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Arquivo para a ‘Cognição’ Categoria

Entre a fantasia e o imaginário

19 fev

O imaginário faz parte da cultura e da tradição popular, nela inúmeras culturas se expressam, parecem mitos e fantasias foram da realidade, mas diferencia-se desta por ter uma fonte originária, isto é, ser parte de uma cultura e expressão de anseios e perspectivas culturais de um povo.
O que Droysen, Heidegger e Gadamer especularam sobre o historicismo romântico, que Dilthey elaborou, não é senão o historicismo fantasioso, o futuro como puro sonho irrealizável enquanto o futuro vindouro é parte da tradição cultural e por isso é necessário o diálogo com a tradição.
A fantasia é inicialmente uma tentativa de fuga, a ausência de diálogo não no sentido prosaico de ouvir o Outro, de aceitar a diferença, mas sim de entender e dialogar verdadeiramente entrando nos conceitos e perspectivas presentes na tradição, sem compreende-la realizamos escuta e não o diálogo, a dialogia que falaram Martin Buber, Paulo Freire e mesmo Bakhtin.
As fantasias representam delírios da alma, desejos compulsivos incontroláveis, e que muitas vezes chegam a patologias, não se trata de uma fantasia infantil de contos de fadas ou super heróis, estas pertencem ao imaginário pois a criança ainda vê o mundo futuro como possibilidade.
O imaginário épico, tanto como historicismo quanto como literatura ressalta os feitos e glórias, onde o presente surge como um resultado de um passado mítico, mas que se projeta para o futuro, exprime a exaltação factual de acontecimentos memoráveis ou extraordinários.
O imaginário romântico é de um herói solitário deslocado no tempo, D. Quixote é uma boa expressão deste imaginário, representa uma reação a saturação filosófica do determinismo e do racionalismo, mas fica preso ao sensorial empírico ou as metáforas do real.
Estas fantasias em geral apelam para a criatividade, mas pouco dizem da realidade.

 

A tragédia e as artes

30 jan

Não estou falando aqui da tragédia no sentido vulgar, mas enquanto categoria artística que não só é importante para compreender as artes e o belo grego, como é reivindicada como uma nova ideia de tragédia “como propuseram Hölderlin, Hegel ou Nietzsche.” (Ranciére, 2009, p. 25).

Assim como Byung Chul Han em “A salvação do belo” vai problematizar o dualismo entre contemplação e ação, típicos da filosofia moderna que separa sujeito de objeto, Rancière penetra mais fundo ao propor sua “revolução estética”, afirmando que o que há é a “abolição de um conjunto ordenado de relação entre o visível e o dizível, o saber e a ação, a atividade e a passividade” (Ranciére, 2009, p. 25).

Disse isto ao analisar o Édipo da “revolução psicanalítica” que invalide “aqueles de Corneille e de Voltaire e que pretenda reatar – para além da tragédia à francesa, bem como da racionalização aristotélica da ação trágica – como o pensamento trágico de Sófocles” (idem, p. 25), na figura acima uma interpretação da pintora Marie Spartali Stillman (1844–1927) de Antígona.

Ranciére vai discorrer nas páginas seguintes de seu capítulo sobre a “revolução estética” sobre a psicanálise dizendo que ela é “inventada nesse ponto em que a filosofia e medicina se colocam reciprocamente em causa para fazer do pensamento uma questão de doença e da doença uma questão do pensamento” (Ranciére, 2009, p. 25).

Grande parte das neo-terapias modernas (chamo de psicanálise exotérica) vai por aí, como se o problema do pensamento idealista fosse “doença” e grande parte do sofrimento humano pudesse ser resolvido como “pensamento” transformando-o em doença.

Isso acontece por má relação com o pensamento da tradição, a modernidade tardia não é senão a má leitura do racionalismo e do idealismo, ou a leitura atrasada do empirismo, o pensamento da ação o “activo” de Hanna Arendt, expresso em Byung Chul Han, é também parte do pensamento da tradição que Ranciére vai identificar no “regime representativo uma potência absoluta do fazer” (Ranciére, 2009, p. 27).

