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Uma relação e um terceiro
Costuma-se dizer que aquele que está com Deus tem tudo, ou aquele que tem um amigo possui um tesouro, ou ainda que o homem que encontrou a companheiro ou a companheira que encontrou um companheiro, encontrou a felicidade, quase sempre dois a dois sem um “algo” a mais entre eles.
Sócrates dizia que a verdade não está com os homens, mas entre os homens, quer dizer existe um terceiro elemento no caso da lógica, mas no caso onto-lógico existe um terceiro Ser.
Quem é este, se duas pessoas tiverem num verdadeiro epoché, isto é, se relacionam num vazio capaz de estabelecer uma ligação que produza tal força que surge uma terceira possibilidade, o que pode ser chamado de mutualidade, reciprocidade ou de modo mais simples solidariedade.
Porém esta terceira presença precisa de uma nova categoria ontológica, o não-ser ou aquilo que Paul Ricoeur chama no seu discurso linguístico “ser-como” e que na hipótese lógica do terceiro incluído, aquele que existe além do A e o Não-A, e que a física quântica estabelece como real.
Também o discurso religioso mudaria se a terceira pessoa a que todos clamam pudesse pertencer não ao próprio ego, mas justamente a sua negação para a inclusão do Outro, por isso estes temas estão relacionados, também na Bíblia por “ama teu próximo” não significa o da sua igreja, do seu grupo e apenas aquele que passa ao seu lado, mas há algo além o “como”, assim é Ser “como”.
O Ser-Como estabelece Ricoeur em outro texto (acima era uma referência ao seu livro Metáfora Viva), o texto “Le socius et le prochain” (O próximo e o sócio, sem tradução para o português), significa ultrapassar a barreira utilitária do Sócio para chegar ao Próximo, o livro é tão importante que mereceu uma citação na Encíclica do Papa Francisco “Fratelli Tutti”.
A maioria dos líderes que não possuem o magnetismo de um carisma verdadeiro, vale para qualquer segmento social: uma empresa, um grupo religioso, um partido ou alguma forma de governança, não olham para seus liderados como “próximos” (muitos até querem mesmo a distância), mas como sócios, ou repetidores de suas palavras e de suas vontades.
Três antídotos são naturais para verificar este novo tipo de liderança: seu apreço aos mais simples que não podem trazer grande poder de “sócios”, desapego ao cargo e aos luxos que o poder pode proporcionar e principalmente uma extraordinária capacidade de escuta.
Assim quando se quer caminhar a dois é necessário pensar se existe a possibilidade da terceira Pessoa estar “incluída”, numa lógica do terceiro incluído e da abertura de ambos capaz de fazer o vazio, o “epoché” para ouvir o Outro.
O futuro e diálogos pouco abertos
A ideia que estamos próximos a uma grande mudança está na boca de muitos apocalípticos e de alguns teóricos e até filósofos idealistas, embora a maioria reivindique abertura e diálogo, o que pensam sobre ele não é elaborado, fazem longos discursos e tecem narrativas irreais, porém querem ouvir a própria voz.
O verdadeiro diálogo entre tradição e mudança, felizmente há neste campo muita gente fazendo isto de modo apropriado, deve propiciar ao mesmo tempo uma releitura do passado, um respeito e a compreensão do porque dos fatos aconteceram desta ou daquela forma.
Esta é a leitura desde os pré-socráticos, passando pela alta e baixa idade média, o renascimento e o iluminismo, embora cada período se possa fazer a crítica, e até ela deve ser bem feita, é fácil fazer a releitura crítica porque este tempo passou e difícil deste tempo, porque ele chegou.
Difícil principalmente do iluminismo e da modernidade, a pós-modernidade ou ainda a tardia, ou sua continuidade, ainda tem difícil leitura porque a transição não se realizou e o problema que se coloca é a dificuldade de ultrapassá-la, quase todos concordarão que a modernidade já é mais tradição do que qualquer possibilidade de uma nova “revolução” dentro do seu pensamento, embora as tentativas sejam muitas.
