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O Estado como religião e as redes
A expressão é de Francis Fukuyama, célebre pelo “fim da história”, porém deseja-se entender a gênese desta ideia de Estado-Deus e seu desenvolvimento nos dias de hoje.
Foi a partir das elaborações desde Kant até Locke que as ideias do Estado Moderno se consolidaram, mas em Hegel não só o idealismo atinge seu ápice, mas também a ética do Estado, a lógica positivista da ciência e as ideias “absolutas” também se consolidam.
A filosofia hegeliana fundamenta-se na filosofia da identidade, expressando isto na religião, na história e por fim no mundo do direito com seu conceito de Estado: “Além do que, por residir a filosofia essencialmente no elemento da universalidade, que em si inclui o particular, isto suscita nela, mais que em outras ciências, a aparência de que no fim e nos resultados últimos se expressa a Coisa mesma, e inclusive sua essência consumada” (Hegel, 1999, p. 21).
Como arte Hegel em seus Cursos de Estética, relaciona a filosofia com a representação da verdade escreveu: “Pois somente a filosofia em seu conjunto é o conhecimento do universo como uma necessidade orgânica em si mesma, que se desenvolve a partir de seu próprio conceito e, em sua própria necessidade de se relacionar consigo mesma como um todo que retorna a si como um mundo da verdade” (Hegel, 2001, p. 47).
Estrutura a história como a do Estado Hegel afirma que a primeira forma universal foi o despotismo, depois a democracia, a aristocracia, e, terceiro lugar a monarquia, ele evidencia que é a ideia do Estado a que primeiro concretizou por meio do espírito tornando consciência de si na história, assim o Estado seria a própria concretização da história, Marx parte daí.
Vejamos o texto: “Em consequência, a primeira forma de governo que tivemos na história universal foi o despotismo; depois vieram a democracia e a aristocracia, e, em terceiro lugar, a monarquia” (ibidem). Hegel evidencia a realização do Estado como reino da liberdade pela determinação político-administrativa enquanto monarquia, instância do universal pela qual a ideia concretiza-se por meio do espírito tomando consciência de si na história”. (Hegel, 1999).
A religião do Estado crê que ele é todo poderoso, é justo, não há crise, as redes estão aí para desmentir e desmistificar tudo isto, não é a impressa, mas as redes que apontam a crise atual.
Referências:
HEGEL, G. L.. Fenomenologia do espírito. V. I. Petrópolis : Vozes, 1999.
______. Filosofia da História. Brasília : UNB, 1999.
______. Cursos de estética. V. I. SP: Universidade de São Paulo, 2001.
Corpo, infinito e Noosfera
O infinito se visto a partir da ontologia, sendo exatamente assim que o filósofo Lévinas o vê, não é senão a ideia que todo o universo é um Ser, e este vive uma vida de corpo, é aproximada ao que propunha o filósofo Lebiniz do início da modernidade, com sua teoria das mônadas.
A metáfora do corpo é importante porque significa que cada célula (mônada no caso do universo) está submetida a uma pulsão e portanto é vivente organicamente e comunica.
Escreveu Heidegger como leitor de Leibniz: “A interna possibilidade da individuação [do ser], sua essência, reside na mônada enquanto tal. Sua essência é a pulsão” (Heidegger, p. 99).
“A pulsão é, enquanto este unificante, a natureza de um ente. Cada mônada sempre tem sua ‘prope constitution originale’. Esta é entregue juntamente com o ato da criação.” (pg. 99)
Aqui superamos a dicotomia natureza e cultura, poderíamos dizer a mônada individuada (não é individualizada porque permanece em pulsão com as outras), ao estabelecer sua pulsão em conjunto com todo o universo (unificante) estabelece a cultura geral como resultado de todo este conjunto de pulsões, e isto remete ao ato de criação ou ao Big Bang, ou seja, pulsão com o universo todo, e isto nos dá uma ideia de corpo organicamente vivente.
Mas este corpo sendo o universo não é finito como o corpo de um ser individual, então o Ser conforme pensou Lévinas a partir da terceira meditação de Descartes: “Não devo imaginar que não concebo o infinito por uma verdadeira ideia, mas somente pela negação do que é finito, do mesmo modo que compreendo o repouso e as trevas pela negação do movimento da luz: pois, ao contrário, vejo manifestamente que há mais realidade na substância infinito do que na substância finita e, portanto, que, de alguma maneira, tenho em mim a noção do infinito anteriormente à do finito … “ (Descartes, Meditações, 1973).
