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Arquivo para a ‘Filosofia da Informação’ Categoria

A questão de representação e os noúmenos

03 ago

Schopenhauer afirmou categoriamente: “O mundo é representação minha”, estaRepresentar é uma verdade para cada pessoa que vive a experiência do conhecimento, e embora possa trazer isto para sua consciência e nela refletir e até mesmo criar abstração, o que todos fazemos, isto não pode ser considerado uma clarividência filosófica como suponha Schopenhauer, embora isto passe pelos sentidos, como ele afirmara: um olho vê o sol e uma mão toca a terra.

 

O que conseguimos conhecer pelos sentidos, e tudo sobre o que podemos raciocinar é o que Kant chamou de mundo “fenomênico”, mas este fenômeno é um mudo de aparências, e o que está escondido passa pela consciência mas deve encontrar aí sim alguma clarividência.

Para Schopenhauer este seria o mundo como representação é fenômeno, e apesar de negar Kant, para ele a representação, que vê o que é objeto para o sujeito.

 

Diferentemente de Kant, Schopenhauer não fala do fenômeno apenas como representação que não diz respeito e não pode captar o noúmeno (Noumenon), isto é, a coisa em si, e aqui entra algo importante, pois o que é a “coisa em si” como essência, a modernidade não sabe.

 

Segundo Schopenhauer pode-se alcançar a essência da realidade, e a coisa em si que e Kant, permanecre incognoscível, pois para ele o fenômeno é ilusão e aparência, é aquilo que, na filosofia hindu, chama-se o “véu de Maia” e que por isso Heidegger vai chamar de desvelar.

 

Se não temos acesso às coisas em si mesmas, como é possível apreendermos as coisas tais como são? Para Schopenhauer há alguma faculdade largamente desprezada, possuída por todos:

“A palavra enigma é dada ao sujeito do conhecimento que aparece como indivíduo. Tal palavra se chama VONTADE. Esta, e tão somente esta, fornece-lhe a chave para seu próprio fenômeno, manifesta-lhe a significação, mostra-lhe a engrenagem interior de seu ser, de seu agir, de seus movimentos.”

 

Ora o enigma pode ser desvendado, mas o mistério não, se o admitimos, nele podemos penetrar sempre mais como realidade que está ao alcance do homem, mas que a nosso ver precisa ter a compreensão de que existe como tal, e algo ontológico se esconde nele, isto alguém e não apenas alguma coisa.

SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e representação. São Paulo: Editora UNESP,2005. §I p.43.

 

Gadamer e a hermenêutica filosófica

25 jul

O filósofo Hans-Georg Gadamer (1900-2002) aparece logo na introdução4filmes de sua principal obra “Verdade e Método“, ele declara qual é o propósito desta obra e de certa forma de seu pensamento filosófico: «A hermenêutica aqui desenvolvida não é, por conseguinte, uma metodologia das ciências humanas, mas uma tentativa de compreender o que as ciências humanas são na verdade, para além da sua autoconsciência metodológica, e o que as liga à totalidade da nossa experiência do mundo», o que revela uma tentativa de compor o conhecimento fragmentado a partir da filosofia.

 

Assim o objetivo de Gadamer não é, como pode há algumas interpretações, apenas a necessidade de uma obra metodológica no seio das ciências humanas, ou mesmo retomar uma disputa já um pouco desgastada o método entre as ciências naturais e as ciências humanas, porém permitir no âmbito do caminho inter e transdisciplinar que desponta, é o de dar discernimento e que tipo de verdade se podem “desvelar” nas ciências humanas.

 

Um aspecto essencial e pouco claro por causa de um discurso relativamente complexo, é que sua obra vê nas diversas filosofias um diálogo entre o passado e o presente, e sua própria obra é a continuidade de um diálogo convergente do pensamento atual existencial-ontológica.

