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Ser imanente e transcendente
Estes conceitos da filosofia são difíceis de entender se não o colocamos no dia a dia, de modo bastante supercial pensemos assim: o que temos interiormente e nos define como seu “eu” é interno e imanente a mim, o que tenho externo e define como o além de mim é “transcendente”, o Outro e ara aqueles que tem alguma crença o Divino.
Claro que não é bem assim estes conceitos, o imanente é aqui que está inseparavelmente presente em um ser ou objeto na natureza, é inseparável dele e não pode o ser não pode ser pensando sem ele, para o kantismo, diz respeito a conceito e preceitos de teor cognitivo.
Já o transcendente, é aquilo que transcende a natureza física do ser e das coisas, corroborando com o imanente do kantismo, esta corrente o define como aquilo que é presente no objeto e fora do sujeito, algo que lhe é externo e só pode ser conhecido pela “transcendência”, veja o aspecto cognitivo novamente presente.
Retomando o post anterior, as categorias em-si, de-si e para-si podem e estão presentes neste tipo de imanência/transcendência com base idealista (Kant e posteriormente Hegel), que afirma “de início, a consciência-de-si é puro para-si”, assim ela é independência absoluta, afirma que sua transcendência em relação a tudo o que é para-Outro, assim o ser fica preso a este binário Sem-em-si e para-si, conforme vai detectar Sartre em sua obra “O ser e o nada”.
Assim não há um alter, não há o Outro puramente fora e além do ser-em-si, este para no sentido do grego pará (como paramédico, parâmetro, etc.) mas um retorno ao em-si, assim a consciência de si está ligada ao ego e não a nenhuma possibilidade cosmológica ou divina.
Afirma Hegel: “A consciência-de-si é em si e para si quando e porque é em si e para si para uma Outra; quer dizer, só é como algo reconhecido. (…)” (HEGEL, 1992, p. 126)
Entretanto é possível definir uma relação entre imanência e transcendência sem dualismos, assim o ser-em-si aquele que se define internamente e com suas propriedades, pode ter uma relação com tudo que está fora, os objetos e o Outro (que é em sentido plural).
Há uma transcendência fora, que está além o conhecimento, que se pode ter através do uso da linguagem, das relações humanas e da intuição contemplativa, é o Ser-para-si que completa e define o ser-em-si (dá a ele uma identidade transcendente), estabelece uma relação de-si com a natureza e com o Outro e encontra na contemplação divina um Ser para-si que é um origem de tudo e além da ex-sistencia (ex – fora, sistencia – forte, eterno), que é essência ara as definições anteriores, pois é puro Ser.
HEGEL, G.W.F. Fenomenologia do Espírito. Petrópolis: Vozes, 1992.
O Ser, o Nada e o Outro
Completam 80 anos, em 2023, a publicação de o Ser e o Nada: ensaio de ontologia fenomenológica (1943) de Jean Paul Sartre (1905-1980), sob forte influencia de O Ser e o Tempo de Martin Heidegger, vai trilhar um caminho diferente de outros existencialistas que veem no Outro um significado especial que Sartre não vê.
Não por acaso dizia “O inferno são os outros!”, Sartre via diante da consciência humana uma “condenação” à liberdade, assim vê na consciência uma definição autocêntrica: “O homem não é nada além do que faz de si mesmo”.
É de tal forma autocentrado que seu romance com Simone de Beauvoir (1908-1986), após o falecimento de Sartre ela escreveu “A Cerimônia do Adeus”, em 1981, e quando morreu foi enterrada no mesmo túmulo de Sartre, no Cemitério de Montparnasse, jamais viveram-na mesma casa, ela que no seu tem o já bradava temas feministas (O segundo sexo, de 1949) e ele na sua concepção autocêntrica.
Eles sempre liam os trabalhos um do outro, e a influencia existencialista é clara em O Ser e o Nada, de Sartre, e A Convidada, de De Beauvoir, porém estudiosos recentes mostram que a escritora tem outras influências além de Sartre, como Hegel e Leibniz.
É importante nas categorias tratadas também por Sartre, analisar o em-si, de-si e para-si de Hegel.
