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A Hermeneutica de Scheilemacher a Gadamer

18 jun

O renascimento da hermenêutica, ela esteve confinada na cultura clássica antiga como uma vertente da filosologia clássica,  feito por Schleiermacher (1768-1834).

Para Heidegger, a hermenêutica é equivalente a fenomenologia da existência, ou seja, coisas que são passíveis de interpretação, devem ser analisadas de acordo com as possibilidades de existir e se manifestar em seu tempo histórico, mas sua compreensão de história é diferente de Dilthey.

Seu trabalho encontra o primeiro eco em Wilhelm Dilthey (1833-1911), que separa a ideia de interpretação em dois campos explicação das ciências naturais e compreensão nas ciências humanas.

Paul Ricoeur (1913-2005) e Hans-Georg Gadamer (1900-2002) vão superar esta dicotomia criando uma hermenêutica filosófica, para Ricoeur compreender um texto é encadear um novo discurso no discurso do texto, assim o texto deve estar aberto, ou seja, passível de apropriação de um sentido.

Por outro lado, a reflexão, é para Ricoeur, a meditação sobre os signos presentes, assim não há explicação sem a compreensão do mundo e de si mesmo.

Hans-Georg Gadamer vê na concepção histórica de Dilthey certo idealismo, e sua hermenêutica como a de Ricoeur, que são filosóficas, no entanto ele a vê numa estrutura circular onde há sempre uma pré-compreensão, onde é possível uma fusão de horizontes o que permitirá uma reinterpretação e uma nova formulação da compreensão.

No círculo hermenêutico, inspirado em Heidegger, foi pensado assim “Toda interpretação, para produzir compreensão, deve já ter compreendido o que vai interpretar”, porém foi Gadamer que o sistematizou. 

Em Gadamer a ideia de horizonte é: o conteúdo singular é apreendido a partir da totalidade de um contexto de sentido, que é pré-apreendido e co-apreendido, onde há um diálogo entendido como: A compreensão sempre é apreensão do estranho e está aberta à modificação das pressuposições iniciais diante da diferença produzida pelo outro (o texto, o interlocutor).

A compreensão do contexto no sentido de tradições, cultura, etnias e crenças são fundamentais para entender como o círculo hermenêutico acontece.

A experiência se realiza segundo a troca dialogal dentre de uma língua e ela é sempre produtiva não apenas reprodutiva: “o sentido de um texto supera seu autor, não ocasionalmente mas sempre”, assim a hermenêutica filosófica a vê como presente nas culturas e línguas.

O resultado deste círculo é a produção de um saber prático usa uma palavra grega phronesis (não há teoria x prática) que não é um saber privado mas social, onde realiza as minimizações e exacerbações da autocriação do eu e no âmbito social a criação de dogmas retirando da ética a sua estetização social, e, preserva as sabedorias práticas de culturas e crenças que atuam nos processos respeitando a diversidade.

GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método: Traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

 

Da fenomenologia de Brentano a Ontologia de Heidegger

17 jun

Entre as contribuições de Brentano, além da intencionalidade da consciência,  que é consciência de algo ou do objeto, está o que alguns autores (Boris, 1994) chama de Filosofia do Presente, onde o aqui e agora é a única experiência possível, rompendo com a ideia do empirismo de que uma experiência só é científica se puder ser repetida, e também rompe com a neutralidade do espectador, pois ele é parte do experimento, o que torna-o uma hermenêutica.

Da intencionalidade de seu mestre Brentano, Edmund Husserl (1859- 1938) guardará o aspecto da experiência de “ser consciente de alguma coisa”, mas modificará a fenomenologia empírica, para torná-la transcendental, não no sentido ainda espiritual, mas das vivências cognoscitivas, deixará de lado a visão de empírica, pela de uma objetividade imanente.

Husserl afirma em Ideias da Fenomenologia (1986) que: “As vivências de conhecimento possuem, isso pertence à sua essência, uma intentio, visam algo, se reportam de tal ou tal maneira a uma objetividade”, com isto abandona a ideia do empírico do mestre Brentano, e retoma o conceito de objetividade imanente como uma revisão dos conceitos Aristotélico e Tomista, como “essência”.

