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Então é Natal (Mururoa)
Assim começava uma música inglesa, em uma versão brasileira da cantora Simone da letra original de John Lennon e Yoko Ono e em seguida uma pergunta: “e o que você fez?”, gostava da música, mas a letra me soava estranha porque depois de usar uma expressão mística dos indús.: “Harehama” ela fazia uma provocação com Hiroshima e Nagasaki, das bombas atômicas, e depois ainda de Mururoa que é uma ilha da Polinésia, que na tradução do maori significa paciente.
Recentemente, isto uns 11 anos atrás, quando aconteceu o incidente de Fukushima, o tsunami que afetou a usina atômica do Japão, eu comecei a entender e só agora com o perigo nuclear da guerra do leste europeu o sentido se completou, não podemos falar de paz num mundo minado por ódio e bombas.
Sim, as esperanças se renovam, mas agora em meio a desconfianças, é como se saísse um véu de nossas vistas (no meu caso literalmente porque já operei uma das vistas), e um mundo claro se apresentasse, claro porém cheio de dúvidas e conflitos.
Diria que é uma Natal de Mururoa, da paciência que espera e que tudo alcança, porém apreensiva e preocupada.
Este é um pequeno texto que consigo escrever ainda em meio a recuperação das vistas, feliz Natal aos que creem, paciência aos que entendem a situação presente e que os espíritos de guerra e de ódio se desarmem.
A luz existe, é preciso que uma simples vela seja acesa, e o Natal é luz.
O Natal na China
O Natal tem conotações diferentes em todo mundo, a ideia de uma data para o nascimento de Jesus é a comemoração de um Deus que se fez carne, que esteve entre nós e pelo capricho divino nasceu justo em uma data de recenseamento para que fosse contato entre os homens, e no vilarejo de David para onde José e Maria foram porque os recenseados deveriam estar em suas cidades de origem.
Também se cumpriu a profecia (Isaías 11:1-16) “virá um descendente do rei David, filho de Jessé, que será como um ramo que brota de um toco, como um broto que surge das raízes” e também uma profecia mais incrível ainda que uma virgem conceberia (Isaias 7,14): “por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal, uma virgem conceberá e dará a luz um filho, e o chamará “deus Conosco” “, indicando a forma da vinda de Jesus.
A tradução da palavra moça como virgem é contestada em algumas crenças cristãs, porém o texto é claro que Maria diz não conhecer homem algum (Lc 1,34) e José se afasta dela para não denuncia-la conforme dizia a lei judaica para mulher adultera, e depois retorna aconselhado por um anjo, nenhum destes fatos é coincidência pela sua originalidade e sim todos são providência para que os homens pudessem crer.
O Natal na China não é uma data oficial, outras festividades como o Festival da Primavera ou o Ano Novo Chinês são bem mais comemorados e lembrados, porém na cidade de Yiwu, por produzir produtos natalinos para todo o mundo é vista como onde é Natal o ano inteiro, inclusive com as luzes e decorações típicas de todo mundo, nos últimos dez anos o Natal começou a ganhar popularidade, mas longe de ser uma data onde o nascimento de Jesus seja comemorado, é o tradicional período consumista ocidental que chegou também lá com as grandes empresas que hoje são internacionais de automóveis e eletrodomésticos.
Porém na cidade de Macau, que tem origem e influência portuguesa até os dias de hoje, por exemplo, os nomes de ruas estão em chinês e português, algumas lembranças do Natal verdadeiro é vista por lá, como o presépio da Vila Coloane de Macau (foto cortesia de um amigo).
Estarei operado da vista estes dias e impedido de usar notebook, então deixo a mensagem de Natal de esperança em um mundo de paz, que os homens retornem ao caminho difícil da porta estreita por onde passam o Amor, a Misericórdia e a Esperança, um mundo mais justo, mais fraterno é possível se os homens se desarmarem e se derem as mãos.
O maior de todos sinais
A maioria daqueles que não acreditam num sersuperior pensam “se Deus é vivo porque não nos manda um sinal”, também a passagem do rico que tinha o chagado Lázaro sempre a sua porta, pediu a Jesus que mandasse um sinal a sua família, para saberem que Deus existia, e Jesus lhes respondeu: “eles tiveram os profetas e não acreditaram”, mas é claro que falam de um sinal visível concreto.
Também a leitura daquele tempo dizia (1Cor, 22-24): os gregos querem sabedoria (seriam os cientistas de hoje) e os gregos querem sinais (seriam os religiosos de hoje), mas a loucura divina é sabedoria e as coisas fracas são as fortes divinas (dor, compaixão, humildade, simplicidade, etc.), não é como o raciocínio meramente humano.
