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A ausência de Areté
As virtudes e formação educacionais gregas, através da paideia referia-se a formação total do homem grego, assim a Areté era este cume (traduzido como ideal, porém o ideal moderno refere- se mais ao dualismo subjetivo x objetivo do que ao Eidos grego, que está mais ligada a ter visão, dar-se-a-ver a realidade).
Assim estão visão total (para a época, mas menos segmentada que hoje), indicava um homem cidadão da polis com atributos virtuais (este é o verdadeiro sentido, vindo de virtus), que o colocavam em conjunto harmônico com as cidades-estados e seus estatutos.
Tanto na cultura, como principalmente na política de hoje, estes atributos estão pouco em falta, trata-se mais de construir uma narrativa que justifique todo poder brutal sobre o cidadão, assim as leis são feitas de modo a proteger a oligarquia no poder, é verdade também que na época dos gregos os que eram cidadãos eram limitados aos homens livres (haviam escravos) apenas.
O agravamento da bipolarização, onde não é possível a convivência tem uma vertente perigosa para os autoritarismos exclusivistas onde uma parte da sociedade deve ser segregada.
A areté está em falta, assim é impossível pensar em estadistas, líderes que pensem no conjunto da sociedade, porque sua cultura e conceitos estão fundamentados naquela parte que pertecem e arrogam em dizer que seu modelo é universal justificando assim sua barbárie.
Já na leitura dos históricos livros “Ilíada” e “Odisséia” registramos este ideal de areté como força, destreza e heroísmo dos guerreiros, qualidades que eram incomuns aos homens daquele tempo, assim é fato que na origem serviam também ao propósito da guerra.
Porem uma areté moderna que nos levasse a honestidade, ao espirito de diálogo, não a hipocrisia de falar apenas com os que nos convém, poderia nos levar a um novo eidos civilizatório.
Uma cultura que não ignore a história e o que há de bom e de lição através dela, uma visão da polis que ultrapasse o egoísmo partidário e o jogo de interesses, uma política que pudesse “ver”.
A cegueira mundana leva mais e mais o processo civilizatório ao colapso, a barbárie e ao ódio.
Somente uma areté moderna que leve os homens a uma cultura de paz, reverterá o processo civilizatório ao bem comum.
Entender, ver e crer
Não podendo ter uma categoria para-si que contemple o Todo, além do universo e seus mistérios, o Ser que antecede a tudo e a todos, a categoria de Hegel para-si volta a ser a que Sartre vê com a volta ao ser-em-si puramente humano e encontra o nada, ao invés de tudo.
Sim é mistério, como o próprio universo se revela, mesmo penetrando no mais profundo do nosso Ser só encontraremos tanto o próprio ser-em-si revelado como designo (no sentido de designer divino) se encontrarmos verdadeiramente o para-si, e neste caso como há um infinito mistério é preciso crer.
Mas não é um crer cego, ou puro fanatismo, nem mesmo um ato de altruísmo elevado, deve ser um encontro com o nosso próprio Ser, ali nos sentamos em uma confortável poltrona e entendemos que nascemos para edificar, crescer e amar, sem estas premissas, o inverso será perigo e quando levado a toda sociedade impera o ódio, a intolerância e ao final: a guerra.
Não é ameaça de um Ser divino que nos criou para a perfeição, é a ameaça daqueles que negam mais do que a necessidade de um Ser e um Saber supremo (Platão chamou de Sumo Bem), que não pode ser realizar senão na plenitude um puro Ser que é Ser-em, Ser-para-Si e ser-de-cima que se volta a humanidade.
Hegel passou perto de um conceito trinitário, mas o idealismo o impediu, já que há nele um dualismo intrínseco, que divide a objetividade (do ser-em-si) da subjetividade (do ser-para-si)
Esta dificuldade era marcante em Tomé que quis ver e tocar as marcas do corpo de Jesus Ressuscitado, também noutra passagem (um pouco esquecida) Felipe pede a Jesus que “mostre o pai”*, ao qual Jesus responde: quem me vê, vê o Pai.