Nietzsche chamava este dilema de “eterno retorno”, ele já percebia em seu tempo e há quem ache que isto é novo, e em parte tinha razão pelo horizonte que via no seu tempo, mas quando o novo não nasce o pensamento tradicional padece de envelhecimento e de mesmice.
Tenta-se dar-se um ar “novo”, ou “criativo”, mas não há nada que realmente mude a realidade.
Grandes problemas socioculturais de nosso tempo, morais e até religiosos não se mudarão sem uma perspectiva nova, embora redundante dir-se-ia um “novo” novíssimo, e para que de fato não seja pura imaginação, deve-se encontrar elementos já vivos que apontam o futuro.
Três elementos novos são visíveis: um planeta mundializado, é já possível ver-se como mundo embora ainda não se respeitem culturais diferentes, um esgotamento das forças da natureza, o domínio da natureza pelo homem foi o grande modo da modernidade, e o fim da fome e da miséria no planeta, embora com recursos disponíveis para tal, não se realizou.
Claro que há muitos outros fatores, mas eles são decorrentes da falta de diálogo com o futuro, a centralização de grupos autocráticos, a ausência de uma política e cultura em rede, embora os mecanismos para isto existam, são combatidas como “alienação” e até como responsáveis por problema que existem muito antes de qualquer pensamento sobre as novas tecnologias.
As novas gerações sabem o que é novo, alguns “velhos” tentam retomar o “protagonismo”.
Mudança e cosmologia limítrofe
As mudanças de nosso tempo trazem preocupações e alguns contratempos, entretanto é perigoso e limítrofe o que pode acontecer no pensamento, se pensamos tudo ser muito simples, pois não o é, o que é a fé.
Olhar aquilo que não entendemos com desconfiança, significa como a mudança é complexa, o risco de uma análise inadequada e ver as mudanças mais essenciais como obstáculos, enquanto são elas as grandes impulsionadoras da mudança, a reação pura e simples a ela é o que promove em nossos dias a ignorância, a manipulação dela é a má política e o dissenso, cresce a ignorância.
Ninguém tem bola de cristal, mas os argumentos da fé e da esperança podem ser usados, se bem usados, para olhar para o futuro com generosidade e convicção de que ele será possível.
Já citado no post anterior, a mundialidade é um deles, e é o melhor exemplo, porque é ao mesmo tempo simples, termos a Terra como Pátria, como reivindica Edgar Morin, e muito complexo porque envolve culturas, interesses econômicos e complexidade social.
Uma esperança simples é que o homem sempre superou na história os obstáculos que surgiram, na antiguidade clássica as guerras Greco-Persas (449-499 a.C.), a decadência do império romano, o tratado de paz da Vestfália (24 de outubro de 1648) que pôs fim as guerras religiosas entre estados, e foi marco de direito internacional, e finalmente, as duas guerras mundiais, que fizeram emergir a ONU ainda que seu papel deva ser ainda maior neste tempo.
Não se pode dizer que caminhamos para uma guerra, talvez seja este o momento em que possamos tratar a possibilidade de conflito mundial de modo preventivo, existem muitos locais, e por eles deve se começar a tratar os aspectos fundamentais de nosso tempo: o bom uso dos recursos naturais, a cooperação entre nações, e maior mutualismo, a pandemia deveria ter despertado isto.
O perigo de uma noite nuclear existe, também o que chamamos aqui de mutação aórgica, o próprio planeta, a natureza ou o misterioso universo nos atingir com algo impensável.
O aspecto da fé é importante, porque ela mobiliza bilhões de pessoas, é preciso dar a ela um caráter cosmológico e unificador, diferentes povos têm diferentes crenças, e mesmo que seja a mesma é preciso permitir a expressão cultural de modo adequado a cada povo.
Em toda cosmologia há a consciência de uma essência cósmica maior, um Deus expresso como Ser ou como alguma forma física, mas sempre superior aos impulsos mundanos e imediatos, ele pode ser usado não como limítrofe de nossos pré-conceitos e interpretações, mas como aquele “Algo” maior que reúne nossas distinções e encurta as diferenças.
