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O lugar do homem na natureza
A terceira citação importante na Introdução do livro A natureza da NATUREZA é a citação de São João da Cruz, feita por Edgar Morin: “Para alcançares o que não conheces, deves seguir o caminho que não conheces”, por isto é preciso um epoché, uma total suspensão de juízos e conceitos.
Edgar Morin explica que a primeira “cristalização” do seu trabalho foi feita no livro Le Paradigme perdu (O paradigma perdido, de 1973), diz ser uma gestação prematura do seu método, ali “esforça-se por reformular o conceito de homem, isto é, de ciência do homem ou antropologia” (MORIN, 1977, p. 14).
Depois de contestar a tríade ciência Ʌ política, Ʌ ideologia, onde um dos três termos é absorvido pelo outro, vai criar outra tríade do indivíduo, partindo de Edward Sapir (Antropologie) que afirma que é absurdo separar o homem no individual e no social, ele acrescentará o biológico, para penetrar na natureza, e sua tríade é então o homem como um conceito trinitário [indivíduo Ʌ sociedade Ʌ espécie], “no qual nenhum termo pode reduzir ou subordinar o outro” (Morin, 1977, p. 14) e a partir daí vai elaborar seu conceito de complexidade.
Retomando sua questão: “Que significa o radical auto de auto-organização?” (idem) responderá que “ela reinstaura a problemática da organização viva”, a segunda “Que é organização?”, responderá introduzindo o conceito de antropossocial que complementa o conceito do físico, que não pode se limitar a química nem sequer a termodinâmica (a entropia é um conceito na desorganização) e por fim sua grande questão “O que é complexidade?” e isto significa que há uma ordem/desordem no desenvolvimento da natureza viva em um aspecto antropossocial.
Isto é importante porque coloca ele destacado no livro: “A realidade antropossocial projecta-se e inscreve-se precisamente no cerne da ciência física” (p. 15), o tema é longo, mas sendo sucinto: “O grande corte entre as ciências da natureza do homem oculta, simultaneamente, a realidade física das segundas e a realidade social das primeiras” (idem).
Assim toda realidade social depende de um modo da ciência física, e esta depende de certo modo da realidade antropossocial, o autor pergunta qual e procura responder em todo livro.
Também o teólogo e paleontólogo Teilhard Chardin procurou desenvolver no seu livro “O lugar do homem na natureza” esta crescente complexificação que vai das primeiras células até o homem, e para ele, seria este o resultado da complexificação geral das leis físicas e química da natureza.
Morin lembra o drama de nosso tempo, depois de discorrer sobre os ganhos científicos pelos métodos cartesiano/enciclopedistas partindo da célula e da molécula até os quasares, os pulsars, chegando ao DNA, porém “o homem fragmenta-se: aqui fica uma mão-no-instrumento, ali uma língua-que-fala, algures um sexo salpicando um pouco de cérebro” (p. 17).
Faz uma citação de Rebelais: “Ciência sem consciência não passa de ruína da alma” (idem).
MORIN, E. A natureza da NATUREZA. Lisboa> PUBLICAÇÕES EUROPA-AMÉRICA, LDA., 1977.
O que é natural e a possibilidade de conhecermos
O problema de conhecermos o mundo (natural e não o cultural, este é o que temos) deve partir de uma premissa de desobstrução de nossa mente de convicções culturais, a maioria idealistas, que nos cegam sobre a possibilidade de entender que não dominamos a natureza como propôs o iluminismo, e pior, corremos o risco de destruí-la e colocar a civilização em cheque.
Citar Edgar Morin na epígrafe da sua Introdução Geral do livro “A natureza da NATUREZA”, a segunda em maiúsculas mesmo no original, no sentido que ela é ainda mistério para nós, e contém mistérios que nos afetam, como provou a atual Pandemia que ainda nos interpela.
Edgar Morin na abertura do primeiro capítulo: “O espírito do vale”, cita Karl Popper: “Pessoalmente julgo que existe pelo menos um problema… que interessa a todos os homens que pensam: o problema de compreender o mundo, nós mesmos e o nosso conhecimento enquanto parte do mundo”, assim este conhecimento não é definitivo e nem é eterno, na medida que tudo evolui e é perecível.
Para introduzir estas convicções faz uma segunda citação de Jacob Bronowski: “O conceito de ciência não é nem absoluto nem eterno”, e fará uma terceira que fica para o próximo post.
