RSS
 

O animal político e o ser ontológico

23 abr

Imaginamos pela maioria das narrativas que a política grega é um grande modelo para a sociedade contemporânea, mas a correção de Sloterdijk é a mais acertada possível: “A verdade sobre a forma de mundo imaginada por Platão e Aristóteles é certamente a de que cidade e império são figuras da era agrária” (Sloterdijk, 1999, p. 43).

Vessel Hollow

É difícil acreditar porém “se Platão definiu o saber do político como arte pastoril em referência a bípedes sem penas, então fica claro coo motivos agro-ontológicos avançaram até na definição fundamental da essência do poder nas cidades – agricultura e a criação de animais são os reservatórios de contemplação, dos quais discursos politológicos devem extrair sua plausibilidade, mesmo se o olhar passe do jardim da academia para a ágora” (pg. 44).

A importância escapa até mesmo de Sloterdijk, já que na sociedade moderna industrializada europeia a “experiência camponesa” que culpa até mesmo Heidegger o seja, e os “motivos extra-agrários” saíram “das oficinas dos artesãos, a saber dos ferreiros, para avançar na consciência do mundo político-filosófica, e dos portos, de um o comandante, em grego kybernetes, pôde tornar-se uma sugestiva figura de poder” (pag. 44).

Também a convivência com a natureza é retomada em Sloterdijk e seu discípulo Chul-Han: “desde sempre constituiu um risco para a cidade o fato de ela usar mais do que criar o homem; mais do que isso, ela o impele aos últimos florescimentos como reproduções simples demais; tanto no sentido biológico quanto no cultural, ela é mais estufa do que campo e jardim” (pag. 45).

Antes do desenvolvimento do psicopolítico de Chul-Han já pode-se encontra-lo em Sloterdijk: “dominadores, políticos e chefes são, segundo essa lógica, sobretudo detonadores de uma crueldade funcional – que obviamente fazem bem em ciar para si, sob nomes como razão de Estado, bem comum, justiça, planejamento, entre outros, um rosto aceitável, se possível sincero” (pag. 47).

Sloterdijk desenvolve aqui o conceito verdadeiro de “humanidade” “se rompe aqui em grupos que se intensificam através de tensões, e grupos que ficam estagnados no sofrimento, a dor, na grande civilização, adquire um terrível rosto duplo; ela age em alguns como estimuladora, em outros como obstruidora; para a minoria, a carência tem efeito educador; para a maioria, age como destruidora de almas” (pag. 48), vale esclarecer que Sloterdijk não é religioso.

Para concluir este post, ela detecta doença contemporânea: “liga-as agora a estranheza íntima de senhor e servo” (pag. 48) e “o paradoxo da inclusividade exclusiva cobra então o seu preço; pessoas começam a caçar pessoas, matam-nas em grandes números, exterminam hordas e tribos inteiras, vendem-nas e compram-nas … “ (pag. 49).

Pouco ainda caminhamos na saída do zoom, as exclusividades e não-inclusividades estão ai.

SLOTERDIJK, Peter. No mesmo barco: ensaio sobre a hiperpolítica. Trad. Claudia Cavalcanti. São Paulo: Estação Liberdade, 1999.

 

Hiperpolítica e a guerra

22 abr

Quando Peter Sloterdijk escreveu “Todos no mesmo barco: ensaio sobre a hiperpolítica” estávamos no limiar do terceiro milênio, Manuel Castells escrevia a Sociedade em Rede e Edgar Morin escrevia sobre Cabeça Bem feita, repensar a reforma, reformar o pensamento, eram tentativas de acordar e fazer a humanidade caminhar para um futuro menos sombrio.

Sloterdijk escreveu ainda “Se a Europa despertar”, chama-a de Império do Centro e atenta para seu passado colonialista e a necessidade de um novo futuro e repensa a guerra, um tema tão deligado no país que deflagrou a II Guerra Mundial.

