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Diversas reações ao pensamento dominante

03 fev

Em países que foram colônias da Europa, emergiu o termo decolonização que se diferencia de descolonização porque penetra justamente no pensamento e na epistemologia dominante (alguns autores chamarão por isto de epistemicídio) que não é a simples liberação de dominação, mas também o ressurgimento de culturas subalternas.

Assim apareceram autores na África (como Achiles Mbembe), na América Latina (Aníbal Quijano e Rendón Rojas y Morán Reyes), além de autores de cultura originária como os indígenas (Davi Kopenawa e Airton Krenak), porém é possível um diálogo com autores europeus abertos a esta perspectiva como Peter Sloterdijk (fala da Europa como Império do Centro) e Boaventura Santos (fala do epistemícidio e também alguns conceitos de decolonização), há muitos outros claro.

Deve-se destacar nestas culturas também a cultura cristã, vista por muitos autores como colaboradora do colonialismo, não se pode negar a perspectiva histórica e também de doutrina que é a libertação dos povos e uma cultura de fraternidade e solidariedade, ela é também minoritária hoje na Europa e perseguida em muitos casos.

Entre os europeus que defendem um novo humanismo, ou um humanismo de fato já que o iluminismo e as teorias materialistas não conseguiram contemplar a alma humana como um todo, e são por isto um humanismo de uma perna só, entre os europeus destaco Peter Sloterdijk e Edgar Morin, o primeiro que defende o conceito de comunidade como um “escudo protetor” capaz de salvar nossa espécie, e o segundo, um humanismo planetário, onde o homem seja cidadão do mundo e as diversidades sejam respeitadas.

Ambos consideram as propostas populistas, é bom saber que elas existem a esquerda e a direita, devem perder com a crise atual e o consumismo global depende de uma atmosfera de “frivolidade” ou de superficialidade que a humanidade será obrigada a repensar, não voltaremos aquilo que consideramos estável, os próprios escritores originários, como Davi Krenak destaca em várias entrevistas, o que queremos voltar não era bom, não havia uma felicidade e bem estar real naquilo que era considerado normal.

Como aspecto de construção do pensamento, em Sloterdijk destaco a antropotécnica, para ele a modernidade foi uma desverticalização da existência e uma desespiritualização da ascese, enquanto o conhecimento e a sabedoria proposta na antiguidade sair do empírico e do enganoso para ir em direção do eterno e do verdadeiro, como para ele não existe a religião, seria um movimento de sabedoria e conhecimento, e não apenas uma ascese de exercícios, onde a alma imortal foi trocada pelo corpo.

Já na perspectiva de Edgar Morin é o hologramático que pode dar ao homem uma visão do todo agora fragmentada pela especialização e pela particularidade de cada ramo da ciência, paradoxo do complexo sistema no qual o homem é uma parte que deve se integrar ao todo, onde “não somente a parte está no todo, mas em que o todo está inscrito na parte”, a pandemia nos ensinou isto, mas a lição ainda foi mal aprendida, em plena crise pandêmica resolveu-se que está tudo liberado e não há protocolo de proteção de todos em cada um (cada parte), e não há co-imunidade.

 

Um filósofo oriental lê a “clareira”

19 mai

Byung Chul-Han é um filosofo coreano-alemão que migrou para o ocidente e faz uma leitura impar da literatura ocidental, em particular o contexto das redes e das novas mídias, estudou em seu doutorado Heidegger e com isto sua “clareira”.

Explica o que é a clareira de modo simples: “A ´verdade´ de Heidegger ama se ocultar. Ela não se dispõe simplesmente. Ela tem de, primeiramente, ser ´arrancada´ do seu ´velamento´. A negatividade do ´velamento´ habita na verdade como o seu ´coração´” (Han, 2018, p. 74) e neste trecho cita a obra de Heidegger: “Sobre a questão do pensar”.

Ele penetra no que significa a informação, o grande insumo do Ser velado atual, “falta a informação, em contrapartida, o espaço interior, a interioridade que permitiria se retirar ou se velar. Nela não bate, Heidegger diria, nenhum coração” (Han, 2018, p. 74).

Esta ausência de contrapartida, é o que Chul Han chama de negatividade, é bom explicá-la bem, “uma pura positividade, uma pura exterioridade caracteriza a informação”, assim é o refletir.

