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Erro e procura da verdade
A frase do escritor russo Mikhail Saltykov-Tcherdrine, que escreveu sobre o pseudônimo M. Nepanov (escreveu Contradições) sobre o erro: “quem nunca procurou a verdade com certeza nunca errou”, bem melhor que o adágio popular: “só não erra quem nunca tenta”, porque mesmo que seja de modo inocente sempre se tenta algo.
Completa este pensamento sua frase: “Há épocas em que a sociedade, tomada de pânico, se desvia da ciência e procura a salvação na ignorância”, algo que parece típico de nosso tempo: de início ignorar a pandemia e as vacinas, depois ignorar os perigos que dela decorrem e por fim tentar conviver como se a doença seja algo natural, e os remédios é vacinar quatro, cinco, … vezes, e esperamos que as cepas realmente sejam mais brandas.
Insensatez e frivolidade parecem ser reações a uma crise que se aprofunda, além da guerra, uma alta de preços e escassez de alimentos se avizinha, sim o que ocorre por enquanto parece contornável e quando não o for mais, o que seria sábio fazer, parece que poucos se preocupam.
Escolhi falar de um desconhecido autor literário do século XIX, ele não viveu o período da União Soviética, para atestar a ignorância de punir a cultura, a ciência e os esportes da Rússia, como uma punição de uma guerra, sem dúvida injusta, mas da qual também o povo russo é vítima.
Mesmo vendo os horrores acontecendo na Ucrânia, não podemos ignorar os horrores do Ocidente e a escalada bélica que poderá ter num futuro próximo outros capítulos tão dolorosos quanto os atuais, é uma escalada que parece não ter retorno.
Não se pode ignorar os erros da segunda guerra, os erros do período pós-guerra, as inúmeras intervenções no Oriente, na Ásia e na África que causaram guerras e mortes igualmente condenáveis.
É preciso reconhecer os erros, é preciso um doloroso perdão do período colonial, ainda em curso, e é preciso permitir aos povos que vivam sua cultura, seus ideais, como desenvolveu Raymond Aron (Guerra e Paz entre as nações) e em segurança, o autor cita Clausewitz em seu livro: “A “guerra é um ato de violência, e não há limites à manifestação desta violência” (Aron, p. 69).
É um momento difícil em que apenas apontamos aos outros nossos erros, sem olhar para os próprios.
Por que a Pandemia não acabou
As hipóteses que as vacinas são eficientes contra todas variantes da ômicron caem por terra quando observa-se que no oriente e na Europa a variante BA.2 já chamada de ômicron 2.0 tem um grau de infecção 1,5% maior que a cepa original e mesmo onde o número de mortes está caindo, o grau de infecção cede em velocidade mais lenta.
No Brasil o número de mortes está na média móvel em torno de 250, enquanto o número de infecções está numa média móvel que varia abaixo dos 40 mil e acima dos 32 mil, porém se observado pontualmente, o número de infecções da quinta feira foi de 47 mil e sexta de 36.176 no sábado, e ainda há casos não relatados de assintomáticos e não há uma política de testagem.
Imaginar que as próximas cepas podem ser menos letais pode ser pensado apenas no campo das hipóteses, embora existam estudos que até afirmam isto, na verdade, a explosão de casos na Europa e no Oriente desmentem esta possibilidade, pois já há mortes relatadas e baixa eficiência das vacinas.
A liberação dos protocolos, é verdade que não em todos os ambientes, alguns locais continuam sendo mais cuidadosos, porém a sinalização política de liberação leva a um menor cuidado.
Segundo a OMS a BA.2 está associado ao aumento de casos e Covid-19 em países da Europa e do Oriente, e enquanto no final de janeiro se observava uma queda nas infecções, no período de 14 a 20 deste mês o órgão mundial de saúde registra um aumento de 7% nas infecções, enquanto o número de mortes há uma redução de 23%, que significa menor letalidade da cepa.
A entidade registrou 12,3 milhões de novos casos e 32,9 mil mortes por Covid-19 no período.
Há uma queda sem dúvida, porém a maior disseminação da nova cepa deve ser vista com preocupação porque propicia a circulação do vírus e não elimina a possibilidade de mutações.
