ou deve ser vista como anti-individualista (no sentido que a justificação testemunhal depende de alguém, ao menos em parte, de fatores que tenham a ver com consigo mesmo) ?
Como entender o testemunho entre um especialista e um novato?
Os grupos testemunham? E se sim, como podemos aprender com a opinião de um grupo?
O que é o próprio testemunho? (uma vez que não se confunde com narrativa, mas vivência).
Em seu trabalho o autor esclarece que não são as únicas questões, cita outros autores como M. Fricker (2007) que leva a questão do crédito de testemunhos que dão origem a uma injustiça epistêmica, também há questões interessantes quanto a testemunhos oculares e a lei (Wells & Olson, 2003) e (Burrogghs & Tollefsen, 2016), e ainda testemunho e afirmação (Pagin, 2007 [2016]).
Há ainda quilo que considero particularmente importante que é uma literatura crescente sobre testemunho moral e estético, e o autor dá o exemplo da opinião de um amigo que acredita que comer carne assada é moralmente errado apenas porque seu amigo lhe diz.
Porém o autor se concentra nas questões apontadas mais acima.
O testemunho deve ser fermento de verdade e ter vivência do falante para ter credibilidade.
Burroughs, Michael D. and Deborah Tollefsen, 2016, “Learning to Listen: Epistemic Injustice and the Child”, Episteme, 13(3): 359–377, 2016.
Fricker, Miranda, Epistemic Injustice: Power and the Ethics of Knowing, Oxford: Oxford University Press, 2007.
Pagin, Peter, “Assertion”, The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Winter 2016 Edition), Edward N. Zalta (Ed.), 2007 [2016].
Wells, Gary L. and Elizabeth A. Olson, “Eyewitness Testimony”, Annual Review of Psychology, 54: 277–295, 2003.
Testemunho e humanismo
O humanismo verdadeiro é o que permite a evolução do processo civilizatório preservando aquilo de essencial que todo homem possui que é o seu Ser, isto vai além das condições de sobrevivência econômica, social e política, ele deve incluir o Outro e dar este testemunho.
Testemunhos vão desde casos em que alguém precisa de uma informação e recorre a alguém ou a algum meio epistêmico (organizado do saber) até relatos científicos novos que revelam os mais intrincados mistérios da vida e do universo.
Os epistemólogos estão de acordo quanto a importância do testemunho como fonte de justificação, juto a percepção (cognitiva e além dela), da memória (todos meios de informação e difusão) e do raciocínio (além do lógico, do físico e do metafísico), a divergência estão no modo como crenças falsamente justificadas testemunhais podem surgir de crenças justificadas.
Isto se deve ao fato não apenas de crenças consideradas no aspecto religioso, mas também elas, mas do fato que é possível de crenças testemunhais que envolvem percepção, memória e cognição (acréscimo meu) são confiáveis a partir de crenças previamente justificadas, esta é a corrente chamada de reducionista, porque independente do testemunho, já é justificada.
Anti-reducionistas defendem que a justificação de crenças testemunhais é direta: estamos justificados em acreditar que algo pelo simples fato de alguém testemunhar algo mesmo sem haver razões para não fazê-lo, há diferentes tentativas de respostas a este debate.
Fora deste debate epistêmico, devemos pensar que vivemos num tempo que é difícil o pensar e o organização informações de modo a chegar ao testemunho como fonte de verdade, pode-se defender a paz mesmo fazendo a guerra, pode-se defender a democracia limitando os direitos civis e as ideias divergentes, pode-se definir justiça mudando as regras da lei para dar margem a injustiça, pode-se proclamar uma crença mesmo limitando-se a uma prática parcial.
Assim o que está em jogo não é o testemunho das crenças, mas muitas vezes sua própria negação, e pode-se tratar não apenas de má fé ou má vontade, mas dificuldade de cognição, por isto fiz este acréscimo a percepção e memória, onde o problema é a fonte de informação.
Um verdadeiro humanismo deve ter como pressuposto o testemunho, do contrário não temos um referencial confiável para nossos argumento, diálogos e superação de divergências.
Só podemos testar nosso modo de viver se vivermos de acordo com o que testemunhamos.
Referência:
Leonard, Nick, “Epistemological Problems of Testimony”, The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Spring 2023 Edition), Edward N. Zalta & Uri Nodelman (eds.), URL = https://plato.stanford.edu/archives/spr2023/entries/testimony-episprob/ , 2021.