O apelo entretanto deve ser aos que tem fé, que ela seja ao menos do tamanho de um grão de mostarda, com afirma a referência cristã, e que todos sirvam a Deus, o trecho do apóstolo Lucas que fala da fé minúscula que os crentes deveriam ter, diz (Lc 17,6): “Se vós tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: ‘Arranca-te daqui e planta-te no mar’, e ela vos obedeceria.”
Mas o texto bíblico didaticamente logo em seguida explica que isto SÓ PODE SER feito pela força superior e não por habilidade, apelo humano ou manipulação da fé para uso impróprio, diz o trecho seguinte (Lc, 17, 8): “Prepara-me o jantar, cinge-te e serve-me, enquanto eu como e bebo; depois disso tu poderás comer e beber?”, para dizer que a fé serve ao Senhor, e não aqueles que se servem dela, serve para que o Planeta e todo o Cosmos possa ter harmonia.
É preciso ter fé e esperança verdadeiros no futuro humano e do planeta, ela não pode servir a manipulação religiosa, política ou social, deve servir a todos, em especial, aqueles que tem outro tipo de crença ou de cultura, é preciso respeito a diversidade.
Mianmar urgente !
Mianmar, antiga Birmânia, foi governada por forças militares até 2011, quando após um longo período de protestos, em que a Suu Kyi voltou ao país para resistir junto com a população ao autoritarismo do governo militar, acabou cedendo e fazendo reformas democráticas.
O filme feito sobre ela foi feito justamente no momento em que as forças democráticas retiravam do poder os militares, The Lady (em português traduzido como Além da Liberdade), conta a história de Aung Suu, Kyi filha de Bogyocke Aung San, grande estadista considerado pai da nação birmanesa, teve sua história recente contada no filme dirigido por Luc Besson, o final foi adaptado porque o país entrava em um processo de redemocratização, após inúmeros protestos e a prisão de Sun Kyi.
Após 9 anos de redemocratização, que se consolidaria com a esmagadora vitória em novembro, de seu partido a Liga Nacional pela Democracia (NLD em inglês) e que os militares alegam terem sido “fraudadas” sem apresentar qualquer prova disto e agora retomaram o poder.
Em carta escrita antes de ser detida, Suu Kyi denuncia que as ações militares voltam a colocar o país sob a ditadura, e pediu ao povo “protestem contra o golpe”, “não aceitem isso”.
O mundo que vive sobre novas ameaças de facismo deve protestar contra mais um golpe na democracia e na convivência pacífica dos povos.
Presa muitas vezes, é dela a frase: “A única prisão real é o medo, há só uma liberdade real libertar-se do medo”.
Reinfecção, cuidados e vacina
Os estudos atuais apontam que alguém que já teve Covid pode ter uma nova infecção por causa da mutação do vírus, em São Paulo já há três variantes confirmadas (pelo Instituto Adolfo Lutz, claro muitos nem serão contados por que é preciso fazer testes PCR), e há casos suspeitos em Santa Catarina, Paraná, Acre e Mato Grosso do Sul, enquanto isto a infecção cresce e a campanha de vacinação ainda vai devagar.
A variante do vírus chamada de P1 já foi detectada em oito países, além do Brasil, Japão, Itália, Coréia do Sul, Alemanha, Estados Unidos, Reino Unidos e Ilhas Faroe. O que mais preocupa é que as vacinas podem não imunizar esta nova variante, os estudos ainda estão em andamento.
Em 17 de janeiro foi detectado um caso de reinfecção em Manaus, o caso foi estudado e teve um artigo científico publicado esclarecendo e dando dados da reinfecção pela nova variante, tratava-se de uma mulher de 29 anos que tinha contraído a Covid em março de 2020, em 19 de dezembro ela voltou a apresentar sintomas e foi diagnosticada com a variante da Covid 19.
Os cuidados deveriam ser redobrados, entretanto não apenas há autoridades que negligenciam o isolamento social, como também há atitudes contraditórias, o governo de São Paulo, coloca quase todo estado na fase vermelha, de maior gravidade, mas entra na justiça para ter aulas presenciais nas escolas públicas já neste mês, inicialmente falta coerência de discurso e de ação.
