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A crise do pensamento ocidental e a pandemia
Velhas análises ainda fundamentadas no idealismo, que estudam o modelo do estado, os problemas econômicos e os modelos antropocêntricos não dão conta da nova realidade, a pandemia mundial foi causada por um vírus e pegou toda sociedade desprevenida, só em parte isto é verdade, no aspecto da saúde.
As análises líquidas continuam com discursos sobre obviedades, somos um só planeta, o problema é de todos, temos que rever valores, etc. porém aquelas que apontam para o futuro ainda vivem na penumbra de um pensamento sobre ideais que se esgotaram, mas não os discursos.
Edgar Morin que de longa data vem apontando para uma cidadania planetária, se aproximando dos 100 anos e mantendo uma cabeça lúcida, numa entrevista ao L´Observateur de 18/03 afirmou: “O confinamento pode nos ajudar a desintoxicar nosso modo de vida”, e na mesma entrevista aponta que “essa crise nos mostra que a globalização é uma interdependência sem solidariedade”, e que produziu uma unificação tecno-econômica do planeta.
Na mesma linha Byung Chul Han escreveu na Sociedade do Cansaço, que estamos todos na vida activa e ignoramos a vida contemplativa, no entanto a pandemia nos retirou do ativismo e ainda não sabemos o que fazer com o “ócio” de ficar em casa, há até discurso religioso que a chama de túmulo, mas falaremos nisto ao falar da noite de Deus e da religiosidade instrumentalizada de hoje.
Aos que não acreditam nesta análise, lembro que programas de sucesso como “reality show” agora são de fato realidades porque cada um a vive na sua casa, e “master chef” agora tem que acontecer na prática nas famílias porque restaurantes estão fechados.
Quanto ao aspecto tecno apontado por Morin não podemos esquecer que além dos noticiários globais, agora para o trabalho, para a educação e até mesmo para o lazer as videoconferências agora são realidades, ainda há quem pragueje contra elas, mas é esquizofrenia porque elas agora são necessárias e até para manter o comércio são imprescindíveis, até para as compras online, também os shoppings estão fechados.
A desintoxicação de nosso modo de vida não veio por um plano de governo, nem por uma grande mudança cultural, embora a pandemia sugira isto, mesmo nas nossas casas ainda procuramos as irrealidades da vida contemporânea, a pandemia, entretanto provoca uma mudança desta visão.
O oriente e alguns países, cito o caso de Portugal, estão tendo sucesso por causa de uma certa disciplina no #ficarEmCasa, quando Peter Sloterdijk em As regras para o parque humano falou sobre a falência da “domesticação humana”, não imaginava que um vírus podia demonstrar sua tese, sairão da crise mais cedo e terão menos mortos países com maior disciplina social.
Por ultimo as Redes Sociais (não confundir com as mídias tecno que falamos acima), a dinâmica da propagação do vírus segue a lógica das redes, e assim se estes estudos forem levados a sério poderemos estar mais prontos na defesa das vidas, não por acaso o infectologista Carl Latkin é um dos cientistas com maior publicação nesta área.
Isolamento social e pequenos mundos
Já foi explicado que #LockDown é diferente o isolamento social, reduzir a dinâmica da proximidade física entre as pessoas e o isolamento social, porém a explicação que estamos em redes, que faz com que uma pessoa da periferia de São Paulo ou do Rio de Janeiro se desloque até o centro, é o fato que as redes (que podem se comunicar por mídias chamadas de “virtuais”) neste caso são redes físicas.
O contato entre pessoas para o contágio por um vírus se dá porque muita gente vive nas chamadas cidades dormitórios e precisam se deslocar até os grandes centros para o trabalho, e os trabalhos essenciais: transportes, funcionários de postos de saúde e mercados, moram em periferias e devem retornar por suas casas.
No estudo de Redes Sociais existe um fenômeno chamado de “seis graus de separação” que foi nome de uma peça em 1990 do dramaturgo John Guare, e de um filme de Fred Schepisi (veja a figura), onde um personagem diz: “… todas as pessoas neste planeta estão separadas entre si por apenas seis outras pessoas. Seis graus de separação. Entre nós e qualquer outra do planeta”, eis os mundos pequenos, cada pessoa diz o personagem no filme “é uma porta que se abre a um novo mundo”.
