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O véu e a verdade
O filósofo Byung-Chul Han dita a sentença: “ser belo é fundamentalmente estar velado” (Han, 2016, p. 40) para depois se apoiar em Walter Benjamin que vê também a “crítica da arte uma hermenêutica do encobrimento … não tem de levantar o véu, mas antes, o que tem a fazer é elevar-se à verdadeira intuição do belo, mas somente graças a um conhecimento muito exato do belo como véu, tem de elevar-se a uma intuição que não se revelará nunca a isto que chamamos de empatia … pura do ingênuo à intuição do belo como segredo” (Idem, p. 40).
Mas Chul Han vai além: “a beleza não se comunica nem à empatia imediata nem à observação ingênua. Ambos os procedimentos tentam levantar o véu ou olhar através dele …” (idem), é por isso que embora em toda época sempre houvesse o encobrimento, somente agora com a “empatia imediata”, diria precipitada já Benjamin a reivindica, é que o belo se torna mais obscuro e com a verdade acontece o mesmo.
Chul Han vai ao texto, e usando Santo Agostinho afirma que “Deus obscurecera propositadamente as Sagradas Escrituras com metáforas, como uma ´capa de figuras´, para as tornar objeto de desejo … maximiza o prazer através do texto e torna a leitura um ato amoroso” (p. 41).
Já a leitura, o texto e as verdades em nosso tempo a objetividade tenta através do sujeito cognoscente, uso no plural porque para a ontologia a verdade é mais que sujeito é Ser e, portanto, só pode ser desvelada na relação de seres, entretanto o sujeito do idealismo “transcende” para chegar ao conhecimento do objeto, do qual só tem “percepções”.
É um sensitivismo primário, parece verdade e desvelar, no entanto, é puro discurso, não há de fato o conhecimento do objeto como coisa, reivindicara já Husserl que era preciso voltar as “coisas mesmas”, isto é, não as reificar, mas desvelá-las.
A verdade da empatia imediata é pouco elaborada, não espera a reflexão, a contemplação, vive de uma impulsividade quase doentia, as vezes doentia mesmo, embora logo se frustre diante dos fatos, chega a negar os fatos e isto assusta.
Não se trata de cegueira coletiva, mas ausência de dialogia coletiva, falta de empatia mais profunda, de relações e laços menos formais e menos superficiais, aí falta verdade e beleza.
Han, B.C. A salvação do belo. Lisboa: Relógio d´Água, 2016.
Holograma faz sucesso
De firma inesperada, uma cantora que é um holograma tridimensional, Hatsune Miku ganhou multidões para seus shows em várias cidades do Japão.
Os fãs de Hatsune, que é uma produção holográfica simulando uma garota de 16 anos, agitam seus apatatos luminosas e se agitam durante o show como se a artista fosse real.
Conforme reportagem do Daily Mail, a voz de Hatsune foi criada com amostras de voz da atriz japonesa Saki Fujita. Todas estas amostras contêm sons que, quando colocados em série, se transformam em palavras e frases.
Agora os criadores do holograma podem compor qualquer música que a “avatar” irá cantar mesmo sem muita elaboração.
Crise civilizatória e tecnologia
Não são raros os discursos de apelo ao estado forte, a líderes messiânicos e técnicas políticas já ultrapassadas, porque existem as Mídias de redes sociais na qual rapidamente um discurso pode ser dissecado, ainda que estas próprias Mídias possam ser causa de outras verdades que não aquelas que os poderes centrais desejam, chegando ao fake e ao ódio político.
Os manuais antigos de gerência politica estão sendo reabertos pelos donos do poder, de Locke, Hobbes até Maquiavel, não faltam discursos de apelo ao “soberano” prudente e habilidoso, mas a pergunta importante é: onde estão eles, ou melhor quem são eles ?
Estas receitas estão tendo eficácia, a direita ou à esquerda, justamente pelo uso ou mal uso de mecanismos de Mídias sociais, novamente como modelo de “controle das massas”, o que foi feito com Trump e tentativas na França, mas o que chama a atenção é o discurso do ódio.
Também neste campo não faltam discursos dizendo que foram as redes que potencializaram isto, porém elas não existiam no tempo de Hitler, Mussolini e nas versões da Americana Latina: Perón, Getúlio Vargas e outros, alguém poderá dizer o rádio potencializou isto, talvez, mas o essencial foi o apelo ao nacionalismo e racismo que inflamou as massas, e ele está de novo ai.
Ao desprezar, ou utilizar mal as novas mídias fazendo o mesmo discurso que estes grupos de correntes de odio e de apelos emocionais fazem, não estamos fazendo outra coisa senão dar crédito a uma visão de ódio, de intolerância e de xenofobia presente também nas Mídias convencionais: radio, TV e cinema estão ai potencializando a violência verbal e material.
