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Baudelaire e o modernismo
Em 1857, no dia 25 de Junho eram publicadas As Flores do Mal de Charles Baudelaire, poeta francês de vida desregrada, que fez o pai o mandar para as Índias, e após receber a herança paterna, a própria mãe o processou.
Considerado um marco da poesia moderna e simbolista, Baudelaire é um retrato de uma sociedade em decadência já no século XIX e serve para entendermos um pouco da sociedade contemporânea, ainda que a matriz brasileira seja ibérica, com ouros nuances.
O simbolisa alemão Carlos Schwabe (pseudônimo de Emile Martin Charles Schwabe) ilustrou com a obra ao lado o livro As flores do mal.
Lançado o livro foi logo violentamente atacado pelo Le Figaro e recolhido por insulto aos “bons costumes”, mas o próprio Baudelaire disse sobre seu livro: «Neste livro atroz, pus todo o meu pensamento, todo o meu coração, toda a minha religião (travestida), todo o meu ódio.»
Por causa do livro recebeu uma multa de 300 francos (reduzida depois para 50) e o editor a uma multa de 100 francos e teve ainda que suprimir seis poemas para lançar o livro.
O livro pode ser dividido assim: a queda; a expulsão do paraíso; o amor; o erotismo; a decadência; a morte; o tempo; o exílio e o tédio, mas em francês recebeu os nomes: Spleen et Idéal (Tédio e Ideal), Tableux parisien (Quadros Parisienses), Le Vin (O Vinho), Les Fleurs du Mal (As Flores do Mal), Révolte (Revolta) e La Mort (A Morte).
Em breve faremos uma revisitada a semana de arte moderna e a cultura brasileira.
Ensaio sobre a in-tolerância
Aqueles que acreditam que apenas o fanatismo é típico do religioso, embora em parte haja certa verdade nisto, é porque viveram períodos de relativo pacifismo, aliás o que é a paz ?
John Locke (1632-1704). (Coleção “Os Pensadores” – Abril Cultural – pág. 03-39), escreveu justamente sobre isto, o ódio religioso, a Reforma Protestante desencadeada em 1517, fez a Cristandade se dividir em dois campos de ódio, atingido o político e influenciando guerras.
Um pacto de durou pouco garantiu certa “tolerância” foi a Édito de Tolerância de Catarina de Médici , ao qual Voltaire ironizou se estariam seguros os fanáticos, ao dizer “alcançar a glória divina quando vos corta o pescoço?” (in Dicionário Filosófico, fanatismo). Porém o próprio Voltaire era um fanático antirreligioso contra os quais escreveu: “Candido, ou o otimismo”.
Sua visão restrita ao religioso não ajudou em nada o discurso sobre a tolerância, a prova disto é que se consultar dicionário do Século XVII, veremos que a palavra tem significado pejorativo, quem era tolerância poderia ser acusado de indiferença religiosa, ou mesmo de mentalidade irreligiosa (BOBBIO, 2000, pag. 150) ou ainda subversivo (ASHCRAFT, 1955, pag. 532), a ainda intolerância significava virtude, um tipo de integridade moral ou firmeza confundindo-a com valores e princípios.
A analogia válida ao político-ideológico é que quando se ir da intolerância ao fanatismo, sobre o qual escreveu Gilberto Santayana: “O fanatismo consiste em intensificar os nossos esforços depois de termos esquecido o nosso alvo.” Qual é o alvo atual: melhorar o país ? ou apenas o interesse egoísta e mesquinho de manter o poder pelo poder ?
Escreveu o consultor brasileiro Luiz Roberto Bodsteim: “Fanatismo de qualquer natureza – seja religioso, ideológico ou até pelo time que se torça – é um câncer cuja metástase é a ideia incutida em seus membros de que existem pessoas que nasceram para ser melhores do que outras.”
Ashcraft, R. La politique revolutionnaire et les Deux traités de governement de Locke. Paris: Presses Universitaires de France, 1995.
Bobbio, N. Elogio da Serenidade. São Paulo, Ed. Unesp, 2000.
Agricultura nacional e tecnologia
Enganam-se os que acreditam que a agricultura e pecuária nacional estão atingindo os níveis que atingiram sem tecnologia, único setor respirando da economia, há muita tecnologia aí.
Foi aberta na quarta-feira (09/03) passagem em Campo Grande (MS), a 11ª edição da Dinâmica Agropecuária (11a. Dinapec), evento que ao longo dos anos conquistou a confiança de produtores rurais e tem sido considerado um dos mais importantes do setor agropecuário.
Numa área de 30 hectares estão vários estandes, e durante três dias houve a exposição de tecnologias; dias 9, 10 e 11 com apresentações de 15 temas de roteiros e 10 oficinas práticas totalizando mais de 40 tecnológicas.