É uma ideia profunda, diz também no filme, da dinâmica de grandes massas vamos par uma forma de microssociedade onde cada um tem um papel e pode propiciar um novo mundo, uma mudança na cosmovisão, e uma coisa importante neste momento é a defesa da vida, quiçá a boa economia.
Nos fixemos na proposta do isolamento social, ele retarda mas não reduz o número de infectados dizem os especialista e apelam para a ciência, no entanto, a ciência das redes mostra que os mundos pequenos tornam esta interação possível, então um “tipo” de isolamento vertical faz sentido, se pensamos nos mundos pequenos.
Não se trata apenas dos idosos, grupo de risco, mas as periferias onde o contágio chegando pode causar a chamada exponencial do contágio, devido tanto as condições de proximidade física como as condições sanitárias, é aqui que colocamos o problema sério, e nenhum estudo foi feito ainda.
O Ministério da saúde disse que faria este estudo no final de semana, mas a má política prejudicou, o mundo pequeno da política sofreu um contágio, que dentro do próprio governo sofreu um isolamento vertical, mas já havia um isolamento social, 76% da população apoia no Brasil a política do Ministério da Saúde, porem a análise da expansão na periferia ficou de lado.
Uma cosmovisão em mudança
O modelo ptolomaico mudou a visão aristotélica de mundo criando um modelo de movimento em espiral para astros e planetas conhecidos na época, mudando a cosmovisão, mas foi Copérnico que mudou a visão que tirava a Terra do centro do universo e colocava o Sol, este modelo ajudou a cosmovisão antropocêntrica se opondo a cosmovisão teocêntrica.
A grande polêmica de Galileu com a visão teológica não era a visão cosmológica, mas a questão da interpretação e leitura bíblica pelo “vulgo”, não por acaso a primeira versão popular chamou-se de “vulgata” e ao aprofundar a leitura bíblica pelo “povo”, algumas interpretações exegéticas foram postas de lado, porque eram “temporais”.
Porém Galileo perante o Santo Ofício de fato afirmou “E pur si muove” (traduzindo o italiano e então se move) que poderia hoje olhando todo o universo dizer “E pur tutto si muove”, tudo está em movimento e a dinâmica não resiste mais a cosmovisão clássica Ser e Não Ser, há um terceiro excluído que pode ser pensado que é Não Ser ainda é Ser, a física quântica e o modelo das cordas indicam um terceiro estado, que já é utilizado em aplicações quânticas.
Assim os modelos teóricos e a cosmovisão idealista junto com seu modelo de universo ruíram já a algum tempo e mesmo o Modelo da Física Padrão que explicou a física das partículas parece em cheque com os estudos da matéria e energia escura que são nada mais que 95% do universo.
A visão de ver o mundo por choque de oposição aos poucos vai ruindo, ao admitir um terceiro excluído (assim o chama o professor da Sourbone Florent Pasquier, veja a figura) admitindo não uma síntese (fruto da oposição idealista tese e antítese), mas uma terceira possibilidade que conjuga com as outras duas.
Ela deve afetar o mundo religioso, é um grande apoio para um momento de unir mentes e corações para o combate da pandemia mundial, e pode ser o germe de grandes mudanças.
Uma referência bíblica para o assunto é o momento na cruz que Jesus grita a Deus, que já não o chama de Pai, diz a tradição que em aramaico língua da sua mãe Maria, e sente-se separado do Pai, ora na visão trinitária em que Jesus é também Deus, é um paradoxo separar-se do Pai.
Jesus na cruz está repetindo o Salmo 21 “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes”, e parece ser o grito de toda a humanidade diante da pandemia, e é possível também uma leitura do “terceiro excluído” onde aprendamos que a oposição tem hora e a resposta deve ser de todos.
