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A contraofensiva e a ameaça russa
A semana promete ser tensa na guerra do leste europeu, a Ucrânia anunciou o início de sua contraofensiva e a Rússia ameaça retaliações pela ajuda do ocidente em armamento para esta nova fase da guerra.
A paz está muito distante, agora trata-se realmente dos territórios ocupados o ponto de discórdia, e toda a questão da ameaça das fronteiras e avanço da OTAN não é mais o ponto, ainda que seja tocado, os quatro territórios parcialmente ocupados: Lugansk, Donesk, Zaporizhzhia e Kherson são reivindicados por ambos países em guerra, além da Criméia.
Após vários países anunciarem armamentos e apoio financeiro a Ucrânia, as ameaças russas subiram o tom e ameaçaram com armas nucleares “estratégicas”, porém qualquer guerra a um dos países da OTAN é declarada imediatamente guerra a todos e o conflito poderá escalar.
Na província (oblats) Belgorod em território russo foi o primeiro conflito no interior do país nesta guerra, grupos anti-Putin anarquistas e de direita apareceram no cenário, indicando que algo já acontece dentro da Rússia, o governo russo diz estar sob controle, porém evacuou a região.
O cenário é bastante preocupante, porque uma escala da guerra e um possível conflito em solo de países da OTAN poderá significar um início aberto de uma terceira guerra mundial, as ameaças russas não parecem um blefe, mas uma resposta a ajuda do ocidente que prolonga a guerra e dá uma sobrevida para as forças ucranianas em conflito.
O deslocamento de armamentos nucleares da Rússia para a Bielorrússia e navios de guerra nos oceanos indicam que o perigo de resposta ao Ocidente é real e poderá acontecer.
Ainda que na guerra da Ucrânia tenha sido demonstrado que há capacidade bélica para interceptar os misseis hipersónicos russos, com cargas nucleares não importam onde sejam detonadas elas causarão um efeito devastador ao meio ambiente e a vida humana.
Restam aos que desejam a paz pedir que cessem os conflitos e que os homens retornem a serenidade e ao respeito da vida humana e da natureza.
Ascese e o dualismo entre corpo e alma
Já na filosofia grega, a autodisciplina e o autocontrole do corpo e da mente (ou da alma) acompanhavam a ascese assim como a busca da verdade.
Esta busca e sua correspondente ascese está em toda a filosofia e até na literatura, é da peça Hamlet de Shakespeare “há mais coisas entre o céu e a terra que supõe a vá filosofia”, mas é da mesma peça “Ser ou não ser, eis a questão” que remete a ontologia.
Freud também dizia que a principal tarefa de uma existência é compreender a mente, na filosofia contemporânea há o clássico dilema da separação de corpo e mente (ou alma), até Marx se propunha a inverter o caminho de Hegel “da terra para o céu”, claro o céu hegeliano.
O certo é que o processo civilizatório depende de ascese, dos homens como comunidade e dos homens individualmente porque senão não terão o que levar para a comunidade se não tem uma ascese própria, levarão a miséria humana e a decadência que vivem.
O dualismo corpo e mente é aquele que separa os fenômenos da mente (que seriam apenas mentais, no caso da alma, apenas espirituais) e do corpo que são físicos e, portanto, são amplamente separáveis, também há hoje uma filosofia barata que afirma que aquilo que penso se tornará realidade, não cito os livros para não dar popularidade maior a este sem qualquer base teórica ou prática.
A fenomenologia de Husserl penetrará na categoria ontológica da “intencionalidade” para remover este obstáculo “a peculiaridade em virtude da qual as vivências são vivências de alguma coisa” (HUSSERL, 2010), e no § 14 de Meditações cartesianas (1931), repete-o novamente, mas de um modo mais completo: “A palavra intencionalidade não significa outra coisa senão essa particularidade fundamental e geral da consciência de ser consciente de algo, de portar, em sua qualidade de cogito, o seu cogitatum nela mesma” (HUSSERL, 2010).
Husserl e seu professor Franz Brentano recuperaram a categoria de intencionalidade de Tomas de Aquino para o qual o exterior na natureza (esse naturale) é como as coisas existem, as formas sendo distinto de existir no pensamento (esse intentionale), apoia dessa forma o modo da existência, no qual as coisas existentes no intelecto (in intellectu) como “coisas pensadas”, porém Husserl retira da intencionalidade a base empírica e a objetividade imanente.