O Jesus histórico não pode ser negado, não é um mito, nem um fato simbólico, ali estava um homem em-si, um Deus-para-si e um homem/Deus-de-si em relação com a humanidade.
*O trecho específico da Bíblia estão em João 14, 8-9: Disse Felipe: “Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta!” Jesus respondeu: “Há tanto tempo estou convosco, e não me conheces, Felipe? Quem me viu, viu o Pai.”
A questão da consciência do Ser
Graças a novo e surpreendente avanço das máquinas de inteligência profunda (deep learning) a questão da consciência, que já era pensada na filosofia, agora espalha-se por todas áreas do pensamento, e o que tratamos nos posts anteriores tratam disto também.
Agora trata-se de decidir se é possível pensar a consciência apenas como algo lógico e instrumental, então a máquina através de algoritmos profundos e elaborados em diálogo com humanos poderia alcançar este patamar, se algo além, que reformulamos na categoria para-si, então temos que pensar numa consciência do universo e ela não pode ser uma coisa, mas um Ser.
Porque há algo e não o nada é uma questão levantada desde Leibniz, que a resolve através da mônada, e Deus é (seria) a “Mônada das mônadas” (a frase é de Hegel, sic!), depois o universo foi colocando em movimento, depois num espaço-tempo quântico, o Big Bang, e agora o telescópio James Webb capta uma imagem que seria de uma possível origem do universo, com muitas galáxias, algo está errado.
Em artigo publicado na revista Nature em 22 de fevereiro, “A population of red candidate massiva galaxies 600 Myr after Big Bang”(Labbé at all, 2023) (Myr, milhões de anos luz) indica que próximo ao big bang já haveriam galáxias massivas e não as primeiras formações das nebulosas, por exemplo (ver nosso post), então será que já havia um universo em formação deste o início ?
Independente disto permanece a questão: quem o que ou que mistério envio o início de tudo.
Assim como não se pode falar da ética sem a metafísica, ela não é algo substancial e sim espiritual, também não se pode falar da consciência apenas como algo natural, baseada na experiência.
Partindo da fenomenologia husserliana, o seu discípulo Heidegger elaborou a consciência assim: fenomenologia (experiência) da consciência não é um caminho que se encontra ante a consciência natural e que a conduz em direção do absoluto, como um itinerarium mentis in deum (HEIDEGGER, 2007, p. 169), antes é o curso que segue o próprio absoluto no caminho à verdade do seu aparecer completo. (HEIDEGGER, 2007, p. 169)
Mas Heidegger segue como em todo o edifício moderno, tem a questão do saber como pilar da consciência natural, não admite uma consciência revelada transcendente (para-si), sendo assim um saber que ainda não realizou em si toda a verdade (HEIDEGGER, 2007, p. 169).
Assim trata-se de negar a verdade revelada como verdade, embora sua consciência permaneça ligada ao Ser (é ontológica como seu pensamento), não há possibilidade um puro Ser primordial, um Ser-para-si, onisciente e onipotente, então ficamos olhando para a imagem do telescópio.
Há uma para-si transcendente que envolve esta questão, e assim uma consciência que se projeta além até mesmo do início do universo, e que ao mesmo tempo é presente em cada ser-em-si.
HEIDEGGER, Martin. Hegel. Traducción de Dina V. Picotti C. Buenos Aires: Prometeo Libros, 2007.
O Ser, o Nada e o Outro
Completam 80 anos, em 2023, a publicação de o Ser e o Nada: ensaio de ontologia fenomenológica (1943) de Jean Paul Sartre (1905-1980), sob forte influencia de O Ser e o Tempo de Martin Heidegger, vai trilhar um caminho diferente de outros existencialistas que veem no Outro um significado especial que Sartre não vê.
Não por acaso dizia “O inferno são os outros!”, Sartre via diante da consciência humana uma “condenação” à liberdade, assim vê na consciência uma definição autocêntrica: “O homem não é nada além do que faz de si mesmo”.
É de tal forma autocentrado que seu romance com Simone de Beauvoir (1908-1986), após o falecimento de Sartre ela escreveu “A Cerimônia do Adeus”, em 1981, e quando morreu foi enterrada no mesmo túmulo de Sartre, no Cemitério de Montparnasse, jamais viveram-na mesma casa, ela que no seu tem o já bradava temas feministas (O segundo sexo, de 1949) e ele na sua concepção autocêntrica.