A clareira, o desvelar e Ser
A clareira é um pequeno espaço com luz que se abre no meio da floresta, Heidegger faz a definição no sentido filosófico assim: “O destino se apropria como a clareira do ser, que é, enquanto clareira. É a clareira que outorga a proximidade do ser. Nessa proximidade, na clareira do dar lugar, mora o homem como ex-sistente, sem que ele já possa hoje experimentar e assumir esse morar” (Heidegger, 1979), neste sentido o ser se apropria de um “morar” verdadeiro e eterno.
A clareira é então o lugar do desvelar do Ser, em sua temporalidade de ex-sistente ele experimenta, por sua condição finita, um morar agradável e sensível, quase eterno, no entanto temporário como ente.
Então a clareira parte da condição humana, e não é apenas a Teofania divina, entretanto a narrativa bíblica dá ao Jesus humano e temporal em um momento específico no monte Tabor, já postamos algo sobre o tema, mas no sentido da ascese da alma, aqui deseja-se completá-la num desvelar.
Conforme postamos anteriormente, é possível tanto um revelar quanto um desvelar humano, no primeiro caso uma compreensão temporária que se re-vela (esclarece, mas permanecem dúvidas novas) e o desvelar, muitas vezes parcialmente incompreensível ao ser humano por sua finitude cognitiva ou uma ascese mística cujos detalhes são muitas vezes de difícil comunicação pela ausência de palavras ou metáforas apropriadas, como uma obra de arte.
Na narrativa bíblica é no Monte Tabor onde ocorre uma Teofania, não foi no batismo de Jesus e nem nos milagres que ela aconteceu, ao subir o monte Jesus leva três discípulos mais próximos: João, Pedro e Tiago e diante dos olhos deles se transfigura e aparece ao lado de Moisés e Elias, diz a narrativa (Mt 17. 2-3):
“E foi transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas como a luz. 3Nisto apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus”.
Os apóstolos sentem a “clareira” e querem ficar ali e construir três tendas, depois uma nuvem os cobrem, como no tabernáculo de Moisés, ouvem uma locução divina e prostram o rosto por terra, Jesus os acalma e quando levantam os olhos veem apenas Jesus e descem a montanha.
Para os que não creem a narrativa bíblica é imaginária, mas ajuda a entender o desvelar.
HEIDEGGER, Martin. “O fim da filosofia e a tarefa do pensamento”. In: Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 79.
Teofania existiu, existe ?
Quando temos uma clarificação ou um insight, podemos dizer que há uma re-velação, algo novo desponta, mas não temos ainda uma ideia finalista ou total sobre determinado mistério, então é velado de novo.
Não se pode confundir com sentimentalismo ou mesmo uma fortíssima emoção, ela pode ser re-veladora (no sentido de velar de novo) porém as consequências e o fim último daquela emoção vão depender de outras novas re-velações, pois são só afetos e emoções temporais.
Desvelar é algo bem mais profundo, significa tirar o véu, a própria ciência tem uma evolução ao longo da história, as chamadas “estruturas da revolução científica” do físico e filósofo da ciência Thomas Kuhn, noutra linha, Karl Popper desenvolveu a ideia do método científico da falseabilidade, que é sempre estar atento as limitações das teorias científicas.
Desvelar significa não se restringir aos aspectos materiais, empíricos e quantitativos da realidade, almeja entender racionalmente o ente real como um todo a partir de suas causas últimas, assim as causas e afetos temporais não estão em jogo, ou seja, não é re-velação.
É possível desvelar mistérios por caminhos científicos, as ideias quânticas desde Werner Heisenberg (A parte e o todo. 2008), passando por Einstein (Teoria da Relatividade) e Neils Bohr que escreveu sobre a teoria de correspondência (átomos e radiação): “parece ser possível lançar uma luz nas imensas dificuldades, pela tentativa de traçar uma analogia entre a teoria quântica e a teoria ordinária da radiação, da maneira mais próxima possível”, depois o modelo avançou.
No desvelar da narrativa bíblica ocorre uma Teofania, uma manifestação divina onde nenhuma explicação humana é razoável e há nelas alguma verdade “eterna” que a confirma.
No caminho bíblico-histórico que percorremos do êxodo, há uma passagem da Teofania (Ex 40:34-35): “Então a nuvem cobriu a Tenda da Reunião e a glória do Senhor encheu o santuário. Moisés não podia entrar na Tenda da Reunião, porque a nuvem permanecia sobre ela, e a glória do Senhor tomava todo o santuário”.
