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Influenciador digital, a potência nas novas mídias
Influenciador digital é uma nova área de atuação nas mídias, desde os primeiros blogueiros eles existem, falam de coisas curiosas desde temas sérios, até culinária, fitness, esportes ou qualquer coisa que esteja em alta em determinado momento, os que fazem sucesso significam muito em termos de estatísticas e financiamentos, mas pouco em termos de conteúdos sérios e políticos.
Cito um brasileiro Felipe Neto, em torno dos 32 anos, não fui conferir apenas li em algum lugar, as vezes é inteligentes, as vezes comediante e irônico, fala de tudo em especial de fatos culturais inéditos, como a família Passos que formou uma “trupe” que ganhou com uma marchinha de sátira de carnaval “A culpa é do PT” que na rádio CBN venceu o concurso.
Dizem que ele tem milhões de seguidores, não fui conferir e pois também existem “robôs” e “influencers” capazes de produzirem valores juntos, mas as visualizações são mesmo astronômicas.
Você deve desconhecer Christian Figueiredo que tem em torno de 21 e já lançou um livro “Eu fico loko” e já fez marketing para Colacoca (algo assim) e Disney, e se for num shopping vai enlouquecer adolescentes, pergunte ao seu filho, sobrinho ou neto quem ele é, chance de 50% que saberão.
O catarinense Luba, Lucas Feurschütte. tem em torno de 25 anos, e já fez um vídeo de sucesso com Christian Figueredo perguntando: “Você é um gay”, tem um terceiro que não conheço que participa, mas talvez também seja de sucesso, o seu sucesso é o Luba TVGames (em torno de 230 mil seguidores), não vou esgotar a lista, apenas aponto um universo desconhecido de quem tem mais de 30 anos, pelo menos a imensa maioria, os jovens estão sob enorme influência deles.
Se seu filho é um adolescente preste atenção nestes nomes: Júlio Cocielo que se envolveu numa polêmica por fazer um comentário racista do jogador Mbappé, ah este você conhece, outro nome é Luccas Neto, 25 milhões de inscritos e bilhões de visualizações, Kéfera Buchmann do canal 5inco Minutos, não sei de é ironia com o programa americano 60 minutes, mas fala de beleza, esquetes, paródias e tem um humor bem fino e 11 milhões de seguidores, Whindersson Nunes, que uma vez em palestra fiz uma brincadeira com ele e todas adolescentes reagiram, e o adulto que dirigia a conversa não entendeu nada, e claro, o Felipe Neto.
De outros países tudo que sei é o youtuber PewDiePie, um comediante sueco em torno dos 30 anos, descobri que seu nome é Feliz Arvid Ulf Kjellberg, e também os do Instagram, mas lá surgem nomes “comuns” midiáticos como Cristiano Ronaldo e Messi jogadores de futebol, Beyoncé e Selena Gomez cantoras, Justin Bieber cantor e outros, pessoalmente sou seguidor de amigos e familiares.
É tudo que conheço, me dedico pouco a estas conversas, mas a vontade de potência me fez ir atrás do que os jovens estão preocupados, daqui 3 ou 4 anos estarão na faculdade e não quero perder a piada, ou a conversa, ou o “poder” que gente da nossa idade perdeu com os jovens.
Ah é tudo gente midiática, sim, mas também os novos filósofos das mídias não são outra coisa.
Vontade de poder ou de potência
Um conceito pouco conhecido de Nietzsche é a vontade de poder, como uma força motriz “natural” do homem, de fato isto levou os povos a se expandirem desde o mundo primitivo, as guerras e impérios de Alexandre o Grande, do qual Aristóteles foi tutor e depois o Império Romano, e os impérios da modernidade: o português, o francês, o russo e o americano.
Há outros grandes impérios pouco citados na história: a grande dinastia manchu Qing, do norte da China invadiu e derrotou a dinastia Ming, era de uma etnia minoritária mas dominou toda a China e teve inclusive uma breve restauração em 1917 e o grande Império Mongol foi um dos maiores em extensão de área, chegando a Europa, nos séculos XIII e XIV.
Mas a potência refere-se também ao desejo individual de influência e de poder, hoje são os influenciadores digitais, que inclusive são financiados e recebem respeito e credibilidade e muitos deles são desconhecidos da grande mídia, por exemplo, o americano PewDiePie é o youtuber com maior número de seguidores, voltaremos ao assunto.
Pode-se pensar potência, como ato e potência, assim poder seria o objetivo atingida pelo potencia porém o próprio Nietzsche adverte que seu sentido é outro: “a vontade de poder não é nem um ser, nem um devir, é um pathos”, assim deve ser analisada na tríade ethos, pathos e logos.
