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Arquivo para a ‘Real’ Categoria

Pandemia e poder

15 mai

Uma situação de catástrofe se enfrenta com solidariedade, compaixão com os que a sofrem diretamente, apoio aos que devem enfrenta-la de frente e principalmente com todo apoio daqueles que podem e devem dar condições para o enfrentamento da catástrofe.

É também uma situação nova, que exige que todos revejam ações, conceitos e o próprio estilo de vida pode e deve mudar, aqueles que se comportam tentando evitar a nova rotina, atrapalham o enfrentamento da catástrofe e a pioram pessoal e socialmente.

Tudo isto envolve poder, os poderes centrais e os micro-poderes, o filósofo Foucault desenvolveu o conceito de biopoder, ou seja, o controle dos fenômenos coletivos a partir dos processos de natalidade, longevidade, mortalidade e fecundidade, já em filosofia recente Byung Chul Han criou o conceito de psicopoder, aquele que através das mídias e da comunicação controla o meio social.

A pandemia parece ter conjugado os dois, e ainda mais aprofundado a antropologia humana no seu retorno a casa, usa tanto a questão do controle da mortalidade como a comunicação, em especial a digital, para tarefas, compras e trabalho em casa, assim como o controle pelo poder.

As instituições do estado são mobilizadas, assim o Estado Moderno entra em cena, para solidarizar ou para abrir suas contradições ao meio social, hospitais, instituições de ensino e meios de comunicação de massas são todos mobilizadas pelas forças do poder.

Aparecem as faces mais fraternas e mais hostis do modelo idealista, na ânsia de substituir a saúde e o poder da solidariedade intrinsicamente fraterna da família, da espiritualidade e do bem-comum social ele poderá apontar para uma saída ou colocar o conjunto da vida em xeque.

O poder religioso também está em xeque, com os templos fechados ou dão respostas sérias e concentras ou ficam no subjetivismo espiritual de frases e chavões conhecidos que não explicam nem resolvem nada, o dualismo subjetivismo/objetivismo desmorona e pedem um transcendente.

Na leitura cristã de João (Jo 15,15) pode se ler: “Já não vos chamo de servos, mas de amigos pois o servo não sabe o que faz o seu Senhor”, e isto é fundamental numa pandemia, e gera solidariedade.

E para aqueles que vão além da amizade e geram o amor fraterno, há uma promessa divina que consola e nos fortalece neste momento (Jo 14,21): “Ora, quem me ama, será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele”, e terão paz interior para enfrentar a guerra exterior que a pandemia gerou.

 

A sociedade em momento transiente

13 mai

A vida mudou em todo planeta, certamente não serão permanentes as limitações impostas, mas algumas preocupações que nasceram com a saúde, com os invisíveis e com as novas tecnologias serão permanentes quanto a importância e transformadas quando ao leva-las mais em conta.

O transiente observa ainda as dicotomias idealistas sujeitos e objetos, ou a subjetividade vista como um modelo falso do sujeito, que ele é desprovido de materialidade ou de substancialidade, a doença é uma prova deste erro, ou de uma falsa objetividade, nossas certezas sobre nossos objetos empíricos falharam e continuam a falhar em previsões e modelos, a já antiga era da incerteza, antiga porque já é uma “teoria” desde o século passado, agora tornou-se narrativa em meio a pandemia.

As velhas teorias idealistas, que a história as tornou ideologias fundamentalistas, tem como o seu epicentro a ideia que devemos nos desenvolver e avançar os modelos econômicos (no fundo sempre é a ideia de “mais produção”) até um esgotamento ainda maior, antes da natureza e agora da própria vida no planeta colocada em risco pandêmico.

Sloterdijk alerta em entrevista ao El País “a vida atual não convida a pensar”, e a razão que tenho um relativo otimismo sobre o distanciamento social (prefiro que isolamento, pois o conjunto da sociedade funciona em rede), está no raciocínio que ele faz na mesma entrevista: “Para Husserl e sua fenomenologia era preciso sair do tempo impetuoso da vida, o dispositivo mais elementar era sempre dar um passo atrás. Essa ação permite que você se transforme em observador.”