Mostramos no post anterior esta separação entre Filosofia da Natureza e Filosofia do Espírito como divergente e até opostas, ao admite que de certa forma há na consciência alguma forma de consciência de algo é base para a fenomenologia e depois na ontologia e no existencialismo, há na consciência uma forma definida e transcendental do que é externo, porém parte da intencionalidade da consciência.
O transcendente está presente na mente (ou na alma) através da intencionalidade, enquanto o transcendental é de ordem superior e só se torna conhecimento se pode ser compreendido dentro do mistério transcendental da existência, ou retornamos ao nada.
HUSSEL, E. Meditações Cartesianas. Conferencias de Paris. Phainomenon –Clássicos de Fenomenologia . Portugal. CFUO: 2010.
Controvérsias da ascese espiritual e filosófica
Para negar a ascese recorre-se a ideia que ela estaria impregnada da “exegese cristã” entretanto a própria literatura mostra que isto é uma contradição, pois tanto a filosofia idealista tenta refazer uma visão daquilo que é o espiritual na “Fenomenologia do Espírito” como também mais modernamente Foucault ( ) vai dizer que os gregos na época helenística e romana estariam longe de compreender o termo que denominamos de ascese. “Nossa noção de ascese é, aliás, mais ou menos modelada e impregnada pela concepção cristã”. (FOUCAULT, 2004, p. 399).
No dicionário hegeliano de Michel Inwood encontramos o conceito de Espírito (geist): “Geist inclui os aspectos mais intelectuais da psique, desde a intuição até o pensamento e a vontade, mas excluindo e contrastando com a alma, o sentimento etc.”, porém o Espirito no uso hegeliano tem um sentido ao mesmo tempo semelhante e diverso do usado no cotidiano (no sentido da alma) e na filosofia, uma vez que ali também há um sentido “trinitário”.
Como em toda filosofia idealista, Hegel é um pós-kantiano é bom que se diga, há uma busca de superação da dualidade sujeito e objeto, para Hegel ela se encontra no Espírito Absoluto, dito de forma a propiciar um encontro entre o sujeito e o objeto, formando uma identidade que se dá no interior da relação mútua entre subjetividade e objetividade.
Enquanto em Kant a transcendência é aquilo que faz o Sujeito ir até o objeto, em Hegel é o Absoluto que marca um encontro entre o sujeito e o objeto, formando uma identidade que se dá no interior da relação mútua entre subjetividade e objetividade, mas em ambos não há na transcendência um Ser.
É importante entender esta relação porque nela se realiza aquilo que Hegel trata como atividade intelectual essencial, para a apreensão intelectiva tanto acerca do objeto (que é justamente o momento da alienação como “saída-de-Si”) quanto do próprio sujeito (o retorno à subjetividade após a experiência com o objeto, isto é, o Outro como ele vê), assim diferente da ontologia de Husserl, Heidegger e outros, que vê nisto uma relação ontológica com o Ser.
Para isto deve se penetrar nas categorias hegelianas: em-si, de-si e para-si, ditas na Filosofia do Direito como: “Com efeito, o em-si é a consciência, mas ela é igualmente aquilo para o qual é um Outro (o em-si): é para consciência que o em-si do objeto e seu ser-para-um-outro são o mesmo. O Eu é o conteúdo da relação e a relação mesma; defronta um Outro e ao mesmo tempo o ultrapassa; e este Outro, para ele, é apenas ele próprio” (HEGEL, 2003);
Muitos filósofos contemporâneos vão ver o Outro, como algo além do Eu, e uma para-si algo além do Eu e do Outro, um “para” de além de.
Ainda que haja controvérsias tanto no idealismo Hegeliano, quanto na sua concepção dialética “trinitária”, é importante notar que para ele os membros de uma comunidade devem sempre entre os princípios sempre ter aquele que “tem objetividade, verdade e moralidade” (HEGEL, 2003, §258).
FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito. Tradução Márcio Alves da Fonseca; Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
HEGEL, G.W.F. Princípios da Filosofia do Direito. Tradução: Orlando Vitorino. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
INWOOD, M. J. Hegel. Dicionário Hegel. Tradução: Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.