Teilhard Chardin chamou todo este corpo de Noosfera, porque sendo um místico entendia que também espiritualmente todo o corpo se comunica (noon espírito), e afirmava que todo o universo é corpo de Cristo, foi acusado de panteísmo, como Spinoza foi e como Leibniz poderia ser, talvez hoje não acusassem Lévinas nem Heidegger, afinal estes tem a mais ideia generosa de Ser, do ponto de vista místico.
Tudo isto pode parecer difícil, mas é simples se usarmos a metáfora dos vasos comunicantes, se em vaso colocamos água todos se elevam, se retiramos água todos caem, cada vaso é um Ser, a água é a pulsão, e o conjunto dos vasos é a cultura em determinado ponto.
Tudo que sabemos do universo até hoje é apenas 4% que é a matéria bariônica, os restantes 96% de matéria e energia escura permanece desconhecido, como afirma Lévinas no início de seu livro Totalidade e Infinito: “A verdade permanece oculta”.
A primeira dicotomia sujeito vs objeto
A uma coisa que é certa: Kant opunha a “coisa-em-si” ao “fenômeno”. O “fenômeno” é, segundo Kant, a manifestação objetiva e concreta da realidade conforme constatada pelo ser humano de uma forma intersubjetiva através da percepção (dos sentidos); o fenômeno é o objeto, com o qual o sujeito interage, então precisou inventar um sujeito transcendental que liga a coisa ao sujeito, e o pior virou religião para muitos.
Portanto, o fenômeno é a coisa, e a “coisa-em-si” é a essência da coisa, mas o sujeito não precisa transcender para interagir com elas, basta ter instrumentos científicos.
Ora, a essência da coisa ou a “coisa-em-si” poderia ser a composição quântica de um objeto macroscópico se Kant não tivesse dito que a alma humana é a “coisa-em-si” do fenômeno “Homem”, criou uma alma individualizada que nem alma é.
Aqui, a coisa complicou-se ainda mais por seria muito mais credível a teoria dos mónadas de Leibniz do que a “coisa-em-si” de Kant, um ente que não é Ser.
A partir da “coisa-em-si” de Kant (o modelo do imperativo categórico seria ele mesmo) desenvolveram-se os conceitos mais abstratos do idealismo, como é exemplo o conceito de “coisicidade” de Heidegger, que vem de seu professor Husserl.
Segundo Heidegger, a coisicidade é a noção das “coisas enquanto coisas” para Husserl e Heidegger, a coisicidade é conjunto da coisa e da “coisa-em-si” , o que permite a coisa Ser como “dois em um”, mas como uma pra que é além de que o ser humano, que é objeto de outro, passar a ser uma coisa e a fazer parte da coisicidade; a única coisa que não faz parte da coisicidade é o Das Sein ou tudo junto Dasein que é a presença existencial subjetiva mas ligada ao Tudo e ao Todo, embora existe o Eu e todo o resto.
Se Kant ainda fazia a distinção entre um e outro ser humano que não eu, e as coisas, Heidegger passou a dizer que a única coisa que não é uma coisa sou eu (se não estiver a acompanhar o raciocínio não se preocupe porque não perde nada com isso).
Partindo do princípio de que Kant concebia a alma (humana) como algo imanente (no sentido de imanência que é atribuído pela filosofia quântica, no sentido do formalismo da física quântica), o que parece ser o caso, então Kant concebia, em termos científicos atuais, a alma como a composição quântica de cada ser humano em particular, embora seja uma metáfora parece verdadeira, mas seria a alma corpórea ?
Creio que sim, mesmo no sentido Kantiano pois podemos senti-la no Outro, então a metáfora melhor seria corpo e não a redução a “coisa-em-si” abstrata.
As questões das simetrias remetem a estes assuntos, há muitas leituras a respeito.