Faz um início de 5 convicções que o fez começar este livro e onde está seu “cogito” sua suspensão de juízo de tudo o que pensava antes, eu sua primeira convicção destes problemas afirma que ela: “nos prende à actualidade exigem que nos desprendamos dela para os considerar a fundo” (Morin, 1977, pg. 13), e professa sua segunda convicção: “os princípios de conhecimento ocultam aquilo que, doravante, é vital conhecer” (idem) assim desprende-se de suas ideias anteriores.
Sua terceira convicção é a mais forte cada vez mais convencido de que a relação ciência Ʌ política Ʌ ideologia [Ʌ no texto como uma triangulo] quando não é invisível, continua a ser tratada de modo indigente, através da reabsorção de dois dos seus termos num deles tornado dominante” (idem), dá o que pensar.
Sua quarta convicção é que “de que os conceitos de que nos servimos para conceber a nossa sociedade — toda a sociedade — estão mutilados e conduzem a ações inevitavelmente mutiladoras” (idem).
Por fim sua quinta convicção é: “de que a ciência antropossocial tem de articular-se na ciência da natureza, e de que esta articulação requer uma reorganização da própria estrutura do saber” (Idem), assim o conhecimento que temos precisa ser modificado a partir de suas bases.
Sabia que sua tarefa era mesmo enciclopédica e vastíssima, por isso até isolou-se num castelo (não tenho os dados precisos) pois sua tarefa: “Eu próprio precisei de circunstâncias e de condições excepcionais’ para passar da convicção à acção, isto é, ao trabalho” (idem).
E é a partir daí que escreveu seu método complexo com três questão iniciais: “Que significa o radical auto de auto-organização? • Que é a organização? • Que é a complexidade?” (pag. 14).
MORIN, E. A natureza da NATUREZA. Lisboa PUBLICAÇÕES EUROPA-AMÉRICA, LDA., 1977.
Em queda lenta e protocolos
Embora a OMS alerte para a possibilidade de nova onda devido a desigualdade no combate a pandemia, que em função do número de vacinas também não vê prioridade na terceira dose, até alguns Institutos contestam (da AstraZeneca, por exemplo), a queda no Brasil é lenta, e aqui a polêmica é por conta dos protocolos mal aplicados e pontualmente rigorosos.
No país o total de doses é 210 milhões, porém o total de pessoas vacinadas está em 72,6 milhões que dá 34,4% e faz sentido portanto dizer que a terceira dose ainda é para se pensar, uma vez que o número de vacinas é limitado e ainda tanto a queda de mortes com a vacinação seguem lentas (média móvel em torno de 450).
Também há polêmica em torno das vacinas, o Chile está aplicando a terceira dose com a Pfizer e a AstraZeneca sob o argumento de que a “combinação” é boa, porém olhando as vacinas que são aceitas em protocolos europeus, lá só a AstraZeneca, a Pfizer, a Moderna e a Jenssen são consensos, e a AstraZeneca com dúvidas em alguns países internamente (por causa de efeitos colaterais).
Para entender a polêmica criada pela interrupção do jogo Brasil x Argentina após a exigência da Anvisa que 3 jogadores fossem retirados do jogo (apenas 1 estava no banco), é preciso entender a Portaria Interministerial 655/2021 que estabelecia o prazo de 14 dias de quarentena definida para pessoas que chegam ao país passando pela África do Sul, Índia e Reino Unidos, incluindo a Irlanda do Norte, e que os aeroportos internacionais têm conhecimento, mas apenas assinam um papel.
Não há no aeroporto uma agência local da Anvisa que verifique se de fato a informação prestada é verídica, e somente horas após isto é feito em casos pontuais que tem repercussão na imprensa.
Assim os protocolos existem, uso de máscaras, procedimentos em bares, restaurantes e supermercados, mas qualquer pessoa que circule observa famílias inteiras nestes lugares, mal uso da máscara e as vezes até mesmo não uso e por isto causa revolta, a aplicação da lei é só pontual.
Isto sem falar de liberação e flexibilização que ocorre em muitas situações que há aglomeração, as escolas, no Rio de Janeiro um time poderá ter torcida em jogo da próxima quarta-feira, as próprias manifestações de 7 de setembro e dia 12, etc. enfim os protocolos devem ser cumpridos, mas sempre para que a lei tenha eficácia e respeito dos cidadãos.
Ainda não há uma compreensão ampla que o combate para ser eficaz tem que ser global, tem que haver um conjunto básico de protocolos que todos os países assinassem para evitar a desmoralização deles, e estes são necessários.