A paz desejável
A paz entre os povos deve vir a partir de uma profunda reflexão sobre as diferenças e a tolerância entre valores que são extremamente diversos e que não significam necessariamente a impossibilidade da paz, e quanto há cicatrizes antigas é preciso cuidado ao evita-las, elas existem porque alguma paz foi estabelecida sem que a dignidade dos povos fosse respeitada.
Edgard Morin em seu recente ensaio “A beira do abismo” (já foi feito um post aqui), diz “um dos aspectos da tragédia é que não podemos fazer uso da fraqueza nem da força separadamente e que estamos obrigados a navegar entre as duas de maneira incerta”.
Raymond Aron escreveu “Paz e guerra entre as nações” (Martins-Fontes, 2018) elabora um pensamento sobre isto, refletindo que cada povo deve ser fiel ao seu ideal como nação, não ignorar uma história conflituosa, e, pensar e agir com determinação de fazer que a ausência de guerra se prolongue até o momento em que uma paz seja possível e durável, imaginando que esse dia chegará.
É preciso sobretudo perdão entre povos e nações que viveram conflitos, como foi o caso da Alemanha, Itália e Japão, que estiveram na segunda guerra e conseguiram superar as próprias cicatrizes e manter firme os ideais como nações fortes, que hoje são.
É preciso que se comportem como o filho pródigo que ao retornar a casa, neste caso ao próprio território e as raízes saudáveis de seus povos, conseguiram reerguer as nações sob um manto novo de pacifismo, tolerância e desenvolvimento de suas nações.
Também é preciso que as nações conflitantes estejam abertas a este recomeço, na parábola bíblica, o irmão mais velho não entende que o pai faça festa ao irmão que gastou todo dinheiro da herança desperdiçando em coisas fúteis e passageiras, e agora retorna a casa, em termos da guerra o retorno ao seu próprio território.
Assim nem é a Pax Romana, de submeter os povos vencidos, nem a Pax eterna do ideal liberal, que não levou a uma paz duradoura e sim a duas guerras mundiais.
Entre a paz e a guerra por um fio
As negociações entre Ucrânia e Rússia tem sinais de algum progresso ao mesmo tempo que pontos delicados como o fechamento do corredor humanitário a cidade Mariupol que vive uma calamidade em diversos aspectos e o recente bombardeio a base militar na região de Lviv, a apenas 25 quilômetros da fronteira com a Polônia que é membro da OTAN.
A tensão já se desenvolve de um possível ataque a algum país da OTAN, na Noruega forças da OTAN já realizam treinamentos, uma vez que a Suécia e Finlândia já tem uma tensão com a Russia, vale lembra que ambos querem fazer parte da OTAN, mas ainda não fazem.
O que faz imaginar que um acordo é possível é que tanto o presidente da Ucrânia quando da Rússia admitem que houve algum progresso, um fracasso agora seria desastroso para ambos os lados, do lado russo uma pressão maior externa na sua economia e do lado ucraniano a possível perda do controle de sua capital, podendo perder o governo por prisão ou morte.
A pressão sobre Kiev é imensa, porém a tomada da capital seria uma efetiva ocupação russa da região e o clima com a OTAN seria insustentável, além de um conflito com alguns de seus membros, os mais próximos da região: Letônia, Lituânia, Estônia e Polônia além de Suécia e Finlandia, estes países todos estão mais próximos tanto na ajuda humanitária quanto militar da Ucrânia e temem pela proximidade russa.
Hoje haverá nova rodada de negociações e espera-se um grande avanço, a Ucrânia pode dar garantias de sua neutralidade em relação a OTAN e a Rússia devolver algumas áreas ocupadas, porém Mariupol deve ser a mais problemática, basta olhar o mapa onde se vê o controle do Mar de Azov, onde Mariupol é um importante porto, e o controle da região é um conflito antigo.
Além de manifestações em todo mundo pela paz, há ações de solidariedade aos refugiados, por exemplo, o Airbnb recebe milhares de reservas de acomodações de pessoas que talvez nunca vão ocupar aqueles lugares e a própria empresa usando estas reservas vai destinar 100 mil moradias a refugiados.