O Brasil não acompanha a identificação, rastreamento, monitoramento e isolamento das infecções da Covid-19 e o alerta é dos próprios cientistas brasileiros, a plataforma Gisaid que monitora o vírus no mundo, tem apenas 0,5% dos casos publicados, estudados do Brasil.
A vacinação começou principalmente com os profissionais da saúde, é preciso esclarecer que os cuidados devem ser redobrados, uma vez que a onde de infecção está mais forte, e que somente a partir de um certo grau de vacinação, que depende da eficácia da vacina, pode-se ter alguma medida de flexibilidade, abrir completamente está muito longe de acontecer.
Os fundamentos do conceito de ideia
Seguindo um raciocínio de Sloterdijk, no qual os fundamentos devem ser pensados e em função deles poderem retornar ao princípio e ao pré-conceito de cada pensamento, pode-se rever ideia com o “eidos” grego, o conceito atual é kantiano.
Para Aristoteles haviam princípios universais, não como pensou Kant mais tarde, mas partindo da ideia do uno (tó hen), o que é (tó ón) e os gêneros (animais, plantas, seres vivos), enquanto a essência (eidos) não seria um universal, mas algo comum (koinos) a múltiplas coisas, não há portanto em Aristóteles o dualismo idealista, mas a separação entre os universais e a essência.
O sentido eidético da hermenêutica é aquele que promove a unificação do interno e do externo nas manifestações da vida, nas ciências da natureza o objeto é visto por si mesmo (retornar as coisas por elas mesmas), já nas ciências idealistas o “objeto” é aquele alcançado por um esforço contínuo do pesquisador (a transcendência kantiana), embora se comprometa a retornar com frequência á tradição, o todo não se renova, pois o “objeto” está separado de si mesmo pela observação isolada, fora do Ser e das possíveis pré-conceituações, é o uma “ideia”.
Em Platão este dualismo se acentua, o mundo sensível e o mundo das ideias (ainda no sentido do eidos, essência), esta separação será incomoda para os idealistas modernos, que a re-unirão, mas sem uma necessária reflexão filosófica, com isso permanecerá a dicotomia sujeito e objeto, jamais reunidas enquanto Ser (interna e externamente).
A ontologia, e o método da hermenêutica filosófica é uma tentativa de reunir estes campos, embora permaneçam distintos e sob tensão, porém com possibilidades de clarificação ultrapassando a separação clássica.
Gadamer em sua obra matter “Verdade e Método” vol. II, a retoma assim:
“A hermenêutica é a arte do entendimento. Parece especialmente difícil entender-se sobre os problemas da hermenêutica, pelo menos enquanto conceitos não claros de ciência, de crítica e de reflexão dominarem a discussão. E isso porque vivemos numa era em que a ciência exerce um domínio cada vez maior sobre a natureza e rege a administração da convivência humana, e esse orgulho de nossa civilização, que corrige incansavelmente as faltas de êxito e produz constantemente novas tarefas de investigação científica, onde se fundamentam novamente o progresso, o planejamento e a remoção de danos, desenvolve o poder de uma verdadeira cegueira.” (GADAMER, 1996, p. 292).
Gadamer após explicar que o retorno ao Ser, proposto por Heidegger é um retorno ao método hermenêutico, que não era nem desenvolver uma teoria das ciências do espírito (como fez o idealismo, e o alemão em especial) nem propor uma crítica da razão histórica, como fez Dilthey, e que Gadamer vai esclarecer em seu livro “A questão da consciência histórica” para dizer que não se trata nem de romantismo histórico.
O seu objetivo final está expresso ao afirmar: “o que fiz foi colocar o diálogo no centro da hermenêutica” (Gadamer, 1996, p. 27), mas seu diálogo nem é idealismo (seria absurdo) e nem alguma forma de cegueira filosófica, é justamente o resgate da hermenêutica-filosófica.
Seu diálogo não é, portanto, nem o dogmatismo idealista, hoje mais que teoria tornou-se dogmatismo a-histórico, e sim a identificação dos pré-conceitos, a partir dos quais é possível tanto a fusão de horizontes quanto aceitação dos distinções de cosmovisão.
GADAMER, H.G. Verdade y método v. II.S alamanca:Sígueme,1996.2v.
