RSS
 

Arquivo para a ‘Tecnologia’ Categoria

O vírus em queda, como novas preocupações

01 nov

O número de casos na Rússia que se manteve em alta, novos casos surgindo na China atribuídos a variante Delta, segundo dados da própria comissão Nacional de Saúde do país, acusavam 32 casos na Mongólia interior, no norte do país e que já se espalhou por 11 províncias, foram confirmados casos nas províncias de Guizhou no Sul, Shandong no Leste e em Gansu próxima da Mongólia Interior, três casos em Pequim e dois em Yinshou, na região autônoma Ningxia Hui.

No Brasil a média móvel das mortes segue em queda, agora na faixa de 260 mortes, com 75% já tendo tomado a primeira dose, e 55% as doses necessárias, pode-se prever um Natal e um fim de ano mais brando da Pandemia no país, muitos eventos coletivos já estão liberados, jogos com 100% da torcida e festas e shows públicos.

A preocupação agora se volta para os problemas sociais decorrentes da pandemia, desemprego, empobrecimento e alta nos preços.  Mesmo que venham alguns socorros sociais, eles serão insuficientes para conter o alargamento da crise.

O fechamento de escritórios nos centros, o uso obrigatório de máscaras e as restrições impostas a restaurantes transformaram as paisagens em cidades de todo o mundo, e provavelmente deverão se manter a longo prazo, como repensar o espaço urbano, o que fazer com prédios de escritórios, loja e restaurantes fechados nos centros das cidades, as smarts cities apontavam caminhos com uma tendência, aparentemente só eletrônica, agora ela parece inevitável, em Singapura até mesmo o policiamento é feito por robôs (foto).

Os imensos espaços vazios devem ser preservados e cuidados, sem robôs o custo fica elevado para pouca população, então em muitas cidades ou ficarão centros abandonados ou deverão desenvolver formas de manutenção e policiamento mais informatizadas, além das câmeras já existentes.

É provável que um número razoável de pessoas volte a rotina de aglomerações em grandes centros, mas há uma tendência de ir para cidades menores ou sair dos centros urbanos e trabalhar home office.

 

A noite da cultura e o humanismo

19 out

Edgar Morin considera a cultura contemporânea algo mais amplo do que é considerado e foi teorizado como cultura de massa, para ele ela ultrapassa a cultura da mídia, esta sim em plena decadência, apesar de reações do mundo da arte em alguns segmentos, em geral trata a morte, o escuro e o desprezo aos símbolos, valores, mitos e imagens relacionados a vida cotidiana e ao imaginário coletivo, porém as culturas regionais, religiosas e humanistas persistem em ato de resistência.

O processo industrial e o êxito da performance e dos valores produtivistas escondem o que se processa no espírito, algo que Morin chama de “industrialização do espírito”, esta segunda colonização não se processa no sentido horizontal conquistando territórios, mas vertical penetrando na alma humana e obscurecendo-a.

A Industria cultural pôs em movimento uma terceira cultura (além da clássica e do natural, chamaria de originária), porém há uma resistência humana que vem da cultura originária de cada povo e de cada cultura específica, mas a ideia de colonizar está viva.

As realidades multiculturais presentes na cultura de massa não são autônomas, por isto a ideia é demolir (ou apagar) as instituições que podem fazer resistência a esta nova “colonização”, e a resistência só pode surgir a partir das culturas dos povos, de seu desenvolvimento originário cultura e de suas religiões e crenças.

Embora se possa fazer uma crítica da cultura midiática atual, as redes sociais são uma laços entre atores que podem ser feitos através delas, ela não encontra uma sociedade destituída de cultura para ser onipresente, nela estão os valores e símbolos sociais, as crenças e ideologias, e nelas os fatores transcendentais continuam impregnados, não é uma cultura a parte.

Na visão de Morin a cultura de massa integra e se desintegra ao mesmo temo numa realidade policultural, faz conter, controlar, censurar (também em muitos casos pelo estado e pelas igrejas) tendendo a corroer e desagregar as outras culturas.

Trata-se agora de uma cultura cosmopolita e planetária, e ela se constituirá na primeira cultura realmente universal na história da humanidade, enquanto o pensamento conservador considera-a um barbarismo plebeu, a crítica de esquerda a considera como um ópio do povo e mistificação deliberada, e assim a única perspectiva parece ser a autoritária.