São todos pensamentos que tentavam redirecionar um futuro sombrio da possibilidade de uma nova guerra, em Todos no Mesmo Barco, Peter Sloterdijk revisita o projeto político que nasceu na antiguidade clássica, a tentativa de organizar o Estado, e diz: “Como podem “falar” a tão grandes números de pessoas e convencê-las a se sentirem participantes daquilo que é “grande” – até chegar à disposição de ir ao encontro da morte em exercícios de milhões contra forças de igual ordem de grandeza, a fim de assegurar aos “próprios” sucessores aquilo que os ideólogos chamam de futuro” (Sloterdijk, 1999, p. 31).

Ao contrário do otimismo de Castells e Morin, não apenas justificável, mas desejável, de um futuro mais civilizado e humano, Sloterdijk alerta que essa hiperesfera conectada, vejam que as mídias sociais eram apenas nascentes para estes três grandes pensadores, era para o alemão, um futuro perigoso da hiperpolítica.

“Os primeiros gestos desse holismo instintivo são tentativas de descrever o cosmo como casa maior e os povos como famílias maiores” (Slotertijk, p. 32), e acrescenta que de fato, “o homo politicus e o homo methaphysicus se pertencem historicamente; propectores do Estado e prospectores de Deus são gêmeos evolucionários” (Sloterijk, p. 33), claro não é a visão de todos e muito menos dos homens do poder, os grandes estadistas que pensam nesse holismo já não existem e agora é império da força e do pensamento monolítico, autoritário e de ódio.

O projeto político dos gregos para ele pode ser chamado de “metalomaníaco”, mas alerta que este é o homem que “imiscui em grandes questões maiores para ter algo que correrá com os olhos e logo abandonará. Mas deverão chamar aqueles que, uma vez apreendidas as grandes coisas, não mais as abandonarão?  Proponho megalopatas” (pag. 34).

Também grandes impérios: o persa, o romano, os mongóis que chegaram a dominar meia europa, o turco-otomano e mais recentemente napoleão e as “esquecidas” colônias da Africa que nada mais eram do que extensão do Império do Centro, como Sloterdijk chama a Europa.

“Humanismo de Estado é desde então a busca por um centro justo – e desde a recepção romana dessa ideia grega essa busca carrega o seu nome até hoje conhecido: a Humanidade” (pags. 35-36).

Sloterdijk questiona esse modelo do homo politicus, o “pontifex maximus”, “como nos tornamos rajá? Como nos tornamos César? Como nos tornamos cônsul, senador, imperador? Como deve viver alguém para entrar nos livros de história como Metternich, lord Morlborough ou Bismark? (pag. 37).

A ideia da política como metanóia, este era o intuito inicial da Paideia por exemplo, não é mais verdade na guerra, Sloterdijk cita Goethe: “não se educa o homem que não sofre flagelos”.

 

Um poder escondido nos pequenos

19 abr

Em toda história se ignorou as camadas da sociedade que não tinham participação no poder, não em regimes autoritários onde isto fica evidente, ainda que os ditadores gozem de alguma popularidade devido seu poder de manipulação e uso da força, a maioria da sociedade deve e o processo se torna irreversível com o acesso através das mídias sociais, que podem ser redes.

O poder dos laços fracos, desconhecido pela maioria dos manipuladores e autoritários existe e mesmo que submetidos a um duro regime, nas sombras e nos meios informais ele acaba se manifestando, porém, o poder de propaganda e de massificação na grande mídia era imenso.

É verdade que parte da opinião dita popular também está sujeita a tradições e culturas de opressão e manipulação, já o era antes, e agora pode tornar-se perverso, mas quando usado para promover o bem comum, a igualdade e o respeito, poder ser a única força assimétrica.

A opressão supõe sempre um certo consentimento, por persuasão, por medo ou por alguma conveniência circunstancial ou histórica, porém ao longo do tempo, pode demorar anos, uma verdadeira opinião “pública” prevalecerá e a polarização das forças imperiais em jogo, irão se enfraquecer.

Como reconhecer o lobo e o cordeiro neste jogo, é simples, e a parábola bíblica explica (Jo 10,12):

“O mercenário, que não é pastor
e não é dono das ovelhas,
vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e foge,
e o lobo as ataca e dispersa”.