Porém a explicação mística é justamente o terceiro excluído, a natureza humana de Jesus está religando-a ao Pai, se quisermos a visão noosférica de Chardin, ao Universo, diz a leitura que fez-se uma grande noite.
A cosmologia atual e uma cosmovisão
A cosmologia atual é aquela que considera o universo como tendo um início, podendo ser um multiverso ou uma bolha, e que se expande numa constante entre o H0 de Hubble e as taxas medidas a partir das supernovas, cuja conciliação pode ser a nova teoria do universo numa bolha lançada por Lucas Lombriser cujo artigo saiu na revista Physics B deste mês.
Mas esta cosmologia considera o mistério da energia e matéria escura que compõe 96% do universo desconhecido e este enigma modifica a cosmologia e também nossa cosmovisão.
Esta cosmologia postula a ideia que esta matéria escura não interage como a matéria comum e a hipótese algo que “engolia” toda a matéria conhecida (chamada bariônica a sua volta, incluindo a luz) evolui para a ideia que é ela tem uma massa de alta densidade e do colapso de supernovas e sua interação gravitacional tem efeito sobre a matéria visível, as estrelas, galáxias e aglomerados.
Do que ela é feita, é certo que ela não tem matéria como o modelo agora estável chamado da Física Padrão, que exploramos no post anterior, assim vai além deste modelo e uma das teorias mais interessantes é a da supersimetria, que explora o conceito da física padrão que cada partícula tem uma simétrica, assim como os bósons e os férmions,
O que esta teoria sobre a matéria escura propõe que para cada bóson conhecido existir um férmion desconhecido e vice versa, mas há uma diferença com a teoria da antimatéria, pois as antipartículas possuem cargas contrárias mas a mesma massa e quando entram em contato produzem energia, o que explicaria também a energia escura.
Os férmions assim como prótons, elétrons e nêutrons, constituem o nosso mundo material e os bósons são os que geram as forças da natureza, a descoberta do bóson de Higgs ou “partícula de Deus” foi importante porque nos fez entenda a massa, enquanto os férmions nos explicam o estado quântico pois dois férmions ocupam o mesmo estado quântico.
O fato da existência da energia escura, mais interessante do que seu mistério e presença em 70% do universo (25% é energia escura) além do nosso desconhecimento é o fato que é esta “matéria” que nos dá uma cosmovisão completa de nosso universo, não apenas porque é escura por não ser visível, mas também desconhecida.
O TED de James Gilles a seguir, visto por mais de 2 milhões de pessoas, explica a teoria da matéria escura.
Um universo complexo e um além deste
Quando a dimensão do espaço e tempo passou a ser estudada não como dimensões isoladas, mas com isto a força gravitacional não é mais consequência da atração dos corpos, sim uma consequência do deslocamento num espaço-tempo curvo e assim deveria haver alguma “partícula” que transmitisse a gravidade entre os corpos.
Porém os grávitons não eram fáceis de serem observados, uma teoria chamada de Kaluza-Klein levantou a hipótese que a gravidade parece fraca de onde existimos e a observamos, porque poderia passar por mais de três de dimensões ao nosso tempo, e portanto, se dilui.
Em 1960 um grupo de físicos com objetivo de unificar a Física, desenvolveu a ideia da teoria das cordas onde unidades constituintes da matéria existente e as partículas elementares da natureza são minúsculas cordas vibratória oscilantes feitas de energia, as quais, variando a oscilação cria os diversos tipos de matéria conhecida, as forças fraca, forte, eletromagnética e a gravidade.
O grande mérito das diversas características das cordas foi perceber padrões vibratórios nas partículas e indo indicava que poderia existir uma partícula mensageira da força gravitacional chamada gravitón, que recentemente foi comprovada e isto mudou a concepção de Universo.
Numa palestra apresentada por Edward Witten em 1995, se iniciou a chamada Segunda Revolução das Cordas, que descobriu padrões chamado Tipo I, Tipo II(A), Tipo II(B), Heterótica-O, Heterótica-E, tinham um padrão de comportamento chamado de constante de acoplamento. isto indicava que as partículas vinham em duplas, por exemplo a Heteritóca;O e a tipo II(A) era inversamente proporcional à heterótica-E e esta a Tipo II(B), e a teoria foi essencial para entender as cordas.