Na autoritária o estado deve controlar a produção e distribuição dos “bens culturais”, enquanto no caso democrático os grandes grupos culturais devem ditar a mídia controlando a produção e distribuição de conteúdo, aqui a mídia digital está presente.

Ambas as correntes concordam na crítica à cultura de massa classificando-a como produto cultural pobre, de baixa qualidade estética e sem originalidade (kitsch).

A grande solução apontada por Morin está na estrutura do imaginário: o uso de arquétipos que ordenam os sonhos, sem a padronização de temas míticos e romanescos, a arte é uma grande reação neste campo, a indústria cultural se reduziu a arquétipos e estereótipos, quem está fora destes não tem “inserção” cultural, e a prisão dela são produtos individualizados.

Não se trata de aceitação da diversidade, mas incremento do consumo, assim como fez com a cultura pop dos anos 60, os filmes, programas de rádio ou TV (agora as lives e histories) visam unicamente maximizar o lucro e o público (os likes e fanpages).

Em termos religiosos, o sincretismo é a palavra mais apta para traduzir a tendência de homogeneizar a cultura e ditar valores e a comicidade empregada a estes temas faz o papel de destruição de sua essência e originalidade, tudo fica parecido ou igual.

Conteúdos infantis de cultura são invadidos por temas de consumo de adultos: são apresentados numa simplificação que os toma (aos espectadores adultos também) como crianças.

Até o lazer não é apenas um modo de permitir um equilíbrio da vida, mas é invadido pela cultura de massa, os chamados “resorts”, as praias e locais de lazer são invadidos pela “indústria cultural”, tudo ao alcance da mão, bastando um aplicativo.

Esta crise não é temporária nem passageira, pode emergir dela uma grande crise civilizatória, mas é preciso ter esperança apesar da cegueira pública.

MORIN, Edgar. Cultura de massas do século XX. trad. Maura Ribeiro Sardinha. 9ª. edição. Rio de Janeiro, Forense, 1997.

 

O fim dos seres e das máquinas

23 set

Edgar Morin diz que “estamos pois na pré-história da finalidade”, usando o discurso hegeliano dirá “todo o ´si´ torna-se já quase um parasi” (Morin, 1977, p. 242), e assim a máquina viva (para diferenciar das artificias) desde as células molecadas, até os organismos vivos mais complexos “são quase especializados em função das refas quase programadas que visam realizar fins, e todos estes fins se unem no fim global: viver” (idem).

Pode-se dizer então, expressão do autor, que “este ser vivo que se autofinaliza é o produto é o produto finalizado do acto reprodutor que o originou” (ibidem), e “remontando” isto até a origem da vida, fica a pergunta “como é que a finalidade nasce da não finalidade?” (MORIN, 1977, P. 243).

Vai perguntar então que tipo de “informação” capaz de reproduzir e controlar proteínas com as quais não estavam ainda associadas? A idéia de informação, e portanto de programa, e portanto de finalidade, não podem ser anteriores à constituição dum primeiro anelamento protocelular” (idem), vai concluir a partir daí que deve-se afastar “a ideia de processo finalitário antes do aparecimento da vida”, talvez aqui separamos máquinas artificiais dos seres vivos, seu início.

Dirá de modo categórico e essencial que “a finalidade biológica, e evidentemente antropossociológica, está mergulhada num processo recorrente de geração-de-si de que faz parte. É o rosto emerso e informacional desta geração-de-si” (ibidem), para aqueles que creem, digo que este é o que penso ser “imagem e semelhança de Deus”, estar num processo originário vital.

As máquinas vivas e as artificiais terão em comum, segundo o autor, “finalidades das origens da vida repercute-se e reflecte-se nos fins globais das máquinas vivas, e até das máquinas artificiais” (MORIN, 1977, p. 243).

Diferenciará mais a frente a máquina artificial da viva, citando Paul Valéry: “Artificial quer dizer que tende para um fim definido e, por isso, se opõe ao vivo”, assim por exemplo, o fim “duma fabricar é fabricar carros, cujo fim é a deslocação, a qual serve para actividades construtivas da vida do indivíduo na sociedade e da sociedade no indivíduo” (Morin, 1977, p. 244).