Pathos é, portanto, aquele sentido também usado por Descartes, ainda que Nietzsche negue a razão como princípio, de ondem vem a ideia de patologia, o que se move na imperfeição.
Assim pode-se pensar vontade de poder (no sentido de Nietzsche) em três conceitos, o cosmogônico, o histórico ou o psicológico, cada um estabelece uma relação especial com os diversas propostas presentes na sociedade moderna, o cosmogônico usando terminologia de Nietzsche é uma lei originária, sem exceção, que advém da própria realidade das coisas.
Assim sua lei história não é nunca determinística nem tem nada de oculto, “… esse meu mundo dionisíaco do eternamente-criar-a-si-próprio, do eternamente-destruir-a-si-próprio, sem alvo, sem vontade…”, dito num fragmento escrito em 1885, significa que um conjunto de forças que atuam de modo difuso resultam num estado de eterno retorno, e portanto sem um fim.
Assim vontade de pode ser também entendido como o desejo insaciável de ser mais do que aquilo que se é, se visto sem um fim, pode-se entender o aspecto psicológico mais claro.
Pode parecer algo distante do pensamento moderno, mas basta olhar a realidade e se perceberá que fora do determinismo histórico, do fundamentalismo religioso, a proposta que resta parece ser esta, porém o próprio Nietzsche pode nos ajudar a organizar isto, se é possível pensar algo fora deste estado de “eterno retorno” que a vontade de potência criou.
Entre a fantasia e o imaginário
O imaginário faz parte da cultura e da tradição popular, nela inúmeras culturas se expressam, parecem mitos e fantasias foram da realidade, mas diferencia-se desta por ter uma fonte originária, isto é, ser parte de uma cultura e expressão de anseios e perspectivas culturais de um povo.
O que Droysen, Heidegger e Gadamer especularam sobre o historicismo romântico, que Dilthey elaborou, não é senão o historicismo fantasioso, o futuro como puro sonho irrealizável enquanto o futuro vindouro é parte da tradição cultural e por isso é necessário o diálogo com a tradição.
A fantasia é inicialmente uma tentativa de fuga, a ausência de diálogo não no sentido prosaico de ouvir o Outro, de aceitar a diferença, mas sim de entender e dialogar verdadeiramente entrando nos conceitos e perspectivas presentes na tradição, sem compreende-la realizamos escuta e não o diálogo, a dialogia que falaram Martin Buber, Paulo Freire e mesmo Bakhtin.
As fantasias representam delírios da alma, desejos compulsivos incontroláveis, e que muitas vezes chegam a patologias, não se trata de uma fantasia infantil de contos de fadas ou super heróis, estas pertencem ao imaginário pois a criança ainda vê o mundo futuro como possibilidade.
O imaginário épico, tanto como historicismo quanto como literatura ressalta os feitos e glórias, onde o presente surge como um resultado de um passado mítico, mas que se projeta para o futuro, exprime a exaltação factual de acontecimentos memoráveis ou extraordinários.
O imaginário romântico é de um herói solitário deslocado no tempo, D. Quixote é uma boa expressão deste imaginário, representa uma reação a saturação filosófica do determinismo e do racionalismo, mas fica preso ao sensorial empírico ou as metáforas do real.
Estas fantasias em geral apelam para a criatividade, mas pouco dizem da realidade.
A importância do legado de Droysen
Afirmamos na semana anterior (ver o post) que tanto a perspectiva do helenismo de Droysen (ele cunhou o termo) quanto a perspectiva do verdadeiro significado da história sua eram mais amplas, muito antes das críticas de Gadamer ao historicismo “romântico”, este autor que foi aluno de Hegel, já o tinha feito e com muita propriedade pois além de aluno, penetrou neste conceito do qual Hegel é fundador na filosofia moderna.
Johann Gustav Droysen (1808-1884) questionava o princípio da historicidade, e, muito antes do seu tempo questionou os historiadores sobre os fundamentos “científicos” de um certo perspectivismo e relativismo, assim como também indiretamente questionava Dilthey na tentativa de usar a história para fundamentar as Ciências do Espírito.
Droysen em seu Compêndio sobre a História (Grundriss der Historik) que não era adequado à História, tendo esta a pretensão de ser ciência, tomar seu método emprestado de outra perspectiva do conhecimento, que é a ciência natural, mesmo que como “exemplo”.