 

Para Gadamer a experiência hermenêutica não é monológica, como a ciência, mas em que pese toda uma cultura centrada no Eu é possível uma leitura dialógica ou dialética num sentido diferente daquele da história universal de Hegel: «Tal como uma pessoa procura chegar a acordo com o seu parceiro (de diálogo) em relação a um objeto, também o intérprete compreende o objeto a que o texto se refere (…), ficando ambos em produtiva conversa, sob influência da verdade do objeto e ligados assim um ao outro numa nova comunidade», na qual «deixamos de ser aquilo que éramos», ou seja, há um diálogo ou uma resposta a autores diferentes no sentido que cada um responde a discursos anteriores.

 

Assim é possível numa análise textual, que o leitor leia escutando uma voz não familiar, permitindo que ele questione as suas preocupações atuais a luz de diversos pensamentos.

 

Mas devemos entender que o que nos “diz” um texto depende, por outro lado, qual é o tipo de perguntas que pode ser feitas claramente a determinado pensamento, bem como do nosso ponto de vista na história e da nossa capacidade de reconstituir aquela “pergunta” para a qual o texto é uma “resposta”, uma vez que o texto também é um diálogo com a sua própria história através do pensamento, então estamos diante da superação de cada dicotomia.

A história vista como “diálogo interminável” constitui uma visão de abertura total ao passado, ao presente e ao futuro.

 

Popper: um crítico específico de Hegel

22 jul

Embora a grande contribuição de Karl Popper lembrada no mundo acadêmico CiênciaNormalseja em relação a sua visão de ciência, a questão da ciência “normal” que surge das contribuições e acréscimos em paradigmas científicos, há uma contribuição mais profunda na crítica a Hegel.

Publicou em 1934 A lógica da pesquisa Científica, enquanto ainda era professor escolar, nela criticou o neopositivo lógico do Circulo de Viena, criando uma teoria que a falseabilidade potencial é o critério a ser usado para distinguir ciência de não ciência.

Depois emigrou para Nova Zelândia onde foi lecionar na universidade de filosofia na Universidade de Canterbury, em Christchurch.

Dizia corretamente que era herdeiro de David Hume e Immanuel Kant, mas sua abordagem empírica tem elementos novos, influenciado por W.V. Quine diz que a observação empírica não é “simples”, porque é sempre seletiva, no sentido de que ocorre a partir de uma perspectiva, e esta perspectiva é sempre favorável a corrente filosófica que conduz à pesquisa, mas ele vê a ciência como um esforço de resolução de problemas, e mesmo sendo humana é possível diferenciar se ela é ou não ciência “pela solução”.

A crítica a Marx, que coloca entre todos os sistemas “totalitários”, feita no seu trabalho a Sociedade Aberta e seus inimigos, parte da ideia que todos historicistas (inclui Hegel) usam de modo inapropriado a ciência, porque a história humana não pode ser “prevista”, mas além de filosofia da ciência fez também trabalhos de história da ciência, a partir dos anos 1960.
Os trabalhos de Michael Polanyi (1871-1976) e Thomas S. Khun (1911-1996), deste em especial a Estrutura das Revoluções Científicas, que mostra que Popper trata apenas da ciência normal e não dos períodos paradigmas, cita como exemplo a superação de Newton por Einstein, vão fazer que Popper refaça suas teorias influenciando a questão científica, mas não a filosófica.

Entre os livros mais conhecidos desta época: Conjectures and Refutations: The Growth of Scientific Knowledge, (1963), Objective Knowledge: An Evolutionary Approach, 1972, The Self and Its Brain: An Argument for Interactionism (1977, In Search of a Better World (1984), Knowledge and the Mind-Body Problem: In Defence of Interaction (1994).

Os trabalhos de Michael Polanyi (1871-1976) e Thomas S. Khun (1911-1996), deste em especial a Estrutura das Revoluções Científicas, que mostra que Popper trata apenas da ciência normal e não dos períodos paradigmas, cita como exemplo a superação de Newton por Einstein, vão fazer que Popper refaça suas teorias influenciando a questão científica, mas não a filosófica.

Entre os livros mais conhecidos desta época: Conjectures and Refutations: The Growth of Scientific Knowledge, (1963), Objective Knowledge: An Evolutionary Approach (1972), The Self and Its Brain: An Argument for Interactionism (1977), In Search of a Better World (1984), Knowledge and the Mind-Body Problem: In Defence of Interaction (1994).

