Arquivo para December, 2012
Antropologia, o Natal e as tecnologias
Antropologia como discute questões da natureza humana, sempre esteve ligado a parte criativa, religiosa ou “mágica” do homem, a publicação, de “As formas elementares da vida religiosa” (1912) por Durkheim, que discute o evolucionismo, antes ainda o Esboço de uma teoria geral da magia (1903) de Marcel Mauss e Henri Hubert, em 1903, que criam o conceito de mana (nome polinésio para troca), mais tarde nasce a Antropologia estrutural de Levy-Strauss.
Mas Martin Buber, na sua obra Quem é o Homem?, como antropólogos fenomenológicos e existenciais, afirmou que tão importante quando a resposta de quem é o homem ? é a pergunta: O que é que o homem pode ? daí a tecnologia surge como importante para novas possibilidades.
As grandes mudanças por que passava a antiguidade clássica, as escolas gregas já haviam se consumado, aristotélicos e platônicos agora eram estudados por estóicos e neoplatônicos, o início promissor da escrita e as dificuldades romanas de manter a dominação, entre elas a Judeia, onde despontavam inúmeros líderes, muitos “messias” este era o quadro sociocultural no qual nasceria um homem importante para a cultura ocidental.
Usou a cultura de comunicação que ainda era a de seu tempo, a tradição oral, mas seria o único fundador de uma nova mensagem “escrita”, poderíamos dizer o antecessor das revistas e jornal, mas que só seus discípulos escreveriam o “primeiro livro”, o “Biblos” ou Bíblia, mas como uma “Boa notícia”, ou “Boa Nova”, tradução da palavra Evangelho.
Esta versão tinha também uma nova tecnologia, além da palavra escrita, e ser uma extensão do Torah, as leis judaicas das quais era herdeiro.
Seus discípulos escreverão o “Evangelho” e a colocarão no formato do Códex (formato retangular, com algum tipo de costura prendendo as páginas), que no final da idade média será perpetuado no formato impresso, não por acaso, foi a Bíblia foi o primeiro “livro” nesta tecnologia.
Como afirma McLuhan “o meio é a mensagem”, ou seja, uma forma nova exige uma nova forma de comunicação e a tecnologia sempre acompanhou o homem.
Adventos da esfera-pública, estado social e o homem-novo
Morin falou do Patria-Mundo, Habermas fala da esfera-pública e podemos falar de mundo unido, tentando contextualizar um espaço para este “novo homem” antropológico, o importante é reconhecer que o discurso filosófico da modernidade que já parte da investigação sociológica, ao menos a sociologia de alguma profundidade, tem ao menos duas noções clara, dentro da questão de espaço-público, ou seja:
A Primeira é aquela que liga o público a visibilidade, própria do mundo das redes eletrônicas, mas remetendo a um modelo histórico da esfera pública representativa, é disto que falam alguns quando dizem sobre “portais da transparência”, mas onde está a nova atitude! Num modelo mais teatral, podemos pensar no papel dos homens públicos, segundo algumas convenções que orientam a vida em pública ou as relações públicas (ver autores como: Goggman, 1973; Sennet, 1979).
O Segundo é aquele que vem das ideias iluministas, mais especificamente de Kant, a novação de vida pública era associada a noção de publicidade e de uso público da razão. Esta idéia liga público a fazer propaganda pública, confusão daqueles que reclamam da mídia, mas Habermas está dizendo outra coisa: “opinião verdadeira, renegerada pela discussão crítica na esfera pública”, por isto ao meu parecer, está falando de algo como a Web, ou meios de comunicação democráticos.
Então o novo esfera-público é o lugar onde devem acontecer de forma normativa domínios de comunicação onde:
a) a teoria da democracia (o espaço público é o quadro no qual se discutem as questões prático-morais e políticas, e no qual se formam a opinião e a vontade coletivas);
b) a análise político-administrativa e a teoria do Estado social (o espaço público é a instância mediadora entre a sociedade civil e o Estado, entre os cidadãos e o poder político-administrativo);
Embora se fale de um estado-social, ele está longe de acontecer se não pensarmos: mecanismos de combate a corrupção, legislação regulatória dos bancos e respeito à opiniões não “partidarizadas”, mas é claro que tudo isto fala de um homem-novo.
Ora esfera-pública, visibilidade e transparência não são senão os temas mais importantes para a internet (meio físico) e a Web (sua aplicação).
Neo-Humanismo e o Advento da sociedade-mundo
A crise ou noite cultural do ocidente (oriente e mundo árabe estão em outro processo), não pode ser compreendida senão entendermos o contexto do renascimento e o pensamento humanista decorrente.