Um outro fator que a teoria-M ajudou a compreensão do Universo foi que ela incorporou uma teoria completamente nova das dimensões, criou a ideia da supergravidade com onze dimensões, porém uma antiga dúvida entre os astrofísicos ainda perdurava e mudaria tudo.
Haviam duas constantes da expansão do universo, que Hubble chamou de H0 e a medida a partir de supernovas distantes se afastando (veja o post), foi recentemente que Lucas Lombriser, afirmou que é como “Se estivéssemos em uma espécie de gigantesca “bolha”, assim as supernovas teriam influencias fora desta “bolha” que vivemos, por forças ainda mais enigmáticas vindas de “fora”.
A ordem do Universo
Na antiguidade clássica o modelo que predominou foi o Ptolomaico, que superou o modelo de Aristóteles (384-322 a.C.) que pensava que a Terra era o centro do universo, claro além de outros modelos que considerava a terra plana a Terra presa a uma “casca esférica” e outros.
Foram surgindo outras ideias, a sério porém o modelo de Claudio Ptolomeu (85-150) prevaleceu, até surgiu no final da idade média o modelo de Nicolau Copérnico (1473-1543), mas ainda era o Sol como centro do Universo, o importante aqui é a “ordem” matemática e geométrica que estabeleceu, que influenciou toda a ciência moderna.
O nosso limite como galáxia foi proposto na antiguidade por Demócrito de Abdera (450-370 a.C.), vendo a baixa brilhante no céu noturno, afirmou que ela consistia em estrelas distantes.
Foi só no século X, que o astrônomo persa conhecido como Azophi (Abd al-Rahman al—Sufi), que observou a Galáxia de Andrômeda, descrevendo-a como uma “pequena núvem” e foi redescoberta por Simon Marius em 1612, e em 1610 Galileu Galilei a confirmação que a Via Láctea era composta de várias estrelas.
O modelo da Via Láctea foi estabelecido por William Hershel em 1785 (desenho acima) e até a descoberta da expansão do universo, este era composto por galáxias e estas por estrelas e planetas.
Os modelos cosmológicos atuais vieram a partir da hipótese, hoje praticamente confirmada do clérigo Georges Lamaître (1854-1966), demonstrada por Edwin Hubble (1889-1953) e teorizada e completa pelo físico inglês Stephen Hawking (1942-2018) e seu aluno Roger Penrose (1931-).
Foi a partir do estudo de flutuações de densidade (ou irregularidades anisotrópicas da “matéria”(, que analisando as estruturas maiores começaram a se desenvolver, o resultado é o que chama-se de matéria bariônica que se condensam dentro de halos de matéria escura fria, e estas são as que formaram as galáxias como vemos hoje, porém a matéria e energia escura ainda são estudos.
O que queremos estabelecer aqui é como nossa visão de mundo e de matéria tem implicações também na visão dos estudos da vida, e no caso presente, das estruturas de viroses e pequenos organismos que podem ajudar a ciência a encontrar soluções para epidemias e pandemias.
Em estudo que estamos fazendo sobre publicações em Redes Sociais, o cientista como maior número de publicações na área de Redes é Carl A. Latkin, médico infectologista e que é membro do Centro para Medicina Global, o que não é mero acaso, nossa visão de mundo e de complexidade mudou e ela pode nos ajudar no combate a pandemia.
Não querer curar-se
Um sistema em crise, seja por razão social, econômica ou política, ele tende a tornar-se mais confuso e tóxico até que encontre um caminho onde possa sanar-se, quando a razão é uma catástrofe natural ou uma doença não é muito diferente, porém estas afetam a vida diretamente.
Não querer curar-se e defender a vida é uma atitude de autossabotagem sejam por razões conscientes ou inconsciência explica a psicologia, é aquela atitude de criar obstáculos e empecilhos que atrapalham as tarefas para encontrar caminhos, neste caso a cura e a preservação das vidas, e assim acha que não há como atingir os objetivos de cura ou de co-imunidade, a imunidade conseguida pelas ações conjuntas.
