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Arquivo para a ‘Ciência da Informação’ Categoria

Por uma filosofia do Design

22 mar

Vilém Flusser foi um tcheco naturalizado brasileiro, falecido em 1991, que atuou por cerca de 20 anos como professor de filosofia, jornalista, conferencista e escritor no Brasil e depois de volta no seu país de nascimento a Republica Tcheca.

Seus livros estão sendo republicados no Brasil, incluindo todos os seus escritos, e comecei relendo O mundo Codificado – por uma filosofia do Design.

Sua obra vai além das influências que recebeu de Roland Barthes, Marshall McLuhan, pois sua filosofia é própria com elementos de fenomenologia e existencialismo.

Na introdução do livro, feita por Rafael Cardoso, é destacada sua mudança de pensamento sobre as modernas mídias que apenas viu nascer: “ao contrário da maioria dos filósofos modernos, que costumam concentrar suas análises na linguagem verbal ou nos códigos matemáticos, Flusser dedicou boa parcela de seu gigantesco poder de reflexão às imagens e aos artefatos, elaborando as bases de uma legítima filosofia do design e da comunicação.” (FLUSSER, 2017, p. 10)

Lançou perguntas profundas sobre o mundo virtual: “Se uma árvore cai no espaço virtual, e não há ninguém on-line, será que ela gera uma mensagem de aviso?” retomando a famosa questão da árvore que cai na floresta, e também “Qual a diferença entre o material e o imaterial? Podemos trocar coisas por não coisas?” (idem) e conclui com uma pergunta ainda mais fundamental: “Que destino devemos reservar para os detritos gerados por nossa frenética atividade de transformação da natureza em cultura?” (FLUSSER, 2017, p. 15)

Aproxima-se do paradigma da informação, base essencial para o conhecimento e a educação, “o fim da história parecer ser o fim de nossa capacidade coletiva de lutar contra a entropia, contra a desagregação do sentido e da forma. Se a base daquilo que entendemos por cultura reside na ação de in + formar, então não é paradoxal que o excesso de informação nos conduza à desagregação do sentido ? “ (idem)

A importância do “conceito de virtualidade talvez seja a melhor e mais elegante prova do quanto Flusser tinha razão.” (idem), e não se pode mais fugir a esta questão, o uso em diversas formas de informação, comunicação e das artes exige a abertura desta “caixa preta”, nome de um ensaio publicado no ano de 1985.

Flusser ao contrário de apocalípticos, admite que “ao menos em tese”, o que deveria transformar-se em bem estar, ““humano torna-se escravo das forças de uma outra “natureza” que ajudou a gerar artificialmente”.

Aspectos da virtualidade e de um mundo codificado são desenvolvidos de maneira única pelo autor e contribuem para um debate mais sereno sobre as novas mídias.

FLUSSER, V. O mundo codificado: por uma filosofia do design. São Paulo: Ubu editora, 2017.

 

O ser e a essência

14 mar

Antes de verificar o que é o ente e a essência na contemporaneidade, examinemos mais de perto o seu significado em Tomás de Aquino, importante para compreender a diferença entre nominalistas e realistas no final do período medieval.
Para o filósofo medieval, a essência, que era chamada de quididade, é o inefável do que possibilita a existência, dando a uma coisa a sua constituição de Ser, este por sua vez possui uma existência como possibilidade de existir em ato, uma vez criado a matéria e a forma lhe dão realidade.
Diferentemente de Aristóteles, para o qual existe um primeiro motor que é deus, sua ontologia parte desta premissa, para Tomás de Aquino, a essência de Deus é sua existência, e atribuir-lhe algo seria negá-lo, pois não lhe falta nada, é pura perfeição e plenitude, assim o esforço de atribuir a Deus propriedades é inútil, para Tomás de Aquino ele é puro Ser.
Nele a essência, chamada de quididade é o inefável que possibilitaria a existência, então é daí onde Deus dá existência as coisas, ou preferindo um conceito teleológico, é a primeira matéria/energia/forma de onde se origina tudo, poderia se dizer em palavras mais modernas, a natureza existente em-si é uma sobre-natureza de sua essência de um Ser para-si.