A ascese como elevação humana e espiritual
Não é específica de uma religião e também está definida na filosofia, do grego áskesis, “exercício espiritual”, derivado de ἀσκέω, “exercitar”, consiste em uma prática ou mais práticas que propiciam o desenvolvimento espiritual, a simples ideia de renúncia ao prazer ou as necessidades primárias, deve ser vista dentro de contextos ou períodos determinados, portanto não é normal geral e também seu contrário não significa apenas pecar, mas se deteriorar, enfraquecer ao deixar de fazer determinados exercícios.
Peter Sloterdijk, um agnóstico, fala desta ascese despiritualizada, no sentido que somos uma sociedade de exercícios, mas que eles não propiciam nem uma elevação humana nem espiritual, um claro exemplo disto é o número de academias que crescem no país e em muitos lugares do mundo, outro exemplo são as demonstrações de virilidade como uma elevação humana, claro é importante cuidar da saúde, mas algumas vezes excesso de exercícios e remédios fazem o contrário.
Do ponto de vista humano o que experimentamos é uma decadência que vai da moral ao religioso, assuntos tão claros até recentemente, hoje são vistos como tendo controvérsias quase absurdas a ponto do imoral ser considerado “normal” e “humano” e o religioso ser identificado com atrocidades.
A série crise humanitária não poderia deixar de atingir o econômico, não se trata das simples crises de mercados, elas estão no epicentro das guerras e das falácias econômicas, não é preciso ser economista para ver que formulas simplistas não funcionam em nenhum dos extremos: o capitalismo selvagem e o socialismo sem liberdade e sem qualidade humana.
Parece difícil reconhecer o que seria então uma verdadeira espiritualidade, mesmo havendo o princípio da ascese que significa a elevação humana nas relações sociais e na dignidade inerente a todo ser humano, no respeito a natureza e na preservação de seus benefícios, enfim no amor a vida.
Até mesmo para o conceito de paz voltamos na história, a pax romana parece ser o princípio para muitas guerras, qual seja aquela que submetia os territórios “inimigos” para declarar a paz, nem mesmo a paz eterna do idealismo contemporâneo é reivindicada, embora também tenha limitações (na foto, foto do brasileiro Felipe Dana ganhador do prémio Pulitzer).
É prenuncio de grandes tragédias, incluindo a guerra, o que se espera é que de alguma forma forças que ainda tenham um fundo humano e espiritual possam interpor esta realidade contemporânea e reverter o quadro perigoso que todos enfrentamos e poucos trabalham para sua reversão.
Visita a Roma, Contraofensiva e Prêmio Pulitzer
A semana foi toda protagonizada pela Ucrânia: visita a Roma e ao papa, avanços em Backhmut e fotos da guerra chamaram a atenção ao ganhar o prêmio Pulitzer, as fotos são chocantes e talvez digam mais que palavras, já que hoje há até retóricas incompreensíveis a favor da guerra.
No plano estratégico, não há o analista português Germano Almeida apontou: “aqui no Ocidente não temos ainda conhecimento dos planos, portanto há uma ideia ucraniana de isto é só o começo e ninguém sabe onde é que na verdade essa contraofensiva pode ser feita porque a questão de Bakhmut pode ser uma primeira manobra de diversão [despiste] e o essencial e a ofensiva em massa ser noutro local”, disse Germano.
A visita a Itália, além do apoio já declarado do país, as visitas ao presidente italiano Sérgio Mattarela e com a primeira-ministra Giorgia Meloni, também participou de um talk show da TV italiana, sobre o papa tudo que se sabe é de um acordo humanitário a refugiados.
As imagens que ganharam o prêmio têm também a de um brasileiro na lista: o carioca Felipe Dana que filmou e fotografou cenas de Bucha, a mais cruel e violento massacre feito pela Rússia na ucrânia (primeira foto abaixo), vale lembrar que também a guerra do Vietnã teve prêmios sobre os horrores lá.
Algumas imagens do prémio Pulitzer 2023 (no total foram 30) dada a vários fotógrafos da Associated Press, incluindo o brasileiro, se palavras não comovem talvez as imagens o façam.
O Outro, o Infinito e a Verdade
O desenvolvimento da questão do Ser na filosofia moderna não se separa da questão religiosa, Gadamer lembra o exemplo dos deuses nas obras de arte desde o mundo grego (Gadamer, 1997, p. 18),
O outro é tratado em diversos âmbitos da ontologia, tornando-se quase uma categoria essencial.