Identifica claramente este regime no discurso de Baumgarten sobre “claridade confusa” (ver post anterior): “no regime estético, essa identidade de um saber e um não-saber, de um agir e de um padecer, que … constitui-se no próprio modo de ser da arte” (idem, p. 27), claro esta é a arte da tradição.

E assim afirma, que a revolução estética já havia se iniciado com Vico, em sua Ciência Nova, que contra Aristóteles e a tradição representativa, embora Rancière saiba que o problema dele não era a teoria da arte, mas o problema teológico-poético da “sabedoria dos egípcios” nos hieróglifos.

 

Giordano Bruno, além do herege

15 jan

Li em minha juventude “La cena de las cenizas” de Giordano Bruno, um dos seis diálogos escritos em italiano, escritos durante sua estadia de dois anos em Londres (1583-1585).

O sacerdote dominicano, discutiu neste livro a revolução copernicana, e embora tenha tido a acusação de herege, sua discussão não era outra que a escatologia cristã em sua cosmovisão além de seu tempo que vislumbrava os caminhos do s infinitos mundo e sua visão de Deus.

Pagou com a própria vida, sendo queimado vivo em 17 de fevereiro de 1600 em Roma, mas todos os seus comentaristas afirmam que o seu diálogo abriu caminho para uma nova ligação entre os caminhos da cosmologia e da filosofia, porém contrário a cosmovisão cristã medieval.

Sua filosofia foi além das limitações da razão (matemáticas e logicas) utilizando para sua ousada visão uma amalgama de fatos básicos e da realidade cósmica, mas sem deixar de lado uma reflexão que conduzia a uma ação humanística.

Também fugiu do empirismo e usou experimentos mentais dos quais deduzia as ramificações de sua cosmovisão, alguns interpretes afirmam que se utilizou de raciocínio parecido aos que Einstein e utilizou para suas intuições acerca do universo.

Ao referir-se ao cosmos como realidade infinita, Bruno foi além das esferas de Aristóteles e Ptolomeu, para ele assim como para Kepler, Paracelso e Nicolas de Cusa o universo é um ser vivente que guarda uma unidade essencial que reúne todos os seres particulares, que não são mais que emanações do /todo, esta visão cosmologia influenciou todo o Renascimento.

Sua cosmovisão que não triunfou no Renascimento, pereceu e interrompeu perante o surgimento da razão cartesiana, do idealismo e o empirismo de Hume, mas merece ser relida e estudada como uma forte influência no pensamento renascentista.

Veja o que foi dito sobre Giordano Bruno na famosa série cosmos:

https://www.youtube.com/watch?time_continue=6&v=XzTREw3AKEQ&feature=emb_logo

 

O pensamento complexo

14 jan

Nada favorece mais ao obscurantismo do que a ideia que é possível tornar o que é complexo simples, ignorar a organicidade dos problemas sociais, ecológicos e culturais e como eles se compõe, eles estão ligados.

O pensamento complexo nasce da ideia da natureza e do universo como organismos que são cada vez mais misteriosos e cuja estrutura se revela aos poucos, mediante um trabalho árduo daqueles que primeiro admitem a complexidade dos fenômenos e segundo resistem a tentação de simplificá-los imaginando que bastaria soluções e ideias simples para resolvê-los.

O próprio homem não é senão uma complexificação da natureza, concordam com isto não apenas o pensamento científico mais elaborado como também teólogos como Teilhard Chardin.

A simplificação científica chama-se reducionismo, a simplificação religiosa reducionismo, a cultural e social não tem nome específico, mas pode-se dizer que se confunde com a ignorância e o dualismo.

Esclarece Morin em Introdução ao Pensamento complexo: “a antiga patologia do pensamento dava uma vida independente aos mitos e aos deuses que criava. A patologia moderna do espírito está na hipersimplificação que a torna cega perante a complexidade do real” (Morin, 2008 p. 22).

No campo científico o explica a cegueira epistemológica: “As disputadas entre Popper, Kuhn, Lakatos, Feyerabend, etc., ignoram-se. Ora esta cegueira faz parte da nossa barbárie. Faz-nos compreender que estamos sempre na era bárbara das ideias. Estamos sempre na pré-história do espírito humano.” (Morin, 2008, p. 23).