A propósito, faleceu hoje o físico Stephen Hawking, que disse sobre a criação do universo, que tão importante quanto o ato de criá-lo foi a intenção da criação, 
A essência (qüididade) não sendo o inefável corresponderá a nomes e conceitos, cuja existência é concebida pelos nominalistas, ainda que ela admita a experiência como modo de “perceber” a realidade, ela estará no início deste pensamento muito ligado aos sentidos, assim mesmo hoje as substâncias, estejam estão ligadas a nomes, elas são signada, e passíveis de uma desconstrução como foi analisada por Derridá e nos posts da semana passada.
Para Tomás de Aquino há duas substâncias, onde a essência participa igualmente das duas substâncias, e a causa somente da substância composta, no ente a existência é “…. aquela substância primeira e simples por excelência, que se denomina Deus (AQUINO, 2004, p. 10)
A substância segunda (coisas abstratas) comporta o gênero e a espécie, a essência participa dos dois. A essência não participa individualmente da matéria ou da forma, encontra-se em ambas, compondo no mundo das coisas sensíveis a individuação.
Tomás de Aquino estabelece ainda dois tipos de matéria: matéria signada, que é substância primeira, particular, concreta, singular, de menor extensão, pode-se usando um exemplo moderno dizer Hidrogênio e Oxigênio, formando a água, já a matéria não signada, que é substância segunda, universal abstrata, de maior extensão, um líquido potável, porém é preciso ver uma complexidade maior, se tratamos do ser humano.
‘’É evidente que a definição de homem em geral, e a deste homem chamado Sócrates, só se diferenciam pelo signado e o não signado’’.(Idem, cap. III – 1, p. 11), assim tanto a existência do indivíduo signado quanto o Homem em sua própria natureza, é também o homem Sócrates em sua natureza particular signada, onde signada nada mais é do que colocar um signo.

AQUINO, S. Tomás, Compêndio de teologia, cap. II -3, p. 77, Col. Pensadores, SãoPaulo: Nova Cultural, 2004.
Being and essence

 

Clareira e Verdade

09 mar

Não por acaso a principal obra de Gadamer chama-se “Verdade e Método”, porque oaClareiraMundo método de se encontrar a verdade é nele que está a própria verdade, o contrário também é válido, quem utiliza um método mesmo que seja “lógico” não terá a verdade, mas apenas sua instrumentalização.

Lewis Carol escreveu “Alice no país das maravilhas” segundo a lógica, mas partindo de premissas falsas, a primeira delas é o “sonho” de Alice, no qual tal como em quaisquer outros sonhos os aspectos simbólicos são uma “fantasia” e ainda que tenham relação com a realidade repousam na imaginação humana e não na realidade dos fatos.

Assim como Heidegger chamou de clareira, aquela parte com maior visibilidade dentro de uma floresta, o século das luzes se autodenominou “iluminismo”, Platão escreveu sobre a luz no fundo das cavernas como reflexo da realidade, pode-se perguntar hoje: onde está a luz ?

Não a encontraremos como querem a ética da justiça do direito, a ética do estado, ou a ética ainda mais moralista e fundamentalista, uma clareira possível de se reconstruir um mundo em que a necessidade de ver-se como um todo encontra pedaços de “clareiras” por todo lado.

O que precisamos alertam grandes pensadores contemporâneos é mudar a própria mentalidade sobre as “clareiras”, mudar o pensamento, repensar o próprio pensamento que não é outra coisa senão mera ideologia atrelada ao passado que construiu muitas coisas, mas há agora uma demanda por mudanças mais substancial de ver o mundo como um todo.

É antes de tudo necessário olhar sobre realidades diversas com um olhar de respeito e até mesmo de admiração, culturas milenares têm sua própria ética e sabedoria, vê-las sobre o olhar ocidental é antes de qualquer coisa um pré-conceito a ser superado numa fusão de horizontes.

