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A gênese semítica do ocidente
Geralmente intitula-se nossa cultura e sociedade de judaico-cristã, porém se olharmos a história mais profundamente, a cultura judaico-cristã descende da semítica, e assim tanto árabes como judeus descendem dos semitas, assim como boa parte do norte da África.
Na raiz de três grandes religiões está Abraão: judeus, árabes e cristãos, sua peregrinação começa na Babilônia dos Caldeus, a narrativa Bíblica situa em Ur dos Caldeus, então ali está a neogênese destes três grandes povos, dos quais ficam fora apenas alguns povos orientais onde estas religiões já penetraram e também alguns povos originários onde ainda há sua religiosidade inicial.
Abraão passa por duas grandes crises civilizatórias a queda babilônica e depois de sua peregrinação para a antiga Assíria chegando a cidade de Alepo, que sob escombros da guerra e o terremoto ainda existe na Síria hoje, e depois desde até o vale do Hebron, onde passou por uma segunda crise civilizatória nas cidades de Sodoma e Gomorra, onde havia orgias e decadência.
Retira-se dali e vai em direção ao Egito, e seu filho Isaac continuará também nômade, é famosa a luta de seus dos filhos Esaú e Jacó, Machado de Assis tem um livro com este nome e poderíamos dizer que a polarização da humanidade é mais antiga do que pensamos.
De Jacó se estabelecerá a linhagem das 12 tribos a partir de seus filhos, e da linhagem de Judá sairá David, enquanto da linhagem deste sairá José filho de outro Jacó, e de José nasce Jesus.
A compreensão desta descendência abraamica, com todas as lutas e contradições que aconteceram na história é fundamental para entendermos tanto a cultura cristã, quanto a islâmica e judaica, um diálogo inter-religioso e multicultura é possível se entendermos que a história de um Deus único, assim como um passado histórico longínquo une estes povos.
O fundamentalismo religioso impede este diálogo, o evangelista Mateus que era um cobrador de impostos inimigo dos judeus, refere-se a sua própria conversão assim (Mt 9,10): “Enquanto Jesus estava à mesa, na casa de Mateus, vieram muitos cobradores de impostos e pecadores e sentaram-se à mesa com Jesus e seus discípulos” e Jesus dirá “são os doentes que precisam de médicos’ e completa o ensinamento dizendo “eu quero misericórdia e não sacrifícios”.
Quanta divisão, ódio e violência em nome de Deus, isto não é religião, é apenas fanatismo.
A noosfera e a cultura oral
O período da cultura oral predominava antes de 3.000 a.C., embora tenham existido escribas no Egito, a escrita cuneiforme na Mesopotâmica e Babilônia antiga, também havia escrita na China Antiga e também nas civilizações originárias das américas: maias, astecas e incas.
A forma de divulgação da cultura e, portanto, da evolução da noosfera foi através de profetas e oráculos, cuja função principal era a transmissão da cultura oral e precede ao ensino letrado e filosófico, até que temos uma virada mais notadamente na cultura Greco-judaico-romana.
Em termos bíblicos, de acordo com relatos do Gênesis, usando genealogias apresentadas na bíblia podemos dizer que tem no mínimo 6 mil anos, porém se percebemos a narrativa, Abel era pastor e Caim era agricultor, então esta narrativa começa no momento em que o homem se torna mais sedentário e o processo civilizatório torna-se mais claro, o fato de Abel ser pastor é simbólico para a linguagem bíblica.
Se este é um fato sem comprovação histórica e também Noé e o dilúvio ainda sejam uma eterna busca de documentação, porém seus filhos Sem e Cam já podem ser encontrados na história, uma vez que os povos semitas e camitas estão registrados na história, e Jafé que devia habitar nas tendas de Sem.
Os semitas foram o alvorecer das culturas mesopotâmicas com o auge na Babilônia (1792–1000 a.C.) e que depois foram dominados pelos persas.
Os profetas e os oráculos serão fundamentais nas culturas antigas, eles deviam ter certa iluminação “divina” para que a história não se corrompesse e os costumes fossem alterados.