Assim enquanto a máquina tem uma finalidade extrínseca da vida, e esta finalidade deveria ter o fim intrínseco da vida biológica, estes “fins complementares podem tornar-se concorrentes e antagônicos, como acontece com os fins da existência individual e a reprodução…” (Morin, 1977, p. 245), se tornarem-se antagônicos podem conduzir da exclusão de uma finalidade pela outra.

E assim, conclui este tópico Edgar Morin> “no Homo sapiens, os prazeres gastronômicos e os gozos eróticos tornam-se fins em detrimento das finalidades alimentares e reprodutoras; o conhecimento, meio para sobreviver num ambiente, torna-se, no pensante tornado pensador, à qual subordina a sua própria existência” (MORIN, 1977, pags. 245-246).

Assim as finalidades deslocam-se, degeneram e tornam-se incertas, como o futuro da civilização.

MORIN, E. A natureza da NATUREZA. Lisboa PUBLICAÇÕES EUROPA-AMÉRICA, LDA., 1977.

 

É inefável que existe e a metáfora.

22 jul

Muitos fenômenos da natureza e de modo mais amplo do universo embora possam ter explicações, são inefáveis, ou seja, porque mesmo que descrito tem limitações por sua complexidade e não obviedade.

Um destes fenômenos é o tunelamento quântico da mecânica quântica (figura ao lado) no qual as partículas transpõe estados de energia que “logicamente” seriam proibidos, elas escapam de regiões cercadas por barreiras potenciais mesmo tendo energia cinética menor que a barreira.

Einstein, Podolski e Rosen escreveram um artigo (EPR) na década de 20 chamando este efeito de “fantasmagórico” porém na década de 70 ele ficou provado e rompe também com o pensamento clássico que existe A e não-A, não podendo haver terceira hipótese, ela existe e está provada, ao menos na física.

O inefável na vida cotidiana são fenômenos humanos que transpõe a barreira do imaginário e se realizam fisicamente, são mistérios e eles existem não apenas para demonstrar truques que sejam convincentes para divinizar este ou aquele grupo, ou para fazer uma “mágica”, isto é o campo dos charlatães, mas para uma consciência fenomenológica clara de algo além do humano.

Uma das funções da metáfora é poder descrever este fenômeno sem recorrer a uma lógica muito complexa para o senso comum, e permitir que muitas pessoas possam entender estes mistérios.

A figura da parábola entre neste aspecto, com uma pequena diferença da metáfora por usar exemplos do cotidiano e do senso comum, ela é pedagógica ao explicar como o mistério da vida (e também da morte) pode ser visto de modo a entender o destino da humanidade e o que é a vida.

Longe de explicar sua origem no sentido físico, o Gênesis por exemplo, recorre a Adão e Eva, o fato que o homem veio de algum aspecto complexo da natureza é explicado como sendo feito do barro, a metáfora é que o homem veio de compostos orgânicos da natureza, e claro, depois Deus soprou-lhe as narinas e deu “vida” no sentido espiritual, não é difícil entender que esta vida existe.

 

É hora de mudarmos de via

11 fev

Não é proposta minha, mas o nome do último livro de Edgar Morin (Ed. Bertrand do Brasil, 2020), o quase centenário filósofo francês mostra as lições do coronavírus que resistimos em aprender, também é muito parecido ao nome do livro de Peter Sloterdijk: Tens de mudar de vida (editora Relógio d´Água, 2018), este bem antes do coronavírus.

Antes de passar a algumas lições de Morin, quero dizer que TODOS precisamos mudar de vida, o planeta se esgotou, as palavras se esgotaram, a política polarizadora nos esgota, e infelizmente as palavras adocicadas como “fraternidade”, “solidariedade”, “compaixão” e tantas outras parecem só uma vontade de alguns que os outros mudem, sem, contudo, que cada um mude primeiro a si.

O preâmbulo é uma retrospectiva histórica desde a gripe espanhola até maio de 68 e a crise ecológica atual, as lições do coronavírus no capítulo 1 comento-as no final.

Começo pelo fim para afirmar que Morin que também compartilha de valores de fraternidade, de uma cidadania planetária, da superação de desigualdades etc., tem em seu livro ama proposta bem clara, depois de demonstrar que a crise é anterior ao coronavírus que só a agravou, na página 4 sentencia “… são duas as exigências inseparáveis para a renovação política: sair do neoliberalismo, reformar o Estado” (pag. 46), que vai dar os meios no capítulo 3.