No tempo das escrituras bíblicas em que o próprio povo zombava de suas tradições e verdades, Nabucodonosor levou os cativos para grande Babilônia, o grande rei da Pérsia Ciro, sem ser judeu, mandou construir um templo em Jerusalém para o Deus dos judeus.

Como manifesta a leitura bíblica em Jo 3,21: “Mas, quem age conforme a verdade, aproxima-se da luz, para que se manifeste que suas ações são realizadas em Deus”, assim a verdade que é luz aproxima-se dela e a pós-verdade afasta-se dela mas fica cada vez mais longe do “clarão”.

O ocidente custa a acreditar na verdade sobre as mudanças necessárias ao nosso tempo: mais respeito a diversas culturas, maior igualdade na distribuição de bens e na diversidade de raça e gênero, maior respeito a natureza.

 

A separação entre verdade e realidade

08 mar

A ideia na modernidade que uma verdade objetiva é diferente da realidade, por isto vai negar o realismo aoObjetivotomista e retomar a subjetividade nominalista, agora travestida em ideia, é uma ruptura com o ser.

Para os antigos gregos, verdade e realidade eram uma coisa só, então Martin Heidegger no ser e o tempo retoma este sentido, pelo estudo da etimologia da palavra onde a-letheia, distinta do conceito de “verdade” onde esta é um estado descritivo objetivo, onde a-letheia, significa “desvelamento” na tradução de Heidegger, pois lethe significa esquecimento, no sentido de ocultamento.

Filosofias a parte, o que isto significa é que confiamos demais na realidade objetiva enquanto critério de verdade, e quase sempre ela contém um véu da aparência, e é preciso dar-lhe sentido a partir do Ser.

A verdade, portanto, para Heidegger está no desocultamento, onde as aparências se enganam e o que é mesmo verdade se oculta em meio a palavras típicas do nominalismo, onde um bom conceito pode tentar explicar algo, mas não é a essência deste algo, é apenas sua aparência.

O que Descartes falava de suspensão do juízo sobre as coisas significa enquanto ser suspender também o seu próprio princípio egóico que só é possível na relação com o outro, suspendeu-se o juízo mas não o ego, pois não é a presença do outro que conta, mas o conceito, o nome e sua definição.

Outra palavra usada pelos gregos e importante neste contexto é a palavra  phronésis, que é ao mesmo tempo harmonia e felicidade, tão forte a ponto de muitos autores afirmarem que é impossível ter phronésis em aletéia.

Por outro lado phronésis é .um conceito quase esquecido, devido a sua subjetividade, pois é menos próprio da razão, e estamos mais comprometidos com a veritas do direito romano, a verdade dos “fatos”, que nada mais é que uma narrativa, nem sempre contextual e verdadeira.

“A essência da verdade se desvelou como liberdade. Esta é o deixar-ser ek-sistente que desvela o ente. Todo comportamento aberto se movimenta no deixar-ser do ente e se relaciona com este ou aquele ente particular. A liberdade já colocou previamente o comportamento em harmonia com o ente em sua totalidade…” (HEIDEGGER. Conferências e escritos filosóficos. In Col. Os Pensadores. São Paulo, Nova Cultural, 1991. p. 130)

Para os modernos, verdades são fatos, para os antigos são aletéia e phronésis, é próximo ao que hoje pode-se chamar objetivo (de objetividade) e meta (de subjetividade), porém são conceitos mais completos porque estão unidos e não podem ser vistos como peças encaixadas.

Verdade é o desoculto, para Heidegger, aquilo que se mostra, atinge-se pela aletéia (o desabrigar o oculto) com phronésis (harmonia).