Eles sempre liam os trabalhos um do outro, e a influencia existencialista é clara em O Ser e o Nada, de Sartre, e A Convidada, de De Beauvoir, porém estudiosos recentes mostram que a escritora tem outras influências além de Sartre, como Hegel e Leibniz.
É importante nas categorias tratadas também por Sartre, analisar o em-si, de-si e para-si de Hegel.
A análise De Beauvoir sobre o Outro, vem desta influência de Hegel, onde a construção social da mulher como uma quintessência de “Outro”, indica que o “O” maiúsculo de Outros indica “todos os outros”, e isto indica tanto as mulheres, como Outro em outras religiões, culturas e etnias.
Em função desta posição distinta sobre o Outro (o seu inferno), e um agnóstico por excelência, Sartre vai dizer que no caso humano (e só no caso humano) a existência precede a essência, assim o homem primeiro existe e depois se define, assim se não há predefinição humana, não há Deus.
Ao menos um Outro sempre esteve presente na sua vida, a companheira e também filósofa Simone de Beauvoir, que não por acaso, não deixou de tratar diretamente o tema.
SARTRE, Jean-Paul. O Ser e o Nada: ensaio de ontologia fenomenológica. Tradução de aulo Perdigão. 13ª. Edição. Petrópolis: Vozes, 2005.
O que é agir diante da contemplação
Foi Hanna Arendt em sua análise da “Condição Humana” (1958 – original) que reagiu a ideia do “nivelamento da vita activa” (Han, 2016, p. 121), o “erro em crer que o primado da contemplação é responsável pela vita activa em trabalho” (idem) é que destruiu e hierarquizou o ser em função da substância.
Arendt define sua “vita activa” em três atividades humanas que não são iguais: trabalho (labor), obra (work) e ação (action) que compreende como fundamentais.
A primeira, aquela que a sociedade industrial consagrou e que tornou o homem aquilo que a autora chama de “homo laborans” é a pura atividade sem reflexão ou meditação, não é o mesmo que o trabalho porque ele é precedido do pensamento, não só o trabalho intelectual no qual o pensar é imanente, mas também tarefas diárias como cuidar da natureza ou cozinhar, por exemplo.
Sem a determinação do agir, o homem fica reduzido ao homo laborans e nisto Arendt tem razão, porém Byung-Chul a corrige: “mas Arendt, erroneamente, entende a contemplação como uma detenção (Stillegegung) de todos os movimentos e atividades, como uma tranquilidade passiva, que faz com que qualquer forma da vita activa se apresente como inquietação” (HAN, 2016, p. 122).
Byung-Chul reivindica Aristóteles que “descreve claramente a vita contemplativa (bios theoretikos) como uma vida ativa”, onde o pensar como Theoria é, com efeito uma energia – que significa literalmente “atividade em obra” ou “estar em obra” (en egô einai)” (idem) e assim a classificação de Arendt faz sentido, apesar do erro.
Assim deixamos para a parte final a importante ligação a ação (action) como parte da vita activa, que não se opõe, mas complementa a vita contemplativa, e põe Tomás de Aquino de acordo com Aristóteles: “os movimentos corpóreos externos opõe-se ao repouso da contemplação, que consiste em ser-se alheio a ocupações exteriores. Mas o movimento que as oeração da inteligência implicam faz arte do próprio repouso” (T. Aquino em Han, 2016, p. 122).
Assim, afirma embora Arendt perceba que a vida moderna se afasta cada vez mais da vita contemplativa, não se trata de abandonar o work nem o action, e sim pausar o tempo, a respiração e permitir espaço a contemplação, ao sabor, ao aroma e ao gosto da vida.
ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução de Roberto Raposo. 11a. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010.
HAN, Byung-Chul. O aroma do tempo. Trad. Miguel Serras Pereira. Lisboa: Relógio d´Água, 2016.