Outro ponto importante no caminho para Verdade, afirma que é preciso reconhecer: “A finitude do próprio compreender é o modo como e onde a realidade, a resistência, o absurdo, e incompreensível alcança validez.” (Gadamer, 1997, p.24), e expande esta história também para a histórica, onde vai criticar o historicismo romântico de Dilthey e ressalta que não é a-histórico.
Assim o caminho (ou o método) para a Verdade é traçado o desenvolvimento do círculo hermenêutico como um novo e revolucionário método para a Verdade, ouvir o texto (ou o Outro) e realizar uma fusão de horizontes, onde é possível ver e repensar mais claramente a Verdade.
A simples elaboração de narrativas que justifique o poder determinadas verdade não é senão uma volta a obscuridade e o oportunismo do discurso sofista moderna, agora usando como recurso os limites e as especialidades de determinadas ciências, por exemplo, o direito e a economia que vistas em seus campos restritos não são senão sofismas que se justificam mutuamente.
Ao analisar a possibilidade do fim da metafísica, Gadamer ressalta: “Se a ciência se elevar à tecnocracia total, e com isso cobrir o céu com a “noite do mundo” do “esquecimento do ser”, o nihilismo predito por Nietzsche, pode-se então ficar olhando atrás do último rebrilho do sol que se pôs […]” (GADAMER, 1997, p.27), ou seja, a ciência não está a parte desta questão.
Um humanismo verdadeiro deve olhar para o infinito, não apenas aquele que agora é visível pelo megatelescópio James Webb (que traz muitas questões também), não pode deixar de ignorar o infinito, o mistério e o fenômeno religioso.
Para os cristãos, esta verdade foi revelada humana e visivelmente em Jesus, na semana passada lembramos os discípulos dizendo “mostra-nos o Pai” (Jo 14,8), agora noutra a frente Jesus se revela mais plenamente aos que o seguem (Jo 14, 16-17): “e eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro Defensor, para que permaneça sempre convosco: o Espírito da Verdade, que o mundo não é capaz de receber, porque não o vê nem o conhece”.
Não se trata de uma Verdade arrogante, ela pode e deve dialogar com as culturas de nosso tempo.
GADAMER, H.G. Verdade e método. tradução de Flávio Paulo Meurer. – Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
A questão fundamental do método
Não poderia faltar a questão histórica, aliás antes do livro “A verdade e método”, foi uma palestra de Gadamer que deu início a esta obra, chamada de “A questão da consciência histórica”, o livro foi corrigido e traduzido para o inglês depois da publicação da obra magna, e desta versão veio a versão para o português.
Assim afirma o autor: “Pois, somente com o fracasso do historicismo ingênuo do século histórico, torna-se evidente que a contraposição que há entre a-histórico-dogmático e histórico, entre tradição e ciência histórica, entre antigo e moderno, não é absoluta.” (GADAMER, 1997, p.22).
Assim é diante desta finitude do conhecimento que se deve partir: “A finitude do próprio compreender é o modo como e onde a realidade, a resistência, o absurdo, e incompreensível alcança validez. Quem leva a sério essa finitude tem de levar a sério também a realidade da história” (Gadamer, 1997, p.24), e a partir daí retoma e reorganiza o círculo hermenêutico.
Assim o que chama de história efeitual parte da compreensão do “que torna tão decisiva a experiência do tu para toda autocompreensão” (idem), será a partir daí que vai elaborar sua hermenêutica filosófica, que parece paradoxal afirma: “justamente a crítica de Heidegger ao questionamento transcendental e seu pensamento da “virada” (Kehre) serve de fundamento ao desenvolvimento do problema hermenêutico universal, que eu empreendo” (Gadamer, 1997, p.25), e assim para ele “a linguagem não surge na consciência de quem fala” e não tem nada a ver com a subjetividade, pois a experiência do sujeito não tem nada de “místico” ou de “mistificador”.
Esclarece que sua metodologia está além de uma visão puramente metafísica, e diz sobre o método do idealismo: “acho que a Crítica da razão pura, de Kant, é vinculante, e que as proposições que nada mais fazem do que acrescentar, pelo pensamento, e de modo dialético, o infinito ao finito, o ente em si ao que é experimentado humanamente, o eterno ao temporal, considero-as como meras determinações extremas, das quais, pela força da filosofia, não se poderá desenvolver nenhum conhecimento próprio.” (GADAMER, 1997, p.26).