Do ponto de vista cultural é ignorância, e neste caso a visão dos especialistas e agentes de saúde devem ser a visão “técnica” que prevaleça, sobre inclusive a econômica, trata-se assim de uma cegueira, dizer é só uma gripe ou estamos sem saída (autossabotagem inconsciente) é um fenômeno de dirigir a mente a pensamentos equivocados, e isto existem culturalmente.
Conta a narrativa bíblica que um homem ficou 38 anos numa cama e não conseguia chegar a uma piscina natural chamada de Siloé (em hebraico significa enviado) e preciso da intervenção de Jesus para dizer-lhe toma sua cama e anda (João 5:7-9), milagre mas também ruptura com a paralisia e neste sentido é também uma metáfora.
Mas há aqueles que julgavam enxergar e não enxergam, o cego de nascença que é curado na bíblia é alguém que não tinha um sistema cognitivo preparado para enxergar, e o fato que ele passa a ver é um milagre mas também uma outra metáfora, a que por cegueira cultural e contextual não é possível enxergar, ao sair deste contexto é possível que se possa ver.
Agora querer curar-se ou não é uma atitude psíquica, querer ver e tendo o sistema fisiológico para enxergar é preciso esforço e superar a autossabotagem que faz da cegueira uma zona de conforto.
Uma noite escura da humanidade
Uma noite cai sobre a humanidade, mas é preciso notar que esta noite vinha acontecendo o vírus que atingiu todo o planeta é um catalisador e apesar de ser letal e trazer muitos cuidados pode nos acordar de uma noite que vinha acontecendo: noite da cultura, noite de Deus, noite da ciência reduzida a especialidades e métodos questionáveis e principalmente noite do homem.
A vida desenfreada e muitas vezes sem sentido, a busca pela eficiência e produtividade, a ideia que o crescimento econômico traz felicidade e principalmente a exclusão do Outro, agora parecem se inverter com a necessidade de ficar em casa: #StayAtHome.
Esta noite provocou uma cegueira coletiva, a cultura é “qualquer coisa serve”, rabiscos e borrões se tornaram arte, expressões puramente genitais sem qualquer afetividade de tornou sexo, e a cultura religiosa que ajudava as pessoas a encontrarem paz de espírito se tornou pura superstição, apelo a riqueza e ao dinheiro, ou a mera pobreza de outro lado, sem qualquer coisa que a faça entender o sentido profundo do desapego e do viver na essência da vida.
A noite religiosa ou noite de Deus é um apego dos homens aos seus círculos fechados agora, se forem prudentes, também impedidos de se reunir, a manipulação grosseira, a leitura fundamentalista da bíblia, que são a pior cegueira contemporânea, também reduz o homem a ser-para-a-morte e não o ser-para-a-vida.
Contemplar o mistério do universo além daquilo que já conhecemos, pouco sabemos da massa e energia escura que compõe 94% do universo, e que este pode ainda ter uma além de sua “bolha”, pode abrir os olhos daqueles que acham que sabem tudo porque aprenderam a ciência, ou porque leram a bíblia com seus olhos de cegueira cultural e seu círculo de “eleitos” fechado e pequeno.
Jesus ao curar o cego assusta os fariseus que querem que o cego se cale, a ciência ajudou um pouco este abandono de superstições e ajudou a iluminar a inteligência humana, também posta a prova pelo vírus, é o que lemos na passagem bíblica lemos em Jo 9:7-9:
E [Jesus depois de por-lhe barro no olho] disse-lhe: “Vai lavar-te na piscina de Siloé” (que quer dizer: Enviado). O cego foi, lavou-se e voltou enxergando. Os vizinhos e os que costumavam ver o cego — pois ele era mendigo — diziam: “Não é aquele que ficava pedindo esmola?” Uns diziam: “Sim, é ele!” Outros afirmavam: “Não é ele, mas alguém parecido com ele”. Ele, porém, dizia: “Sou eu mesmo!”, e os religiosos queriam proibir-lhe de falar.