Nada mais complexo do que reduzi-lo ao simples, como afirmava Bachelard não existe o simples, só há o simplificado, o que na maioria das vezes mutila e deforma o fenômeno, induzindo o pensamento a uma liquidez obscura.

MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. 5ª. ed. Lisboa: Piaget, 2008.

 

Uma releitura dos reis magos

03 jan

Em tempos de fundamentalismo e intolerância religiosa, uma releitura dos reis magos que foram adotar e também “contemplar” o nascimento de Jesus é essencial para o diálogo entre religiões.

A primeira necessária é que Deus se comunicou com os “magos” do oriente, ela pode reabrir corações fechados para re-ligações (religião do verbo em latim religare que é religar), pois eles não eram sequer religiosos no sentido convencional, mas magos e Deus os religou.

A segunda é que a comunicação divina foi através de astros, que significa que eles podiam entender esta linguagem e que Deus falou na língua humana deles, ou seja, há formas além das dogmáticas de comunicação entre Deus e os homens, mesmo não crentes.

A cosmologia é uma parte antiga e fundamental da filosofia, sua evolução e composição estuda o universo, e vem desde a antiguidade, os pré-socráticos a estudavam, buscam também a explicação da origem e da transformação da natureza e do universo e constroem mitos e divindades, criando uma relação entre seres mortais e imortais.

Então Deus não é tão indiferente a isto, uma proposta universal não deve desconsiderar a cosmologia, e se deseja construir uma cosmogonia, isto é princípio e fim de toda a vida, então uma escatologia é também construída, e a escatologia cristã pode estar relacionada a esta, não é afinal Deus princípio e fim de tudo ?

Esta segunda releitura, a questão dos astros, de fato ainda hoje se buscam evidencias cosmológicas da estrela que os Reis Magos seguiam, um astro, um cometa, isto poderia ajudar a datar o natal de uma data mais precisa.

Teólogos como Teilhard Chardin não deixaram de considerar a hipótese cosmológica, a noção de um universo cristocêntrico ajuda a uma interpretação não fundamentalista de uma escatologia mais complexa, e por isso recorremos (no post de 3/4/2019) a São Gregório de Nazianzeno (a igreja católica o comemora dia 2 de janeiro).

A terceira é que os reis magos foram “contemplar” o menino-Deus, além da vita activa, Hannah Arendt também falou dela em A condição Humana (publicado em 1956, com edição brasileira de 2009), que vem da conferencia Trabalho, Obra e Ação (publicação brasileira de 2006), mas já falavam desta questão Aristóteles no bios politikos e a vita negotiosa ou actuosa em Agostinho, e, recentemente Byung Chull Han em A sociedade do cansaço.

Mas não vieram adorar apenas, onde o elemento oferecido incenso é essencialmente isto, mas também trouxeram ouro no sentido de riqueza e mirra no sentido de sacrifícios oferecidos.

Os reis magos deveriam significar a abertura do cristianismo a outras linguagens e outras culturas que também são uma expressão do infinito, do universo e da vida construída de modo sagrado em todos e em tudo.

Primeira publicação: janeiro 2019

 

Alma, Mundo e unidade

08 jul

Há alguma coisa em nossa consciência que não podemos definir exatamente o que é, um espírito, um mecanismo de decisão, uma “visão de mundo”, o certo é que o que chamamos de interioridade tem uma camada profunda que os filósofos da antiguidade clássica chamaram de “anima”, aquilo que dá vida, que anima e que é em ultima instância também uma visão de mundo.

Queiramos ou não, temos na interioridade, uma “anima”, já o filósofo pré socrático Pitágoras (580-496 aC) acreditava na metempsicose que era a transmigração da alma de um corpo para o outro após a morte, e assim na sua cosmovisão acreditava na imortalidade da alma.

Também Plutarco foi autor do “Consumo da Carne”, tema que não apenas fala da alma, mas inicia uma separação entre a corpo da carne e a alma imortal.

