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Quais tecnologias são emergentes ?
Existem diversos métodos de análise das tendências de mercado, bolsas como a Nasdaq e muitos de seus analistas e corretores são um tipo, mas uma altamente referenciada é a chamada curva de Gartner.
Os consultores esta curva Gartner ou HipoCiclo, destina não só a análise de tendências, mas principalmente: “O Ciclo Hype para Tecnologias Emergentes é única a fazer análise entre diversos conjuntos de HipoCiclos, isto porque destila insights de mais de 2.000 tecnologias em um conjunto sucinto de tecnologias emergentes e as tendências que terão o maior impacto sobre o planejamento estratégico de certas organizações”, disse Mike J. Walkerr diretor da empresa de consultoria, conforme noticia no site da empresa neste inicio de ano.
Segundo as análises da Curva de Gartner, um escritório de consultoria para investidores na área, a realidade virtual é a grande tecnologia emergente no ano 2016, realidade aumentada (vide Pokemon) ainda está no fundo do poço do processo de desilusão.
Uma das evidencias da realização da realidade virtual é o uso na construção de imagens 3D na área médica, onde é possível por exemplo, visualizar um feto a partir dos exames pré-natais, o que deixa os pais mais tranquilo com a saúde do bebê.
Curvas entre as tecnologias que são consideras críticas s são consideradas incluem include 4D Printing, Brain-Computer Interface, Human Augmentation, Volumetric Displays, Affective Computing, Connected Home, Nanotube Electronics, Augmented Reality, Virtual Reality e Gesture Control Devices;
Pode-se ler mais no relatório “Hype Cycle for Emerging Technologies, 2016.” e encontrar neles o curva de Gartner para o ano de 2016 chamada de Hype Cycle Special Report for 2016
Dois achados: tecnologia e religião
Devemos ler a história do momento presente para trás, ou seja, no sentido inverso, embora sempre seja importante uma dose de “desantropomorfização”, ou seja, atribuir todo o fundamento dos conceitos estudados unicamente ao homem, sem considerar seu meio em volta, e com isto o uso de tecnologia para seu manuseio.
Isto significa que o homem é o que ele faz com a natureza e com os seus semelhantes a sua volta, a importante relação com o Outro que a filosofia atual enfatiza.
Dando um salto na história, voltando a 7 mil antes de Cristo, encontramos o monumento Stonehenge no centro da Inglaterra, e recentemente (nos anos 90) foi encontrada uma caverna com pinturas datadas de 30 mil antes de Cristo, a Caverna de Chauvet.
Diversos estudos de arqueologia, Stonehenge está mais avançado, apontam dois fatos interessantes: a importância tecnológica, as pedras de Stonehenge foram movimentada pela Inglaterra vindas do Pais de Gales, e o aspecto religioso: sabe-se que aquele circulo é parte de círculos maiores de onde vinham diversos habitantes para algum tipo de rito “religioso”.
A segunda descoberta é mais intrigante, uma verdadeira galeria de arte foi encontrada em Chauvet, mostrando uma técnica já refinada de pintura e aquilo que Werner Herzog chamou de “homo spiritualis”, em seu filme “A Caverna dos sonhos esquecidos”, única filmagem permitida até hoje desta galeria de arte pré-histórica.
É importante saber que tanto os pesquisadores e arqueólogos ingleses que pesquisa Stonehenge (veja nosso post) quanto Werner Herzog que filmou Chauvet não são pessoas religiosas, mas a constatação que havia algo de “espiritual” em ambos os monumentos nos faz pensar.
O homem sempre viveu mergulhado numa esfera espiritual, que Teilhard Chardin chamou de Noosfera e usou tecnologia, portanto o princípio antropomórfico é falso, somos natureza.
Traduzir em coisas simples, pode complicar
As redes são simples, mas qualquer análise mesmo usando conceitos simples como “elos fracos”, “pontes”, “centralidade” e “graus de separação” poderá na medida que o número de atores de uma rede aumenta, aumentar exponencialmente sua complexidade.