Isto ocorre também hoje, há manifestações e Teofanias? Sim e até mesmo instituições religiosas duvidam, e elas não tem a ver com as falsas profecias com interesses particulares.
Li um livro na juventude de um iogue e guru indiano Paramahansa Yogananda, em que ele descrevia uma pessoa que conheceu na Alemanha que comia apenas uma “hóstia” consagrada e não tinha uma aparência débil ou doentia, também um herói da unificação da Suíça, Nicolau de Flüe (1417- 1487) viveu o final de vida assim, com permissão da família e da esposa.
O fotografo judeu Judah Ruah do noticiário “O século”, de uma família tradicional judaico-portuguesa, publicou uma foto para o jornal Illustração Portugueza, em 29-09-1917, fotos do chamado milagre de Fatima prometido aos 3 pastorinhos videntes, ocorrido em 13 de outubro de 1917 e que foi anunciado anteriormente por eles como prova de que os sinais místicos que recebiam eram verdadeiros, foram para lá quase 100 mil pessoas (foto), as pessoas todas viram o Sol dançar no céu.
Claro que depois houveram várias explicações científicas para o fenômeno, porém é interessante os 3 pastorinhos anteciparem o dia exato em que o fenômeno ocorreu e por isto a multidão presente, numa aldeia que ainda hoje é pequena e distante de grandes centros.
No caso da Teofania portuguesa é importante notar que antecede a 1ª. Guerra mundial e pede orações pelo futuro da humanidade, com o perigo de guerra poderia acontecer hoje também?
BOHR, Neils. O Postulado Quântico e o Recente Desenvolvimento da Teoria Atômica. Trad. Osvaldo Pessoa Jr. In: Fundamentos de Física I – Simpósio David Bohm. Org. O. Pessoa Jr. São Paulo: Livraria da Física, 2000. p. 135-159, 1928.
HEISENBERG, Werner. A Parte e o Todo: Encontros e Conversas sobre Física, Filosofia, Religião e Política. 4. reimpr. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto, 2008.
A lógica da narrativa bíblica
A narrativa histórica quase sempre mostra a mudança de mentalidade e da lógica da guerra, do poder e da conquista de bens e imposição de uma cultura sobre a outra, a narrativa mística, na maioria das vezes procura avançar a mentalidade do processo civilizatório tanto pela ação humana como pela intervenção divina.
Sempre que um povo promove a opressão humana, material e espiritual tende a decadência e a ruptura civilizatória, assim aconteceu com a cultura semítica, a cultura egípcia nos primórdios da civilização humana.
A narrativa mística e espiritual dos povos analisa estes ciclos de outro ponto de vista, há uma promessa divina não apenas no plano divino, mas também humana, assim para Abraão era a terra prometida e o nascimento de seu filho, onde acontece uma teofania, uma manifestação (ou aparição) divina e finalmente uma aliança.
A promessa a Abraão era não apenas o nascimento de seu filho, mas após nascer Isaac a teofania acontece com a promessa de ele herdar tantos filhos quanto as estrelas do céu e a aliança se cumpre pois Abraão é considerado de pai da fé para três grandes religiões monoteístas: cristãos, judeus e cristãos de hoje.
De Isaac nascem as doze tribos de Israel através de seu filho Isaac, porém por inveja os irmãos vendem José ao Egito, que tinha dons e em sonhos lhe é revelada a promessa que ele seria líder das tribos, mas de inveja os irmãos o vendem ao Egito e a promessa divina se cumpre com o período de escassez em que os irmãos vão ao Egito comprar alimentos.
Não há uma Teofania explícita devido a maldade que fizeram com José, mas Jacó depois de lugar com o anjo consegue o perdão divino e depois o perdão do irmão Esaú.
O Êxodo os hebreus recebem a promessa do retorno a sua terra Canaã, porém a Teofania não se realiza nem na sarça ardente quando ocorre a promessa, nem na Tábua da Lei (os dez mandamentos) e sim quando Moisés realiza uma sala de reunião para o contato divino.