Segundo o Gênesis 11, do Dilúvio até Abraão passaram cerca de 292 anos, e do nascimento de Abraão ao estabelecimento de Jacó no Egito passaram cerca de 290 anos, ´de Abrão até a vinda de Cristo são cerca de 2 mil anos, e então começa uma era da cultura escrita, e assim surgem os evangelhos enquanto na Grécia antiga as escolas Socrática e Platônica, já que sabemos de Sócrates através de Platão e depois a escola Aristotélica, período que as escolas e escritas se fixam.
Não se trata de superar a cultura oral, mas ela aparece junto com a escrita, os livros manuscritos, que depois se tornarão famosos pelos monges copistas, este período é chamado scriptorium.
A cultura oral permanece junto a povos originários, também entre povos africanos, a escrita impressa será uma conquista da modernidade, assim falar de escolaridade é falar de modernidade, e agora estamos em nova transição devido a novas mídias.
Noogêse e a mente
Neogênese como processo de formação e evolução da mente humana é um termo cunhado pelo filósofo e antropólogo Teilhard Chardin em seu livro “O fenômeno humano”, a terra já havia passado pela era pré-Cambriana da formação geológica da Geosfera e da Biosfera da formação da vida unicelular, multicelular até surgirem animais da era Mezozóico cujo último período é o Jurássico conhecido pelas fantasias cinematográficas dos dinossauros.
A esta terra juvenil, como a chama Teilhard Chardin, sucede o período Cenozóico, onde ocorreu um evento chamado K-T (Cretácio-Terciário), que fo uma extinção em massa e que alterou a biodiversidade da Terra, a aproximadamente 65,5 milhões de anos, e que alterou a biodiversidade da Terra com a extinção de grandes animais como os dinossauros e répteis gigantes.
Assim descreve Chardin: “a célula, grão natural da vida, assim como o átomo é o grão natural da Matéria inoganizada. É cegamente a célula que temos de tentar compreender se quisermos avaliar em que consiste especificamente o Passo da Vida.” (CHARDIN, p. 84).
Mesmo sem conhecer “os limites da física relativística”, Chardin explica nossa diversidade se fundamentando nela: “devo reconhecer que a consideração de um meio dimensional onde Espaço e Tempo se combinem organicamente é o único meio que até agora encontramos para explicar a distribuição das substâncias materiais e vivas ao nosso redor” (CHARDIN, p. 87).
Foi Alexei Eryomin, em sua monografia Neogênese e a Teoria da Inteligência que atualizou o conceito de noogênese: “é o processo de desenvolvimento de sistemas intelectuais e de implantação dos mesmos no espaço ao longo do tempo” (Enyomin, 2022), conceito que não é contraditório com Chardin, conforme a citação anterior.
Assim Enyomin vai traçar a velocidade através da membrana de um organismo unicelular (de 10 graus metros por segundo), do citoplasma (2-10 a -5 graus por segundo), do organismo multicelular (0,05 metros por segundo) até o impulso de células nervosas humanas (100 metros por segundo, ligações quântico-eletrônicas dentro de uma população, e chegamos ao mundo feito como artefato humano onde a velocidades das ondas, correntes elétricas, luzes, vídeo ou opto-eletrônicas chegam a 3×10 a 8 graus por segundo (figura acima).
Compreender a biogênese, como uma certa sequencia de transformações regulares, inter-relacionadas, em processos espaços espaços-temporais ajuda-nos a compreender a vida e também a origem humana sem abolir o aspecto espiritual-metafísico que ela envolve.
CHARDIN, T. O fenômeno humano. Trad. José Luiz Archanjo, São Pualo, editora Cultrix, s/d.
ENYOMIN, A. L. Biophysics of Evolution Intellectuais Systems, Biophysics, 2022, Vol. 67, n. 2, pp. 320-326.
Cosmogonia, cosmológica e escatologia
Já desenvolvemos aqui a ideia de Kosmos na filosofia grega, que é um tempo que designa todo universo em seu conjunto, mas é também “ordem”, “beleza” e “harmonia” para os gregos, agora com potentes telescópios como o Hubble e o James Webb sabemos que há também um caos e uma desarmonia no universo, mas fica a pergunta mais profunda: como tudo começou?