Este é na verdade seu segundo ponto do cap. 2 Desafios pós-corona, o desafio da crise política, dos nove desafios que aponta nas crises atuais: o desafio existencial, apontado também na Encíclica Fratelli Tutti do Papa Francisco, os desafios das crises: da globalização, da democracia, do digital, da proteção ecológica, da crise econômica, das incertezas e o perigo de um grande retrocesso (pags. 44 a 53).

As 15 lições do coronavírus: sobre a nossa existência, o isolamento mostra-nos como vivem aqueles que não “tiveram acesso ao supérfluo e ao frívolo e merecem atingir o estágio em que se tem o supérfluo” (pag. 23), sobre a condição humana lembra o relatório Meadows, que apontava para os limites do crescimento, a lição sobre a incerteza de nossa vida, a lição de nossa relação com a morte, a lição sobre a nossa civilização (a vida voltada para fora, sem vida interior, a vida dos shoppings e happy hours), o despertar da solidariedade, a desigualdade e o isolamento social, a diversidade de situações e de gestão da epidemia, a natureza de uma crise, as 9 lições iniciais.

A lição sobre a ciência e a medicina, será que entendemos “que a ciência não é um repertório de verdades absolutas (diferentemente da religião” (pag. 33), a crise da inteligência, que ele divide sabiamente em “complexidades invisíveis” o modo de conhecimento “das realidades humanas (taxa de crescimento, PIB, pesquisas de opinião, etc.” (pag. 35), o ponto 2. é a ecologia da ação, alerta que a ação pode “percorrer o sentido contrário ao esperado e voltar como um bumerangue para a cabeça de quem a decidiu” (pag. 35), quantas ações e discursos caíram nesta vala.

A decima segunda lição é a ineficiência do estado, que além da política neoliberal cede “a pressões e interesses que paralisam todas as reformas” (pag. 38), enquanto a polarização se aprofunda.

A decima terceira lição é a deslocalização e dependência nacional, e lamenta “que o problema nacional seja tão mal formulado e sempre reduzido à oposição entre soberania e globalização” (pag. 39), note-se pelos discursos que polarizam e não saem deste círculo vicioso.

A décima quarta lição é a crise da Europa, lembro do livro de Sloterdijk “Se a Europa despertasse”, e Morin abre a ferida: “sobre o choque da epidemia, a União Europeia partiu-se em fragmentos nacionais” (pag. 40).

A  décima quinta lição é o planeta em crise, cita o prof. Thomas Michiels, biólogo e especialistas na transmissão de vírus: “Não há duvida de que a globalização tem efeito sobre as epidemias e favorece a propagação do vírus. Quando se observa a evolução as epidemias do passado, há exemplos notórios em que se nota que as epidemias seguem ferrovias e deslocamentos humanos. Não resta dúvida, a circulação dos indivíduos agrava a epidemia” (pag. 41).

MORIN, E. É hora de mudarmos de via: lições do coronavírus, trad. Ivone Castilho Benedetti, colaboração Sabah Abouessalam. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 2020.

 

O problema da água e do saneamento

19 nov

Embora o planeta tenha água em abundância o problema da água não é desprezível e o que afeta diretamente o planeta, em especial os pobres e os que vivem em regiões sem saneamento básico, é o problema da água potável, e nele está o grave problema da contaminação por atividades agrícolas.

Assim é preciso junto ao inadiável problema da gestão sustentável da água, pensar um desenvolvimento sustentável em três dimensões: social, econômica e ambiental, mesmo aqueles que afirmam política públicas para isto não aceitam a redução de atividades econômicas rentáveis e poluentes.

Os estudos apontam que as causas maiores, cerca de 70% são devido ao mal uso do solo na agricultura (defensivos agrícolas, assoreamento de rios, monocultura intensiva, etc.), depois vem a poluição da indústria 20%, o uso doméstico 7% e as perdas 3% (veja a figura acima).

Por que foi da biologia e dos ecossistemas que vieram as ideias da complexidade, é este o setor mais sensível a pequenas atitudes que podem e devem mudar o planeta no futuro, recolher o lixo poluente, fazer coleta seletiva e até mesmo reaproveitar agua de chuva e usar energia solar são atitudes que podemos tomar individualmente e serão benéficas como um todo, vejam que a complexidade podem envolver ideias simples de serem praticadas.