Como seria então a informação da negatividade, no sentido de reflexão, é a informação “seletiva e aditiva, enquanto a verdade é exclusiva e seletiva. Diferentemente da informação, ela não produz nenhum monte [Haufen]” (Han, 2018, p. 74).

Assim, não há ‘massas de verdade” e sim “massas de informação”, é a “massificação do positivo” (Han, 2018, p. 75), assim informação distingue-se do saber, e este não “está simplesmente disponível”, diria nem simplesmente porque é complexo e nem disponível porque está oculto.

Porém o filósofo a confunde com experiência de vida, ao afirmar: “não raramente, uma longa experiência o antecede” (idem, p. 75), e afirma só uma face da informação: “a informação é explícita, enquanto o saber toma, frequentemente, uma forma implícita”.

Esclarecendo estes dois pontos confusos, primeiro a questão da experiência, o filósofo Platão foi o primeiro a anunciar que a sabedoria, como conhecimento da verdade não é fruto da idade, se assim fosse somente na velhice as pessoas mereceriam ser ouvidas, a outra questão é sobre a informação tácita, ela existe como conhecimento tácito, Michael Polanyi (1958), foi um dos primeiros a teoria, e Collins nos anos setenta retomou o conceito no âmbito da comunicação científica.  Para esta informação tácita, Chul Han também aponta isto, é preciso “silêncio”.

A clareira mais profunda o filósofo descreve citando Michel Butor, que deu uma entrevista ao Die Ziet, em 12/07/2012, que aponta para a verdadeira causa: “A causa [disso] é uma crise de comunicação. Os novos meios de comunicação são dignos de admiração, mas eles causam um barulho infernal” (Butor apud HAN, 2018, pg. 42).

Referências:

POLANYI, M. Personal knowledge – towards a post-critical Philosophy. Chicago: The University of Chicago Press, 1958.

COLLINS, H. M. The TEA set: tacit knowledge and scientific networks. Science Studies, v.4, p.165-186, 1974.

HAN, B. C. No enxame: perspectivas do digital. No Enxame: perspectivas do digital. Trad. Lucas Machado. São Paulo: Editora Vozes, 2018.

 

Totalidade e Infinito

16 jan

O complexo é fundamental para se entender a totalidade, escreveu Edgard Morin: “apenas o pensamento complexo poderá civilizar nosso pensamento” (Morin, 2008, pg. 23), na ausência de um discurso totalizador e abrangente é ele próprio o pensamento complexo.

Giordano Bruno foi o primeiro a intuir que o infinito era fundamental para o nascente pensamento moderno, mas este se refugiou no dualismo racional (objetivismo x subjetivismo) e na finito humana que não admite o mistério e o infinito presente na totalidade cósmica.

O pensamento atual, graças a complexidade física que veio dos quanta e da teoria da relatividade, é lançado para as profundezas do universo para pensar a matéria e a energia escura e seus novos e excêntricos fenômenos que desafiam os modelos atuais de física, de ciência, e quiçá de religião.

Edgar Morin antes de refletir sobre a virada paradigmática, diz que o Ocidente “filho fecundo da esquizofrênica dicotomia cartesiana e do puritanismo clerical, comanda também o duplo aspecto da práxis ocidental, por um lado antropocêntrica, etnocêntrica, egocêntrica desde que se trata do sujeito (porque baseada na auto-adoração do sujeito: homem, nação ou etnia, indivíduo) por outro e correlativamente manipuladora, gelada “objetiva” desde que se trata do objeto” (Morin, 2008, p. 81).

Sem considerarem-se dogmáticos, arrogantes e autorreferenciadores, este pensamento mesmo quando projeta para o Infinito, mesmo apelando a Deus e mesmo invocando o diálogo são eles próprios arrogantes, basta a mínima dose de questionamento para notar-se a prepotência.

Ora, mesmo para o religioso admitir o mistério é imprescindível para admitir a ideia de Deus e de infinito, enquanto para o pensamento “racional” (não o racionalismo dogmático) admitir a complexidade dos fenômenos não é senão fazer ciência séria e investigar de fato a natureza por um lado e admitir o lugar do homem dentro dela a única possibilidade de superar a arrogância objetivista e egocêntrica do pensamento moderno.