E este é o pressuposto básico da incerteza, que o observador faz parte do fenômeno, a ideia da ciência que podemos repetir o experimento observando o fenômeno, deve levar em conta que o observador é parte do fenômeno, em tempos de pandemia, se não me previno afeto o outro e a pandemia.

O conjunto desta mudança de época, já seu prenuncio vinha desde as duas grandes guerras, que não por acaso vinham da pior pandemia que a humanidade enfrentou que foi a gripe espanhola, que é um bom exemplo quando não há distanciamento social, que durou 2 anos ( janeiro de 1918 a dezembro de 1920), infectou um quarto do planeta (500 milhões de pessoas) e matou entre 20 e 50 milhões de pessoas.

Duas inverdades existem sobre esta pandemia, ela prova que o distanciamento social é bom e a que ela não mudou nada, ela aconteceu logo ao final da 1ª. guerra mundial (de 1914 a novembro de 1918) que havia deteriorado as condições sanitárias da Europa e recursos econômicos, mas é quando surge o modelo da Liga das Nações (instalada em janeiro de 1919, logo após o tratado de Versalhes), ainda que tenha sido insuficiente para evitar a 2ª. guerra mundial, deu início a discussão dos princípios básicos dos direitos sociais.

Também as velhas verdades sobre a mão invisível do mercado, o laissez faire, começou a se modificar, surgindo o estado providente, e depois da 2ª. guerra mundial a ONU com departamentos importantes como FAO, a UNICEF e a própria OMS, organização de larga influencia agora na Saúde Mundial e que dá diretrizes para enfrentar a pandemia.

Assim, depois desta guerra que é uma guerra agora de todos, contra um inimigo invisível e pode-se ainda dizer imprevisível, haverá mudanças e deverão ser pensadas globalmente, mas estamos num transiente em que as velhas ideias ainda resistem buscando a normalidade anterior de um consumismo e uma sociedade do cansaço desumana para todos.  

 

Midias, redes e isolamento social

12 mai

Os três fatores agora se conjugam e desvelam a realidade que muitos “teóricos” apontavam da mundialização, enquanto neo-teóricos ficam em filosofias abstratas que mal interpretam a realidade pandêmica ou que nada dizem sobre ela.

Um que anteviu a realidade, Manuel Castells que escreveu a Sociedade em Rede, explica porque não conseguimos antever o vírus, sua potência e violência não eram biologicamente possível de conhecer, mas a necessidade de uma política de saúde séria e uma educação para o futuro não só ele apontou, como também Sloterdijk, Edgar Morin e muitos outros.

Sobre a crise atual Castells diz que é preciso entender o aplauso das sacadas dos prédios aos médicos, enfermeiros e profissionais da saúde e levam a saúde mais a sério, isto podia ter sido previsto e estaríamos noutra etapa, defensor da tecnologia culpa também uma idolatria dela.

Afirmou que a supervalorização da tecnologia no caso da saúde atrasou o sistema como um todo, e ao mesmo tempo a desvalorização e incompreensão de sua aplicação em educação e no trabalho levou a um atraso que agora tenta-se superar mas com certa defasagem.

As redes sociais, cujas mídias potencializam, mas não são a mesma coisa, como é o caso da tele- medicina como uma possibilidade secundária agora, pois o paciente com covid precisa de lugar físico e ser assistido presencialmente, ainda que decisões e conferências online sejam úteis.

O isolamento social potencializou o uso das mídias nos lares e influenciou agora mais a fundo o mundo do trabalho, compras e serviços online, e a educação corre atrás do tempo perdido, a descoberta mais óbvia é que educação online não é simples e não é o mesmo que a presencial.