Diversos são os raciocínios cotidianos que levam a este pensamento equivocado, a simples ideia que a vida, a sua origem no universo, o que fazemos e o que somos, tem respostas simples leva a um raciocínio simplista equivocado, desde o científico até o religioso.
A ideia que Deus exista ou não por exemplo é complexa, pois seus três elementos estruturantes não são simples: fé que é a crença no que não é evidente (porisso não tão simples), esperança cujo elemento muitas vezes pode chegar ao absurdo que é te-la mesmo em situações de desespero, guerra ou qualquer extrema gravidade; e por último: a caridade (no sentido de amor ágape) que é talvez a coisa mais impossível de se codificar, embora fácil de sentir quanto realmente está na presença dela.
Mas o raciocínio científico é o mais complexo, pois vem de formulas reducionistas como a de Wilhem Ockham, nominalista inglês do século XI que criou a famosa Navalha de Ockham, que se estiver entre duas explicações de determinado objeto, fico com o mais simples, mas fica a pergunta: quem garante que a explicação correta não é a complexa.
O nominalismo foi combatido pelos realistas, e o problema de fundo é saber se existem ou não universais, que são realidades em si, e transcendentes em relação aos particulares, ou seja, as qualidades (Platão enunciou a formula universais ante rem*), ou as propriedades uma vez que são coisas imanentes as qualidades (para Aristóteles: universidade in re**). (* antes do existente), (**universalidade na coisa).
A partir de Duns Scoto, que chamava a navalha de princípio da economia (de raciocínio?) e posteriormente Descartes e Kant, ainda que a obra prima de Kant fosse uma crítica a Descartes: A crítica a razão pura, mas o que está na base desta discursão, é por vezes esquecido, ou negligenciado: a subjetividade, o transcendentes e a fé.
Duns Scoto que está na origem deste pensamento, curiosamente afirma que as verdades da fé não poderiam ser compreendidas pela razão, o contrário que tinha dito Tomás de Aquino, que era realista, e o que Kant deseja ao criticar a “razão pura” é o fato que ela não pode subsistir por si própria, precisa “transcender” até o objeto, cria um subjetivismo próprio ao qual alguma correntes fundamentalista se associarão, Kant era descendente de protestantes puritanos.
Sua tarefa no nível epistemológico era tentar fazer uma síntese entre o racionalismo de Descartes e Leibniz e o empirismo de Hume, Locke e Berkeley, mas ele será especialmente útil ao liberalismo nascente, embora esta ligação seja complexa, pode-se simplifica-la ao gosto do simplismo: separar sujeito e objeto.
Sim não é só isto, mas Hegel finalizará a tarefa do idealismo liberal: construir uma ideia eterna de Estado, organizar a religião de modo conveniente ao “subjetivismo” retirando-a das coisas concretas e objetivas, e finalmente criar uma “Fenomenologia do Espírito”.
Os que desejam fazer desta compreensão uma tarefa reducionista e simplista, lerão a história como aqueles que desejaram escrevê-la o fizeram, separar o subjetivo: religioso, histórico, política e até religioso, da consciência histórica concreta: os fatos, as misérias e corrupções.
A apologia da ignorância, da ausência de um pensamento profundo, servem a quem ? A pós-verdade.
Consciência histórica ausente
Há duas concepções que marcam as ideias sobre a história contemporânea: uma de fundamentação positivista que devemos a Karl Popper, que a empresta erroneamente a Karl Marx, mas também ele escreveu contra o “determinismo histórico” ainda que quisesse fazer de sua teoria um “socialismo científico”, a outra pior, que a coloca como visão positivista e cética, quanto a possíveis mudanças e transformações no interior da consciência histórica, como por exemplo, o fim da história.
Há quem chame tudo isto de “prática” em oposição também incorreta à teoria, pois nada mais teórico que uma má prática e nada mais prático e presente na vida que uma boa teoria.
A importância de repensar a consciência histórica, não instrumentalizada e em profundo diálogo com a humanidade, vem de Hans-Georg Gadamer, ainda que os defensores das correntes “científico-históricas” acima, digam que isto é apenas uma reflexão teórica da história, por isto a prática deles é tão ruim e de pouca fertilidade.