 

Os críticos de Hegel

21 jul

Considero a mais importante aquela surgida a partir de Husserl, que tem Fenomenoraízes em Franz Brentano, porque daí surgiu grande parte do existencialismo, e três dos mais importantes pensadores contemporâneos: Heidegger, Paul Ricouer e Emmanuel Lévinas, há ainda Karl Popper, uma crítica a parte, que ficará para o próximo post.

 

Os primeiros críticos ferozes de Hegel são Arthur Schopenhauer e Friedrich Nietzche, ambos tiveram uma importante influência do transcendentalismo americano de Ralph Waldo Emerson  (1803-1882), e embora ambos tivessem também a influência de leituras orientais, é através desta influencia que pode-se explicar o subjetivismo transcendentalista de ambos, ou dito de outra forma, não tem rompido totalmente com o centro egóico da cultura ocidental onde o eu é de onde parte a filosofia, ambos farão discursos sobre a questão da “vontade”.

 

Karl Marx não é exatamente um opositor, parte do sistema Hegeliano de crença no Estado, e neste de certa forma em um tipo de “deus”, por exemplo, com a filosofia da história, ele faz o que ele próprio definia como um Hegel de cabeça para baixo, não um sistema do céu para a terra, mas da terra para o céu, mas qual foi paraíso celeste de Marx? Uma sociedade sem classes, o socialismo real revelou que acabamos construímos novas “castas” no poder.

 

Retornemos a Edmund Husserl (1859-1938), em trabalho da maturidade A crise das ciências europeias (1936), ele escreveu: “nossas reflexões críticas sobre Kant já nos tornou claro o perigo de conclusões impressionantes, mas ainda obscuras ou, se se quiser, a iluminação de conclusões puras na forma de vagas antecipações … e isso também tornou compreensível o modo como ele foi forçado em direção a uma construção conceitual mítica e uma metafísica perigosamente hostil a toda a ciência autêntica.”

 

Ele defendeu uma essencialismo, é famosa sua frase “voltar as coisas por elas mesmas”, mas é sua crença no modelo fenomenológico que cria bases para uma ciência autêntica, religada ao ser (o existencialismo viria com Heidegger, seu aluno que o sucedeu na academia) num novo transcendentalismo, assim explicado: “Nós mesmos seremos dirigidos a uma transformação interna pela qual ficaremos frente a frente – em experiência direta com – a dimensão há muito sentida mas constantemente ocultada do ´transcendental´. A base da experiência, revelada em sua infinidade, tornar-se-á então o solo fértil de uma filosofia de trabalho metódico, com a auto-evidência, além disso, de que todos os concebíveis problemas filosóficos e científicos do passado estão destinados a serem apresentados e resolvidos a partir desta base”, em sua obra magna “A crise das ciências europeias e a fenomenologia transcendental” (1936).

 

Hegel: o ápice do idealismo

20 jul

Georg Wilhelm Friedrich Hegel(1770-1831) pode ser considerado o ápice doSistemaHegel idealismo mesmo para leitura divergentes, e para outros o máximo desenvolvimento da modernidade em seus três grandes projetos: o idealismo “puro”, o cientificismo e o estado democrático de direito.

 

Suas três grandes obras, os escritos de juventude e a formação cristão luterana também são importantes, Fenomenologia do espírito (ou da mente, já explico) de 1807), Ciência da lógica (1812-17) e Enciclopédia das ciências filosóficas (1817) (consideradas aqui como contíguas) e Princípios da filosofia do direito (1820), e é claro há vários outras obras.

 

Esclarecemos três equívocos o primeiro é sua filosofia do espírito, mas que pode ser considerada também da mente, a segunda é seu método que seria análise-síntese-antítese, o que foi escrito por um de seus comentaristas Heinrich Moritz Chalybäus (1762-1862), e no terceira é que sua historicidade é aquela da história numa dimensão temporal da existência humana, a da teoria da história que inclui fatos culturais e sócio-políticos.