Em sua obra da maturidade A crise das ciências Europeias Husserl torna o conceito de transcendência mais vivo, dentro de sua Lebenswelt (Mundo da Vida), o transcendente “o transcendente é o mundo exterior” enquanto o transcendental “é o mundo interior” da consciência (HUSSERL, 2008, p. 18), porém esta dicotomia entre mundo exterior e interior vai fazer os filósofos existencialistas evitar o termo consciência.

Heidegger (1989) aluo de Husserl foi o primeiro a evita, pois a relação entre homem e mundo sempre foi perseguida pelos fenomenólogos com objetivo de superar o fantasma idealista da relação sujeito-objeto, a análise intencional e descritiva da consciência definia as relações essenciais dos atos mentais e o mundo externo, apesar de amadurecer Husserl a questão da redução fenomenológica.

Martin Heidegger (1889-1976), via Husserl como intelectualista e cartesiano, abandona os termos consciência e intencionalidade, centrais na fenomenologia transcendental de Husserl, na obra O ser e o tempo (1927), não aprovada por Husserl, o aluno supera o conceito de consciência e propõe o conceito de Dasein, inaugurando a fenomenologia existencial.

A “finitude” humana, a temporalidade e a historicidade (o ser no tempo) serão fundamentais na análise heideggeriana do Dasein, uma teoria que se funda na “destruição” da cisão sujeito-objeto.

 

BORIS, G. D. J. B. Noções básicas de fenomenologia. Insight. Psicoterapia (São Paulo). v. 46, pp. 19-25, novembro, 1993.

Heidegger, M. Ser e tempo (Vols. 1-2). Petrópolis, RJ: Vozes, 1989.

HUSSERL, E. A crise da humanidade europeia e a filosofia. Porto Alegre; EDIPUCRS, 2008.

 

A covid ainda avança no Brasil

15 jun

O flagelo da pandemia que poderia ter unido ao Brasil agora transforma o medo em terror, as taxas continuam avançando mesmo que o número de mortes permaneça num platô em torno das mil mortes diárias, com variações para cima e para baixo.

O resultado que dá uma sentença agora é a taxa de contaminação por mil habitantes, e o inverno chega no país na próxima semana, cidades que abriram o comércio começam a recuar, mostra uma política vacilante entre salvar a economia ou reduzir o número de mortes, e a luta política.

A polarização existente desde as eleições ameaça voltar com mais radicalidade, não há um cenário que nos dê esperança, nem de reduzir a mortalidade, que deveria ser prioridade, nem de resolver a crise política que poderia dar um alento e conduzir a uma política forte de isolamento social.

Assim o país vai se tornando o caso mais crítico e contribui para um isolamento internacional, os que queriam salvar a economia ainda não entenderam que uma política séria de combate ao covid minimizaria os resultados econômicos, salvaria vidas e talvez unisse um país cada dia mais dividido.

Não faltam comentaristas no mínimo maldosos, li de um famoso filósofo midiático que depois haverá alegria e euforia, gostaria de acreditar nisto, mas como só o desemprego já é enorme.

Se não houverem mentes sensatas e interessadas em salvar vidas (que também minimiza os custos econômicos) navegaremos em situações confusas e que os dados já mostram, não há nenhum sinal que a convid pode recuar, defendíamos no início de maio o #lockdown, se vier agora virá como medida de desespero, e sem apoio popular, os 3 meses de quarentena mal feita, esgotaram o ânimo da população.

Não é um conflito causado pela mídia, pela oposição ou pela ideologia, é falta de sensatez e sabedoria, colocamos aqueles que estão na frente da batalha: os médicos, enfermeiros e socorristas, além dos trabalhadores de serviços essenciais em situação difícil, cansaram de nos pedir: fiquem em casa, não foram ouvidos.

A esperança é que a própria doença estacionada no platô de mil morte diárias comece a recuar.

 

O esgotamento do humanismo e co-imunidade

12 jun

Quando Peter Sloterdijk proferiu sua palestra “regras para o parque humano” em 17 de julho de 1999 num colóquio dedicado a Heidegger e Lévinas, no castelo de Elmau na Baviera, apesar de ter na platéia Teólogos a reação maior foi dos meios de comunicação, ao afirmar o surgimento de uma “antropotécnica” e manipulações genéticas, os ecos foram ouvidos na França e também no Brasil onde foi publicada uma reportagem no Caderno Mais da Folha de São Paulo.