Cosmogonias são um corpo de doutrinas, desde princípios religiosos e míticos até os científicos que procuram explicar a ordem e o princípio do universo em sua cosmogênese.
Na medida que o homem tornou-se mais sedentário procurou adaptar-se melhor a natureza para satisfazer as necessidades dos animais e plantas, precisando por isto olhar para o céu e entender as estações do ano para controlar melhor as plantações e pastagens para os animais.
Praticamente todas as civilizações (ou era civilizatórias) elaboraram suas cosmogonias, por exemplo, na civilização ocidental o modelo geocêntrico de Ptolomeu (a terra é o centro), passou para o modelo copernicano (o modelo heliocêntrico), agora com a potência do James Webb estamos olhando para as primeiras galáxias e isto é possível por que a luz que chega até nós já viajou vários anos luz, então estamos vendo uma imagem do passado.
Assim nossa visão da cosmogênese vai aos poucos se modificando, no momento por exemplo, o telescópio que trabalha com um espectro diferente da luz, o infravermelho, conseguiu avistar uma galáxia de 400 milhões de anos depois do big bang (se esta teoria estiver certa), o que significa 13,5 bilhões de anos atrás (foto), ou seja, estamos vendo quase nossa cosmogênese.
A cosmologia então se encontra cada vez mais próxima da cosmogênese e isto significaria uma visão das duas, mas ainda faltam as questões essenciais: de onde viemos e para onde vamos?
Falta assim uma visão escatológica, principio e fim, e uma questão já é certa, embora o planeta possa entrar em colapso e com ele nossa civilização, por ação de um cataclismo externo ou uma destruição de artefatos humanos: uma guerra, o próprio perigo de tantas usinas nucleares no planeta, lembremos o incidente de Fukushima em 2011 e Chernobyl, o planeta tem hoje 440 ativas e 23 em construção, além do arsenal militar em diversos países.
Em meio ao vento tempestuoso de nosso tempo, a cosmogonia cristã se ampara e espera na presença divina daquela leitura que diz (Mt 8,27): “Quem é este homem, que até os ventos e o mar lhe obedecem?” quando os apóstolos o acordam na barca por causa do tempo e oceano bravio.
Verdade entre a lógica e a onto-lógica
A verdade na construção ontológica dos gregos, existe algo inexorável ao Ser e isto os levava a crer que de alguma forma isto se configurava no num todo cosmológico, o “sumo bem” de Platão ou o “motor imóvel” de Aristóteles, não era apenas realidades físicas, mas também meta-físicas.
O physis para eles era para os filósofos pré-socráticos algo permanente, primário e fundamental e depois ficou elaborado como natureza, que incluía o “cosmos”,
Plotino, um neo-platonico vai estender esta realidade a Alma, que seria uma forma inteligível que pensa no interior do intelecto, no debate atual sobre a consciência em Inteligência Artifical, diríamos que é a sensiência, claro é preciso retomar no contexto de Plotino, afirma ele na Enéada VI, 4:
“E nós, o que somos nós? Somos aquele ou somos o que se associou e existe no tempo? Na verdade, antes de acontecer o nascimento, estávamos lá [no inteligível], sendo outros homens e, alguns, também deuses: almas puras e intelectos unidos à totalidade da essência, partes do inteligível, sem separação, sem divisão, mas sendo do todo (e nem mesmo agora estamos separados).”.
Assim o todo permanece, se não há em Plotino o Deus como conhecem as religiões monoteístas, há a ideia do todo que “se revestiu de nós e acrescentou a si mesmo aquele homem”, na continuidade do texto acima.
Santo Agostinho parte desta ideia para afirmar que a alma é “a presença de Deus no homem, e sua ligação com o Criador, a responsável pela semelhança do homem com Deus”, assim como associa a alma ao Uno, uma categoria também usada por Plotino, e nele o Uno é Deus.