Existe o ser histórico ? nós nos concebemos com este ser? claro quem está disposto a alguma reflexão, a resposta de Gadamer é direta e simples: “Ser histórico quer dizer não se esgotar nunca no saber-se” (Gadamer, 2007, p. 307), assim pode-se ver quanta teoria e vida que não há reflexão histórica.
O que seria este ser no tempo? Tomando emprestada a reflexão de Heidegger da qual Gadamer é também um herdeiro, a resposta é muito simples também: “a tradição é essencialmente conservação e como tal sempre está atuante nas mudanças históricas” (Gadamer, 2007, p. 373), ou seja, somos impelidos a não mudar, ainda que pensemos e desejamos a mudança, hoje quanta coisa para mudar !
Podemos pensar e porque não muda, com tantas tentativas e hoje podemos dizer a quase dois séculos se pensamos na grande crise dos séculos XVII e XVIII, mercantilismo e revolução industrial, com graves consequências em guerras europeias e depois mundiais, mas na raiz desta crise está o pensamento (teoria?), sobre o que pensamos sobre democracia, vida social e concepções de economia.
O sucessivo pensamento autor referenciado de diversas correntes, crenças e teorias é o problema da ‘tradição”, assim descrito por Gadamer: “Na verdade, não é a história que nos pertence, mas somos nós que pertencemos à história” (Gadamer, 2007, p. 367), ou seja, somos frutos de nosso tempo, da maneira “teórica” do pensar e de seus instrumentos.
GADAMER, H-G. Verdade e Método: Traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2007.
Hermenêutica, ontologia e dialogia
A palavra hermenêutica vem do grego hermènêus, hermèneutik ou hermènêia, num sentido dado por Filón de Alexandria como “hermènêia é logos expresso em palavras, manifestação do pensamento pela palavra”, assim está associada ao deus Hermes.
Este deus na mitologia grega era um mediador, patrono da comunicação e do entendimento humano cuja função era tornar inteligível aos homens, a mensagem divina, sendo atribuída tanto a origem da linguagem oral como a da escrita.
A hermenêutica ontológica foi desenvolvida na idade média, estava fundada na ideia que haveriam formas normativas que permitiam a partir de técnicas interpretativas de textos, fazer interpretações únicas, mas desde o início se dividiu em hermenêutica teológica (sacra) e hermenêutica filosófica (profana), e mais recentemente surgiu uma hermenêutica jurídica.
Platão foi o primeiro a utilizá-la, com o objetivo claro de superar o relativismo dos sofistas, mas a compreensão desta como linguagem deve-se ao já citado Filón e Clemente de Alexandria, e mais tarde Agostinho (354-430) desenvolveu-a como “doctrina christiana”, que seja qual for a leitura, é reconhecidamente a mais eficaz do mundo antigo.
Platão (427 a.c) o primeiro a utilizá-la. Filón e Clemente de Alexandria vão entendê-la como a manifestação do pensamento pela linguagem. Agostinho (354-430), que desenvolveu na sua “Doctrina christiana” a teoria hermenêutica reconhecidamente mais eficaz do “mundo antigo”, irá utilizá-la como doutrina da interpretação, em especial, das passagens obscuras da Sagrada Escritura, o método pode ajudar também uma visão universal de usar a linguagem na interpretação de textos filosóficos e até mesmo científicos.
Schleimacher irá emprestar esta leitura, a ideia que deve-se sobretudo em passagens obscuras da Bíblia buscar a “verdade viva” porque, segunda afirma, isto é uma busca de entendimento, ou conforme afirma: “compreender significa, de princípio, entender-se uns com os outros” e que a compreensão é, de princípio, entendimento.
Entendimento e dialogia são correlatos, porque implica que não apenas uma visão interpretativa é válida, mas pode-se pensar em vistas por ângulos ou aspectos distintos de tal forma que a verdade emerge diante de um discurso que não seja fechado, curiosamente aqui pode-se também de chama-lo de hermético e pode estar havendo o diálogo, no sentido que não se eleva o tom, mas não a dialógica no sentido da “fusão de horizontes”, conceito caro a Gadamer.