A solução por ele apresentada, parecida a de Gadamer, sintetizável na noção metodológica de Compreensão Investigativa (forschendes Verstehen), visava dar a História a possibilidade de uma ciência autônoma, assim para ele existe algo que precede ao dualismo explicação x compreensão, que é a história, o que chamamos na semana passada de “forma” do pensar.
A sua obra Compêndio da Historia (Grundiss der Historik) de 1857/1858 está disponível em versão espanhola (1983) e versão italiana (1989), ainda ser versão em português.
É de interesse particular, pelo menos o foi para mim, o capítulo 3 que trata do problema hermenêutico da compreensão, que dá uma noção da aplicabilidade do seu método.
A ligação que podemos e devemos fazer com a questão moral, do tópico anterior, pode ser encontrada na página 386 de seu trabalho Teologia dela Storia (tradução italiana):
“… nós temos a necessidade de um Kant, que examinasse criticamente não a matéria histórica, mas o movimento teórico e prático diante e no interior da história, e que demonstrasse, a exemplo de qualquer coisa análoga a lei moral, um imperativo categoria da história, a fonte viva da qual jorra a vida histórica da humanidade. ” (DROYSEN, 1966, p. 386).
Droysen observa naquilo que chama de “Sistemática” três tipos de comunidades éticas: “as comunidades naturais”, “as comunidades ideais” e “as comunidades práticas” (figura acima), e a elas relaciona da história, dito assim: “a nossa sistemática resultou da noção de que o mundo história é o mundo ético, mas enquanto concebido sob um determinado ponto de vista; porque o mundo ético pode ser considerado sob outros pontos de visa …” (Droysen, 1994, p. 413).
O seu devir, portanto, está longe da dialética hegeliana, mas ao mesmo tempo dialoga com ela.
DROYSEN, J. G. Teologia dela Storia. Prefazione ala Storia dell´Ellenismo II – 1843. In: Istorica. Lezioni sula Encilopedia e Metodologia dela storia. Trad.: I. Milano – Napoli: Emery, 1966.
_______. Istorica. Lezioni di enciclopédia e metodologia dela storia. Trad. Silvia Caianiello. Napoli: Guida, 1994.
A tradição e a verdade do devir
Muito do que se prega e se vive em nossos dias é a tradição, aqui não vista como o pensamento que construiu a história da humanidade, mas apenas costumes e hábitos repetitivos e aparentemente “estáveis” que o tempo se encarregou de mudar.
É assim que a religião que deveria construir uma verdadeira ascese do devir, ou do vir-a-ser constrói laços preconceituosos e tradicionalistas que impedem o progresso da humanidade.
Não por acaso combaterem Giordano Bruno e Galileu Galilei, suas obras representavam uma mudança na visão de mundo, neste caso uma visão cosmológica, mas a cosmovisão significa antes de mais nada uma visão ampla dos fenômenos e da vida.
O mundo não muda porque pensadores que deveriam apontar para o futuro mostram apenas seus temores, sua arrogância fixa em conceitos da tradição e sua falta de criatividade.
Em uma passagem que Jesus e seus discípulos comiam espigas com as mãos e os tradicionalistas exigiam o cumprimento da lei de lavar as mãos, o Mestre mostra que as palavras destes homens não coincidiam com suas atitudes.
Diz Jesus na passagem bíblica de Marcos (Mc 7:6-8): “Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos. Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens”.
É neste sentido que diz o parágrafo seguinte (Mc 6, 9): “Vós sabeis muito bem como mudar os mandamentos para seguir a tradição”, e também é de certa forma este o sentido que diz o evangelista Mateus (Mt 5, 20): “Se a vossa justiça não for superior a dos escribas e fariseus, não entrareis no rei dos céus”, eis a essência da moral cristã que bem observada é universal.
A moral e seus diversos conceitos
Pensamos em moral como moralismo, o puritanismo ou “certa” moral cristã, ela como um todo envolve o amor e assim envolve também o diálogo, mas a moral é mais confusa ainda porque se mistura com a moral idealista kantiana e a moral do estado, a chamada “justiça”.
A moral helênica, da antiguidade clássica é uma fusão da moral grega quando esta se difunde pela Ásia Menor e pelo Mediterrâneo vai se encontrar com o “direito” romano, que é uma moral de estado nascente, mas separa-se desta como uma forma de estoicismo.
Este período foi chamado pelo historiador alemão Johann Gustav Droysen (1808-1884) pela primeira vez de helênico, e incluem entre os pensadores Plotino, Cícero, Zenão e Epicuro, guardam noções geométricas e astronômicas que se fundem com as ideias morais, conhecemos grandes frases deste período, mas não o pensamento como Droysen o fez.