Uma tecnologia de destaque foi a soja (foto) que pode ser plantada tanto no sistema sistemas integrados como o lavoura-pecuária (ILP) e o lavoura-pecuária-floresta (ILPF).
A Dinapec é voltada para produtores rurais, agricultores familiares, empresários ligados ao agronegócio, pesquisadores, técnicos e profissionais da agropecuária, professores e estudantes de escolas técnicas rurais e universidades de todo o Brasil.
Ali foi assinado contrato de cooperação técnica entre a Embrapa e a Connan (Cia Nacional de Nutrição Animal), também uma declaração de interesses entre o Estado de MS a Embrapa e a Wri Brasil sobre o Programa Estado Carbono Neutro e foi feita uma formatura de nove alunos do Programa Agroescola.
Foi realizada na sede da Embrapa com entrada gratuita.
Depois da impressora, canetas 3D
É o lançamento da empresa WobbleWorks, criadora da primeira caneta 3D do mercado, agora anunciou o lançamento de uma versão infantil da impressora portátil chamada de 3Doodler Start a impressora portátil, alusão as impressoras 3D.
A empresa garante que é totalmente seguro, a caneta agora disponível para crianças é uma versão da caneta “adulta” 3Dooler 3D lançada em 2013, mas que teve uma versão de sucesso em 2015.
Para esta versão os controles e funcionamento foram simplificados para uso por crianças (na verdade a idade mínima recomendada é 8 anos), para sair o plástico basta pressionar o único botão da caneta para iniciar a saída do plástico que é superaquecido internamente.
O mercado que tudo copia não esperou muito, já existem vários modelos alternativos, um deles é a Lix Pen, uma caneta desenvolvida por uma equipe de designers e engenheiros com 14 milímetros de diâmetro, o objeto possui o corpo feito de alumínio e concentra um peso de 40 gramas, e há muitas outras de origem oriental.
As impressoras 3D seguirão a frente deste mercado, seus desenhos são mais precisos, mais rápidos e em geral foram feitos por artistas, mas este novo mercado que incentiva a criatividade individual, em particular de adolescentes tende a crescer.
Tecnologia para mapear pobreza
A Universidade de Stanford desenvolveu uma técnica para mapeamento da pobreza que poderia ser usada para fornecer informações para agências de combate a pobreza, identificando as áreas que tem carência de determinados serviços e infraestruturas, conforme notícia no Stanford News.
A técnica baseia-se em milhões de imagens de satélite de alta resolução das zonas de pobreza prováveis, usando para o projeto as luzes noturnas, e detectando atividades econômicas, uma vez que atividades de plantio e luzes noturnas indicam determinado desenvolvimento.
O professor Stefano Ermon da Universidade de Stanford usou um programa de aprendizagem de máquina para analisar durante o dia imagens de satélite à noite e usou o sistema para fazer previsões sobre a pobreza.
O modelo desenvolvido tem mais de 50 milhões de parâmetros ajustáveis, aprendeu a dados, ea equipe acredita que poderia substituir caros e demorados levantamentos de solo.
Segundo o professor Marshall Burke. “E a beleza de desenvolver e trabalhar com esses enormes conjuntos de dados é que os modelos devem fazer um trabalho melhor e melhor à medida que se acumulam mais e mais informações”, afirmou o professor conforme o site.
No entanto, ele observa que mais imagens são necessárias para dar ao sistema os dados suficientes para dar o próximo passo e prever se ou não locais específicos estão se movendo em direção à prosperidade.
4 bons filmes em lançamento
Um homem entre gigantes, tem a participação de Will Smith (Dr. Bennet Omalu) e Alec Baldwin (Dr. Julian Bailes) conta a história de um médico neuropatologista forense que descobre uma trauma relacionado a esportes, chamado TCE (trauma cerebral esporitivo) e vai lutar entre instituições que não desejam a divulgação do trauma, é dirigido por Peter Landesman (“JFK – a história não contada” e o recente “O mensageiro”).
Um filme não apenas para religiosos e que estreará na véspera da Pascoa, é O jovem messias, estrelado por Adam Greaves Neal no papel do jovem Jesus Cristo, que teve que fugir para o Egito devido a perseguição de Herodes, e onde vai viver até os 7 anos, também mostra seu nascimento envolto em mistérios, o filme é dirigido por Cyrus Nowrasteh.