A educação das novas gerações devem assim ser responsabilidade de todos, do poder público, das escolas e das famílias, pequenos hábitos inseridos no dia a dia podem transformar em escala um número enorme de situações, efeito conhecido na complexidade como “efeito borboleta”, a batida da asa da borboleta podem influenciar o clima, e o desmatamento e descaso com a natureza tem efeito negativo no clima.

As pesquisas em planetas onde pode haver vida tem como primeiro item a presença de água, e providenciar água potável é então a primeira atitude em defesa da vida.

 

A felicidade em Tomás de Aquino

28 out

Para analisar a beatitude, que já esclarecemos que é também um tema da Grécia antiga para a felicidade, Tomás de Aquino aprendeu com o filósofo grego a distinguir entre duas formas diferentes de felicidade: as riquezas naturais que são aquelas pelas quais o homem é ajudado a compensar as deficiências naturais como a comida, a bebida, as vestes, a habitação, etc., e as artificiais aquela não auxiliam a natureza mas a submetem, como o dinheiro, mas a arte humana inventou para facilitar as trocas, para que fossem como medidas para coisas veniais, e influenciado por Boécio vai questionar se a riqueza é de fato a que dá posso a todos bens:

“A bem-aventurança é o estado perfeito da junção de todos os bens’. Ora, parece que pelo dinheiro poderão se adquirir todas as coisas, porque o Filósofo, no livro V da Ética, o dinheiro se inventou para ser a fiança de tudo aquilo que o homem quisesse possuir. Logo, a bem-aventurança consiste nas riquezas” (Tomás de Aquino, Suma teológica. Parte III).

Mesmo com a posse de uma ideia mais ampla de riqueza, a riqueza natural que Aristóteles previu, e a riqueza artificial também, em nenhuma delas o Aquinate vai reconhecer como fonte de felicidade, pelo fato que não tem um fim em si mesma, e as pessoas que as possuem tornam-na o fim último, torna-se fiança de algo.

E que valor pode possuir esta fiança em si mesma, Tomás de Aquino examina a honra, e diz neste sentido: “é impossível que a bem-aventurança consista na honra. A honra é prestada a alguém devido alguma sua excelência: e assim, é um sinal e testemunho daquela excelência que está no honrado”, pode também ser a fama ou glória, o poder, e os bens do corpo, porém todos estes bens em si mesmo também não traduzem em felicidade, mas apenas em falso conhecimento.

Assim é ela própria a bem aventurança, diz textualmente: “a bem-aventurança é o mais estável dos bens”, assim a falta de estabilidade da fama ocorre pelo fato de ela derivar, exclusivamente, do conhecimento humano, que, por sua vez, é limitado, e muitas vezes é mesmo falso.

De modo parecido argumentava Boécio: “o poder humano não pode evitar o tormento das preocupações, nem o aguilhão do medo”.

Quanto ao corpo, argumenta o filósofo cristão: “a bem-aventurança do homem é superior em todos os sentidos à dos animais, embora muitos animais superem os homens nos bens do corpo”, assim se a beatitude vem daí o homem estaria se igualando aos animais, e quão verdade é isto muitas vezes.

Mas o que é então a felicidade para o Doutor Angélico, que faz o mesmo questionamento de Boécio: “‘é necessário confessar que Deus é a própria bem-aventurança?” e concluirá que “a bem-aventurança é o último fim, para o qual naturalmente tende a vontade humana” e “para nenhuma outra coisa deve tender a vontade como para o último fim, a não ser para Deus, pois ele deve ser objeto de gozo, como diz Agostinho” (AQUINO, 2003, p. 62).

Pode-se aqui ter a síntese do que é a felicidade para os três grandes pensadores cristãos do período medieval.

Para alguns autores, como Luiz Alberto De Boni, a filosofia de Tomás de Aquino nestes moldes: “o bem e o fim se identificam”, possui assim uma escatologia, e se entendemos que o fim é apenas esta vida terrena limitada a um período temporal sua argumentação não é validade, porém se admitimos a eternidade, a felicidade como bem último é aquela que conquistamos já aqui mas que deve se prolongar além da vida temporal, fora disto é claro, somente os prazeres temporais.

No quadro acima, de autor anônimo, O homem rico e Lázaro, (cerca de 1610, Amsterdam).