Na narrativa de Êxodo podemos ler que Moisés havia armado uma tenda ao longe (Ex. 33:7) “ fora do acampamento, e deu-lhe o nome de Tenda da Reunião. Assim, todo aquele que quisesse consultar o Senhor, saía pra a Tenda da Reunião, que estava fora do acampamento” e será após esta Teofania e ter recebido as Tábuas da Lei, que será constituída a “arca da Aliança” onde serão colocados o cajado de Arão, um vaso com o Maná que alimentou o povo no deserto e as tábuas da Lei.
Há sempre nas narrativas uma teofania ou uma teogonia (Hesíodo, por exemplo), como no caso da filosofia grega, que é um deus antropomorfo e diverso, entretanto, a teogonia pela sua característica é só a manifestação de crenças e desejos humanos.
Período dos juízes ou nascimento da república
Pela narrativa bíblica e também pelos estudos arqueológicos e históricos, o período do final do êxodo e reunificação de Israel ficou conhecido como período dos juízes, entretanto é possível uma leitura tanto bíblica quanto histórica como o nascimento de uma proto-república.
No período final de Moisés, ele chega a avistar Canaã ao longe, ele estabelece uma tenda um pouco afastada de onde diz a narrativa bíblica: “Moisés levantou a tenda e armou-a longe, fora do acampamento, e deu-lhe o nome de Tenda da Reunião. Assim, todo aquele que quisesse consultar o Senhor, saía pra a Tenda da Reunião, que estava fora do acampamento”, e quando Moisés ia para lá o povo o seguia com os olhos.
Conforme autores (Horowitz, 2005) e (Everdell, 2000) o período de 1250 a.C. até 1030 a.C. se caracterizava-se pela liderança política, religiosa e militar de um líder que, por instrução divina, unifica dirigia as tribos de Israel e podia ser considerada uma Confederação Israelita (as antigas tribos de Israel após o êxodo e retomo a região de Canaã), eram um tipo de república governado por juízes, após a morte de Moisés e a liderança de Josué.
Moisés antes havia mandado 12 espias para o território de Canaã, entre entre eles Josué e Kalebe, na volta estabelecem uma estratégia militar onde primeiro ocorre o famoso cerco de Jericó e depois conquistam os montes Betel e Gibeão.
Depois da conquista do território, inicia-se o período dos doze juízes que governarão o povo e os liderarão em batalhas para manutenção do território, e se estabeleceram num território que ia desde o monte Herman ao norte até o monte Haloque e Neguebe ao sul.
Neste período ainda houveram diversas lutas, alguns dos juízes são conhecidos na literatura como os últimos Juízes: Sansão, Eli e Samuel, , porém o relato de Debora como juíza de Israel é único, considerando a sociedade patriarcal que vivia (Juizes 4-5), o último juiz foi Samuel grande profeta e que escolheu, a pedido do povo, os dois primeiros reis: Saul e Davi
Este período histórico foi marcado pela atividade dos profetas do Antigo Testamento: Jeremias, Ezequiel e Daniel, que tentam corrigir o rumo e destino do seu povo. Ao final deste período na história registra-se também a ascensão do Império Assírio, mas chegará aos limites de Israel indo até o Egito, sob a liderança de Assurbanipal de 690 a.C. a 627 a.C., em 609 a.C. ocorre a primeira deportação do hebreu para a Babilônia, e em 598 a.C. o jovem rei Joaquim, rei de Judá, rende-se voluntariamente.
HOROWITZ, Maryanne Cline. Republic. New Dictionary of the History of Ideas. 5. Detroit: Charles Scribner’s Sons, 2005.
EVERDELL, William R (2000). The End of Kings. A History of Republics and Republicans (em inglês). Chicago: University of Chicago Press, 2000.
O final Êxodo semítico-judaico e a vida plena
Durante todo o caminho a compreensão semítico-judaico está ligada a posse de uma determinada terra, e até mesmo as lutas imperiais de nosso tempo não refletem outra coisa a tentativa de colonizar povos e escravizá-los, ou seja, evoluímos na tecnologia usada para a guerra, mas não nas intenções de perpetuar o poder e adquirir bens dos povos e nações.
No final do êxodo judaico-semítico, Moisés envia Josué e Calebe e mais 10 homens escolhidos, um de cada tribo, para espiar a terra de Canaã para saber as condições da região, mas ele próprio não chegará lá e morre antes.
Estes espias que vão até lá constatam uma terra boa e bela, contudo havia “gigantes” nela e o povo era poderoso, apesar de todos 40 anos no deserto, muitos hebreus se perguntavam se não era melhor ter voltado e pensavam que Deus os havia abandonado.