O pastor conhece as ovelhas e elas escutam sua voz, diz outro trecho bíblico, e ele não age com o poder, mas como protetor e facilitador do caminho das ovelhas para não se perderem.

 

A força dos laços fracos

18 abr

A teoria das redes, não no enfoque das mídias de redes sociais, mas dos laços entre atores tem algumas propriedades curiosas e duas são muito especiais: os seis graus de separação e a força dos laços fracos (Weak ties) que parecem estranham aos que desconhecem a teoria.

Os seis graus de separação indicam que vistos como redes as relações entre atores sociais, na realidade, estão mais conectadas do que se imagina, e isto não é apenas no mundo das mídias sociais (o que é incorretamente colocado equivalente com redes sociais).

Um experimento clássico, chamado de Experimento de Milgram devido o trabalho do psicólogo Stanley Milgram, que enviou cartas para determinadas pessoas distantes, e identificou de laços de conhecimento pessoal existente entre duas pessoas quaisquer, e descobriu uma distancia média de 5,5 de pessoas até as cartas chegarem ao destino.

O experimento teve falhas, como cartas que não foram enviadas para frente parando em algum intermediário e o desconhecimento do objetivo de determinadas pessoas no experimento, por exemplo, não ter entendido que a carta deveria ir o mais próximo do destino final.

Já o experimento de laços fracos que foram feitos por Mark Granovetter (1973) leva em contato o contato mais fracos e distantes em redes sociais, pode dentro de determinados contextos significar que os laços entre duas pessoas que tem interesses similares são fortes, mesmo que passe por algum intermediário C, e isto torna C também parte do laço forte.

Assim o laço fraco será justamente o oposto, A e B tem interesses e rotas de ligação distantes, que pode significar interesses diferentes ou apenas distantes, entretanto na teoria das redes estes laços são importantes para o funcionamento da rede e sua dinamização, ao contrário do que diz o senso comum.

O que Granovetter pesquisou é que quanto maior a força do laço entre duas pessoas, maior a chance de que o círculo de amigos e laços seja comum e que a mensagem fique apenas naquele círculo, não atingindo outros círculos de relacionamentos e ampliando a rede.

Neste sentido limitar ou proibir redes socais significa diminuir e tornar a rede social (que não é necessariamente feita via mídia) limitada, entretanto, existem redes que praticam determinados crimes e não devem ser legitimadas e quando possível proibidas.

Isto é discutido dentro da questão do poder, porque a teoria das redes contradiz a ideia de um poder cada vez mais forte e centralizado como solução para problemas sociais, porque ainda que proibidas, as redes sociais continuam funcionando conforme estabelece a teoria dos seis graus de separação e a distancia entre atores é menor do que supõe o poder centralizado, que ele é muitas vezes isolado em sua “bolha” social ou ideológica.

As redes sociais dinamizam as estruturas de laços sociais e ignorá-las pode ser uma fonte de empoderamento de diversos grupos sociais e ajuda a crescer a verdadeira vontade popular.

 

GRANOVETTER, Mark S. The Strenght of Weak TiesThe American Journal of Sociology, vol. 78, n. 6, p. 1360-1380, may 1973.

 

Poder arbitrário e socialização

17 abr

Em seu livro “No enxame: uma perspectiva do digital” Byung Chul-Han esclarece que só uma relação é simétrica (os dois lados têm o mesmo poder ou a mesma potência) o respeito, se o respeito falta há sempre um exercício arbitrário do poder, mas olhemos outras definições.

Uma bastante utilizada é a de Norberto Bobbio: “ … toda probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra resistência, seja qual for o fundamento dessa probabilidade (Weber, 1994, p.33), nela há sempre a possibilidade de “manipulação”, uso da recompensa, ameaça da punição e outras formas de assimetria que favorece a força.

