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A cepa Delta e novos perigos
A nova cepa indiana, chamada pela OMS de Delta, volta a infectar e pode se tornar dominante, ela é 40% mais transmissível e pode apresentar o dobro de risco de internação, além disso os sintomas enganam porque parecem mais um forte resfriado e as pessoas continuam a sair, segundo afirma o jornal inglês The Guardian.
Isto está fazendo o Reino Unido reavaliar a data de flexibilização, anteriormente prevista para o dia 21 de junho, e que agora deverá retardar.
A vacinação continua, porém, a eficácia de algumas vacinas começam a ser colocadas em cheque, a própria AstraZeneca já admite revezes na terceira fase de testes, feitos em escala maior de vacinados, alguns jornais falam em 33% porém a indicação oficial da OMS é de 63,09% um pouco acima da Coronavac que é em torno de 51% e abaixo da Pfizer que é de 70%, porém com a 2ª. dose os números ficam parecidos em torno dos 80%.
Um avanço nas pesquisas, feitas pelo hospital Beaumont em Dublin, finalmente explicou porque a coagulação de sangue em pacientes com Covid 19 que são níveis elevados de moléculas de VWF (Fator de von Willebrand) pró-coagulação e níveis baixos de ADMTSS (uma protease plasmática que é anticoagulante), devido a alterações em proteínas em casos graves de covid.
O Basil recebeu um lote de 824,4 mil doses da vacina Pfizer/BioNTech do consórcio Covax Facility que chegou no aeroporto de Viracopos em Campinas (SP), o primeiro lote desta vacina pelo consórcio, os outros foram comprados.
O Brasil chegou a triste marca de 500 mil mortes, com um número de mortes acima de 2 mil, e com um número de infectados na casa de 80 mil, ainda são números altos, porém o salto acima dos 3 mil significariam uma terceira onda que continua a nos ameaçar.
De acordo com o consórcio de empresas do Brasil mais de 63 milhões de pessoas receberam a primeira dose, totalizando quase 30% da população, e quase 80% das vacinas disponíveis foram utilizadas, acredita-se que este número possa chegar a 100 milhões e totalizar perto dos 50% da população com a primeira dose, número que reafirmamos será suficiente para segurar a 3ª. onda.
É preciso redobrar os cuidados e evitar aglomerações, medidas de isolamento mais rigorosas precisam ser tomadas.
Curva e eficiência da vacinação
A curva mostra um avanço nas primeiras doses, mas as segundas doses ainda podem ser um problema, é preciso ter um protocolo para os vacinados de modo a incentivá-los a segunda dose.
Os estudos que envolvem o pós-vacinação e sua eficiência começam a ser divulgados, é chamada de fase quatro, como explica por exemplo, o professor Guilherme Werneck do Instituto de Estudos em Saúde coletiva da UFRJ.
A conclusão destas pesquisas pode levar até dois anos, os dados positivos são animadores, e afirmam o impacto positivo da vacinação, porém o problema da 2ª. dose está detectado e apontado, além do problema da imunidade também prejudica os resultados conclusivos da pesquisa.
Estes estudos são chamados de farmacovigilância (que investiga efeitos adversos da vacina) e a efetividade dos imunizantes na contenção da pandemia e redução da mortalidade, já postamos sobre o case de Serrana (SP), com a imunização de toda população, onde os casos de Covid-19 despencaram.
O número da vacinação no Brasil é para uma população total de 201.103.330, foram vacinadas na primeira dose 53.224.020 (26,5%), na segunda dose 23.534.567 (11,7%), dá um total de 37,17 doses para cada 100 pessoas, a média mundial é de 30,07 para cada 100 pessoas.
A vacina Janssen começa chegar ao Brasil (precisa só de uma dose) na terça-feira e a promessa é de 3 milhões de doses.
A reunião do G7 que acontece estes dias, segundo anúncio no Downing Street que doará 1 bilhão de vacinas com objetivo de colocar um fim na Pandemia até 2022, o número de pessoas vacinadas na primeira dose ainda não atingiu 1 bilhão de pessoas, para uma população mundial de 7 bilhões.