Não há maior loucura de um Deus querer reduzir-se a homem para resgatar a todos, incompreendido e sem acolhida nasce numa manjedoura e morrerá na cruz, o apóstolo Paulo diz orgulho dos cristãos (só dos verdadeiros é claro) e escândalo para os homens, será ele o adulto do mesmo menino que nasce numa manjedoura e depois tem que fugir para o Egito para evitar a matança de (quadro de Guido Reni (1611/12) ).
Herodes estava confuso porque imaginava (como muitos hoje) que ao falar que ia nascer o rei dos Judeus, imaginava que este lhe tiraria o trono, e queria mata-lo desde o nascimento, não tendo o encontrado ele manda matar todas crianças que ainda são de colo, mas Maria José e o menino haviam fugido para o Egito.
Assim não foi apenas um sinal visível, foi também um sinal humano, diz a Leitura de Mateus (mt,1,22): “tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: “eis que a virgem conceberá e dará à luz a um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa Deus está conosco”, mas José que tendo se afastado de Maria por causa deste grande sinal é avisado pelo anjo e lhe dá o nome do menino de Jesus.
Poderiam haver ainda mais sinais em nossos tempos, alguns místicos acreditam que sim, porém ele será precedido de muito sofrimento, assim como a revelação de Jesus que descrevemos, e depois virá a clareira.
O que procurar e onde encontrar
Não se pode esperar que uma árvore má dê bons frutos, mesmo aqueles queprocuram a verdade e a sabedoria, procuram para dar vazão as compulsões de poder, de riqueza ou de prazer temporário.
Há enorme quantidade de literatura disponível e já penetrou no senso comum a lei da atração, técnicas de poder e de enriquecimento, fórmulas mágicas de felicidade e de juventude, etc.
O problema central permanece se não se procura onde de fato pode-se tirar sabedoria, poder para servir mais e melhor aqueles que nos são próximos, riqueza e felicidades plenas e não temporais.
É fácil perceber o fruto destas árvores de falsas felicidades, de podres poderes e de prazeres passageiros que se transformam em desespero e infelicidade, eles estão expostos entre os ídolos atuais, entre as festas e orgias que tem até mesmo altos patrocínios, a descaso com o dinheiro público, a justiça para os poderosos e a infelicidade para a imensa maioria da população, que é muitas vezes tragada pela má propaganda enganosa.
Pode-se desfilar inúmeras falsas sabedorias, porém duas me chamaram a atenção sobre técnicas de poder:”todos os meus desejos se realizam”, sim a que custo é necessário pensar, “minha rotina é sempre próspera”, não há momentos para pausa e para desfrutar o que prosperou então a prosperidade é um fim em si mesma e não trará felicidade, descanso, contemplação e estado elevado da alma.
A questão central que precisa ser respondida é de onde vem todas estas falsas promessas, que até podem se realizar, porém de maneira temporário, elas implicam no enriquecimento a qualquer preço, na soberba confundida com autoestima, na falta de autocrítica, e quando se busca de fato em lugares coretos, o que se busca ali se não for uma verdadeira ascese, com o tempo cairá por terra e virá a decepção.
Estamos no tempo do Natal, poucos procuram a felicidade de fato, é certo é um período que aumenta a fraternidade, o acolhimento e as boas intenções, porém o que de fato queremos ao final desta busca.
Diz a passagem bíblica, que começamos no post passado, os discípulos foram pergunta a Jesus se de fato era ele, depois o mestre corrige perguntando o que foram buscar no deserto, já que eram discípulos de João Batista (Lc 7, 24-27): “depois que os mensageiros de João partiram, jesus começou a falar sobre João às multidões. “Que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? Que fostes ver? Um homem vestido de roupas finas? Ora, os que se vestem com roupas preciosas e vivem no luxo estão nos palácios dos reis. Então, que fostes ver? Um profeta? Eu vos afirmo que sim, e alguém que é mais do que um profeta. É de João que está escrito: ‘Eis que eu envio o meu mensageiro à tua frente; ele vai preparar o meu caminho diante de ti’.
Não basta procurar no lugar certo é preciso saber o que de fato se procura, se são coisas passageiras, muitos sãos os lugares, se são coisas verdadeiras poucos e é preciso ter a questão certa da procura.
O escândalo do Natal
Pode-se pensar apenas em escândalos negativos: de corrupção, de imoralidades ou guerras, mas não há maior escandalo do que um Deus se tornar mortal e vir ao mundo por um nascimento normal.