Generalizando a diversas formas de poder, e contrárias a de Foucault (veja o post anterior), Lebrun diz que poder e dominação caminham justo, uma pessoa tem podere quando o outro é despossuído deste, coloca no mesmo barco: m Marx, Nietzsche, Weber, Raymond Aron, Wright Mills e outros.

Esta concepção vem da sociologia norte-americana conhecida por “Teoria do Soma Zero”, teoria que vem desde Hobbes, que definia o poder do “soberano” ou do Estado, como sendo “um contra todos” e a “favor de todos ao mesmo tempo”, mas de cima para baixo.

Assim este poder pura e simplesmente aplicado como obrigação ou proibição aos dominados passando por eles e através deles, da mesma forma, os dominados também se utilizam dele e se apoiam nele, mas os dominados possuem subjetividade (na relação ontológica é o dasein), e produzem novos conhecimentos sobre as relações de poder e se empoderam também, neste sentido é importante relacionar poder com potência, ou capacidade de ação.

O conceito de ato e potência em Tomás de Aquino é entretanto mais completo, porque está relacionado também com a verdade, não a temporal, mas a ontológica, presente no Ser:

“[…]algumas coisas podem ser, embora elas não sejam, enquanto outras na verdade são. O que pode ser (illud quod potest esse) se denomina ser em potência; o que já é (illud quod iam est) se denomina ser em ato. Porém, duplo é o ser: o ser essencial ou substancial da coisa, como ser homem, é ser simplesmente; o outro é ser acidental, como o homem ser branco; e isso é ser outro”. (AQUINO, T, 1976, p. 39.)

Assim o poder é visto de outra forma, que é também matéria e ser completo, para o Aquinate todos são componentes básicos da substância, a noção de ser completo é atribuída assim tanto à forma que significa o ato primeiro, a atualidade, que a forma possui por si mesma e não por um mediador, quando este ato primeiro é atribuído à matéria haverá uma atualidade, aquilo que hoje é confundido com virtualidade (a potência ou possibilidade do ser), pois assim todo ser o é em potência, assim todos podem ter poder de forma a realiza sua potência plena.

Isto significa que é preciso potencializar o homem, a sociedade e recuperar os desapoderados, assim sempre é possível a reeducação, a ressocialização e até mesmo dos que são socializados.

O poder se exercido sem arbitrariedade e com a dimensão de todos pode e deve servir ao bem comum, a justiça e a liberdade.

AQUINO, T. De principiis naturae ad fratrem Sylvestrum, [ed. H.F. Dondaine]. Ed. Leon., t.XLIII, Opuscula, vol.IV. Roma [Santa Sabina]: Editori di san Tommaso, 1976,

LEBRUN, G. O que é poder. São Paulo: Brasiliense, 1999.

WEBER, M. Economia e Sociedade. Brasília – DF: Editora da Universidade de Brasília, 1994.

 

Poder em Foucault e Chul-han

16 abr

Michel Foucault rompeu com as concepções clássicas do termo poder e define como uma rede de relações onde todos os indivíduos estão envolvidos, e entendemos a rede aqui com o sentido moderno de rede embora fosse vago no seu tempo, os indivíduos são tanto geradores como destinatários do movimento destas relações, entretanto ele as identifica como biopoder, enquanto Chul-Han vai identificar como psicopoder, e de certa forma agrega as mídias a isto.

A ideologia de Estado, nascida de Hegel é a base de toda história de poder contemporâneo, o autoritarismo e as guerras modernas nasceram de uma nova ideia de imperialismo e colonialismo, na qual estados mais fortes controlam o poder não apenas pelas armas, mas antes pelo biopoder e agora pelo psicopoder.

O biopoder de Foucault, o estado é o primeiro nível de poder (ele chama de setor), o mercado o segundo nível, e, o terceiro é a sociedade civil, a ideia de 4º. poder da imprensa vem daí.

Ele estudou o poder não para desenvolver uma teoria sobre ele, mas para identificar aspectos da subjetividade (na ontologia seria a questão do Ser), ou seja, sujeito sobre os outros sujeitos.