O tema é aprofundado por Platão em A república, a sua anima mundi (“alma do mundo, do latim antigo tinha outro sentido que era o “psyché tou pantós”), tem a cosmovisão de uma alma compartilhada ou força regente do universo pela qual o pensamento divino pode se manifestar em leis que afetam a matéria, assim há uma força imaterial, que é ao mesmo tempo inseparável da matéria, que provê forma e movimento.

A sua doutrina não foi endossada por Aristóteles, que em sua obra De anima, aproxima-se mais de conhecimento ou intelecto ativo, do qual partirão reflexões das escolas estóicas e neoplatônicas, assim a ligação indireta entre Plotino e Platão passa por Aristóteles.

Plotino (205-260) será um raro filósofo da antiguidade a tentar um conceito não dualista de alma, a alma una descrita em sua obra Enéadas, parte do conceito de hipóstase que procede do poder criador, que na verdade é uma terceira hipóstase, um “nous” que gera a alma do mundo.

Entre os pensadores medievais que mantiveram as ideias de anima mundi estão Ficino, Pico dela Mirandola e Giordano Bruno com ensinamentos herméticos, os plantonistas de Cambridge, os vitalistas alemães Angelus Silesius, Goethe e Schelling, que tiveram grande influência em Bergson e através dele Vladimir Vernadsky e Teilhard de Chardin.

Schelling escreveu Da Alma do Mundo (1798), apesar da influência idealista guardava uma cosmovisão tentando unir a natureza orgânica e inorgânica conectando-a num continuum.

A noosfera é aqui a ideia que uma “alma mundo” pode cooperar com o mundo contemporâneo não sendo possível uma visão totalizante, a visão de mundo do planeta como “casa comum” e que tem uma “alma mundo” presente e que pode sustentar uma cidadania planetária.

Roger Scruton (75 anos) é um autor contemporâneo que aborda de modo polêmico o tema.

 

A gratitude, a questão da ciência e do senso comum

22 jan

Uma pessoa pode ser grata, sem entender os objetivos de sua gratidão, mas não entenderá os objetivos se não conhecer as verdadeiras motivações da gratidão, isto quer dizer, permanecer na gratidão pode ser livre de conhecimento, mas ter gratitude (torná-la um hábito saudável) exige ir além do simples ato gratuito, conhece-lo e cultivá-lo para co-laborar em sociedade.
Assim é preciso separar o senso comum, que é apreciável, do conhecimento objetivo que é dissecar o objeto de conhecimento que pode ser feito tanto de forma indutiva quanto intuitiva, ambos caminhos são válidos, assim não é preciso ciência convencional, mas intencional.
Falar de ciência é preciso falar de Karl Popper, também ele especulou sobre estar coisas, afirmava sobre o senso comum é válido, mas sustentar as verdades deste é algo maior.
Mas o conhecimento objetivo dizia ele, era uma eterna busca de sua vida, em suas palavras: “Os ensaios deste livro rompem com uma tradição que pode ser rastreada até Aristóteles – a tradição dessa teoria do conhecimento, de senso comum. Sou grande admirador do senso comum, que, afirmo, é essencialmente autocrítico”, ou seja, não se trata de negá-lo.
Porém para sustenta-lo como verdade é preciso mais: “… se estou disposto a sustentar até o fim a verdade essencial do realismo do senso comum, considero a teoria do senso comum do conhecimento como uma asneira subjetivista. Essa asneira tem dominado a filosofia ocidental”, entenda-se por sentimentos, paixões e mesmo sustentar questões não objetivas.
E avança: “Tenho tentado erradicá-la e substituí-la por uma teoria objetiva do conhecimento, essencialmente conjectural. Isto pode ser uma pretensão audaciosa, mas não peço desculpas por ela” (Popper, 1975, p. 07).
A divisão em três mundos feitas por Popper mostra uma fragilidade em sua teoria, ao separar o conhecimento em três mundos: P1 o mundo da natureza (ou físico, no sentido da physis), o mundo das mentes (Mundo 2) e o mundo das ideias (Mundo 3), prioriza este último.
Numa solução para um problema, a pessoas podem atacar ou acatar a solução encontrada, mas não a pessoa que a apresentou, assim dá um valor maior que o mundo das ideias (Mundo 3) têm para Popper, ao invés do Mundo das mentes (Mundo 2) que as desenvolveram.
A gratitude é justamente o oposto, pois é mais importante as mentes que desenvolvem as soluções ao problema (Mundo 2), do que as ideias que as impulsionam (Mundo 3), ainda que o subjetivismo, ou seja o que é próprio do sujeito, possa também ter fragilidades.
O que abraça estes três aspectos que são distintos: Natureza, Conhecimento e Ideias, são aspectos ontológicos, pois os três são próprios do Ser, a gratitude é um destes aspectos.