Não é só o fato que nasceu, mas de maneira simples, num momento em que se fazia um recenseamento e isto é importante porque foi contato entre os mortais, com uma forte perseguição de Herodes que ouvira dizer que nasceria o rei dos judeus, e pensava em um poder humano, o que significa que perderia o seu poder dado pelo Império Romano.
Além deste escândalo de um Deus que se rebaixa em vem habitar a terra dos mortais, a sua vida será marcada por muitos fatos extraordinários, curas, desvios ao poder religioso estabelecido pelos judeus, ainda que fosse eles o povo prometido, afinal Jesus nasceu judeu, filho adotivo da descendência de David por José e de sua mãe a judia Maria.
Muitos eram os profetas daquele tempo, e muitos se proclamaram o messias, e até mesmo entre os mais próximos de Jesus continuavam as dúvidas sobre quem de fato era ele, o próprio Jesus pergunta aos seus discípulos quem o povo pensa que ele é quem os discípulos pensam que ele é, de fato não e ‘algo simples de acreditar, é um escândalo um Deus que se torna mortal.
Até mesmo João Batista que é o último profeta, e aquele que anunciava a vinda do Salvador, manda seus discípulos perguntarem pessoalmente a Jesus se de fato ele é o que todos esperam naquele tempo.
A resposta de Jesus é com fatos (Lc 7,20-23): “Ide contar a João o que vistes e ouvistes, os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a boa nova é anunciada aos pobres”, é feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim!”.
De fato hoje não é mais escândalo, predomina a indiferença ou o desprezo, até mesmo dentro de cultos e templos há uma certa normalidade e confundem a cultura cristão divina, com a mundana, o escândalo é mesmo os que dizem crer inventaram um Deus tão humano, que não é mais aquele que veio ao mundo (um advento), mas um período normal de festas e alegrias passageiras.
Mais que profecias e milagres
O tempo de dor e sofrimento é prenuncio de um tempo de graça e grandes mudanças, porém elas não podem vir sem uma mudança de mentalidade, se os homens não mudam, o que muda é aparente.
Este sentimento está no ar e vai de incitações a guerra, ao ódio e a violência até falsas profecias e milagres que não há neles nada de religioso ou divino, o que virá então, .que se espera deste Natal, deste advento?
Embora no nascimento do menino-Deus muitos desconfiavam de uma vinda daquele que estava prometido ao povo judeu, muitos também eram os profetas e que se auto anunciavam como o salvador, também como hoje no campo político devido a opressão do império romano, mas a surpresa foi grande embora as leituras da época anunciavam exatamente como ele viria, indicando até o local que era Belém.
Assim se esperamos mudanças e elas certamente virão, não será como pensa a maioria dos homens, dos sábios e profetas, mas do modo como age a divina sabedoria, que espera as ilusões humanas passarem.
Os discípulos de João Batista, embora ele anunciasse a vinda de Jesus, e a necessidade urgente de mudança, principalmente da mentalidade religiosa da época, também tinham dúvidas, e o próprio João, que estava preso manda os seus discípulos perguntarem a ele quem era de fato Jesus, e se era de fato o prometido.
A resposta de Jesus corrige a mentalidade humana dos discípulos de João: e a primeira resposta é uma pergunta (Mt 11,9): “Então o que fostes ver? Um profeta? Sim, eu vos afirmo, e alguém que é mais do que profeta. 0É dele que está escrito: ‘Eis que envio o meu mensageiro à tua frente; ele vai preparar o teu caminho diante de ti’. 11Em verdade vos digo, de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele”, para fazer entender que o anuncio é além das evidencias e visões meramente humanas dos fatos.
No nosso tempo é necessário mais que explicações e realidades mundanas, que são importantes, mas limitadas, não há nelas a verdadeira clareira que pedem até mesmo filósofos e pensadores profundos, a maioria paira numa cultura rasa e mudança, onde é difícil alcançar realidades realmente superiores e necessidades de uma humanidade à deriva e com enormes riscos civilizatórios.
Para bons leitores, a leitura do trecho que indicamos é claro nos versículos anteriores, diz Jesus aos discípulos de João (Mt 11,4=6): “Jesus respondeu-lhes: “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: 5os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados. Feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim!” e claro isto é mais que milagres e demonstrações de ‘poder divino”, não é assim que o divino age, e sim com a clareira e a verdade, mesmo que escandalize alguns.