A análise De Beauvoir sobre o Outro, vem desta influência de Hegel, onde a construção social da mulher como uma quintessência de “Outro”, indica que o “O” maiúsculo de Outros indica “todos os outros”, e isto indica tanto as mulheres, como Outro em outras religiões, culturas e etnias.
Em função desta posição distinta sobre o Outro (o seu inferno), e um agnóstico por excelência, Sartre vai dizer que no caso humano (e só no caso humano) a existência precede a essência, assim o homem primeiro existe e depois se define, assim se não há predefinição humana, não há Deus.
Ao menos um Outro sempre esteve presente na sua vida, a companheira e também filósofa Simone de Beauvoir, que não por acaso, não deixou de tratar diretamente o tema.
SARTRE, Jean-Paul. O Ser e o Nada: ensaio de ontologia fenomenológica. Tradução de aulo Perdigão. 13ª. Edição. Petrópolis: Vozes, 2005.
Contraofensiva da Ucrânia e a paz
Na quarta-feira assada Volodimir Zelenksy da Ucrânia falou com o presidente da China Xi Jinping e algumas negociações para a paz parecem ter avançado.
Em seu twitter Zelensky afirmou: “Acredito que esse telefonema, assim como a indicação do embaixador da Ucrânia na China, dará um ímpeto poderoso ao desenvolvimento de nossas relações bilaterais.”
A narrativa de país pacificador entra em contradição com as declarações controversas de seu embaixador na França, Lu Shaye, também as forças de esquerda no exterior começam a mostrar um posicionamento pró-Putin, como uma motociata feita na Alemanha neste sentido.
Por outro lado, no campo de batalha, a contraofensiva prometida ela Ucrânia começou, diversas posições russas foram atingidas, em territórios conquistados, na Criméia e inclusive algumas vilas russas, a Rússia esperava uma ofensiva na Criméia ou no Donbass onde suas tropas enfrentaram batalhas sangrentas nas últimas semanas, como a de Soledar e Bakhmut (ver no mapa em azul as reconquistar ucranianas em vermelho a invasão russa).
Em setembro do ano passado enquanto a Ucrânia ameaçava ataques ao sul, fazendo a Rússia deslocar forças para lá, acabou atacando ao norte, onde o exército russo teve enormes perdas.
A Rússia retirou a maior arte de seu arsenal militar da Criméia, entretanto uma base de abastecimento de combustível foi atingida nesta nova contraofensiva ucraniana, assim indica que espera ataques ao norte.
O impasse de forças na região do Donbass pode indicar a verdadeira fonte de conflito neste momento, e o lugar onde a Ucrânia pretende concentrar sua contraofensiva, desta vez a Rússia parece esperar porque já deslocou as tropas da Criméia, mesmo tendo a explosão do depósito de combustíveis por drones no final de semana.
O grave desta situação é que adia qualquer possibilidade de paz, os dois lados esperam ter territórios garantidos antes de qualquer rodada de negociação.
Corações que contemplam, amam
Apesar de escrever romances amorosos no sentido sentimental romântico, a primeira olha que folheei de Nicholas Sparks, que faz muito sucesso com o público americano, tendo traduções de seus livros em mais de 50 línguas, o primeiro contato foi por interesse pelo tema.
Trata-se de Corações em Silêncio, de 2016 da editora Asa, conta a história de Taylor McAden, bombeiro voluntário que na vida pessoal apesar de amores intensos, são de pouca duração e não gosta de assumir riscos.
Numa situação inusitada ele precisa ajudar a encontrar um garoto quando o carro de Denise Holton despista, Taylor a salva e dali nasce mais uma rápida relação, porém outra situação terrível ocorre, depois de recuperar os sentidos pergunta por seu filho que tem dificuldade de aprendizagem e estava no carro com ela.
Uma busca se inicia e Taylor se vê diante de uma situação que realmente tem que amar.
Não há como fazer contemplação ou meditação sem silêncio, não só do ambiente como também da alma, de nossos valores e pré-conceitos estabelecidos.
Silêncio, meditação, contemplação muitas vezes são causadas por situações inesperadas mais de dor do que de amor, mas também de amor, nestas situações temos que tomar alguma decisão corajosa diante da vida, dos compromissos e da relação com o Outro.