Quanto a terceira dose, apenas se há ineficácia assumida de alguma vacina justifica a terceira dose, pois elas serão necessárias para pessoas ainda não vacinadas e para a 2ª. dose.
O natural e o cultural
É bastante usada neste momento da história a palavra naturalização, e assim cabe a explicação aqui desta ideia do natural que permeia a cultura ocidental desde a antiguidade clássica, o que existe na verdade é uma dicotomia entre a cultura e o natural.
O renascimento foi um grande movimento de transformação na cultura ocidental, o universo tornava-se infinito, novas terras e novos povos entram na história do Velho Mundo e este clima colocava tudo em discussão, o humanismo italiano foi um destes palcos de históricos movimentos, citamos Pico della Mirandola e Marsilio Vicino e suas obras, porém Dante Aligheri é mais citado.
O Ulisses de Dante vai atravessar os Pilares de Hércules do conhecimento científico, da filosofia, da técnica, da matemática, das artes e das letras, desafiando os dogmas anteriores, porém a física e o domínio da natureza se colocam em lados opostos, embora a Revolução Copernicana seja o grande símbolo desta virada, será o domínio da natureza que se desenvolverá no momento posterior.
A ideia de ausência de limites, da previsibilidade, e das certezas acompanharam a filosofia da modernidade até o advento da física quântica, enquanto a ciência procurava o domínio do natural, e vemos agora as consequências deste domínio no planeta em crise ecológica, a física ponto inicial da revolução copernicana continuou se movendo na direção do mistério das partículas às subpartículas atômicas, do universo harmônico ao caos com buracos negros, com caminhos de minhoca (wormholes) que contradizem o tempo absoluto, são a dimensão espaço-tempo já prevista por Einstein, e que as astrofísica moderna já comprovou.
As incertezas chegaram a ciência, e Edgar Morin lembra que uma das consequências da pandemia atual em entrevista afirmou: “Não sabemos as consequências políticas, econômicas, nacionais e planetárias das restrições causadas pelos confinamentos. Não sabemos se devemos esperar o pior, o melhor, ou ambos misturados: caminhamos na direção a novas incertezas”, e isto é o futuro.
A naturalização de contextos históricos (raça, etnias e sexismos, por exemplo), na verdade é uma culturalização (embora o termo não exista), e as epistemologias ditas científicas foram importantes para isto, principalmente do ponto de vista histórico, onde foram transformadas em cultura porquanto não eram naturais e nem mesmo reais, mas versões da história.
O planeta, a sociedade e a civilização pede uma trégua, e não sabemos se será possível entrega-la, o clima é cada vez mais tenso, e uma consequência que não esperávamos da pandemia (que devia nos empurrar para a solidariedade) é que estamos mais divididos que antes, a trégua será difícil.
O humanismo e o natural
Temos dificuldade em entender o que é realmente natural e o que cultural, a visão naturalista da filosofia pré-socrática já antecipava uma teia de leis e interpretações do mundo material não dando exatamente a configuração o que era o Ser, foi neste espaço que se desenvolveu a ideia de sujeito como dual do objeto, assim a subjetividade não é vista como cultural, mas natural.
As escassas referências de Heráclito, o que fica dele são apenas algumas máximas como não pode-se atravessa o mesmo rio duas vezes, a ideia do devir e o fogo como elemento primordial na natureza, escondem uma busca da identidade humana com um tom objetivista prevalecente, era a via aberta por Sócrates para temas hoje tão importantes como a interioridade e a consciência.
A consciência moral foi retomada apenas no âmbito do cristianismo, passando à margem em Platão e Aristóteles, que elaboraram a ideia do motor imóvel (princípio de todo universo e assim da natureza) mas separado do mundo das ideias, onde ideias “naturalistas” se desenvolveram, não postularam um regnum hominis, um reino do homem, claro haverá outras leituras deste período.
O que me encorajou foi a descrição que Karl Popper fez sobre O mundo de Parmênides como um período de gênese do iluminismo, a physis grega não é outra coisa senão a natureza, assim pode- se dizer como mais propriedade que o naturalismo fisicalista se inicia ai, uma extensão da percepção que o sujeito humano tem sua interioridade vinculada ao meio vivencial, e portanto cultural, uma compreensão do macrocosmo individual ou coletivo (dos grupos culturais) fica então vinculada a ideia de natureza sem que uma cosmovisão mais ampla seja contemplada.
