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Dinheiro, moral e ética

15 set

Assim como estabelecemos no post anterior, seja qual for a forma das trocas, no nosso contexto atual os cartões de bancos, ainda que tenha aparecido neste cenário o dinheiro digital bitcoin, que é polêmico, na base de toda relação está a troca de mercadorias nos mercados.

Assim não é o dinheiro, mas os mercados que podem ser corrompidos pelas práticas de estabelecer preços para as produções, e esta é que pode ser ética e moral ou não, incluindo as práticas que levam a corrupção, favorecimento em trocas e posições de mercado com algumas recompensas ilegais que são pagas a pessoas que ocupam postos de decisão.

Assim os mercados não se limitam a distribuir os bens, eles também expressam e promovem certas atitudes em relação aos produtos trocados: o favorecimento de leitura na idade infantil, o leilão de vagas em instituições de ensino que são chaves para altos cargos e até mesmo a contratação de mercenários estrangeiros em guerras.

Também o pagamento de profissionais por valores justos e condizentes com o nível mínimo de vida e o que já é assunto praticamente global: os níveis de seguridade social que garantam a todos um nível de renda mínima para uma vida saudável e digna.

Quanto aos valores morais, também pode-se dar inúmeros exemplos, talvez o mais claro seja um amigo pelo qual se paga não é o mesmo do que um amigo pelo qual se tem uma amizade gratuita.

As relações de amizade e de respeito que mantemos em relação a todas as outras pessoas, sejam do nosso círculo ou não, seja de nossa preferência política, religiosa ou étnica ou não, significa um valor moral mais alto que aqueles valores que o dinheiro “paga” e pelo qual se tem “respeito”.

Byung Chul Han explica que onde o respeito acabou, a esfera pública entra em decadência, e esta é a raiz da profunda crise civilizatória que vivem, os efeitos sociais, econômicos e políticos são só uma consequência, quando é preciso que leis impeçam o desrespeito é sinal de decadência e grave crise na esfera pública.

 

O que é o dinheiro

14 set

Até chegar a forma que conhecemos hoje, o dinheiro passou por diversas mudanças, no início, os historiadores dizem que por volta do Século VII a.C. surgiram moedas em ouro e prata, que tinham um valor equivalente as mercadorias que eram compradas, assim evita-se a difícil troca direta de mercadorias, economia rudimentar chamada de escambo.

Na Idade Médica, surgiu o costume de guardar moedas com ourives e, como garantia eram entregues um recibo, esta é a origem do “papel-moeda” ou dinheiro em papel como conhecemos hoje, para evitar a falsificação o tipo de papel e de impressão foi ficando mais sofisticado.

Os guardadores de ouro são a origem dos bancos modernos, assim eles tinham o “lastro”, o equivalente em ouro do valor da mercadoria, e pessoas endividadas podiam entregar seus bens em joias, outro e prata para penhora, uma espécie de garantia que pagariam no futuro a dívida.

O equivalente em mercadorias era chamado de lastro, e o valor que cada mercadoria possuía depende de sua cotação inicialmente eram negócios feitos em portos ou em locais onde os compradores de mercadorias iam para negociar, a forma moderna são as bolsas de valores.

Tendo os bancos os reais valores em ouro e prata podiam oferecer crédito aos compradores e investidores tanto para produzir mercadorias quanto para pagarem dívidas ou fazerem algum tipo de investimento em mercados que acreditam serem promissores, com o universo eletrônico e digital surgiram os cartões de crédito, versão moderna das cartas de crédito dos tomadores de crédito em bancos.

O mercado financeiro se sofisticou e ele próprio hoje é um tipo de “mercadoria”, nações mais fortes passam a ter uma “moeda” mais forte, na prática porém isto não tempo um equivalente ou um valor exatamente correspondente em mercadorias e isto leva uma financeirização do mercado.

O próprio dinheiro-moeda, ou seu equivalente, passa a ter um valor que muitas vezes é artificial e isto entra em jogo nas guerras comerciais do mundo inteiro, assim por exemplo, a Rússia quer receber pela venda do seu gás e petróleo o equivalente em rublos (moeda russa) e não em dólar ou euro (moedas americanas e europeia, respectivamente) e isto é a comoditização.

Seria um retorno aos valores iniciais dos equivalentes aos escambos, uma reorganização de toda a economia mundial em valor equivalentes de mercadorias, e isto continuaria sendo livre comércio.

