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Totalidade e Infinito
O complexo é fundamental para se entender a totalidade, escreveu Edgard Morin: “apenas o pensamento complexo poderá civilizar nosso pensamento” (Morin, 2008, pg. 23), na ausência de um discurso totalizador e abrangente é ele próprio o pensamento complexo.
Giordano Bruno foi o primeiro a intuir que o infinito era fundamental para o nascente pensamento moderno, mas este se refugiou no dualismo racional (objetivismo x subjetivismo) e na finito humana que não admite o mistério e o infinito presente na totalidade cósmica.
O pensamento atual, graças a complexidade física que veio dos quanta e da teoria da relatividade, é lançado para as profundezas do universo para pensar a matéria e a energia escura e seus novos e excêntricos fenômenos que desafiam os modelos atuais de física, de ciência, e quiçá de religião.
Edgar Morin antes de refletir sobre a virada paradigmática, diz que o Ocidente “filho fecundo da esquizofrênica dicotomia cartesiana e do puritanismo clerical, comanda também o duplo aspecto da práxis ocidental, por um lado antropocêntrica, etnocêntrica, egocêntrica desde que se trata do sujeito (porque baseada na auto-adoração do sujeito: homem, nação ou etnia, indivíduo) por outro e correlativamente manipuladora, gelada “objetiva” desde que se trata do objeto” (Morin, 2008, p. 81).
Sem considerarem-se dogmáticos, arrogantes e autorreferenciadores, este pensamento mesmo quando projeta para o Infinito, mesmo apelando a Deus e mesmo invocando o diálogo são eles próprios arrogantes, basta a mínima dose de questionamento para notar-se a prepotência.
Ora, mesmo para o religioso admitir o mistério é imprescindível para admitir a ideia de Deus e de infinito, enquanto para o pensamento “racional” (não o racionalismo dogmático) admitir a complexidade dos fenômenos não é senão fazer ciência séria e investigar de fato a natureza por um lado e admitir o lugar do homem dentro dela a única possibilidade de superar a arrogância objetivista e egocêntrica do pensamento moderno.
O infinito que é também reivindicado por pensadores atuais como Ricoeur, Lévinas que explicou o sentido de alteridade diante do Infinito: “A idéia do infinito não parte, pois, de Mim, nem de uma necessidade do Eu que avalie exatamente os seus vazios. Nela, o movimento parte do pensado, e não do pensador.” (Levinas, 1988, p. 49).
LEVINAS, Emmanuel. Totalidade e infinito. Tradução José Pinto Ribeiro, Lisboa- Portugal, Edições 70, 1988.
Giordano Bruno, além do herege
Li em minha juventude “La cena de las cenizas” de Giordano Bruno, um dos seis diálogos escritos em italiano, escritos durante sua estadia de dois anos em Londres (1583-1585).
O sacerdote dominicano, discutiu neste livro a revolução copernicana, e embora tenha tido a acusação de herege, sua discussão não era outra que a escatologia cristã em sua cosmovisão além de seu tempo que vislumbrava os caminhos do s infinitos mundo e sua visão de Deus.
Pagou com a própria vida, sendo queimado vivo em 17 de fevereiro de 1600 em Roma, mas todos os seus comentaristas afirmam que o seu diálogo abriu caminho para uma nova ligação entre os caminhos da cosmologia e da filosofia, porém contrário a cosmovisão cristã medieval.
Sua filosofia foi além das limitações da razão (matemáticas e logicas) utilizando para sua ousada visão uma amalgama de fatos básicos e da realidade cósmica, mas sem deixar de lado uma reflexão que conduzia a uma ação humanística.
Também fugiu do empirismo e usou experimentos mentais dos quais deduzia as ramificações de sua cosmovisão, alguns interpretes afirmam que se utilizou de raciocínio parecido aos que Einstein e utilizou para suas intuições acerca do universo.
Ao referir-se ao cosmos como realidade infinita, Bruno foi além das esferas de Aristóteles e Ptolomeu, para ele assim como para Kepler, Paracelso e Nicolas de Cusa o universo é um ser vivente que guarda uma unidade essencial que reúne todos os seres particulares, que não são mais que emanações do /todo, esta visão cosmologia influenciou todo o Renascimento.