A reversão disto depende de discursos que desnudem a verdade, entramos no campo que exploramos de que são tempo de encobrimento da verdade, conforme afirma Sloterdijk, e colocar luz, ir para a clareira significa desmontar a cultura esta cultura de encobrimentos.
Há corrupção, sexismo e psicologismo em abundância, discordar disto não é “politicamente correto”, não falo aqui de intolerância é obvio, que também desvelamos ao falar esta semana de Locke, Voltaire e agora também Maquiavel, cujo discurso afirma que o mesmo não pode ser: “volúvel, superficial, efeminado, pusilânime, indeciso” (MAQUIAVEL, 1996, p.109).
Há conselho n´O Princípe como fugir do ódio, manter-se firme nas adversidades, etc. o que o torna bom para leitura, mas a comunicação e as Mídias evoluíram, é preciso no mínimo atualizá-lo.
Porque a Inteligência artificial emergiu?
O longo caminho percorrido pela Inteligência Artificial inclui a construção de linguagens como Lisp, Prolog, Haskel, mas atualmente emergiram ambientes como DialogFlow, Watson e
O Final do século 20 havia uma grande crise na IA (sigla para inteligência Artificial), mas a emergência de pesquisadores em Web Semântica retomou estudo e aos poucos, assuntos como IoT (internet das Coisas), Linguagem Natural e Machine Learning (não há uma tradução, mas poderíamos dizer aprendizagem por Máquina) emergiram.
O fato que assusta alguns está ligado ao conceito que se tem de “inteligência” e de “mente”.
Esta emergência despertou as cinco maiores companhias de tecnologia do mundo : Apple, Microsoft, Google, Amazon, e Facebook, que passaram a investir em inteligentes capazes de conversar com humanos.
Agora já 28% dos consumidores nos Estados Unidos atualmente usam algum assistente virtual, esses aparelhos que integram a tecnologia IA de um assistente de voz com um produto de casa comum tem tido grande sucesso, tais como Alexa, Echo e Google Home, mas o aumento de vendas para 39% anuais foram comemorados pelas empresas.
Em empresas a preocupação com a privacidade, a operação é feita usando armazenamento em nuvens, empresas com assistentes de som usam medidas diferentes para proteger as informações pessoais de seus consumidores, mas sabem que existem falhas nessas defesas.
O áudio enviado para a Google e Amazon é criptografado antes de ser transmitido, deixando a troca de dados supostamente segura, mas a base de dados pessoas precisa ser acessada para que a máquina vá “desenvolvendo” sua capacidade de aprendizagem.
Recentemente um pesquisador inglês da área de segurança da informação demonstrou que é possível transformar um Echo fabricado antes de 2017 em um instrumento de gravação perpetua cujo áudio pode ser transmitido a um local remoto, sem que o usuário saiba.
Para se proteger de hackers, uma boa prática é acessar sua conta e apagar o histórico de interações com os serviços periodicamente, mas resta saber se não foi hackeada neste período.
Já o Siri da Apple, ao invés de associar a gravação com a conta de usuário, ele associa a coleta da interação com você com uma série de números aleatórios.
Com ou sem segurança, este mercado cresceu e as empresas estão de olho, já é irreversível.
Cinismo e verdade nua
Disse Sloterdijk sobre a forma de violência contemporânea que usa o corpo, referindo-se a tentativa de emudecer Theodor Adorno; “Não foi a violência nua que emudeceu o filósofo, mas a violência da nudez”, e isto lhe impulsionou a escrever a Critica da razão cínica.
Os comentários posteriores ao livro, Sloterdijk discorreu sobre a transformação social e o porque ela lhe estimulou ao livro, em entrevistas ao Fronteiras do Pensamento, a verdade, em uma sociedade cuja cultura é grande parte por muitas formas de encobrimentos, surge um desnudamento agressivo e involuntário.
Há nela um rastro de considerações exageradas que levam a tentativa (ele diz que é afirmativa) na fundamentação que ela possa ser totalmente verdade, a expressão usada como tentativa de salvar o “esclarecimento” e os argumentos da Teoria Crítica, os paradoxos do método salvador cuidam para que não permaneça com uma primeira impressão.
A ideia que me parecia ir do Esclarecimento ao cínico, o próprio autor afirma que a própria investigação do cinismo se transforma na fundamentação de uma ausência de ilusões, seu comentário me esclarece as inúmeras paradas e retomadas de um livro denso e instigante.
O esclarecimento diz o autor, sempre significou a desilusão no sentido positivo e, na medida que progride, tanto se torna mais próximo a um instante no qual a razão é uma afirmação.
