Arquivo para a ‘Recuperação da Informação’ Categoria
Testemunho e humanismo
O humanismo verdadeiro é o que permite a evolução do processo civilizatório preservando aquilo de essencial que todo homem possui que é o seu Ser, isto vai além das condições de sobrevivência econômica, social e política, ele deve incluir o Outro e dar este testemunho.
Testemunhos vão desde casos em que alguém precisa de uma informação e recorre a alguém ou a algum meio epistêmico (organizado do saber) até relatos científicos novos que revelam os mais intrincados mistérios da vida e do universo.
Os epistemólogos estão de acordo quanto a importância do testemunho como fonte de justificação, juto a percepção (cognitiva e além dela), da memória (todos meios de informação e difusão) e do raciocínio (além do lógico, do físico e do metafísico), a divergência estão no modo como crenças falsamente justificadas testemunhais podem surgir de crenças justificadas.
Isto se deve ao fato não apenas de crenças consideradas no aspecto religioso, mas também elas, mas do fato que é possível de crenças testemunhais que envolvem percepção, memória e cognição (acréscimo meu) são confiáveis a partir de crenças previamente justificadas, esta é a corrente chamada de reducionista, porque independente do testemunho, já é justificada.
Anti-reducionistas defendem que a justificação de crenças testemunhais é direta: estamos justificados em acreditar que algo pelo simples fato de alguém testemunhar algo mesmo sem haver razões para não fazê-lo, há diferentes tentativas de respostas a este debate.
Fora deste debate epistêmico, devemos pensar que vivemos num tempo que é difícil o pensar e o organização informações de modo a chegar ao testemunho como fonte de verdade, pode-se defender a paz mesmo fazendo a guerra, pode-se defender a democracia limitando os direitos civis e as ideias divergentes, pode-se definir justiça mudando as regras da lei para dar margem a injustiça, pode-se proclamar uma crença mesmo limitando-se a uma prática parcial.
Assim o que está em jogo não é o testemunho das crenças, mas muitas vezes sua própria negação, e pode-se tratar não apenas de má fé ou má vontade, mas dificuldade de cognição, por isto fiz este acréscimo a percepção e memória, onde o problema é a fonte de informação.
Um verdadeiro humanismo deve ter como pressuposto o testemunho, do contrário não temos um referencial confiável para nossos argumento, diálogos e superação de divergências.
Só podemos testar nosso modo de viver se vivermos de acordo com o que testemunhamos.
Referência:
Leonard, Nick, “Epistemological Problems of Testimony”, The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Spring 2023 Edition), Edward N. Zalta & Uri Nodelman (eds.), URL = https://plato.stanford.edu/archives/spr2023/entries/testimony-episprob/ , 2021.
Documentos vazados e retórica de tensão
Um documento vazado que conteria supostas informações secretas dos EUA sobre a guerra entre Ucrânia e Rússia pode conter parte das informações verdadeiras e algumas falsas, segundo fontes militares americanas, seria falso a avaliação do número de mortos na guerra na Ucrânia.
Já os jornais como o The New York Times avaliam que é um esforço de Moscou em provocar mais desinformação do que notícias já conhecidas como as entregas antecipadas de armas, assim como a formação de tropas e batalhões conforme as estratégias de guerra, entretanto isto já mostra que há algumas falhas na inteligência dos EUA no esforço de apoio a Ucrânia.
A porta-voz do pentágono Sabrina Singh afirmou “Estamos cientes dos relatos de postagens nas redes sociais, e o departamento está analisando o assunto”.
O departamento de justiça Americano abriu investigações sobre estas divulgações onde também aparecem informações de aliados importantes como Israel, Coreia do Sul e Emirados Árabes.
A retórica americana e de líderes ocidentais segue afirmando que a Rússia tem praticado crimes de guerra, entre eles a “deportação” de crianças ucranianas para a Rússia, condenado pelo tribunal de Haia, enquanto a retórica russa continua sendo a de insegurança em suas fronteiras.
O que os documentos revelam, porém sem dados precisos é uma provável ofensiva ucraniana no próximo mês, a entrada oficial da Finlândia na OTAN cria outra fronteira de conflito e é esperado também lá alguma resposta russa.
No aspecto da paz a proposta brasileira de ceder a Criméia que já era território russo antes da guerra em troca da retomada dos territórios ocupados na guerra atual não foi aceita pela Ucrânia.