AQUINO, Tomás de. Suma teológica. Vol III São Paulo: Loyola, 2003.

 

Transformação digital além da Buzzword

21 out

Alertamos e problematizamos nos 10 anos deste blog a transformação que estava sendo encaminhada pelas mudanças digitais, aspectos sociais, educacionais, industriais e até mesmo comportamentais, boa parte dos céticos reagiam, ironizavam ou desprezavam uma mudança real que estava acontecendo.

A pandemia mostrou que as ferramentas mais do que necessárias podem construir pontes, estabelecer relações novas, dinamizar empresas e evitar desperdícios de tempo, dinheiro e principalmente nestes tempos por em perigo a saúde.

Agora todos vivem a realidade digital, empresas sobreviveram por serviços online, famílias, grupos sociais, serviços públicos e reuniões de diversos tipos dependem das ferramentas digitais, os espetáculos dependem de lives, de meetings ou postagens em ferramentas de mídias sociais.

Uma buzzword surgiu muito forte a chamada “transformação digital”, porém o perigo do oportunismo é grande de empresas e sites que exploram e mistificam estes serviços e cobram caro por ele, assim alguns conceitos são necessários, primeiro o que acontece diferente na geração Z da anterior chamada de millennials, os que são nascidos no início do milênio, portanto antes do ano 2000, que agora tem de 22 a 37 anos.

Os millenials acompanharam a evolução a Web (as páginas, sites e blogs), nasceram numa realidade em que os computadores eram uma eletrodoméstico, assim só eram usados em casa e opcionalmente na escola, enquanto a geração Z através do celular levou o mundo digital a todo lugar, criam os grupos de chats e tem um comportamento diferente com a credibilidade dos sites, blogs e mídias de redes, criam suas próprias relações e ídolos, em geral diferente do tudo que é conhecido.

Embora mais fechados e com tendência a pouca relação social, são mais críticos que os millenials, mais ansiosos, são mais eficientes e são mais exigentes.

Assim as relações com o mercado são muito diferentes, voltam a preferir as compras em lojas físicas e selecionam bem o que compram, menos impulsivos e já tem a tecnologia com um excelente apoio, embora muito conectados já conhecem os limites da tecnologia.

Grandes revistas de economia como a Forbes e a Fortune fizeram análises da geração Z para entender a transformação de mercado necessária, a Forbes diz que ela representa 25% da população mundial atual, o meio digital é parte natural da vida deles, como a TV e o rádio das gerações passadas, enquanto a Fortune afirma que 32 da geração Z se esforça para um trabalho dos seus sonhos e descartam assumirem qualquer trabalho, embora temporariamente aceite para alçar o futuro.

Assim os CRMs ( Customer Relationship Management) antigos não funcionam e muitas críticas e análises feitas para a geração millenials estão ultrapassadas.

Segundo Kasey Panetta, pesquisadora da Gartner, 5 conceitos novos são emergentes: Composite architectures, arquiteturas ágeis e responsivas, Algorithmic trust, produtos, links, sites e transações confiáveis, Beyond silicon, os limites da lei de Moore da evolução dos computadores, agora tecnologias menores e mais ágeis são procuradas, Formative Artificial Intelligence (AI) adaptação ao cliente, customização dos serviços, tempos e localização, e o conceito Digital Me, uma espécie de passaporte para o mundo digital, ferramentas e sites que já conhecem o cliente e suas necessidades, formas de comportamento e preferencias.

Portanto todo o universo digital que parecia estável também vai desmoronar e muito do que se chama “transformação digital” é só uma mistificação digital, cuidado com oportunistas.

Panetta, Kasey. 5 Trends Drive the Gartner Hyper Cycle for Emerging Technologies, 2020. Disponível em: https://www.gartner.com/smarterwithgartner/5-trends-drive-the-gartner-hype-cycle-for-emerging-technologies-2020 , Acesso em: 15 de setembro de 2020.

 

A importância dos elos fracos

29 set

Em teoria de redes os elos fracos são importantes, não são nas mídias de redes como facebook, Instagram ou outra mídia, as redes são formas de relações interpessoais vinculadas a determinados interesses e grupos (hubs) que são importantes e poderiam ser mais se fossem intendidas sujas funcionalidades e modos operacionais.