A esta questão prende-se outra, sobre a emergência do sujeito anulando o Ser, que é a liberdade, sujeito só o é como ação, ou seja em função do objeto, a interioridade é então parte problemática de um subjetivismo individual ou coletivo, e não de uma liberdade de opções sobre a qual se manifesta.
Se o homem no seu universo só pode submeter-se as leis, ao seu destino, ele não é livre, não há lugar para autonomia, e num sentido mais amplo está sujeito ao fatalismo, em Aristóteles é traçado um conceito unidimensional de liberdade ao defini-la como o ser livre é aquele que se tem a si mesmo como um fim e que não se sujeita a trabalhos servis, é definido, portanto,, em torno da polis, e de suas leis.
Se o conceito antropocêntrico é hoje revisitado, é importante compreender suas raízes gregas.
A filosofia renascentista vai desenvolver um humanismo, como o homem no centro de toda a especulação, sendo criatura do mundo desfruta, entretanto de uma situação singular e muito excepcional, destaco Nicolau de Cusa, Marsílio Ficino e Pico della Mirandola.
Ficino é o menos conhecido, nascido em Figlini Valdarno (1433) é o maior representante do humanismo fiorentino renascentista, e revisita as obras de Platão, Plotino, Porfírio e Proclo.
Talvez a razão de ser pouco conhecido pode dever-se ao fato de ter se tornado sacerdote e ter escrito a Theologia Platonica (1482), obra que faz um diálogo com a concepção de religião de Platão e os neoplatônicos.
A policrise e palavras duras
Já falamos da crise do pensamento, o excesso de especialíssimos que perdem a visão do todo, a prisão idealista, que nasceu num idealismo pré-socrático apontou Popper, e um vazio da capacidade de renovar o pensamento.
A proposta de Morin reformar o pensamento, é abrir as gavetas do pensamento e articulá-las num modelo complexo (do latim complexus, o que é tecido junto) fora da “especialidade” e do conceitualismo.
O que antes parecia um alerta agora já se faz presente em diversos discursos além dos ecologistas: o planeta dá sinais de esgotamento, temperaturas extremas, mesmo em locais onde pareciam impossível: frio no hemisfério sul e calor intenso no hemisfério norte, também a vida animal vai perecendo, a notícia atual é a quase extinção do pinguim imperador, que eram grandes colônias.
O núcleo planetário também se manifesta, o número de vulcões e terremotos cresce, o Haiti pede socorro após um novo terremoto e um furacão que enfraqueceu ainda mais aquele país pobre.
A volta do Taliban ao poder no Afeganistão, os militares em Myanmar e outros neototalitarismos, tudo isto parecem palavras duras e pessimistas, claro sempre temos esperança, não é a primeira crise da humanidade, mas talvez esta seja a mais global e a mais geral de todas e poderá se tornar uma crise civilizatória, em meio a uma pandemia que persiste, e é neonegacionismo dizer que passou, as novas variantes são ameaçadoras, e a própria OMS e muitos cientistas fazem o alerta.
Talvez um plano pouco perceptível é o da religiosidade, além do desrespeito a diversas crenças, há internamente uma crise que podemos chamar de uma “ascese desespiritualizada”, usando uma palavra de Peter Sloterdijk, que aqui traduzimos por sua raiz, ascese “sem” admitir o espírito.
Diz uma passagem bíblica em que Jesus está questionando seus discípulos que achavam que sua palavra era dura demais (Jo 6,61-63):
“Sabendo que seus discípulos estavam murmurando por causa disso mesmo, Jesus perguntou: “Isto vos escandaliza? E quando virdes o Filho do Homem subindo para onde estava antes? O Espírito é que dá vida, a carne não adianta nada. As palavras que vos falei são espírito e vida. Mas entre vós há alguns que não creem”.
Está falando para seus discípulos e para os que creem, e se não tem espiritualidade não tem fé.
Variante delta e vacinação lenta
A variante delta da covid 19 acendeu alerta em todo mundo, que a pandemia pode não estar ainda controlada, no Brasil, o recente Boletim da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) afirma após estudo que há uma combinação perigosa, alto contágio da Delta e lenta vacinação.
O risco da explosão de uma nova onda de contaminação e infecção é preocupante, o estudo aponta que o Brasil já tem 435 casos confirmados da variante Delta e em 19 estados os níveis de contaminação são perigosos apesar de estar em queda.