Reformar o pensamento e a política
Continuando a ler “A cabeça bem-feita” de Edgar Morin, no capítulo 5 – Aprender a viver, o autor destaca logo de início que a maior contribuição de conhecimento do século XX foi saber justamente os limites do conhecimento., depois de criar uma “viático” para enfrentar as incertezas, nada mais próprio para o mundo atual, onde ele afirmar que a estratégia traz em si a consciência da incerteza que vai enfrentar e, por isso mesmo, encerra uma aposta (p.62), e encerra o capítulo trazendo uma reflexão que cada um deve estar plenamente consciente de que sua própria vida é uma aventura, mesmo quando mesmo tendo alguma pretensa segurança, deve estar plenamente consciente de participar da aventura da humanidade, que se lançou no desconhecido em velocidade, de agora em diante, acelerada (p.63) e a partir daí propõe sua cidadania.
No capítulo 6, “a aprendizagem cidadã” ele propõe que a educação contribua para a autoformação da pessoa (ensinar a assumir a condição humana, ensinar a viver) e ensinar como se tornar cidadão, que é também olhar para a democracia do futuro.
O cidadão é definido, em uma democracia, por sua solidariedade e responsabilidade em relação a sua pátria (p.65) e apresenta uma das maiores dificuldades em pensar o Estado-Nação reside em seu caráter complexo, pois ele é ao mesmo territorial, político, cultural, místico, religioso (p.66), será que hoje reconhecemos isto ?
Para há uma forte correlação entre desenvolvimento de nossa consciência e a consciência que habitamos nossa pátria terrena, que é olhar a todo o globo.
No capítulo 7, ele questiona os famosos “os três graus” da educação, passa a descrever chamado o ensino primário, onde as primeiras interrogações devem ser feitas, já no ensino secundário aprofundá-las para que o ensino universitário seja maduro.
Então a finalidade da “cabeça bem-feita” é beneficiar um programa com um questionamento que parte do ser humano, ou seja seria através das interrogações do ser humano, que se descobre sua dupla natureza: a biológica e a cultural (p.75).
É preciso, pois, compreender a causalidade mútua inter-relacionada a causalidade circular (retroativa, recursiva) e as incertezas da causalidade. Desta forma, formar-se-á uma consciência capaz de enfrentar complexidades (p.76-77).
No capítulo 8, “a reforma do pensamento” Edgar Mohin retoma o segundo e o terceiro princípios do Discurso sobre o Método que regem a consciência científica. O segundo princípio é tido como princípio da separação; e o terceiro como princípio da redução (p.87).
. O pensamento que une substituirá a causalidade linear e unidirecional por uma causalidade em círculo e multirreferencial; corrigindo a lógica clássica pelo diálogo capaz de conceber noções complementares e até antagonistas, e completará o conhecimento da integração das partes em um todo, pelo reconhecimento da integração do todo no interior das partes (p.92-93).
No capítulo 9 “Para além das contradições” Morin nos apresenta os problemas da educação na contemporaneidade. Esses problemas, segundo o autor tendem a ser reduzidos a termos quantitativos: “mais créditos”, “mais ensinamentos”, “menos rigidez”, “menos matérias programadas”… sair dessa reforminhas que camuflam ainda mais a necessidade de reforma de pensamento (p.99).
Morin reforça a tese que vem sendo discutida em todo livro: não se pode reformar a instituição sem prever a reforma das mentes, mas não se podem reformar as mentes sem uma prévia reforma das instituições (p.99).
Boa leitura, há um acesso aberto do livro. “A cabeça bem-feita”.
Reformar o pensamento: o mais difícil
Entre as várias crises que enfrentamos, já chamada de policrise pelo educador e pensador Edgar Morin, um dos aspectos mais profundos é o da reformar o pensamento, e quase tudo que está nos moldes do pensamento moderno ou pretensamente pós-moderno está em crise.
O livro A Cabeça bem-feita de Edgar Morin é uma formula breve, mas difícil, de partir de um ponto relativamente simples, afirmar o educador, que por sugestões de Jack Lang, o então ministro da Educação na França, imaginou fazer inicialmente um “manual para alunos, professores e cidadãos”, (Morin, p. 9) projeto que reformou e continuou, propôs superar a atual fragmentação do conhecimento através do pensamento complexo, passando por uma reforma do pensamento por meio do ensino transdisciplinar, capaz de formar cidadãos planetários, solidários e éticos, aptos a enfrentar os desafios dos tempos atuais.
O capítulo I apresenta os desafios, conectando saberes separados em disciplinas, propondo reuni-los em conteúdos mais polidisciplinares, transversais, multidimensionais, transnacionais, globais, planetário (Morin, p.13).