Assim tanto Rússia como Ucrânia parecem levar a guerra nos limites do desgaste, da morte de inúmeros soldados e das consequências econômicas que começaram aparecer na economia mundial.
A China rebateu a retórica de que ela não faz o devido esforço para a paz, afirmando que o “ocidente não estão em posição para ditar o que devemos fazer”, disse o embaixador chinês na Rússia Zhang Hanhui à Izvestia.
A esperança que negociações possam avançar a partir de países fora do conflito permanece.
O fosso entre ricos e pobres
Os mais variados estudos, comentamos alguns nos posts desta semana, apontam para uma separação entre ricos e pobres praticamente estável quando não crescente em alguns países, este modelo nunca poderá garantir um desenvolvimento humano social sustentável, as guerras e pandemias aumentam ainda mais este fosso.
O problema mais grave que é a miséria extrema, este já analisamos e postamos em fevereiro deste ano uma análise da pobreza global (gráfico ao lado), e também, em outro post o problema social pós covid 19.
A sustentabilidade do desenvolvimento econômico e social humano, depende não apenas do aumento das riquezas e da produção social, é preciso encontrar o equilíbrio onde tanto a mobilidade social das classes como a mobilidade étnica dê sustentabilidade e supere as desigualdades.
O problema da sustentabilidade não é secundário, muitos modelos distribuem riquezas só que empobrecem o país como um todo, isto porque os aspectos de investimentos e estratégias mais seguras de modelos econômicos só são pensadas em torno da distribuição da renda, o contrário onde só há aumento sem distribuição é menos sustentável.
Serve para este modelo a parábola bíblica de Lázaro e o Rico, o pobre que vivia a margem e quando o rico se vê condenado, aqui a parábola vale tanto pessoalmente quanto socialmente, pede que seja concedido a ele avisar seus parentes deste risco, mas diz a bíblica os profetas já diziam e vocês não ouviram, quanta gente e ações políticas já denunciaram o grave fosso social.
Para quem não conhece diz a parábola bíblica (Lc 16,19-24): “Naquele tempo, Jesus disse aos fariseus: 19“Havia um homem rico, que se vestia com roupas finas e elegantes e fazia festas esplêndidas todos os dias. Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, estava no chão, à porta do rico. Ele queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico. E, além disso, vinham os cachorros lamber suas feridas. Quando o pobre morreu, os anjos levaram-no para junto de Abraão. Morreu também o rico e foi enterrado. Na região dos mortos, no meio dos tormentos, o rico levantou os olhos e viu de longe a Abraão, com Lázaro ao seu lado. Então gritou: ‘Pai Abraão, tem piedade de mim! Manda Lázaro molhar a ponta do dedo para me refrescar a língua, porque sofro muito nestas chamas’ “.
O homem rico vai pedir também que avise seus parentes e a leitura lembra que eles tiveram profetas e não ouviram.
História, a grande clareira e parusia
O Natal está próximo e o nascimento de Jesus é um fato histórico pois o Censo ordenado pelo imperador de Roma César Augusto, quanto a data há controvérsias por seriam entre 4-5 a.C., quando Quinino era Governador da Síria como está descrito na Bíblia (Lc 2,2), porém é certo que o censo foi realizado e este foi justamente o motivo de Maria e José terem ido a Belém, onde a profecia dizia que de lá nasceria o salvador, e assim ele “foi contado entre os homens”.
Há controvérsias de datas e da precisão das datas (não dos fatos), uma vez que o calendário foi modificado.
A história também está pontuada de intervenções divinas, na decadência de Roma nascem os mosteiros, onde a cultura da culinária, os primeiros grêmios e ofícios e também uma fase anterior da escrita impressa é realizada, através dos copistas, as primeiras escolas e mais tarde as primeiras universidades, com forte influência teológica como não poderia ser de outro modo, mas tudo isto é história, também no renascimento a arte e a cultura tiveram forte influência teológica.
Entramos na modernidade, a obra que fizemos leituras pontuais nos posts desta semana “todos no mesmo barco” de Sloterdijk, menciona um fato importante, além e citar a obra clássica do Decamerão de Boccaccio como “pequena comunidade em meio ao desastre da grande” (Sloterdijk, 1999, p. 75), faz uma análise da peste negra (que aconteceu nos anos 1300) e que devastou a Europa com mais de 100 milhões de pessoas mortas (figura) quando a população era muito menor que hoje, e sua influência política e psicológica pode ser analisada.