Sua cosmovisão que não triunfou no Renascimento, pereceu e interrompeu perante o surgimento da razão cartesiana, do idealismo e o empirismo de Hume, mas merece ser relida e estudada como uma forte influência no pensamento renascentista.
Veja o que foi dito sobre Giordano Bruno na famosa série cosmos:
https://www.youtube.com/watch?time_continue=6&v=XzTREw3AKEQ&feature=emb_logo
Uma releitura dos reis magos
Em tempos de fundamentalismo e intolerância religiosa, uma releitura dos reis magos que foram adotar e também “contemplar” o nascimento de Jesus é essencial para o diálogo entre religiões.
A primeira necessária é que Deus se comunicou com os “magos” do oriente, ela pode reabrir corações fechados para re-ligações (religião do verbo em latim religare que é religar), pois eles não eram sequer religiosos no sentido convencional, mas magos e Deus os religou.
A segunda é que a comunicação divina foi através de astros, que significa que eles podiam entender esta linguagem e que Deus falou na língua humana deles, ou seja, há formas além das dogmáticas de comunicação entre Deus e os homens, mesmo não crentes.
A cosmologia é uma parte antiga e fundamental da filosofia, sua evolução e composição estuda o universo, e vem desde a antiguidade, os pré-socráticos a estudavam, buscam também a explicação da origem e da transformação da natureza e do universo e constroem mitos e divindades, criando uma relação entre seres mortais e imortais.
Então Deus não é tão indiferente a isto, uma proposta universal não deve desconsiderar a cosmologia, e se deseja construir uma cosmogonia, isto é princípio e fim de toda a vida, então uma escatologia é também construída, e a escatologia cristã pode estar relacionada a esta, não é afinal Deus princípio e fim de tudo ?
Esta segunda releitura, a questão dos astros, de fato ainda hoje se buscam evidencias cosmológicas da estrela que os Reis Magos seguiam, um astro, um cometa, isto poderia ajudar a datar o natal de uma data mais precisa.
Teólogos como Teilhard Chardin não deixaram de considerar a hipótese cosmológica, a noção de um universo cristocêntrico ajuda a uma interpretação não fundamentalista de uma escatologia mais complexa, e por isso recorremos (no post de 3/4/2019) a São Gregório de Nazianzeno (a igreja católica o comemora dia 2 de janeiro).
A terceira é que os reis magos foram “contemplar” o menino-Deus, além da vita activa, Hannah Arendt também falou dela em A condição Humana (publicado em 1956, com edição brasileira de 2009), que vem da conferencia Trabalho, Obra e Ação (publicação brasileira de 2006), mas já falavam desta questão Aristóteles no bios politikos e a vita negotiosa ou actuosa em Agostinho, e, recentemente Byung Chull Han em A sociedade do cansaço.
Mas não vieram adorar apenas, onde o elemento oferecido incenso é essencialmente isto, mas também trouxeram ouro no sentido de riqueza e mirra no sentido de sacrifícios oferecidos.
Os reis magos deveriam significar a abertura do cristianismo a outras linguagens e outras culturas que também são uma expressão do infinito, do universo e da vida construída de modo sagrado em todos e em tudo.
Primeira publicação: janeiro 2019
Buracos negros e cosmovisão
Até recentemente o mundo material compreendia apenas a chamada matéria bariônica que é 4% do único, que é a matéria que a maioria das pessoas conhece, com a energia e massa escura apareceram os “buracos negros” que na verdade são corpos negros.
Os cientistas ainda acreditam pela teoria de Einstein que os buracos negros sugam objetos e tudo que está a sua volta, inclusive a própria luz, agora um fenômeno novo pode mudar isto.
Este processo de sugar é chamado acreção, assim existe um plasma quente que orbita em torno do buraco negro e que é sugado por acreção, mas isto também podem ocorrer em corpos, e agora foi avistado um corpo que resiste a esta acreção, por isto chamado de corpo de acreção, pela junção de material a sua volta no processo de formação de protoplanetas.
O objeto GRS1915+105 na verdade são dois astros um buraco negro (o corpo cuja gravidade impede que qualquer coisa escape, por isto está sendo chamado de faminto), e uma estrela bem modesta para a proporção do buraco negro, similar ao sol.