Contudo, o relatório contrário de Josué e Calebe a terra era muito boa e se o Senhor havia prometido a posse de Israel tinha que prosseguir até tomar a posse e apesar de muitas lutas chegaram lá, depois vieram os juízes segundo a narrativa bíblica, mas o povo pediu reis “como os outros povos” e então veio Saul.
A compreensão deste tempo, além da interpretação da inevitável influência dos egípcios e do espírito messiânico do povo hebreu, deve levar em conta que agricultores e pastores precisam de terras, e ainda que a mensagem divina fosse clara, as teofanias instituíam alianças e isto também significava um comportamento de justiça e fraternidade, ainda era compreendido como sendo eles “um povo eleito” isto não valeria a outros povos.
Mesmo um milênio depois, conforme dissemos este período do início da decadência egípcia é em torno do ano 931 a.C., o tempo que nasce Jesus isto precisa ser corrigido e a dificuldade didática de ensinar ao povo os verdadeiros ensinamentos, e Jesus traz apenas um “novo” mandamento (não significa que os 10 da aliança estevam errados) “que vos ameis uns aos outros” (João 13,24) e eu quero misericórdia e não sacrifício (Mateus 9,13).
Ainda assim os discípulos demoram a entender, não compreender o sacrifício de Jesus na cruz, e a recusa deste sacrifício implicou em toda história maiores ainda: guerras, exilio, pestes e fome, porém o espírito de domínio e colonização de povos permanece.
Ao explicar a seus contemporâneos em parábolas Jesus diz como é o reino divino é como alguém que encontra um tesouro (Mt 13,46): “ quando encontra uma pérola de grande valor, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquela pérola” e isto deveria significar um bem maior não apenas em valor humano, mas em valores eternos e definitivos.
O pairo de Ipuwer encontrado no Egito no início de sua decadência fala que as moças “ficavam se olhando horas no espelho” e que as mulheres que antes guardavam coisas em caixotes “agora desejavam móveis trabalhados” para guardar suas coisas.
O que são nossos “tesouros” e o que buscamos como valores eternos?
Caminho, teofania e aliança
A narrativa histórica, aquela feita pela historiografia oficial, narra os fatos jornalísticos como eles acontecem, vê o caminho apenas como teoria e método, a manifestação divina como uma evolução histórica, e a aliança com Deus como ilusão religiosa.
A evolução e queda da civilização anterior a semítica, fato é que depois do filho de Noé (?) Sem uma civilização surgiu e evoluiu na antiga mesopotâmica dos Caldeus, dali partiu Abrão até chegar e ter o filho Isaac prometido por Deus Isaac e com ele fez uma aliança, e muda seu nome para Abraão, porque terá tantos filhos como as estrelas do céu (Gênesis 17,1-4) e de fato três grandes religiões o invocam como “pai da fé”.
Na história estarão próximos da grande civilização egípcia, e sairão dali no período do início de sua decadência.
Assim, este ciclo se repetirá com Moisés, devido a fome os hebreus migram para o Egito no tempo das 12 tribos de Israel (Jacó, filho de Isaac, que tomou o lugar de Esaú, teve a luta com o anjo), José vai para o Egito e depois os hebreus passam a viver uma viver a escravidão, lá Moisés recebe nova missão de partir para Canaã, e também haverá a manifestação divina no Sinai e nova aliança (Êxodo 19,11): “e estar prontos para o terceiro dia, pois nesse dia o Senhor descerá diante de todo o povo sobre a montanha do Sinai”.
Assim ocorre nova Teofania e nova aliança com Moisés recebendo as tábuas da Lei, quase chegando em Canaã e vendo-a de longe Moisés morre e Josué recebe a missão de levar o povo até a terra prometida, na arca da aliança (foto ilustrativa, a arca se perdeu) serão colocados um vaso com maná comida misteriosa que o povo comia no deserto, o cajado de Arão e a tábua dos 10 mandamentos).
Deste momento até o nascimento de Jesus vale a lei e os profetas, para os cristãos a nova aliança se faz com o anuncio do Evangelho (a boa nova) e a nova aliança é Deus no meio de seu povo e seu próprio guia.
Assim hoje a arca não é mais necessária, já houve uma manifestação do profeta Jeremias (Jeremias 3:16) mesmo antes do nascimento do Messias.