Vacinas: Eficácia e Eficiência
A eficácia da vacina depende basicamente da ação que ela consegue ter ao vírus em pessoas e populações concretas, quanto a idade, ao tipo físico e o desenvolvimento orgânico de cada pessoa e determinadas comorbidades, doenças que colaboram com o processo infeccioso.
O fato e uma vacina ter eficácia de 90% por exemplo para que ela seja eficiente seria necessário vacinar pelo menos 56% da população, onde o desenvolvimento do vírus ficaria limitado ao contágio e as taxas infeciosas iriam caindo até chegar ao fim da pandemia em determinado período, e também o tempo de vacinação é importante e dele depende a disponibilidade da vacina para uma porcentagem da população dependente a sua eficácia.
O problema é que os países ricos estão dispondo de insumos para produzir a vacina, então eles poderão ter maior probabilidade de combater a pandemia, os países mais pobres além desta disponibilidade, que depende da agilidade das ações governamentais, precisam de ter recursos para compras insumos para produzir vacinas no próprio país ou comprarem as vacinas.
Há uma disputa de mercado e também no plano político, a própria OMS afirmou que poderá ocorrer um problema moral se os países mais pobres tiverem dificuldades para obter a vacina e/ou os insumos para produzi-la.
Também é um problema de eficiência a capacidade do sistema hospitalar e a organização do sistema de saúde, o Brasil tem uma boa organização pública no sistema do SUS, porém há uma urgência das ações do estado, a volta da doença para uma fase crítica não foi prevista e assim há um grande problema de eficiência na resposta a doença, a falta de oxigênio em Manaus foi isto.
Há por último um problema cultural, que é a compreensão que ainda não saímos da Pandemia e qualquer medida que favoreça o fim do isolamento é preocupante e isto tem levado a um esgotamento da capacidade hospitalar de responder a nova fase crítica da Pandemia.
É responsabilidade de todas as forças políticas e públicas alertar que a Pandemia está longe do fim, e a vacina ainda que seja uma esperança dependerá da eficácia e eficiência de sua aplicação.
Evitar a euforia, evitar a pandemia
As vacinas estão chegando, porém é hora de calma e serenidade, ou seja, evitar a ira (contrário da calma) e a euforia (o contrário da serenidade), sim é possível mesmo em momento de tensão e de forte ansiedade.
A explosão da ira e a euforia, precisaremos ainda ter medidas de isolamento e preventivas que exigem a pandemia, é provável que ainda dure por muito tempo, as vacinas cujas eficácia são ainda pequenas e a fase de testagem precisa continuar para ter índices mais confiáveis.
Países como a Inglaterra e Portugal, mesmo com início da vacinação, registram altas de infecções e casos mais graves, as variações do vírus são mais infeciosas e atingem maior população, a vacinação o que vai fazer é reduzir os índices de contaminação, no entanto, os hospitais estão cheios.
Para manter a serenidade pode-se buscar diversas formas de relaxamento e espiritualidade, o que parece quase impossível nestes dias, são as atitudes culturais e psicológicas que provocam mais e mais aglomerações e consequentemente índices maiores de contaminação.
Seguir uma forma de espiritualidade ou de meditação significa justamente encontrar a serenidade e manter a nossa “morada do ser”, como postamos a semana passada mais próxima da paz interior, desesperar jamais, para sair de um longo período de isolamento é preciso calma e paz.
Deve-se buscar com coração e alma atitudes contidas de alegria e esperança, não apenas porque estamos no final (assim esperamos) de uma pandemia, mas porque queremos que esta saída seja segura e com o mínimo de mortes possível.
É fácil observar, no caso do Brasil e de alguns países, que a impaciência é grande, o que provoca uma crise de ansiedade e que pode explodir em ira ou euforia, típicas de ausência de estabilidade.
Ao chamar os discípulos para iniciar uma caminhada com Ele, além de uma necessária mudança de rota (um novo sentido para uma caminhada) também era comum deixarem para trás, mesmo que fosse por algum tempo, seus trabalhos e empenhos.