Em tempos de pandemia é bom lembrar de Popper porque ele dizia que é científico o que pode ser refutável, e o que temos hoje é um “afirmacionismo” ou “negacionismo” ambos anti-científicos.

POPPER, K. Conhecimento objetivo. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1975.

 

Serenidade, diagnóstico e educação

29 nov

A aparente causa de nossos problemas cotidianos parecem ser os avanços mais recentes, as inovações, a vida social, as “midias” de redes sociais e o sobre trabalho humano em diversas áreas, embarcamos no discurso fácil da liquidez, da hipercomunicação e do excesso de informação, este diagnóstico está correto.

Com diagnóstico errado receitamos o remédio errado, colocamos em nossas vidas mais exercícios, uma “vida de exercícios” diria Sloterdijk, mais alimentação natural e mais vida activa para isto, culpa do erro de diagnóstico e de ausência de um futuro claro.

A clareira só pode vir do pensamento, o apelo a prática é o pior remédio deixamos de ter um fim de semana de descanso e de atividades recreativas pois há assuntos “urgentes”.

O diagóstico deste drama atual estava já em Nietzsche (1834-1900), escreveu em Humano demasiado Humano: ‘’Por falta de repouso nossa civilização caminha para uma nova barbárie. Em nenhuma outra época os ativos, isto é, os inquietos, valeram tanto. Assim, pertence às correções necessárias a serem tomadas quanto ao caráter da humanidade fortalecer em grande medida o elemento contemplativo’’, uma mostra clara da datação do problema atual.

Pode ser até mesmo anterior, Kierkegaard (1813-1855) escreveu: “o remédio para a ansiedade é sermos como verdadeiramente somos”, apontando no início da modernidade o problema ontológico do qual padece grande parte da humanidade, querer ser o que não se é, ainda que seja bom a ousadia e a busca de novos horizontes, ela deve ser feita solidariamente com o Outro.

O diagnóstico, apontou o Padre Manuel Antunes, cujo nascimento comemorou 100 anos dia 3 de novembro, é contrapor o homo misericors ao homo mechanical, fruto da modernidade, que criou o que o sábio português chamou de “homem espuma”: ligeiro, sem consistência, sem fidelidades e sem convicções fortes.

A educação que deve decorrer daí precisa ser altamente dialógica, abrangente e transdisciplinar, defendeu isto o padre Manuel Antunes, defender Edgar Morin, Basarab Nicolescu e tantos outros, porém é necessário método para que não pare no discurso.

O método proposto por Gadamer, em sua leitura de Heidegger é o círculo hermenêutica, a possibilidade que a partir de pré-conceitos chegamos a uma fusão de horizontes e uma maior possibilidade de releitura da atualidade delineando caminhos para o futuro.

 

Phronesis e serenidade

28 nov

Não por acaso Gadamer adota a Phronesis como um dos elementos chave em seu discurso sobre Verdade e Método, incompletamente traduzida como prudência, o termo na verdade dever-se-ia ser confundido com “sabedoria” prática da serenidade, tradução livre.

Isto porque a nosso ver, Gadamer é reabilitador da filosofia prática, os que clamam por pratica, objetividade (sic! bem idealista), são pouco práticos por ausência de sabedoria, são impulsivos e activos (no sentido de vita activa de Chul-Han), típicos da sociedade do cansaço.

