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Não é uma crise só do pensamento
A crise pode parecer algo intelectual demais, o pensamento estaria distante da realidade concreta da ciência, e assim da vida comum, porém sua extensão atinge a ciência cotidiana da estatística à medicina, da bibliometria à biologia e isto pode afetar a confiança na ciência e no campo espiritual há uma abertura imensa ao charlatanismo e a manipulação da boa fé.
Essa crítica questionou, por exemplo, a dicotomia fatos-valores, enfatizando a construção social dos fatos, e pode ser rastreada voltando às obras de filósofos como Friedrich Nietzsche e Edmund Husserl, com sua rejeição à ciência como substituto metafísica. Stephen Toulmin foi bastante articulado em sua crítica à ideia cartesiana de racionalidade (2001), enquanto a essência do método científico tem sido objeto de escritos (e disputas) de autores como Karl Popper, Thomas Kuhn, Paul Feyerabend e Imre Lakatos.
A essência do método científico tem sido objeto de escritos (e disputas) de autores como Karl Popper, Thomas Kuhn, Paul Feyerabend e Imre Lakatos, o eco destas disputas chegam ao mundo da física como o debate sobre a teorias das cordas e sua realidade física.
Uma literatura interessante sobre a crise atual foi o trabalho de Derek de Solla Price “Little Science, Big Science” de 1963, ele afirma que há um ponto de saturação e senilidade, que foi resultado do próprio crescimento exponencial que experimentou no século XX.
Outro trabalho mais também interessante é o livro de Jerome Ravetz “Conhecimento científico e seus problemas sociais”, que oferece uma crítica aos mitos da objetividade (é nosso principal objeto deste blog), e que se pergunta sobre a solução de problemas práticos, ou seja, sociais.
Em um trabalho recente ele argumentou recentemente Ravetz (2016) que “Aplicar uma metodologia” científica” às tarefas de governança da ciência leva diretamente à corrupção, pois qualquer sistema pode estar em jogo “, em outro artigo, Ravetz (2011) define a questão em termos do “amadurecimento das contradições estruturais da sociedade europeia moderna”.
A pandemia mostrou a ineficiência tanto da área médica onde “especialistas” defendem medicamentos que não tem eficácia comprovado e geram problemas colaterais, como a hidroxicloroquina e outros (segundo o caderno Saúde da veja são testados 69 medicamentos: 18 são anticâncer, 14 imunossupressores, 13 anti-hipertensivos, 12 antiparasitários e 12 anti-inflamatórios) e também o tratamento estatístico escondem os verdadeiros resultados, como são as análises da evolução da pandemia no Brasil.
Referências:
DE SOLLA PRICE, D. J. Little science big science. Columbia University Press, 1963.
RAVETZ, J. R. Scientific knowledge and its social problems. Oxford University Press, 1971.
RAVETZ, J. Faith and reason in the mathematics of the credit crunch. The Oxford Magazine. Eight Week, Michaelmas term 14–16, Disponível em: http://www. pantaneto.co.uk/issue35/ravetz.htm, 2008, Acesso: 2020.
RAVETZ, J. R. Postnormal Science and the maturing of the structural contradictions of modern European science. Futures, 43, 142–148, 2011.
RAVETZ, J. R. How should we treat science’s growing pains? The Guardian 8 June 2016.
TOULMIN, S. Os usos do argumento. Trad. Reinaldo Guarany. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
O desenvolvimento da ciência e a crise epistêmica
Diversas ideias e notícias se espalham entre os povos e se tornam dogmas e lendas desde a origem da humanidade, porém foi a organização do conhecimento que organizou a episteme, o mundo da doxa, a mera opinião continuou.
A primeira grande questão cientifica levantada por Boécio no século VII, era se existem ou não categorias universais ou apenas particulares, esta questão deu origem a uma disputa entre nominalistas como Duns Scotto e William Ockham que defendiam que os “nomes” eram universais, e realistas como Tomás de Aquino, que diziam o real sê=lo.
Roger Bacon (1220-1292) defendeu a experimentação como fonte de conhecimento, e junto a Duns Scotto e William de Ockham criam a base empirista do pensamento, e assim o conhecimento não depende apenas da fé, mas também os nossos sentidos.
Com sua operação filosófica denominada “dúvida metódica”, René Descartes acabou instituindo um paradigma filosófico que foi identificado como pragmatismo conceitual, e John Locke, representante da corrente empirista, e René Descartes, fundador do método cartesiano, convergiam em suas teorias ao afirmarem que o conhecimento válido provém da experiência e dos sentidos, pois são inatos à alma.
O idealismo de Kant vai criar 12 categorias separados em 4 grupos, o da Quantidade (Unidade, Pluralidade e totalidade), a Qualidade (Realidade, Negação e Limitação), a relação (Substância, Causalidade e Comunidade), a Modalidade (Possibilidade, Existência e Necessidade), e nelas os fenômenos preenchem as formas vazias.
Assim os fenômenos só podem ser pensados dentro das categorias, diferentemente da fenomenologia que dirige a consciência a coisa em si, ou seja, retorna-se aos entes, e isto abrirá uma nova possibilidade para a metafísica.
Apesar de fortes sinais de uma crise no pensamento, a matemática se modifica com o surgimento das geometrias não euclidianas, a quarta dimensão, a física com o princípio da incerteza de onde vieram a teoria da relatividade e a física quântica, os paradoxos lógicos apresentados no Círculo de Viena e principalmente uma crise no pensamento humanista, mostraram um início de século XX em crise, mas não evitou-se duas guerras e a guerra fria.