Se comparado aos 13 bilhões de anos-luz do universo observável, ela está próxima da Terra, pois está a 40 mil anos-luz de distância, o que intriga é que o astro negro (o nome parece melhor que buraco) é que o astro-estrela não é sugada, embora chamado de acreção.
Junto a um laboratório americana, o astro foi observado usando um telescópio do ESO (Observatório Europeu do Sul, na sigla em inglês), formando um trio da Alemanha e do Chile que capturou a luz da estrela companheira do buraco negro e determinada a “ficha técnica”:
Conforme artigo publicado na Nature, o astrofísico Charles Bailyn da Universidade Yale, EUA, afirmou que ainda os cálculos não são bem precisos quanto ao tamanho, massa e energia: “Ela é computada usando observações bem simples e cálculos baseados apenas nas leis de movimento orbital de Kepler, que já são conhecidas e têm se mostrado confiáveis há séculos”.
A massa é um dos pontos problemáticos, além do aspecto da acresção, conforme afirma Jochen Greiner, do Instituto Astrofísico de Potsdam, Alemanha, um dos autores do artigo: “ficaria muito surpreso se a massa estivesse tão errada que as teorias se aplicassem. Com isso quero dizer que estou convencido que as teorias erraram o alvo”.
De fato já se desconfia que o que pensamos sobre massa é algo bem diferente, pela teoria da relatividade atual, até a partícula de Highs e a existência dos buracos negros elas pareciam se confirmar, já que o universo copernicano e newtoniano estavam superadas.
Agora se a massa for a que é medida, e o buraco não a suga, significa que haverá uma nova cosmovisão, onde massa e matéria precisam ser reconceituadas.
Terra-planetarismo, uma cosmovisão planetária
Já mencionamos que a cosmovisão depende de uma visão do cosmos e da própria vida, falta ainda uma cosmovisão cidadã, o Edgar Morin chamou de terra-pátria e que chamo de terra- planetarismo.
Ver o planeta como Pátria, como “casa comum” na visão místico- religiosa, como Gaia em uma visão mitológica, incorporam esta visão, pois o próprio planeta, os seres viventes incluindo animais e plantas e as culturas que são a cidadania dos povos viventes no Planeta, ampliam uma visão cosmo-planetária da Terra que habitam.
No livro de Edgar Morin ele traça nos capítulos 2 e 3 o que seria esta identidade planetária, e ao mesmo tempo revela um esgotamentos e uma agonia planetária, há algo que envolve além das tradições e das questões culturais em jogo, esta cosmovisão depende de como o homem se vê como um todo, e isto implica numa cosmovisão avançada, que admite os novos telescópicos, que fizeram a revolução copernicana, que agora são presentes nas novas mídias e numa visão ampla do universo.
O terraplanismo é o lado mais extremo desta visão, mas o apego a uma visão anterior a física quântica, aos buracos negros, a visão de um multi-verso, implica que a cosmovisão planetária ainda é iluminista e idealista, presa a uma ideia de cidadania, de estado e de planeta que já está a muito superada, e agoniza em sucessivas crises.
No livro de Morin e Anne Brigite Kern, apontam que o fenômeno-chave para entender esta crise de proporções planetárias é “o subdesenvolvimento moral, psíquico e intelectual” (Morin e Kern, 2011, p. 115) inclusive do que é desenvolvimento, e a proliferação de ideais geras “ocas e de visões mutiladas, a perda do global, do fundamental e da responsabilidade” (idem).
Ampliar esta visão requer abandonar princípios pseudo-planetários que são eurocentristas, terceiro-mundistas, imperialistas e neocolonizadores presentes em “salvadores da pátria” sejam de esquerda ou direita, em geral pouco solidária e de cosmovisão limitada.
Uma nova visão planetária, que respeito a própria natureza, exige uma visão de um universo ainda mais amplo que foi visualizado por Copérnico, Galileu, Newton e os iluministas, o eterno dualismo materialismo x idealismo, a religiosidade imperial de algumas religiões.