O silêncio e a descoberta de um valor verdadeiro do amor o levou a uma ação além daquela que poderia justificar a Taylor como seu “trabalho”, ainda que fosse um trabalho voluntário.
A passagem bíblica que pode inspirar esta meditação e contemplação é aquela que os discípulos que iam para o vilarejo de Emaús e “escutam” Jesus, que só depois vão entender que era o mestre e pedem a Ele (Lc 24,29 ): “Fique conosco, pois a noite já vem; o dia já está quase findando”. Então, ele entrou para ficar com eles”.
A noite é simbólica no sentido de momentos escuros e difíceis de nossa vida, que exigem meditação, silêncio para poder escutar “aquela voz” da sabedoria e do bom senso.
SPARKS, Nicholas. The Rescue. New York: Warner, 2000. (versão brasileira Editora Asa, 2016).
Duas utopias em conflito
Não há espaço para a poesia, para o encanto, para a contemplação, a sociedade da eficiência e da performance transforma o pensamento em sentidos sensuais, comerciais e lucrativos, puro viver num egocentrismo ineficiente e vazio, o Ser se esvazia e busca desesperadamente o aroma e o gosto onde não só há um nada para ser plenificado.
Não há espaço até mesmo para o deificado pensamento, frases soltas arrancam suspiros, “a vaca não dá leite” diz um bom filósofo brasileiro, mas o que é o trabalho e dá sentido ao trabalhar para produzir um leite (veja Arendt no post anterior), que é modificado que e chega alterado nas prateleiras, e atualmente muito caro.
Outro pede professores e diz que “ser louco é a única possibilidade de ser sadio nesse mundo doente”, mas que de qual doença fala, se não houveram pessoas sãs e serenas em quem as pessoas simples podem se inspirar, é preciso ser são para poder falar do saudável e do louvável.
Não há ética sem seres éticos, é verdade que as grandes metanarrativas falharam, mas a polarização obriga os novos sofistas a se justificarem nas narrativas vencidas e datadas historicamente, nenhuma delas foi capaz de evitar a guerra, e qual ciência é capaz de evitá-la?
Li uma frase de Morin, e já postei aqui que a ideia de paz exige uma certa utopia, em entrevista no ano 2000 à Rede Cultura (abaixo), ele fala de duas utopias: uma negativa que promete um mundo perfeito, em que todos se reconciliam e há uma perfeita harmonia, esse é impossível (e diria mentiroso) e a outra a positiva é realizar o mundo mais perfeito, não é “O admirável mundo novo” de Aldous Huxley (não por acaso, o chatGTP escolheu com um dos 10 maiores filmes), ela diz algo é impossível porém pode se realizar: um mundo de paz e um mundo sem fome, são realizáveis.
Sem liberdade e fraternidade a utopia humana não se realiza, autoritarismo é utopia negativa.
Tentar reduzir as desigualdades, aumentar a tolerância entre culturas diferentes, respeitar direitos dos povos, raças e gêneros, o que falta afirma Edgar Morin, é aumentar “o estado da consciência e do pensamento que permita a realização”
Sabe que existem forças extremamente negativas que ao ajudar um país que sofre de inanição a ajuda é desviada pela burocracia e pela corrução, ele explica que a fraternidade deve vir dos cidadãos e diria que a vigilância também, se justificamos a corrupção e a burocracia não ajudamos a resolver problemas essenciais a vida humana.
Há soluções utópicas possíveis, conforme afirma Morin que as chama de positivas.
Sem tempo para Ser
Nem a pandemia, nem o Home Office, nem as séries intrigantes (pessoalmente ainda prefiro sair e ir ao cinema) tornaram os homens mais calmos, mais serenos e felizes, tudo precisa ser acelerado.
O “Aroma do Tempo: um ensaio filosófico sobre a Arte da Demora” (2016) não é senão uma contraposição a este estigma destrutivo de nosso tempo que culmina em desejos de exclusão do Outro, de ódio e violências sem fronteiras enfim de guerra cada vez mais cruel num horizonte sombrio, não há tempo para ser, apenas para Ter, Saciar o mais simples entretenimento, não só os games.
