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Arquivo para a ‘Real’ Categoria

Felizes os que promovem a paz

11 fev

O ciclo peste, fome e guerra em qualquer ordem que ele tenha acontecida na história é retroalimentado porque sucumbem as forças que promovem a paz e entre elas estão também as forças espirituais verdadeiras que desejam o progresso da alma humana, que é inseparável da substancialidade da vida, não apenas humana, mas de todo planeta.

O século XX além da segunda guerra mundial, todos que a viveram narram o horror deste período e as privações que passaram, em especial os mais pobres, foi marcado também pelos regimes autoritários e Franco, Salazar e De Gaule na Europa, as lutas de libertação coloniais, e a guerra civil na Espanha, todos envoltos em atrocidades e muitas mortes.

Com um fim da pandemia próximo, porém é preciso ressaltar que ainda avança no hemisfério sul, um ciclo de privações sociais se aproximando uma guerra seria o menos desejável e não há forças diplomáticas que consigam evitá-la, quais seriam as consequências de uma insanidade deste tipo é para todos os analistas, imprevisível em proporção e extensão.

Há nos subterrâneos das sociedades forças que lutam pela paz, o pronunciamento de hoje (11/02) do Papa Francisco é uma destas forças, porém mesmo no interior de religiões e espiritualidades (já discorremos sobre as verdadeiras asceses) há aqueles que sadicamente (porque não viveram e não leram testemunhos da guerra) não se incomodam com este perigo.

O papa disse de maneira contundente: “a guerra é uma loucura”, e pede o diálogo, várias tentativas diplomáticas foram feitas porém as vias de algum acordo bilateral parecem estar fechadas, de certa forma porque as partes não parecem dispostas a ceder em pontos problemáticos (a presença da Otan e da própria Rússia na Ucrânia, por exemplo), o papa também pediu que este diálogo fosse “sério” e que realmente cada lado estivesse disposto a ouvir e a ceder para um possível acordo.

Com o passar das horas as tentativas parecem estar se esgotando, aos cidadãos comuns de ambos países, aos pobres e aos vulneráveis, em sua maioria jamais aprovariam uma guerra, resta a esperança e a fé de que sejam minimamente poupados se o absurdo acontecer.

As vésperas de um mundial de clubes de futebol, onde a disputa se encerra com o final de uma partida e em meio as Olimpíadas de Inverno, apesar de todas rivalidades, neste caso o desejável é que além das torcidas em lados opostos, tudo se consuma a partir de determinado ponto final, e neste caso a torcida de dois ou mais times, é mais humana que a disputa insana por territórios e vantagens bélicas de uma guerra de consequências imprevisíveis.

Diz a liturgia bíblica, na passagem em que Jesus encontra seus discípulos e uma multidão numa planície (todos no mesmo plano) de Tiro e Sidônia (Lc 6,20=21): “bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus! Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis saciados! Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque havereis de rir!” e explica que os ricos e poderosos já tiveram o consolo neste mundo e os falsos profetas que são aplaudidos, porque não tiveram coragem de dizer a verdade.

Tenhamos esperança que um resto de serenidade, tolerância e equilíbrio restem nas grandes forças bélicas mundiais e a guerra seja evitável.  

 

A fome no mundo

09 fev

O relatório Welthungerhife mostra o mapa da fome no mundo, nele fica evidente a concentração na África onde estão os países mais pobres e também restos de um período de colonização (ainda há esta presença lá) que pouco de importou com a população.

Ali estão concentrados os países com mais baixa renda per capita, em dólares: Somália: $ 953, República Centro Africana $996, República do Congo $1203, Moçambique $ 1338, Niger: $ 1503, Malawi $ 1503, Libéria $ 1623 e Madagascar $ 1630, também há guerras por divisão de territórios, diamantes e extração de minérios:, como é o caso do minério de fosfato no qual estão envolvidos: a Espanha, Marrocos e Mali, mas também rebeldes do Saara Ocidental lutam por independência em território reivindicado por Marrocos.