Falta sabedoria aos humildes e humildade aos sábios, é tempo de repensar o pensamento, como queria Edgar Morin, tempo de transdisciplinaridade de multi-verso (vários universos).
MORIN, E., KERN, A.B. Terra pátria. Trad. Paulo Neves. 6ª. edição, Editora Sulina, 2011.
Esta apresentação no SESC em São Paulo Brasil, fala sobre este tema:
Alma, Mundo e unidade
Há alguma coisa em nossa consciência que não podemos definir exatamente o que é, um espírito, um mecanismo de decisão, uma “visão de mundo”, o certo é que o que chamamos de interioridade tem uma camada profunda que os filósofos da antiguidade clássica chamaram de “anima”, aquilo que dá vida, que anima e que é em ultima instância também uma visão de mundo.
Queiramos ou não, temos na interioridade, uma “anima”, já o filósofo pré socrático Pitágoras (580-496 aC) acreditava na metempsicose que era a transmigração da alma de um corpo para o outro após a morte, e assim na sua cosmovisão acreditava na imortalidade da alma.
Também Plutarco foi autor do “Consumo da Carne”, tema que não apenas fala da alma, mas inicia uma separação entre a corpo da carne e a alma imortal.
O tema é aprofundado por Platão em A república, a sua anima mundi (“alma do mundo, do latim antigo tinha outro sentido que era o “psyché tou pantós”), tem a cosmovisão de uma alma compartilhada ou força regente do universo pela qual o pensamento divino pode se manifestar em leis que afetam a matéria, assim há uma força imaterial, que é ao mesmo tempo inseparável da matéria, que provê forma e movimento.
A sua doutrina não foi endossada por Aristóteles, que em sua obra De anima, aproxima-se mais de conhecimento ou intelecto ativo, do qual partirão reflexões das escolas estóicas e neoplatônicas, assim a ligação indireta entre Plotino e Platão passa por Aristóteles.
Plotino (205-260) será um raro filósofo da antiguidade a tentar um conceito não dualista de alma, a alma una descrita em sua obra Enéadas, parte do conceito de hipóstase que procede do poder criador, que na verdade é uma terceira hipóstase, um “nous” que gera a alma do mundo.
Entre os pensadores medievais que mantiveram as ideias de anima mundi estão Ficino, Pico dela Mirandola e Giordano Bruno com ensinamentos herméticos, os plantonistas de Cambridge, os vitalistas alemães Angelus Silesius, Goethe e Schelling, que tiveram grande influência em Bergson e através dele Vladimir Vernadsky e Teilhard de Chardin.
Schelling escreveu Da Alma do Mundo (1798), apesar da influência idealista guardava uma cosmovisão tentando unir a natureza orgânica e inorgânica conectando-a num continuum.
A noosfera é aqui a ideia que uma “alma mundo” pode cooperar com o mundo contemporâneo não sendo possível uma visão totalizante, a visão de mundo do planeta como “casa comum” e que tem uma “alma mundo” presente e que pode sustentar uma cidadania planetária.
Roger Scruton (75 anos) é um autor contemporâneo que aborda de modo polêmico o tema.
Cosmologia, Cosmovisão e diálogo
A origem da palavra grega “kosmos” está ligada a ideia de ordem, universo (ou multi), beleza e harmonia, também o cosmo através da posição das estrelas ajudaram a organizar o calendário na origem da história humana, hoje pode estar ligado também as cosmogonias e visões do início e fim do uni-multiverso, da natureza e do homem.
A ausência de uma cosmovisão empobrece também a visão do Ser, Emanuel Lévinas examinando o tema fez em seu livro Ética e Infinito, uma crítica radical da categoria da totalidade, típica da filosofia ocidental que levou ao culto do Mesmo e do Neutro, do pensamento absoluto que levou a tiranias e ideologias totalizantes.
Na Física aristotélica, anterior a física moderna e impensável naquela momento uma astrofísica do multiverso, ele elaborou um modelo estático, de eterno fluxo do devir, submetido a uma ordem, a revolução copernicana colocou tudo em movimento, e a astrofísica moderna recuperou o modelo do “infinito”, onde a matéria e a energia escura dominam 96% do universo.