Há coisas humanas em meio a guerra, como a anfitriã Olga Zvirysanskaya do Airbnb (veja a figura) que recebeu uma reserva para março de um visitante que não irá para lá e respondeu “teremos o maior prazer [algum dia] em vê-lo na pacífica cidade de Kiev e abraçá-lo”, logo após fugir com os filhos deixando o apartamento disponível para as pessoas que permanecem em Kiev.
A força moral e a bélica
Aqueles que promovem o ódio e a intolerância, mesmo que além valores, apenas o veem como dependentes da capacidade humana, Mahatma Ghandi que venceu a dominação inglesa sem usar a força bélica e dizia: “A força não provém da capacidade física”.
Inspirou muitos pacifistas na década de 60, inclusive aqueles que eram contra a guerra do Vietnã, que não deixava de ser também uma guerra de invasores, no caso, americanos.
Os analistas militares estranham a capacidade de resistência da Ucrânia em meio a uma desvantagem enorme de poderio bélico com a Rússia, embora no jargão militar exista a ideia da “moral da tropa” ela está associada apenas ao campo de batalha e não a valores.
Para que exista uma força moral é preciso que ela exista também no campo espiritual, no caso de Ghandi era o hinduísmo que durante décadas inspirou e atraiu muitos no mundo ocidental, incluindo personalidades do mundo pop, como os Beatles.
Assim a degradação moral do mundo ocidental também é indiretamente responsável pela guerra e na sua lógica, que é também a lógica da OTAN somente a força bélica é vencedora e protetora de seus “valores”, porém estes estão em crise e não reconhecem.
A Ucrânia assim acabou recorrendo a seus vizinhos e a ameaça que eles também temem de invasão russa, que esconde um interesse expansionista, fêz surgir um terceiro bloco para ajudar a Ucrânia a defender seu território: Polônia, Lituânia, Estônia, Suécia, Finlândia e Canadá, países antes vistos como “pacifistas”.
Este bloco quebrou uma tradição de não uso de armas para auxiliar a defesa da Ucrânia, completa este bloco o Reino Unido, que é bom lembrar está fora da União Europeia, pelo Brexit, o que os atraia além do medo de serem os próximos alvos da Rússia é a defesa de valores além daqueles bélicos, que em última instância também defende a OTAN.
É verdade que oscilam entre o uso de armas e o pacifismo, porém percebem que não há como impedir os desejos expansionistas de Putin, cuja narrativa histórica começa a partir da formação da União Soviética, sem existir história pregressa, dos povos originários.
A lógica do ódio, seja o lado que esteja é em última análise a guerra, a do amor é a paz.
O poder e o servir aos povos e nações
As guerras trazem o pior da humanidade, mas trazem o melhor também: a solidariedade, o desejo maior de viver em paz e respeitando direitos individuais, coletivos e culturais de todos os povos.
A lógica do poder quando é dominada por uma visão não humanista procura interesses pessoais ou de grupos, a ideia é apenas a de submeter o outro pela força e conquistar mais poder, não há o predomínio da ideia de liderar e servir as pessoas que mais precisam de ajuda, a sua nação e a toda humanidade por extensão e respeito.
A lógica é da força, e a lógica da força levada ao extremo leva a guerra, ao conflito pessoal, dos povos, das nações, das culturas e dos interesses pessoais apenas sem uma regra coletiva razoável.
Surgem também os verdadeiros líderes e as pessoas que realmente querem servir, não apenas pelo espírito generoso, mas pela coragem, pela determinação que só pode vir de valores humanos e sociais, há até quem pense na preservação do patrimônio cultural, nos animais enfim em tudo.
O princípio da autoderminação dos povos, no qual cada nação, grupo cultural ou religioso tem o direito de existir e a liberdade de poder exercer seus valores, é claro que fica fora não-valores de extermínio ou intolerância com princípios de outros grupos culturais, porque estes servem só ao poder e aos autocratas que os lideram.
Há gente que pensa em paz e solidariedade mesmo na guerra (foto soldado russo que não lutou recebe alimento e manda mensagem emocionado a parentes).
Alertamos em vários posts a crise civilizatória em curso, com a guerra alguns aspectos tornam-se claros, mas sem a iluminação da consciência individual é difícil perceber os caminhos pelos quais a lógica da guerra, da intolerância e da discriminação avança, cada um deve refletir sobre isto.