 

A liberdade do mercado contra o mercado

13 set

Um dos principais motores da atual crise cuja guerra é uma consequência antes de ser uma causa é a chamada crise de mercado, diversos produtos enfrentam barreiras de tentativas de controle de preço contra a alta demanda das commodities: gás, petróleo, ferro e até silício (não a areia é claro, mas os produtores manufaturados).

Assim enquanto a União Europeia discute o controle do preço do gás, tenta aumentar o estoque devido a guerra na Ucrânia, uma vez que a Rússia é o principal fornecedor, o que é contraditório pois se compram mais para manter o estoque com o inverno a vista (novembro), o custo deve aumentar e assim não é possível controlar os preços.

Também o total desligamento da maior usina nuclear da Europa, a Zaporizhzhia, que está sendo desligada, poderá ampliar ainda mais a crise energética, a Rússia continua a apontar os perigos das armas e bombardeios de Kiev a região, que pode levar a consequências catastróficas,

A crise da China com Taiwan também esconde uma crise de mercado, por um lado o poderio da ilha rebelde na produção dos chips de silício, e por outro uma crise interna agravada pela falência da Evergrande, a maior construtora do país, que era particular e agora será estatizada na tentativa de conter a crise.

A gigante imobiliária chinesa não conseguiu entregar o plano de reestruturação da dívida conforme prometido até 31 de julho e de lá para cá o governo chinês além de descobrir os malefícios do capitalismo, também recorre a estatização para evitar uma quebra mais grave, a dos bancos que financiaram o calote.

A empresa deixou de pagar os títulos em dólares em dezembro do ano passado, segundo estimativas divulgadas pela CNN, os valores chegariam a 300 bilhões de dólares em passivos, o que gera uma onda de falta de crédito em empresas que atuam no mercado imobiliário chinês.

Assim a China comunista conhece agora o efeito perverso do livre mercado.

O setor é responsável por quase ¼ do PIB chinês, e a atividade que mais contribuiu para o crescimento recente da economia lá, agora enfrenta uma forte desaceleração que também preocupa o mercado ocidental, que fez muitos e novos investimentos neste mercado.

Dependência do gás russo (gráfico) pode afetar gravemente a economia mundial, por exemplo, mesmo o Reino Unido sendo independente já é afetado.

 

Crise energética e tensão no oriente

06 set

A retaliação de Moscou às sanções impostas após a invasão da Ucrânia, começam a causar impacto na economia europeia e no Reino Unido causou a renuncia do primeiro ministro Boris Johnson, embora o problema seja mais amplo de inflação que em 2023 pode ir até acima dos 20%, o principal impulso é a alta do gás natural em toda Europa, a Rússia acusa a Alemanha pela crise.

Os países da União Europeia procuram estocar gás natural para o período de inverno que virá.

Tomou posse a primeira ministra Liz (Elizabeth) Truss, em eleição interna do partido Conservador contra o ex-ministro do Tesouro, Rishi Sunak, ela é conhecida por ser camaleão, adotar discurso conforme o contexto, na verdade parecida a muitos líderes da atualidade.

Foi contrária, por exemplo, ao Brexit e depois de ter sido adotado tornou-se a favor.

A população de Taiwan observando a guerra da Ucrânia sempre citada em noticiários locais, atentam para uma possível guerra com a China, e preparam-se para eventuais crises com exercícios, treinamentos de primeiros socorros e logística para fugir de bombardeios.

Na semana passada um drone foi derrubado viajando em território Taiwanês, segundo notícias da Deustche Welle, reproduzida no portal G1, desde março uma ONG chamada Forward Alliance além de oferecer treinamentos de defesa civil procura melhorar a resiliência nacional.

Segundo Enoch Wu, fundador da Forward Alliance: “O objetivo é manter as comunidades funcionando, e os treinamentos ajudam a preparar os cidadãos contra crises naturais ou provocadas pelo homem”, mas o pano de fundo é uma possível guerra com a China.

A tensão sobe entre China e EUA devido o anuncio da venda de 1,3 bilhão de dólares de armamentos para Taiwan, a China promete resposta ao que considera “destruição da paz”.

Pode ser um despiste, mas os principais treinamentos que a primeira-ministra de Taiwan participa estão na ilha de Penghu (Pescadores), ela é pequena e embora possua uma estrutura de defesa é isolada e distante da Ilha Formosa que é de fato o território de Taiwan.