A guerra que tem interesses econômicos e neocolonização por trás sempre estiveram presentes ali, a Somália é um exemplo típico disto pois levou o país a uma miséria ainda maior e a Pandemia fez a crise tornar mais alarmante.

Ainda não existem estudos conclusivos sobre o real impacto da pandemia neste território, um recente relatório denominado “O Estado de Insegurança Alimentar e Nutrição no mundo (SOFI) de 2021 trans alguns esforços de agências das Nações Unidas para mapear e traçar uma política e estima que um décimo da população global, avaliado em torno de 811 milhões de pessoas no mundo estão subalimentados neste período da Pandemia, o que mostra um quadro alarmante.

Uma guerra de proporções mundiais poderia agravar ainda mais este quadro, também políticas sanitárias mais igualitárias (uma distribuição de vacina proporcional ao número de habitantes, por exemplo) são medidas necessárias para evitar que além da pobreza o número de mortos continue a crescer no rescaldo da pandemia.

 

Pequena história da Ucrânia

08 fev

No século III a região foi habitada pelos godos (250-375), a região era chamada de Aujo, ali havia uma cultura cherniacove, os ostrogodos se estabeleceram em 350 com influência dos Hunos, ao norte havia um povo que tinha uma cultura de Quieve (depois mais tarde Kyiv ou Київ).

A origem da Ucrânia de hoje está em tribos eslavas que chegaram a este território nos séculos V e VI, no século IX chegaram invasores vikings, chamados variagi, os mongóis invadem em XIII, o rei Igor I com uma jovem adolescente variagi chamada Olga uniu os povos, este reino chamado Rus tinha como capital Kiev, o rei vai ser morto e Olga assume o poder com grande vigor e coragem, e domina os povos, Olga ocupará um papel especial e depois se converterá ao cristianismo com grande obra a favor dos pobres.

Olga é um capítulo a parte, depois de ser uma rainha forte e até certo ponto cruel com seus inimigos, o filho assume o reinado e ela se converte ao cristianismo, construiu igrejas, fez campanhas de evangelização, não conseguindo, porém, converter o filho Sviatoslav (Esvetoslau I), ajudou de tal forma os pobres e as pessoas doentes que se tornou uma santa reconhecida pela igreja ortodoxa no ano e pela igreja católica de rito bizantino, seu filho não se converteu, porém seu neto Vladimir I se converteu e também foi declarado santo.

Os variagi comandavam vários pontos estratégicos na Rússia e exploravam o transporte e o comércio, assim durante o século X e XI, o território da Ucrânia tornou-se centro de um estado poderoso e prestigioso na Europa, chamado na época de Rússia de Kiev (lembre era o reino de Rus) e também foram base para muitas nações eslavas subsequentes (como a Grande Bulgária e a Bielorussia, por exemplo), além dos próprios russos que eram então apenas tribos eslavas dispersas.

O estado foi conquistado por Casimirio IV da Polônia, enquanto o cerne da antiga Rússia de Quieve passaram ao controle do Grão-Ducado da Lituânia, mas o casamento do Grão-Duque Jagelão da Lituânia com a Rainha Edviges da Polônia, trocou o controle dos soberanos lituanos para a maior parte do território ucraniano e assim retornou a Ucrânia.

Damos um salto na história, que é também rica do período medieval, uma guerra civil que durou 4 anos depois da revolução russa (1917) em 1921 a Ucrânia se torna república socialista soviética, com expurgos e apropriações de terras que os agricultores ucranianos se recusavam a entregar, a Ucrânia é uma grande produtora de grãos.

O período stalinista e a ocupação nazista de seu território, que causaram mais de 10 milhões de mortos entre 1930 e 1945, a Ucrânia resistiu a coletivização russa e a invasão nazista, a Ucrânia no período soviético era responsável por ¼ da produção soviética no setor agrícola produzindo 40 milhões de cereais, um recorde para a época.

Por fim a problemática do território da Criméia, que tem origem na guerra de 1853 e 1856 onde houve um conflito entre a Rússia e uma aliança formada pela França-Reino Unido-Reino da Sardenha (hoje parte da Itália), em 2014 a guerra renasce com a tomada pela Rússia, seja esclarecido que havia um contrato entre a Ucrânia e a Rússia numa espécie de leasing para concessão do porto dos balcãs onde está a maior frota marítima da Rússia, em Sebastopol que era assim um território independente da Ucrânia.