O que o filósofo alerta, em sua linguagem rica em metáforas para tornar sua intrincada filosofia mais clara, afirmava que o trabalho de domesticação humana havia fracassado, em resumo, esta era sua resposta à Carta sobre o Humanismo de Heidegger, e a sua palestra se tornaria um livro de grande repercussão.

Depois vieram outras polêmicas, sobre a ecologia por exemplo, afirmou  que “oscilaremos entre um estado de desperdício maníaco e de parcimônia depressiva”, em palestra intitulada “sobre a fúria de titãs no século 21” ou seja, entre duas forças opostas: o minimalismo e o maximalismo, o que chama de frivolidade de nossos atos.

Falou também na referida palestra, sobre a decadência do conceito da ética: “antigamente … vinha de um sentimento de obrigação, de virtude. A responsabilidade só se torna uma categoria importante quando as pessoas fazem coisas cujas consequências não conseguem controlar” e alerta que o termo responsabilidade é novo em filosofia, também nas ciências humanas.

Em resposta em uma entrevista ao jornal El País, o filósofo criador do conceito de co-imunidade, afirmou que a situação atual exigirá “a necessidade de uma prática mais profunda do mutualismo, ou seja, a proteção mútua generalizada, como digo em Você Tem que Mudar a Sua Vida”, livro sem tradução para o português.

Além desta necessidade, o que o conjunto da situação atual que revela um desequilíbrio global da natureza ao social, indica que fatores externos e inorgânicos (de alguma forma a natureza vai reagir) poderá acelerar o processo de mutualismo, como o vírus nos fez repensar a imunidade, talvez algum efeito aórgico poderá acontecer. 

O humanismo está preso a frivolidade do pensamento idealista.

 

 

Pandemia: futuro incerto

08 jun

Após tentativas de controle do isolamento social, de dificuldades para tomar medidas mais duras, agora o Brasil mergulha num futuro incerto: faltam dados, uma política clara e planejamento.

Os dados oficiais dependerão agora da seriedade das Secretarias da Saúde regionais e do trabalho duro dos médicos e hospitais, e o planejamento da responsabilidade de autoridades locais, no plano mais geral há a proposta de uma abertura planejada, porém poderá ser desordenada.

Os dados que se dispõem indicam um aumento durante a semana que passou acima das mil mortes chegando a um pico de 1473, que recuou no fim de semana para o patamar de mil mortes.

A curva que traçamos parece refletir o cenário de instabilidade, embora defasada de 7 a 14 dias, pois as mortes são o reflexo de infecções nos dias passados, elas são os dados reais, pois mesmo que o grau de infecção esteja caindo para baixo de um, uma pessoa infecta outra, isto não significa que o contágio e a letalidade reduziram, no caso brasileiro é preciso entender a interiorização dos casos e os recursos regionais para o combate, como é o caso da Amazônia e regiões pobres.

A pressão dos grupos econômicos para abertura do mercado, a incerteza política e o jogo de alianças que é feito devido este cenário, tiram o foco da pandemia e se desloca ao cenário político, um quadro triste para o país.

Apesar de grandes grupos que realizam ações solidarias, do esforço dos médicos e enfermeiros, a lição que vamos tirando desta pandemia como povo é a pior possível, não temos apreço ao povo simples, nem mesmo com muitas mortes e do cansaço de quase 3 meses de pandemia.

Alguns países sairão melhores da pandemia como nação, o Brasil não, fomos incapazes de unir as forças, de sermos solidários nacionalmente com as dores de um flagelo e incoerentes com nosso amor que declaramos ao país, resta-nos fazer nossa parte e ter esperança que o vírus recue.