 

 

A parábola da Caverna de Platão

06 mar

A primeira coisa é que não é um mito, se entendemos por mythos aquilo que é uma simples narrativa em certaaCaverna cultura, mas se presente no imaginário popular pode ser além então é uma parábola, uma metáfora onde a caverna seria um lugar de “conhecimento” ou simplesmente um ambiente escuro, que nós privássemos de luz, sendo esta luz a luz da verdade.
Este “mito” está na obra de Platão intitulada “A República”, livro VII, onde pretende a luz da teoria do conhecimento, levar os homens a linguagem e a educação para um Estado ideal, portanto refere-se a polis grega em sua formação inicial.
Numa caverna as pessoas caminham e através das sombras nas paredes observam o modo como seus corpos projetam sombras, e nelas os objetos que carregam.
Imagine que os prisioneiros sejam libertados e forçados a olharem o fogo e os objetos que faziam as sombras, eles despertariam uma nova realidade, um conhecimento novo, mas desacostumados com  a luz iriam ferir seus olhos e eles inicialmente não veriam bem.
Platão não buscava a essência das coisas na simples Phýsis, como fez, por exemplo, Demócrito e seus seguidores, influenciado por Sócrates, ele buscava a essência das coisas para além do mundo sensível, e, esta é a verdadeira alegoria da caverna.
O diálogo é metafórico, diálogo metafórico sempre em conversas na primeira pessoa entre Sócrates e seus interlocutores: Glauco e Adimanto, os irmãos mais novos de Platão.
No diálogo, a  ênfase se dá no processo de conhecimento, mostrando a visão de mundo do ignorante, que vive de senso comum, e do filósofo, na sua eterna busca da verdade.
Pode-se dizer que, ao menos no ocidente, este é o primeiro ensaio sobre a “verdade”.

 

O zelo da casa e a reconstrução

02 mar

Na passagem bíblica onde Jesus expulsa os mercadores do templo, vendedores e outros comerciantes de aGuernicarelíquias religiosas de seu tempo (Jo 2,13-16), é mais comum lembrar o chicote de cordas do que a passagem seguinte que diz (Jo 2,19): “Destruí este Templo, e em três dias eu o levantarei”, que parecia um absurdo já que o templo foi construído em 46 anos e como faria isto em 3 dias.

A primeira parte é mais lembrada por exegetas porque havia a profecia sobre o que messias que “O zelo por tua casa me consumirá” (Salmo 69, 9) e portanto, em Jesus se confirma esta profecia.

É verdade que falava de seu corpo a reconstrução em 3 dias, já que morre durante a Páscoa judaica, que agora devido ao calendário nem sempre coincide com a cristã, mas Jesus morre na quinta-feira quando se deveria matar um cordeiro para come-lo ao final da noite de sexta, e na Páscoa cristã é ele próprio o cordeiro imolado.

Visto como sinal dos tempos devemos pensar que também a destruição e reconstrução das sociedades e culturas em nosso tempo se abreviaram, se isto antes era feito em mais de uma geração, hoje tanto a destruição como a reconstrução são rápidas e podem levar apenas horas.

Não há duvida que a Batalha de Guernica (1937), quadro de Pablo Picasso é um símbolo de nosso tempo, a guerra que despedaça o SER.

A velocidade da informação, tema tratado por Paul Virilio, que muitas vezes é da desinformação pode destruir e construir de modo rápido, típico dos tempos atuais, em geral só é lembrado o desconstruir, termo usado na filosofia, mas também existe a construção em muitas áreas do saber e da sociabilidade.

A internet do final da década de 70 até os anos 90 mudou a sociabilidade da comunicação, a Web tornou conteúdos populares em 15 anos, de 1990 a 2005 quando surgiu a Web 2.0, e agora da IoT promete mudar mais profundamente em pouco tempo, mas a sociedade mudou ? estas são considerações de linguagem e estrutura, mas o “templo” é aquele do “Ser”, ontologicamente estabelecido e este seja diante de qualquer tecnologia continua Ser, com angústias e esperanças.

É templo de reconstrução do “templo” do ser, mas isto significa mudar as estruturas, a forma na qual o conteúdo se expressa e se “in-forma”, nela viverá o “Ser” de nosso novo tempo.