O ensaio publicado originalmente na Alemanha em 2007, Byung-Chul atualiza o que não apenas uma aceleração do temo como também uma crise temporal assentada numa dissincronia não só da realidade num sentido mais nobre e poético, cuja descontinuidade leva a algo sem rumo, ordem e impossibilidade uma síntese ou conclusão que permita perdurar em um “aroma” as nossas vidas, como deve ser entendida sua “demora”.
Cita e analisa “Marcel Proust “Em busca do tempo perdido” (1913) o que ele chama de “cristal temporal” o sua visão do tempo aromático: “horas silenciosas, sonoras, fragrantes e límpidas” (em HAN, 2016, p. 59).
Vive-se um temo de angústia temporal, parece que o tempo gasto escoa elos dedos e se perde.
Aquilo que é substancial e essencial em nossas vidas, essência e substância são as principais formas de dissincronia do nosso ser, são remetidas ou a um delírio angelical (falsa essência) ou a uma forma física escultural, decorativa e irreal (falsa substância).
Como deduz Byung-Chul: “pressupõe que a existência é histórica, que cada um de nós tem uma trajetória. O aroma é o da imanência” (HAN, 2016, p. 59).
Na filosofia e na prática a imanência é algo que tem um fim em si próprio, ao contrário da transcendência que algo ou um fim fora e superior a si próprio.
Tal é o nosso “aroma” perdido do tempo, contemplar te vivenciar o Ser-no-tempo como tendo um fim além, como finaliza e conclui em seu ensaio Byung-Chul a correção necessária: “uma ampla medida de fortalecimento do elemento contemplativo” (Han, 2016, p. 186).
HAN, Byung-Chul. O aroma do tempo: um ensaio filosófico sobre a Arte da Demora. trad. Miguel Serras Pereira, Lisboa: Relógio d´Água, 2016.
A Guerra e suas consequências
Já enfatizamos aqui, dando contornos de uma crise (anteriores a guerra) que esta se inicia numa forma de pensar o mundo e consequentemente a economia, a política e a sociedade como um todo, assim não se trata deste ou daquele mundo, mas de todos mundos em conjunto.
A econômica não está separada deles, no entanto é a mais sensível e a que mais é pensada em termos da imprensa e das mídias.
Os oligarcas da Rússia, aqueles que não migraram ou foram mortos em situações estranhas, lembro das notícias de Sergey Protosenya, encontrado enforcado na Espanha e Pavel Antov que caiu do terceiro andar de um prédio na Índia, oligarcas lá em geral não criticam o governo.
Entretanto em reunião do Fórum Econômico de Krasnoyarsk, em março na Sibéria, Oleg Deriaska declarou que a econômica ode aguentar pouco mais de um ano e que depois haverão muitas quebras, no Ocidente não é diferente, a economia Europeia e a americana já sentem os reflexos, como líderes mundiais dos países capitalistas, toda economia deve enfrentar sérios problemas.
A Departamento de Defesa americano, acaba de pedir um orçamento de 842 bilhões de dólares, aumentando os já altos 816 bilhões do ano anterior, que significa um aumento de 3,2% e uma perspectiva de guerra ainda maior no horizonte deste ano, e a economia já acusa sérios danos.
A tentativa de formar um terceiro bloco, do qual o Brasil é um dos protagonistas e Makron da França tenta ser outro, é um fogo cruzado, já que os dois lados querem adesões unilaterais, há analistas, como Rodrigo Ianhez, que afirma que os russos têm uma leitura da posição brasileira que é “superestimada” para uma posição bilateral, a China ao contrário é claramente unilateral.
Não há inocentes nestes fatos, isto é a ação política de nossos dias, confundir ou até distorcer os fatos, uma imprensa realmente séria, arte dela é chamada de imprensa investigativa, por ser independente, procura fazer este trabalho, mas até ali as vezes se encontram notícias suspeitas.
Ninguém é apolítico é claro, porém é preciso encarar a verdade através dos fatos que ela revela.
Se analisarmos as consequências de uma guerra, no aspecto econômico que gera mais pobreza e fome e os mais frágeis são os mais atingidos, começamos a ter uma posição séria diante da verdade.
Olhar as coisas do alto
Não são necessários milagres ou profecias para entendermos que mesmo nas realidades mais terrenas há coisas do alto, e elas respondem as realidades mais terrenas, sem elas não encontramos saídas e caminhos para uma vida plena, feliz e pacífica. É mais difícil pensar assim, mas é mais seguro.