Isto é importante para diferencia-lo de Chul-Han, que parte das relações ontológicas entre os seres e identifica a ação de mídias e estruturas mídias que atuam sobre a psicologia do poder, assim sua ideia de poder (O que é poder) é como uma técnica de dominação que estabiliza e reproduz o sistema dominado por meio de uma programação e de um controle psicológicoc.

Foucault vê o biopoder, como no corpo como uma máquina de adestramento, já que a biopolítica, em meados do século XVIII, estava focada em controles reguladores da população, a ideia que era o aumento populacional que proporcionava a miséria e a fome.

Peter Sloterdijk que orientou a tese de doutorado de Chul-Han sobre Heidegger, defende que este processo de “adestramento” falhou e assim, o processo de controle desenvolve-se para o quarto poder, que Chul-Han focaliza excessivamente nas mídias, esquecendo do 4º. poder da imprensa, TVs e cinema que influenciaram enormemente.

Ele desenvolve patologias de autocentramento (narcisismo), instabilidade emocional (borderline) como respostas às demandas de uma sociedade intoxicada de exigências de eficiência, de aparência e de coerção disciplinar, escreveu o autor):

“É inerente à sociedade pré-moderna da soberania a violência da decapitação; seu medium é o sangue. A sociedade disciplinar moderna é, em grande medida, uma sociedade da negatividade, sendo regida e dominada pela coerção disciplinar, isto é, pela ‘ortopedia social’. Sua forma de violência é a deformação. Mas nem a decapitação e nem a deformação estão em condições de descrever a sociedade de desempenho pós-moderna. Ela é dominada por uma violência da positividade, que confunde liberdade e coerção. Sua manifestação patológica é a depressão” (Han 2018,  pp. 183-184).

HAN, Byung-Chul. Psicopolítica: o neoliberalismo e as novas técnicas de poder. Belo Horizonte: Âyiné, 2018. 

 

Uma peça perigosa no xadrez da guerra

15 abr

Desde a queda da monarquia no Irã, na época o xá Reza Pahlavi, que era tradicional aliado dos EUA, a república islâmica do Irã passou a ter hostilidade com os EUA, que impôs sanções por causa do beneficiamento de urânio indispensável para bombas nucleares, fazendo com que o Irã buscasse apoio e fizesse alianças com a Rússia.

Em 1º. de abril deste ano Israel lançou (não assumido) um ataque a Síria matando generais do Irã, que desde então promete uma retaliação e recentemente atacou com drones e mísseis o território de Israel, segundo o contra-almirante Daniel Hagari, porta-voz militar israelense: “o irá lançou mais de 300 ameaças, e 99% foram interceptadas”, e concluiu: “isso é um sucesso”.

Pouco antes da notícia do lançamento neste sábado (13/04), o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu disse que “os sistemas defensivos” estão funcionando, e que a FDI (Força de Defesa de Israel), em uma represália que já era esperada, os bombardeiros continuaram no dia de ontem (14/04).

Como há conexões fortes com o Hezbollah e os houthis ao sul no Iêmen e o Hezbollah ao norte no Líbano também há notícias de ataques a Israel, tanto o comando militar de Israel, como o G7 e o conselho de segurança da ONU já convocaram uma reunião no dia de ontem.

A Itália e a Alemanha já se manifestaram contra o Irã condenando os ataques, os EUA e a França ajudaram a intercepção dos mísseis (há notícia que a Jordânia também ajudou a defesa), assim o Irã está isolado no Ocidente.

O objetivo no momento é impedir um ataque em escala maior ao Irã, que desencadearia uma escalada de guerra na região, Netanyahu deve atacar alguns pontualmente alvos no Irã.

A Rússia não se manifestou até o momento, mas é tradicional aliada do Irã, inclusive os drones usados no ataque a Israel são do mesmo tipo ao usado na guerra na Ucrânia.

Os ataques russos seguem em escalada na Ucrânia com objetivo principal de esgotar as fontes energéticas do país, a fragilidade progressiva da defesa das forças militares da Ucrânia, tornam a situação do país e de certa forma dos países da Otan, bastante dramática.