Com relação a metafísica, esclarece que mesmo a tradição hegeliana, que não abandona a ideia do infinito, tem: “a tradição da metafísica e especialmente a sua última grande formulação, a dialética especulativa de Hegel, contém uma proximidade constante.” (idem).
E retoma a questão heideggeriana do esquecimento do ser: “O que significa o fim da metafísica, enquanto ciência? O que significa seu finalizar em ciência? Se a ciência se elevar à tecnocracia total, e com isso cobrir o céu com a “noite do mundo” do “esquecimento do ser”, o nihilismo predito por Nietzsche, pode-se então ficar olhando atrás do último rebrilho do sol que se pôs […]” (GADAMER, 1997, p.27).
A abertura ao Outro, abre uma perspectiva de fusão dos horizonte de encontro do Ser, que aplica novo sentido ao texto (ou discurso) e permite interrogar-se sobre a verdade e alcança-la, eis o círculo hermenêutico.
GADAMER, H.G. Verdade e método. tradução de Flávio Paulo Meurer. – Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
A verdade e a hermenêutica
Foi Hans-Georg Gadamer que desenvolveu e fundamentou um critério mais profundo para fazer uma correta interpretação de método e verdade (o nome do seu livro em dois volumes) nas ciências humanas, e não se trata de opor as ciências naturais , mas dar às ciências sociais uma alma e um “espírito”, mesmo aquele compreendido estritamente no pensamento não religioso, porém que busque de fato a verdade e não o silogismo, a pura lógica ou até mesmo o sofisma.
Esclarece Gadamer logo no início de sua obra magna: “O fato de eu ter-me servido da expressão “hermenêutica”, pesando-lhe às costas uma velha tradição, conduziu certamente a mal-entendidos” (GADAMER, 1997, p. 14).
Para retornar a questão das ciências naturais, esclarece o autor o mal-entendido “a famosa distinção kantiana da questio júris e da questio facti” (Gadamer, 1997, . 16), não se tratava de um tribunal da razão e sim “.Ele colocou uma questão filosófica, quer dizer, ele perguntou pelas condições de nosso conhecimento, através das quais torna-se possível a ciência moderna, e qual o alcance da ciência” (idem).
Assim seu comportamento filosófico em resposta a questão: “o que é conhecimento” foi desenvolvendo a análise temporal da existência: “que Heidegger desenvolveu, penso eu, mostrou de maneira convincente que a compreensão não é um modo de ser, entre outros modos de comportamento do sujeito, mas o modo de ser da própria pré-sença (Dasein)” (ibidem).
Antes de entrar na questão da história, ele vai buscar suas origens ao afirmar: “Porém, onde separa-se propriamente mundo e mundo posterior? Como a significância vital do originário passa para a experiência reflexiva da significância da formação?” (GADAMER, 1997, p. 17).
Não seara o humanismo do fenômeno religioso: “Dever-se-ia reconhecer e admitir que uma antiga imagem de deuses, por exemplo, que não foi representada no templo como obra de arte para um desfrute estético da reflexão, e que hoje tem a sua representação no museu moderno, contém em si o universo da experiência religiosa.” (GADAMER, 1997, p. 18)
Assim antes de refletir sobre a história, Gadamer refletirá sobre a arte, e não cai no dualismo do subjetivismo, expõe sua convicção que: “Assim, ninguém convencer-me-á, objetando-me que a reprodução de uma obra de arte musical é interpretação em um sentido diferente do que, por exemplo, a realização da compreensão na leitura de uma poesia ou na observação de uma imagem.” (GADAMER, 1997, p. 19).
A experiência artística em seu “método” e “verdade” não é exclusiva, porém é a que permite maior amplitude em sua concepção do que realmente nos leva ao “método” que encaminhe a “verdade”.
GADAMER, H.G. Verdade e método. tradução de Flávio Paulo Meurer. – Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
A ausência de Areté
As virtudes e formação educacionais gregas, através da paideia referia-se a formação total do homem grego, assim a Areté era este cume (traduzido como ideal, porém o ideal moderno refere- se mais ao dualismo subjetivo x objetivo do que ao Eidos grego, que está mais ligada a ter visão, dar-se-a-ver a realidade).