A terceira onda é atenuada no Brasil
Postamos aqui que era possível atingir números de vacinação próximos a 50% até o final de junho e que a primeira semana era decisiva, os dados indicam uma inversão da curva, mas é preciso não vacilar e continuar a vacinação, o Brasil recebeu novas doses da Pfizer (mais de 500 mil) e a vacinação da “nacionais” continua indo, e a previsão é de 40 milhões de doses até o final do mês.
Pode-se afirmar que neste momento há uma atenuação, o número de mortes da sexta-feira é 1689 enquanto de infecção acima de 66 mil, números que mostram a importância da vacinação pois o número de infecção ainda é muito alto e sem a vacinação o de óbitos continuaria alto.
A desaceleração da vacinação é apontada em algumas mídias, porém não fica clara se é a distribuição ou aplicação, pode ainda ser uma terceira coisa operacionalização o que seria muito lamentável já que o INSS e as secretarias de saúde possuem boa estrutura e distribuição.
Em porcentagens o número de vacinas distribuídas, o governo fala de um número acima de 100 milhões e os estados dizem ter recebido 90 milhões, sendo que há vacinas em estoque, em porcentagem seriam 52 milhões da AstraZeneca/Oxford/Fiocruz, 47,1 milhões da Coronavac e 3,5 milhões da vacina Pfizer/BioNtech, não deixa de ser interessante esta variação pela eficácia para diversas idades.
A distribuição realizada até o momento já permitir a aplicação de doses, ao menos a primeira dose, em 18 dos 28 grupos prioritários do PNO (Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a COVID-19), que foi definido pela vulnerabilidade social e riscos maiores de comorbidades.
A etapa atual começa a priorizar comorbidades em diversas faixas etárias e profissionais da saúde, porém do comércio que seria extremamente importante não está incluído no plano.
Os números do mundo ainda são preocupantes, veja o gráfico, ainda há países com possibilidades de uma terceira onda e uma lição definitiva da Pandemia é que devemos nos preocupar com todos.
Favor fechar os olhos
Poderia ser o contrário, mas a realidade é tão assustadora que apenas será possível enxergar aqueles que tiverem a coragem em fazer aquilo que parece insano neste momento, olhar para dentro e ver até que ponto colabora com esta realidade tão dura.
O diagnóstico veio para mim de forma inesperada enquanto perguntava o que é a eternidade e para onde quero que a humanidade caminhe, tinha a intuição que tudo deveria mudar começando por mim, e ao conhecer o livro novo de Byung Chul Han algumas respostas estavam ali, recebi o livro em dois dias e já posso comentá-lo.
A intuição estava fundamentada no que muitos já sabem: as grandes utopias e os grandes discursos desmoronaram e a pergunta óbvia era então para onde iremos.
As pistas de Chul Han são inspiradoras, já no subtítulo do livro: “Favor fechas os olhos: em busca de um outro tempo”, edição agora de 2021 pela editora vozes, o ensaio é de 2013.
Pode-se pensar que vivemos um tempo de aceleração, mas Chul Han chama atenção que as “narrativas não se deixam acelerar arbitrariamente, a aceleração destrói as suas estruturas próprias de sentido e tempo, o inquietante na experiência do tempo atual não é a aceleração como tal, mas sim a conclusão do tempo faltante”, ou seja, a falta do ritmo e do compasso.
A conclusão das coisas da prática de novas vidas, os ritos que fazem com as coisas sejam feitos com ritmo e compasso para fazer as coisas bem-feitas e chegar a sua conclusão.
A aceleração tem a sua causa na incapacidade universal de encerrar, o tempo continua se lançando para frente, pois ele não chega em lugar nenhuma ao encerramento.” (p. 20)
Foi assim que inverti meu diagnóstico, do fim das utopias e dos grandes ideais (no sentido de eidos e não do idealismo), não aconteceram não por falta de discurso ou de “boas intenções” e sim por falta de conclusão.
Mas é importante coerente com o discurso de Chul Han, rever o impacto dentro das pessoas, na sua integridade interna de fazer uma experiência até o fim, e Chul Han vai tocar em outro termo
Vai tocar num tema tabú da morte, presente agora durante a pandemia, “e em um mundo no qual a conclusão e encerramento dão lugar a um avanço sem fim e sem direção, não é possível morrer pois também morrer significa pressupõe a capacidade de encerrar a vida” (p. 29-30), entender que a vida é um ciclo.