Sem tempo para Ser
Nem a pandemia, nem o Home Office, nem as séries intrigantes (pessoalmente ainda prefiro sair e ir ao cinema) tornaram os homens mais calmos, mais serenos e felizes, tudo precisa ser acelerado.
O “Aroma do Tempo: um ensaio filosófico sobre a Arte da Demora” (2016) não é senão uma contraposição a este estigma destrutivo de nosso tempo que culmina em desejos de exclusão do Outro, de ódio e violências sem fronteiras enfim de guerra cada vez mais cruel num horizonte sombrio, não há tempo para ser, apenas para Ter, Saciar o mais simples entretenimento, não só os games.
O ensaio publicado originalmente na Alemanha em 2007, Byung-Chul atualiza o que não apenas uma aceleração do temo como também uma crise temporal assentada numa dissincronia não só da realidade num sentido mais nobre e poético, cuja descontinuidade leva a algo sem rumo, ordem e impossibilidade uma síntese ou conclusão que permita perdurar em um “aroma” as nossas vidas, como deve ser entendida sua “demora”.
Cita e analisa “Marcel Proust “Em busca do tempo perdido” (1913) o que ele chama de “cristal temporal” o sua visão do tempo aromático: “horas silenciosas, sonoras, fragrantes e límpidas” (em HAN, 2016, p. 59).
Vive-se um temo de angústia temporal, parece que o tempo gasto escoa elos dedos e se perde.
Aquilo que é substancial e essencial em nossas vidas, essência e substância são as principais formas de dissincronia do nosso ser, são remetidas ou a um delírio angelical (falsa essência) ou a uma forma física escultural, decorativa e irreal (falsa substância).
Como deduz Byung-Chul: “pressupõe que a existência é histórica, que cada um de nós tem uma trajetória. O aroma é o da imanência” (HAN, 2016, p. 59).
Na filosofia e na prática a imanência é algo que tem um fim em si próprio, ao contrário da transcendência que algo ou um fim fora e superior a si próprio.
Tal é o nosso “aroma” perdido do tempo, contemplar te vivenciar o Ser-no-tempo como tendo um fim além, como finaliza e conclui em seu ensaio Byung-Chul a correção necessária: “uma ampla medida de fortalecimento do elemento contemplativo” (Han, 2016, p. 186).
HAN, Byung-Chul. O aroma do tempo: um ensaio filosófico sobre a Arte da Demora. trad. Miguel Serras Pereira, Lisboa: Relógio d´Água, 2016.
A Guerra e suas consequências
Já enfatizamos aqui, dando contornos de uma crise (anteriores a guerra) que esta se inicia numa forma de pensar o mundo e consequentemente a economia, a política e a sociedade como um todo, assim não se trata deste ou daquele mundo, mas de todos mundos em conjunto.
A econômica não está separada deles, no entanto é a mais sensível e a que mais é pensada em termos da imprensa e das mídias.
Os oligarcas da Rússia, aqueles que não migraram ou foram mortos em situações estranhas, lembro das notícias de Sergey Protosenya, encontrado enforcado na Espanha e Pavel Antov que caiu do terceiro andar de um prédio na Índia, oligarcas lá em geral não criticam o governo.
Entretanto em reunião do Fórum Econômico de Krasnoyarsk, em março na Sibéria, Oleg Deriaska declarou que a econômica ode aguentar pouco mais de um ano e que depois haverão muitas quebras, no Ocidente não é diferente, a economia Europeia e a americana já sentem os reflexos, como líderes mundiais dos países capitalistas, toda economia deve enfrentar sérios problemas.
A Departamento de Defesa americano, acaba de pedir um orçamento de 842 bilhões de dólares, aumentando os já altos 816 bilhões do ano anterior, que significa um aumento de 3,2% e uma perspectiva de guerra ainda maior no horizonte deste ano, e a economia já acusa sérios danos.
A tentativa de formar um terceiro bloco, do qual o Brasil é um dos protagonistas e Makron da França tenta ser outro, é um fogo cruzado, já que os dois lados querem adesões unilaterais, há analistas, como Rodrigo Ianhez, que afirma que os russos têm uma leitura da posição brasileira que é “superestimada” para uma posição bilateral, a China ao contrário é claramente unilateral.