Em nota de rodapé cita a obra de Henrik Siewierki (traduzida pela Estação Liberdade em 2001) “Uma missa para a cidade de Arras” onde analisa as consequências tanto psicológicas quanto políticas da peste, também o psicólogo Franz Renggli, em seu livro Autodestruição por abandono, desenvolveu a hipótese da influencia na modernidade da peste, e também da degradação da relação mãe-filho que teriam provocado uma espécie de fraqueza imunológica, coletiva e psicossomática que favoreceu o vírus daquela peste.
Toda esta análise é interessante em meio do retorno da Pandemia a Europa, ao mesmo tempo que é sem dúvida um flagelo, pode ele alimentar uma nova clareira sobre a nossa coimunidade, ou seja, a ideia de uma defesa mútua e solidária em vista de uma catástrofe ainda maior do que a que já encontramos.
Serve para “aplainar os caminhos”, como diz a leitura bíblica quando João, o filho de Zacarias e Isabel, anunciava no deserto usando as palavras do profeta Isaías: “esta é a voz daquele que grita no deserto: ´preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas’” (Lc 3,4) e parece propícia a este nosso tempo de flagelo e deserto.
É importante lembrar que as duas primeiras semanas do Natal comemoram não a vinda de Jesus em Belém, mas a Parusia, ou seja, a preparação de sua segunda vinda.
Em queda, mas a pandemia não acabou
Citamos na semana passada a preocupação com casos em evolução em alguns países como a Rússia e Inglaterra, onde uma variante do vírus está sendo estudada com preocupação, também os países mais pobres tem recebido menos vacinas que as prometidas por doação, e já entendemos que a Pandemia é global, isto é, há uma influencia de regiões menos vacinadas em outras que mantém um alto nível de imunidade, politicas para o futuras pandemias já levam estes fatores em consideração.
Alguns países continuam com alto nível de mortes, apesar da vacinação, nos EUA em torno de 1700 mortes diárias na última semana, no resto mundo está em queda, porém com a presença de mortes, no gráfico acima com registro de mortes do dia 23/10 (sábado) em número absoluto de mortes, o Brasil, seguido da Índia, do México e depois a Rússia.
A grande preocupação da OMS é com relação as promessas de doações de vacinas aos países mais pobres que não estão sendo cumpridas. a notícia não é deste blog, mas da própria OMS, pois ela tem se posicionado contra a terceira dose, pois de acordo com a reportagem The People´s Vaccine feita na BBC, uma aliança de instituição de caridade divulgou que apenas uma de cada sete doses prometidas de vacinas por empresas e países ricos, chegou de fato às nações mais pobres.
Na reportagem, na entrevista de Bruce Aylward ele afirmou: “Nós realmente precisamos acelerar ou sabe o que vai acontecer? Esta pandemia vai durar mais um ano do que precisa” alertou, e isto se deve ao fato que mesmo com medidas de isolamento estamos sempre conectados, e qualquer comunicação (não só de pessoas, mas de produtos e de qualquer material biológico como frutas e víveres) pode ser transmissores em condições específicas
No Brasil o número de doses da vacina está chegando um reforço na campanha de vacinação contra a Covid 19, um lote de 1,7 milhões de vacinas Pfizer/BioNTech chegou na sexta (22/10) feita e outras iguais quantidades já haviam chegado totalizando um total de quase 5 milhões de vacinas.
Também os insumos para a AstraZeneca foram recebidos pela FioCruz que produz a vacina no país, o desembarque do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) chegou para a produção de 5,6 milhões de doses com desembarque previsto para as 5h50 da manhã de domingo.
A vacinação em primeira dose chega próximo a 153 milhões de doses, enquanto a segunda dose (ou dose única) chegou a pouco acima de 109 milhões de vacinados, a média móvel de mortes está pouco acima das 300 mortes diárias, com uma tendência de queda podemos supor que estaremos abaixo de 100 mortes diárias no início de dezembro.
A cultura de massa e sua crítica
No livro de Morin “A cultura de massa do século XX”, é colocado que há uma zona “onde a distinção entre a cultura e a cultura de massa se tornapuramente formal: A Condição Humana, a Náusea ou A peste entram na cultura de massa sem deixar, contudo, a cultura cultivada” (Morin, 1997, p. 53) e o livro de Camus é interessante pela coincidência com a questão da Pandemia atual, e interessante que não tenha entrado nas análises do aspecto cultural do momento.