Segundo o autor a neurose europeia concebe a felicidade como uma meta e o empenho racional como um caminho até ela, é preciso quebrar sua compulsão, é preciso dissolver o vício crítico do aprimoramento, e isso em favor do bem, do qual desviamos tão facilmente em longas marchas.
A síntese do autor sobre a atmosfera cultural de nosso tempo é uma mistura de cinismo, sexismo, “objetividade” e psicologismo formada na superestrutura do Ocidente: uma atmosfera de crepúsculo, boa para corujas e para a filosofia.
Diálogo em tempos de intolerância
Não se discutem propostas e projetos, mas procura-se calar a voz discordando pelo apelo dramático a determinados fatos ou situações, e são fáceis de serem encontrados justamente pela ira que se tomou toda a sociedade, mas sem uma conversa serena e razoável sobre temas centrais: educação, saúde e segurança, entre muitos inadiáveis.
Os tratados de Voltaire e Locke sobre a Tolerância podem ajudar muito, ainda que eles próprios tivessem suas próprias intolerâncias, o livro Cândido de Voltaire, por exemplo, é uma ironia ao pensamento de Christian Wolff (1679-1754) discípulo de Leibniz e leitor de Kant.
Voltaire que via o fundamentalismo religioso levar pessoas, grupos e até países ao radicalismo, proclamou que era necessário: “diminuir o número de maníacos”, segundo Voltaire (2015, p. 4) e uma maneira de superá-lo era “submeter essa doença do espírito ao regime da razão, que esclarece lenta, mas infalivelmente os homens. Essa razão é suave, humana, inspira a indulgência, abafa a discórdia, fortalece a virtude, torna agradável a obediência às leis, mais ainda do que a força é capaz” (idem).
O seu cinismo, Peter Sloterdijk não o aborda diretamente, mas refere-se a todo racionalismo de sua época em “Critica da Razão cínica”, escreve que Voltaire afirmou sobre os egípcios que “sempre turbulento, sedicioso e covarde, povo que havia linchado um romano por ter matado um gato, povo desprezível em quaisquer circunstâncias, não obstante o que digam dele os admiradores das pirâmides” (Voltaire, 2015, p. 59).
Voltaire não demonstra nenhum traço de generosidade, de magnanimidade, de beneficência” (Voltaire, 2015, p. 73); em obra Cartas inglesas ou Cartas filosóficas, predomina uma visão desumanizada e estereotipada dos negros que seria digna de um processo racista hoje.
A tolerância, que não significa concordância, é baseada na ideia que as relações humanas entre povos de diferentes culturas, concepções políticas e religiosas podem conviver de forma que as relações entre indivíduos e comunidades seja de respeito aos valores do Outro.
Por isso uma ética da alteridade combinada com uma visão ontológica e antropotécnica de que somos seres complexos e que a relação com os outros e com as culturas devem e podem ter diferenças, deve estar fundamentada na ideia da diversidade e não da uniformidade.
O que pensamos sobre tolerância no passado deve ser ampliado e enriquecido pela diversidade.
VOLTAIRE. Tratado sobre a tolerância. São Paulo, Folha de São Paulo, 2015.
Alem do pragmatismo racional
Na física não há mais o raciocínio causa e efeito, o puro mecanismo ainda presente no mundo contemporâneo, até mesmo entre letrados.
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Urgente: acordo contra IA letal
Jornais e revistas de todo mundo estão a dar uma notícia fundamental para o futuro do mundo e da IA, pela segunda vez mais de 150 empresas e 2.400 pessoas de 90 países diferentes assinam um acordo de não participarem da fabricação, uso e comércio de armas autônomas letais, entre eles estão incluídas a Google DeepMind, a Fundação XPRIZE e Elon Musk.
Estava a realizar a Conferencia Internacional sobre Inteligência Artificial que terminou ontem, em Estocolmo, na Suécia e o pacto de compromisso foi organizado pelo Future of Life Institute.
Há quase um ano atrás especialistas em AI (Inteligência Artificial, na sigla em inglês) e robótica assinaram uma carta aberta às Nações Unidas para suspender o uso de armas autônomas que estavam a nos ameaçar com uma “terceira revolução na guerra”.
Ressaltaram na época que “Robôs assassinos” autônomos significam armas que podem identificar, mirar e matar de forma autônoma, ou seja, nenhuma pessoa toma a decisão final de autorizar a força letal: a decisão e autorização sobre se alguém irá ou não morrer é deixado para um sistema ou algoritmo em uma máquina mortífera.
O professor australiano Toby Walsh, da Universidade de Novas Gales do sul, ressaltou que as novas armas letais envolvem questões éticas: “Não podemos entregar a decisão sobre quem vive e como morre para as máquinas”.
O professor Walsh fez parte de um grupo de pesquisadores australianos em robótica e inteligência artificial que, em novembro de 2017, pediram ao primeiro-ministro Malcolm Turnbull para se posicionar contra o armamento da inteligência artificial.