Não há inocentes nestes fatos, isto é a ação política de nossos dias, confundir ou até distorcer os fatos, uma imprensa realmente séria, arte dela é chamada de imprensa investigativa, por ser independente, procura fazer este trabalho, mas até ali as vezes se encontram notícias suspeitas.
Ninguém é apolítico é claro, porém é preciso encarar a verdade através dos fatos que ela revela.
Se analisarmos as consequências de uma guerra, no aspecto econômico que gera mais pobreza e fome e os mais frágeis são os mais atingidos, começamos a ter uma posição séria diante da verdade.
Olhar as coisas do alto
Não são necessários milagres ou profecias para entendermos que mesmo nas realidades mais terrenas há coisas do alto, e elas respondem as realidades mais terrenas, sem elas não encontramos saídas e caminhos para uma vida plena, feliz e pacífica. É mais difícil pensar assim, mas é mais seguro.
Sem valores éticos, morais e responsáveis encontrar caminhos seguros para sair de conflitos, situações de insegurança ou de injustiça é quase impossível, pois um erro não corrige outro erro, e somente uma ação de amor e solidariedade resolve um conflito de ódio e divisão.
De divisão em divisão, de ódio em ódio, caminhamos num olhar apenas terreno sobre nossas dificuldades, não significa que devemos tirar o pé do chão e termos racionalidades nas decisões, significa que sem serenidade e atitudes sérias e proativas apenas pioramos o que está errado.
É comum mesmo em pessoas de boa vontade apelar para a violência e a força, ainda que o lado da justiça e da solidariedade seja o lado certo, agir com imprudência e crueldade tira o valor deste ato de força, o maior ato de força responsabilidade é agir com firmeza, educação e verdade.
Se estamos atribulados, ansiosos e sem equilíbrio não conseguimos encontrar o caminho da sabedoria, ouvir aquela voz interior do bom senso, da clareza e da verdade.
Também serve assim como para questões de justiça e direito para os verdadeiros valores culturais e religiosos, o uso do autoritarismo, que significa neste contexto falsa autoridade que muitos querem ter diante do cargo ou posição que possuem cometem o erro do argumento de autoridade e caem na armadilha fácil do poder em excesso.
Querem estar imbuídos de uma aureola de bondade quanto se investem contra as pessoas simples porém a graça de elevar os corações a valores do alto e retirar da situação difícil não é alcançada.
Para os cristãos uma das passagens mais significativas após a pascoa de Jesus que rememoramos a pouco na cultura cristã, é o episódio de Emaús em que enquanto Jesus caminhava entre eles e não percebiam, ainda ruminavam a morte violenta do Mestre, mas estavam cegos e não entenderam direito a vitória daquele que crucificaram.
Jesus pergunta: “o que ides conversando pelo caminho?” Eles pararam, com o rosto triste, e um deles, chamado Cléofas, lhe disse: “Tu és o único peregrino em Jerusalém que não sabe o que lá aconteceu nestes últimos dias ?” (Lucas, 24, 15-18) e deram sua versão terrena da pascoa.
E Jesus (ainda sem ser reconhecido) como explicar o sentido, já revisto elos profetas: “Será que o Cristo não devia sofrer tudo isso para entrar na sua glória?” (Lucas 24,26).
Aos poucos os corações deles foram se aquecendo e ao final entendem que estavam caminhando com o Mestre e depois pedem que fiquem com ele pois a noite chegava, mas Jesus desapareceu.
Não é preciso ter esta visão ou mesmo ter esta fé, é preciso escutar a voz do alto, dos valores sãos.
Se deseja a paz colabore com seus valores
Não foram poucos os tiranos que disseram que para manter a paz faça a guerra, isto é muito antigo que será difícil determinar seu autor, o filósofo contemporâneo Jean Paul Sartre disse algo importante sobre isto: “Quando os ricos estão em guerra, são os pobres que morrem”, atualizaria não há nenhum interesse nos mais fracos quando impérios se digladiam.