Já postamos no blog em outro momento sobre o livro de Camus “O Mito de Sísifo” e outro sobre o romance de José Saramago “Ensaio sobre a cegueira” (1995), embora muito lido em alguns países da Europa em meio a pandemia, sua análise não entrou nos círculos da “alta narrativa” cultural, ou a cultura cultivada, que tentamos explicar em algumas postagens nesta semana.
Escrito em 1947, pelo fraco-argelino Alberto Camus, importante sua origem, porque sua crônica parte de uma análise de uma epidemia que ocorreu na cidade argelina de Orã, em algum ano da década de 1940, período que Camus trabalhava clandestinamente no jornal clandestino “Combat!” onde escreveu textos engajados contra o nazismo, entre eles pode -se destacar “Cartas a um amigo alemão” (1945).
O livro trata do absurdo da existência, quando em meio a uma epidemia faltam o amor e a solidariedade humana, cujos sentimentos podem ser sintetizados onde escreveu: “Havia sentimentos comuns, como a separação ou o medo, mas continuavam a colocar me primeiro plano as preocupações pessoais. Ninguém aceitara ainda verdadeiramente a doença”.
Outro trecho que pode-se destacar: “Muitos continuavam a esperar que a epidemia cessasse e que eles fossem poupados, com as suas famílias. Por consequência, não se sentiam ainda obrigados a nada. A peste nada mais era para eles do que uma visita desagradável que havia de partir um dia. Assustados, mas não desesperados, não chegara ainda o momento em que a peste lhes surgiria como a própria forma da sua vida e em que esqueceriam a existência que até então tinham podido levar.”
Com a guerra recém terminada no período que escreve o livro, não deixa de lembrar: “Os flagelos, na verdade, são uma coisa comum, mas é difícil acreditar neles quando se abatem sobre nós. Houve no mundo igual número de pestes e de guerras. E contudo, as pestes, assim como as guerras, encontram sempre as pessoas igualmente desprevenidas.”
Faz uma análise sagaz dos flagelos na história: “Desde o início da história, os flagelos de Deus põem a seus pés os orgulhosos e os cegos. Meditai sobre isso e caí de joelhos.” e acrescenta: “Ah, se fosse um terremoto! Uma boa sacudidela, e não se falava mais nisso… contam-se os mortos, os vivos, e pronto. Mas esta porcaria de doença! Até os que não a apanham parecem trazê-la no coração.”, e sua conclusão traz uma reflexão: “Quanto mais a pandemia se estender, mais a moral se tornará elástica.”
Compreendi que a ausência da solidariedade e da compaixão, assim como a elasticidade da moral não eram fatos atípicos em epidemias, mas de certo modo esperados, porém acrescento que sempre há uma alternativa mais humana, mais solidária que nos devolva a esperança de um muito mais justo após um triste flagelo, aprender algo com ele.
Em queda, mas é preciso cuidado
Após uma queda lenta no Brasil, sábado a curva ficou abaixo das 500 mortes nas últimas 24 horas, os óbitos chegando a quase 600 mil desde o início da pandemia, indicam que ainda há perigo e a flexibilização que já está acontecendo para eventos públicos massivos é preocupante.
É importante lembrar que em 13 de setembro a média móvel chegou a 465, e depois subiu.
Já explicamos a semana passada que é preciso um “rescaldo” e que a proximidade das festas e do final de ano pode nos preocupar, lembro o caso de Portugal no ano passado que relaxou nestas datas e teve um aumento no mês de janeiro, os países que estão em início de flexibilização tem taxas de infecção e mortalidade realmente baixas e as regiões de contágio são observadas.
A vacinação da primeira dose já dos 40% (93.271.450 imunizados e 147 milhões primeiras doses), a taxa de atraso vacinal no total do Brasil é de 11%, segundo o boletim VigiVac da Fundação Oswaldo Cruz.
O Boletim aponta os estados com maior atraso o do Ceará com 33% e o menor o Rio Grande do Norte com 5,4%, também observam a ausência para a segunda dose, em número absolutos, São Paulo 1,25 milhões, no Rio de Janeiro 956,9 mil pessoas não compareceram para segunda dose e na Bahia 907,5 mil pessoas, o Estado com maior vacinação é São Paulo com 79,20 % na primeira dose quando não é única e o menor é o Pará com 50,91% tomaram uma dose.
