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Arquivo para a ‘Virtual’ Categoria

Espírito o que é

23 mai

Na origem grega a palavra é pneuma significando “sopro, vendo, ar” em tradução para o religioso “sopro divino, espírito” ou “Espírito Santo”, em análise ao tema que desenvolvemos no tópico anterior significa uma consequência da verdadeira ascese, uma “assistência” do Espírito Santo às questões cotidianas.

Na tradução hebraica a palavra é “ruah” (ou ruach), significando algo parecido “hálito, ar”, porém se distancia da ideia cristã de Espirito Santo como pessoa.

A palavra hebraica ruah tem também significado de “brisa” ou “sopro”, em Genesis por exemplo: “Entraram para junto de Noé na arca, dois a dois de toda a carne em que havia espírito de vida”, em hebraico.

A palavra hebraica ruach tem também significado de “brisa” ou “sopro”, em Genesis por exemplo: “E de toda a carne, em que havia espírito de vida, entraram de dois em dois para Noé na arca”, a tradução neste caso é c Isto parece deslocado da filosofia ou mesmo das ideias contemporâneas, porém desde os gregos: Platão, Plotino e mais recentemente os hegelianos exploraram diversos sentidos próximos a este de espírito absoluto, da verdade ou da vida.como “espírito de vida”, porém a palavra hebraica “ruach” é mais que isto.

Este espírito que é o Sumo bem de Platão e Aristóteles, se articulará na filosofia medieval e chegará a filosofia prática de Kant, para descrever o bem maior que o ser humano deve buscar, mas neste caso se confunde com a Eudaimonia que significa ética da felicidade (em certo sentido nem sempre “supremo”).

Platino (205-207 d.C.) é particularmente importante por ter recebido influência de Platão e ter influenciado por seu livro Enéadas: cristãos, islâmicos, judeus e gnósticos, sua influência particularmente em Agostinho de Hipona é bastante forte, sobre a natureza do Intelecto e sobre o “além do Intelecto”, ou seja, o Uno, embora possa ser classificado como tendo um pensamento metafísico é na articulação do intelecto com a alma, onde o Uno pode englobar os dois.

Esta ideia foi desenvolvida em Agostinho de Hipona para o qual é a separação dicotômica entre o bem e o mal (Agostinho fora um maniqueísta) que faz o intelecto distanciar-se da alma, assim levanta questão como o sumo Bem, consentiria a manifestação prevalecente do mal no mundo? O que justificaria o episódio da Queda do casal primordial? A resposta de Agostinho é pela insuficiência do bem, ou seja, a ausência do bem dá origem ao mal.

Assim parece mais correto em sentido mais amplo, a ideia de Espírito da Verdade, da Sabedoria e uma categoria “superior” ao mundo da substancialidade.

 

A vida examinada no amor

24 mar

Podemos examinar que uma vida examinada seja segundo os grandes feitos, nomes que ficaram na história, as recentes revisões mostram que não é bem assim, também tiranos, colonizadores e Pessoas não tão honestas podem ter glórias terrenas, mas passageiras.

A vida examinada segundo Sócrates, e também o pressuposto de Kurosawa em seu filme Viver é sobre aquilo que se construiu por amor aos outros, e isto torna uma vida “bem vivida”, por isto Sócrates vai inspirar a criação da polis grega, uma sociedade a serviço de todos cidadãos, ainda que o conceito de cidadania fosse restrito.

Sempre se pode olhar a volta e perceber algo de bom e justo que se pode fazer, muitos homens fizeram pequenos ou grandes feitos para o bem público sem que tenham recebido qualquer reconhecimento, o velho que morre no parque que ajudou a construir no filme de Kurosawa está feliz mesmo diante da morte.

Chamo a este tipo de clareira de iluminação das consciências, não pode ser feita de aparências e nem de subterfúgios, deve ser feita diante do espelho e da própria consciência, o fenômeno que acredito ser possível, quiçá um dia para toda a humanidade (se é que não é feito na hora da morte), tornaria os homens melhores porque perderiam as máscaras de suas narrativas.

Há dois Lázaros na Bíblia que são infortúnios, o miserável que fica na porta da casa de um rico, que fica a porta a espera de esmola e das sobras, e Lazaro amigo de Jesus, que mesmo sabendo de sua morte só vai visita-lo 4 dias depois e o ressuscita, não o faz por compaixão apenas, também o faz por uma atitude pedagógica, depois do feito alguns judeus acreditaram nele por tamanho feito.