A queda do muro de Berlim um aparente fim da luta ideológica deu origem a novas crises agora no mundo da cultura, a guerra do Irã, do Afeganistão e a permanente em muitos países árabes mostraram agora uma tensão oriente x ocidente.
A pandemia deveria solidarizar os povos, na verdade criou uma polarização ideológica mais grave, o perigo de regimes totalitários emergirem com maior força, é preciso ter esperança e lutar por um mundo mais solidário e um humanismo digno do nome.
Além do idealismo, novas lógicas e pandemia
A simplificação de Kant levou a formulações abstratas tão complicadas que seria impróprio chamá-las de complexas já que ele pretendia a simplificação, porém a tentativa de reduzir 12 categorias e 3 três ideias centrais: a psicológica (alma), a cosmológica (o mundo como totalidade) e a teológica (de Deus).
Isto irá produzir um construto engenhoso, racional mas muito complicado que são os três juízos que ligariam Sujeitos (A) a predicados (B), os juízos: analíticos, sintéticos a priori e a posteriori, a ideia de juízos a priori foi a mais polêmica, porque vê a mente como tendo uma memória nata.
Edmund Husserl e Gottlob Frége que tinham forte formação lógica aritmética se debruçaram sobre este tema kantiano imaginando que a lógica não podia ser reformulada a partir da ação, isto é, não mudamos nossa mente porque nossa maneira de agir se modifica, nisto se baseia todos os que ao verem a mudança na lógica da vida cotidiana provocada pela pandemia, imaginam que a mente e a lógica da vida não mudarão.
O afastamento de Husserl da lógica Matemática para o mundo das experiências, sob forte influência de Franz Brentano que trabalhava a intencionalidade (veja o post anterior o outro eidos), o fez formular um novo mundo das experiências, desde as emoções humanas até a total vida do mundo (Lebenswelt).
Enquanto as Investigações Lógicas datam de 1900 e 1901, a sua ideia de intencionalidade formulada em sua fenomenologia como a volta às coisas mesmas, ou como elas se apresentam a consciência através da redução fenomenológica, o seu epoché, que é o de colocar nossos conceitos e pensamentos entre parênteses, uma discordância clara do cogito cartesiano.
No seu retorno ao eidos grego, promoverá a variação eidética, que pode ser explicada como a partir do epoché fenomenológico (colocar entre parêntesis conceitos) produz uma variação eidética sobre a ideia que tínhamos da coisa (conceitos, pensamentos ou objetos) e ela pode produzir ao final novos “horizontes”, categoria fundamental para o diálogo sobre o novo.
Nosso fenômeno pandêmico produziu um epoché, um novo olhar sobre uma virose mortal, tivemos que produzir uma variação eidética, o que pensamos dessa “gripezinha”, e isto deverá produzir novos “horizontes” sobre os conceitos de como viver o dia a dia: atitudes sanitárias, solidariedade econômica e reformulação total da vida em família: espaços, tempo, alimentação e relações e uso da tecnologia.
Os idealistas continuam a imaginar que tudo voltará a ser como antes, não fizeram o epoché, vivem da “lógica”.
A ordem do Universo
Na antiguidade clássica o modelo que predominou foi o Ptolomaico, que superou o modelo de Aristóteles (384-322 a.C.) que pensava que a Terra era o centro do universo, claro além de outros modelos que considerava a terra plana a Terra presa a uma “casca esférica” e outros.
Foram surgindo outras ideias, a sério porém o modelo de Claudio Ptolomeu (85-150) prevaleceu, até surgiu no final da idade média o modelo de Nicolau Copérnico (1473-1543), mas ainda era o Sol como centro do Universo, o importante aqui é a “ordem” matemática e geométrica que estabeleceu, que influenciou toda a ciência moderna.
O nosso limite como galáxia foi proposto na antiguidade por Demócrito de Abdera (450-370 a.C.), vendo a baixa brilhante no céu noturno, afirmou que ela consistia em estrelas distantes.
Foi só no século X, que o astrônomo persa conhecido como Azophi (Abd al-Rahman al—Sufi), que observou a Galáxia de Andrômeda, descrevendo-a como uma “pequena núvem” e foi redescoberta por Simon Marius em 1612, e em 1610 Galileu Galilei a confirmação que a Via Láctea era composta de várias estrelas.
O modelo da Via Láctea foi estabelecido por William Hershel em 1785 (desenho acima) e até a descoberta da expansão do universo, este era composto por galáxias e estas por estrelas e planetas.
Os modelos cosmológicos atuais vieram a partir da hipótese, hoje praticamente confirmada do clérigo Georges Lamaître (1854-1966), demonstrada por Edwin Hubble (1889-1953) e teorizada e completa pelo físico inglês Stephen Hawking (1942-2018) e seu aluno Roger Penrose (1931-).
Foi a partir do estudo de flutuações de densidade (ou irregularidades anisotrópicas da “matéria”(, que analisando as estruturas maiores começaram a se desenvolver, o resultado é o que chama-se de matéria bariônica que se condensam dentro de halos de matéria escura fria, e estas são as que formaram as galáxias como vemos hoje, porém a matéria e energia escura ainda são estudos.
O que queremos estabelecer aqui é como nossa visão de mundo e de matéria tem implicações também na visão dos estudos da vida, e no caso presente, das estruturas de viroses e pequenos organismos que podem ajudar a ciência a encontrar soluções para epidemias e pandemias.
Em estudo que estamos fazendo sobre publicações em Redes Sociais, o cientista como maior número de publicações na área de Redes é Carl A. Latkin, médico infectologista e que é membro do Centro para Medicina Global, o que não é mero acaso, nossa visão de mundo e de complexidade mudou e ela pode nos ajudar no combate a pandemia.