A mudança global deverá ser feita se desejamos combater com eficiência o vírus, deixar os avisões em terra e proibir as pessoas de viajar, é possível temporariamente, e o pior favorece a visão neo- nacionalista que levou muitos países a crise pandêmica, pensava-se o problema é na China.

Afirmou Castells, em entrevista recente: “um sistema global interdependente requer uma governação global, não necessariamente um governo global. Mas os Estados-Nações resistem a perder seu poder e cada um utiliza mecanismos de governança supostamente globais para defender seus interesses nacionais”, apesar das barreiras diria que o vírus não sabe que existem fronteiras construídas, mesmo com os “isolamentos” nacionais por barreiras protetoras.

O que precisamos diz Sloterdijk é um “escudo global”, a co-imunidade, agora com investimentos sérios, como co-governanças globais e levando a sério a saúde, o trabalho e a educação em uma nova normalidade, podemos voltar a frivolidade anterior, mas seremos irresponsáveis com o futuro que pode vir, ou uma nova onda deste vírus ou sua mutação, ou outro que é certo virá.

 

Equilíbrio e calma em tempos de crise

08 mai

Visto o agravamento da crise pandêmica no Brasil e alguns países das Américas, a chegada do frio neste hemisfério e o esgotamento do Sistema de Saúde, sem o #LockOut preventivo, teremos que fazer agora uma intervenção emergencial, com as consequências que ela traz.
É preciso nesta situação uma disciplina que culturalmente não temos, uma consciência que nem sempre se entende bem o que é, só há a consciência de algo, e neste caso é a saúde pública e os cuidados extremamente necessários e urgentes para que a curva inicie um processo de recuo.
Aquelas pessoas que têm alguma espiritualidade, que conseguem nesta situação equilíbrio precisam ajudar o conjunto da população, defender os médicos, enfermeiros e pessoal de apoio que trabalham na saúde (motoristas, secretários, socorristas etc.) para ter condições de trabalho.
Existem diversas formas de encontrar o equilíbrio pessoal, exercícios físicos e respiratórios, leitura, música e relaxamento, porém o estado da alma é que conta mais, e na turbulência do perigo de uma pandemia, é essencial encontrar uma forma de espiritualidade, de pensamentos e de Ser.
Para os cristãos que creem na existência de um Deus onipotente e soberano sobre todas as coisas que regem suas vidas, sabe que a atitude interior é de passividade, de tolerância e de um profundo Amor a todos que o cercam, e nesta pandemia ter atitudes de proteção a todos.
O consolo de suas almas, para espiritualidades cristãs verdadeiras, é a crença no Amor de Deus.
Está escrito pelo evangelista João (Jo 14,1-2): “não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus, tende fé em mim também [Jesus]. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, eu vos teria dito. Vou preparar um lugar para vós”, e sua morada terrena agora é refúgio.

 

O caminho de Emaús: da inteligência ao coração

24 abr

A parte 2 de Como Viver em tempo de crise, é escrita por Patrick Viveret e além de um olhar de admiração pela obra de Morin, o coautor, ele tem um olhar ainda mais generoso sobre a humanidade, apesar da pergunta grave do título do capítulo: O que faremos com a nossa vida?.
Viveret vai ligar a sabedoria ao amor, citando Martin Luther King: “Devemos nos preparar para viver como irmãos e irmãs, ou nos preparar para morrer como imbecis” (p. 55), e a completa com a inteligência emocional “coletiva” (é um diferencial importante) que é não é psicologismo.
O autor afirma “se não tratarmos a relação entre razão e coração, das razões do coração de que falava Pascal, a inteligência puramente mental, a famosa ciência sem consciência que não passa de ´ruína da alma’ como dizia Rebelais, pode construir piores monstruosidades” (pag. 55-56).
Afirmava sobre a crise anterior o que é muito mais próprio para a crise atual: “a humanidade corre o risco de acabar prematuramente com sua própria história, mas também pode aproveitar esse momento crucial para viver um salto qualitativo. “(p. 56)
Não podemos olhar para milhões de mortes e dizer, ainda bem que não foi comigo, ou um pouco mais humanamente, não podemos nem chorar os entes perdidos.
Números desfilam friamente sem que autoridades se toquem, serão provavelmente 3 mil mortos no pico da curva em São Paulo, mas podemos pensar em abrir o comércio aos poucos.