Diz a Leitura de Jo 11, 41-42: “Tiraram então a pedra. Jesus levantou os olhos para o alto e disse: ´pai, eu te dou graças porque me ouviste. Eu sei que sempre me escutas. Mas digo isto por causa do povo que me rodeia, para que creia que tu me enviaste”.

O texto diz que Jesus chorou, assim o amor evangélico não é desprovido de sentimento, como também não é puro sentimento, há uma razão para crer: acreditar que o amor dá dignidade a vida humana.

 

A narrativa eletrônica

02 mar

A rápida evolução da Inteligência Artificial, depois de uma séria crise até o final do milênio, trás no cenário da divulgação científica e às vezes até mesmo na própria investigação científica, tanto um aspecto mistificador que a vê além das possibilidades reais ou aquém do que é capaz.

Por isso apontamos no post anterior a evolução real e sofisticação dos algoritmos de Machine Learning e o crescimento da tecnologia de Deep Learning, esta é a evolução rápida atual, a evolução dos assistentes eletrônicos (já estão no mercado vários deles como o Siri e a Alexa) é ainda limitada e comentamos num post sobre a máquina LaMBDA que teria capacidade “senciente”.

Senciente é diferente de consciência, porque é a capacidade dos seres de perceberem sensações e sentimentos através dos sentidos, isto significaria no caso das máquinas terem algo “subjetivo” (já falamos da limitação do termo e sua diferença da alma), embora elas sejam capazes de narrativas.

Esta narrativa or mais complexa que seja é uma narrativa eletrônica, um algorítmica, com a interação de homem e máquina através de um “deep learning” é possível que ela confunda e até mesmo surpreenda o ser humano com narrativas e elaborações de falas, porem dependerá sempre das narrativas humanas das quais são alimentadas e criam uma narrativa eletrônica.

Cito um exemplo do chatGPT que empolga o discurso mistificador e cria um alarme no discurso tecnófobo e cria especulações até mesmo sobre os limites transumanos da máquina.

Uma lista de filmes considerados extraordinários, exemplifica o limite da narrativa eletrônica, devido a sua alimentação humana, a lista dava os seguintes filmes: “Cidadão Kane” (1941), “O Poderoso Chefão” (1972), “De Volta para o Futuro” (1985), “Casablanca” (1942), “2001: Uma Odisseia no Espaço” (1968), “O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel” (2001), “Um Sonho de Liberdade” (1994), “Psicose” (1960), “Star Wars: Episódio V – O Império Contra-Ataca” (1980) e “Pulp Fiction” (1994).

Nenhuma menção do japonês Akira Kurosawa, do alemão Werner Herzog ou do italiano Frederico Felini, só para citar alguns, sobre ficção não deixaria fora da lista Blade Runner – o caçador de androides, bem conectado as tecnologias do “open AI” ou o histórico Metrópolis (de 1927 do austríaco Fritz Lang).

A narrativa eletrônica tem a limitação daquilo que a alimenta que é a narrativa humana, mesmo sendo feita pelo mais sábio humano, terá limitações contextuais e históricas.

 

O que é inteligência artificial e qual ética é necessária

25 jan

Normalmente IA tem sido caracterizada como “fazer o tipo de coisas que a mente é capaz de fazer” (Boden, 2020, p. 13), porém esta dimensão não tem uma dimensão única e podemos abordar “um espaço estruturado com diferentes habilidades de processar informação” (idem).

O desenvolvimento atual acrescenta “avatares de realidade virtual e os promissores padrões emocionais desenvolvimento para os robôs ‘para o acompanhamento pessoal” (Boden, pg. 14), o que tem sido chamado de assistentes pessoais, como o Siri, o Cortana e modelo de diálogo ChatGTP que é em código aberto e já exige regulamentação especial, por exemplo, a prefeitura de Nova York proibiu o uso nos níveis iniciais de escolarização.

Os chatbots já são conhecidos a algum tempo, porém são bem mais simples, o ChatGPT (Generative pre-Trained Transformer) é uma ferramenta simples e intuitiva, que o usuário usa e treina a partir dos conceitos de IA de Learning Machine, aprendizagem de máquina e portanto cresce em complexidade e capacidade de interação com o usuário na medida que é usado.