Ele fala também do sujeito do desempenho, aquele que busca o máximo “o sujeito do desempenho é incapaz de chegar a uma conclusão”, e isto leva a se cobrarem demais e não concluir.
Entender que estamos no fim de um ciclo e é preciso conclusões próprias ou se “tem que a-cabar [ver-ender] em uma hora inoportuna [Unzeit]” (p. 30), para isto não ocorra é preciso fechar os olhos e se examinar.
Han, Byung-Chul. Favor fechar os olhos: em busca de um outro tempo. trad. Lucas Machado, RJ, ed. Vozes, 2021.
O todo e a parte
A parte e o todo se separaram na filosofia ocidental, o método racional consagrou esta divisão.
“O mundo torna-se cada vez mais um todo. Cada parte do mundo faz, mais e mais, parte do mundo e o mundo, como um todo, está cada vez mais presente em cada uma de suas partes. Isto s verifica não apenas para as nações e povos, mas para os indivíduos. Assim como cada ponto do holograma contém a informação do todo do qual faz parte, também, doravante, cada indivíduo recebe ou consome informações e substâncias oriundas de todo o universo” (MORIN, 2006, p. 67).
Isto é para entender aquilo que no pensamento complexo de Edgar Morin chama de princípio hologramático, isto foi também o ponto de partida do pensamento de Werner Heisenberg para dar início ao pensamento quântico e que tem um livro com este nome ao contrário, “A parte e o todo”.
Também Gregório de Matos Guerra (1639-1696), um dos representantes do Barroco brasileiro, escreveu um Poema chamada “Eucaristia”, no qual diz: “Deus está todo em todo sacramento”, e como seria importante para os que creem entender isto, para entender o que viver a palavra.
A moderna física atômica lançou nova luz sobre problemas desde éticos e políticos até filosóficos e religiosos, no livro de Heisenberg logo no prefácio que é quase uma biografia escrita de forma sui generis, ele fala de diálogos com Einstein, Plank, Bohr, Dirac, Fermi, Pauli, Sommerfeld, Rutherford e vários outros colegal.
A parte e o todo têm como subtítulo: “encontros e conversas sobre física, filosofia religião e política”, o que o torna também iniciador de um “pensamento complexo e hologramático” como propôs muitos anos mais tarde Edgar Morin.
Compreender a complexa situação civilizatória que vivemos não é possível sem esta compreensão.
MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. Porto Alegre: Sulina, 2006
Terceira onda, nova cepa e novos remédios
Enquanto seguimos numa perspectiva de uma possível terceira onda em junho no Brasil, os números ainda estão em torno de 2 mil mortes, como postamos a semana passada se cair pode significar uma contensão (uma taxa alta de 78 mil casos, mas mortes abaixo de 2 mil) e se chegar acima dos 3 mil a terceira onda chegou e será necessário novo protocolo de isolamento (figura).
Independente da terceira onda já há vários casos do vírus indiano, a nova cepa, que chegou ao Brasil sem um protocolo rígido de isolamento ela vai se espalhar e isto quase não há esperança.
A notícia de um antiviral Australiano e um remédio israelense, este último MesenCure usa células estromais mesenquimais (MSCs) isoladas do tecido adiposo de doadores saudáveis, aliviam os sintomas respiratórios em pacientes infectados e reduzem inflamações.
Já o medicamento australiano feito por cientistas da Griffith University, em colaboração com o centro de Pesquisas City of Hope americano, usa uma tecnologia que envolve o RNA silenciador de genes (siRNA) que ataca diretamente o genoma do vírus e impede sua replicação, o teste por enquanto foi feita em ratos.
Temos que continuar tentando criar protocolos na medida que a vacinação não avança (21,5%).
O estado do Rio de Janeiro tenta fazer uma vacinação em massa, apesar de não ter remédios suficientes, a ideia é abrir a vacinação para o restante da população, até agora só pessoas acima de 60 e algumas classes especiais como enfermeiros, motoristas de ônibus e policiais.