Em entrevista ao canal CNN, na última sexta (06/08) o vice-diretor Jarbas Barbosa da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) fez um alerta que os casos confirmados da variante Delta no Brasil é apenas a “ponta do iceberg” e salientou a importância “que a grande maioria dos casos da variante é de assintomáticos ou leves, que não percebem e não são testados”.
Não podemos afrouxas as medidas de prevenção e de isolamento, lembrou Jarbas Barbosa, dos casos do Chile e Uruguai que após afrouxarem medidas tiveram uma nova onda de infecções, embora o Uruguai tenha anunciado um fim de semana sem mortes pela primeira vez.
A comparação de contágio que é feita da variante Delta é didática, tão contagiosa quanto a catapora, pode provocar sintomas mais graves que as variantes anteriores e são transmissíveis também entre os vacinados, assim afirmam os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), em artigo publicado no jornal The Washington Post, em nota assinada por Maíra Menezes, o postal da Fiocruz alerta também para o perigo desta variante.
A vacinação é importante, que ainda anda lenta os números atuais são próximos de 45 milhões para as duas doses e 100 milhões para a primeira dose, é possível acelerar e como ainda não há uma explosão da variante Delta no país se combinar com medidas preventivas podemos evitar nova onda de infecções, lotações de hospitais e mortes.
Tanto as infecções como as mortes que caiam lentamente no Brasil, tem uma tendência de estabilidade com leve aumento, é cedo para dizer que é a variante Delta, mas uma política de testagem e prevenção seria importante, a pesquisadores da Fiocruz alertam para a falta de um plano B.
Vacinação acelerada e novas preocupações
A vacinação acelerou em julho conforme era a expectativa otimista, a queda de infecções e mortes cai num ritmo ainda muito lento e as novas ondas de infecção em países da região como Chile e Argentina acendem um sinal de alerta, o Perú já vinha em número alto e alguns países da Europa, como a Rússia, também mostram que a Epidemia está longe do seu fim.
A Argentina atingiu na quarta-feira (14/7) a marca simbólica de 100 mil mortes, alto para uma população de 44,5 milhões de habitantes, e entrou num novo lockdown, conseguindo já conter a nova alta, os números no final da semana voltaram a cair.
O Brasil como a Argentina chega ao número de vacinados de 16% e 11% respectivamente (ver o gráfico acima), enquanto a primeira dose no Brasil chega 44,5% e a Argentina 45%, os números próximos sugerem uma maior atenção para a possibilidade de uma nova curva ascendente, seria uma maior expansão da variante delta, fatores climáticos (Chile e Argentina são mais frios) ou ainda uma variante chamada de lambda, lá também a eficácia da Sputinik russa é questionada.
A variante lambda detectada no Perú assusta, chamada de C.37 seus estudos preliminares indicam maior letalidade e capacidade de driblar as vacinas é séria, o pesquisador Pablo Tsukayama, coordenador do laboratório de Genética Microbiana da Universidade Cayetano Heredia de Lima, detectou que a variante já é 100% dos casos infectados no Perú a partir de abril de 2021.
A falta de dados abertos prejudica a pesquisa, o próprio Ministério da Saúde do Perú não divulga e o professor Tsukayama é um dos que protestam a esta falta de acesso.
Outra questão que preocupa é a falta de dados científicos sobre a eficácia da vacinação para as novas variantes, há muita gente que dá declarações tentando contemporizar, porém não apresenta estudos científicos claros, por exemplo, sobre as variantes novas como a lambda.
Um destes estudos, apontado pelo jornal El País do dia 11 de julho passado, é do virologista chileno Ricardo Soto Rifo, que se concentrou na vacina CoronaVac, a principal usada no Chile, em um grupo de trabalhadores da saúde voluntário descobriu que a lambda apresenta “capacidade de infecção e de escape imunológico incrementada contra anticorpos neutralizantes”, o alcance de tal perda ainda está por ser esclarecida.
Outro estudo apontando no El País é o da vacina Pfizer e Moderna, é da Universidade de Nova York, apontando que os resultados foram “relativamente menores”, porém o professor Tsukayma faz uma constatação pouco animadora: “É praticamente impossível prever como um vírus sofrerá mutação”, porém diminuir a transmissão é possível por meio das vacinas e isto é o efetivo.
Tendência de queda e vacinação
Segundo o consórcio de veículos de imprensa o número de doses da vacina no Brasil chegou a 83.794.712 para a primeira dose, enquanto 28.108.088 a segunda, a este valor deve ser acrescido 2.465.295 doses únicas, num total de 114,3 milhões de doses aplicadas, espera-se que cresça para manter a curva de declínio que se observa nas infecções e mortes.