O infinito que é também reivindicado por pensadores atuais como Ricoeur, Lévinas que explicou o sentido de alteridade diante do Infinito: “A idéia do infinito não parte, pois, de Mim, nem de uma necessidade do Eu que avalie exatamente os seus vazios. Nela, o movimento parte do pensado, e não do pensador.” (Levinas, 1988, p. 49).

LEVINAS, Emmanuel. Totalidade e infinito. Tradução José Pinto Ribeiro, Lisboa- Portugal, Edições 70, 1988.

 

 

 

Teletransporte quântico por chip

30 dez

O fenômeno é chamado entrelaçamento quântico, ou teletransporte, antes feito com partículas, agora com sinais foi feito entre chips.

O feito foi realizado por pesquisadores da Universidade de Bristol e da Universidade Técnica da Dinamarca, onde a equipe conseguiu enviou dados sem que os chips estivessem próximos.

O experimento significa um salto no teletransporte porque agora trata-se de sinais codificados, o que viabiliza a comunicação via teletransporte.

O paper da pesquisa já foi aceito para publicação em Physical Review Letters e está disponível no servidor de acesso aberto em pré-impressão arXiv.org .

O vídeo a seguir explica o entrelaçamento quântico:

https://www.youtube.com/watch?v=Q9J4ArjheD8

 

Porque a Inteligência artificial emergiu?

22 ago

O longo caminho percorrido pela Inteligência Artificial inclui a construção de linguagens como Lisp, Prolog, Haskel, mas atualmente emergiram ambientes como DialogFlow, Watson e
O Final do século 20 havia uma grande crise na IA (sigla para inteligência Artificial), mas a emergência de pesquisadores em Web Semântica retomou estudo e aos poucos, assuntos como IoT (internet das Coisas), Linguagem Natural e Machine Learning (não há uma tradução, mas poderíamos dizer aprendizagem por Máquina) emergiram.
O fato que assusta alguns está ligado ao conceito que se tem de “inteligência” e de “mente”.
Esta emergência despertou as cinco maiores companhias de tecnologia do mundo : Apple, Microsoft, Google, Amazon, e Facebook, que passaram a investir em inteligentes capazes de conversar com humanos.
Agora já 28% dos consumidores nos Estados Unidos atualmente usam algum assistente virtual, esses aparelhos que integram a tecnologia IA de um assistente de voz com um produto de casa comum tem tido grande sucesso, tais como Alexa, Echo e Google Home, mas o aumento de vendas para 39% anuais foram comemorados pelas empresas.
Em empresas a preocupação com a privacidade, a operação é feita usando armazenamento em nuvens, empresas com assistentes de som usam medidas diferentes para proteger as informações pessoais de seus consumidores, mas sabem que existem falhas nessas defesas.
O áudio enviado para a Google e Amazon é criptografado antes de ser transmitido, deixando a troca de dados supostamente segura, mas a base de dados pessoas precisa ser acessada para que a máquina vá “desenvolvendo” sua capacidade de aprendizagem.
Recentemente um pesquisador inglês da área de segurança da informação demonstrou que é possível transformar um Echo fabricado antes de 2017 em um instrumento de gravação perpetua cujo áudio pode ser transmitido a um local remoto, sem que o usuário saiba.
Para se proteger de hackers, uma boa prática é acessar sua conta e apagar o histórico de interações com os serviços periodicamente, mas resta saber se não foi hackeada neste período.
Já o Siri da Apple, ao invés de associar a gravação com a conta de usuário, ele associa a coleta da interação com você com uma série de números aleatórios.
Com ou sem segurança, este mercado cresceu e as empresas estão de olho, já é irreversível.

 

Material pode ajudar criação de chips quânticos

08 ago

Pesquisadores da Universidade Central da Flórida (UCF) descobriram um tipo de material que poderia ser usado como um “bloco de construção” de chips quânticos, sendo composto de háfnio, telúrio e fósforo, Hf2Te2P.

Segundo o pesquisador Madabe Neupane, da UFC: “Nossa descoberta nos leva um passo mais perto da aplicação de materiais quânticos e nos ajuda a obter uma compreensão mais profunda das interações entre várias fases quânticas”.

O material tem mais de um padrão de elétrons que se desenvolve dentro de sua estrutura eletrônica, dando-lhe uma gama de propriedades quânticas. Neupane diz que este material aumentará o poder de computação para grandes volumes de dados em novos dispositivos e reduzirá consideravelmente a quantidade de energia necessária para a eletrônica de potência.