Entendendo compreensão como um fenômeno, e não como raciocínio lógico-dedutivo, só neste caso pode-se entender como diria Dilthey que “compreender é compreender uma expressão”, diferenciando as relações do mundo espiritual das relações causais no nexo da natureza, como por exemplo: planta-se uma semente que brotará e crescerá uma árvore.
Para Gadamer (1997), há uma fundamentação própria das ciências do espírito, assim o que na hermenêutica de Dilthey mais do que um instrumento, ela pode tornar-se válida como o médium universal da consciência histórica, para a qual não existe nenhum outro conhecimento da verdade do que compreender a expressão e, e isto depende do outro, não da instrumentalização do outro, neste sentido o diálogo pode, em alguns casos não promover a dialogia, compreensão mútua e aceitação mútua.
Nem sol e nem trevas
O que vemos com Trump, o pensamento conservador britânico (BRExit) e francês (eleições este ano com chances até mesmo da extrema direita chegar ao poder), pode no plano econômico significar uma volta ao período das Riquezas das Nações (obra clássica de Adam Smith no ano de 1776), mas há outras análises possíveis e Sloterdijk é uma delas.
Li e tive que paralisar a leitura da Crítica da Razão Cínica pela contundência da obra, mas aos poucos retornei compreendendo que seu principal empreendimento era uma crítica a “falsa consciência esclarecida” da teoria habermasiana, e também vejo-o agora como o melhor dos pós-frankfurtianos, escola pós-marxista nascida nos EUA que influenciou os anos 60, também anos de chumbo não só no Brasil, mas nas manifestações contra as guerras no oriente e em boa parte da Europa, como as manifestações de Paris de 68.
No final dos anos 80 Peter Sloterdijk lançou Crítica da Razão Cínica, duas décadas depois de ir para a Índia estudar filosofia oriental, seguiu de forma atualizada os passos de Schopenhauer (1788-1640) e Niezstche (1844-1900) que fora também para lá, e com obras filosóficas igualmente “pós-iluministas” e críticos do racionalismo moderno.
Agora interesse dos seus leitores estão em seus livros sobre política e globalização em sua trilogia das já está publicado em português Esferas I: Bolhas, obra de 1998; e os próximos lançamentos serão Esferas II: Globos e Esferas III: Espumas de 2004.
Em Neither Sun nor Death (Nem sol nem a morte, mas sem tradução para o português), Sloterdijk responde ao seu compatriota escritor alemão Hans-Jürgen Heinrichs, comentando sobre questões como a mutação tecnológica, desenvolvimento de meios de comunicação, tecnologias de comunicação, questões bastantes presentes em seu percurso intelectual, como a relevante questão antropotécnica.
Neither Sun nor Death é uma boa introdução a teoria filosófica de Sloterdijk sobre a globalização, e uma boa crítica as correntes francesas representadas neo-iluminisas de Giles Deleuze, Paul Virilio e Gabriel Tarde, e também faz conexões com Heidegger e o místico indiano Osho Rajneesh.
Verdade & Método e a lógica indutiva
Conforme já explicamos, o esboço revisado de O problema da Consciência Histórica, após a escrita de Verdade e Método, obra máxima de Hans-Georg Gadamer, é uma boa introdução a esta obra que esclarece muitas questões da filosofia contemporânea: o seu problema que é claro entre outros é sua relação com a mudança social, a questão do método e principalmente o que é verdade, mas terá pontos secundários não menos importantes, tais como o diálogo.
Retomando a tradição humanista fará uma releitura de São Tomás, Santo Agostinho e Vico, e esclarece o principal problema da filosofia de nosso tempo: “se diferencia da clássica tradição da filosofia pelo fato de não representar nenhuma continuação imediata e ininterrupta dessa última.” (Gadamer, 1997, pg. 35).
Critica a instrumentalização do pensamento filosófico no ocidente que fez dele: cujas relações com conceitos tornaram-se “um estranho descomprometimento, quer suas relações com esses conceitos sejam da espécie de uma concepção erudita, para não dizer arcaizante, ou da espécie de uma manipulação técnica, que faz dos conceitos algo como ferramentas.” (pg. 36).