A análise de Edgar Morin em “Cultura e Barbárie Europeias” (2005), retoma “esta tradição do humanismo europeu presente as Cartas Persas de Montesquieu e irá perpetuar-se até Claude Levy-Strauss” (pag. 37) e complementa que “a época das luzes, a racionalidade é crítica sobretudo as religiões”, mas ele ainda aponta para o nosso caminho futuro, longe da globalização/ mundialização, que é o que chama de “sociedade-mundo”:
Em face de todas essas considerações é importante perguntarmos se a idéia de Neo-Humansimo presente na Teoria de Edgar Morin aponta caminhos para superarmos, ou ao menos, compreendermos a nossa parcela de responsabilidade na perspectiva de transformar o planeta em que vivemos.
Mas é preciso um homem mais solidário e coletivo, que seja preparado para esta nova civilização, e na visão de Morin esta é:
“[…] a missão da educação para a era planetária é fortalecer as condições de possibilidades de emergência de uma sociedade-mundo composta por cidadãos protagonistas, conscientes e criticamente comprometido com a construção de uma civilização planetária” (2003, p. 98)
Para ele é necessário preprar os jovens que irão enfrentar esta sociedade um tipo de pensamento e cultura que possa prepará-los para “articular, religar, contextualizar, situar-se no contexto e, se possível, globalizar, reunir os conhecimentos que adquiram” (2002, p. 29), dentro do que chamamos de passo antropológico, o advento de um “novo homem” capaz deste passo antropológico.
Longe dos valores e atitudes ainda presentes no confuso momento atual, mas de reconhecida crise cultural, temos nesta crise valores “mundiais” emergentes, um mundo mais solidário e fraterno, capaz de respeitar e até valorizar as diferenças, mas com grandes transformações ainda necessárias que preparem esta pátria-Mundo (Edgar Morin) ou “esfera-pública” (Habermas), mas esta voltaremos na próxima semana.
Edgar Morin. Educar para a era planetária. Cortez, 2003.
__, O Método 4 – As ideias: habitat, vida, costumes, organização. Sulina, 2002.
Terremoto no Japão
Nesta manhã de sexta (noite no Japão), um terremoto com magnitude preliminar de 7,3, conforme o Serviço Geológico dos EUA informoj, mas acrescentando que não havia risco de tsunamis generalizados, embora haja um alerta no Japão.
O tremor atingiu é próximo da área que o devastador terremoto seguido por tsunami em março do ano passado, além do risco nuclear ele matou cerca de 20 mil pessoas e desencadeou uma grande crise nuclear do mundo em 25 anos na usina de Fukushima, com este modelo de energia sendo questionado no mundo todo.
Amazon inicia venda de ebooks no país
Na madrugada desta quinta-feira a Amazon do Brasil começou a venda de livros que incluem 13 mil títulos em português, e mais de 1 milhões de títulos da loja em outros países, e ainda o e-reader Kindle por aproximadamente 300 reais, mas que ainda não está disponível.
Já no mercado o Kobo está sendo vendido na livraria Cultura a aproximadamente R$ 400,00.
Ainda há muitos no mercado nacional que argumentam que o cheiro, o tato do papel, a textura e até ao formato dos livros ainda são melhores que estes equipamentos que passa o futuro das publicações, mas as notícas vindas dos Estados Unidos e Europa dizem que não é bem assim, lá os mercados já são, na maioria, dos leitores de ebooks.
Instagram, preto e branco, cinema-arte
Pode-se imaginar que a arte digital seja só mais uma dimensão da arte utilitária, inaugurada na modernidade com a separação dos objetos e sujeitos, que pode se ilustrado pela célebre frase: “O belo é aquilo que agrada universalmente, aina que não se possa justificá-lo intelectualmente”, então veja as fotos que competem no site do Instagram, o segundo lugar foi do amigo Paulo Wang.
Não há como não lembrar a bela fotografia do filme “O Artista” feito em preto e branco, e quase totalmente mudo, relembrando o cinema da década de 20, e fala da queda e ascensão de uma atriz.
Mas ao contrário de tentar reviver os bons tempos, e os “artistas”, existe a arte da pessoa comum.
Feita por uma multidão anônima, ali estão as mais belas fotos de branco e preto, que me fazem lembrar os filmes preto e branco de Kurosawa, a primeira vez num mundo colorido, em que voltava a imaginar a beleza dos contrastes e sombras, de imagens focadas que não tem um fundo embaçado, etc.
Lembrei de um filme pouco conhecido Viver (1952) deste japonês homem-mundo (veja o post de ontem) capaz de traduzir Rei Lear na cultura japonesa, no maravilhoso filme, este colorido Rhan (1985).
Mas quem quer penetrar na beleza das imagens coloridas, verdadeiros quadros multimodais (quadros em filmes) de uma beleza ímpar, como ver quadros de Van Gogh no cinema, deve ver Sonhos (1990).