 

Desconstruir, estrutura e língua

01 mar
Desde que Derrida passou a estar vinculado ao conceito de desconstrução, começou o aMiticalGodquestionamento do termo, ele sabia disto e procurou esclarecer.
Primeiro afirma que é melhor usar o termo no plural e justifica: “A desconstrução no singular não pode ser simplesmente apropriada por quem quer que seja ou por o que quer que seja.”, isto porque ela está vinculada ao que chamou de “ex-apropriação” (Derrida, 1991, p. 194).
Novo cuidado porque apropriação se refere a língua, tanto isto é verdade, que em sua obra de 1998: “Fidélité à plus d´um” afirmou: “se fosse arriscar uma única definição da desconstrução, eu diria simplesmente: mais de uma língua” (p. 253), isto significa estudar o fenômeno da comunicação num mundo plural e com interpretações plurais, o que o aproxima de Husserl.
Mas o problema é intra-lingua, como os Deus míticos da Babilônica bíblica chamados de falsos deuses, e nisto vemos a estratégia adotada na tradução de Husserl, que parece esquecer que é francês, afirma em uma de suas traduções do mestre da fenomenologia: “a tradução dos conceitos usuais da língua husserliana, naturalmente nos conformamos com os usos consagrados pela tradução as grandes obras de Husserl”, que está na “Introdução” da tradução de “L´origine de la géométrie” feita em 1962.
De acordo com Derrida, a tradução “when mercy seasons justice” da obra de Shakespeare O mercador de Veneza, não poderia ser traduzida como “quando le pardão tempere la justice”, como fez Vitor Hugo, mas “quando le pardon releve la justice (ou le droit)”, ou seja, “quando o perdão releva a justiça (ou o direito), isto para exemplificar o problema da tradução além das questões de estruturas e de mitologias como propõe o estruturalismo, ou seja, dentro das próprias culturas há questões que escapam as estruturas e delas retiram-se “traduções”.
Por isto se perguntará quando uma tradução é “relevante”, e o próprio termo é questionado, que na língua derridaniana (estou levando em conta seu pensamento), diz respeito à lei da economia, da possibilidade de traduzir uma palavra levando em conta o maior número de jogos de sentido possível.
Assim separar a estrutura, a forma do sentido não é senão confundir ainda mais, embora tenhamos a dívida com o estruturalismo de penetrar o estudo das culturas para compreender que o sentido no conjunto de uma é muito diferente do conteúdo de determinada situação em outra, mas falta nesta concepção a ideia da tradução interpretativa dos jogos de sentidos.
Segundo o filósofo Simon Blackburn o estruturalismo é “a crença de que os fenômenos da vida humana não são inteligíveis exceto através de suas inter-relações. Estas relações constituem uma estrutura e, ainda por trás das variações locais dos fenômenos superficiais, existem leis constantes do extrato cultural”, Roland Barthes e Jacques Derrida ao aplicarem a literatura descobriram que há variantes, que o nosso ver são fenomenológicas.
Derrida, J. Limited Inc. Tradução: Constança Marcondes César. Campinas: Papirus, 1991.
 

Desconstrução não é destruição

28 fev
Enquanto o público leigo pensa na o chamado  mal-estar da pós-modernidade; ou o nãoaDesconstruction-Freedmens_Bureau_1866-estar da pós-modernidade, já que só declara inexistências, ausências e impossibilidades, é em ultima instância o reconhecimento que já está na pós-modernidade, que algo deva ser superado.
Porém este novo tipo de niilismo, a compreensão é enganosa e às vezes superficial da desconstrução não é destruição, menos ainda “fim da história”, uma vez que sempre se está afirmando, como nos nossos posts anteriores, dentro do pensamento anglo-saxão a ligação da desconstrução com a literatura e a maneira de refletir o trabalho historiográfico de Munslow.
Sobre a escrita da história não significa que não possa ser realizada para nos informar a leitura de Balzac ajuda a entender a França revolucionária e o pensamento antimonárquico, assim como sobre o passado e as culturas míticas que antecederam as atuais, parte do pensamento estruturalista ajudou a compreender melhor o que se seguiu ao pensamento da modernidade, .
Então mesmo no pensamento anglo-saxônico a desconstrução é uma maneira de refletir sobre o trabalho historiográfico, sobre o processo de transformação de evidências e informações do passado em história, porém é agora inevitável o questionamento histórico, o trabalho atual dos historiadores de entenderem e explicarem o passado através de fatos das evidências, ajudará a construir o futuro.
Se há uma demanda clara por mudança, há uma necessidade clara de mudança de mentalidade e de pensamento sobre a própria maneira de indagar a história, de reler a literatura, e principalmente, de apontar novos caminhos sólidos para a mudança, a compreensão da desconstrução como destruindo a cultura e o favorecimento a desinformação geral é parte da barbárie e não semente da mudança em curso.
 