Como a maioria dos discípulos eram pescadores deixa por algum momento a pescaria, e diz a leitura (Mt 1,19-20): “Caminhando mais um pouco, viu também Tiago e João, filhos de Zebedeu. Estavam na barca, consertando as redes, e logo os chamou. Eles deixaram seu pai Zebedeu na barca com os empregados e partiram, seguindo Jesus”, mas depois voltaram a trabalhar.
Assim não é difícil um tempo de parada, é preciso encontrar um caminho a seguir, mas logo já estaremos de volta ao trabalho e ao dia-a-dia, esperamos mais calmos e serenos.
Colaboração e ingratidão
Termos aparentemente tão distantes estão profundamente conectados, a colaboração que quase sempre envolve uma dose de gratuidade (pode até ser remunerada, mas faz a faz com alguma generosidade) e a ingratidão, que é o não reconhecimento da grátis-dão, do que é feito com alguma dose de doação.
Isto sempre envolve os meios do poder, em tempos de psico-poder, a escolha de meios para certos fins é fundamental, aquilo que o indivíduo influencia ou desafia em benefício próprio, está explicado em Habermas usando o conceito de Hanna Arendt e polemizando com Max Weber: “é essa capacidade de disposição sobre meios que permitem influenciar a vontade de outrem que Max Weber chama de poder. H. Arendt reserva para tal caso o conceito de violência” (Habermas, 1980, p. 100).
Assim, pode-se teorizar que o que não leva a colaboração pode levar a uma forma de poder ou de violência, se admitimos que colaboração tem uma oposição essencial a ingratidão, ou para teorizar mesmo, este poder gera uma dose de ingratitude.
Ainda no campo da teorização, na vida fenomenológica penso que os “meios” aceleraram a ideia da colaboração, Habermas vai falar de um “individualismo metodológico” aplicando-o a formas de poder que não permitem o “entendimento mútuo” ou a superação do “egóico sentido de poder”, que leva a não-colaboração e ao não-reconhecimento do gratuito.
Penso que Hanna Arendt é mais direta porque seu modelo é “um modelo comunicativo” (interativo) onde o consenso seria alcançado por meios não-coercitivos, pelo “entendimento recíproco” que levaria a “vontade comum”, a meu ver, falta ainda a ideia da gratitude.
Em meios onde a colaboração e a reciprocidade, ações mútuas de co-laborar, ou seja trabalhar juntos, já é uma realidade, o poder se dispersa e o líder não aparece como poder coercitivo, do latim coercĭo, que significa retenção.
O que se propõe então, partindo de Hanna Arendt é que se pense na forma que permita a co- laboração como forma comunicativa de influenciar a vontade do outro, sem coagi-lo, isto leva a sistemas de ingratidão, incompreensão e luta pelo poder através da violência.
Habermas, J. (1980). A crise de legitimação do capitalismo tardio. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro.
A covid financeira
A crise atual, que é uma Pandemia da saúde poderá tem gravesconsequências financeiras, o alerta é da economista-chefe do Banco Mundial Carmem Reinhart.
O prolongamento da Pandemia de Covid-19 sobrecarrega as economias domésticas e empresarial e evolui para uma crise econômica. Reinhart chama este efeito de “custo cumulativo”, explica que há problemas clássicos de balanço patrimonial.
Em 2009 publicou um livro com Kenneth Rogoff, então colega de Harvard, que analisava a mais recente crise financeira, o livro “This time ia diferente: eight centuries of Financial Folly” tornou-se referência de governos para recessões, corridas a bancos e processos infracionários.
Os que acreditavam num total retorno a normalidade estão enganados, além de um plano para futuras pandemias e uma co-imunidade (conceito criado por Sloterdijk antes da Pandemia), é preciso desenvolver uma espécie de mutualismo, isto é, relações que tenham mútuos compromissos, onde o Outro não é incômodo mas parte da solução.
Deve-se imaginar que isto poderá promover uma grande mudança de mentalidade, isto parece quase impossível, porém o futuro da humanidade depende disto, e o aprendizado deve ser rápido, é um dos assuntos de Sloterdijk em Tens de Mudar sua vida, escrito antes da pandemia.