Assim entre as análises mais absurdas, está aquela que diz que a Ucrânia seria inviável como estado independente, está fragilizada por uma guerra interna e sob pressão Russa.

 

Avançar para uma verdadeiro pensamento

04 fev

Nenhum pensamento é completo se não possui uma espiritualidade, aquilo que a modernidade chama de subjetividade porém que está separada da objetividade como é próprio do dualismo, cria duas realidades e nenhuma delas é parte do todo.

Contemplar o todo significa considerar a profundidade do nosso Ser e entender que fazemos parte de um imenso universo cheio de mistérios, e que nossa alma anseia pelo infinito e é para lá que caminha uma verdadeira espiritualidade, que não está separada da substancialidade da vida (o que é chamado na modernidade de objetividade, que é só a parte) e que sem ela não contemplamos e vivemos o todo, vivemos uma vida segmentada.

Substituí-la por uma pequena parte, pequenos vícios e prazeres, é caminhar na frivolidade, na superficialidade, nenhuma ascese verdadeira prescinde de uma espiritualidade, e não há espiritualidade sem contemplar a alma humana como parte do todo de nosso Ser, assim ultrapassar a antropotécnica e chegar uma onto-antropotécnica que olha para as coisas e também para a alma.

Muitos exercícios, do físico ao espiritual, são feitos buscando esta ascese, neste ponto Sloterdijk tem razão quase todas elas são “desespiritualizadas” porém sua explicação é incompleta porque não há em suas esferas uma escatologia, este raciocínio é feito especialmente em Esferas II, qual é o todo para o qual caminhamos, é possível ir até Ele.

Sim é possível se avançamos para águas mais profundas, buscar a completitude de nossa substancialidade superando o antropocentrismo e entendendo a Terra e o Universo como nossa casa, nossa morada, mas principalmente caminhando e lançando as redes para pensamentos e espiritualidades mais profundas, há em alto mar, ainda que revolto, aquilo que nossa alma anseia: o eterno.

Diz a passagem bíblica Lc 5,4-5, logo após Jesus ensinar as multidões e Pedro (Simão) reclamar que não haviam pescado nada, Jesus lhe responde: “quando acabou de falar, disse a Simão: “avança para águas mais profundas, e lançai vossas redes para a pesca”, Simão responde que trabalhou a noite inteira e não pescou nada, mas obedeceu e lançou as redes.

O resultado foi uma grande pescaria, vale aqui a substancialidade dos alimentos e também a espiritualidade de avançar “pra águas mais profundas”.

 

A verdade científica e a humildade

02 fev

A partir da revolução copernicana, com a descoberta de Galileu e com os avanços científicos deveria estar mais claro, ainda mais agora com as descobertas de forças desconhecidas do universo e com o novo telescópico James Webb, deveria estar cada vez mais claro que o homem não é o centro do universo, embora seja capaz de muito estrago se não deixar de lado a visão antropocêntrica e iluminista que o coloca como um “todo-poderoso”.

Nessa linha seguiu também Schopenhauer um dos primeiros a critica a “coisa-em-si” kantiana e seu sistema metafísico de colocar em seu lugar uma “Vontade” (que é a mesma coisa de quanto o homem foi colocado com centro do universo e a terra onde habita o seu centro), abriu uma perspectiva filosófica nova onde nada existe de propósito, tudo e todos somos consequencias de um sistema sem fim, com determinações e objetivos, e que somos responsáveis por um destino ferindo ao outro, estamos nos ferindo.

Desta forma Schopenhauer quis representa de maneira compassiva que pode representar em si a dor de outro, e isto nos valeria um grande passo para paz, embora seja capital a frase deste filósofo: “O homem é propriamente falando, um animal que agride” (Arthur Schopenhauer), que volta ao “homem lobo do homem” e justifica um estado agressor.