O cinema é um belo exemplo de uma arte que não se deixou corromper, claro, só para os mestres, também há um cinema submisso de grandes heróis, clichês políticos de guerras imperialistas e de zumbis, homicidas, sombras e cores bizarras, que nada tem de arte nem do belo.
Belo, Modernidade e Advento
“Quis cantar, cantar
para esquecer
sua vida verdadeira de mentiras
e recordar
sua mentirosa vida de verdades”. “Epitáfio para un poeta” – André Breton (1896-1966)
O homem da caverna primeiro pintou só depois bem depois escreveu, portanto a arte antecede a prosa e até o verso.
Para Platão o belo não era somente o bem, mas também a verdade e a perfeição, tinha uma existência em si mesmo, e estava fora do mundo sensível, ligado ao mundo das ideias, por isto de certa forma dualista entre sentido e objetos.
Para Aristógeles, a arte é uma criação particularmente humana e, como tal, não pode estar num mundo apartado daquilo que é sensível ao homem, mas a propõe ordenada, simétrica e ainda de certa forma enrijecida.
Esta compreensão de ordem, simetria e rigidez das formas cresce no período medieval, e a arte gótica, com inúmeros detalhes e rococós representa o último período desta fase, surge como expressão que Deus não estaria mais isolado e indiferente ao mundo, então toda a realidade tem ligação com a existência de Deus, o divino e o humano se reencontram.
O início da modernidade Kant ao tentar superar definitivamente o primado do sujeito, a subjetividade do belo, separa-o do objeto deslocando definitivamente o centro da existência da Beleza para o objeto ao sujeito, mas separando este daquele e entre os dois lados da equação sujeito versus objeto, construiu a utilidade do objeto ao qual se oporão o impressionismo e o surrealismo.
A arte utilitária cresce romântica e personalista, seus quadros e textos falam de um pretenso “real”.
Para liberar pincéis e penas, o impressionismo vem com luzes, traços e pontilhados que retomam um belo cheio de vida, feito por um grupo de pintores fora dos salões de arte burguês, entre os quais estava Monet, cujo quadro “Impressão, nascer do sol” (1872) é de onde vem o nome da corrente desta arte do século XIX.
Mas a essência do pensamento estético da modernidade continua na oposição entre o “objeto” fruto utilitário do conceito idealista e o “sujeito” fruto do conceito estético para os subjetivistas separado do real, neste contexto a arte digital torna-se virtual, não no conceito da construção da poesis (que autogestionada torna-se auto-poésis) mas um virtual equivocado que se opõe ao real, neste sentido torna-se ilusão, simulacro que para Baudrillard significa “simular é fingir ter o que não se tem”.
Mas Gilles Deleuze aponta para um outra forma de pensar, na qual o simulacro é comparado ao devir e à diferença, a diversidade na qual a multidão com uso de câmeras digitais e Instagram é convidada a compartilhar a arte.
A experiência digital favorece então uma relação estética com o singular, com o diferente, abre as possibilidades de habitar o imaginário num mundo com formas de pensar diferentes, entre culturas, raças, religiões e estéticas autopoiéticas.
Longe e difícil até para o imaginário cristão, três magos do oriente vieram adorar uma criança nascida no estábulo, um verdadeiro “simulacro” divinamente imaginado, um simulacro feito sujeito numa criança, pura imaginação e poesia.
Renascença, filosofia e Advento
Em tempos de advento, convêm analisar os adventos recentes, mas talvez não tão recentes em tempos de profundas mudanças, o que foi a modernidade ? o que “advém” ?
É no auge da renascença que surge um humanismo novo, segundo Edgar Morin em “Cultura, Barbárie Européias” (Instituto Piaget, 2005), com duas faces: “uma dominadora e outra fraternal” (pag´. 31).
O autor destaca na origem do pensamento moderno “a missão de Descartes, fazer o homem senhor e possuidor da natureza” (pag. 32), conveniente ao iluminismo, nasceram ainda o idealismo e a ciência positiva.
Para uma pequena parcela da sociedade nascente importava agora o uso pragmático e utilitarista dos conceitos advindos da renascença, assim nasceram os conceitos liberais, as idéias republicanas e o poder dos bancos.
O longo caminho até a pós-modernidade, exploração do homem, duas grandes guerras e uma crescente destruição da natureza puseram em cheque estes conceitos.
Além de Morin, muitos são os autores que encaram este problema, um deles é Emmanuel Levinas, um lituano, de tradição judaica e filosofia fenomenológica, que tornou-se filósofo na França, onde faleceu no Natal de 1995.
Curiosamente sua mensagem é Natalina, no sentido de fraternal, no sentido do Outro.
Trabalhou intensamente na questão do Outro, que não é um simples inverso da identidade, mas a incorporação de um Outro no Si-próprio sem resistência, sem oposição.