É verdade que a modernidade abandona a ideia de Deus e ao dividir o pensamento em objetivo e subjetivo, torna secundário aquilo que se realiza na mente, no pensamento e na alma, em síntese na noosfera, e isto acontece também com o mundo religioso, conforme postamos ontem não basta dizer “senhor, senhor” é preciso uma ação que corresponda a determinada crença.
Mesmo em seu tempo histórico, para os que creem esta epifania continua, Jesus já perguntava aos seus discípulos “quem dizem os homens ser o filho do homem [eu ser]? ” (Mt 16,13), porque sabia que muito do que é como ser divino e atemporal seria confundido com aspectos terrenos e contextuais apenas, em tempos de crueldades e hostilidades é preciso repensar o que pensamos de eterno, de atemporal e que deixaremos de legado para toda humanidade.
Verdade e Noosfera
O conceito de Noosfera vem de Volodymyr Vernadsky (1863-1945) depois adotada e desenvolvida por Teilhard de Chardin (1881-1955), é a ideia de uma terceira camada além da Geosfera (camada inanimada) e da Biosfera (vida biológica) que desenvolve o pensamento humano, não apenas do ponto de vista do conhecimento, mas de tudo aquilo que motiva o Ser, as paixões, culturas e decisões que são tomadas e desenvolvem a maneira como nos relacionamos e convivemos em sociedade.
Porém desde que nos organizamos em sociedade o desenvolvimento cultural onde as camadas de estruturas e formas de repasse das culturas acontecem e se desenvolvem já formam uma camada de “pensamento” da sociedade.
Teilhard de Chardin, que além de paleontólogo era um padre jesuíta, elaborou que todo o universo está envolto com esta camada de “pensamento” e que ela está em constante evolução, o que valeu durante muito tempo algumas objeções por parte de religiosos.
Com o olhar no Google e também atentos a “inteligência” de mecanismos como o ChatGPT, o Bard da Google, o Bing da Microsoft e outros, leva necessariamente a uma discussão do que é Inteligência Artificial.
Já indicamos o livro de Jean-Gabriel Ganascia “O mito da singularidade” sobre a falsidade de algumas tecnoprofecias sobre a máquina ultrapassar a inteligência humana, pode-se ver também a recente entrevista de Miguel Nicolelis, um renomado cientista brasileiro, conhecido por suas pesquisas em neurociência.
Assim esta esfera do pensamento vive em constante evolução e as ferramentas e tecnologias são partes subjacentes a esta evolução, entretanto é preciso entender o que de fato elas são e como podem contribuir com a vida no planeta, é a colaboração da noosfera com a biosfera.
A verdade é aquela que se estabelece como realidade diante dos desafios humanos, muitas coisas estão fora do pensamento humano, como cataclismos e eventos em corpos celestes, porém é importante o desenvolvimento saudável desta esfera do pensamento humano.
Para Teilhard de Chardin, também a parte espiritual colabora e participa deste desenvolvimento, para ele todo universo é divino e cristocêntrico, ou seja, uma revelação de amor ao homem e a vida.
Sobre falsas profecias é bom lembrar a passagem de Mt 7,15: “Cuidado com os falsos profetas: Eles vêm até vós vestidos com peles de ovelha, mas por dentro são lobos ferozes”, mas é fácil de reconhece-los alerta a leitura: árvores más dão maus frutos.
Verdades temporais e eternas
A construção da ideia de verdade pelos gregos vem da aletheia, refere-se a automanifestação da realidade e dos seres ao intelecto humano, a palavra significa a-lethea (não oculto, não velado), este verdadeiro ou é evidente ou pode ser construído pela razão.
Essa construção deu origem a “episteme” para se opor a “doxa”, ou mera opinião dos sofistas, mas não perderam de vista o todo, que para Platão era o “sumo bem” e para Aristoteles o “motor Imóvel” e ambas ideias se aproximavam de Deus como é pensado pelos cristãos.
Assim o saber era visto como um todo, e o contingente era visto como acidental, incerto e duvidoso, que ocorre, mas opõe-se a verdade toda.