Em Wuhan onde a crise começou esperaram não ter nenhuma morte para abrir, mas aqui pensamos que não há como salvar vidas, dizem o custo econômico pode ser alto, mas quanto custa uma vida ? E a imprudência poderá custar mais ainda.
A crise pode ser pior que imaginamos, ontem alguns pacientes de Wuhan voltaram a dar positivo no teste, penso que não sairemos desta crise se não dermos aquilo que Morin disse e Viveret reafirmou: “Só poderemos chegar a isso se enfrentarmos a questão da barbárie interior” (p. 57), aquilo que Peter Sloterijk usou como metáfora falando de co-imunidade, é agora uma personificação, estamos prontos a ajudar o Outro para proteger a nós mesmos ?
Precisamos produzir riquezas mesmo que isto custe vidas, e antes não era exatamente uma parábola e, no entanto, foi assim que aconteceu na história, mas agora é exatamente uma personificação, (figura de linguagem como parábolas e metonímias) que significa dar ao que era “objeto” o atributo do Ser.
A passagem bíblica que Jesus usa a personificação é o caminho de Emaús, quando caminha a noite inteira aparentemente falando metáforas, e estes só descobrirão a personificação ouvindo o coração que finalmenre lhes despertou a inteligência (Lc 24,31-33): “Nisso os olhos dos discípulos se abriram e eles reconheceram Jesus. Jesus, porém, desapareceu da frente deles. Então um disse ao outro: “Não estava ardendo o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho, e nos explicava as Escrituras?” Naquela mesma hora, eles se levantaram e voltaram para Jerusalém onde encontraram os Onze reunidos com os outros”, a cegueira fora superada.
Não se trata de uma apologia da religião, apenas pensar que muitas vezes não ouvimos o que nos é dito da maneira mais clara possível, porque a nossa inteligência não está ligada ao coração e vice-versa.

 

O que é o meio divino

21 abr

Em tempos de crise profetas, oráculos, “sábios” de Platão e todo tipo de falsa sabedoria vem a tona, como é importante e muitos buscam um sinal “divino”, vale a questão o que é o meio “divino” para os que não creem e para os que buscam na fé um motivo para ter esperança.

Para quem crê, cabe bem a passagem de João 3:13-1: “Se não acreditais, quando vos falo das coisas da terra, como acreditareis se vos falar das coisas do céu? E ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do Homem. Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna”.

As “coisas da terra” assim não estão então tão distantes, afirma a leitura ninguém subiu ao céu, exceto aquele que desceu, o Jesus filho de Deus e aos que não acreditam o Jesus terreno, homem histórico, que depois foi levantado numa cruz, para finalmente re-aparecer ressuscitado.

Voltemos a terra, explicando justamente o Meio Divino (Chardin, s/d), Chardin que escreveu: “no seu esforço em direção à vida mística, os Homens cederam muitas vezes à ilusão de oporem brutalmente o espírito e a carne, o corpo e a alma, como se tratasse do Bem e do Mal. Apesar de certas expressões correntse, esta tendência maniqueísta nunca foi aprovada pela igreja… “ (p. 117).

Assim entender a complexificação da vida humana, a concentração em grandes centros urbanos, a agitação, o excesso de ruído e principalmente a visão meramente econômica da vida levaram ao pensamento “natural” do idealismo, da visão puramente econômica e da onipotência do estado.