As vacinas também tiveram atrasos na entrega, a Coronavac 33%, a AstraZeneca 15% e a Pfizer com menor índice 1%, por isto tem sido a mais aplicada em muitos casos na terceira dose.
A Pfizer entrou mais de 1 milhão de doses neste sábado no aeroporto de Viracopos e promete entregar até 10 milhões em quatro voos fretados que chegarão nos próximos dias.
A flexibilização deveria avançar em números confiáveis, tomando medidas de controle sérias, por exemplo, o isolamento em eventos esportivos, nos shoppings e nos meios de transporte.
Assim os últimos serão os primeiros
Não importa que você demonstre que faz bem as coisas, que mantenha as aparências, que esteja sempre num lugar de destaque, mesmo na política e nos cultos e festas religiosas, a verdadeira consciência é que liga-se a intenção, e a intencionalidade é a consciência dirigida a “algo”, diz a fenomenologia.
Assim é que a nova normalidade, não a da pós-pandemia, mas a da pós crise civilizatória e tudo indica que ela está a caminho, poderá inverter a lógica da perversidade dos poderosos, dos opressores e dos fariseus, somente a verdadeira solidariedade contará, somente ela poderá dar sustento ao novo rumo, que poderá advir não de uma nova normalidade, porque ela já era distante antes da pandemia, basta ler a literatura séria, que não é a dos midiáticos.
Os frágeis e os indefesos ficaram ainda mais frágeis na pandemia, mas a lógica do poder se inverterá por uma fenomenologia aórgica, aquela que vem do inorgânico sobre o orgânico, vem da natureza para o humano, e do cosmos para o planeta, assim como afirma Morin em sua “introdução a complexidade” o todo está na parte, o cosmos e a natureza em cada indivíduo, como a parte está no todo, somos responsáveis por tudo que acontece na Natureza.
Está na cosmologia e não na visão sistêmica, está no holismo aórgico e não no holismo cartesiano, está na mística e não no farisaísmo ou na ideologia atrelada a religião, que é outro tipo de religião sem ascese, a mudança vem de uma longa noite da humanidade, mas poderá concentrar numa noite visível.
O poeta Hörderling afirmava “onde há medo há salvação”, e o momento de apreensão da humanidade a espera de uma vacina deve pensar numa vacina que tire a venda dos olhos da cegueira do pensamento, Edgar Morin preconizou esta noite, e Peter Sloterdijk afirmou que não é um tempo propício ao exercício do pensamento, estamos petrificados em lógica sistêmica e doutrinais que não nos permite perceber um novo ao largo do horizonte.
É por isto que os últimos serão os primeiros, as pessoas simples tem a intuição desta possível mudança, os verdadeiros sábios a desejam, não como o querem os poderosos, mas como sonham os flagelados da pandemia social, do doutrinismo irracional e fechado em suas bolhas.
Os que blasfemam contra as religiões afirmam como dizia o profeta Ezequiel no antigo testamento (Ez. 18,25): “Vós andais dizendo: a conduta do Senhor não é correta. Ouvi, vós da casa de Israel. É a minha conduta que não é correta, ou antes é a vossa conduta que não é correta?“, os humildes entendem.
É assim que os últimos serão os primeiros, e que serão os operários da última hora, como diz a parábola bíblica aqueles que chamados ao fim do dia foram ao trabalho e receberam o mesmo pagamento dos que chegaram no início do dia, e não haviam ido apenas porque não haviam sido chamados (Mt 21,28-32).
Simplificação, idealismo e pandemia
A ideia de que podemos simplificar fenômenos que são complexos parece um bom caminho, mas simplificar o que é por natureza complexo é ignorar o conjunto de fenômenos e interpretações que estão dentro do fenômeno que se deseja analisar, tenha ele a natureza que tiver, e principalmente se for a natureza humana, porque inclui a complexidade social/cultural.
É muito diferente da busca da essência, os pré-socráticos procuraram definir qual era o elemento essencial da natureza: fogo, ar, átomos, números, o Ser, e assim definiram as principais escolas pré-socráticas, ao perceber que se tratava de um fenômeno mais amplo Sócrates, que é lido por Platão divide em dois mundos: o mundo das Ideias e o mundo sensível, porém qualquer leitor atento não dirá que sua escola simplificou, apenas abriu caminho para uma complexidade maior.