 

Entre a aflição e a paz, o infinito e o eterno

01 set

Muitos procuram uma felicidade a qualquer preço, por isto refletimos no início da semana a empatia, depois refletimos sobre a angústia e a aflição que estão no pensamento e no sofrimento, mas são eles que, se bem entendidos nos levam a felicidade real e a paz construída.
O “Conceito de angústia” (1884) de Kierkegaard mostra múltiplas formas da angustia: da liberdade ou do nada, há uma escolha pessoal disto que o autor chama de escolha de a si, a angustia do bem e da obstinação, a angústia da sexualidade, a do amanhã e a do finito, é ela que precede a fé.
Neste ponto é possível ligar a uma visão fenomenológica, e ainda ligá-la a interpretação do trecho bíblico da queda do homem no pecado (Genesis 3), ignorando pela cultura iluminista/idealista, que é a angústia da liberdade ou da escolha que ocupa um papel essencial para o Ser.
Segundo Kierkegaard o homem é chamado, enquanto espírito (acrescento e mente), a colocar a relação entre os elementos que o caracterizam estruturalmente, de igual modo, aqueles que podem conflitar entre si (corpo e alma, temporalidade e eternidade), escolhendo uma forma de existência entre as inumeráveis que historicamente se lhe apresentam, aqui a fenomenologia.
Embora inumeráveis, Kierkegaard pedagogicamente enumera algumas que são escolhas em três estilos (ou “estádios”) de vida: o estético, o ético e o religioso, é redutivo, mas interessante.
A abertura que vejo (nele é só existência, mas poderiam ser essência enquanto Ser) é aquilo que a angústia é, portanto, “o nada” que que cada pessoa em sua indeterminação o “é” no momento de estabelecer a síntese a ponto de dar-se uma “identidade”, tema controverso no idealismo, aqui que penso ser possível conectá-lo ao “ser no mundo” de Heidegger, embora conceitos diferentes.
Contrário a queda se poderia colocar os trechos bíblicos do novo testamento as bem aventuranças em Mt 5,1-12, destacamos duas que tratou-se nestes dias, versículos 4 e 5: “Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados, bem aventurados os mansos porque possuirão a terra”, e, versículo 9: “bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus”.
Mas a ajuda fundamental de Kierkegaard é sobre a questão da identidade, definições enquanto ser-em-si e ser-no-mundo, e, o conceito de eterno que é um lançar-se no “infinito”.

 

Guerra e paz

30 ago

Li um comentário recente sobre Leon Tolstói (1828-1910) que outro escritor russo Ivan Turguêniev afirmou que conhecer e ler Tolstói é melhor que do que se lêssemos centenas de obras de etnografia e de história” para conhecer o caráter e temperamento do povo russo, conservadores como a Alexander Soljenitsin (1918-2008) que chegou a ser considerado seu sucessor, e Vladimir Lenin líder da revolução soviética que o considerava um dos maiores escritores russos.

Muitos de seus livros foram para o cinema, recentemente (2012)  Anna Karenina foi reescrito para o cinema, sob a direção de Joe Wright, e concorreu ao Oscar e ganhou o de melhor figurino, porém uma obra prima de Tolstoi é o livro Guerra e Paz.

De Guerra e Paz lembro impressões e algumas frases soltas, e do contexto do livro que fala das guerras czaristas de seu contexto e tempo, porém que é revelador do pensamento russo sobre a guerra, e que não se ignoram os seus flagelos.

O livro trata da vida de 5 famílias aristocráticas, no período que vai de 1805 a 1820, em meio a marcha de tropas napoleônicas e seu impacto brutal sobre a vida de centenas de personagens.

Ali destacam-se figuras como os irmãos Natacha e Nikolai Rostóv, do príncipe Andrei Bolkónski e de Pierre Bezúkhov, filho ilegítivo de um conde cuja busca espiritual serve como uma espécie de fio condutor do romance e transforma-o num personagem complexo e intrigante do século XIX, e cuja busca será um complemento para a paz em meio a guerra.

Uma espécie de refúgio parecido ao da Menina que rouba livros, que neste caso é no contexto da Alemanha nazista e ela vai encontrar nos livros um refúgio para o ambiente sombrio da ascensão do nazismo na Alemanha.

Vejo um traço comum nestes dois livros que é este “refúgio”, algo entre o espiritual e o de leitor, porém ambos conseguem criar num ambiente sufocantemente odioso, lacunas e espaços de paz e de elevação espiritual.

Se a guerra vier, qual será nosso refúgio, em que patamar de vida espiritual e de conhecimento desejamos colocar nossas vidas que estarão em risco, creio que são leituras contemporâneas.