O capítulo 2 é o coração do livro, por isto intitulado a cabeça bem-feita, o filósofo Edgar Morin introduz a citação de Pascal “Não se ensinam os homens a serem homens honestos, mas ensina-se tudo o mais”, não é uma frase por acaso, mas revela a profunda crise moral que todos enfrentamos, não no Brasil, mas em nível planetário, então aonde pessoas honestas podem encontrar refúgio para enfrentar a parada.
No capítulo o capítulo ele explica como uma aptidão geral de inteligência, pode tornar-se apta para colocar e tratar os problemas de maneira organizados e que permita estabelecer ligação entre os saberes e dando-lhes sentido (p.21).
No capítulo 3 o autor trata da condição humana, assunto já tratado por Hannah Arendt e que é ligada e parte da retomada ontológica, mas que não depende só de reflexões filosóficas e literárias, mas depende das ciências naturais renovadas e reunidas, de assunto que são pouco antropocêntricos, mas ligados ao home: a Cosmologia, as ciências da Terra e a Ecologia (p.35).
Neste capítulo o ser humano é revelado em sua complexidade: ser, ao mesmo tempo, sendo totalmente biológico e totalmente cultural (p.40), poderíamos então repensar a cultura.
No capítulo 4 Aprender a viver, Edgar Morin nos apresenta o pensamento do filósofo Émile Durkheim “o objetivo da educação não é o de transmitir conhecimentos sempre mais numerosos ao aluno, mas o de criar nele um estado interior e profundo, uma espécie de polaridade de espírito que o oriente em um sentido definido, não apenas durante a infância, mas por toda a vida” (p.47), paro por aqui porque reformar o pensamento é uma revolução.
Quem quiser ler, há um pdf disponível na internet, mas é preciso ter “A cabeça bem-feita”.
Filosofia, história medieval e um livro
Recebi para avaliação o release e a capa do livro que está sendo lançado pela M Books do Brasil, de Anne Rooney: A História da Filosofia, a autora é professora em Cambridge no Trinity College, e fez mestrado e doutorado em Literatura Medieval, assunto para poucos, e que quase sempre esbarra em preconceitos e julgamentos, sendo membro de diversos órgãos ingleses como a Royal Literature Society.
Ao contrário do que imagina a vã filosofia, a literatura e filosofia medieval é riquíssima e não é apenas religiosa, pois foi neste período que se refez toda uma releitura da questões de fundação do pensamento ocidental, e em período de crise deste pensamento, leia-se em Edgar Morin a sua policrise e a crise do pensamento, retomar os aspectos da Metafísica, Epistemologia, Lógica, Ética e Estética, devem ser retomados de modo profundo no percurso humano.
Conforme aparece na abertura do livro: fazer perguntas é essencial, e a forma de apresentação “é concisa em explicações e um grande número de exemplos”, com as principais tentativas de respostas colocadas pelos filósofos na nossa história.
Como era de esperar explora aspectos centrais da filosofia tanto na metafísica quanto na ética, e é particularmente interessante sua desenvoltura em Ciências, Artes e Tecnologia, assuntos de grande dificuldade de abordagem na contemporaneidade, nos quais ela já é autora de vários livros.
É uma leitura que pode auxiliar a reflexão sobre questões do pensamento nos dias atuais.
Banquetes, diálogos, memória e amor
Não só na liturgia cristã, mas em toda a filosofia e literatura a mesa de refeições tem um significado forte quando se fala das relações e diálogos entre os seus comensais.
O Banquete de Platão junto com Fedro, os dois diálogos de Platão que tem como tema principal o Amor, no Banquete Platão ele discursa sobre a natureza e as qualidades do amor, mas está basicamente preocupado com as questões que envolvem a Cidade e os filósofos.
Na última ceia de Jesus (pintura de Da Vinci), após inúmeros diálogos, alguns feitos com base em parábolas, a parábola dos talentos, de Lázaro e o rico, do operário da última hora, do administrador esperto e tantas outras, ele realiza o diálogo com seus apóstolos e os prepara para deixar a sua memória, mas qual seria o verdadeiro memorial de Jesus.