Não faltam pessoas e grupos que aderem a este tipo de pensamento e raciocínio, quando o poder se torna exacerbado fica mais claro, mas há estruturas de micropoder onde estes valores se manifestam.
Assim existem estruturas do ódio, da intolerância, e, em última análise da guerra, que põe em cheque a vida, os valores e até pode por a própria civilização me perigo, como armas nucleares.
Sem acordo e Kiev cercada
A guerra segue horrenda e sem perspectiva de um cessar-fogo, a terceira rodada de conversa no dia de ontem não resultou nem mesmo num cessar fogo para o corredor humanitário que permitiria a saída de civis, em especial de regiões onde a luta está mais sangrenta.
A Rússia declarou uma série de ações hostis pela sanções adotadas que estrangulam sua economia, entre eles: EUA, Canadá e os 27 países da União Europeia, em ordem alfabética os outros países: Austrália, Albânia, Andorra, Reino Unido, Islândia, Japão, Liechtenstein, Macedônia do Norte, Micronésia, Mônaco, Montenegro, Nova Zelândia, Noruega, Coreia do Sul, San Marino, , Singapura, Suíça, Taiwan e Ucrânia.
O Brasil ficou fora, talvez pela fala do presidente explicando as razões da “neutralidade” no domingo, conseguiu unir direita, centro e esquerda: no mínimo um desconforto diplomático uma vez que grande parte do mundo já condenou e impõe sanções a Rússia, a própria China inclusive e ela teria mais razões que o Brasil para aderir: a ideológica.
Sem perspectiva de paz agora as atenções e tensões se voltam para Kiev, próximo a cidade há pequenas cidades e florestas como o Parque Nacional Zalíssia que apresentaram algumas formas de resistências, no entanto foram rechaçadas com denuncias de violações e crimes de guerra, não houve nenhuma negociação que permitisse a retirada de civis, assim muitos civis estão nas cidades.
O governo russo divulgou que há rotas de fuga permitidas, mas se trata de ir para Russia ou Bielorussia, com objetivo de fazer propaganda.
Nas noites vem o toque de recolher e as pessoas vão para os abrigos antiaéreos improvisadores, tuneis de trem, porões de hotéis, edifícios e até igrejas (as criptas), são os refúgios costumeiros.
Seja qual for o final desta luta, o povo ucraniano e seu presidente ganharam respeito e admiração no mundo todo, enquanto Putin e a Rússia sairá como vilã, mesmo tendo ocorrido protestos pela paz, a posição de Putin é forte dentro da Rússia e há um rígido controle das mídias e da narrativa.
Kiev vive de esperança e de uma motivação para defender seu povo (na foto uma nuvem que parece um anjo fotografada pela moradora Oksana Kadiivska, do distrito de Darnitsa de Kiev).
Aos que tem alguma forma de crença resta a esperança de tempo melhor, também nas mentalidades, uma vez que o belicismo, a intolerância e a pouca empatia andam pelas ruas.
Amar os inimigos e evitar as guerras
Falamos na semana passada de como a fome, as pestes e as guerras tinham estreita correlação, no post de ontem demonstramos como foi a “divisão” da Europa no pós-guerra, aparecem logo abaixo os primeiros países do norte da África que estavam sob domínio a França (Líbia e Tunísia) e da Espanha (Marrocos), e discorremos sobre as guerras que ainda hoje ocorrem lá devido a mineração de fosfato.
Praticamente toda África era colonial, exceto a Libéria e a Etiópia, este último que é manchete até hoje de fomes e guerras junta-se a ele agora a Somália, que foi colônia italiana, no pós-guerra a influência russa nas lutas de libertação aumentaram a influência em diversas regiões, como Angola, Moçambique e Guiné Bissau, mas praticamente toda a África entra neste processo de ebulição, e as forças aliadas que haviam formado a Organização das Nações Unidas, o Japão vencido na guerra teve que reconhecer a independência da Coréia (até então unificadas) e a concessão das ilhas Curilhas para a União Soviética, mas que recentemente alimentaram a tensão entre a Rússia e o Japão.