Sem valores éticos, morais e responsáveis encontrar caminhos seguros para sair de conflitos, situações de insegurança ou de injustiça é quase impossível, pois um erro não corrige outro erro, e somente uma ação de amor e solidariedade resolve um conflito de ódio e divisão.
De divisão em divisão, de ódio em ódio, caminhamos num olhar apenas terreno sobre nossas dificuldades, não significa que devemos tirar o pé do chão e termos racionalidades nas decisões, significa que sem serenidade e atitudes sérias e proativas apenas pioramos o que está errado.
É comum mesmo em pessoas de boa vontade apelar para a violência e a força, ainda que o lado da justiça e da solidariedade seja o lado certo, agir com imprudência e crueldade tira o valor deste ato de força, o maior ato de força responsabilidade é agir com firmeza, educação e verdade.
Se estamos atribulados, ansiosos e sem equilíbrio não conseguimos encontrar o caminho da sabedoria, ouvir aquela voz interior do bom senso, da clareza e da verdade.
Também serve assim como para questões de justiça e direito para os verdadeiros valores culturais e religiosos, o uso do autoritarismo, que significa neste contexto falsa autoridade que muitos querem ter diante do cargo ou posição que possuem cometem o erro do argumento de autoridade e caem na armadilha fácil do poder em excesso.
Querem estar imbuídos de uma aureola de bondade quanto se investem contra as pessoas simples porém a graça de elevar os corações a valores do alto e retirar da situação difícil não é alcançada.
Para os cristãos uma das passagens mais significativas após a pascoa de Jesus que rememoramos a pouco na cultura cristã, é o episódio de Emaús em que enquanto Jesus caminhava entre eles e não percebiam, ainda ruminavam a morte violenta do Mestre, mas estavam cegos e não entenderam direito a vitória daquele que crucificaram.
Jesus pergunta: “o que ides conversando pelo caminho?” Eles pararam, com o rosto triste, e um deles, chamado Cléofas, lhe disse: “Tu és o único peregrino em Jerusalém que não sabe o que lá aconteceu nestes últimos dias ?” (Lucas, 24, 15-18) e deram sua versão terrena da pascoa.
E Jesus (ainda sem ser reconhecido) como explicar o sentido, já revisto elos profetas: “Será que o Cristo não devia sofrer tudo isso para entrar na sua glória?” (Lucas 24,26).
Aos poucos os corações deles foram se aquecendo e ao final entendem que estavam caminhando com o Mestre e depois pedem que fiquem com ele pois a noite chegava, mas Jesus desapareceu.
Não é preciso ter esta visão ou mesmo ter esta fé, é preciso escutar a voz do alto, dos valores sãos.
A frieza: da essência para a aparência
Empatia, paciência, amor verdadeiro e sentimentos verdadeiros parecem distantes, corpos enfeitados, maquiados e tatuados, mentes distantes e frias, vazias e de pouca ideias inspiradas.
Li no livro “A menina que roubava livros” (The book Thief, 2005): “talvez esse seja um castigo justo para aqueles que não possuem coração: só perceber isso quando não pode mais voltar atrás”, é uma frase dura, porém foi importante para analisar o meu contexto social, pessoal e de amizades.
Minha inspiração para ler, escrever e procurar dentro de instituições, ambientes e mídias sociais algo inteligente, inspirado e doce, produtivo onde possa encontrar caminhos diferentes do que vejo e sinto a minha volta, me fez entender e admirar o livro de Markus Zusak, pelo menos que lembro da edição de 2013, ela procurava um refúgio, um escape para a situação contextual.
Me pergunto se esta situação sobre a tensão de uma possível guerra em larga escala é diferente, vejo muita hipocrisia e manipulações no ar, enquanto inocentes morrem numa guerra estúpida, outros se preparam para um confronto ainda maior que aos poucos se espalha por todo globo.
Lembro de uma passagem bíblica (Tessalonicenses 1,5:3) quando disserem: “Há paz e segurança, então lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores de parto àquela que está grávida, e de modo nenhum escaparão”, mas para os apressados lembro que está escrito que isto não significará o fim.