TOLSTÓI, L. Guerra e Paz, trad.Rubens Figueiredo, São Paulo: Cia das Letras, 2017. (Vol 2 pdf)

 

Covid 19 e futuros cuidados

29 ago

A Covid 19 deixa algumas lições, uma delas é não subestimar os vírus, elespodem ter uma capacidade de mutação maior que o previsto e pode complicar resultados de imunidade, no campo da política social é preciso que os governos e órgãos administrativos tenham respeito a vida humana e as vezes é preciso sacrificar a eficiência e o desempenho em prol do bem maior.

Os aspectos de vida social ainda há muito a aprender e mesmo os resultados num quase final de covid, ainda estão por ser avaliados: ansiedades, depressões e irritações são aspectos que não devem ser subestimados e precisam ser vistos também como saúde pública.

Postamos a semana passada estudos que indicam uma possibilidade de “evolução” pandêmica para bactérias e fungos, procurei algumas reportagens e estudos a respeito e encontrei que há possibilidade de fato.

No campo das viroses agora há um debate sobre sobre um deficit de imunidade” causado pelo período de isolamento social, em todas faixas etárias, mas de modo especial nas crianças, isto tem favorecido doenças como hepatite e outras viroses de modo mais intenso.

Segundo um estudo francês, no qual um dos coautores é um médico francês François Angouvalnt, o fato de algumas pessoas não terem pego tantas viroses nos meses da pandemia foi um alívio em médio às tragédias de picos da Covid-19, mas deixou os sistemas imunológicos sem treino para enfrentar patologias comuns e criou grupos populacionais mais vulneráveis a alguns vírus e bactérias que normalmente são tratados e resolvidos como casos simples.

O estudo acompanhou algumas evoluções desde 2020 destas doenças e observou a evolução na população de Paris e causou apreensão uma maior vulnerabilidade.

Particularmente no Brasil o número de mortes por covid está em torno de 70 mortes diárias e em queda, enquanto o número de infecções abaixo de 10 mil, tudo indica um fim de pandemia até o final do ano, mas com uma nova onda de frio no sul e sudeste deve-se manter os cuidados.

 

A assimetria negativa: humildade

26 ago

Se todas relações são de certa forma assimétrica, isto é, envolve algum poder e alguma forma de dominação ou ao menos uma tentativa, a única forma de se contrapor a ela é a humildade, que não é autoflagelação, a desvalorização ou a resignação, é uma forma de não se opor ao poder imposto, como tirar o corpo de uma ação violenta e assimétrica.

Ela é assimétrica no sentido negativo, porque o poder e a comunicação o é no sentido positivo, como poder significa evitar que o espírito de dominação, vingança e depreciação do Outro passe por você, como comunicação significa ouvir com atenção e esperar para discordar do que é não simétrico, que é mais geral que o assimétrico, demonstra a assimétrica positiva, por isso a nega.

Assim uma resposta a violência com violência é uma assimetria positiva, a resposta com a bandeira da paz é desmoralizadora e eficiente contra um inimigo violento, Ghandi a usou para libertar a Índia do domínio inglês.

Também quando a violência é arrogante e desumana, por exemplo a morte de civis, crianças e idosos nas guerras, faz a máscara do poder cair e demonstra toda sua assimetria e arrogância.

Para inverter a lógica da guerra e instaurar a lógica da paz é preciso sim vencer as injustiças e o desrespeito as diversidades sociais, porém a guerra é exatamente o oposto: a contraposição ao respeito da diversidade, a imposição de uma visão unilateral e o agravamento das injustiças.

Assim o que devemos buscar e o banquete dos humildes, a glória dos últimos e a paz daqueles que não tem armas e preferem a comida da mesa ao alimento metálico dos poderosos.

O verdadeiro cristianismo não se une ao poder, mas que estão na base da pirâmide, diz o Evangelista Lucas (Lc 4,12-14): “quando tu deres um almoço ou um jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Pois estes poderiam também convidar-te e isto já seria a tua recompensa. Pelo contrário, quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir.”

Parece uma lógica equivocada, porque não é a lógica imposta pelo poder, mas é a lógica dos justos.

 

A posição do poder e a simetria

25 ago

Conforme elaboramos no post anterior, o poder é sempre uma posição hierárquica e assim a decisão final e os instrumentos de opressão estão as posições somente daqueles que ocupam os postos maiores na hierarquia e o que resta a base da pirâmide é a rebeldia ou a resignação.

Se o poder é necessário cabe a quem está no posto exercê-lo com discernimento e generosidade, o ideal era que de fato estivessem a serviço, mas salvo raras exceções, a maioria serve-se do posto, e de modo geral a eles todos aqueles que sofismam com o poder.

O modelo platônico e aristotélico supôs que a polis poderia ser governada por aqueles que eram bem preparados e para isto criaram instrumentos de formação do cidadão da polis, por excelência, o político.