Assim as Nações Unidas não foram capazes de promover a independência sem grandes e sangrentas guerras na África, algumas ainda persistem, a descolonização é apenas uma nova maneira de dependência, assim como na América a dependência das lutas ideológicas, estas culturais e internas, nunca permitiram uma real paz e fim da guerra fria.
A queda do muro de Berlim e a dissolução da União Soviética, com vários países se tornando independentes e voltando a sua cultura original, é mera ilusão achar que elas são soterradas pelas ideologias, parecia fazer surgir um mundo onde a diversidade política, cultural e religiosa seria tolerada, embora a tensão árabe nunca tenha acontecido, a primavera árabe foi um alento, mas as forças que continuam vivas dentro destas nações ainda atuam de forma vigorosa, veja-se tensões na Líbia, no Congo, no Saara e muitas outras, também a América Latina vive uma polarização ora para um lado ora para outro.
A força econômica e política que a China ganhou, as novas influencias geopolíticas da Rússia, a tensão hemisférico norte e sul pobre, as crises das democracias tudo isto parecem acelerar um processo de estabelecimento de uma Nova Ordem Mundial, algumas correntes mais fatalistas a chamam pela sigla NOM, porém de fato tudo isto é só a ebulição de questões que o pós-guerra não resolveu, as Nações Unidas ainda não são aquilo que prometeram ser um real “concerto de nações” que vivam em paz e negociem os conflitos.
Assim vivemos uma tensão bipolar em vários sentidos, norte-sul (foto), colônias e colonizadores, tensão ideológicas que atuam hoje mais internamente do que externamente, e uma pandemia que acelerou todo este processo, se o mundo poderia ser polarizado poderia ser unipolar, há uma perspectiva positiva que seria o real “concerto de nações” e outra ruim que é a polarização em um dos perversos fatores que já atuaram sobre a humanidade.
Como conviver com diferenças culturais e políticas tão grandes, não basta um princípio de amizade ou de paz sempre ameaçada, é preciso aceitar e defender a diversidade, ultrapassar o conceito de “inimigo” dentro da forma de ódio e intolerância (escrevemos vários posts para explicar isto), aquilo que em termos da cultura cristã é chamado de “amar o inimigo”, diz a leitura Lc 6,27-28: “A vós, que me escutais, eu digo: Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam, e rezai por aqueles que vos caluniam”, em outras palavras nem unipolar nem bipolar, mas um mundo multipolar.
O ódio e a intolerância na história
É preciso conhecer o processo histórico para entender as bases em que uma polarização mundial e uma pretensa nova ordem mundial, um termo bastante vago e sujeito a muitas interpretações, que levaram a polarização no período da guerra fria e que parece retornar com moldes novos, onde o fermento do ódio pode florescer.
As razões que levaram a formação do Eixo, aliança com os nazistas na segunda guerra mundial, foram: a expansão territorial com a criação de impérios com base em conquistas militares e a derrubada da ordem internacional do período pós Primeira Guerra Mundial, e a destruição e neutralização do comunismo soviético.
A Alemanha e Itália assinaram em 1º. de novembro de 1936, uma semana depois de anunciarem um pacto de amizade, a criação do Eixo Roma-Berlim e depois em 25 de novembro de 1936 o Pacto Anti Internacional Comunista (Comintern) em oposição à União Soviética, a Hungria, a Bulgária e a Eslováquia entraram no eixo no mês de novembro de 1940, mais tarde entraria a Croácia, a Finlândia em 1941 se associaria a URSS e em abril daquele ano a Iugoslávia foi invadida e desmembrada pelas forças do Eixo e depois a União Soviética.
No início da guerra, em 1º. de setembro de 1939, os aliados eram a França, Polônia e o Reino Unido, assim como os estados dependentes da Coroa Britânica: a India, a Austrália, Canadá, Nova Zelândia e África do Sul, após a invasão da Bélgica, além dela os Países Baixos e a Grécia se uniram aos aliados, a União Soviética apoia a invasão da Polônia, porém percebendo que seria traída pelos nazistas se torna também aliada, os Estados Unidos entrariam totalmente na Guerra após o ataque a Pearl Harbor (7 de dezembro de 1941), apoiavam com dinheiro e armamento até então, em dezembro de 1941 se torna um membro aliado com tropas e envio de armamento pesado para a Europa.