A desconstrução e a pós-estruturalismo

26 fev

Há sempre no ar uma ideia de que estamos rompendo com valores tradicionais, tornandoaDesconstrução tudo “líquido” ao se desconstruir, mas isto é diferente de demolir ou de simplesmente abandonar valores que pareciam sólidos na modernidade.
A desconstrução no sentido filosófico de Jacques Derridá (1930-2004) só pode ser ligada a ideia da leitura de texto do pós-estruturalismo, e o estruturalismo está ligado a Levy Strauss, e o pós-estruturalismo utiliza as premissas básicas do próprio estruturalismo, além de Derridá pode-se citar Roland Barthes.
Desconstrução no sentido que Derridá deu ao seu pensamento, não pode ser confundido com um conceito ou um método, é justamente a ideia que a objetividade (como um método) não pode ser utilizada para fundamentar a desconstrução, o sentido que parece mais correto é o de uma “estratégia” para ler textos e interpretá-los, por isto a forte ligação com a questão da gramática (uma das principais obras de Derridá é a Gramatologia).
Diz então Derridá sobre sua estratégia (não conceito e nem método): “O que me interessava naquele momento … o que tento continuar agora sob outras vias, é a par de uma ´economia geral uma espécie de estratégica geral de desconstrução … atravessar a fase de um derrubamento [do que chama de dupla ciência] … aceitar essa necessidade é reconhecer que, numa oposição filosófica clássica, não tratamos, com uma coexistência pacífica de um vis-a-vis, com uma hierarquia violência … desconstruir a oposição é primeiro, num determinado momento, derrubar a hierarquia.” (Derridá, 1975, p. 53-54).
Para ele o pensamento metafísico tradicional (eu diria o idealista da modernidade o é mais profundamente) é o logocêntrico, que identifica-o por pares: identidade e diferença (seu principal argumento), razão e sensação, lógica e retórica, masculino e feminino, mas sem dúvida seu principal é a fala e escrita.
Isto é central aqui pois ele trata no fundo da oralidade (bem anterior a modernidade) e a escrita (de Gutenberg para cá), e penetra naquilo que consideramos essencial em ontologia que é a presença, mas seu argumento é diferente dos existencialistas, embora também se oponha a lógica geral como método: “A história da metafísica, como a história do Ocidente, seria uma história dessas metáforas e dessas metonímias (os diferentes nomes que utilizamos para nos referir a um centro ou fundamento estável a partir do qual possamos pensar a totalidade de uma estrutura ou mesmo a realidade em geral].” (Derridá, 1995, p. 231).
Em posições Derridá afirma que a diferância (tradução portuguesa que não é a diferença de outras traduções) é que se deve ligar a sua ideia de desconstrução “a um ponto de ruptura com Afhebung e da dialética especulativa” (Derridá, 1975, p. 56) em oposição clara a ideia na filosofia de Hegel que se pode reduzir um conceito a outro, mas sim há um jogo, a incessante alternância de primazia de um termo sobre o outro, produzindo por isto uma situação de constante indecisão.
Aqui penetra-se no discurso sobre o estruturalismo: “Por oposição ao discurso epistêmico, o discurso estrutural sobre os mitos, o discurso mitológico deve ser ele próprio mitomorfo.” (Derridá, 1971, p. 230) e sobre este discurso o próprio Levy Strauss escreveu: “será acertado considerá-lo [seu livro] como um mito: de qualquer modo, o mito da mitologia” (Lévy-Strauss apud Derridá, 1971, p. 242).
A ênfase de Derridá na textualidade e na escrita não é a ruptura com a filosofia, é antes uma compreensão mais aprofundada da viragem linguística para além dos jogos e o fato que ele seja visto tão estreitamente ligado a literatura é a penetração de sua leitura em departamento de literatura, mais específica nos Estados Unidos.
“O jogo” para Derridá “é sempre um jogo de ausência e presença, mas se quisermos pensar radicalmente, é preciso pensa-los antes da alternativa da presença e ausência; é preciso pensar o ser como presença ou ausência a partir da possibilidade do jogo, e não inversamente” (Derridá, 1971, p. 248).
A diferância assim está no “dentro” e “fora” da presença, sua desconstrução assim procura relacionar-se com a mitologia mas desmontá-la, numa perspectiva etnocêntrica, que faz prevalência do pensamento conceitual sobre o mítico, do raciocínio lógico sobre a bricolagem, que é feita pelo próprio Lévy-Strauus, pensar o mito como forma de pensamento original é reduzí-lo a episteme.