O conhecido fundamento da ética kantiana é o imperativo categórico (age de tal forma a ser modelo para os outros) que serve para orientar o agir dos sujeitos, e este por sua vez é princípio de um “factum” da razão, que faz parte do mundo numêmico, o qual consegue influenciar (não sentido princípio) o mundo fenomênico, de maneira a orientar as ações do sujeito racional de forma universal e necessária, Schopenhauer neste ponto faz uma crítica importante, embora não seja suficiente para uma crítica profunda desta ética.

Numérico refere-se àquilo que é conhecido sem fazer parte dos sentidos, é uma crítica ao empirismo porém não reconhece o fenomênico (que se manifesta como coisa).

Para ele, o programa ético kantiano é desprovido de sentido porque possui como fundamento último da ação um aspecto metafísico que desqualifica ações que vem de qualquer outra instância que não seja a razão, a relação que existe entre a razão e a metafísica (veja que a metafísica de Kant não faz parte do mundo, mas não é teológica nem divina), é que os sujeitos racionais (transcendentais em relação aos objetos) partilham do incognoscível, uma vez que conseguem pensar em coisas metafísicas, mas não conhece-las.

Esta lacuna onde não existe o mistério, é natural que tenha se distanciado da transcendência divina e teológica, porém é uma razão objetivada, sem aspectos subjetivos, ou seja próprios do sujeito, e Schopenhauer aponta corretamente para a dor do outro que é capaz de conceber, porém este princípio de compaixão não terá um desenvolvimento, outros autores fenomenológicos trata da questão do Outro, e este sim é um princípio para a crítica da razão.  

 

James Webb chega no seu destino

25 jan

A exatos um mês o novo observatório Espacial James Webb (JWST Nasa) chegou ontem as 17 h (horário de Brasília) em uma região onde com um mínimo de gasto de combustível poderá se manter em órbita, chamado ponto de Lagrange L2 que na verdade é uma região entre a Terra e o Sol onde a força centrípeta (de atração) é equilibrada com uma força centrífuga.

Na verdade, são regiões e por isto chamadas de ilhas orbitais, todo planeta do sistema solar tem Pontos de Lagrange e na medida que se distanciam do Sol estas ilhas são maiores, a ilha relacionada com a terra tem cerca de 800.000 km de largura, o que em termos espaciais é pequena, o ponto L2 por exemplo, está a 5 milhões de km da Terra e ainda muito longe de Marte, 57.6 milhões é a distância do nosso planeta vizinho.

As observações ainda vão demorar 5 meses para calibrar todo equipamento, ajustar o espelho e apontar para os primeiros alvos.

Agora serão 5 meses de trabalho para que Webb envie as primeiras imagens no seus “alvos no universo infravermelho”, não vai procurar exoplanetas ou novos pontos, mas apontar para pontos conhecidos e fazer medidas mais precisas e com maior definição, os espelhos do Webb (hexagonais) que deverão ter um ajuste complicado e fino vai ter um pode ter até 5 vezes o poder dos espelho do Hubble, além de usar uma tecnologia mais sofisticada que é o infravermelho, onde pode “ver” observando a luz fortemente “desviada para o vermelho” de objetos distantes e pode perscrutar mesmo através de nuvens de poeira obscura, poderá peneirar atmosferas de exoplanetas identificando gases em maior precisão.

Mais de 1.000 equipes de astrônomos de todo o mundo solicitaram tempo no Webb em seu primeiro ano e 287 já tiveram a sorte de serem pioneiros, entre as perguntas destas equipes estão olhar os oceanos cobertos de gelo nas 27 luas de Urano, os gigantes gelados Urano e Netuno podem explicar muito da origem do sistemas galácticos, olhar os buracos negros que são do tamanho médio e resolver medições conflitantes na taxa de expansão do universo e de um modo geral usarão o Webb para dois temas dominantes: tempo e distância entre extremos opostos no universo: o universo primitivo e os sistemas planetários mais próximos e seus dilemas.