Criticará o que é chamado como ciências do espírito e colocará como transcendente dentro de uma dimensão estética, negando o contexto da lógica de Stuart Mill, que afirma ter uma formulação mais correta no Tratado da Natureza Humana, e todo o equívoco deste conceito.
Cita o autor J.G.Droysen, estudioso da história do helenismo, como uma tentativa importante para uma dar um sentido novo a história: “de que as ciências do espírito deveriam dixar-se fundamentar, da mesma forma, como um grupo independente de ciências.” (pag. 43).
Aponta o logicismo da indução de Stuart Mill, e critica mesmo Scherer e Dilthey ao afirmar que mesmo estes: “continua sendo o modelo das ciências da natureza que orienta a autoconcepção científica de ambos” (pag. 44), é fácil observar as consequências de um modelo que se propõe crítico do modelo romântico, mas acaba retornando-se ao seu próprio núcleo.
Afirma que mesmo Dilthey acabou chegando as constatações que Helmhotz fez, ou seja, que não existe método para as ciências do espírito, e que método aqui: “se as outras condições, sob as quais se encontram as ciências do espírito, não serão, para sua forma de trabalhar, quem sabe muito mais importantes do que a lógica indutiva.” (pag. 45)
Não podemos negá-la afinal Hegel escreveu Fenomenologia do Espírito e mesmo seus críticos procuraram uma método para adequá-la a consciência histórica, esclarece que a resposta que “deram a essa questão não é suficiente … acompanham Kant, por se orientarem pelo conceito da ciência e do conhecimento segundo o modelo das ciências da natureza e procurarem a marcantes singularidade das ciências do espírito no momento artístico (sentimento artístico, indução artística).” (pag. 45)
GADAMER, H.G. Verdade e Método, Petrópolis: Vozes, 1996.
Consciência entre a epistemologia e o método
Sabe-se no senso comum que o que chamamos de interpretação está intimamente ligado ao método e visão de mundo que temos, mas na prática, ficamos no “é minha opinião”.
Gadamer vai mais fundo neste tema, ao colocar que “aquilo que a consciência moderna assume precisamente como ‘consciência histórica´- uma posição reflexiva com relação a tudo que é transmitido pela tradição.” (pag. 18), ou seja, “a consciência histórica já não escuta beatificamente a voz que lhe chega do passado, mas, ao refletir sobre a mesma, recoloca-a no contexto em que ela se originou, a fim de ver o significado e o valor relativos que lhe são próprios” (idem).
E sentencia: “esse comportamento reflexivo diante da tradição chama-se interpretação” (pag. 19), e explica que essa noção de interpretação“ remonta a Nietzsche, segundo o qual todos os enunciados provenientes da razão“ são suscetíveis de interpretação” (pag. 21).
Entretanto retorna a Hegel para esclarecer que “as ciências humanas possuem com as ciências da natureza, vinculo que as distingue precisamente de uma filosofia idealista: as ciências humanas possuem igualmente a pretensão de se constituir como legítimas ciências empíricas, livres de toda intrusão metafísica, e recusam toda construção filosófica da história universal (idem), e aqui entramos na questão do método.
A ideia de adotar métodos científicos das ciências da natureza, impediram que as ciências humanas tivessem procedessem a uma tomada de “consciência radical acerca de si mesmas” (idem), e pergunta ao final do parágrafo: “Porque não antes o conceito antigo, grego, de método deveria prevalecer?” (pag. 21)
Utiliza Aristóteles para explicar a questão de método: “a ideia de um método único, que se possa determinar antes mesmo de investigar a coisa, constitui uma perigosa abstração, é o próprio objeto que deve determinar o método apropriado para investiga-lo” (idem).
A tradução brasileira tem 71 páginas, é de leitura fácil e simples, e considero útil para uma introdução na obra prima de Gadamer “Verdade e Método”.
GADAMER, H.G. O problema da consciência histórica, 3ª. Edição. Rio de Janeiro: FGV, 2006.