Todos os pesquisadores sérios dessa área com certeza apoiam e se manterão atentos.
Nagel, o fisicialismo e o ser
Todo o fisicalismo moderno, a physis grega é outra coisa, é essencialmente reducionista, pois “todo o reducionista tem a sua analogia preferida, retirada da ciência moderna” (Nagel, 1974)
Embora Nagel não defina o que é físico para ele, diz textualmente em nota de rodapé, afirma que “para além de ser interessante, uma fenomenologia que seja objetiva neste sentido poderá permitir que as questões acerca da base física da experiência adquiram uma forma mais inteligível” (Nagel, 1974).
Ainda que Aristóteles tenha chamado os pré-socráticos de “physikoi”, isto não tem a ver com a concepção moderna, assim como não se pode traduzir physis por natureza simplesmente.
Destaca-se aqui dois autores que falaram sobre este conceito grego, para Jaeger: “a palavra abarca também a fonte originária das coisas, aquilo a partir do qual se desenvolvem e pelo qual se renova constantemente o seu desenvolvimento; com outras palavras, a realidade subjacente às coisas de nossa experiência”, enquanto Burnet, por sua vez, afirma que “na língua filosófica grega, physis designa sempre o que é primário, fundamental e persistente, em oposição ao que é secundário, derivado e transitório”.
São estas concepções que mais se aproximam de Nagel, porém pode-se dizer seu conceito é quase ontológico: “mas fundamentalmente um organismo tem estados mentais conscientes se e só se há algo que é ser esse organismo — algo que é ser para o organismo.”
Porém o conceito importante e definitivo de Nagel é que pode fazer sentido perguntar se como é ser um morcego, mas não é concebível perguntar-se como é ser uma tostadeira, a física tem limites e se quiser pode-se ir mais fundo, já postamos aqui sobre a “Incomplete Nature: the mind emerged to matter” de Terrence Deacon.
NAGEL, T. Como é ser um morcego? (1974). Rev. Abordagem Gestalt. vol.19 no.1 Goiânia jul. 2013
Questões simples e complexas da Web Semântica
Sempre nos deparamos com conceitos alguma parecem uma coisa no senso comum e não o são, tornam-se complexas coisas que eram simples, é o caso de muitos exemplos: as redes sociais (confundidas com as Mídias), os fractais (números ainda genéricos demais para serem usados no dia a dia, mas importantes), a inteligência artificial (que não é a humana), enfim inúmeros casos, podendo ir para o virtual (não é o irreal), as ontologias, etc.
Estes são os casos da Web Semântica e das Ontologias, onde toda simplificação leva a um erro.
Provavelmente por isso, um dos precursores da Web Semântica Tim Hendler, escreveu um livro Semantic Web for Ontologists modelling: : Effective Modelling in RDFS and OWL (Allemang, Hendler, 2008).
Os autores explicam no capítulo 3 que quando se fala de Web Semântica “de uma linguagem de programação, normalmente nos referimos ao mapeamento da sintaxe da linguagem para algum formalismo que expressa o “significado” dessa linguagem.
Agora quando falamos “de semântica´ da linguagem natural, muitas vezes nos referimos a algo sobre o que significa entender o enunciado – como ir das letras ou sons estruturados de uma linguagem para algum tipo de significado por trás deles. Talvez a parte mais primitiva dessa noção de semântica seja uma representação da ligação de um termo em uma declaração à entidade no mundo a que o termo se refere.” (Allemang, Hendler, 2008).
Quando falamos de coisas do mundo, no caso da Web Semântica falamos de Recursos, conforme dizem os autores talvez isto seja a coisa mais incomum para a palavra recurso, e para elas foi criada uma linguagem de definição chamada RDF como Framework de Descrição dos Recursos, e eles na Web tem uma unidade de identificação básica chamada URI, juntamente um Identificador Uniforme de Recursos.
No livro os autores desenvolvem uma forma avançada de RDF chamada de RDF Plus, que já tem muitos usuários e desenvolvedores, para modelar também ontologias usando uma linguagem própria para elas que é o OWL, o primeiro aplicativo é chamado SKOS, Uma Organização simples do Conhecimento, que propõe a organização de conceitos como dicionários de sinônimos, taxonomias e vocabulários controlados em RDF.
Como o RDF-Plus é um sistema de modelagem que fornece suporte considerável para informações distribuídas e federação de informações, é um modelo que introduz o uso de ontologias na Web Semântica de modo claro e rigoroso, embora complexo.
Allemang, D. Hendler, J. Semantic Web for the Working Ontologist: Effective Modelling in RDFS and OWL, Morgan Kaufmann Publishing, 2008.