A paz sempre é possível, aquilo que as forças éticas chamam de responsabilidade poderá ter um papel decisivo para tomada de decisão, já que as lideranças envolvidas no conflito cada dia mais parecem não entender a gravidade de um conflito em meio a uma crise civilizatória.

Depois da II Guerra Mundial, as forças em conflito entenderam a necessidade de paz, agora o agravamento da crise, por paradoxo que seja, pode fazer os líderes serem chamados a paz.

 

Vencer o medo tendo esperança

12 abr

É comum ouvir no dia a dia, não tem jeito, está tudo perdido mesmo, em dias difíceis para toda a humanidade, parece impossível acreditar num futuro cheio de luz e felicidade, porém tanto na filosofia quanto na verdadeira espiritualidade existe um espírito de resistência: a esperança.

Tantas vezes na história parecíamos perto do fim, os impérios antigos, as grandes guerras e as duas “mundiais” recentes não são um mero acaso, e também não deixaram de ter muita morte, tristeza e decepção, mas o pior é que não tivemos a sorte de entender aquele flagelo.

Não sabemos lidar com a dor, com a decepção, com o “não” e queremos a todo custo ser os vencedores em qualquer contenda, até mesmo as esportivas que deveriam ser motivo apenas de alegria e distração, podem se tornar uma guerra pela falta de espírito sadio de competição.

Na Sociedade Paliativa: a dor hoje, Byung Chul-Han escreve: “A sociedade paliativa é uma sociedade do curtir. Ela degenera em uma mania de curtição. O like é o signo, o analgésico do presente. Ele domina não apenas as mídias sociais, mas todas as esferas da cultura. Nada deve provocar dor”, queremos algo que “cure” imediatamente ou suprima qualquer dor ou mesmo um pequeno sofrimento.

O autor cria um verbo baseado nas novas mídias: “Não apenas a arte, mas também a própria vida tem de ser instagramável; ou seja, livre de ângulos e cantos, de conflitos e contradições que poderiam provocar dor. Esquece-se que a dor purifica”, e o medo traz luz a consciência. 

Como vencê-lo? Já parou para tentar responder essa pergunta? com a Esperança, não aquela de quem espera e nada faz, mas aquela de quem para e medita sobre a dor, sobre também aqueles que sofrem injustiças, julgamentos e que deveriam ocupar nossas consciências.

A resistência do Espírito, que Edgar Morin preconiza para os dias de hoje, são também um espírito de Esperança, porque de nada valeria o exercício espiritual, sem que nele coubesse uma crença num futuro melhor para todos, de paz, de justiça e de aceitar as diferenças.

Na narrativa bíblica, quando os discípulos viram Jesus ressuscitado “andando sobre o mar”, tiveram medo e não entenderam bem o significado icônico dele, mas o mestre disse (Jo 6,19): “Coragem, sou eu”, e se aproxima deles, uma força nova veio justamente após este “medo”.

 

O infinito não é só “acreditar”

11 abr

Nem sempre que temos conceitos morais e religiosos significam que superamos o medo, a angústia e as dificuldades da vida, orações e pregações fervorosas podem encobrir a verdade, isto afasta muitas pessoas da crença na felicidade e vida eterna porque não leem isto na vida real de quem crê.

Quando algo do infinito nos toca na vida, não apenas descobrimos a verdade, não apenas uma crença em alguém (algo é coisificar o eterno) que faz parte desde já em nossa existência, isto nos revigora e torna capazes de ajudar o mundo da paz, da esperança e do verdadeiro Amor.

Sabemos em nosso íntimo que ninguém pode sondar e saber verdadeiramente de nossa alma, no entanto, alguém perscruta nosso interior, quando amamos e fazemos algo bom pelos outros, por nós mesmos e pela humanidade, algo bom invade nosso ser e nos dá serenidade.

Esta força que desperta interiormente levou grande sábios, mestres e santos a descobrirem algo novo que os fez progredir numa verdadeira ascese, foram capazes de atitudes heroicas, mas curiosamente com peso menor que seria para os homens que não conhecem esse Amor.