Em percentagens significa 14,4% que já receberam ou a segunda dose ou a Janssen que é dose única, enquanto a percentagem que recebeu a primeira dose fica próximo aos 40% isto está sendo importante para conter as variantes mais ofensivas, a delta e a delta plus, que já estão no país.
É preciso salientar que as análises clínicas indicam que a segunda dose é necessária para a nova variante, e uma faixa mais larga acima dos 60% começa receber a segunda dose, mas a aplicação da Janssen é a que deixa mais otimista porque o número de pode fazer a imunização crescer.
Quando atingiremos a chamada imunidade de rebanho que permitirá o relaxamento das medidas de proteção é a questão que todos queremos saber, Anthony Fauci, chefe do National Institute of Allergy and Infectious Diseases dos EUA, um dos médicos que lidera os esforços contra a covid-19 nos lá, faz a estimativa de que se deve chegar aos 70% da população, porém há outros que indicam que seria de 80 a 90%, pois o problema maior é a mutabilidade do vírus.
Pouco se comenta, mas as Ilhas Seychelles na Africa Oriental é o país mais vacinado do mundo, com 70% da população e o número lá ainda não caiu, há estudos tentando desvendar o mistério.
O Japão que tem números próximos ao Brasil, 17% para as duas doses e acima de 30% para a primeira dose já anunciou que não haverá público nas Olimpíadas que se iniciam daqui uma semana, e as viagens dos atletas serão monitoradas com todas medidas de proteção.
No ritmo da vacinação ainda são precisas todas as cautelas, sempre que houve algum relaxamento se verificou um aumento de casos e de mortes, esperamos que a curva se mantenha em queda
Curva em queda, mas vacinação fica lenta
Apesar da curva de infecções e média de mortes (veja a curva), o problema começa a ser a segunda dose que está em estável em 12% na última semana, alertamos que o problema pode piorar pois o número de doses da AstraZeneca e Coronavac deveriam aumentar por causa da segunda dose.
O número de casos confirmados na sexta feita era de 54.101 e a média móveis dos últimos 7 dias era de 50.905 infecções (em 14 dias um recuo de 30%), o número de mortes apesar de continuar alto está abaixo de 2 mil mortes, e não há nenhum estado em alta, também as UTIs começam a ser desafogados, as regiões mais graves estão em torno de 70% as internações, mas em queda.
As polêmicas de vacinas vencidas, e o caso da Janssen que teve muitas vacinas congeladas (elas necessitam de um sistema especial de temperatura de -2ºC) porém são seguras afirma o Ministério da Saúde, além e Belo Horizonte agora também Campinas aplicou doses da vacina em moradores de rua, uma medida humanitária elogiável, já que esta vacina imuniza em uma única dose e estas pessoas tem dificuldades com medidas sanitárias.
Os casos de vacinas vencidas estão sendo identificados em diversas cidades, alguns locais como a cidade do Rio de Janeiro houve registro errado no sistema, a situação não está fora de controle e em vários casos uma nova vacinação já está sendo feita, é importante verificar com precisão os casos em que a vacina realmente estava vencida, onde houve erro de sistema e o número exato.
O caso da compra da vacina indiana Covaxin tornou-se centro da crise política do governo por denuncias de corrupção, a negociação foi suspensa pelo Ministério da Saúde e a compra deverá ser cancelada, além dos políticos também a CGU deve prosseguir no processo de investigação.
O problema grave é a lentidão da vacinação, alertamos que em julho diversos fatores poderiam colocar o processo em cheque, a necessidade da segunda dose, que chegando ao município é imediatamente disponibilizada para vacinação.
O secretário executivo do Conselho Nacional das Secretarias Municipais (Conasems) explicando também o caso das vacinas vencidas garantiu que as vacinas chegando são imediatamente disponibilizadas para a população, portanto o problema é o controle da Anvisa e a disponibilidade.
Mauro Junqueira, o secretário da Conasems entretanto esclareceu que nem sempre é possível um controle direto no tablet ou sistema computacional, as vezes é feito no papel e depois colocado no sistema informatizado, a diversidade de municípios no país explica isto facilmente.
Insistimos na necessidade de aumento da produção de vacinas para o mês de julho, o número da última quarta-feira segundo a CNN foi de 3 milhões de doses da vacina Janssen, 3,33 milhões do imunizante da Pfizer e outras 7,15 milhões do produto AstraZeneca/Fiocruz, total 13,5 milhões.