As cosmogonias são fundamentais para entender a formação de culturas e pensamentos religiosos de diversos povos, as lendas e mitos geralmente podem ser pensadas em torno de uma metafísica, e as crenças que as tornam possíveis como explicação do mundo.
A cosmovisão está presente em qualquer forma de pensamento, assim o materialismo, o idealismo e o espiritualismo são cosmovisões, como uma apreensão parcial da totalidade e a solução e encontro do Outro são feitos em função desta cosmovisão.
Assim num diálogo de culturas, imperativo para um mundo globalizante e a exigência de uma cidadania global ainda que não reconhecida, é necessário esclarecimentos desta cosmovisão, de modo não totalizante e ao mesmo tempo que admita o infinito como mistério e devir.
Encontramos no Dicionário básico de Filosofia (Jupiassu, Marcondes, 2008) que a cosmologia supõe a possibilidade de um conhecimento do mundo como sistema e como expressão de um discurso, o postulado de uma totalização do mundo, se feito pelo saber, torna indispensável a ideia de uma eventual cosmologia do próprio saber.
JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
O video below mostra a visão cósmica de David Southwood da ESA (European Space Agency):
Uni-verso ou multi-verso
Não é uma brincadeira com versos e poesia, já vimos e postamos que o universo é feito de frequências que em ultima instância é música, que a primeira energia liberada pelo universo foram frequências que em última instância é luz, agora há um novo enigma e se houver mais que um universo, um multiverso.
Três aspectos podem levar a ideia do multiverso, duas já são amplamente estudadas: a ideia da cosmologia que vem dos gregos e hoje chega as mais profundas sutilezas da matéria e energia escura, chamada de buracos negros que foi ampliada com a ideia da inflação, a segunda a teoria das cordas que de simples hipótese passou a ser estudada e verificada, e, a terceira (ou a primeira no sentido histórico, começou com Hubble em 1929), a ideia que o universo (o multiverso que conhecemos) está se expandindo então um dia este unido, o Big-Bang.
A ideia de um universo em inflação e não em expansão levou ao segundo ponto que é a teoria das cordas, o modelo físico-matemático sugere que os blocos fundamentais não são pontos ou partículas, mas cordas que vibram numa espécie de sinfonia cósmica, emergindo da música que estas cordas podem tocar, entretanto com pequenas inconsistências matemáticas.
São essas inconsistências que criam a necessidade de uma quarta dimensão, não linear como as que conhecemos (a altura, largura e profundidade), mas uma micro-dimensão que delimitam como estas “cordas” podem vibrar, a analogia com a música é perfeita porque só ouvimos numa faixa delimitada de frequência, e estas vibram numa faixa delimitada.
É nesta faixa delimitada que está a energia negra, ela junto a matéria negra compõe 96% do universo, o que conhecemos como “matéria” é a matéria e energia bariônica, apenas 4%.
As formas presentes na teoria das cordas (foto) podem ser inúmeras e até mesmo infinitas.
A questão que resta é se algum dia a observação poderia tornar possível a visão do multiverso, assim como em 1964 os cientistas Arno Penzias e Robert Wilson capturaram a radiação de fundo, que vindo de todas direções do cosmo foram a comprovação da Teoria do Big Bang.
O cientista Brian Greene explica que a teoria da inflação cósmica poderá de alguma forma um dia provar a existência do Multiverso e explica como as evidências desta teoria já estão presentes na teoria quântica, e na observação da energia escura.
Veja o vídeo Ted de Greene que já tem mais de cinco milhões de vistas:
O Tesseracto ou Hipercubo, o holograma
Por que o espaço deveria ser limitado a três direções independentes?, com esta especulação Charle H. Hilton (1888) transgride a ideia de tempo absoluto.
Após uma discussão as ideias de Kant de tempo absoluto, ele penetra na discussão mais profunda do idealismo que é a separação entre objeto e sujeito.
O primeiro postulado deste livro que o meio não é mais o que separa, mas o que nos une ao objeto, constrói mais à frente uma consequência: “O próximo passo depois de ter formado esse poder de contração em um espaço mais amplo é investigar a natureza e ver que fenômenos devem ser explicados pela relação quadridimensional”, o que irá desenvolver em seu livro até chegar à antevisão do holograma: “E assim, com arranjos de espaço superior. Não podemos “colocá-las de fato”, mas podemos dizer como elas pareceriam e seriam ao toque de vários lados”, que pode ser vista como a antevisão de um grande holograma, mas com a possibilidade de serem tocados.