Aos que não creem resta dizer que a ação divina é além da humana, age no extraordinária, não age como paliativo a dor, mas a sua eliminação completa, porém vem depois da dor e do sofrimento da cruz.
Cegueira e novos caminhos
A maior de todas as cegueiras pessoais é o ódio, e a maior social é a guerra, nela os homens perdem a razão e se tornam fanáticos.
É comum em tempos de crise e poucos conhecem e defendem de fato o caminho da serenidade e da sensatez nestes momentos, a polarização e a guerra eram indícios, recorrer ao autoritarismo e ao descaminho social é a consequência.
A limitação física visual me fez ter o exato sentimento do que significa isto, primeiro reconhecer a própria cegueira e depois saber como caminhar com ela e aceitar os limites recorrendo a cura.
Socialmente não é bem assim porque as narrativas fazem os homens crerem no que dizem e falam e naquilo que imaginam enxergar, já postamos aqui do ensaio de Saramago e de outras cegueiras, também o seu significado em torno da pandemia.
O rumo social de uma sociedade em desiquilíbrio e sob tensão é sempre preocupante, porque nem sempre a sensatez vence, lembremos das duas guerras e os seus desastres humanitários e de outras pandemias.
A liturgia cristão neste tempo natalino não fala apenas do advento do menino Jesus, fala também da Parusia, ou seja, de um novo advento, onde também diz que haverão cortes e mudanças (Mt 3,10): “O machado já está na raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto será cortada e jogada no fogo”, ou seja, a raiz de todos males e desavenças.
Em termos religiosos é pedida a conversão, a mudança de rota, em termos sociais é preciso reconhecer aquilo que não está no caminho da esperança e do amor, e cortar pela raiz pois é a única forma de mudar.
Nem tudo que reluz é ouro
Quem proclama ou ouve falar em mudanças, pensa em valores e situações imediatas que indicam benefícios terrenos e não caminhos retos e novos que levem a uma ascese superior, então não é este o tempo que virá, não é este um novo advento.
Mudanças estruturais implicam em mudança de mentalidade, em termos religiosos significam conversão, não para esta ou aquela determinada posição e sim para uma nova ascese moral e social.
As palavras muitas vezes são ditas para convencer os homens, mas não significam que se fato há coerência naquilo que se diz, em termos atuais significam construir narrativas para favorecer interesses pessoais.
Assim como nem tudo que é novo é revolucionário, e diz o adágio popular nem tudo que reluz é ouro, também para os que creem nem todo aquele que se diz religioso está de fato mudando de valores.
A leitura ao pé da letra é (Mt 7,21-24): “nem todo aquele que diz Senhor, Senhor entra no Reino dos Deus, mas o que põe em pratica a vontade do meu Pai que está nos céus. Portanto, quem não ouve estas minhas palavras e as põe em prática, é como um homem prudente que construiu sua casa sobre a Rocha”.
Quando de fato as mudanças começarem a acontecer, os tempos de crise sempre indicam isto, também as consciência serão iluminadas, entrarão numa “clareira”, porém por hora tudo é confuso e incerto, cada qual quer prevalecer seu ponto de vista, e assim se opõe de modo fanático ao que considera oposto aos seus interesses, porém um novo advento se anuncia.
Mais do que palavras proféticas ou apocalípticas são condições e estruturas necessárias a um novo tempo social,, moral e espiritual, tudo está imerso em conflitos de grupos de interesse e política imediatista.
Assim enquanto se arruma a casa, tudo parece revirado e incerto, e de fato o é, mas ao reorganizar se verá quanta sujeita e desarrumação havia por organizar, e não será como a “antiga” casa.
O que está fora do s eixos
Em muitas épocas de transformações o ambiente confuso e decadente induz a raciocínios e temperamentos irascíveis e dão vazão aquilo que os filósofos chamaram de pulsões ou se quisermos simplificar tendência para o que é mais fácil, mais útil e mais prazeroso, sem se preocupar com as consequências.
Este tipo de impulso pode ser aquilo que em língua inglesa é chamado de “drive” (direcionar) ou em alemão trieb (tanto no negativo trieben deriva, como positivo. Triebende força motriz), assim é possível, numa leitura bastante liberal, ver estes valores como positivos, porém historicamente foram sinais de decadência, como no auge do Império Romano ou no final da Idade Média, o desajuste da moral social era claro.