Além destes grandes temas um tema que desperta curiosidade, embora seja por um aspecto infantil de alienígenas, é o que se chama bioassinatura, ou seja, condições reais de vida, que na verdade não encontram “seres” mas as condições de existência passada ou futura deles são: gasosas, produtos diretos ou indireto do metabolismo dos seres vivos, de superfície, de resultados espectrais resultantes da radiação refletida por organismos, e, temporais que são respostas relativas a mudanças sazonais na biosfera onde há por exemplo, variação diurna e noturno de CO2, podem ser algumas bioassinaturas encontradas, seres ainda fica para a imaginação, é claro que alguma forma biológica pode haver num espaço tão infinito de probabilidades.

 

A empatia e a frônese

11 jan

Frônese (phrónesis, do grego antigo: φρόνησις), na obra Ética a Nicómaco de Aristóteles, livro IV, distingue-se tanto de teoria como da prática por constituir-se de uma virtude da sabedoria do pensamento prático, entretanto uma adaptação moderna de Hans-Georg Gadamer situa-se entre o logos e o ethos, esta relação pode-se assim aproximar o amor “teórico” de uma ação prática empática.

Assim a frônese insere-se nas ações humanas como fenômenos mediante um exame hermenêutico de opiniões, não apenas para revelar os princípios imutáveis das causas dessa ação, mas sobretudo para entender que a partir da mera opinião (a doxa) do Outro, é possível auxiliá-lo mediante a empatia a chegar ao conhecimento (episteme).

Funciona como uma verdadeira ação de atração que leve o Outro a refletir. dentro do círculo hermenêutico trata-se de permitir uma leitura dos pré-conceitos do Outro e atentar para os próprios, assim as ações que decorrem daí poderão ser mais empáticas, explicando de maneira fronética (prática): ler o que o Outro de fato quer e pensa.

Esse conhecimento leva a uma nova episteme (concepção teórica dos novos horizontes) no qual é possível pensar em uma ação conjunta ou ao menos convergente, como já dissemos anteriormente, a empatia é uma relação originariamente natural, enquanto a desempatia (é diferente da antipatia que é oposto a simpatia) é o rechaço do Outro, sim algo que se tornou naturalizado, devido a ideologias e pré-conceitos herméticos impossíveis de fazer uma releitura.

A verdadeira lei de atração é a empatia, uma vez que ela pode reforçar ações positivas, colaborativas e socialmente coletivas, enquanto a simples oposição leva a repulsão do Outro e a criação de polos de opinião (doxa) e de conhecimento (episteme) não convergentes e não humanos, não se trata de lógica simples, mas de onto-lógica, lógica do Ser.

Porque isto tornou-se tão difundido e alargado é simples, um forte sistema de pensamento não humanista se desenvolveu com objetivo de poder e enriquecimento, não apenas colonizador e xenofóbico, mas sobretudo não ontológico, impróprio do ser.

A ideia do simples rechaço pode parecer natural, entretanto ela pode levar a outro sistema de dominação polarizado e estruturalmente autoritário e assim não empático e não fronético, novamente simples teorias que na prática se mostram desastrosas.

 

A verdade entre os homens

19 nov

Gadamer estabelece a necessidade da correferência para a construção da verdade entre os homens, também o filósofo Sócrates dizia que a verdade não está com os homens, mas entre os homens, assim todo discurso autorreferencial, mesmo aquele apropriado por um grupo deixa de Ser uma verdade crescente (a eterna só pela fé ou crença) e se torna apenas uma retórica.

Emmanuel Lévinas (1906-1995) desenvolveu o aspecto da finitude humana, como aquela que dá ao uma totalidade provisória, em seu livro Totalidade e Infinito onde discorre sobre o tema da alteridade, com uma questão central que é de não se poder objetivar o Outro, e não se trata de subjetividade, mas a possibilidade de pensarmos o Outro na sua Alteridade absoluta, dito de outra forma, como um totalmente outro.