Pode-se sintetizar em duas correntes, o individualismo moral ou a moral “interior” e o neoplatonismo de Plotino, que é parecido ao pensamento de Agostinho de Hipona, mas diversos quanto na moral teleológica, para Agostinho o mal é a ausência de bem, não oposto.
A moral kantiana é essencialmente individualista, “age de tal forma que seja modelo para os outros” enquanto a moral do estado será as regras que geriram o contrato social (post anterior), a moral cristão enquanto correntes desde o tempo de Jesus pode ser farisaica e tradicionalista (o que se chama fundamentalista), em essência deveria ser universal.
Amar a todos incluindo os inimigos não é o que fazem a maioria dos moralistas religiosos, sua essência ainda é o “combate do mal” e não a sua superação através do amor e nunca do ódio.
O estado moderno e a in-formação
É impossível pensar o estado moderno, sem pensar em suas leis e o contrato social que se estabelece a partir delas, e não por acaso elas surgem após a prensa de Gutenberg (e o livro).
Pode-se pensar de modo igualmente ingênuo que isto é apenas teoria, é fácil demonstrar que não é a forma-ação da polis é impossível de se pensar sem a polis grega, e os pensamentos que vão desde os pré-socráticos até os contratualistas modernos: Thomas Hobbes, John Locke e o suíço (não era francês não) Jean Jacques Rousseau.
A in-formação do estado moderno vem da ideia básica destes pensadores é que a relação entre governantes e governos devem se estabelecer na forma de um contrato, e que discutem de fundo é que o homem é lobo do homem Thomas Hobbes, o homem é determinado pela relação social John Locke, isto é nasce bom e o meio o molda, e homem é um bom selvagem que o meio o corrompeu, o pensamento de Rousseau.
O que alguns autores contemporâneos vão dizer é que estas formas, ou estas regras de dominação social entraram em colapso, quer seja pela emancipação do espectador como advoga Jacques Rancière, quer seja pela falência das regras do parque humano como explora Peter Sloterdijk, claro há outras interpretações possível, como a conservadora em moda, retomar o estado sólido.
A forma da In-formação
A filosofia do ocidente se construiu por um caminho que não necessariamente era o único disponível, assim não há determinismo nem do pensamento e por consequência nem da história, isto pelo fato que se privilegiou algumas categorias em detrimentos de outras.
Ainda que fosse possível pensar em um único modelo de pensamento, socialmente é impossível pensar por um único método ou um único caminho, isto pode parecer contraditório com o pensamento anterior, mas não significa que no bojo de um conjunto de pensamentos e categorias de determinadas época fez-se por diversos motivos, incluindo os políticos, econômicos e culturais, fez-se a opção por determinadas formas de pensamento.
A forma da informação se desenvolveu assim a partir dos pensamentos e visões de mundo que influenciaram a cultura ocidental.
O objetivo deste post não é esgotar este pensamento, mas percorrer com ajuda de alguns leitores especiais, como Aristóteles e Platão, Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino, René Descartes, Immanuel Kant, David Hume, Hegel, Marx, Nietzsche, Husserl, Heidegger, Gadamer, Paul Ricoeur, Emanuel Lévinas, Peter Sloterdijk, Byung Chull Han, só para citar alguns que considero fundamentais, mas sem a pretensão de esgotar o pensamento de qualquer um deles.
É possível pela análise da penetração destes pensadores no cotidiano tanto quanto nas estruturais de governos, estados e políticas mundiais, como estas influencias aconteceram e acontecem determinando o nosso pensamento, ainda que possamos por ingenuidade imaginar que o que pensamos é original, ou por pragmatismo que o que existe é a vida prática e a necessidade, aliás mesmo que neguem estas são formas de pensamento ligadas a determinadas formas de pensamento, como o empirismo, o ceticismo e o pragmatismo.
Assim através da cultura, da educação e principalmente de formas de intervenção social por meios de comunicação e propaganda, existe uma forma-ação de implantar estas ideias no seio da sociedade e uma vez constituída como um conjunto organizado de conhecimento (uma episteme) implantar no seio da sociedade a in-formação, isto é, implantar as ideias no seio da sociedade.
Desde Sócrates que em essência queria “instruir” os homens, passando por Platão e Aristoteles, até o estado moderno, a forma-ação dos cidadãos através da in-formação é como as ideias se formam e são disseminadas no tecido social.
Pode-se pensar de modo igualmente ingênuo que isto é apenas teoria, é fácil demonstrar que não é a forma-ação da polis é impossível de se pensar sem a polis grega, e os pensamentos que vão desde os pré-socráticos até os contratualistas modernos: Thomas Hobbes, John Locke e o suíço (não era francês não) Jean Jacques Rousseau.