A descoberta já atraiu empresas que estão investindo na pesquisa, a Microsoft por exemplo investiu em seu projeto chamado Estação Q, o laboratório que está dedicado ao campo da computação quântica topológica, e a google se associou à NASA num investimento que trabalha com computação quântica e inteligência artificial.

Como os fenômenos quânticos precisam ser melhores compreendidos para que a eletrônica seja totalmente substituída pela fotónica e pela computação quântica, as mudanças de cenário computacional tendem a mudar rápida e continuamente.

A descoberta do laboratório de Neupane está publicada na Nature Communications, e é um grande passo para esta mudança de cenário.

 

 

Novidades no Google News

02 jul

Após vários anúncios, finalmente na segunda quinzena de maio o Google lançou seu novo aplicativo, somente agora consegui dar uma olhada no aplicativo que substitui o Google Play Newsstand, agora com uso de Inteligência Artificial.

O aplicativo trabalho em usar aprendizado de máquina para treinar algoritmos que vasculham notícias de modo complexo e recentes e divide-as num formato de fácil compreensão, com cronogramas cronológicos, notícias locais e histórias apresentadas numa sequencia de acordo com a evolução dos fatos, por exemplo, o início de uma partida de futebol, seus lances mais importantes, o resultado e as consequências.

Esta seção que são notícias que os algoritmos julgam importantes para você tem o nome For You (Para você no Brasil, e Para si em Portugal), seguem mais 3 seções assim divididas:

A segunda seção é chamada Manchete, onde as últimas notícias e temas específicos são apresentadas. Aqui, existe uma subseção onde o usuário pode escolher ler a notícia pela Cobertura Completa do Google, em que o Google divide-a em itens, numa variedade de fontes em Mídias sociais, permitindo saber onde e quando aquilo aconteceu.

A terceira seção mostra os favoritos, como os principais tópicos que o usuário costuma acessar, a IA tem grande trabalho ai, vai nas fontes favoritas do proprietário, salva histórias para leituras mais tarde e guarda pesquisas de acordo com a localização dos textos.

E por fim o White Play (Play Branco) que é a adição do novo Google news, que permite que o usuário acesse e assine serviços com conteúdos premium em Sites voltadas à notícias.

Enquanto uma parte da crítica continua a duelar com os velhos esquemas de notícias dirigidas ou enlatadas, vinculadas a grupos editoriais, o mundo das notícias personalizadas evolui.  

 

Alexa: assistente pessoal da Amazon

26 jun

Pode não parecer um fenômeno novo na tecnologia já que existem assistentes como o Siri, Cortana ou Google Now, mas o fato deste assistente ser realmente pessoal, por isto chamei os outros de assistentes de voz, é o fato que ele aprende e armazena os dados em uma nuvem particular da Amazon Web Service (AWS).

Ativados por voz estes assistentes pessoais embora todos fundamentados pelo uso de voz há diferenças, eles podem aprender com pessoas específicas hábitos e funções que elas desejam, enquanto o assistente de voz, como chamo Siri e Google Now agora emponderado pelo Dialogflow, como explicamos no post anterior, eles podem responder e aprender com a interação humana, mas poderá, se for desejável organizar seu próprio banco de dados.

O Alexa (por ser o assistente pessoal penso ser do género masculino, mas pode ser a também) está centralizada na nuvem da Amazon e tem seu próprio equipamento que é o Amazon Echo, uma coluna sempre conectada a internet via WiFi que está atenta aos diálogos do seu “dono”.

Os serviços de música em streaming com uso do Spotify ou Pandora, pode ler as notícias dos principais jornais que preferir, informar a previsão de tempo ou o trânsito a caminho do trabalho, pode controlar todos equipamentos em casa que sejam Smart Home, inclusive ele pode identificar e dizer sobre a compatibilidade, mais sua capacidade vai além.

Além disto tudo promete verificar coisas básicas como resolver contas matemáticas ou entrar numa conversa e até contar piadas, com o tempo este banco e esta capacidade vai evoluir.

Mas cuidado, já postamos aqui sobre o mito da singularidade (em especial o livro de Jean Gabriel Ganascia), a ideia que isto vai virar um monstro e controlar você é menos verdadeira que a de individualizar-se e deixar de falar com amigos e parentes.