A influência em filosofia também é sensível, especialmente nas áreas cognitivas onde são feitas tentativas de explicar a mente humana, neste campo uma recente polêmica foi o fato de um engenheiro da Google afirmar que a plataforma de IA LAMBDA (Language Model for Dialogue Applications), era senciente (que é diferente de consciente), já publicamos um post e não desenvolvemos aqui devido a complexidade do tema.

O tema já teve inicio de discussão na Câmara Federal do Brasil e está para entrar em pauta no Senado Federal, através do projeto de lei PL 20/21, entre outras coisas estabelece um marco legal no desenvolvimento e uso de inteligência Artificial (IA) pelo poder público, empresas, entidades diversas e pessoas físicas, estão sendo ouvidos juristas renomados e especialistas da área.

Outra área preocupante que deve-se ter cuidado é o uso de IA na criação de “vida artificial”, “que desenvolve modelos computacionais das diferentes características de organismos vivos”, nesta área se destacam o desenvolvimento de algoritmos genéticos (AG). (Boden, 2020, p. 15).

BODEN, Margaret A. Inteligência Artificial: uma brevíssima introdução. SP: Ed. UNESP, 2020.

 

 

A redução da transcendência a subjetividade

17 jan

A ideia de um pensamento absolutizante e único persegue a humanidade desde a antiguidade clássico, o Uno vai aparecer em quase todos textos, porem um conceito quase oculto vindo de Sócrates (claro através de “Toda a filosofia é apenas uma nota de rodapé a Platão e Aristóteles” frase de Alfred Whitehead, na verdade poder-se-ia estendê-la a Sócrates, alias o próprio Dalrymple não inclui Aristóteles (veja pg. 67).

Acontece porem que além do problema da tradução, poucos conhecem o grego, e toda tradução é uma traição, porque sabemos que a linguagem é expressão do Ser, e mesmo para a ciência sabemos que não há verdade formal e já postamos usando os textos de Darlymple, que há duas formas de relativismos: o abstrato e o empírico, assim apenas para entrar num novo textos, dependemos do pensamento embora nele também se encontrem dicotomias abstratas, como a da logica formal que vale para a matemática e a empírica que vale para ciências da natureza em geral e com certas restrições para as sociais também.

Assim podemos adentrar o texto de Slavoj Zizek sobre “O ano que pensamos perigosamente”, está falando de 2011 tanto nos diversos movimentos de ocupação (na Europa em Wall Street) e na primavera árabe, que depois os pensamentos absolutizantes trataram de reduzir a equívocos e ironias, porem havia algo novo e incomodo naqueles movimentos, e isto introduz bem o que pensa Zizek.

E sem duvida uma leitura mais a esquerda que Dalrymple, porem o interessante é ambos a busca de caminhos novos, o fato que retornamos ao socialismo bizantino e ao neoliberalismo pré-colonial indica que estamos andando em círculos, e alguns pensadores procuram o novo em meio ao populismo e a polarização.

Primeiro esclarecimento de Zizek importante para evitar leituras de rodapé é uma citação que faz de Hegel: “se a realidade não corresponde ao conceito, pior para a realidade” (Zizek, 2012, p. 10), para dizer que todo o pensamento a esquerda com filiação hegeliana, e isto inclui os marxistas ortodoxos, estão mais presos a teoria do pensam, e embora desejam ser herdeiros somente de Aristóteles que seria mais “realista”, há também em Platão a ideia do mundo sensível separado do mundo das ideias, mas cuidado, o eidos da antiguidade pouco ou nada tem a ver com o idealismo kantiano, numa palavra eidos em grego é imagem.

A divergência entre Platão e Aristóteles está na representação do real: em Platão a extromissão (a imagem projetada para dentro de nós e que converge para o mundo inteligível) enquanto em Aristóteles café a intromissão, onde a ideia provem do “mundo dos fenômenos contingentes” e que emitem copias de si mesmas para nosso interior, e são interpretadas por um saber inato ou adquirido.