As primárias americanas
Depois de um fiasco tecnológico, curioso que isto aconteça nos EUA e aqui duvidem das urnas, sai os primeiros resultados com 62%, mais curioso ainda é o sistema de contagem pois embora Bernie Sanders lidere, de fato um candidato a esquerda, os resultados até a noite de ontem eram:
Pete Buttigieg lidera com 26,9% dos delegados do estado para indicarem o candidato, enquanto Sanders logo atrás em 25,1% dos valores, seguem a senadora Elizabeth Warren com 18,3%, Joe Biden com 15,6% e Amy Klobuchar com 12,6%, um deles irá disputar com Trump que ganhou lá.
Pode-se especular sobre os verdadeiros motivos do atraso, suspeitas a parte, o crescimento de Bernie Sanders pode significar uma polarização futura nas eleições uma direita radical contra uma esquerda (nos moldes americanos) também radical, é quase uma tendência mundial.
O importante é entender por que isto ocorre, e claro se espalha por toda a sociedade, primeiro a dificuldade em situações extremas de pensar sobre situações políticas quando os discursos foram para extremos e segundo porque a imposição de um presidente radicalizado desperta reação.
É possível retomar a serenidade e voltar a refletir sobre os urgentes e dramáticos problemas mundiais, da ecologia a distribuição de renda, seria saudável para a democracia, para os cidadãos e para a cultura conforme refletimos ontem sobre os indicados para o Oscar que tem o dedo de dois diretores brasileiros, porém o cenário americano e mundial preocupa.
Radicalização favorecem a ditadores, nunca a democracia, creio que quando Alexis Tocqueville escreveu “Democracy in America” (1832) não poderia supor uma radicalização deste tipo.
A tragédia e as artes
Não estou falando aqui da tragédia no sentido vulgar, mas enquanto categoria artística que não só é importante para compreender as artes e o belo grego, como é reivindicada como uma nova ideia de tragédia “como propuseram Hölderlin, Hegel ou Nietzsche.” (Ranciére, 2009, p. 25).
Assim como Byung Chul Han em “A salvação do belo” vai problematizar o dualismo entre contemplação e ação, típicos da filosofia moderna que separa sujeito de objeto, Rancière penetra mais fundo ao propor sua “revolução estética”, afirmando que o que há é a “abolição de um conjunto ordenado de relação entre o visível e o dizível, o saber e a ação, a atividade e a passividade” (Ranciére, 2009, p. 25).
Disse isto ao analisar o Édipo da “revolução psicanalítica” que invalide “aqueles de Corneille e de Voltaire e que pretenda reatar – para além da tragédia à francesa, bem como da racionalização aristotélica da ação trágica – como o pensamento trágico de Sófocles” (idem, p. 25), na figura acima uma interpretação da pintora Marie Spartali Stillman (1844–1927) de Antígona.
Ranciére vai discorrer nas páginas seguintes de seu capítulo sobre a “revolução estética” sobre a psicanálise dizendo que ela é “inventada nesse ponto em que a filosofia e medicina se colocam reciprocamente em causa para fazer do pensamento uma questão de doença e da doença uma questão do pensamento” (Ranciére, 2009, p. 25).
Grande parte das neo-terapias modernas (chamo de psicanálise exotérica) vai por aí, como se o problema do pensamento idealista fosse “doença” e grande parte do sofrimento humano pudesse ser resolvido como “pensamento” transformando-o em doença.
Isso acontece por má relação com o pensamento da tradição, a modernidade tardia não é senão a má leitura do racionalismo e do idealismo, ou a leitura atrasada do empirismo, o pensamento da ação o “activo” de Hanna Arendt, expresso em Byung Chul Han, é também parte do pensamento da tradição que Ranciére vai identificar no “regime representativo uma potência absoluta do fazer” (Ranciére, 2009, p. 27).
Identifica claramente este regime no discurso de Baumgarten sobre “claridade confusa” (ver post anterior): “no regime estético, essa identidade de um saber e um não-saber, de um agir e de um padecer, que … constitui-se no próprio modo de ser da arte” (idem, p. 27), claro esta é a arte da tradição.
E assim afirma, que a revolução estética já havia se iniciado com Vico, em sua Ciência Nova, que contra Aristóteles e a tradição representativa, embora Rancière saiba que o problema dele não era a teoria da arte, mas o problema teológico-poético da “sabedoria dos egípcios” nos hieróglifos.