O estado de São Paulo fará uma testagem, porém em dois municípios pequenos Taquaritinga e Batatais, fornecendo os testes RT-aPCR e testes rápidos de antígeno, partindo para uma estratégia de isolamento vertical tão criticado no início da Pandemia, o Butantan fará visita domiciliar em 2 mil residências dividindo cada município em 11 regiões chamadas de “clusters”, a ideia das redes.
A vacinação em massa no município de Serrana (SP) como experimento, teve resultados positivos, com a redução de mortes em 95%.
É, portanto, uma testagem por amostragem e a população que não for sorteada pode fazer auto avaliação através de um aplicativo chamado Tainá/GHM e responder questões rápidas.
A trindade na perspectiva antropotécnica
Toda a filosofia de Sloterdijk deve ser precedida de uma boa leitura de Heidegger, tentando simplificar o que é per-si impossível, explicamos a categoria “ser-em” que será bastante utilizada no seu discurso sobre a relação trinitária, de onde desvela a “cossubjetividade imbricada da díade Deus-alma” (Sloterdijk, p. 490), onde o “surrealismo teológico oculta-se, como mostraremos, o primeiro realismo das esferas” (idem).
Sloterdijk não usa epígrafes apenas para decorar o texto, no capítulo 8 “mais perto de mim que eu mesmo: propedêutica teológica para a teoria do interior comum”, na epígrafe explica: “… quer dizer ´ser-em´[In-sein] ?… Ser-em … significa uma constituição ontológica da existência (Dasein)” citando o § 12 de Ser e Tempo de Heidegger.
Esclarece na outra citação da epígrafe que “talvez o Em seja o reino pressentido de toda a vida (de toda moral) de Deus”, citando Robert Musil no seu livro “O homem sem qualidades”, que o é hoje o homem moderno.
Antes de penetrar na questão da trindade, explica que o amor humano “não existe de maneira nenhuma antes de se produzir” … “na perspectiva da modernidade individualista – duas solidões que se desenraizam pelo encontro” (pag. 491), e irá retornar a incidente do paraíso perdido perguntando se não foi ele “um doloroso fosso de estranhamento?” (idem).
Foi Agostinho, esclarece nas “Confissões” que levou “a dialética do reconhecimento a partir do desconhecimento” (pg. 492), em sua “obra-mestra críptica” De trinitate (em particular os livros VIII e XIV) “que tratam da acessibilidade de Deus através dos traços deixados no interior da Alma” (p. 493), e embora trace suas contradições com o discurso teológico, afirma “ele pode ser considerado como o grande lógico da intimidade da teologia ocidental” (idem).
A longa análise que vai da página 494 até a 524 em que penetra nas contradições do discurso religioso, passando por citações bíblicas, Nicolau de Cusa, o duque João da Baviera, um Cardeal erudito e não autorizado na literatura da tradição cristã, chega a um veredito final, este sim importante, que é como o dualismo platônico provocou “efeitos secundários … em doutrinas deste tipo [que] rompem também o sentido de ser-em” (pg. 524).
Ilustrada com a pintura de Juan Carrero de Miranda “A fundação da Orden da Trindade” (óleo de 1666), o autor passa a fazer a repartição “topográfica dos Três no Um”, destaca no quadro a “quase-quaternidade clássica abrange a Trindade e o Universo” (destacamos com um pequeno círculo vermelho), seria bom que a fizesse.
Dentro de sua esferologia, Sloterdijk explica que “ecos característicos da filosofia da natureza, mesmo que se trata há muito tempo, da coabitação de entidades espirituais”, assim estamos mais próximos de outras cosmovisões “animistas” do que imaginamos, numa teológica dualista.
Analisando o discurso do Pseudo-Dionísio Aeropagita, esclarece que “o páthos da diferença dos diferentesno interior do Um já era conhecido do neoplatonismo, e a “justificação mútua dos princípios das pessoas da Trindade” (pag. 130) se beneficiará dele.
Conhece bem a pericorese dos padres capadócios (São Gregório de Nissa, São Basílio e São Gergório de Nazianzeno) (pag. 540-541) além de Agostinho usado fartamente, não deixa de citar João Damasceno (pag. 538, 544-546) e cita Tomás de Aquino.