Faltam esforços sinceros pela paz, espíritos armados não podem promover paz alguma, querem aliados para seu poder temporal, falta uma mensagem atemporal, além os interesses imediatos.
Assim caminham os corações, e já chegaram as escolas e ao cotidiano da vida mais simples e fugaz via uma dona de casa de uma cidade pequena exaltada no supermercado falando contra aquele tal político que pôs tudo a perder e uma criança que chorava por uma situação política que nem bem entendia.
Não se apaga fogo com gasolina, diz a sabedoria popular, porém a poesia não está mais no ar, não há canções que falam de amor puro, só interesses imediatos de pulsão erótica, numa sociedade que na verdade vive “A agonia do Eros”, um livro profundo de Byung Chul Han.
Não é determinada cantora popular que fala contra o ensino e a boa educação, a sociedade ecoa estes hinos e quase não há como fazer sucesso sem apelos emocionais e passionais fora do tom.
O desmanche da visão humana como Ser e sua transformação na visão utilitária do Ter teve uma origem histórica no pensamento ocidental e agora penetra e tenta destruir o seu significado.
ZUSAK, Markus. A menina que roubava livros. Trad. Vera Ribeiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2010.
Por uma filosofia do olhar
Ela já existe, até procurei as raízes e não encontrei e é aí que está o problema, dialogar com o que está presente na cultura, na filosofia e na arte sobre o que é o olhar e como é possível a partir daí desenvolvê-la de modo a dialogar com a cultura contemporânea.
Por exemplo, uma boa leitura de Schiller já citamos esta semana a sua “Educação estética do homem”, na arte não citei Gustav Klimt de propósito, ele tem elementos do simbolismo e toda literatura da arte reconhece, mas sua “arte nouveaux” traz algo de novo (foto sua obra o abraço).
Edgar Morin ao analisar “Cultura de massas do século XX” enfatiza os múltiplos sentidos do homem moderno:”a linguagem adaptada a esse anthropos é a audiovisual, linguagem de quatro instrumentos: imagem, som musical, palavra, escrita. Linguagem tanto mais acessível na medida em que é o envolvimento politônico de todas as linguagens” (pag. 45) e assim este olhar tanto pode se dispersar com se integrar dando a esta nova linguagem um olhar novo.
Ela não é mais específica de uma única mídia (som, imagem e objetos existem como arte desde sempre), para Morin isto é “do jogo que sobre o tecido da vida prática” (idem) e este simbolismo em Klimt é de fato uma visão integrada, mas não é específico dele, vejo-o também em Kandinsky suas obras parecem ter também música e poesia, mesmo sendo apenas quadros.
No cinema o diretor japonês Akira Kurosawa num dos quadros do filme Viver, faz a integração de pintura e cinema ao dar movimento aos quadros de Van Gogh, assim mais do que multimídia este movimentos artísticos podem ser chamados de transmídias, pelo fato de integrar aspectos da arte.
Isto reeduca e estimula o olhar, porém há o aspecto da possibilidade de dispersar o olhar, porém nada fazer mais isto do que as monomídias horizontais modernas e os “mídias” sociais não estão fora disto, assim a reeducação do olhar passa pelo estímulo de outros sentidos e do espiritual que não é aquele idealista (ver post anterior) que estão separados.
Assim apesar de ser um simbolista é justo pensar Klimt como integrante da “arte nouveaux”, já que ele ajudou a criar o Movimento de Secessão em Viena, cujo objetivo era romper as tradições conservadoras que se enraizaram na história e criar uma visão internacionalista e abrangente de gêneros artísticos contemporâneos e atemporais.
A integração em novas mídias desta visão é a apresentação no histórico Atelie des Lumiéres, em Paris de uma animação transmidiática de Vang Gogh (foto), que inaugurou uma série em 2018 justamente com a obra de Gustav Klimt também animada.
Por isto não é uma síntese de contrários, mas a fusão de horizontes artísticos em movimento, a crise atual é a visão dualista de mundo, da arte e dos valores que são atemporais.
MORIN, Edgar. Cultura de massas do século XX. trad. Maura Ribeiro Sardinha. 9ª. edição. Rio de Janeiro, Forense, 1997.