Aristóteles tinha a clássica diferenciação ontológica entre o contingente e o necessário para o Ser e essa relação antagônica exprime-se numa relação hierárquica entre a techné e a episteme, claro que aqui tem um significado histórico e contingente, mas ajuda a entender a técnica em sua gênese.
A técnica não possui fim em si mesma, ela está atrelada a finalidade humana, e por isso não é neutra, é instrumental e serve aos propósitos humanos.
Damos um salto para ao final da baixa idade média, em seu período pouco estudado e compreendido com a querela dos universais de Boécio (480- 524 d.C.) e estudos da linguagem do monge Alcuíno (735 –804 d.C.).
Boécio escreveu “A consolação da filosofia” porém é um fragmento de seus escritos que lhe deu fama, encontra-se na querela dos universais, a questão de saber se os universais são coisas ou meramente palavras, isto dará origem ao debate entre realistas e nominalistas até o final da ideia média, onde a ideia de verdade vai substituir o Eidos grego que significa cada Ser tem uma essência.
Em seu desenvolvimento ontológico Tomás de Aquino (1225-1274), explica assim Deus como ser necessário: “ser necessário é o ser que deve existir, que não pode não existir”, deste modo o argumento pode ser reescrito como: “A proposição ‘Deus existe’ é necessária” ou simplesmente “Deus é” puro Ser.
Mas a modernidade rompeu com a ontologia até a retomada de Hidegger.
Esta ruptura aprofundou-se na razão cartesiana, mediata pela física clássica e o fim da metafísica, unida a ideia de um saber universal abstrato e idealista.
A critica da razão pura de Kant (1724-1804), e o idealismo alemão com o ápice em Hegel (1770-1831) dão o contorno final a uma verdade abstrata e idealista, o alcance da cultura greco-cristão ocidental encontra seu fim e a verdade torna-se relativa, a episteme apenas um método de verdade neutra.
Revelação e desvelamento
Enquanto na filosofia, o desvelamento é a clareza atingida pela inteligibilidade metafísica ou ontológica, que não se restringe só pelos aspectos materiais, empíricos ou quantitativos da realidade, o desvelamento na teologia é a revelação e inteligibilidade pela fé.
Ambas buscam o conhecimento do todo, desde seu aspecto originário, passando pelos meios (os caminhos e métodos que propõe) até entender racionalmente ou pela “revelação” do conhecimento harmônico (elucidação) das verdades divinas ou aquelas contidas nas Escrituras (justificação).
Assim a Teologia, enquanto é o estudo que representa um esforço da razão (e também da espiritualidade) para maior compreensão daquilo que está dito por meio das Escrituras, porém é sempre re-velação porque o conhecimento divino é infinito, enquanto o humano é finito.
Assim a palavra des-velar (tirar o véu) é adequada ao esforço racional, porém sem o recurso da metafísica e da ontologia fica presa à re-velação, que é o conhecimento racional pragmático.
O esforço de compreender os novos dados do telescópio James Webb por exemplo, já está dando aos físicos e astrofísicos novas compreensões do universo, porém é cada vez mais difícil entender qual o momento inicial ou qual a substância inicial que ele se formou, a resposta parece ir para além de seus limites ao conduzir as hipóteses: sem este lá e não há início ou há outros multiversos além do nosso universo.
Assim o des-velar é aquele conhecimento que vai em direção à essência do que somos e para onde nos dirigimos e que leis ético-metafísicas nos governam e deveríamos obedecê-las.
Pois o des-velar pode nos indicar que mais que uma substância inicial (uma mónada primordial ou uma energia cósmica inicial) e que pode haver um Ser e uma intenção na criação.
Se o olho é a lâmpada de nosso corpo e nos re-vela a realidade, devemos ir além dela para des-velar os segredos da eternidade, pois o nosso conhecimento é limitado.
Esta sabedoria é aquela que afirma, na leitura bíblica que nós sabemos até quanto valem dois pardais, mas o divino (Mt 10,31-32): “Quanto a vós, até os cabelos da vossa cabeça estão contados. Não tenhais medo! Vós valeis mais do que muitos pardais.”
Há uma onisciência divina e mesmo que caminhemos por veredas o processo civilizatório prosseguirá.