Ele é explícito na última ceia, era comum lavar as mãos e os pés nas ceias, e Jesus começa com um gesto inusitado, geralmente os escravos lavavam os pés, e Jesus vai ele mesmo fazer este gesto, tentando ensinar a humildade e o serviço aos seus discípulos.
Depois durante a ceia, que era a ceia Pascal dos judeus, que a fazem na sexta feia, Jesus a fez na quinta-feira porque o cordeiro que deveria ser Imolado (morto) na sexta-feira será ele mesmo, e aí faz um segundo gesto inusitado, na ceia judaica há o cálice de Elias que fica sempre a parte, e Jesus tomando este cálice (em geral há cálices individuais) o usará, indicando que é Ele aquele que Elias havia anunciado que viria, toma dele e o dá aos seus amigos, para que tomem junto com o pão já repartido, o pão na ceia judaica está escondido e deve ser encontrado, e aí ele dirá qual é o seu memorial:
Na carta de Paulo aos Coríntios, Jesus afirma “Fazei isto em minha memória”.(1Cor, 11, 24) e completará: “Todas as vezes, de fato, que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor, até que ele venha” (1Cor,11, 26).
Jesus está falando da sua morte que é o ápice do seu Amor, dar a vida pela humanidade, que deverá acontecer nas próximas horas quando será entregue aos seus carrascos.
Assisti Alice para Sempre, que conta a história de uma professora com um precoce mal de Alzheimer que se prepara para a perda de memória e para a morte, a atriz Julianne Moore ganhou o Oscar de melhor atriz, e o diretor do filme, Richard Glatzer, morreu dia 11 de março de esclerose lateral amiotrófica, há portanto duas lições de vida no filme.
Há na literatura muitos enredos que se passam ao redor da mesa, um recente é o romance “O jantar”, do escritor holandês Herman Koch, um dos maiores best-sellers da Europa de 2012 com mais de 1 milhão de exemplares vendidos e que vai agora para o cinema.
ONU e a tecnologia para a Paz
Recente relatório da ONU, conforme o site FierceGovernmentIT, reforça a ideia que a tecnologia pode ajudar muito em missões de paz, em áreas como: consciência situacional, executar mandatos e proteção, de acordo com o Painel de Peritos em Tecnologia e Inovação para Manutenção da Paz das Nações Unidas.
O relatório (ver página) entre as diversas recomendações do uso de tecnologia em de áreas e temas, um aspecto importante destacado são certos princípios que a ONU tem na aquisição e uso de tecnologia.
Mas o foco do painel é que se deve ser usar amplamente disponível a tecnologia disponível, mas não de tecnologias proprietárias e que podem ser relativamente fácil de manter, dar prioridade à mobilidade em relação à capacidade de manobra dos ativos e plataformas de tecnologia de informação móveis, estão entre as principais recomendações..
Alguns destaques do relatório são para os veículos protegidos de minas, veículos aéreos não tripulados, e inovações de smartphones, e cita a aplicação UNMAS.
As minas terrestres, que mutilam tantas pessoas mesmo em regiões que já desfrutam da paz, usam o tipo de Segurança ERW que podem ajudar missões de paz e enfrentam a ameaça de minas terrestres, relíquias de explosivos de guerra e dispositivos explosivos improvisados, pode-se usar a plataforma em vários idiomas.
Mas o painel observa que a ONU também terá de lidar com questões como a largura de banda limitada, a falta de sistemas interoperáveis, e cibersegurança
No longo prazo, o relatório diz que a ONU precisa para criar uma cultura de inovação.
A ontologia trinitária de Piero Coda e o Mal
O Mal, escrevo em maiúscula porque é a categoria ontológica na qual o mal de nossos desafetos e deslizes cotidianos são apenas componentes, deve ser visto dentro da tradição cristã e de muitas outras tradições religiosas como aquilo que deve ser desprezado, combatido e em última instância eliminado, e isto é uma ausência da ontologia trinitária e aí o “Mal” permanece.
Mas se entendemos a figura da Trindade, na tradição cristã, a relação de três pessoas em um único Ser, isto nos remete imediatamente ao amor agápico, como fundamento da religião e é nele que podemos rever a concepção equivocada de Deus e de certa forma de religião, um Deus punitivo.