Seu livro não pode ser compreendido sem uma análise concentrada em Husserl e Heidegger por causa de sua opção fenomenológica na qual é afiliado, assim desenvolve neste primeiro capítulo a categoria da alternidade, enquanto o segundo tratará da interioridade, ali aparecem noções de categorias como: gozo, economia, casa, posse, trabalho e feminino um tema tão atual na questão do gênero e reflete as relações do Eu com o real, possibilitando a edificação de um ser ao mesmo tempo separado e aberto ao exterior.

Assim o terceiro capítulo relaciona-se a exterioridade que fundamenta uma ética proposto por Lévinas, como se dá ou se constrói, no Ser, uma abertura através da análise das categorias do Infinito, Rosto e Exterioridade, elas são fundamentais para a compreensão do universo levinasiano.

O problema da finitude humana no aspecto da verdade pode remeter a uma transcendência diferente da proposta idealista, onde o imperativo categoria está ligado ao conceito de subjetividade: “age de tal forma que seja modelo para os outros”, assim é possível desenvolver num universo pessoal uma ética, enquanto para Lévinas, como é também para Gadamer e era para Sócrates, só pode existir a verdade num processo de dialogia com o Outro e com o exterior, todo fechamento é autorreferencial.

Assim o “Outrem permanece infinitamente transcendente, infinitamente estranho, mas o seu rosto, onde se dá a sua epifania e que apela a mim, rompe com o mundo que nos pode ser comum e cujas virtualidades se inscrevem na nossa natureza e que desenvolvemos também na nossa existência” (Lévinas, 2008), aqui uma epifania só humana.

Aproximamos das festas do Natal, na liturgia cristã é a festa da epifania divina, a manifestação divina aos povos, para muitos apenas na festa dos reis magos ou no batismo de Jesus, mas para aqueles que pensam que a verdade está “entre os homens”, a presença do Deus Conosco (o Emanuel) acontece desde o nascimento do menino-Deus.

No texto bíblico (Jo 18, 37) ao ser indagado por Pilatos se Jesus era o rei dos Judeus, responde: “Tu o dizes: eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz”, assim esta verdade entre os homens também é estabelecida para a cultura cristã como o verbo encarnado.

 

Verdade e finitude humana

18 nov

Não apenas Hans Georg Gadamer escreveram sobre a verdade em relação a finitude Humana, também Emmanuel Lévinas desenvolveu o tema.

Em Gadamer a conclusão sobre a verdade da experiência humana é a consciência de sua finitude, ou seja, é conhecer seus próprios limites, saber que não é senhor do tempo e do futuro, em dias atuais que não é senhor da natureza e de seu comportamento, o grande ideal iluminista, e assim tem seus limites e seus planos são inseguros.

Assim, em Gadamer, a questão da retórica e do discurso não são propriamente uma questão e a indagação não é verdadeiramente posta em causa, para estar apto a interrogar é preciso querer realmente saber a verdade e ela pode estar fora dos limites de quem pergunta, diz em seu texto:

“Para pergun­tar, é preciso querer saber, isto é, saber que não se sabe. E no intercâmbio de perguntas e respostas, de saber e não saber, descrito por Platão ao modo de comédia, acaba-se reconhecendo que para todo conhecimento e discurso em que se queira conhecer o conteúdo das coisas a pergunta toma a diantei­ra. Uma conversa que queira chegar a explicar alguma coisa precisa romper essas coisas através de uma pergunta” (GADAMER, 2008, P. 474).

Assim ela estará inscrita para além dos preconceitos, e na constituição de novos horizontes, assim compreender o texto  ou um fragmento do passado, para Gadamer é entende-lo a partir da questão que deve ser vista como um processo de contínua fusão ou alargamento de horizontes pelo qual o interprete participa com os outros no longo e árduo caminho do sentido, vai além do ponto de vista iluminista romântico e histórico que é inaceitável: a linguagem simbólica e plural, própria da narratividade das coisas.

Porém o que isto significa? o que isto significa para a hermenêutica filosófica que reconhece a finitude humana, não existe de imediato a possibilidade de uma coincidência com o real, pois toda compreensão humana é linguísticamente mediada como toda linguagem é, na visão aristotélica, uma hermeneia (intérprete) originária do real e isto pode ser ampliado para as culturas, para os povos e em especial para os povos originários fontes primárias do discurso e de sua linguagem própria.