 

 

 

A dignidade humana e convicções aceitáveis

02 jun

A morte por asfixia do afro-americano George Floyd pelo policial branco Derek Chauvin chocou o mundo e desencadeou uma série de manifestações violentas em todos Estados Unidos, incluindo no dia de ontem a capital Washington, ao mesmo tempo que no Brasil a acusações e manifestações entre grupos a favor e contra Bolsonaro crescem.
No caso brasileiro são as palavras destemperadas do presidente, e uma reunião de ministros que tornou-se um escândalo público pela maneira como foram tratadas questões sérias de estado, em um momento de pandemia que deveria ser motivo de união, o palco político vai aquecendo.
Não era a linha de raciocínio deste blog, mas não se pode omitir quando se percebe o grave momento no cenário mundial e nacional, e dois pontos devem ser considerados, sem esquecer que a pandemia deveria ser o nosso principal foco, mas a gravidade nos obriga a tocar nestes pontos.
No caso americano, a própria família de Floyd através da autópsia esclareceu a morte por asfixia e assim pediu que fosse considerado homicídio culposo, quando há intensão de matar e não doloroso quando não há intensão, Derek Chauvin o policial que o matou já tinha 20 queixas e duas cartas de repreensão.
No caso brasileiro, há diversa manifestações em defesa da democracia e dos princípios que regem a carta constitucional brasileira, pessoalmente assinei um que chama a todos os democratas de diferentes convicções a defender estes princípios.
Quero ressaltar que tanto no caso americano, onde o irmão de Floyd agradeceu o apoio e pediu para que os atos fossem pacíficos, como no Brasil também considero fundamental o combate a violência e o respeito aos poderes constitucionais em manifestações contra o autoritarismo.

 

Platô do corona no Brasil

01 jun

Defendemos aqui o uso de LockDown, sendo que na semana passada já seria tardio, agora o que a curva mostra é um platô em 1 mil mortes durante 14 dias (sem o LockDown a curva alongou), dependo de quando começará a cair é que se pode avaliar a extensão do platô e a perspectiva de queda, como foi feito um feriadão a uma semana, com resultado pequeno, espera-se alguma resposta em uma semana.

A perspectiva será de uma queda tão lenta quando a subida, contando só a partir de março para ficar fácil a projeção (março, abril e maio) teremos a retração da curva só em agosto (junho, julho, agosto) que coincide inclusive com o final do inverno, assim a “nova normalidade”, pois não há como prever o que pode acontecer depois inclusive se houver uma segunda onda de infecção, só mesmo em setembro.

Qualquer plano que pretende uma abertura maior, que conte com a colaboração e educação da população que não aconteceu até agora, é uma aventura, um mergulho no escuro.

O sensato seria permitir abertura de comércio com severas restrições e punições, a colaboração é de metade da população no máximo, o que é insuficiente para conter a contaminação, e contamos ainda com a desinformação as vezes auxiliadas por governantes.

Sairemos da pandemia mais divididos que antes, com a moral baixa porque não fomos liderados e nem tivemos capacidade de nos unir, e procurar culpados vai ser pior do que a própria pandemia porque teremos que enfrentar uma situação económica grave a seguir.

Ter esperanças que alguma lição tiremos disto, os milhares de médicos, enfermeiros, auxiliares, motoristas, socorristas e seguranças que ajudaram a salvar vidas, a solidariedade de quem socorre a população desempregada e as instituições que lutam para manter este socorro.

Podia ser pior, sim se não houvesse o isolamento social e os hospitais de campanha que ampliaram a capacidade do sistema de saúde, se não houvesse a ajuda emergencial para os desempregados e trabalhadores informais, além da ajuda do bolsa-familia, mas fica no povo a impressão que faltou uma decisão mais firme de um isolamento social maior.

A pandemia não passou, e a queda da curva vai depender da população e da vigilância.

 

A retomada ontológica e o Ser dinâmico

28 mai

Se existe uma ontologia em Hegel ela é estática, ainda que entre o ser e não ser exista um tornar-se ele é uma afirmação do ser e não a sua negação poiética ou noiética (noesis aqui no sentido da fenomenologia husserliana), é pressentimento ou captação no momento atual da mudança ou fusão de horizontes, e poiésis no sentido de uma mediação ou uma linguagem do Ser.

A retomada ontológica que embora estática, em certa medida está presente em Hegel, ela é estática ao ver o ser em oposição ao não-ser, enquanto como momento de interioridade de vida e do ser, ela é justamente o devir, que exterioriza-se em uma relação com o Outro, o diverso.