 

Na filosofia do espírito a palavra em alemão Geistes (espírito) tem a raiz geist que indica mente, em inglês existem as duas versões, e alguns historiadores da filosofia (como Stephen Trombley) consideram que isto foi proposital de Hegel), pode-se explicar isto pelo fato que ao falar de espírito, dirá em Fenomenologia do Espírito: “A razão é o espírito quando a certeza de ser a realidade se eleva à verdade, e [quando] é consciente de si mesma como de seu mundo e do mundo como de si mesma”.

 

O tema da consciência é importante e será ele que guiará Hegel em suas obras sobre a lógica e as ciências filosóficas, não por acaso escreveu em Fenomenologia do Espírito sobre Ciência da experiência da consciência, assim como sua obra mais importante a filosofia do direito.

 

Nesta obra Hegel definirá eticidade como: “…a ideia da liberdade enquanto vivente bem, que na consciência de si tem o seu saber e o seu querer e que, pela ação desta consciência, tem a sua realidade”, vinculando a vontade subjetiva individual e a realidade.

 

São categorias essenciais para entender Hegel em-si, de-si e para-si se pode compreender melhor o que é de fato o conceito da moral hegeliana e sua relação com a pessoa, aqui não apenas por acaso chamado de indivíduo e sujeito, conceitos caros a todo o construto idealista.

 

Idealismo na idade da razão

19 jul

 

O empirismo não foi criado por David Hume, mas por John Locke, EmpirismoIdealismoentretanto será Immanuel Kant que inspirado em Hume, que dirá “ousar saber”, buscando uma sabedoria, numa visão dos iluministas longe das crenças e superstições, dirá Kant:

 

Esclarecimento [Aufklärung] é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude!” (Kant, 1783)

 

 

O período compreendido entre fins do século XVII e fins do século XVIII, conhecido como século das luzes, caracterizou-se pela crítica a toda e qualquer crença, pela crítica aos próprios instrumentos utilizados para a obtenção de conhecimento, e por considerar o conhecimento como algo que tem a finalidade de tornar a vida dos seres humanos melhor, tanto no campo individual, como na vida em sociedade.

 

Kant tentou reduzir a moral ao campo pessoal, que embora critique na Crítica da Razão Prática os perigos de uma sociedade exacerbadamente egóica de seu tempo, por ele como uma “mania do eu”, uma “patologia social”, que transforma a noção de respeito em um equívoco fundado no sentimento interno de cada indivíduo, estabelecerá para conciliar racionalismo com empirismo, que “Age como se a máxima da tua ação fosse para ser transformada, através da tua vontade, em uma lei universal da natureza.”, na sua Fundamentação da metafísica dos costumes.

 

Deste modo, sua razão é uma tentativa de superação da razão “pura” de Descartes, mas ainda permanecerá preso a ela, a razão kantiana não é o jeito de pensar de cada um, é algo necessário e universal, ou seja, todos serem são regidos por ela.

 

Pode-se dizer grosso modo que na filosofia idealista o princípio básico é que Eu sou Eu, num sentido mais próprio do idealismo,  o Eu é objeto para mim (Eu), para que sua dicotomia básica que é a oposição entre sujeito e objeto permaneça como incidente no interior do próprio eu, uma vez que o próprio Eu é o objeto para o sujeito (Eu).

 

O idealismo em sua complexidade é possível fazer uma divisão grosseira em três partes: (1749) ‘sistema filosófico que aproxima do pensamento toda existência’, (1828) ‘concepção estética na qual se deve buscar a expressão do ideal acima do real’, (1863) ‘atitude que consiste em subordinar o pensamento e a conduta a um ideal’, que encontrará seu ápice em Hegel.

 

 

KANT, Immanuel. (1783) Textos seletos. Petrópolis: Vozes, 2005

KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Lisboa, Ed. 70, 1995

 

Empirismo é racionalismo ?

18 jul

Seguindo nosso autor-guia Peter Kreeft, em seu imaginário diálogo de SócratesRacionalXEmpirico com Hume, agora Sócrates perguntará sobre o método e o que é verdade para Hume, tentando mostra-lo como racionalista, ao Hume afirma que não o é, Sócrates responde:
“SÓCRATES: Em sua teoria epistemológica, sim, mas não em seu método. O teu método, assim como o deles, consiste em reduzir ou dados à explicação, o complexo ao simples, a rica variedade da experiência às simples fórmulas universais.