A evolução deste modelo chegou ao iluminismo, e praticamente todos modelos atuais (há algumas exceções na África e em países da Ásia) este é o modelo de poder da maioria das nações, pela força, pelo voto ou por aquilo que Byung Chul Han chamou de psicopolítica, iludindo os povos.

Mas é importante lembrar que existe o poder disseminado por toda a estrutura social, e também que existem as redes (podem ou não usarem mídias) e através delas cada um pode exercer sua ação para um mundo melhor, mais simétrico e com maior reciprocidade entre os co-cidadãos.

Sloterdijk criou o modelo da co-imunidade, mas elas pressupõem que sempre algum “mal” impera, algo como o “mal estar da humanidade” o que aqui chamamos de crise civilizatória, a ausência de um modelo real para se contrapor aos modelos ditatoriais vigentes ou em escala crescente, há uma volta ás crises do início do século, justamente por não haver se oposto a raiz do modelo: o iluminista e o idealista.

As razões econômicas são consequências e não raiz destes modelos, como pretendia Edgar Morin ao enfatizar que não há como mudar sem mudar a raiz do pensamento, também Heidegger afirma que abandonar a revolução do pensamento é não permitir uma mudança real na sociedade, e que é no fundo a razão pela qual voltamos as teses anteriores a primeira guerra, ou seja, repetimos a história.

A simetria, a reciprocidade, a compreensão da diversidade humana e o respeito a ela quase sempre é ignorada pelos modelos do início do século passado, voltar a eles não é senão prenuncio de uma tragédia maior: a crise civilizatória de raízes mais profundas que as anteriores.

Quem sofrerá mais será a base da pirâmide do poder, porém o volume de poder bélico pode levar a uma catástrofe humanitária sem precedentes, só a solidariedade, a fraternidade e a reciprocidade podem evitar e redirecionar esta crise.

 

O poder e a violência

24 ago

Historicamente povos pacíficos ou com pouca estrutura de defesa foram dominados por povos imperialistas muitas vezes justificando por valores sociais ou causas nobres, porém a pratica no final é de dominação, desenvolvida por Max Weber.

Na história recente, as ideias do “soberano” de Hobbes e o “príncipe” de Maquiavel iniciaram a ideia de Estado ainda no período que haviam reis (no Inglaterra e outros países ainda há), e depois foram reelaboradas por Kant e Hegel, onde os conceitos de cidade-estado e cidadania da antiguidade clássica foram recuperados e atualizados, porém esta é a ideia do poder moderno.

A ideia de democracia no sentido americano da palavra foi desenvolvida por Alexis de Tocqueville, que é ao mesmo tempo um elogio ao modelo americano, porém possui lacunas de interpretação que permitem uma análise critica.

A ideia que todo poder emana do povo, apesar de ser um modelo ideal no sentido lato da palavra, é mesmo o projeto final do idealismo, porém Sloterdijk constata que o modelo de “domesticação humana” falhou, são duas guerras nos países ditos “avançados” e uma a espreita.

As análises mais recentes, que tratam do poder “de fato” presente em formas de dominação e controle ideológico das populações (ideologia aqui é num sentido amplo) parte da análise de Michel Foucault que há formas dispares, heterogêneas e em constante transformação de como este poder é exercido, assim está em toda parte e não em uma instituição ou em alguém, onde ele desenvolve os conceitos de biopoder e micropoder.

Byung Chul Han, discípulo e na linha de Peter Sloterdijk, desenvolve a forma mais avançada que temos hoje que é o psicopoder, não apenas pelo controle de notícias e fake News, mas de modo especial pelas relações que se desenvolvem socialmente onde não reciprocidade, aquilo que Chul Han chama de “simetria”.

Diz ele não há simetria em nenhuma forma de poder e nem na comunicação (assim toda comunicação é uma forma de dominação e poder), somente há simetria onde há “respeito”. e assim a forma mais “violenta” de política hoje é desrespeitar o adversário de várias formas.

Esta é a violência cotidiana, que ela avance para sua forma mais cruel que é a guerra não é senão uma consequência, assim a violência começa nas ações de violência psíquica no dia-a-dia.

Assim estabelece Chul-Han: “o poder é uma relação assimétrica. Ele fundamenta uma relação hierárquica” (HAN, 2019, p. 18) e ele é a base de toda violência social e política, um poder que seja realmente democrático deve reelaborar a simetria ou a reciprocidade entre cidadãos e o estado.

HAN, B. C. No enxame. Petrópolis: Vozes, 2019.