Seria possível entender isto de modo puramente filosófico, sim e não, sim porque podemos entender o Pai como alguma pessoa com certa autoridade, o filho como imanente ao Pai, e o Espírito Santo como um ser com uma força capaz de resolver as diferenças e esta relação de autoridade e imanência estabelecendo a comunicação e a plena comunhão dos três seres.
Não porque estaríamos reduzindo o amor agápico entre três seres, que de um modo muito profundo fazem que eles sejam um só Ser e isto não é compreensível sem a luz da Fé.
Piero Coda utiliza uma categoria da fundadora do Movimento dos Focolares, que é a figura de Jesus Abandonado para tornar esta epifania uma relação cotidiana com todos os seres e assim cria uma ontologia trinitária, que é capaz de estabelecer uma relação entre o Logos expresso em Jesus, e plenamente realizado na sua figura quando já desfalecido e entregue as dores e sofrimentos na cruz, não chama mais Deus de Pai, mas apenas de Deus: “Meu Deus, meu Deus porque me Abandonastes” diz o relato bíblico.
Qual a lição prática desta figura bíblica poder-se-ia dizer algo paradoxal: Deus não é mais Deus, mas homem, uma ponte entre o homem e o Eterno se realiza, e continua a realizar-se em toda dor, sofrimento e catástrofes humanitárias, então a ontologia trinitária penetra na vida diária.
Ao romper o “muro da inimizade” (Ef 2, 14) Jesus naquele momento cria um campo relacional novo, todos tem acesso ao Outro (Deus) em movimento dinâmico e recíproco, e este campo pode estender-se a toda humanidade, assim realiza já hoje diálogo entre religiões e culturas.
Afirma Coda: “in qualche modo ci é comunicata nella storia l´eterna circulazionde dámore dei Tre … il loro aprirsi ala storia degli uomoni” (Dio uno e trino, Edizione San Paolo, 1993, p. 141).
Epifania, Eucaristia e a filosofia
A passagem do menino-Deus na Terra é a sua manifestação aos homens, a Epifania, que poderia desaparecer após a morte e crucificação daquele que é pura manifestação do divino em meio a raça humana, poderíamos dizer a manifestação do Ser por excelência entre os seres e entes, temas caros a Husserl, Heidegger, Deleuze e Derridá.
Mas há entre os seres uma manifestação do Ser, que é aqueles que se reúnem em atitude de completa abertura e conseguem chegar a negação do ser, para ser com o outro, rompendo a lógica clássica, o não-ser é ser porque é ser com o outro, conforme pensaram Lévinas e Paul Ricoeur.
A parcela mística da presença de Jesus, para os que creem o homem-Deus, que na cruz assemelha-se ao hommo sacer, figura utilizada por Giorgio Agamben e Hanna Arendt e, recentemente, também Slavoj Zizek, figura usada para dizer o homem comum privado de sua humanidade, embora este não possa ser confundido com uma figura religiosa, poderíamos dizer se privou até mesmo disto, aqui a epifania se torna Eucharistia se pensarmos em coisa, não ser de fato, puro ente, ainda que guarde algum traço do Ser.
Eucharistia do grego εὐχαριστία, na explicação cristã católica a transubstancia do corpo de Jesus em pão e vinho no ápice de uma missa, mas gosto de lembrar o quadro de Rafael Sánzio no Vaticano, chamado “A disputa do sacramento” entre figuras cristãs e religiosas está lá uma disputa entre filosofia e teologia ou entre uma natureza divina e uma pura substância com um ostensório sobre um altar, coloca abaixo das figuras religiosas em meio a filósofos mundanos.
Se há uma tensão entre o ser e o ente, afirma Deleuze “o além celestial de um entendimento divino inacessível a nosso pensamento representativo, ou o aquém infernal, insondável para nós, de um Oceano de dessemelhança”, assim não são os seres e coisas, mas poder se pensamos um Puro Ser transformado em Pura Coisa, ou melhor puro “noúmeno”, a coisa para os clássicos, mal compreendida por Kant onde é pura dessemelhança.
Eucharistia é ser transformado em noúmeno, pessoa transformada em substância, algo definido pelos cristãos como “transubstanciação”, insondável mas não inalcançável.
Epifania é ao mesmo tempo noesis e noema (perceber e o que é percebido) e só será plena em nossos dias na Eucharistia, um Ser-Coisa devorado por homens famintos, mas é preciso a Fé.