Porém a interpelação de Peter Sloterdijk a Heidegger em sua Regras para o Parque Humano não pode ser esquecida, assim como a crise do pensamento científico da Europa apontada por Husserl em sua obra da maturidade na qual interpela tanto o objetivismo fisicalista e como o subjetivismo transcendental, retomando o seu Lebenswelt, o o mundo-da-vida.

A questão de Sloterdijk faz sentido ao pensar nos tempos escabrosos do fim da Segunda Guerra Mundial, após o campo de concentração mas também a bomba de Hiroshima dos aliados, e nesta nova “guerra” contra a pandemia parece voltar a fazer sentido nos perguntar sobre o Humanismo.

Em Heidegger é como Da-sein, “ser-ai” (ou ser-sendo), que o humano assume a tarefa d pastorear o ser, e o é no sentido sentido do lugar-tempo (usando a nova dimensão quântica) que habita o Homem, uma vez que lugar agora é todo o planeta, mas os nacionalismos subsistem, não como afirmação de povos que é justa e real, mas como delimitação de pastoreio e interesses.

Sloterdijk parece ter razão ao apontar que o “desvelamento” da destrutividade política ficou reduzida à sua forma mais explícita e encorajada de ser como a fórmula “vontade de poder” (Sloterdijk, 2012, p. 284) em uma “síntese do humanismo e do bestialismo” (Sloterdijk, 2000, p. 31), e que parece continua igualmente em uma ambiguidade como movimento, e não se pode furtar aqui de citar algumas formas de neo-nacionalismos que retomaram atualmente com muita força, sua análise portanto não é uma fantasia.

A reação ao discurso de Sloterdijk em Elmau, dedicado a leitura de Heidegger e Lévinas, que é o princípio de seu livro que seria sistematizado depois, ele inverte a relação entre ontológico e ôntico, e começa a elaboração do que virá a chamar de antropotécnico, os recursos ônticos que se prevalecem sobre os ontológicos.

O que vai revisar é se o epíteto de “casa do ser”, que ainda resta ser de fato habitado, não seria um meio paradoxal de “memória (do ente) pelo esquecimento (do ser)”, mas não o fez através dos meios literários, os quais mantiveram tanto tempo o humanismo metafísico ?

Pode-se conceituar esta “casa do ser”, como tendo noesis e poiesis de sua alma, não num só num sentido metafísico mais do Espírito definido de maneira diferente de Hegel  ? nossa resposta é que sim, há uma forma de afastar-se do bestialismo por uma “vida de exercícios” humanos, de amor e de solidariedade, quem sabe a pandemia sob a dor de tantas mortes, desperte esta “alma”.

SLOTERDIJK, Peter. Crítica da Razão Cínica. Trad. de Marco Casanova, Paulo Soethe [et. al]. São Paulo: Estação Liberdade, 2012.

SLOTERDIJK, Peter. Regras para o parquet humano: uma resposta a carta sobre o humanismo. Trad. José Oscar de Almeida Marques. São Paulo: Estação Liberdade,  2000.

 

O que é espírito e transcendência hegelianos

27 mai

Já fizemos vários posts para explicar que a transcendência de Kant nada mais é que a separação de sujeitos e objetos, porém Hegel completa e sistematiza toda esta filosofia em Fenomenologia do Espírito, obra que influenciou profundamente as filosofias do direito, da história, da estética e da religião, o próprio Marx e muitas correntes que daí derivam, não escaparam disto.

Também já fizemos posts sobre a questão da consciência histórica de Gadamer, crítica as ideias principalmente de Dilthey sobre a história, agora analisemos o “espírito” em Hegel.

Primeiro como o nome diz é uma fenomenologia, portanto não um conjunto de fatos ou mesmo de realidades tangíveis, mas um conjunto de fenômenos colocados sob um certo esquema  (veja ao lado).

Hegel entende a história, a arte, a religião e a própria filosofia como fenômeno objetivo, e como  tal (ou seja, um objeto) está direcionado ao espírito para um autoconhecimento.

Sua capacidade de síntese, fará que sua história da filosofia, com esquemas e elementos específicos sobre a transcendência e a metafísica na filosofia, deem força ao seu pensamento, e a Fenomenologia do Espírito é central para este esquema.