SLOTERDIJK, P. Esferas I: Bolhas, trad. José Oscar de Almeida Marques, São Paulo: Estação Liberdade, 2016.
O pensamento trinitário em autores não cristãos
Compreender o mistério de serem três pessoas, mas um só Deus, é claro que seja penetra na mística cristã em sua profundidade, porém se imaginamos que aí pode estar a chave da relação humana onde duas pessoas se põe numa relação simétrica, isto é, de respeito e amor mútuo, um é indissociável do outro, pode-se entender que é possível um autor não cristão entender a questão.
Percorreremos três autores, Giorgio Agamben, Peter Sloterdijk (em conjunto com seu discípulo Byung Chul Han) ambos não cristãos e como não poderia deixar de ser um cristão, Piero Coda, que nos introduz de uma forma nova neste mistério, típico de um carisma do século 20, que propõe a unidade da família humana, aquilo que parece difícil e de certa forma trágico (o próprio autor o afirma), é na verdade uma abertura teológica nova.
Para compreender Agamben, é preciso entender que parte de uma hipótese bastante interessante, mas ao nosso ver não suficiente, que a história da cultura ocidental resulta de um paradigma resultante da teologia cristã, que vê a história contínua de separações e cruzamentos entre esses dois paradigmas: o político e econômico, formando um sistema bipolar.
Isto está descrito em duas obras suas: “Estado de exceção” (2003), que de fato sempre ronda o ocidente entre auctoritas e potestas* e, na obra O reino e a Glória (2011), que pode assumir a fórmula: Reino, Gloria e Oikonomia. (*em sentido oposto, o legítimo e o poder).
Porque a obra de Agamben de fato é válida, porque a Oikonomia, que tem sua origem na antiguidade clássica, que significa organização da casa pode e seria até interessante que de fato fosse a “organização” dos bens domésticos, porém a própria origem grega significa já não-cristã.
Onde é que elas se confundem, no grego, oikos (casa) e nomos (lei, regra, norma), foram usadas por Xenofonte e Aristóteles (na Grécia Antiga politeísta) este termo designava o “o conjuntos de preceitos que regem, ou devem reger, a atividade do ‘senhor da casa’ na obtenção dos recursos necessários à vida da família”, e na teologia cristã todos sendo irmãos, estamos na mesma “casa”, mas para aí, pois o argumento que Agamben usará do monoteísmo não é válido para os gregos.
Embora Agamben compreenda que no livro L da Metafísica de Aristóteles já está marcadamente presente a distinção entre Reino e governo, mesmo livro que outro crítico do monoteísmo Erick Peterson escreveu contra a teologia política.
Deus aparece ali como o motor imóvel de todas as coisas que significaria em última instância uma “categoria” cristã, que de fato poderia ser para alguns autores, mas certamente não é o Deus cristão, há nEle um rico movimento chamado pericorése.
Porém este não é o Deus cristão, não há uma interpretação trinitária de fato em Agamben, mas uma adaptação da visão Aristotélica, dualista, o ser é e o não ser não é, para a visão do trinitário.
A grande contribuição de Agamben está na sua obra magna: Homo sacer: o poder soberano e a vida nua, onde aborda o conceito de vida nua, como aquela que se encontra em uma zona cinzenta da vida política, entre o zoé e bíos, o conceito de homem como animal político de Aristóteles explicado, aprofundado e atualizado.
AGAMBEN, Giorgio, Homo sacer. O poder soberano e a vida nua I. Trad.: Henrique Burigo. Belo Horizonte: UFMG, 2007.
O perigo da terceira onda e a vacina dos pobres
Os países mais ricos do mundo têm apenas 13% da população total e já tem para este primeiro semestre mais da metade (51%) das doses das vacinas contra a covid-19 em desenvolvimento, a busca de lucro e a disputa de mercado levou a isto.
Avança na Índia uma cepa do vírus que ainda não tem dados muito decisivos sobre a eficácia das vacinas, por isso o envio de teste para o estado do Maranhão é importante, poderemos saber qual a eficácia das 3 vacinas que já estão no Brasil para esta variante, a Coronavac, a AstraZeneca e a Pfizer, embora o número de doses ainda seja pequeno, o Brasil fez uma compra de 100 milhões de doses para outubro.