HUME: Mas esse é simplesmente um dos elementos do método científico.

SÓCRATES: E isto significa que deva ser um dos elementos do método filosófico ?

HUME: Não há nada de absolutamente verdadeiro, ou falso, com relação a um método … um método é apenas uma ferramenta, um meio prático no fim de se encontrar a verdade. O que deveríamos debater é a verdade.

SÓCRATES: Concordo. Mas não pode ser a verdade que o método científico não é mais adequado para o filósofo que um método não científico para um cientista?

HUME: E que método usarias para comparar o método científico a qualquer outro método?

SÓCRATES: Eu usaria o método universal da lógica.

HUME: É justo.

SÓCRATES: E digo que o reducionismo viola as leis da lógica.” (Kreeft, 2014, p. 34)

 

O reducionismo é a base do racionalismo e também do empirismo, isto é a simplificação da realidade em fórmulas e processos aparentemente explicados, mas que são complexos.

 

O tema é anterior a modernidade, no final da idade média, o nominalista inglês William Ockham criou o método: “entre duas explicações escolha a mais simples”, e por causa dele isto ficou conhecido como Navalha de Ockham.

 

 

Mais tarde veio o racionalismo

15 jul

No capítulo O ponto de partida (continuando o livro de Peter Kreeft), Sócrates começa a dialogar com Hume,EmprismoEracionalismo parte da premissa que há uma ruptura com a vida no pensamento do empirista e que no fundo é racionalista.

Explicando, é Descartes que funda o pensamento racional moderno com a ideia de que tudo pode ser explicado pela razão, mas há nela uma relação essencial com a física e o logicismo matemático, Hume tenta consertar isto colocando junto a experiência, mas seu empirismo não é exatamente a “vida” e Kant tentará mais tarde ainda conciliar os dois com seu idealismo.

Voltando ao roteiro de Peter Kreeft, que faz um hipotético diálogo de Sócrates com Hume, no ponto de partida, afirma Sócrates a Hume: “A tua divisão de Descartes entre a mente e o corpo: é definida e clara e é mais racionalista que experimental. Quase nenhum filósofo jamais apresentou tamanha lacuna entre sua filosofia e sua vida.” (Kreeft, 2014, pag. 31).

E iniciam o diálogo dizendo que Hume é ”um Racionalista disfarçado de Empirista”:

“HUME: Então, já que ainda não pretendes julgar minha filosofia, não pretendo julgar o teu julgamento … (segue)

SÓCRATES: … minha suspeita que és um Racionalista, a qual advém do outro ponto principal da primeira seção do seu livro … nos dizes o que pretendes realizar com tua filosofia

Mas não nos será lícito esperar que a filosofia, cultivada com esmero […], possa […] revelar, pelo menos até certo ponto, os móveis e princípios ocultos que impulsionam a mente humana em suas ações? Os astrônomos por muito tempo se contentaram em deduzir dos fenômenos visíveis os verdadeiros movimento, a ordem e a magnitude dos corpos celestes, … (segue) …  [citando David Hume Investigações sobre o  Entendimento Humano].

Aqui, para explicar o que a tua ciência das ideias pretende alcançar, fazer uma analogia com Newton: assim como ele reduziu os fenômenos complexos do comportamento de toda a matéria a uns princípios exploratórios, também reduzes … os fenômenos complexos de toda consciência a uns poucos princípios exploratórios. E isso também se parece mais com um ideal Racionalista do que um Empirista” (Kreeft, 2014, pags. 31 e 32).

 

Gotas de Filosofia: no início era Sócrates

14 jul

Conhecemos Sócrates por Platão, isto é aparece nos diálogos da Platão e como
Sócrates-encontra-Humeboa filosofia, é uma conversa na qual um raciocínio vai sendo engendrado em uma lógica como afirmava Leibniz: na qual uma verdade leva a outra, e assim alguém se contradiz ou é refutado no meio da conversa, enfim são diálogos.