Ressurreição é mais um filme Pascal, sobre o mistério do sumiço do corpo de Jesus, onde o incrédulo Clavius (Joseph Fiennes) poderoso tribuno militar romano e seu assistente Lucius (Tom Felton) recebem a tarefa de verificar o que aconteceu com o corpo e evitar uma revolta numa Jerusalém em ebulição, o filme é dirigido por Kevin Reynolds (Tristão&Isolda e o Conde de Monte Cristo) tem estréia em 17 de março.
Lançamento hoje (25/02), Boa noite mamãe conta uma estória de uma família que vive no meio de um milharal (poderia ser um condomínio fechado), que tem a mãe (Susanne Wuest) afastada para fazer cirurgias plásticas, após o retorno vive o drama de ter os filhos gêmeos de 9 anos não acreditarem que a mulher com o rosto coberto seja sua mãe, então toda a relação familiar se mudará, dirigido por Severin Fiala e Veronika Franz.
O Oscar 2016 (chamado de Oscar Branco, pelas indicações) acontecerá domingo (28/02).
Armazenamento 5D eterno
É o que promete cientistas da universidade de Southampton, usando uma nanoestrutura ótica do Centro de Pesquisa Optoeletronica (ORC- Optoelectronics Research Centre) usando um armazenamento cinco-dimensional (5D) para escrever dados a laser em femtossegundos (10-15 do segundo ou um milionésimo do nanosegundo), segundo o site da Univ. de Shothampton.
O armazenamento prevê propriedades sem precedentes, como estabilidade térmica até temperaturas de 1.000OC, capacidade de 360 TB (tera-bytes) e tempo de vida virtualmente ilimitado cerca de 13,8 bilhões de anos a temperaturas de 190oC.
Um texto já havia sido realizado com armazenamento de 360 kb (Kilo-bytes) gravando uma cópia digital de um texto com sucesso em 5D, agora quatro documentos históricos serão gravados: a Bíblia, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), a Ótica de Newton, e, a Carta Magna foram guardadas como cópia que poderão sobreviver a raça humana.
Uma cópia do DUDH codificada foi entregue à UNESCO pela ORC, em cerimônia realizada no México, e novos documentos considerados universais poderão ser copiados em 5D.
Vida interior, com outrem e coletiva
Se Locke foi um caminho para a separação do “externo” com o “interior” pela supressão deste último, mas aderindo a uma transcendência idealista, o caminho de Husserl é um retorno crítico ao cógito cartesiano (supressão do juízo sobre as coisas) (Ricoeur, 2007, p. 119).
Em Meditações Cartesianas reflete isto (download de Conferencias de Paris) mas faz uma passagem da egologia (cartesiana) para a intersubjetividade (com o outro) exige um pouco mais que o cogito.
Isto é feito numa relação com o tempo, que será tema de seu aluno Heidegger em o Ser e o Tempo, na obra de Husserl Lições para uma fenomenologia da consciência íntima do tempo, entretanto, fala da relação “ainda objetal com um objeto que se estende no tempo, que dura, para a constituição do fluxo temporal com a exclusão de toda intenção objetal” (Ricoeur, 2007, p. 119).
Então a relação com a memória, a fenomenologia da lembrança, ou de outro ponto de vista a relação à imagem, tema atual se fala até de cultura da imagem, a re-(a)presentação cede o “lugar a uma constituição, sem menor referência objetal, a do puro fluxo temporal” (Ricoeur, 2007, p. 120).
É notável, diz Ricoeur, a imanência criada entre consciência e tempo em Husserl, que dissocia o tempo físico do tempo da alma vinculados em Aristóteles e desvinculadas em Agostinho.
Isto é importante, porque nos permite entender melhor o problema da imagem, lembrança e de certa forma memória, há diversas descobertas nesta fenomenologia, mas Ricoeur se detém na questão da consciência, primeiro como consciência de algo, e depois como “O fluxo constitutivo do tempo como subjetividade absoluta”, citação do § 36, das Lições de 1905.
O fato que esquecemos, e em nossos dias é mais grave este fenômeno, é devido a um fenômeno íntimo da consciência, daí o nome do livro de Husserl, explicado de maneira acadêmica assim, no § 39: “O tempo imanente constitui-se como uno para todos os objetos e processos imanentes. Correlativamente, a consciência temporal das imanências é a unidade de um todo” (citação em Riceour, 2006, p. 122).
Husserl então dirá do fluxo dos objetos que ocorre no tempo e na consciência, assim tornar algo presente na presentificação da consciência (Husserl chama de consciência impressional) é fruto de tornar presente por um ato reflexivo, a “consciência originária”, a retenção no íntimo de fatos presenciais que podem ser lembrados como a consciência de algo.
Após percorrer o longo caminho de Husserl para não separar a consciência íntima da externa (de algo) pergunta-se se a extensão do idealismo transcendental `a intersubjetividade (a presença de outrem) pode abrir caminho para a “memória comum” coletiva.