No sentido grego, está agregada a ética, mas não é um saber privado no sentido da moral e sim público e social, que visa minimizar exacerbações da impulsividade egocêntrica do eu, quando colocada numa perspectiva da obra de arte atinge um patamar de princípio universal.

Esta inclui a obra de arte porque foi a excessiva centralização no eu que reduziu a relação da ética com a estética, a amoralidade pública, o escrachado não é uma nova estética, nem mesmo a negatividade as vezes necessária a arte, é a sua ausência por falta de relação com a ética e o processo formativo.

Gadamer recupera a phronesis a partir da proposta de Aristóteles na Ética a Nicômaco, onde busca estabelecer a articulação entre o universal e o particular, mais ainda entre o indivíduo e a sociedade, dentro de formas históricas da vida, mas com um ethos comum.

Pode-se assim estabelecer uma relação com a educação, num momento que se fala em escola sem partido é preciso pensar que há um outro, sem desejar a neutralidade porque ela será uma ilusão, exploramos num post a seguir.

Falta estabelecer a relação da phonesis com a techné e a episteme, que é o saber teórico e o saber fazer da techné, que está ligada etimologicamente a arte (τέχνη) e ao artesanato.

A harmonia entre as três formas de sabedoria resulta numa sabedoria prática, a práxis.

 

O que é clarificação para Charles H. Hinton

13 nov

O escrito que antecedeu a física quântica, a filosofia hermenêutica e uma nova (ou antiga no sentido de verdadeira) espiritualidade, trazia raciocínios novos e curiosos.
Ao falar de uma dimensão maior do espaço (Higher Space) e maior do Ser (Heigher Being):
Estamos sujeitos a uma limitação de características mais absurdas. vamos abrir nossos olhos e ver os fatos.” (Hinton, 1888), parece simples mas requer treino: “Eu trabalhei no assunto sem o menor sucesso. Tudo era mero formalismo. Mas ao adotar os meios mais simples e por um conhecimento mais completo do espaço, o todo brilhou claramente. ”(Idem)
Já falamos no tópico anterior, mas agora desenvolve o estágio de ser “conscientes de um mais que cada homem individual quando olhamos para os homens. Em alguns, essa consciência atinge um tom extremo e se torna uma apreensão religiosa” (Hinton, 1888), como foi dito no post anterior, “Mas em nenhum é diferente de instintivo. A apreensão é suficientemente definida para ter certeza. Mas isso não é expressável para nós em termos de razão …” (idem)
Parte do aspecto físico, a ideia que “nosso isolamento aparente como corpos um do outro não é de modo algum tão necessário pra assumir como pareceria”, aqui sua relação intuitiva com a física quântica que só tornaria realidade no início do século XX que admite que naquele momento era só uma possibilidade, mas acrescenta mais um ponto: “e viéssemos examinar o assunto de perto, deveríamos encontrar uma relação natural que explicava nossa consciência ser limitada como atualmente é” (Hinton, 1888)
Afirma Hinton: “nosso isolamento aparente como corpos um do outro não é de modo algum tão necessário para assumir como pareceria”, podemos dizer estamos relacionados ao todo, faz um argumento matemático para isto.
Se as formas espaciais só podem ser simbólicas de formas quadridimensionais: e se não lidamos diretamente com as formas espaciais, mas a tratamos apenas por símbolos no plano – como na geometria analítica – estamos tentando obter a percepção do espaço superior através de símbolos de símbolos, e a tarefa é sem esperança” (Hinton, 1888).
Dirá num todo quase místico, mas compatível com o pensamento de Teilhard Chardin por exemplo, “Em vez de uma abstração, o que temos que servir é uma realidade, para a qual até nossas coisas reais são apenas sombras. Somos partes de um grande ser, em cujo serviço e com o amor de quem, as maiores exigências do dever são satisfeitas.” (Hilton, 1888)
Então dará a sentença: “O poder de ver com nosso olho corporal é limitado à seção tridimensional” (Hinton, 188) e será a partir daí que criará sua visão da 4ª. dimensão: o Tesseracto.

HINTON, Charles H. The new era of thought. Lonson: S. Connenschein & Co., 1888. (Chapters 7, 9, 10, and 11)