O eidos de Platão e do pré-socrático Parmênides é diferente do idealismo moderno, porque nele existe tanto a conceito de forma, por exemplo, uma cadeira seja qual forma for ela tem seu Ser como sendo feita para sentar.
Do eidos grego vem na etimologia a palavra ideia, hoje duas acepções aceitas, uma que é de um sinônimo de conceito, porém num sentido mais lato é pensado como expressão, tendo como princípio implícito a ideia de intencionalidade (*), e este conceito só foi retomado na filosofia moderna após Franz Brentano e seu aluno Edmund Husserl que aplicou-o a sua fenomenologia.
O idealismo moderno, cuja base fundamental é Kant, embora tenha uma parte comum ao eidos grego, que é a ideia que ao estudar a coisa temos uma projeção do saber sobre ela, reduzindo a ideia que este estudo seria o que caracteriza o objeto de estudo (objetividade), e assim introduz um tipo específico de subjetividade, abstraindo-o do Ser, esta abstração tem em Hegel o ápice.
Kant chegou a pensar que seria possível reduzir todo o pensamento a uns poucos conceitos, seria um grande facilitador para o estudo e para o pensamento, porém seu pensamento resultou numa complexidade ainda maior, e sua simplicidade caiu no dualismo sujeito x objeto, que padecemos.
Toda simplificação leva a algum tipo de subjetivismo ou objetivismo, mesmo em termos religiosos, ao estudar O Fenômeno Humano, Teilhard Chardin declarou que o Homem é a complexificação da natureza, difícil para teólogos e exegetas aceitar, mas lhes faço a pergunta: porque Jesus usou de parábolas para explicar coisas que aparentemente poderiam ser simples ? Porque não eram simples, Aquele que criou o complexo universo é simples só no Amor.
O idealismo é no fundo uma “doutrina” que contém a crença segundo a qual é o pensamento e não o mundo físico que está na origem de todas as coisas, ou seja, o mundo objetivo, o que descobrimos com a pandemia, e a física quântica já sabia e a cosmologia está aprofundando, é que a incerteza é parte do conhecimento, e nos deparamos cada dia com um novo fenômeno.
Afinal um dos pressupostos do idealismo kantiano era a submissão da natureza, ela se rebelou.
Esta é a novidade original que os idealistas não aceitam, e esta novidade nos deveria devolver a humildade, proclamada por todos, mas como idealismo fica presa a dualidade, o erro são os outros, nós sabíamos a verdade, não nem a ciência, nem a fé poderiam imaginar a complexidade do fenômeno que toda humanidade vive, o primeiro passo para enfrentar a pandemia é este: dependo do passo do Outro, e que possamos dar passos juntos, ainda parece difícil.
*Enciclopédia Britânica: Disponível em: https://www.britannica.com/topic/idea , Acesso em: 26/04/2020.
Revolucionário método para vídeos
Os pesquisadores da Universidade Carnegie Mellon desenvolveram um método que sem a intervenção humana, modificam um conteúdo de um vídeo, de um estilo para outro.
O método é baseado num tratamento de dados conhecido como Recycle-GAN que pode transformar grandes quantidades de vídeo tornando-os úteis para filmes ou documentários.
O novo sistema pode ser usado por exemplo para colorir filmes originalmente em preto-e-branco, alguns já feitos como o que mostramos no vídeo abaixo, mas as técnicas eram dispendiosas e necessitavam de grande esforço humano em horas de trabalho.
O processo surgiu de experiências em realidade virtual, que além das tentativas de criar “mudanças profundas” (alterar objetos ou distorcer conteúdos, podiam aparecer uma pessoa inserida numa imagem, sem que houvesse permissão para isto, nas cenas cotidianas quase sempre acontece isto e muita gente não aceita.
“Eu acho que há muitas histórias para serem contadas”, disse Aayush Bansal, um estudante de Ph.D. do Instituto de Robótica da CMU, dizendo de uma produção cinematográfica que foi a principal motivação para ajudar a conceber o método, explicou, permitindo que os filmes fossem produzidos de forma mais rápida e barata, e acrescentou: “é uma ferramenta para o artista que lhes dá um modelo inicial que eles podem melhorar”, conforme o site da CMU.
Mais informações sobre o método e vídeos podem ser encontradas em Recycle-Gan website.