Sócrates, a boa vida e a tecnologia
Antes de finalizar o capítulo da educação liberal, Sócrates lembra sua celebre frase: “conhecer-se a si mesmo” e retoma a ideia que “uma vida não examinada não vale a pena ser vivida”, assim que sai o seu interlocutor Peter Pragma para pegar um café e espairecer as ideias.
No tópico 3 do capítulo I: Da tecnologia e das larvas, o amigo que havia saído para tomar um café se deparou com a máquina quebrada e disse que se tornaria um técnico.
Sócrates lembra o caráter imediatista e simplista de escolher uma profissão, e Peter afirma que já não pode aguentar mais interrogatórios, então Sócrates pensa em um modo de mudar a própria metodologia que é a pergunta, “talvez haja um modo” e Peter se anima.
Mas seria ilógico Sócrates abandonar seu método, o que ele faz é chamar uma moça próxima chamada Marigold Measurer (algo como medindo as Margaridas, explica a nota de rodapé da página 42), a moça concorda mas fica intrigada com Sócrates, acha que é um psicólogo.
Mas Sócrates diz, bem a gosto de uma filosofia mais contemporânea, que é uma “espécie de conscienciólogo … sou um filósofo”, Marigold pergunta se é o departamento dele, o que refuta prontamente, seria contraditório ter um departamento de filosofia, já que filosofia não é um departamento.
A conversa de desenrola com Marigold mantendo certo segredo de seu trabalho, mas reafirmando que os trabalhos hoje tem certa “hierarquia” e questiona o lugar da filosofia, e finalmente Marigold diz que trabalha com engenharia genética.
Sócrates então questiona o papel da tecnologia de subordinar a natureza e sugere que sejamos apenas “amigos” dela, pergunta “porque gostaria de conquistar sua mãe? Só conquistamos nossos inimigos”, está na página 45.
Questionada se não teria medo de “perder o controle” do seu trabalho, Marigold afirma que seu trabalho é sério, ao que Sócrates pergunta se um produtor de vinhos seja sóbrio, “seria correto que ele fornecesse seu produto a um alcoólatra ?” finaliza na página 46.
O diálogo sobre a tecnologia ainda continua, mas podemos ficar com a pergunta de Sócrates.
KREEFT, P. As melhores coisas da vida. Campinas: Ecclesiae, 2016.
Melhores coisas da vida e a prática
Continuamos a leitura de Peter Kreeft, no suposto diálogo de Sócrates com Peter Pragma, agora estão conversando sobre profissões, e Peter diz:
“PETER: Bem, é isso que eu escolheria: ciências práticas, não teóricas. Tecnologia
SÓCRATES: Certo. Até agora mencionamos três áreas de estudo para você: negócios, ciências práticas, ou tecnologia, e artes liberais. Você vê o que cada uma delas pode lhe dar?
PETER: Claro. Negócios: trará dinheiro, tecnologia poder, e artes liberais dor.
Continuam o diálogo e mais adiante diz Sócrates:
SÓCRATES: E quais são os fins para os quais o poder e a tecnologia são meios?
PETER: Fazer do mundo um lugar melhor para se viver. Carros, foguetes, pontes, órgãos artificiais e Pac-Man.
SÓCRATES: Então, a tecnologia melhora as coisas materiais do mundo.
PETER: Sim, inclusive nossos próprios corpos. Isso é bastante importante, você não acha?
SÓCRATES: Oh sim. Mas eu me pergunto se não deve haver algo ainda mais importante para nós. Se nós pudéssemos melhorar nossas próprias vidas, nossas próprias ações, nosso próprio comportamento … “ (Kreeft, 2016, p. 34)
Não é conclusivo, mas o raciocínio se completa de certa forma na página 35, onde Sócrates diz sobre o bom e o bem:
SÓCRATES: Bem, não necessariamente “melhor” num sentido absoluto e ilimitado, sobretudo se usamos “bom” e “bem sem defini-los. … “ e continua, mas Peter refuta:
PETER: Política e ética? Impossível. Eu quero algo prático.
Voltaremos então a questão da tecnologia no próximo tópico.
KREEFT, P. As melhores coisas da vida. Campinas: Ecclesiae, 2016.