O livro Arte da Guerra de Sun Tzu (século V a.C.): “o verdadeiro objetivo da guerra é a paz” é em si já uma frase paradoxal, os três tipos de paz sobre este conceito historicamente foram desmascarados: a pax romana era a submissão dos vencidos, a paz Eterna kantiana supunha um equilíbrio interno entre os três poderes republicanos, o equilíbrio entre as nações e o respeito a direitos humanos, basta ver o quadro internacional atual em que estes pressupostos foram violados e não garantiram a paz. O terceiro é a paz de Vestfália (1648) de tolerância religiosa.
É de Sartre também a frase: “nunca se é homem se não se encontra alguma coisa pela qual estaria disposto a morrer” e certamente para ele não seria a guerra, talvez algo valor do Alto, já que não disse “alguém pelo qual estaria disposto a morrer”.
Estaríamos dispostos a morrer para pedir paz e um progresso sustentável dos povos, sem valores que edifiquem este edifício, Edgar Morin diz de certa forma até utópicos, não criamos um modelo duradouro e sustentável de paz que não nos coloque em novas encruzilhadas e armadilhas.
Uma utopia é realizável se pensar que sem ela não estamos trilhando um caminho seguro, estamos sentados em um barril de pólvora, não só as armas nucleares, como também o número de usinas nucleares em todo globo, mais de 440, lembremos que Fukushima foi um desastre natural e Chernobyl foi um descuido humano.
Assim não só a guerra, como o desenvolvimento de tecnologias e equipamentos que não foram criados para destruição, mas sem códigos e valores éticos, morais e sociais realmente altruístas, não caminharemos para uma paz duradoura e seguro, primeiro é preciso desarmar as bombas.
Não alimentar nenhum tipo de ódio (onde há inimigos há dois lados), voltar a discussão séria sobre as armas e uso de energia atômica, controle ambiental seguro e durável, enfim a pauta é extensa para perdermos tempo com ódio improdutivo e que trabalha no sentido oposto.
A arte, a consciência e o divino
A arte é uma expressão da alma humana, “diz indizível, exprime o inexprimível, traduz o intraduzível” é a frase atribuída a Leonardo da Vinci, sem ela não expressamos humanamente o belo e não nos opomos a visão destrutiva e redutiva do simples olhar só do que vemos.
A humanidade construiu aparelhos para ver e sentir cada vez mais longe, o telescópio James Webb está nos fazendo olhar e estudar o mais profundo do universo, mas um universo inteiro existe em cada alma humana e mesmo o aparato tecnológico mais avançado pode traduzi-la ou imitá-la.
Este sim é o grande delírio humano, o mito da inteligência maquínica que ultrapassaria a humana, chamado de ponto singular, o desejo de vida eterna transportando sentimentos humanos para as máquinas, o delírio humano construiu tecnologias avançadas o que é bom, mas imaginá-la como dotada de alma e emoções humanas é um delírio daqueles que não acreditam que no mistério do infinito universo há uma consciência de um Ser e não de rochas e compostos químicos.
O fato que nos confundimos no curso da história reduzindo-a ao subjetivismo idealista não é digno do percurso humano, nem mesmo da ciência que para Edgar Morin é preciso retornar ao ponto em que enxergamos e admitimos a incerteza, afinal é este um dos princípios quânticos.
Recentemente uma Teoria da Informação Integrada (ITT) termo criado por Giulio Tononi, criou a ideia que era possível calcular um número “phi” representando a conectividade das redes, seja o cérebro, um circuito ou o átomo, agora esta ideia avançou e cientistas afirmam que é possível calcular este “phi”,
A pesquisadora e cientista cognitiva Susan Schneider, afirmou a New Scientist: “eu acredito que a matemática pode nos ajudar a entender a base neural da consciência no cérebro, e talvez até de máquinas, mas inevitavelmente deixará algo de fora: a qualidade dessa experiência, sentida internamente”.
Para os cristãos, até mesmo os discípulos era difícil acreditar no que viam depois da ressurreição de Jesus, foram ao túmulo e viram “um jardineiro”, caminharam para Emaús e não perceberam que o acompanhavam e por fim Tomé queria “tocar suas chagas” para acreditar.
Na passagem João 20,27 Jesus diz a ele: “põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel”, aos que creem isto é um fato.