Porém em todos estes tempos sempre houveram reações políticas, intelectuais e sociais a esta decadência, e com isto a história caminhou e alguns problemas se resolveram, total ou parcialmente, por exemplo, o Império Romano vi morrendo aos poucos com a libertação das colônias, já o período do liberalismo e do antropocentrismo do final da Idade Média, deu origem ao liberalismo econômico que levou a construção de novas colônias na África e na América e com isto novas formas de decadência política e social se prolongaram até a Revolução Francesa, por exemplo, e no caso inglês a convivência da monarquia com a república.
Um novo ciclo de decadência se abre nesta segunda década do milênio, sendo visível a queda de valores sociais e morais, onde a política não é um caso a parte.
Assim aparecem homens e mulheres capazes de lutar para reverter o quadro histórico de decadência, porém sem uma análise profunda o quadro é confuso, enquanto as ideias podiam ser propagadas em círculos menores nos períodos anteriores, agora elas percorrem o mundo em fração de segundos e invadem até mesmo países fechados, como o Irã (há uma revolta pelo direito das mulheres) e na China (onde o rigoroso confinamento por causa da Covid provoca protestos), porém o pano de fundo é uma reorganização social.
Numa pequena colônia da Judéia, num período de muitos falsos profetas e de rebeliões contra o império Romano, havia uma figura religiosa chamada João Batista, que desafiava os poderes e governadores, Herodes o temia não por ter um exército ou porque o povo o seguia, mas pelas duras palavras que tinha.
As lições de João Batista valem para nosso tempo: endireitar as veredas e aplainar as colinas, ou seja, buscar caminhos retos que ajudem as mentes e forças abertas a reorganização social caminharem.
Mudanças na terra e no céu
Pouco se analisa as grandes mudanças sociais na história da terra e na vida humana, a terra veio muito antes da vida humana, também representaram a visão do homem sobre o universo e seus mistérios, e assim há uma correspondência entre mudanças terrenas e sua correspondente cosmogonia, se isto é só uma coincidência ou uma providência divina depende da própria cosmovisão, mas ela se alterou é certo.
Assim a visão d cosmos no início da Antiguidade Clássica é tão evidente quanto o nascimento da polis grega e suas consequenciais para o mundo moderno, Aristarco de Samos (310 a.C. — 230 a.C.) chegou a calcular o raio da Terra muito antes da circo navegação (Fernão de Magalhães 1512), e também no final da Idade média a Ideia do Geocentrismo ptolomaico cedeu ao heliocentrismo copernicano e a mudança do feudalismo para o liberalismo moderno pode ser vinculada a esta mudança de visão astronômica.
Em tempos atuais inicialmente o Hubble e agora o James Webb tem feito o homem olhar para os confins do universo e já se inicia até mesmo uma mudança na modernidade teoria da relatividade, os buracos negros e os caminhos de minhoca (hormholes) mostram um universo em maior mutação do que esperávamos, nascem e morrem milhares de galáxias por todo universo e nosso sistema é apenas um grão de areia.
Talvez a grande revolução seja a mudança da concepção de tempo, podemos olhar para o nascimento do Universo (veja nosso post sobre o locus divino) que pode não ser chamado de eternidade, porém é mais do que simples dimensão absoluta de tempo e espaço, e talvez seja mais do que a dimensão espaço-temporal de Einstein.
No caminho bíblico Adão e Eva surgem num momento em que o homem já é sedentário e não mais nômade, já que Caim era lavrador da terra e Abel pastor de ovelhas, quem sabe a morte de Caim foi o primeiro conflito de terra da humanidade, o certo é que este fato está vinculado a uma visão de mundo nova sedentária, assim como Noé corresponderá a um dilúvio, ou quem sabe uma simples inundação ocorrida na península arábica, já que ela fica abaixo do Negro, onde observamos o estreito bósforo, caminho de mar entre o Mar Negro e o Mar Mediterrâneo.
Assim o tempo de Noé pode ter significado uma mudança geográfica pelo menos naquela região do planeta que implicou na transformação ocorrida mais abaixo entre os rios Tigre e Eufrates, berço da civilização árabe, e se não há registro histórico de Noé, há de sua descendência: os semitas, de seu filho Sem, que povoara a região.
Assim ao falar das transformações que passariam céus e terras, a leitura bíblica de Lucas (Lc 24,37-39): “A vinda do Filho do Homem será como no tempo de Noé. Pois nos dias, antes do dilúvio, todos corriam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. E eles nada perceberam, até que veio o dilúvio e arrastou a todos. Assim acontecerá na vida do Filho do Homem”, a segunda vinda chamada de Parusia.
A grande crise civilizatória não deverá ser assim apenas uma mudança de estrutura social, mas ela certamente acompanhará uma mudança física no planeta, já que suas forças ambientais estão se esgotando.