O laço fraco de uma rede, alguém que está na periferia dela e com pouco contato com o grupo central (os hubs) são na verdade os grandes potencializadores destas redes, na vida social, na ciência e até mesmo na política foram pessoas com pouca ligação com os grupos de poder que fizeram a diferença.

Li de Alan Turing, criador do modelo do computador digital moderno, que são “as vezes das pessoas que ninguém espera nada que fazem coisas que ninguém pode imaginar”, ele participou de um projeto secreto na Bell Laboratories que desvendou o segredo da máquina Enigma, de codificação de mensagens dos nazistas durante a 2ª. guerra mundial.

Einstein passou por várias escolas, e não é verdade que foi mal aluno, ele detestou todas elas. seus pais e professores achavam que tinha limitação mental, quando na verdade a escola não o inspirava nada, considerava-as fracas.

Também Stevie Jobs pouco se interessou pelos estudos e era um aluno displicente em sala de aula, numa sala de aula do primário quando uma professora perguntou se eles entendiam o universo, ouviu a resposta dele que não entendia “é porque estávamos tão falidos”.

Muitos são as pessoas simples que apontam para um período de grande dificuldades, apenas pensadores midiáticos, de redes de interesses com públicos que querem ouvir determinadas respostas a conjuntura atual é que fazem sucesso, em geral dizem que a pandemia não é nada, que quando passar vamos estar felizes, sendo assim não são apenas políticos a olharem para uma realidade complexa com respostas simplistas e pouco elaboradas.

No final da semana que passou falamos que os “últimos serão os primeiros”, agora dizemos algo além disto, são eles que podem fazer a diferença, em especial no quadro de gravidade social e sanitária que podemos aqui olhar os elos fracos, na “teoria das redes sociais”.

Mark Granovetter que estudou o assunto explica que por estarem distantes, são estes laços fracos que são capazes de levar a mensagem para ser “compartilhada” com pessoas e grupos de outros círculos, expandindo a rede.

GRANOVETTER, M. The strength of weak ties. In: American Journal of Sociology, University, 1973.

 

Translatio studiorum e as técnicas da escrita

03 jun

O longo período que foi desde o início da escrita registrada, a scriptura, até o surgimento dos copistas, chamado de oralidade mista, é chamado de translatio studiorum, onde a própria escrita vai passar por muitas variações técnicas, e nelas se destacam São Jerônimo que compilou e elaborou a primeira versão da Bíblia.

Neste período se destacam os chamados padres capadócios, Gregorio de Nissa (335, morto em 394), seu irmão Basílio, o Grande, e Gregório de Nazianzeno, cuja escrita é importante para o que tanto Hannah Arendt quanto Byung Chull Han vão analisar na vita activa, e aqui liga-se a informação em tempos de novas mídias, mas será feito no decorrer da semana.

Translation Studiorum, período de transferência de saberes, de uma época para outra quando as técnicas da cultura estão variando, e assim sua antropotécnica, entre diferentes culturas e religiões, sobretudo no Ocidente e no Oriente Médio, onde há a cultura do originária do livro das três grandes religiões abraamicas (vem do Pai Abraão), o Alcorão, a Torah e a Bíblia.

O translatio corresponde assim ao período de auge e decadência do pensamento greco-cristão, que possui mais enlaces do que é aparente, e que seria preservado e teria continuidade no mundo ocidental sob a forma de uma doutrina filosófica dominante e influente a trinitária e neoplatônica.

De Trinitate de Santo Agostinho é tão revelador quanto seu popular livro Confissões, e a influência de Plotino tanto não pode ser negada, como não pode ser supervalorizada, não é negada porque a concepção de Uno da alma em Plotino é essencial, e supervalorizada porque a conversão de Agostinho o desloca do centro deontológico de Platão, o Sumo Bem, para o ontológico: o Ser pessoa e trinitário do pensamento cristão.

Porém os padres capadócios trazem conceitos que podem ser explorados a luz do pensamento atual, Ousía (οὐσία, pronúncia correta é “ussía”), é traduzida um substantivo da língua grega dando origem a essência e substância, mas sendo feminina e conjugação no particípio presente do verbo “ser”, a interpretação heideggeriana é “presente” ou presentidade (ser-presente).

Também exploraremos o sentido da palavra hypostasis, do grego prosopon, vem da teologia grega com o significado de pessoa, e em articulação com o ousia dá um sentido ao trinitário.