Divergindo sobre esta concepção original sobre os princípios kantianos, aponta sua divergência com Frederic Jameson, e afirma que no pensamento de Marx tanto as dimensões objetivas quanto as subjetivas, não admitindo como ideológica as dimensões objetivas, “uma descrição desprovida de qualquer envolvimento subjetivo” (pg. 10), porem ambos não estão sujeitos a nenhuma forma de transcendência, o que Zizek discute com Kant e sobre o que considera “o espaço publico da ´sociedade civil mundial´ designa o paradoxo da singularidade universal, de um sujeito singular que, em uma espécie de curto-circuito, passa ao largo da mediação do particular e participa diretamente do Universal” (pg 11), assim como Kant e Hegel não se desvincula da dicotomia objetividade/subjetividade para chegar a transcendência realmente universal.

A ausência de uma ascese que reduz o homem ao meramente humano, ou para usar uma expressão filosófica “demasiadamente humana” livro de Nietzsche que abandona a transcendência, para tentar depois reencontra-la na filosofia oriental de Zaratrusta, caminho percorrido por muitos filósofos contemporâneos anteriores aos novos tipos de transcendência que já citamos de Theodore Dalrymple.

A analise de 2011 e suas revoltas são importantes para as analises que faz de Hard e Negri “Multidão” e a analise que faz das utopias de 2011 são importantes, senão as únicas, de sonhos adiados, desde a primavera de Praga, as revoltas de Paris, os movimentos dos hippies e de oposição a guerra do Vietnã dos anos de 1968, se as consequências politicas não foram as esperadas elas movimentaram o mundo cultural por anos, e acreditamos também podem movimentar as escassas ideias politicas e teorias universais sobre a paz entre os povos, com as primaveras de 2011, há uma carência de modelos de real emancipação, e o realismo tem a ver com ideias (eidos) e não são apenas opções “práticas” porque elas próprias tem seu ideário teórico, embora raramente examinado, Zizek o faz.

O retorno ao Eidos grego, que são o que produzimos como imagens sejam de dentro para fora (extromissão) ou de fora para dentro (intromissão) é importante para rever o ideário de nosso tempo, onde foi que ele se perdeu ou talvez encontrar o tesouro procurado. 

ZIZEK, Slavoj. O ano que sonhamos perigosamente, trad. Rogerio Bettoni. São Paulo: Boitempo, 2012.

 

A aflição e a salvação

03 set

Ao contrário do que pensa o senso comum, os aflitos não estão entre os desgraçados, mas entre os injustiçados, é preciso então pensar na vida do justo e na sua salvação.

Conforme escrevemos anteriormente: “Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados, bem aventurados os mansos porque possuirão a terra”, e, versículo 9: “bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” e estes são os justos e sofrem afliação.
Mas a ajuda fundamental de Kierkegaard é sobre a questão da identidade, definições enquanto ser-em-si e ser-no-mundo, e, o conceito de eterno que é um lançar-se no “infinito” que é onde está a salvação, ainda que o filósofo não o declare exatamente assim.

Assim é preciso ser que o cálculo que fazemos quando enfrentamos injustiças está entre uma conta que só diante do infinito e das consequencias ela pode ser definida, e como postamos ao contrário a queda se poderia colocar os trechos bíblicos do novo testamento as bem aventuranças em Mt 5,1-12, do versículo 5:“bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus”.

Assim é preciso entender este cálculo quando feito ao se referir ao cálculo da salvação feito em Lc 14,28-30: “Com efeito, qual de vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro e calcula os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar? Caso contrário, ele vai lançar o alicerce e não será capaz de acabar. E todos os que virem isso começarão a caçoar, dizendo: ‘Este homem começou a construir e não foi capaz de acabar!’”.

Esta paz é diferente da “paz perpétua” proposta por Kant e pelo idealismo (veja nosso post), ela resultou em duas guerras e na crença que o estado poderia resolver todos conflitos.

 

Covid 19 e futuros cuidados

29 ago

A Covid 19 deixa algumas lições, uma delas é não subestimar os vírus, elespodem ter uma capacidade de mutação maior que o previsto e pode complicar resultados de imunidade, no campo da política social é preciso que os governos e órgãos administrativos tenham respeito a vida humana e as vezes é preciso sacrificar a eficiência e o desempenho em prol do bem maior.

Os aspectos de vida social ainda há muito a aprender e mesmo os resultados num quase final de covid, ainda estão por ser avaliados: ansiedades, depressões e irritações são aspectos que não devem ser subestimados e precisam ser vistos também como saúde pública.