Assim olhai as coisas do alto, não significa “sair do mundo”, ainda que haja ordens puramente contemplativas e sejam sérias, ao falar da Cruz, Chardin mostra que “todo homem persuadido de que perante a imensa agitação humana [escreve isto na década de 30 já o dissemos] abre caminho em direção a uma saída, e que este caminho é subir” (p. 113), o destaque é do autor.

Aponta este caminho de subir, a escolha de princípios fundamentais, neste caso é a vida, e estão entre corajosos que triunfarão afirma o autor, e os zombadores que fracassam, pois não se elevam nem mesmo na vida concreta.

Assim o autor afirmará a realidade do Cristo histórico, que nos mostra como uma vida “no mundo” pode ser uma subida mística e concreta, “a apaixonante e insondável realidade do Cristo histórico” da qual tiramos muitos exemplos, e assim é a vida humana de um Ser Divino.

Assim, em tempos de pandemia, não só o gesto de se prevenir usando as condições de higiene, como os gestos sociais de auxílio aos que não tem emprego e aos idosos e familiares de contaminados pelo covid-19, assim como ajuda na família são exemplos de vida divina concreta.

E meio nesta noite de crise deixam sua lição de Amor mais profunda, dar sua Vida pelos homens.

 

A crise do pensamento ocidental e a pandemia

14 abr

Velhas análises ainda fundamentadas no idealismo, que estudam o modelo do estado, os problemas econômicos e os modelos antropocêntricos não dão conta da nova realidade, a pandemia mundial foi causada por um vírus e pegou toda sociedade desprevenida, só em parte isto é verdade, no aspecto da saúde.

As análises líquidas continuam com discursos sobre obviedades, somos um só planeta, o problema é de todos, temos que rever valores, etc. porém aquelas que apontam para o futuro ainda vivem na penumbra de um pensamento sobre ideais que se esgotaram, mas não os discursos.

Edgar Morin que de longa data vem apontando para uma cidadania planetária, se aproximando dos 100 anos e mantendo uma cabeça lúcida, numa entrevista ao L´Observateur de 18/03 afirmou: “O confinamento pode nos ajudar a desintoxicar nosso modo de vida”, e na mesma entrevista aponta que “essa crise nos mostra que a globalização é uma interdependência sem solidariedade”, e que produziu uma unificação tecno-econômica do planeta.

Na mesma linha Byung Chul Han escreveu na Sociedade do Cansaço, que estamos todos na vida activa e ignoramos a vida contemplativa, no entanto a pandemia nos retirou do ativismo e ainda não sabemos o que fazer com o “ócio” de ficar em casa, há até discurso religioso que a chama de túmulo, mas falaremos nisto ao falar da noite de Deus e da religiosidade instrumentalizada de hoje.

Aos que não acreditam nesta análise, lembro que programas de sucesso como “reality show” agora são de fato realidades porque cada um a vive na sua casa, e “master chef” agora tem que acontecer na prática nas famílias porque restaurantes estão fechados.

Quanto ao aspecto tecno apontado por Morin não podemos esquecer que além dos noticiários globais, agora para o trabalho, para a educação e até mesmo para o lazer as videoconferências agora são realidades, ainda há quem pragueje contra elas, mas é esquizofrenia porque elas agora são necessárias e até para manter o comércio são imprescindíveis, até para as compras online, também os shoppings estão fechados.

A desintoxicação de nosso modo de vida não veio por um plano de governo, nem por uma grande mudança cultural, embora a pandemia sugira isto, mesmo nas nossas casas ainda procuramos as irrealidades da vida contemporânea, a pandemia, entretanto provoca uma mudança desta visão.

O oriente e alguns países, cito o caso de Portugal, estão tendo sucesso por causa de uma certa disciplina no #ficarEmCasa, quando Peter Sloterdijk em As regras para o parque humano falou sobre a falência da “domesticação humana”, não imaginava que um vírus podia demonstrar sua tese, sairão da crise mais cedo e terão menos mortos países com maior disciplina social.