Assim estão visão total (para a época, mas menos segmentada que hoje), indicava um homem cidadão da polis com atributos virtuais (este é o verdadeiro sentido, vindo de virtus), que o colocavam em conjunto harmônico com as cidades-estados e seus estatutos.
Tanto na cultura, como principalmente na política de hoje, estes atributos estão pouco em falta, trata-se mais de construir uma narrativa que justifique todo poder brutal sobre o cidadão, assim as leis são feitas de modo a proteger a oligarquia no poder, é verdade também que na época dos gregos os que eram cidadãos eram limitados aos homens livres (haviam escravos) apenas.
O agravamento da bipolarização, onde não é possível a convivência tem uma vertente perigosa para os autoritarismos exclusivistas onde uma parte da sociedade deve ser segregada.
A areté está em falta, assim é impossível pensar em estadistas, líderes que pensem no conjunto da sociedade, porque sua cultura e conceitos estão fundamentados naquela parte que pertecem e arrogam em dizer que seu modelo é universal justificando assim sua barbárie.
Já na leitura dos históricos livros “Ilíada” e “Odisséia” registramos este ideal de areté como força, destreza e heroísmo dos guerreiros, qualidades que eram incomuns aos homens daquele tempo, assim é fato que na origem serviam também ao propósito da guerra.
Porem uma areté moderna que nos levasse a honestidade, ao espirito de diálogo, não a hipocrisia de falar apenas com os que nos convém, poderia nos levar a um novo eidos civilizatório.
Uma cultura que não ignore a história e o que há de bom e de lição através dela, uma visão da polis que ultrapasse o egoísmo partidário e o jogo de interesses, uma política que pudesse “ver”.
A cegueira mundana leva mais e mais o processo civilizatório ao colapso, a barbárie e ao ódio.
Somente uma areté moderna que leve os homens a uma cultura de paz, reverterá o processo civilizatório ao bem comum.
A guerra e o pão nosso
Como uma das maiores produtoras de grãos, a Ucrânia em guerra certamente afetaria o mercado, e demorou mas aconteceu, a bolsa de Chicago registrou na última semana um avanço no preço do trigo, e logo chegará ao mercado e no nosso pão de cada dia.
Um produto em alta pode arrastar outros produtos (como é o caso do milho, por exemplo), os países mais avançados pareciam já saber disto e tomaram medidas preventivas: China, Rússia e EUA já vem reforçando estoque e tomando medida de proteção, no nosso caso confiamos na agroindústria, mas não podemos esquecer que somos parte de um comércio global.
E se a guerra terminasse, traçamos um quadro na semana passada da contraofensiva ucraniana e da expectativa russa, que espera nova ofensiva no Norte, como foi na retomada de Kharkiv no ano passado, porém agora parece que o cenário será diferente.
A guerra cresceu em tecnologia, a Rússia tem bloqueado com frequência foguetes móveis fabricados nos EUA na Ucrânia (segundo a CNN), enquanto a Ucrânia interceptou o sofisticado míssil hipersônico russo (segundo o G1).
tem bloqueado os sistemas de foguetes móveis fabricados nos EUA na Ucrânia com mais frequência nos últimos meses,
No Norte onde estão as novas repúblicas de Donesk, sendo conta o analista Niklas Masuhr do Center for Security Studies da Escola Politécnica Federal de Zurique, a Rússia ergueu trincheiras na região, para evitar as ações ucranianas que são sempre improváveis e trocam com facilidade de lugares pois conhecem o terreno (site uol).
Porém os ataques podem acontecer ao sul, apesar de serem pequenos vilarejos em volta de Odessa, como Lazurne (3.800 habitantes), Zalisniy Port (1.500 habitantes) e Krasne (1.300) cidades praieiras e a estratégia Zaporizhzhya.
A tática ucraniana tem sido sempre a de surpreender o exército russo e mudar de estratégia onde encontra menos resistência, boa parte do exército russo foi retirado da Criméia que é próxima a esta região via Mar Negro, o comércio de grãos já olha este cenário.
A semana que se inicia dirá qual a estratégia e tática de cada lado, infelizmente a guerra prossegue e o prejuízo a toda humanidade começará a chegar a mesa de todos, e dos mais pobres em especial.