Postamos a semana passada estudos que indicam uma possibilidade de “evolução” pandêmica para bactérias e fungos, procurei algumas reportagens e estudos a respeito e encontrei que há possibilidade de fato.

No campo das viroses agora há um debate sobre sobre um deficit de imunidade” causado pelo período de isolamento social, em todas faixas etárias, mas de modo especial nas crianças, isto tem favorecido doenças como hepatite e outras viroses de modo mais intenso.

Segundo um estudo francês, no qual um dos coautores é um médico francês François Angouvalnt, o fato de algumas pessoas não terem pego tantas viroses nos meses da pandemia foi um alívio em médio às tragédias de picos da Covid-19, mas deixou os sistemas imunológicos sem treino para enfrentar patologias comuns e criou grupos populacionais mais vulneráveis a alguns vírus e bactérias que normalmente são tratados e resolvidos como casos simples.

O estudo acompanhou algumas evoluções desde 2020 destas doenças e observou a evolução na população de Paris e causou apreensão uma maior vulnerabilidade.

Particularmente no Brasil o número de mortes por covid está em torno de 70 mortes diárias e em queda, enquanto o número de infecções abaixo de 10 mil, tudo indica um fim de pandemia até o final do ano, mas com uma nova onda de frio no sul e sudeste deve-se manter os cuidados.

 

A virtude política, educacional e moral

18 ago

As três fases distintas da polis grega podem ser simplificadas na areté política praticada pelos sofistas e que justificavam apenas a capacidade retórica (algo próximo as narrativas de hoje), a areté educacional, o ideal platônico que significa uma boa relação entre a natureza e a educação, porém aqui nos interessa a areté moral, a superação entre os antagonismos da paixão e a razão.

Cedemos as paixões, assim a política é uma espécie de torcida, as paixões estão todas liberadas e assim não há contraposição a impulsos contraditórios da alma, e estas formas existiam já no período clássico, porém acreditava-se na sua “domesticação” usando um termo de Sloterdijk.

O projeto de domesticação falhou, a constatação de Sloterdijk que é bem anterior a pandemia e a guerra, já se fazia presente e escandalizou os filósofos que logo o refutaram sob acusações graves.

Não há espaço mais para a virtude moral, até mesmo o roubo e a violência verbal e “simbólica” já parecem liberadas, combate-se ao contrário qualquer tentativa de construir uma moral sólida.

Assim não se trata da guerra que é o ápice desta barbárie moral, matar tem justificativas por mais insano que isto pareça, tem torcidas e tem até os fatalistas que dizem que era inevitável, no limite, esperamos que não digam a erosão civilizatória seja também inevitável, afinal defender a vida é o último apelo moral que nos resta e até mesmo ele pareceu em crise com a pandemia.

A moralidade pública, uso dos bens públicos como serviço a comunidade, a moralidade social, uso da empatia e da tolerância como formas de diálogo e relacionamento público, direto a oposição e ao contraditório, são todos princípios morais que parecem estar em recesso.

Quais são de fato as propostas de sociabilidade, de representatividade e de política postas a mesa, apenas a negação de valores morais, o descaso com a coisa pública e uma defesa vaga do que de fato são os bens públicos e os interesses da população mais fragilizada no limite da seguridade.

Os discursos de gabinete estão dissociados da realidade, a demagogia e o populismo são os grandes instrumentos de propaganda política, a seriedade do que é proposto não cede ao mínimo exame da realidade dos fatos, e falar de fake News deve-se dirigir a praticamente todos.

A campanha apenas se inicia e do não-diálogo presente nos discursos só nos restas pensar que a moral sucumbiu ao moralismo mentiroso e ao populismo falacioso.

 