Como o homem é finito, só na linguagem seu poder dialógico fundamental pode alcançar o que a filosofia ocidental chama de objetividade (idealidade própria), mas deve ultrapassar o ponto de vista do sujeito transcendental anônimo (a subjetividade idealista) para atingir a dimensão de co-referência dos homens concretos, dos outros.

A concretude é assim a palavra que descentra e interpela, coloca na alteridade o que é dito, e a sua perspectiva em traçar uma fusão de novos horizontes não acabam.  

 

GADAMER, H.G. GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método I. Traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. 10.ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

 

A verdade e o método

17 nov

Hans Georg Gadamer é o herdeiro da hermenêutica ontológica de Heidegger, e desenvolveu a hermenêutica filosófica através de sua obra prima Verdade e Método, publicada pela primeira vez em 1960.

Para desenvolvê-la precisou revolucionar a hermenêutica ocidental moderna, através da crítica da estética, a teoria da compreensão histórica e o desenvolvimento da ontologia da linguagem, para complementar o método heideggeriano do círculo hermenêutico.

A publicação de Verdade e Método significa ainda nos dias de hoje, um estudo novo na ciência da interpretação e que entra numa importante fase denominada hermenêutica filosófica, que deve auxiliar as disciplinas humanas a buscar a partir da experiência a compreensão do próprio ser, constituindo uma nova tentativa filosófica de avaliar a própria compreensão como um processo de conhecimento do estatuto ontológico do homem, fundando assim uma nova antropologia.

Enquanto filosofia da linguagem, estamos em pleno processo da viragem linguística, não se constituem apenas o acesso à coisa e não a verdade, pois também a correspondência entre palavra e coisa só ocorre quando se conhece a coisa, dessa forma o aprendizado (ensino, busca, pergunta, resposta e a própria informação) só é feito pelo pensar que conduz as coisas ao mundo das ideias, e assim as palavras não passam de representação de signos ao qual se atribuem sentido. e começa seu estudo por Humboldt.

Foi Wilhelm von Humboldt que utilizou a teoria da “força do espírito” humano como fonte produtora de línguas, a tese dele aborda uma “filosofia idealista que destaca a participação do sujeito na apreensão do mundo, mas também a metafísica da individualidade, desenvolvida pela primeira vez por Leibniz” (GADAMER, 2008, P. 568).

Como forma de questionar a história desenvolvida de modo idealista, Gadamer ao fazer a crítica de Dilthey parte do pré-conceitos, onde o historiador “submete a alteridade do objeto aos próprios conceitos prévios” (Gadamer, 2008, 513), e está assim ilustrado em seu texto: “apesar de toda metodologia científica, ele se comporta da mesma maneira que todo aquele que, filho de seu tempo, é dominado acriticamente pelos conceitos prévios e pelos preconceitos do seu próprio tempo” (Idem).

Para uma nova compreensão, como ponto de partida para uma nova antropologia, interpretar não é um meio de se chegar a compreender, mas entrar no próprio conteúdo do que se quer atribuir um sentido de forma unitária ou unilateral, mas que a “Coisa de que fala o texto vem à fala” (GADAMER, 2008, p. 515).

O texto no final questiona a própria linguística que afirma que cada língua realiza isso à sua maneira, porém o autor ressaltar outro foco procurando uma unidade entre o pensar e falar, isto se infere ao fato que qualquer tradição escrita só pode ser compreendida, apesar da grande multiplicidade das maneiras de falar, identificando uma unidade existente entre a linguagem e pensamento, pensamento e fala, e neste caso qual é a conceitualidade de toda compreensão? A interpretação conceitual é o modo como se realiza a própria experiência hermenêutica. 

Como toda compreensão é uma aplicação da linguagem, o intérprete está sempre em um desenvolvimento contínuo de conceitos, a linguagem se mantém viva tanto no falar como no compreender todo o processo de compreensão, interpretação e pensamento.

GADAMER, H.G. Verdade e Método I. Traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. 10.ed. Petrópolis: Vozes, 2008