Por ultimo as Redes Sociais (não confundir com as mídias tecno que falamos acima), a dinâmica da propagação do vírus segue a lógica das redes, e assim se estes estudos forem levados a sério poderemos estar mais prontos na defesa das vidas, não por acaso o infectologista Carl Latkin é um dos cientistas com maior publicação nesta área.

 

Isolamento social e pequenos mundos

07 abr

Já foi explicado que #LockDown é diferente o isolamento social, reduzir a dinâmica da proximidade física entre as pessoas e o isolamento social, porém a explicação que estamos em redes, que faz com que uma pessoa da periferia de São Paulo ou do Rio de Janeiro se desloque até o centro, é o fato que as redes (que podem se comunicar por mídias chamadas de “virtuais”) neste caso são redes físicas.

O contato entre pessoas para o contágio por um vírus se dá porque muita gente vive nas chamadas cidades dormitórios e precisam se deslocar até os grandes centros para o trabalho, e os trabalhos essenciais: transportes, funcionários de postos de saúde e mercados, moram em periferias e devem retornar por suas casas.

No estudo de Redes Sociais existe um fenômeno chamado de “seis graus de separação” que foi nome de uma peça em 1990 do dramaturgo John Guare, e de um filme de Fred Schepisi (veja a figura), onde um personagem diz: “… todas as pessoas neste planeta estão separadas entre si por apenas seis outras pessoas. Seis graus de separação. Entre nós e qualquer outra do planeta”, eis os mundos pequenos, cada pessoa diz o personagem no filme “é uma porta que se abre a um novo mundo”.

É uma ideia profunda, diz também no filme, da dinâmica de grandes massas vamos par uma forma de microssociedade onde cada um tem um papel e pode propiciar um novo mundo, uma mudança na cosmovisão, e uma coisa importante neste momento é a defesa da vida, quiçá a boa economia.

Nos fixemos na proposta do isolamento social, ele retarda mas não reduz o número de infectados dizem os especialista e apelam para a ciência, no entanto, a ciência das redes mostra que os mundos pequenos tornam esta interação possível, então um “tipo” de isolamento vertical faz sentido, se pensamos nos mundos pequenos.

Não se trata apenas dos idosos, grupo de risco, mas as periferias onde o contágio chegando pode causar a chamada exponencial do contágio, devido tanto as condições de proximidade física como as condições sanitárias, é aqui que colocamos o problema sério, e nenhum estudo foi feito ainda.

O Ministério da saúde disse que faria este estudo no final de semana, mas a má política prejudicou, o mundo pequeno da política sofreu um contágio, que dentro do próprio governo sofreu um isolamento vertical, mas já havia um isolamento social, 76% da população apoia no Brasil a política do Ministério da Saúde, porem a análise da expansão na periferia ficou de lado.

 