 

Tornar hologramas reais, rápidos e precisos

20 jun

Já mencionamos aqui o desenvolvimento de hologramas no espaço sem a necessidade de dispositivos que recriem os artefactos, agora é possível fazê-los de modo ultrarrápido e muito precisos.

Os cientistas do Laboratório Americano Lawrence Livermore na California desenvolveram uma técnica que pode criar objetos complexos em segundos, podemos dizer usando teorema de amostragem de Shannon para a criação de imagens, agora sendo elas tridimensionais.

Esta técnica cria os objetos em camadas simultaneamente, os detalhes foram publicados na revista Science Advances em dezembro de 2017, há duas inovações realmente importantes ali, a possibilidade de criar imagens reais de modo ultrarrápido usando uma resina fotossensível recriando a impressão 3D com um poderoso laser que endurece esta resina tornando-a um plástico.

 

Isto também pode ser feito com metais usando feixe de elétrons e um pó de metais em vez da resina, a também não precisa dos inúmeros suportes necessários às impressoras 3D.

O engenheiro Maxim Shusteff, do LLNL, que lidera o estudo disse ao site New Atlas: “o fato que você pode fazer peças totalmente em 3D, tudo em uma única etapa realmente supera um problema na manufatura aditiva”, agora os hologramas podem retornar às peças materiais.

Outra opção seria a bio-impressão em tecido vivo: “Nós fizemos uma boa primeira tentativa”, disse Shusteff, “mas ainda não levamos isso ao limite de seu desempenho, então o espaço está aberto para nós e outros para demonstrar o que essa abordagem é capaz de fazer.”  bioprinting tecido vivo. “Nós fizemos uma boa primeira tentativa,” disse Shusteff, “

Se a impressão 3D já era anunciada como uma revolução, esta nova técnica promete acelerar ainda mais este processo

 

As redes e a crise mundial

22 mai

As redes sociais estão provocando uma mudança orgânica no conjunto da sociedade, ela já é mais evidente do que era a 10 anos atrás, mas ainda se confunde a organização em rede com a descentralização e há fortes forças conservadoras que pedem uma nova “hierarquia” social, ainda que descentralizada com poder central.

A percepção de que este ou aquele país é um país em “crise” mais aguda que outros é válida, mas a verdade é que são aqueles que mais aprenderem com a crise que poderão sair dela mais rápido, a primeira lição é que há uma sociedade mais atenta, mais diversificada e menos capaz de suportar esquemas centralizados e autoritários, mas por que então esta onda ?

Justamente porque a grande maioria dos “silenciosos” agora revelam a verdadeira face , a da conveniência e a da convivência com valores que no fundo eram apenas “suportados” pelos que sofriam alguma forma de exclusão, e não falo só a financeira, ainda que seja grave.

Edgar Morin ressalta que agora o espaço “público reúne a sociedade em sua diversidade. A direita, a esquerda, os malucos, os sonhadores, os realistas, os ativistas, os piadistas, os revoltados – todo mundo. Anormal seriam legiões em ordem, organizadas por uma única bandeira e lideradas por burocratas partidários.  É o caos criativos, não a ordem preestabelecida.”

Pode tudo isto desandar numa guerra civil, concordo com Manuel Castells: “guerra civil e movimentos sociais são incompatíveis!”, mas os movimentos sociais agora não são somente as massas manobradas por sindicatos e partidos, é isto que temem os caudilhos, há muita desconfiança e segundo Castells “partidos são universalmente desprezados pela maioria das pessoas”, por que sabemos que pagamos o salário dele (alto) e não fazem o que deviam fazer.

Mas é preciso salvar valores sociais para não cair na tentação da violência e do autoritarismo que é o que desejam os radicais e suas massas de manobra, Castells afirma “você preciso de muito mais valor para não ser violento. Ser violento é fácil.”

Estou em Portugal que viveu uma crise profunda e ainda sente reflexos dela, mas aprenderam a conviver, a dialogar e a ter um pouco mais de paciência com graves problemas sociais, mas este fim de semana havia uma mega manifestação de professores que tiveram salários afetados e aposentadoria (reforma aqui) atrasada, alguns podem ter direito só aos 70 anos.