 

Diálogos não são aforismas, máximas que ditas de maneira quase dogmáticas podem parecer verdades, mas não são pela falta de diálogo, no dizer da filosofia de hoje, sem a presença do Outro, mas apenas a presença do Mesmo, monólogos por vezes autorreferentes ou sistêmicos, conforme o Paradoxo de Gödel: nenhuma teoria axiomática (lógica) é completa.

 

O debate entre Sócrates e Hume, embora um hipotético encontro na eternidade é importante, porque o empirismo foi a última grande corrente do pensamento científico, emprestada ao Círculo de Viena, que tentou reconceitualizar o empirismo e demonstrar as falsidades da metafísica.

 

Foi Peter Kreeft (2014) que escreveu “Sócrates encontra Hume: O pai da Filosofia interroga o pai do Ceticismo Moderno”, que humildemente escreve em sua introdução: “acredito não ter violado a integridade da filosofia de Hume” (Kreeft, 2014, p. 12) e depois: “Este não é um trabalho acadêmico” (idem), ao que diria: melhor assim.

 

Após uma apresentação inicial, em que Hume se diz como um cético e Sócrates não,  mas se encontram como censurados pela academia, e fazem um diálogo sobre critica a ideias.

 

Destaco inicialmente, sobre esta questão da crítica que Sócrates diz ser importante ao ensino.

 

“SÓCRATES: Portanto, não reclamarás de estar sujeito ao mesmo tipo de crítica.

HUME: Não tenho nada a temer. Não sou um desses construtores de sistemas dogmáticos, como aqueles Racionalistas, Descartes, Espinoza e Leibniz.

SÓCRATES: Isso ainda veremos.” (Kreeft, 2014 pag. 17)

 

KREEFT, Peter. Sócrates encontra Hume: O pai da Filosofia interroga o pai do Ceticismo Moderno, Campinas: CEDET, 2014.

 

Ainda coalizão: o diálogo como cinismo

12 mai

LoboCordeiroQuando se esperava um governo de “notáveis” que pudesse redirecionar a política nacional, assistimos a uma continuidade onde até mesmo alguns ministros que ontem eram do governo anterior, e agora serão ministro de Temer.

 

Um dos grandes nomes da filosofia contemporânea, Peter Sloterdijk (1947) divide em duas cenas a filosofia do ocidente, aplicáveis aos fatos do Brasil de hoje: cinismo descrito em seu profundo e de difícil leitura Crítica da Razão Cínica (1983) e ira em um livro mais recente Ira e Tempo (2006), lançado recentemente no brasil pela Estação Liberdade, e já está no prelo na mesma editora três volumes de Esferas, considerada já sua obra magna.

 

O cinismo onde recupera o seu sentido antigo (kynismos) e sua troca para um sentido moderno, que significa uma “troca de lado”, que aplicável ao momento atual no cenário brasileiro significa uma lógica “dos senhores”, que ele divide em 4 seções: fisionômica, fenomenológica, lógica e história, que desvela como construiu-se o pensamento moderno.

 

Usando a literatura que vai de Fausto a Heidegger, sua análise fenomenológica fecha com a anatomia do República de Weimar, raiz para ele dos “totalitarismo” ao menos do ocidente.

 

O cinismo é uma “divisão de consciência”, que confunde autonomia e alienação, em três formas bastante claras: a mentira, a ilusão e a ideologia. Foi assim, para o filósofo, que ideal do Esclarecimento estagnou-se numa crítica ideológica da sociedade, e com a qual fez seu pacto silencioso.

 

Com o problema universal, uma espécie de bolha do cinismo a única arma que nos teria restado seria a Ira, mas não é, há também um herói entre o inimigo e uma substância sutil fora do mundo (vale aqui lembrar o conceito de substância em Espinosa e Leibniz), fazendo uma curiosa transcendência da ira, para ele Deus, para nós um deus hegeliano.

 

Como esse deus-ira pode fazer uma interface divino-humana ? ele cria um conceito chamado thymos, uma espécie de conflito interior da consciência heroica que leva a violência.

 

Esta “revolução timótica”, leva-nos a investir em auto-estima, guerras coletivas de reconhecimento, e ideologia e pseudo-políticas sociais podem mobilizar estas iras.