Uma cosmovisão em mudança

03 abr

O modelo ptolomaico mudou a visão aristotélica de mundo criando um modelo de movimento em espiral para astros e planetas conhecidos na época, mudando a cosmovisão, mas foi Copérnico que mudou a visão que tirava a Terra do centro do universo e colocava o Sol, este modelo ajudou a cosmovisão antropocêntrica se opondo a cosmovisão teocêntrica.
A grande polêmica de Galileu com a visão teológica não era a visão cosmológica, mas a questão da interpretação e leitura bíblica pelo “vulgo”, não por acaso a primeira versão popular chamou-se de “vulgata” e ao aprofundar a leitura bíblica pelo “povo”, algumas interpretações exegéticas foram postas de lado, porque eram “temporais”.
Porém Galileo perante o Santo Ofício de fato afirmou “E pur si muove” (traduzindo o italiano e então se move) que poderia hoje olhando todo o universo dizer “E pur tutto si muove”, tudo está em movimento e a dinâmica não resiste mais a cosmovisão clássica Ser e Não Ser, há um terceiro excluído que pode ser pensado que é Não Ser ainda é Ser, a física quântica e o modelo das cordas indicam um terceiro estado, que já é utilizado em aplicações quânticas.
Assim os modelos teóricos e a cosmovisão idealista junto com seu modelo de universo ruíram já a algum tempo e mesmo o Modelo da Física Padrão que explicou a física das partículas parece em cheque com os estudos da matéria e energia escura que são nada mais que 95% do universo.
A visão de ver o mundo por choque de oposição aos poucos vai ruindo, ao admitir um terceiro excluído (assim o chama o professor da Sourbone Florent Pasquier, veja a figura) admitindo não uma síntese (fruto da oposição idealista tese e antítese), mas uma terceira possibilidade que conjuga com as outras duas.
Ela deve afetar o mundo religioso, é um grande apoio para um momento de unir mentes e corações para o combate da pandemia mundial, e pode ser o germe de grandes mudanças.
Uma referência bíblica para o assunto é o momento na cruz que Jesus grita a Deus, que já não o chama de Pai, diz a tradição que em aramaico língua da sua mãe Maria, e sente-se separado do Pai, ora na visão trinitária em que Jesus é também Deus, é um paradoxo separar-se do Pai.
Jesus na cruz está repetindo o Salmo 21 “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes”, e parece ser o grito de toda a humanidade diante da pandemia, e é possível também uma leitura do “terceiro excluído” onde aprendamos que a oposição tem hora e a resposta deve ser de todos.
Porém a explicação mística é justamente o terceiro excluído, a natureza humana de Jesus está religando-a ao Pai, se quisermos a visão noosférica de Chardin, ao Universo, diz a leitura que fez-se uma grande noite.

 

A cosmologia atual e uma cosmovisão

02 abr

A cosmologia atual é aquela que considera o universo como tendo um início, podendo ser um multiverso ou uma bolha, e que se expande numa constante entre o H0 de Hubble e as taxas medidas a partir das supernovas, cuja conciliação pode ser a nova teoria do universo numa bolha lançada por Lucas Lombriser cujo artigo saiu na revista Physics B deste mês.
Mas esta cosmologia considera o mistério da energia e matéria escura que compõe 96% do universo desconhecido e este enigma modifica a cosmologia e também nossa cosmovisão.
Esta cosmologia postula a ideia que esta matéria escura não interage como a matéria comum e a hipótese algo que “engolia” toda a matéria conhecida (chamada bariônica a sua volta, incluindo a luz) evolui para a ideia que é ela tem uma massa de alta densidade e do colapso de supernovas e sua interação gravitacional tem efeito sobre a matéria visível, as estrelas, galáxias e aglomerados.
Do que ela é feita, é certo que ela não tem matéria como o modelo agora estável chamado da Física Padrão, que exploramos no post anterior, assim vai além deste modelo e uma das teorias mais interessantes é a da supersimetria, que explora o conceito da física padrão que cada partícula tem uma simétrica, assim como os bósons e os férmions,
O que esta teoria sobre a matéria escura propõe que para cada bóson conhecido existir um férmion desconhecido e vice versa, mas há uma diferença com a teoria da antimatéria, pois as antipartículas possuem cargas contrárias mas a mesma massa e quando entram em contato produzem energia, o que explicaria também a energia escura.
Os férmions assim como prótons, elétrons e nêutrons, constituem o nosso mundo material e os bósons são os que geram as forças da natureza, a descoberta do bóson de Higgs ou “partícula de Deus” foi importante porque nos fez entenda a massa, enquanto os férmions nos explicam o estado quântico pois dois férmions ocupam o mesmo estado quântico.
O fato da existência da energia escura, mais interessante do que seu mistério e presença em 70% do universo (25% é energia escura) além do nosso desconhecimento é o fato que é esta “matéria” que nos dá uma cosmovisão completa de nosso universo, não apenas porque é escura por não ser visível, mas também desconhecida.
O TED de James Gilles a seguir, visto por mais de 2 milhões de pessoas, explica a teoria da matéria escura.