A China tinha uma prolongada guerra com o Japão desde o Incidente da ponte Marco Polo em 1937, que foi um incidente do sumiço de um soldado e de tropas aquarteladas dos dois lados desta ponte que é próxima da Manchúria (região em disputa), por isso a China juntou-se oficialmente aos Aliados em 1941.
Com o Eixo praticamente derrotado, foi realizada a Conferência de Teerã com as primeiras divisões territoriais das tropas de ocupação em cada país, isto é importante para compreender os avanços soviéticos constituindo o leste europeu, o Dia D do desembargue das tropas na Europa foi realizada no dia 7 de dezembro de 1941.
As conferências de Potsdam e Yalta foram realizadas respectivamente 17 de julho e 2 de agosto de 1945, antes da bomba de Nagasaki e Hiroshima dias 6 e 9 agosto.
Duas atitudes devem ser analisadas nos acordos pós-guerra, um é a reintegração do território alemão a guerra nos limites anteriores a primeira guerra, com a ressalva que o local onde estava a antiga Königsberg depois Stalingrado e hoje Kaliningrado foi tomada pela URSS e os alemães foram expulsos, o negativo foi a bomba nuclear sobre Nagasaki e Hiroshima quando a guerra estava praticamente terminada, e os efeitos da bomba marcaram a história da humanidade para sempre, lançada em agosto de 1945.
Analisaremos no próximo post o avanço e o quase final da guerra fria e aquilo que pode causar um desequilíbrio e criar uma Nova Ordem Mundial, sigla usada de diversas formas.
Covid: início de uma provável queda
Enquanto a média móvel e o número de infecções se mantem em patamares ainda altos, já há indícios de uma tendência de queda, 58.056 casos nas últimas 24 horas, no entanto o número de mortes permanece em alta na maioria dos estados (880 mortes na média móvel), estando em estabilidade apenas em 4 estados: SC, AM, RR, GO, não divulgaram TO e DF, é necessário ressaltar que estados dados sempre se referem a “casos conhecidos” pois não existe uma política de testagem em massa.
O pesquisador Raphael Guimarães da Fiocruz defende que a adoção de políticas públicas de controle coletivo da pandemia, além das medidas de higiene que são mantidas, podem levar o país ao controle da pandemia já no primeiro semestre de 2022: “Neste momento, o Brasil reúne algumas condições favoráveis para bloquear o vírus”, explicou o pesquisador a órgãos de imprensa.
A manutenção do distanciamento, por exemplo, e a limitação em número de pessoas em eventos coletivos são importantes quando adotadas, mas o que se observa é que o distanciamento não é o comportamento coletivo da população e a fiscalização deixou de existir na maioria dos casos, salvo raras exceções, o resultado são hospitais ainda lotados, une-se a isto a vacinação da influenza que é ainda pequena e a vacinação de crianças que tem ainda apenas a primeira dose.
Enquanto na Europa a tendência de queda já observada, na América Latina 63% das pessoas já estão vacinadas, porém a cobertura continua desigual, dados de órgãos de saúde da região (OPAS) indicam que 14 países já vacinaram 70% da população enquanto os demais não conseguiram atingir nem 40% desta cobertura, informa a diretora da OPAS: Carissa F. Etienne: “Estes dados são cruciais para projetar campanhas de vacinação direcionadas, maximizar o impacto das doses e salvar vidas”, que agradeceu a países doadores de vacinas.
A diferença entre Europa e o hemisférico Norte com o sul tem fatores sazonais como o clima, lá estão no final do inverno, aqui estamos no final do verão e o período de frio é favorável aos vírus.
Os doadores que “ajudaram nossa região a garantir doses quando os suprimentos eram limitados”, citando as doações dos Estados Unidos, Espanha, Canadá, Alemanha e França, que totalizaram 26 milhões de doses, mas espera neste início de ano atingir o patamar de 100 milhões de doses de doação.
As políticas públicas devem ser mais afirmativas e não renunciar à necessária fiscalização, assim podemos imaginar um segundo semestre mais tranquilo quanto a Pandemia.