A primeira mulher Nobel de Economia
Elinor Ostrom foi a primeira mulher economista a receber o Nobel de Ciências Econômicas junto com Oliver E. Williamson, em 2009, por “sua análise da governança econômica, especialmente com os bens comuns”, os chamados “Commons” que hoje dominam também o mundo da difusão científica, tais como os Creative Commons, onde mantem-se direitos do autor com permissões de uso.
Mas é claro, a teoria de Elinor é muito mais geral, e visava principalmente desmentir a ideia que era então “consagrada” do “Tragedy of Commons”, que ficou conhecido pelo artigo escrito pelo filósofo e biólogo americano Garret Hardin em 1968.
O conceito moderno que Elinor explorou de “Commons”, são os bens comuns universais tais como água, oceanos, rios, unidades populacionais de peixes, estradas e rodovias (privatizadas quase no mundo todo), e até mesmo uma geladeira de escritório ou um espaço público compartilhado.
Elinor Ostrom demonstrou em seu livro “Governing of Commons” dando exemplo de comunidades que se autogeriram se regulações de cima para baixo ou privatizações, com sucesso econômico.
Em 1973 fundou com o marido Vincent Ostrom, o Workshop de Teorias e Análise Política na Universidade de Indiana, e uma de suas últimas atividades foi a preparação para a conferência Rio+20 na chefia do comitê científico da Planet Under Pression, que exerceu forte influência na conferência, embora Elinor tenha falecido em 2012.
Seu último livro Working together : Collective Action, The Commons, and Multiple Methods in Practice, escrito em conjunto com A. Poteete e M.A. Janssen, dá lições praticas de ações coletivas que podem potencializar o trabalho em torno dos “bens comuns”.
Entre a redução fenomenológica e a variação eidética
O se perguntar sobre a consciência Husserl irá propor um método radical para “vasculhar” o fenômeno, recuperando e modificando um conceito grego que é a redução fenomenológica (epoché).
Suspensão significa que não apagamos de nossa consciência o juízo que temos a respeito das coisas, porém a perspectiva husserliana é “por entre parênteses” o que é mais realista, porque não podemos apagar, ao menos completamente, a memória, no entanto esquecer o que pensamos sobre o que apreendemos sobre o mundo vivencial.
Assim Husserl consegue não fazer uma atitude elevada, como o cogito cartesiano que não apaga o ego, mas uma “atitude natural” para rever como relacionamos com as coisas do mundo.
Assim aprender algo significa captá-las como elas são, assim a fenomenologia procura enfocar o fenômeno no sentido de como ele nos aparece, sem usar o que já conhecemos previamente e suas aplicações de como já foi visto, tendo como objetivo atingir a sua !originalidade!, a sua “pureza” de fenômeno,
Significa deixar de lado todos os preconceitos, teorias, definições e tentarmos adquirir um novo conceito sobre as o mundo da vida, os fenômenos ao nosso redor e o sentido da “coisa”.
Com a epoché não se pretende propriamente duvidar da existência do mundo, nem, muito menos, suprimi-la. O mundo ao redor se apresenta só na consciência.
Para Husserl, os objetos do mundo já estão colocados para nós nas diversas perspectivas e adotamos quase imediatamente um sentido para ele, em geral o que não conhecemos atribuímos uma essência e esta deverá permanecer inalterada porque demos um sentido originário a este objeto.
O segundo conceito fundamental de Husserl é a variação eidética, justamente o que diferencia sua visão do eidos da cultura idealista contemporânea, onde chama de noema o que é do próprio objeto, o que é a coisa, que os antigos chamam de quididade, enquanto chama de noese do grego νόησις , significa a apreensão imediata que pode não ter a necessária dianóia, isto é, o pensar sobre a coisa que a liga ao noema.
Então a fixação nos objetos e a incompreensão de seu sentido por outro lado, é em parte do mundo contemporâneo, esta dessincronia entre noema e noese.