Precisamos atravessar o inverso com alguma segurança, o site da CNN (figura) alerta para o perigo real da terceira onda, a produção de mais vacinas com insumo já feitos nos países mais pobres será decisiva para um aumento da vacinação, que ainda é lenta.
Em termos percentuais a lógica é simples, se até a primeira semana de junho estivermos perto do patamar de 4 mil mortes diárias a terceira onda chegou, se estivermos abaixo de 2 mil foi detida.
Uma remessa de Ingredientes Farmacêuticos Ativos (IFA) chegou neste sábado na FioCruz, e serão usados para a produção de 12 milhões de doses de vacinas, com a produção de insumos no próprio país já iniciada podemos chegar na casa de 20 milhões de doses (o prometido é 18 milhões de doses), ainda serão insuficientes se a Coronavac não aumentar sua produção.
O governo acena com um total de 90 milhões de doses, e a segunda dose para pessoas acima dos 70 anos já vai começar, porém é preciso respeitar os 90 dias de intervalo da vacina AstraZeneca.
No caso da Coronavac o intervalo ideal é de 21 a 28 dias, para aumentar a eficácia para 62,3%, porém está sendo usado num intervalo de 14 a 28 dias, esta eficácia, que é baixa, pode se manter.
O essencial agora é ficar de olho na nova cepa da Índia que já tem casos registrados no país, fazer um isolamento rigoroso e manter os protocolos de máxima segurança, coisa malfeita ainda.
A possível, mas difícil “clareira”
A ocultação do saber esconde também uma ocultação do saber, sem algum tipo de clarividência o acesso ao conhecimento torna-se preso a esquemas mentais, lógicos ou ideo-lógicos que por sua vez estão presos ao pensamento contemporâneo.
A maneira como Heidegger enxergou a clareira, foi de difícil a avaliação até mesmo para seus alunos mais próximos como Hanna Arendt e Husserl, só para citar grandes nomes, porém na sua escola de pensamento muitos ainda permanecem presos ao idealismo.
O problema central do idealismo, para Heidegger, é que mediante as categorias a priori do entendimento, determina-se todas as propriedades dos objetos (como se fosse só “lógico” o conhecer) e assim os seres não podem manifestar são essência pura do que são, fora do “lógico”.
Assim entre o ocultismo fundamentalista, claramente problemático, e o pensamento “científico” ocidental, como dito por Heidegger “se estabeleceu como única medida da habitação do homem no mundo”, dito em seu texto O fim da filosofia e a tarefa do pensamento.
Em seu texto A doutrina da verdade em Platão, ele começa traduzindo Eidos (a Ideia como foi má traduzida) como aspecto, que não é um ente em sua mera aparência, como é percebida de forma imediata pelos sentidos, antes de se mostrar o ente aparece e pode ser captado pelo intelecto (Heidegger, 2007, p. 3).
A outra questão apontada por Heidegger é sobre a tradução explícita de “alethéia” por desvelamento e que não pode ser identificada com “verdade”, “a questão do desvelamento como tal, não é a questão da verdade … não devemos traduzir alethéia pela palavra corrente verdade” (Heidegger, 1972, p. 36), e assim “também não é sustentável a afirmativa de uma transformação essencial da verdade, isto é, a passagem [de Platão] do desvelamento para retitude” (Heidegger, 1972).
O que isto implica não é claramente obvio, mas é a própria clareira (no meio da floresta), ou seja, claridade, só é possível em um espaço de abertura prévia, algo que aparece, uma “presentação”.
Dito explicitamente pelo próprio Heidegger: “O raio de luz não produz primeiramente a clareira, a abertura, apenas percorre-a. [Ele] só pode brilhar se a abertura já é garantida”, assim é um evento no tempo, e talvez quiçá este tempo de ocultamento da Pandemia anteceda a uma “clareira”.
Será preciso “Mudar de via” afirma Edgar Morin em seu último livro, a humanidade mudará ?
Heidegger, M. O fim da filosofia e a tarefa do pensamento. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1972.
________. La doctrina de Platón acerca de la verdad. Eikasia, Revista de Filosofía, v. 12, extraor- dinario I, 2007.