Senão for assim o Outro não é verdadeiramente outro, impossível de ser fraterno.
Para ele também coletividade do ‘nós’ não é um plural de ‘eu’, mas feito de encontros do Eu com o Outro.
A obra de Lévinas (Entre nós, Humanismo do outro homem) é um repensar da emergência ética nos caminhos da filosofia a partir de um novo prisma, de se partir do Eu em direção ao Outro.
Tal inspiração Lévinas foi buscá-la na ontologia de Heidegger, mas também nos Livros Sapienciais da Bíblia, é um novo Advento, uma filosofia humana e mais fraterna, quem sabe um dia não só nestes períodos propícios.
Amor, hiperpoesia e advento
Os conceitos estão no livro de Edgar Morin “Amor, Poesia e sabedoria” (Instituto Piaget, 1997), na verdade reúne três palestras, mas colocadas em uma relação interessante, onde o amor “é o auge da loucura e da sabedoria” (pag. 30) e a poesia diz citando Rimbaud “não é um estado de visão, mas de vidência” (pag. 38).
Sobre a poesia, Morin diz que o homem tem duas línguas. Uma delas é a poética, a outra língua é da prosa. “Na poesia, prosa compreende o tecido de nossas vidas”, diz Morin.
Duas línguas, duas palavras, dois olhos, duas formas de nomeação e percepção, duas maneiras de ver e entender a realidade, a da prosa e a da poesia da realidade, vida vivida mas também sonhada.
Mas a poética, contradizendo e convertendo o prosaico ao poético, inclui a vinda vindoura, o advento e a esperança.
Prosa é uma maneira de viver e construir, também poética se podemos inclui nela sentimentos positivos.
Segundo Morin, tivemos duas rupturas na poesia, a primeira na renascença quando ao tornar-se “profana” separou-se da prosa, mas segundo o próprio autor: “separou-se dos mitos, … da sua fonte que é pensamento simbólico, mitológico, mágico” (pag. 40), e acrescentaria do espiritual, a segunda ruptura foi o surrealismo.
A segunda é o surrealismo, no início do séc. XX, “a recusa da poesia de deixar-se fechar no poema … não na negação do poema, dado que Breton, Peret, Eluart, etc. fizeram poemas admiráveis … ” (pag. 41), cita Chaplin como exemplo desta recusa, assim “desprozaicar a vida quotidiana, reintroduzir a poesia na vida, tal foi a primeira mensagem do surrealismo” (idem).
O que vivemos hoje é o “desfraldar da hiperprosa … de um modo de vida monitorizado, cronometrado, fragmentado, compartimentado, atomizado, não só de um modo de vida” (pág. 42) … mas também de um modo de pensamento “em que doravante especialistas são competentes para todos problemas … está ligado ao desfraldar econômico-técnico-burocrático” (pag. 43).
O autor liga este pensamento ao “abandono da ideia de salvação” (pág. 43) que ligo ao advento, e na visão de Morin, a invasão da hiperprosa “cria a necessidade da hiperpoesia” (idem), nada mais propício a este início de “advento”, a espera do que ou de quem virá.
Se as religiões dizem “sejam irmãos que seremos salvos”, Morin diz “sejamos irmãos porque estamos perdidos” (pg. 44), mas como diria Rimbaud “onde há medo, há salvação”.
Tenhamos esperança e trabalhemos para a fraternidade (dos justos claro, os outros jamais acreditariam nisto), como diz Morin “a finalidade da poesia é nos colocar em estado poético”. (pág. 46)
Teilhard Chardin e a Noosfera
Chardin nao viveu para ver a internet nascente, mas foi inspirador de McLuhan que o citou e de Peirre Lévy que não o cita.
É dele uma maravilhosa frase que poderia ser adaptada às redes: “cada um de nós, quer queira quer não, liga-se, por todas as suas fibras materiais, orgânicas e psíquicas, a tudo o que o circunda”, isto pode significar estar em Rede, não necessariamente na Web.
Começo com ele uma série de leituras agora positivas sobre as ligações humanas, e estas com todo o cosmos.
A revista Wired (conhecida pela discussão tecnológica e por seu editor Jeff Howe), diz que Chardin inspirou ainda Al Gore e Mario Cuomo. O laureado John Perry Barlow, afirma que sua visão nos ajuda a encontrar o significado do cosmos, e cita Marshall McLuhan ao dizer que o mesmo encontrou o “testemunho lírico” do padre Jesuíta francês ao formular sua visão emergente de aldeia global.
Mas o que este grupo eclético está comemorando? perguntava a revista Wired em 1995. Era que um padre jesuíta e paleontólogo chamado Pierre Teilhard de Chardin, cujos pontos da filosofia eram peculiares, mas eram estranhamente, os mesmos do ciberespaço.