Assim como o Cubo possui na verdade 6 faces, uma quarta dimensão não seriam apenas 6 cubos, mas 7 cubos formando assim a quarta dimensão, é a partir dela que pode-se pensar o holograma que se espacial e com possibilidade de toque (háptica) torna-se um hipercubo de imagens volumétricas espaciais.
O Christus Hypercubus de Salvador Dali é esta visão em quarta dimensão, que colocá-la num holograma e mostrar sua reconstrução em cubos 3D constituiu uma etapa do corrente trabalho, ainda não tendo a ligação com o ambiente da Galeria de Arte Multimodal e as possibilidades de poder ser táctil (a háptica).
A pintura de Salvador Dali pode ser pensada como imagem na quarta dimensão, ou o holograma representando no Christus Hypercubus de Salvador Dali.
A física quântica está conectada a esta ideia, porque Heisenberg foi um dos primeiros a anunciar esta ruptura com a ideia de espaço absoluto, criando assim uma dimensão superior ao espaço tridimensional.
Hilton, C. H. (1888). A New Era of Thought, Londres: S. Sonnenschein & Co.
O espiritual na arte, quase esquecido
Além de Kandinsky, um contemporâneo reconhecido como tendo influência na arte espiritual, há outros três catalães quase esquecidos de forte influência espiritual: Raymond de Sebonde, autor da Teologie Natural; Gaudí, criador do gótico mediterrâneo, e Salvador Dali, incorretamente visto como surrealista paranóico-crítico, explicamos a seguir.
Disse Dali após uma longa fase que ele mesmo disse que tinha influência psicológica e indiretamente de Freud, integrasse numa nova fase, onde seu quadro Christus Hypercubus será um marco, e pode mesmo se relacionar a contemporaneidade com a Física Quântica, a quarta dimensão do universo (o Hipercubo), e de certa forma ao tesseracto de C. H. Hilton.
Diz em seu Manifesto Anti-matéria escreve com todas as letras: “no período surrealista, quis criar a iconografia do mundo interior e do mundo maravilhoso, do meu pai Freud … Hoje, o mundo exterior e o da física transcenderam o mundo da psicologia, ele declarou “meu pai hoje é o dr. Heisenberg”, assim é um Dali pós-surrealismo como ele próprio se proclama.
Já postamos anteriormente algo sobre isto, porém desenvolvemos aqui um pouco mais.
Proclamou Dali sobre sua obra: ”Eu Dalí, reatualizando o misticismo espanhol, vou provar com a minha obra a unidade do universo, ao mostrar a espiritualidade de todas a substâncias”, na qual o uso de substância não é por acaso, pois está falando mesmo do universo físico, mas pode ser também aquele que Teilhard Chardin chamou de “universo cristocêntrico”, ou seja, a sua Noosfera no sentido mais substancial da palavra, ou no sentido físico do universo.
Esta dimensão, além de ser estudada na Física das Partículas e na Astrofísica, apareceu em filmes como “Contato” (1997, direção de Robert Zemeckis) baseado na obra de mesmo nome de Carl Sagan, e recentemente o filme Interestelar (direção de Christopher Nolan, de 2014), ilustrado na imagem acima, e a possibilidade da quarta dimensão, do universo estar imerso num hipercubo é científica.
Einstein havia previsto um fenômeno relativístico Lense-Thirring ( homenagem a Josef Lense e Hans Thirring) que ficou por um bom tempo sem comprovação até que esse efeito começou a ser detectado em satélites artificiais e desde então passou a ser estudado como possibilidade real, é um efeito de um giroscópio devido ao campo magnético gravitacional.
Começa amanhã em Lisboa, no Palácio de Ceia, o evento Artefacto 2018, entre outras obras, apresentará uma Ode ao Christus Hypercubs feita pelo Dr. Jônatas Manzolli da Unicamp, que contará com a pianista Helena Marinho do Aveiro e a solista Beatriz Maia.