Para entender o que ele pensava como fenômeno, é preciso entender o que ele chama de “consciência natural” que era o que abria caminho para o conhecimento filosófico, e é por ela que vai fazer uma leitura da história da filosofia e assim elaborar o que é conhecimento.

Só para fazer um contraponto, por isso Husserl vai dizer ao contrário, que só existe consciência de “algo”, enquanto Hegel constrói esta categoria como sendo “natural” e nela está a objetividade.

Mas o “natural” de Hegel não é só natural e sim histórico, portanto, sua introdução a um sistema de filosofia, é construído no percurso histórico do pensamento, parece “natural”, mas é sua ideia de filosofia da história.

O que está escondido por trás deste esquema é o que Nietzsche vai chamar de genealogia da moral, mas depois surgiram outras genealogias a viragem linguística a partir de Wittgenstein por exemplo, vai ver os objetos na sua relação com os outros: “também não podemos pensar em nenhum objeto fora da possibilidade de sua ligação com outros” (Wittgenstein, Tractatus, 2.0121).

Para entender o que é Espírito em Hegel, e que influencia profundamente as concepções de artes, história e religião de hoje, são as formas correlacionadas a uma ideia de subjetividade absoluta, portanto “fora” do objeto, e relacionada a ela por um tipo especial de lógica essencial que leve ao conhecimento da realidade, por isto não é um realismo fenomenológico como vê Husserl, está separado da existência na “ontologia” de Hegel (ramo superior do esquema acima).

O espiritual e transcendente em Hegel é “o mais interior, do qual toda a construção do mundo espiritual ascende”, era aquilo que Marx chamava do “céu para a terra” e que ele (Marx) a inverteria, construindo assim uma história da filosofia, e dizia que se tratava de “colocar em ação” a filosofia, porém, a separação de sujeito e objeto permanecerá, assim espiritual é um tipo de Espírito Absoluto da Religião (veja também no esquema).

 

 

 

 

O pós-pandemia e a espiritualidade

26 mai

A vida feita de exercícios que nos levou a “Sociedade do Cansaço” (Byung Chul Han) apesar da pandemia e da quarentena em muitos lugares não parou, acostumados ao ritmo frenético da sociedade moderna, continua-se atrás da ação, da agitação e de preencher o vazio com nada.

Apressados já há os que prognosticam uma sociedade mais fechada em fronteiras, fortalecendo o nacionalismo e o protecionismo nos negócios, os que proclamam uma “nova ordem mundial” (uma nova teoria da conspiração) e os sempre prontos a defender as ideologias: é nossa vez.

Porém assim como a pandemia ninguém previu o que virá está fora das grandes teorias e uma novidade será uma busca de refugio em forças além do humano para suportar as novas e reais novidades que já aconteceram: maior recolhimento em casa e tempo para inspiração e contemplação, uma vida mais pobre ou ao menos mais austera, e, as novas formas de convívio.

Os que apocalípticos da sociedade em rede, redescobriram as novas mídias, porém devido ao atraso ainda o uso é irregular e mais curioso que frutuoso, mas com o tempo amadurecerá, há um hiato sem dúvida que é a educação online e pouco se pensou e se planejou sobre isto.

Porém uma coisa já mudou, algo fizemos com nosso “tempo livre”, fazer a comida da casa, dividir as tarefas cotidianas, olhar com olhos novos as pessoas do convívio próximo e para muitos um novo olhar sobre a natureza e a nossa própria natureza: o complexo fenômeno humano.

Se fizemos grandes teorias do diálogo, agora temos que praticá-la ou ficaremos presos a nossas relações mais próximos, pois ao sair delas enfrentamos um Outro diferente e impensado.

Os que sobreviveram a pandemia, e ela poderá inclusive retornar, a Espanha e a China apresentam novos casos preocupantes, vai requerer de cada e da sociedade uma lição nova: repensar tudo o que tem sido os fundamentos de nossas vidas, inclusive a religiosa, podemos acordar ou não.

Aos convictos do futuro próximo lembro que não previam a pandemia, talvez uma guerra ou uma profecia, ou um caminho histórico irrevogável, um vírus invisível e desconhecido balançou a vida.