Vaidade e verdadeiros tesouros

29 jul

Para muitos o mundo, a história e até mesmo a felicidade pessoal se desenvolve em torno de riqueza, falsos tesouros e algum reconhecimento público, na verdade, tudo é vaidade e nela se consomem grande parte das energias humanas, sem encontrarem verdadeira alegria, não aquela da euforia, do frenesi ou da catarse, mas aquela do gáudio e da paz interior.
Socialmente significa colaborar para que todo o bem a nossa volta se propague e todos possam estar felicidades não com grandes empreendimentos, festas vultuosas ou mesmo outroas alegrias passageiras, tudo isto é juntar tesouros falsos.
Há uma alegria nas verdadeiras perenes, aquela conforme diz um versículo bíblico “onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam” (Mt 6,19), mas aquelas que existem nos laços entre pessoas boas, como definia Aristóteles para o tipo de amizade verdadeira.
Acumular valores verdadeiros, amizades verdadeiras e bens verdadeiros que não são aqueles que só a riqueza material confere, significa mais que ter uma vida virtuosa, é uma estrada que leva a paz interior e a uma felicidade equilibrada que está além daquilo que passa e por isto tem gosto de eternidade.
Em tempos de guerras, ódios e falsas polarizações (não se tratam de polos entre aquilo que é verdadeiro e falso eternamente, mas sim rivalidades temporais), experimentam apenas o gosto de uma felicidade passageira, narcótica e se uma embriguez passageira e curta.
É melhor cultivar valores e sentimentos que tenham durabilidade, e eles precisam de amor e dedicação com asceses espirituais, do que apegar-se ao passageiro que depois exigirá um tipo de renúncia mais difícil e sofrida justamente porque não tem sabor de eterno.
Homens sábios, santos e grandes filósofos buscaram este tipo de gaudio (uma felicidade mais equilibrada e duradoura) porém é impossível consegui-la com apegos temporais: vaidades, ganâncias, opressões e sentimentos de baixa moralidade porque não podem ter durabilidade justamente pelo que representam: sua limitação em um lapso temporal.
Numa sociedade da performance, do ativismo e da baixa ou pouca capacidade de perceber, viver e contemplar o que realmente é belo e eterno, só os que vão além da vaidade e do prazer temporal, podem alcançar este tipo de gáudio, as jóias preciosas da vida eterna.

 

A amizade e a espiritualidade

22 jul

A filosofia idealista coloca amgio e amizade em uma relaçãofilosófica ideal, Aristoteles no entanto adverte: “o amigo se faz rapidamente, já a amizade [e um fruto que amadurece lentamente”, o mesmo pode-se dizer da espiritualidade, reconhcer que temos uma parte espiritual e que ela é em parte humana, exige um exercício de espiritualidade.
Foi Sloterdijk, um dos grandes pensadores da Alemanha atual, que alertou que vivemos numa “sociedade de exercícios”, porém alerta que ela é desespiritualizada.
A alta espiritualidade antes de atingir o divino, deve passar por etapas anteriores na relação com o Outro, aquele que não é espelho, que não tem os mesmos valores que nós e esta relação pode evoluir ou obstruir, sendo mais difícil quando há uma obstrução manter uma relação de respeito e de cordialidade, pois a amizade e o amor ficam mais distantes.
É possível amar quem a tudo obstrui, sim é possível primeiro manter o respeito, depois separar aquilo que são valores e exercícios reais de espiritualidade e o que é só interesse.
Neste ponto a amizade tem uma relação muito próxima ao espiritual, pode-se dizer que há além da amizade, a reciprocidade, um fluxo contínuo de relação entre pessoas boas, aquilo que Aristóteles definiu como amizade verdadeira, ela só existe entre homens bons (e justos).

Somente com homens bons a sociedade se salva, diz uma curiosa passagem bíblica sobre Sodoma (Gn 18,20-32) na qual Abraão pergunta a Deus se com um número pequeno de homens justos a sociedade se salvaria, e vai reduzindo o número porque sabe que alí há poucos.
Não há sociedade justa sem homens justos, não há amigos sem exercícios de amizade, e só a partir de uma verdadeira reciprocidade uma amizade pode chegar ao nível do espiritual.
Para quem crè diz o versículo bíblico, explica o mestre diante desta questão (Lc 1,5-8): “Se um de vós tiver um amigo e for procurá-lo à meia-noite e lhe disser: ‘Amigo, empresta-me três pães, 6porque um amigo meu chegou de viagem e nada tenho para lhe oferecer’, e se o outro responder lá de dentro: ‘Não me incomodes! Já tranquei a porta, e meus filhos e eu já estamos deitados; não me posso levantar para te dar os pães’; 8eu vos declaro: mesmo que o outro não se levante para dá-los porque é seu amigo, vai levantar-se ao menos por causa da impertinência dele e lhe dará quanto for necessário”.
Se alguém quer atingir a reciprocidade deve dar passos em respeito e amizade primeiro e o nível mais alto de espiritualidade é respeitar e amar os inimigos.