Sua resposta é claro que é positiva: “o poder de encenar essas lembranças comuns por ocasião de festas, ritos, celebrações públicas” (Ricoeur, 2007, p. 129) … “isto basta para dar á história escrita um ponto de apoio dentro da existência fenomenológica dos grupos” (idem)
Olhar interior: a identidade e o mesmo
Além da questão da vida interior, que devemos ao pensamento de Agostinho, mas é bom dizer que vem de certa forma do neoplatonismo de Plotino, questão que parece quase morta na vida contemporânea pela substituição pelo pensamento idealista da identidade e do si, assim dito por Ricoeur: “o parentesco com a problemática cristã da conversão à interioridade deixou de ser discernível.” (Ricoeur, 2007, pg. 113).
Também deixa claro que não é factível aproximá-lo de Descartes, com o cogito (penso logo existo) ou o conscious (conhecentes, conhecer atual, experimentar), na verdade ao afastar- se de ideias inatas cria três noções novas do olhar interior: identidade (identity), consciência (consciousness) e self (o si-mesmo).
Locke torna consciênciou uma referencia “confessa ou não” para Leibniz e Condillac, Kant e Hegel, até Bergson e Husserl, para aqui teremos que fazer uma terceira parada no próximo post, sobre o si e o outro.
O capítulo XXVII “Of Identity and Diversity” do Livro II de sua obra prima Ensaio Filosófico sobre o entendimento humano,afirma Ricoeur, “ocupa uma posição estratégica na obra a partir da segunda edição (1694)” (Ricoeur, 2007, pg. 2007).
Riceour explica que Locke “depois de uma série de operações para limpar terreno”, há diferença entre Descartes das Meditações que é “ … uma filosofia da certeza, que é uma vitória sobre a dúvida, o tratado de Locke é uma vitória sobre a diversidade, sobre a diferença” (Ricoeur, 2007, pg. 114), poristo os idealistas contemporâneos de todos os matizes se debatem sobre estes temas.
Depois de várias depurações (exclusão da metafísica da substância, purificação a linguagem pelo Mind versão inglesa do latim mens e outros operações), chega a noção do “mesmo” tão cara a filosofia atual, em sua própria escrita a fórmula da identidade a si: “Pois sendo nesse instante o que é e nda mais, ele é o mesmo e deve assim permanecer enquanto continuar sua existência: de fato, para toda essa duração, ele será o mesmo e nenhum outro” (Ricoeur, 2007, pg 114).
Aqui faz o corte da vida interior separada de qualquer possibilidade de relação com a comunitária, explica Ricoeur: “Para nós que nos indagamos aqui sobre o caráter egológico de uma filosofia da consciência e da memória, que não parece propor nenhuma transição dialogal ou comunitária, o primeiro traço notável é a definição puramente reflexiva que abre o tratado.” (Ricoeur, 2007, pg. 114)
A falta de visão dialogal e comunitária é justamente o fim da possibilidade de vida interior.
RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Trad. Alain Fraçois. Campinas: Editora Unicamp, 2007.
Renascer das cinzas, mudar a mentalidade
O período da quaresma (quarenta dias descontando os documentos) ou 46 (contando os domingos, depende da data que cai a Páscoa é uma data renovada na igreja primitiva cristã que relembrava e dava continuidade a Páscoa judaica (Pessach), que é passagem ou libertação.
Não caem na mesma data, algumas vezes coincidem porque o ano judaico tem um controle de datas diferente, não assumindo o calendário cristão.
Então primeiro se marca a Páscoa, depois o seu início que é a quarta-feira de cinzas, e então o carnaval que deveria terminar neste dia (na Bahia continua alguns dias mais).
É para os cristãos, em especial, os católicos e anglicanos (as datas não coincidem com os ortodoxos) um período de conversão, mas para o mundo laico poderíamos propor uma mudança de mentalidade, e assim ajudaria também os cristãos a entenderem que eles não estão num mundo a parte, líquido é verdade porque a modernidade está se derretendo, e o importante é lembrar isto que tudo é perecível, talvez algum dia o próprio universo, que já nasceu um dia, no Big-Bang.
Lembrar que tudo é perecível nos remete ao essencial, na vida pessoal, social e também na política, muitos políticos se imaginam eterno e por isto não pensam no futuro, grandes países e civilizações foram grandes porque pensaram no futuro e não apenas nesta geração.
A proposta de olhar “nossa morada” em campanha ecumênica (diversas igrejas participam) é também a “casa comum” de todos co-habitantes do planeta, que temos pelo menos uma coisa em comum: todos habitamos o mesmo planeta neste tempo presente.