Fenomenologia e o outro
O Outro não é uma categoria contemporânea, entretanto como que ela se realiza a partir da fenomenologia husserliana é algo inteiramente novo, não por acaso Heidegger, aluno e discípulo de Husserl pensou a ipseidade pensou o enraizamento da alteridade na própria “ipseidade” (Selbstheit) (o que diferencia um ser do outro, recusando-se a pensar o “si-mesmo” (Selbst) segundo as categorias da substância e da “identidade” (Identität), assim sua ontologia do Outro é inteiramente nova (dentro da filosofia).
Se queremos tratar da identidade, categoria própria de um período do individualismo e de pretensas totalidades finitas, podemos dizer que numa antropologia moderna mais atual, a “teoria” da identidade deve ser vista como dando ao Outro o aspecto “semelhante” enquanto “ser humano”, mas definido como “diverso” e “desigual” no conjunto de relações interétnicas, interculturais ou interreligiosas.
É este contato entre diversas culturas, religiões e até mesmo posições identitárias ideológicas, que está em jogo o processo civilizacional, não faltam “influencers” e grupos a incentivar um tipo de cultura em repulsa a outro, tratar o desigual e o diferente como “inimigo” e isto nem quer dizer que eles inexistam, numa guerra por exemplo, mas a negação do Outro.
Não faltam filósofos que trataram o tema, aquilo destacamos a fenomenologia de Husserl e suas influências: Heidegger, Edith Stein, destaco Paul Ricoeur (O si-mesmo como um outro) e Emmanuel Lévinas (Ética e infinito) e Hans-Georg Gadamer (Verdade e Método).
Mas também Habermas (O discurso filosófico da Modernidade e A inclusão do Outro) e Byung-Chul Han (A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje) que são muito bons para análise da comunicação e sociedade nos dias de hoje, mas sem uma visão clara do Ser enquanto Ser como na ontologia heidegeriana.
Reconhecer o Outro como tendo uma dignidade e merecendo o respeito, mesmo que em posições diferentes da nossa é o remédio para a falta de empatia nos dias de hoje.
Por onde resolver a crise civilizatória
Desenvolvemos durante esta semana a ideia que entre tantas sombras, ainda a luz e sal para dar sentido e vida ao processo civilizatório, é possível superar a cólera da guerra e o ódio das diferenças de opinião se introduzirmos na sociedade elementos novos de vida saudável.
Desde ONGs e voluntários que trabalham em campos de guerra, até pessoas que trabalham com determinação e autocontrole num cotidiano cada vez mais difícil e intolerante.
Não há regra geral, é preciso acelerar o processo diplomático para entendimento e superação de guerra, é preciso avançar um processo de educação de um homem integral que saiba lidar com diferentes fatores da vida social, incluindo as diferenças étnicas, políticas e religiosas.
O crescimento do círculo egocêntrico devido a ideologias e bolhas de círculos fechados, eles reforçam o pensamento individualista e grupal, pode ser alterado alargando os círculos de convivência e permitindo e dando pertencimento a grupos e pessoas excluídas.
Mas é preciso sobretudo fortalecer o tecido saudável, a pouca luz e o pouco sal que mesmo sendo pouco pode fazer a diferença e mudar ambientes, grupos e até nações inteiras lhes devolvendo a autoestima ao mesmo tempo que desenvolve a tolerância com outros povos.
O cenário trágico que se desenha pode ter seu curso alterado, porém é preciso primeiro salvar aquele tecido sadio onde ainda se respira o respeito, a tolerância e a paz social.
As religiões e os grupos sociais mais pacíficos e responsável, o descontrole preso ao ego é infantil como desenvolveu Freud, pode ceder lugar a relações maduras entre pessoas, grupos e povos.
Na passagem bíblica em que Jesus observa que as multidões estavam “como ovelhas sem pastor” (Mc 1,15) ele não apenas estimula os discípulos a ajuda-las, mas também lembra que que primeiro: “6Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel!” e diga que o “Reino dos céus está próximo” e ele não virá pela mão de poderosos e narcisistas, e sim da vida e da palavra destes seus seguidores.