Referências:

Derridá, J. Posiçõe. Semiologia e Maerialismo. Tradução de Maria M. C. Barahona. Lisboa: Plátamo, 1975.
Derridá, Jacques. Margens da Filosofia.Campinas: Papirus, 1991.
___ A escritura e a diferença. São Paulo: Perspectivas,  1971.

 

As artes e o mito adâmico

20 fev

Citamos a obra de Eça de Queiroz: Adão e Eva no paraíso, mas uma obra que parece refletir muito o símbolo aHermingwayadâmico é a obra de Ernest Hemingway, ele parece a voz de uma experiência humana, que busca após a queda adâmica de luta contra o mal, incorporar uma busca de redenção, simbolizando assim a estrutura mítica do conceito de mal original, o mal adâmico.

Em outras palavras, um novo Adão, não apenas a figura de Jesus, mas a recuperação de uma falsa “inocência sábia”, uma busca da simplicidade de linguagem, um segundo Adão.

O que isto tem a ver com a realidade atual, quase tudo, é parte desta ascese do vem “aqui e todos seus problemas estão resolvidos”, e este movimento tanto na filosofia quanto na literatura é uma forma consciente ou subconsciente de utilizar uma apologia ao mito adâmico.

Os arquétipos dos personagens: Schorer, Murray e Frye são uma demonstração abrangente desta hipótese, que foi estudada na universidade de Rice pela estudante de mestrado Anna Gayle Ryan, e pode ser estendida a outros arquétipos utilizados por Hermingway.

O autor escreveu também “Por Quem os Sinos Dobram”, sobre a guerra civil espanhola, onde um soldado americano Robert Jordan, luta ao lado das Brigadas Internacionais que apoiam o governo democrático, com ele está um grupo de guerrilheiros/ciganos, que tem além de Pilar, uma mulher com extraordinária coragem, o perigoso Pablo e a bela Maria.

O romance escrito em Cuba, o que nos dá uma visão mais progressista, mas é possível fazer uma ligação figura com a inserção de americanos quase em todas as guerras do planeta posteriomente, não raramente tomando o lugar de protagonista, como no Vietnã, nas Coréias, no Oriente Médio, etc. para restaurar o “paraíso” do “american way of life” democrático.

A obra ficou marcada no cinema, no filme de 1943 dirigido por Sam Wood, com Gary Cooper e Ingrid Bergman nos papéis principais, o que aparentemente é uma obra de cunho revolucionário esconde os interesses americanos e a ideia de um paraíso adâmico representado pela democracia, o qual hoje é possível fazer esta relação com as guerras no planeta e a tensão atual com a Coréia.

É a ascese dos exercícios, que levadas ao extremo das guerras, impulsionam ideologias, e são parte deste mito moderno do “paraíso perdido”, a verdadeira ascese religiosa que é o ser-com-outro permanece oculta, e as relações humanas vão se tornando violentas.