Quando vivemos de fato esta dimensão, até mesmo certo tipo de religiosidade rotineira e burocrática nos abandona, queremos ver o Outro crescer, queremos ouvi-lo e amá-lo como é.

Assim superamos o medo com atitudes positivas em relação ao mundo e as outras pessoas, assim o que é realmente Verdadeiro, ou seja, o bem humano e o divino em nós, se manifesta também fora e não há nisto nenhum medo, nenhuma angústia porque é um Bem Verdadeiro.

O contrário, a constante oposição ao Outro, o sentimento de sempre salientar a diferença e a arrogância de ser superior em algo que fazemos bem ou melhor que os outros, embora pareça verdadeiro, leva junto um sentimento que nos afasta do Outro e da humanidade, não é a paz.

Se olharmos para as guerras, veremos sempre este princípio, ver o outro inferior e menor que nós, assim não são dignos de viverem, “merecem” toda maldade que no fundo está no nosso interior e não nestas pessoas, a maioria inocentes, ainda que dentro de cada povo ou nação há pessoas que não seriam dignas do nosso bem querer, não é eliminando-as que construímos a paz.

A paz verdadeira entre os homens nasce do coração sereno, que entende o infinito, e que almeja ainda que num futuro distante, uma vida melhor para todos, sem injustiças e guerras.

 

Felicidade, medo e serenidade

10 abr

Entre os principais convidados de “Fronteiras do Pensamento” está Luc Ferry, ainda pouco conhecido no Brasil, e já com um certo expoente na Europa ele também falou do medo, um dos nossos temas desta semana.

Defende uma espiritualidade laica, para mim e outros cristãos frágil, porém alguns de seus raciocínios e comentários são importantes, por exemplo sobre felicidade: “… não existe, temos momentos de alegria, mas não existe um estado permanente de satisfação …. podemos almejar é a serenidade, algo completamente diferente. Só se atinge a serenidade vencendo o medo” (entrevista ao Fronteiras do Pensamento).

Classifica o medo em três tipos: a timidez (surge em função do ambiente e da sociedade), a fobia (medo do escuro, de insetos, de ficar presos num elevador), ao nosso ver é o único que realmente se encerra dentro daquilo que o autor trabalha principalmente: a psicologia, e o terceiro é o medo da morte (das pessoas que amamos e de nossa própria morte), ao nosso ver este remete necessariamente a finitude da vida e do homem, só é possível transcender com uma espiritualidade não laica.

Cita um importante autor que é Hans Jonas, e seu livro O princípio da responsabilidade, onde há um capítulo chamado de Heurística do medo, descrito como uma paixão positiva e útil.

Através da leitura deste autor faz uma leitura positiva: “A ecologia inverte essa tradição filosófica ao sustentar que o medo é o começo de uma nova sabedoria e que, graças ao medo, os seres humanos vão tomar consciência dos perigos que existem no planeta. O medo não é mais visto como algo infantilizado, mas como o primeiro passo no caminho da sabedoria”.

Se não tivermos medo da guerra, de uma catástrofe atômica, de um planeta desertificado, da fome já presente em pessoas e países pobres, não teremos responsabilidade social, a maioria de nós (que não vivem estes medos) imagina que jamais serão atingidos, porém não é assim.

Reconhece que a religião também trabalho esta questão, mas sua espiritualidade laica afirma que: “só que as grandes filosofias são doutrinas da salvação sem Deus e sem a fé”, então fica a pergunta como vencer a finitude e a morte, e se a ressurreição de Jesus for verdadeira?.

Claro é uma pergunta a partir da fé, mas os homens daquele tempo viram, presenciaram e deram testemunho, então porque não apostar na fé como propunha Pascal, o que perderia com esta “aposta”, claro que é importante ir além, mas poderia ser um primeiro passo.

O que ganho hoje com esta aposta, é uma resposta simples, mais paz e mais convicção da possibilidade da paz, de não precisar destruir para descobrir que optamos pela morte e pelo medo?.

Luc Ferry – A boa vida – YouTube